Vice-Reis
e Governadores da Índia de 1506 a 1816
1º
- Dom Francisco de Almeida
(Vice-Rei
do Estado da Índia e Governador do Estado da Índia 1506-1509)
Dom Francisco de Almeida nasceu em Lisboa, por volta de 1450 e faleceu na Baía de Saldanha, a 1 de Março de 1510, foi um militar português e um explorador, homem de guerra e organizador
notável, com vitórias e excelentes actos de administração. Primeiro vice-rei da
Índia (1505-1509), filho dos primeiros Condes de Abrantes, Dom Lopo de Almeida e de sua mulher Dona Beatriz da Silva. Foi
criado na corte do Rei Dom Afonso V, onde se fez notar pelo seu espírito militar ao
serviço dos reis católicos na conquista de Granada. Sabe-se que era homem da
confiança de Dom João II e que participou na Batalha de Toro, quando o rei
português interferiu na sucessão de Castela.
Dom Lourenço de Almeida, seu filho, já lutava em África, em Tânger (com Dom João de
Menezes, Capitão de Arzila, e Dom Rodrigo de Monsanto, Capitão de Tânger). Como
Tristão da Cunha estava doente e cego, o rei mandou chamar Dom Francisco de
Almeida a Coimbra, onde estava com seu irmão (tio? segundo o Ano Histórico) Dom Jorge, Bispo de Coimbra, filho de Dom Lopo de Almeida, primeiro conde de
Abrantes. Assim, Dom Francisco foi enviado para a Índia pelo Rei Dom Manuel I na
qualidade de vice-rei, com todos os poderes para que pudesse impor o domínio
português no Oceano Índico. Com ele partiram 1.500 soldados em 25 de Março de
1505 levados em 16 naus e 6 caravelas. Tinha como capitães;
Capitão-mor Dom Lourenço de Almeida
Das Naus eram Capitães; Dom Francisco, Dom Fernando de Sá, Fernão Soares, Rui Freire, Vasco d'Abreu, João da Nova, Pero
d'Anhaia, Sebastião de Sousa, Diogo Correia, Pero Ferreira Fogaça, Antão
Gonçalves, Lopo Sanchez, Filipe Rodrigues, Lopo de Deus, João Ferrão, Antão
Gonçalves, Fernão Bermudez.
Das Caravelas eram Capitães; Gonçalo Vaz de Goes, Gonçalo de Paiva, Lucas da Fonseca, Lopo Chanoca, João Homem e Antão Vaz.
Dom Lourenço de Almeida e o pai aceitaram as muitas mercês sem fazer dúvidas por
ter o Rei dado primeiro a Tristão da Cunha. No Regimento, o primeiro que se
dava, constava: que fizesse no caminho fortaleza em Çofala, fazendo amizade com
o xeque local; que partisse de Quilo a fazer outra, tratando o rei como amigo (inimigo, só se resistisse). Partisse para Cochim; que fizesse sempre crua guerra
ao Rei de Calecute, mas que aos de Cochim e de Cananor favorecesse. Dom Francisco partiu de Belém em 25 de Março de 1505 para o porto de Dale, na costa
da Guiné, chegou a Quiloa em 23 de Julho, véspera do dia do Apóstolo Santiago;
coroou Mohamed Anconij Rei de Quiloa "em cadafalso em paramentado de panos de
ouro e de seda, pondo-lhe coroa de ouro na cabeça" e fê-lo jurar de ser leal
aos Reis de Portugal e ser seu vassalo, e o coroou e lhe entregou o Reino, do
que mandou fazer instrumentos púbicos em língua arábica e portuguesa. Seguiu
como política conquistar praças e erguer fortalezas que assegurassem a presença
e o domínio portugueses. Assim, tomou Quíloa e incendiou Mombaça, na costa
oriental de África; na Índia, construiu fortalezas em Cananor e Cochim. Num
ataque dos mouros em Chaul (1508) é morto seu filho Dom Lourenço de Almeida, do
que se vinga com a vitória naval da Batalha de Diu sobre o sultão do Egipto Mir
Hocem em 1509.
Diz
o cronista: «Partiu de Quiloa na véspera do bem-aventurado São Lourenço, em 9
de agosto, para Mombaça, que já se havia armado com muita artilharia assentada
no muro e 4 mil soldados. Na véspera da Assunção de Nossa Senhora, mandou
incendiar a cidade, e entraram nela recebendo grande dano de pedras, zagunchos
e lanças d'arremesso. Saqueou-a e ardeu toda. Não pode ir ver o Rei de Melinde
por força do vento, e partiu em 27 de agosto. O de Onor e o alcaide de
Cintacora mandaram pedir paz e a concedeu, mas o d Onor a quebrou e foi
desbaratado. Depois chegou a Cananor e se chamou Vice-Rei. Mandou o filho à
ilha de Maldiva, a 50 léguas de Cochim, e percorreu a costa do Malabar, onde
desbaratou armada do Rei de Calecut e desfez a fortaleza Danchediva.»
Dom Lourenço de Almeida seu filho, porém, morreu no rio de Chaul com mais de 80
portugueses. Sua morte foi heróica, ferido, sentado numa cadeira e amarrado ao
mastro, comandou seus homens até que uma segunda bombarda lhe roubasse a vida.
Depois que morreu seu filho Lourenço de Almeida em Chaul, o carácter de seu pai
mudou para vingativo e cruel, entregou com relutância o governo a Afonso de
Albuquerque.
Na
saborosa língua dos cronistas, «pelas naus de Jorge d'Aguiar, em 1508, Dom Francisco recebeu cartas de el-rei mandando entregar a governança da India a
Afonso de Albuquerque. Partiu de Cananor para Diu em 12 de Dezembro, em busca
de Mir Hocém, capitão do sultão ou soldão de Babilónia, com 19 velas, pelejou
contra ele e contra a armada de Calecut e de Miliquias, senhor de Dio ou Diu, e
os venceu e desbaratou. Acertou pazes com Miliquias e partiu para Cochim.»
Graças
ao seu valor como homem do mar e governante esclarecido e incorruptível, o
domínio português no Oriente torna-se completo. Quando, após ser substituído no
cargo de vice-rei da Índia por Afonso de Albuquerque, regressou a Portugal em
1510, morrendo numa escaramuça com indígenas perto do Cabo da Boa Esperança.
Contam
as crónicas que «depois de entregar o governo, partiu de Cochim para Cananor em
19 de Novembro de 1509, velejou no primeiro dia de Dezembro e foi ter à aguada
de Saldanha junto do Cabo da Boa Esperança, onde o mataram os negros naturais
da terra, que chamam cafres. Tendo tirado o barbote, lhe deram com um zaguncho
de ferro na garganta que lha atravessou de parte a parte - de dor, caiu de
joelhos no chão com as mãos na haste para a arrancar, mas sentindo que se
afogava, as levantou para o céu e sem poder dar outro sinal de católico cristão
caiu morto, junto do qual mataram os cafres Diogo Pires, que fora aio de seu
filho».
No
seu túmulo, em Abrantes, está escrito: «Aqui jaz Dom Francisco de Almeida,
primeiro Vice-rei da Índia, que nunca mentiu nem fugiu.» António Barbosa
Bacelar (autor morto em Lisboa em 1663), escreveu sua vida no estilo de
Virgílio. Toda
a nobreza o pranteou, pois sendo ainda mancebo se distinguira nas guerras do
Rei de Granada, quando o rei Dom Fernando de Aragão e a Rainha Dona Isabel de
Castela venceram os mouros. «Tanto assim que Dom Fernando, ao saber de sua morte,
foi muito anojado, retraindo-se como se fora pessoa de seu sangue real. Foi
além de bom cavaleiro, mui prudente e sagaz, bem assombrado e grave em sua
prática acerca das coisas da India e foi de opinião que quanto mais fortalezas
o rei tivesse, mais fraco seria, a força com que se havia de senhorear a India
era no mar. Dom Francisco foi escolhido para governar a India como Vice-Rei
porque era valente soldado, hábil almirante, sobretudo estadista. Político
lucido, perspicaz e forte, foi sábio administrador, feitor inteligente, em 14
de agosto de 1505 foi ajustar contas antigas com o sultão de Mombas e lhe
arrasou a cidade. Mas fez construir fortalezas em Quiloa, Cananor, Anjediva, e
aumentar a de Kitschs.»
Escreveu
ao Rei Dom Manuel uma carta que é dos documentos mais importantes da história
portuguesa:
"Toda
nossa força seja no mar, desistamos de nos apropriar da terra. As tradições
antigas de conquista, o império sobre Reis tão distantes não convêm. Destruamos
estas gentes novas (árabes, afegãs, etíopes, turcomanos) e assentemos as velhas
e naturais desta terra e costa: depois iremos mais longe. Se o que queremos são
os produtos da Índia, o nosso império marítimo assegurará o monopólio português
contra o turco e o veneziano. Imponhamos pesados tributos, exageremos o preço
das licenças (cartazes) para as naus dos mouros navegarem nos mares da Índia e
isso as expulsará. Que tenhamos fortalezas ao longo da costa mas apenas para
proteger as feitorias porque a verdadeira segurança delas estará na amizade dos
rajás indígenas por nós colocados nos seus tronos, por nossas armadas
defendidas. Substituamo-nos ao turco e abandonemos a ideia de conquista para
não padecermos das moléstias de Alexandre.»
E
mais, segundo Cassiano Neves: «Torno a lembrar a Vossa Alteza que nunca sereis,
bem servido enquanto vossos oficiais de justiça e Fazenda forem tratantes
mercadores.»
As
guerras eram agora contra venezianos e turcos, com esquadra poderosa no mar
Vermelho, com pólvora (cruel temeridade). Quando Dom Lourenço de Almeida, seu
filho, morreu em Chaul (Tschala), fora batido pela esquadra egípcia, a armada
do Morocem, Capitão-mor do sultão ou Soldão do Grão-Cairo e da Babilónia, como
se dizia no tempo. Tal esquadra descera do Mar Vermelho, deitando âncora em
Diu, na costa do Guzarate. Dom Francisco subia ao longo da costa deixando atrás
de si rasto de cinzas e sangue. Batalha indescritível entre os pavilhões da
cruz e do crescente, disputando com furor o saque da India, naus vomitando
fogo, artilharia de águias, sacres e falcões, pedreiras que arrojavam balas de
granito, berços, camelos, colubrinas e esperas, mosqueteiros despejando
surriadas de balas. Cena de carnagem que o almirante vice-rei assistiu do
chapitéu de sua nau e, percebendo que lhe faltava o filho, «se foi assentar na
tolda com um lenço na mão, que não podia estancar as lágrimas que lhe corriam.»
Ao passar diante de Cananor, saltou à terra para celebrar vitória mas para
acabar de vingar a morte do filho, mandou amarrar os prisioneiros às bocas das
bombardas e os crânios e os membros despedaçados dos infelizes iam cair na
cidade como pelouros. O
«Ano Histórico» descreve a batalha para vingar a morte do filho na barra de
Diu, onde se achavam 200 velas de Mir Hocém, General do sultão do Cairo, de
Melique e do Çamori (uns pelejavam corpo a corpo a botes de lança, a golpes de
espada, outros ao longe com armas de arremesso. O zunido das balas atroava os
ouvidos e elas despedaçavam os corpos. Muitos, arrojando-se ou sendo arrojados
ao mar, lutavam ao mesmo tempo com as ondas e com a morte. A água se via
convertida em sangue, o ar em fogo. Tudo confusão medonha, tudo horror, tudo
assombra, tudo estraga. Durou o conflito das 11 horas da manhã até as duas da
noite. Dos nossos morreram pouco mais de 30, dos mouros mais de 1.500). Chegavam
à corte noticias pérfidas de seus excessos, e o esperava a masmorra de Duarte
Pacheco, porém na viagem de volta ao reino deu à costa da Cafraria e foi morto
pelos negros às pedradas e zagunchadas. Seu
plano de governação, por ser sábio era quimérico, pois que a Índia era uma
loucura. Outro motivo, uma das suas justas exigências era a proibição do
comércio aos soldados, magistrados e capitães. O domínio não era saque, era
protecção armada a um comércio franco por um lado, monopólio de Estado ou
apanágio da Coroa por outro. Mas, fleumático e pontual, Dom Francisco mandava
relatórios comerciais como um correspondente a seu patrão em Génova ou Veneza.
Cuidadoso e até hábil mercador, dava ao Rei minuciosas informações dos géneros,
preços e pesos. Mas Albuquerque, em Ormuz, Goa e Malaca, assentou em terra
firme os limites do Império que para Dom Francisco devia vogar flutuante sobre
as ondas…
Casou
com Dona Joana Pereira, filha de Vasco Martins Moniz, Comendador de Panóias e
Garvão na Ordem de Santiago. Teve os seguintes filhos:
1º
Dom Lourenço de Almeida, citado acima.
2º
Dona Leonor de Almeida, casada com Francisco de Mendonça (filho de Pedro de
Mendonça, Alcaide-mor de Mourão) e por segunda vez com Dom Rodrigo de Melo, Conde de Tentúgal e primeiro Marquês de Ferreira.
3º
Dona Susana de Almeida, casada com Diogo de Barbuda, Alcaide-mor de Seia.
2º
- D. Afonso de Albuquerque, 1º Duque de Goa
(Governador
do Estado da Índia 1509-1515)
Afonso
de Albuquerque, nasceu em Alhandra em 1453, e faleceu em Goa, a 16 de Dezembro de 1515, nomeado 'O
Grande', 'César do Oriente', 'Leão dos Mares', 'O Terrível' e o 'Marte Português', foi
um fidalgo, militar e o segundo governador da Índia portuguesa cujas acções
militares e políticas foram determinantes para o estabelecimento do império
português no oceano Índico. Afonso
de Albuquerque é reconhecido como um génio militar pelo sucesso da sua
estratégia de expansão, procurou fechar todas as passagens navais para o Índico
(no Atlântico, Mar Vermelho, Golfo Pérsico e oceano Pacífico) construindo uma
cadeia de fortalezas em pontos, chave para transformar este oceano num ‘mare
clausum’ português, sobrepondo-se ao poder dos otomanos, árabes e seus aliados
hindus. Destacou-se
tanto pela ferocidade em batalha como pelos muitos contactos diplomáticos que
estabeleceu. Nomeado governador após uma longa carreira militar no Norte de
África, em apenas seis anos (os últimos da sua vida) com uma força nunca
superior a quatro mil homens sucedeu a estabelecer a capital do Estado
Português da Índia em Goa, conquistar Malaca, ponto mais oriental do comércio
Índico, chegar às ambicionadas "Ilhas das especiarias", as ilhas
Molucas, dominar Ormuz, entrada do Golfo Pérsico, e estabelecer contactos diplomáticos
com numerosos reinos da Índia, Etiópia, Reino do Sião, Pérsia e até a China.
Áden seria o único ponto estratégico cujo domínio falhou, embora tenha liderado
a primeira frota europeia a navegar no Mar Vermelho, a montante do estreito
Bab-el-Mandeb. Pouco antes da sua morte foi agraciado com o título de vice-rei
e "Duque de Goa" pelo Rei Dom Manuel I, que nunca usufruiu, no que foi
o primeiro português a receber um título de além-mar e o primeiro duque nascido
fora da família real. Foi o segundo europeu a fundar uma cidade na Ásia, o
primeiro foi Alexandre o Grande.
Afonso
de Albuquerque nasceu em Alhandra, nos arredores de Lisboa, no ano de 1453. Era
o segundo dos quatro filhos de Gonçalo de Albuquerque, Senhor de Vila Verde dos
Francos, e de Dona Leonor de Meneses, filha de Dom Álvaro Gonçalves de Ataíde,
conde de Atouguia. Através de seu pai, que desempenhava um importante cargo na
corte, descendia por via natural da família real portuguesa. Foi educado em
matemática e latim clássico na corte de Dom Afonso V, onde cresceu e travou
amizade com príncipe Dom João, futuro rei. Afonso
de Albuquerque serviu dez anos no Norte de África, onde adquiriu experiência
militar, em 1471 acompanhou Afonso V nas conquistas de Tânger, Anafé e Arzila,
onde permaneceu alguns anos como oficial na guarnição. Em 1476 acompanhou o
príncipe Dom João nas guerras contra Castela, tendo participado na batalha de
Toro. Participou na esquadra enviada em 1480 em socorro de Dom Fernando II rei
de Aragão, Sicília e Nápoles "para reprimir o furor dos turcos" de avançar na
península itálica, no Golfo de Tarento, em Otranto, que culminaria na vitória
dos cristãos em 1481. Em
1481, quando o príncipe Dom João, ascendeu ao trono, como Dom João II, Albuquerque
regressou a Portugal e foi nomeado seu estribeiro-mor. Em 1489 retornou ao
serviço no norte de África, onde comandou a defesa da fortaleza da Graciosa,
situada na ilha que o rio Luco forma junto da cidade de Larache e em 1490 fez
parte da guarda de Dom João II, tendo regressado a Arzila em 1495, onde o seu irmão
mais novo, Martim, morreu lutando a seu lado.
Quando
o novo Rei Dom Manuel I de Portugal ascendeu ao trono mostrou alguma reticência
perante Afonso de Albuquerque, íntimo do temido Dom João II e dezassete anos
mais velho. Em 6 de Abril de 1503, já numa idade madura e com uma longa
carreira militar, Afonso de Albuquerque foi enviado na sua primeira expedição
para a Índia com o primo Francisco de Albuquerque, comandando cada qual três
naus onde seguiam também Duarte Pacheco Pereira e Nicolau Coelho. Participaram
em várias batalhas contra Calecute, onde sucederam a garantir a segurança no
trono ao rajá de Cochim. Em retorno pelos serviços prestados obtiveram a
permissão para construir uma fortaleza portuguesa em Cochim que seria o
primeiro assentamento europeu na índia e o ponto de partida para a expansão do
império no oriente, estabelecendo relações comerciais com Coulão. De regresso
ao reino em Julho de 1504 "mais cheio de glórias que de despojos", Afonso de
Albuquerque foi bem recebido por Dom Manuel I. Capitão-mor
da costa da Arábia, 1506-1509. No início de 1506, após ter participado no
delinear da estratégia para o oriente, o rei confiou-lhe uma esquadra de cinco
navios na armada de dezasseis navios chefiada por Tristão da Cunha com destino
à Índia. Seguiam com o objectivo de tomar Socotra e aí iniciar uma fortaleza,
na esperança de fechar o comércio no Mar Vermelho, transportando um forte de
madeira para apoiar os trabalhos iniciais. Afonso de Albuquerque seguia como Capitão-mor da "costa da Arábia" e "até Moçambique havia de ir
debaixo da bandeira de Tristão da Cunha". Levava uma carta com a missão
secreta, ordenada pelo rei, de uma vez cumprida a primeira missão substituir o
vice-rei Dom Francisco de Almeida, que terminaria o mandato dois anos depois. Antes
de partir legitimara um filho natural nascido em 1500, e fizera o seu
testamento.
A
6 de Abril de 1506 as duas armadas partiram de Lisboa. Afonso de Albuquerque
seguia pilotando o seu próprio navio, pois o piloto designado desaparecera
antes da partida. No canal de Moçambique encontraram João da Nova vindo da
Índia, que aí invernava após um rombo no casco do seu navio Frol de la mar.
Resgataram-no e à nau, juntando-os à frota. De Melinde, Tristão da Cunha enviou
uma expedição portuguesa para a Etiópia, que então se pensava ser mais próxima.
A missão incluía o padre João Gomes, João Sanches e o tunisino Sid Mohammed
(sem conseguir atravessar por Melinde rumariam a Socotra, de onde Afonso de
Albuquerque conseguiu desembarcá-los em Filuk, perto do Cabo Guardafui.) Após
uma série de ataques bem-sucedidos, às cidades árabes da costa oriental
africana, seguiram para Socotra, onde havia notícia de cristãos, e que tomaram
em Agosto de 1507, iniciando uma fortaleza.
Em
Socotra os caminhos dos dois capitães separaram-se:
Tristão
da Cunha partiu para a Índia, indo apoiar os portugueses cercados em Cananor.
Afonso de Albuquerque navegou com uma frota de seis navios e quinhentos homens
rumo à ilha de Ormuz no Golfo Pérsico, um dos centros chave do comércio no
oriente. No percurso conquistaram as cidades de Curiate (Kuryat), Mascate e
Corfacão (atual Khor Fakkan), aceitando a submissão das cidades de Kalhat e
Soar (Sohar).
A
25 de Setembro de 1507, chegaram a Ormuz, precedidos de uma temível reputação, e
rapidamente tomaram posse da ilha, cujo rei concordou tornar-se tributário do
rei de Portugal. Passados poucos dias, chegou um enviado da Pérsia que vinha
exigir o pagamento de tributo ao xá Ismail I. O emissário persa foi enviado de
volta com a resposta de que o tributo seria apenas balas de canhão e armas,
começando assim a ligação entre Albuquerque e o xá Ismail I (muitas vezes
referido por Xeque Ismael), fundador do império Safávida.
Como
fruto do acordo com o Rei de Ormuz, imediatamente Albuquerque iniciou a
construção do Forte de Nossa Senhora da Vitória em Ormuz (mais tarde renomeado
Forte de Nossa Senhora da Conceição). A primeira pedra foi colocada com pompa e
entusiasmo por Albuquerque em 24 de Outubro, com os seus homens de todas as
condições participando nos trabalhos de construção. Contudo, na sequência da
crescente contestação dos seus capitães, que reclamavam dos duros trabalhos e
difíceis condições, vários navios desertaram para a Índia. Com a frota reduzida
a dois navios e sem mantimentos, Afonso de Albuquerque foi forçado a abandonar
Ormuz em Abril de 1508. Retornou a Socotra, onde encontrou a guarnição
portuguesa passando fome, e para reabastecer este assentamento assaltou navios
muçulmanos e a cidade de Kālhāt (Bahrein). Voltou ainda a Ormuz e só depois
rumou à Índia. Afonso
de Albuquerque chegou a Cananor, na Índia, em Dezembro de 1508. Aí
imediatamente abriu perante o vice-rei Dom Francisco de Almeida a carta selada
que recebera do rei nomeando-o Governador. Dom Francisco de Almeida, junto do
qual estavam já os capitães que haviam abandonado Albuquerque em Ormuz,
confirmou que a ordem também lhe fora participada, mas recusou-se a passar de
imediato o cargo, protestando que o seu mandato terminava apenas em Janeiro e
que pretendia ainda vingar a morte do seu filho junto de Mirocem. Afonso de
Albuquerque, ao ver recusada a sua promessa de travar a batalha ele mesmo, e
posto que o vice-rei propôs pagar-lhe o devido ao cargo de governador, acatou
esta ordem sem confrontar Dom Francisco de Almeida e foi para Cochim, onde ficou
a aguardar indicações do reino, sustentando do seu bolso a sua comitiva.
É
descrito por Castanheda suportando pacientemente a oposição declarada do grupo
que se juntara em torno de Dom Francisco de Almeida, com o qual mantinha
contactos formais. Progressivamente ostracizado, ao saber da chegada à Índia da
armada do fidalgo Dom Diogo Lopes de Sequeira com a missão de chegar a Malaca,
escreveu-lhe para que intercedesse, mas este ignorou-o e juntou-se ao vice-rei.
Simultaneamente Afonso de Albuquerque recusou as aproximações dos que o
desafiavam a tomar o poder. A
3 de Fevereiro de 1509 Francisco de Almeida avançou em força para a Batalha de
Diu, que assumiu como vingança pessoal pela morte do seu filho Lourenço de
Almeida em circunstâncias dramáticas na Batalha de Chaul. A sua vitória foi
determinante, otomanos e mamelucos egípcios abandonaram as águas do Índico,
permitindo o domínio português por mais de 100 anos. Em
Agosto, após uma petição dos antigos capitães, e Dom Diogo Lopes de Sequeira, considerando Afonso de Albuquerque inapto para a governação, Dom Francisco de
Almeida enviou-o para a fortaleza de Santo Ângelo em Cananor. Aí permaneceu
isolado, o que o próprio Albuquerque considerou ser sob prisão. Em Setembro de
1509 Dom Diogo Lopes de Sequeira avançou na missão de estabelecer contacto com o
sultão de Malaca, mas falhou deixando para trás 19 prisioneiros. Em
Outubro, chegou a Cananor o Marechal do Reino, Dom Fernando Coutinho. Era o mais
importante fidalgo do Reino que alguma vez se deslocara ao Índico, parente de
Afonso de Albuquerque, e trazia uma armada de quinze naus e 3.000 homens
enviada pelo Rei para defender os seus direitos e tomar Calecute. A 4 de
Novembro Albuquerque iniciou a governação. Após a partida de Dom Francisco de
Almeida cinco dias depois, Albuquerque rapidamente demonstrou a sua energia e
determinação como segundo governante doestado da Índia, cargo que ocuparia até
à sua morte. Afonso
de Albuquerque pretendia construir fortalezas em pontos estratégicos da costa,
capazes ser abastecidas por mar, para assim dominar o mundo muçulmano e
controlar a rede de comércio no Índico, ideia a que Dom Francisco de Almeida e
os seus capitães se tinham oposto, por considerarem que não havia capacidade
para as manter. Inicialmente Dom Manuel I e o conselho do reino tentaram
distribuir o poder a partir de Lisboa, criando três áreas de jurisdição no
Índico, Albuquerque seguira com a missão de tomar Ormuz, Áden e Calecute,
missão que até ao fim procurou cumprir. Dom Diogo Lopes de Sequeira fora provido
com uma frota e enviado para o sudoeste asiático, com a missão de tentar um
acordo com o sultão de Malaca, mas falhou retornando a Cochim e ao reino. A
Jorge de Aguiar fora dada a área entre o Cabo da Boa Esperança e Guzerate,
sendo sucedido por Duarte de Lemos que partiu para o reino deixando a
Albuquerque os seus navios.
Em
Janeiro de 1510, cumprindo as ordens do reino e sabendo da ausência do samorim,
Afonso de Albuquerque avançou para Calecute (actual Kozhikode). Contudo teve
que recuar após o Marechal Dom Fernando Coutinho, contra os seus avisos, se ter
embrenhado no interior da cidade fascinado pelo saque e sofrido uma emboscada.
Para o salvar, Afonso de Albuquerque sofreu um rude ferimento e teve que
recuar. Falhado
o ataque a Calecute, Afonso de Albuquerque apressou-se a formar uma poderosa
armada, reunindo vinte e três naus e 1.200 homens. Relatos contemporâneos
afirmam que pretendia combater a frota mameluca egípcia no Mar Vermelho ou
regressar a Ormuz. Contudo, informado por Timoja (um corsário hindu ao serviço
do Reino de Bisnaga e um grande amigo de Albuquerque) de que seria mais fácil encontrá-la em Goa, onde se havia
refugiado após a Batalha de Diu, dada a doença do sultão Hidalcão e a guerra
entre os sultanatos do Decão, investiu de surpresa na captura de Goa ao
sultanato de Bijapur. Cumpriu assim outra missão do reino, que não pretendia
ser visto como eterno "hóspede" de Cochim, e cobiçava Goa por ser o
melhor porto comercial da região, entreposto de cavalos árabes para os
sultanatos do Decão.
A
primeira investida a Goa deu-se de 4 de Março a 20 de Maio de 1510. Numa
primeira ocupação, sentindo-se impossibilitado de segurar a cidade dadas as más
condições das suas fortificações, a retracção do apoio inicial da população
hindu e a insubordinação entre os seus após um forte ataque de Ismail Adil Shah,
Afonso de Albuquerque recusou um vantajoso acordo de paz e abandonou-a em
Agosto. A frota destroçada e uma revolta palaciana em Cochim dificultavam a sua
recuperação. Quando chegaram novos navios do reino destinavam-se apenas a
Malaca, sob o comando do fidalgo Dom Diogo Mendes de Vasconcelos, a quem tinha sido
dado o comando rival da região. Apenas
três meses depois, a 25 de Novembro, Albuquerque reapareceu em Goa com uma
frota totalmente renovada e Dom Diogo Mendes de Vasconcelos, contrariado, a seu
lado com os reforços de Malaca e trezentos malabares. Em menos de um dia tomou
posse de Goa a Ismail Adil Shah e seus aliados otomanos, que se renderam a 10
de Dezembro. Estima-se que 6.000 dos 9.000 defensores muçulmanos da cidade
morreram, quer na violenta batalha nas ruas ou afogados enquanto tentavam
escapar. Reconquistou o apoio da população hindu mas frustrou as expectativas
de Timoja, que ambicionava tornar-se governador da cidade. Afonso de
Albuquerque recompensou-o tornando-o representante do povo, como intérprete
conhecedor dos costumes locais. Apesar de ataques constantes, Goa tornou-se o
centro da presença portuguesa, com a conquista a desencadear o respeito dos
reinos vizinhos, o sultão de Guzerate e o samorim de Calecute enviaram
embaixadas, oferecendo alianças, concessões e locais para fortificar.
Perante
queixas de escassez de moeda local, Albuquerque iniciou nesse ano em Goa a
primeira cunhagem de moeda portuguesa fora do reino, aproveitando a
oportunidade para anunciar a conquista territorial. A nova moeda mantinha o
peso, forma e tamanho das moedas locais, mas apresentava numa face a cruz e na
outra a esfera armilar que Dom Manuel então adoptara como símbolo. Em
Fevereiro de 1511, chegou através de um mercador hindu, chamado Nina Chatu, uma
carta de Rui de Araújo, um dos prisioneiros portugueses em Malaca, instando a
avançar com a maior armada possível, e dando pormenores sobre os procedimentos.
Albuquerque mostrou-a a Diogo Mendes de Vasconcelos, como argumento para
avançar numa frota conjunta. Em Abril de 1511, após fortificar Goa, reuniu uma
força de cerca de 900 portugueses e 200 mercenários hindus, com cerca de
dezoito navios. Contrariando as ordens do reino e sob os protestos de Diogo
Mendes de Vasconcelos, que reclamava para si o comando da expedição, zarpou de
Goa para o sultanato de Malaca, preparado para a conquista e instado a libertar
os portugueses. Sob as suas ordens estava Fernão de Magalhães, que participara
na embaixada falhada de Diogo Lopes de Sequeira em 1509. Após
uma falsa partida em direcção ao Mar vermelho, contornou o cabo Comorim
dirigindo-se ao estreito de Malaca. Era a mais rica cidade que os portugueses
tentavam tomar, ponto mais importante a leste da rede onde se encontravam
mercadores malaios, guzerates, chineses, japoneses, javaneses, bengaleses,
persas e árabes, entre outros, num comércio descrito por Tomé Pires como senso
de valores inestimáveis. Apesar da riqueza, era uma cidade com construções
civis em madeira, com poucos edifícios em alvenaria. Em contrapartida era
defendida por um poderoso exército de mercenários e artilharia, estimado em
20.000 homens e mais de 2.000 peças. A sua maior fraqueza era a impopularidade
do governo do sultão Mahmoud Shah, que ao privilegiar os muçulmanos gerara
insatisfação junto das dos restantes mercadores.
Albuquerque
avançou com arrojo os navios para a cidade, ornamentados com pendões e
disparando salvas de canhão. Declarou-se então senhor de toda a navegação,
exigindo ao sultão que libertasse os prisioneiros portugueses de 1509, que
pagasse os danos causados e pedindo para construir uma feitoria fortificada. O
sultão acabou por libertar os prisioneiros, mas sem se mostrar impressionado
pelo pequeno contingente português. Albuquerque incendiou então alguns navios
do porto e quatro edifícios costeiros, para testar a resposta do sultão. A
cidade era dividida pelo rio de Malaca, e ligada por uma ponte, um ponto
estratégico. A 25 de Julho ao amanhecer os portugueses desembarcaram numa luta
renhida, onde foram atacados com flechas envenenadas, e ao entardecer tomaram a
ponte, aguardando a reacção do sultão, mas recolheram aos navios. Sentindo que
o sultão não reagia, preparam um junco alto que fora oferecido por mercadores
chineses, enchendo-o de homens, artilharia e sacos de areia. Comandado por António
de Abreu fizeram-no subir o rio na maré alta, até à ponte, com sucesso. No dia
seguinte todo contingente tinha desembarcado. Investindo ferozmente, derrubaram
as barricadas que tinham sido construídas entretanto. De súbito, o Sultão
finalmente apareceu, chefiando o seu exército de elefantes de guerra para
esmagar os invasores. Apesar do espanto, um dos portugueses, Fernão Gomes de
Lemos, aproximou-se e espicaçou um dos animais com uma lança, fazendo-o
erguer-se e recuar.
Outros
portugueses imitaram-no e a frente de elefantes recuou em pânico, derrubando o
exército que os seguia, e o próprio Sultão, lançando o caos e dispersando-o.
Seguiu-se uma semana de calmaria. Albuquerque descansou os seus homens e
aguardou a reacção do Sultão. Os mercadores aproximavam-se sucessivamente,
apelando aos portugueses por protecção. Foram-lhes dadas bandeiras para
assinalar os seus estabelecimentos, sinal de que não seriam saqueados. Em
24 de Agosto os portugueses atacaram de novo, mas o sultão e os seus aliados
guzerates haviam partido. Sob ordens firmes procedem ao saque da cidade,
respeitando as bandeiras, no que seria mesmo assim um saque fabuloso. Albuquerque
permaneceu na cidade, construindo de imediato uma fortaleza, preparando as
defesas contra um eventual contra-ataque malaio, distribuindo os seus homens
por turnos e utilizando as pedras da mesquita e do cemitério. Apesar dos
atrasos causados pelo calor e pela malária, foi concluída em Novembro de 1511,
e ficou conhecida como "a famosa", de que hoje sobrevive a porta.
Terá sido então que Albuquerque mandou gravar uma grande pedra com os nomes dos
principais participantes na conquista. Como se gerou grande discussão sobre a
ordem em que deveriam surgir, Albuquerque tê-la-á mandado assentar voltada para
a parede, apenas com a inscrição ‘Lapidem quem réprobaverunt a edificantes’.
("a pedra que os construtores rejeitaram", em latim da profecia de
David, Salmos 118:22-23) na frente. Em
Malaca Albuquerque estabeleceu a administração portuguesa, nomeando Rui de
Araújo feitor e designando Nina Chatu para substituir o anterior bendahara,
como representante da população 'kafir' e conselheiro. Além
de auxiliar na governação da cidade e cunhagem de moeda, este forneceu também
os juncos onde seguiram diversas missões diplomáticas. Simultaneamente, prendeu
e executou impiedosamente o poderoso mercador javanês Utimuta Raja, a quem fora
dado o cargo de representante da população javanesa, mas que manteve contactos
com a família real no exílio.
Em
Malaca Albuquerque, investiu simultaneamente, em esforços diplomáticos, demonstrando ampla generosidade com os mercadores do sudeste asiático, como os
chineses, na esperança de que estes fizessem eco das boas relações com os
portugueses. Enviou várias missões aos territórios vizinhos. Rui Nunes da Cunha
foi enviado para Pegu (actual Myanmar), com o rei Binyaram a enviar um
emissário a Cochim em 1514 e, conhecendo as ambições siamesas sobre Malaca,
imediatamente enviou Duarte Fernandes em missão diplomática ao Reino do Sião
(actual Tailândia), onde foi o primeiro europeu a chegar viajando num junco
chinês que retornava à China, estabelecendo relações amigáveis entre os reinos
de Portugal e do Sião. Ainda
em Novembro desse ano, ao tomar conhecimento da localização secreta das
chamadas "ilhas das especiarias", ordenou a partida dos primeiros
navios portugueses para o sudeste asiático, comandado pelo seu homens de
confiança António de Abreu e por Francisco Serrão, guiados por pilotos malaios, estes
são os primeiros europeus a chegar às Ilhas Banda nas Molucas. A nau de Serrão
encalhou próximo a Ceram e o sultão de Ternate, Abu Lais, entrevendo uma
oportunidade de aliar-se com uma poderosa nação estrangeira, trouxe os
tripulantes para Ternate em 1512. A partir de então os portugueses foram
autorizados a erguer uma fortificação-feitoria na ilha, na passagem para o
oceano Pacífico (‘O Forte de São João Baptista de Ternate’). No
início de 1513, navegando a partir de Pegu numa missão ordenada por Afonso de
Albuquerque, Jorge Álvares obteve autorização para aportar na Ilha de Lintin, no
delta do rio das Pérolas, no sul da China. Pouco depois Afonso de Albuquerque
enviou Rafael Perestrelo ao sul da China, procurando estabelecer relações
comerciais com a Dinastia Ming. Em navios de Malaca, Rafael navegou até Cantão
(Guangzhou) em 1513 e de novo em 1515-1516 para aí comerciar com mercadores
chineses. Estas expedições, junto com as realizadas por Tomé Pires e Fernão
Pires de Andrade, foram os primeiros contactos diplomáticos e comerciais
directos de europeus com a China.
Na
noite de 20 de Novembro de 1511, após quase um ano de permanência em Malaca,
navegando de regresso à Índia com o valioso espólio da conquista de Malaca, uma
tempestade fez naufragar a velha nau ‘Frol de la mar’ onde seguia Afonso de
Albuquerque. O naufrágio fez numerosas vítimas, Albuquerque salvou-se em
condições difíceis "apenas com a roupa que trazia", com auxílio de
uma jangada improvisada. Perdeu-se o valioso saque da conquista de Malaca,
presentes do rei do Sião para o rei de Portugal e toda a sua fortuna.
Albuquerque
voltou de Malaca, para Cochim. Não navegara, para Goa, porque enfrentava uma
grave revolta liderada pelas forças de Ismael Adil Shah, sultão de Bijapur,
liderada por Rasul Khan com a ajuda de alguns dos seus compatriotas. Enquanto
se ausentara em Malaca, os portugueses que se opunham à tomada de Goa tinham
renunciado à posse, tendo mesmo escrito ao rei, afirmando que seria melhor
deixá-la. Impedido de navegar pela monção e com poucas forças disponíveis, teve
que esperar a chegada de duas frotas com reforços, de seu sobrinho Dom Garcia de
Noronha e de Jorge de Mello Pereira.
Em
10 de Setembro de 1512, Albuquerque partiu de Cochim para Goa com 14 navios
transportando 1.700 soldados. Determinado a recuperar a fortaleza, preparou
trincheiras e o derrube da muralha, mas na manhã do ataque planeado, Rasul Khan
rendeu-se. Albuquerque exigiu a devolução do forte com toda a artilharia,
munições e cavalos, e que os desertores fossem entregues. Alguns tinham-se
juntado a Rasul Khan ao serem forçados a fugir de Goa em Maio de 1510, outros
durante o recente cerco. Rasul Khan consentiu, na condição de que as suas vidas
fossem poupadas, abandonando Goa. Albuquerque manteve a sua palavra, mas
puniu-os mutilando-os horrivelmente. Um dos renegados foi Fernão Lopes, enviado
sob custódia para Portugal, que fugiu na ilha de Santa Helena levando uma vida
de 'Robinson Crusoé' por muitos anos. Após estas medidas fez da
cidade o mais florescente dos assentamentos portugueses na Índia. Em
Dezembro de 1512 chegara a Goa Mateus, um embaixador da Etiópia. Fora enviado
pela Rainha Regente Eleni da Etiópia, na sequência da chegada dos enviados de
Tristão da Cunha vindos de Socotra em 1507. Seguira como embaixador para o Rei
Dom Manuel I de Portugal e ao Papa, em busca de uma aliança para fazer face ao
crescente poder otomano na região. Apesar da desconfiança de alguns, que o
consideravam um impostor ou espião muçulmano, Albuquerque recebeu-o com honras
e imediatamente avisou o rei, que por sua vez informou da sua chegada ao Papa
Leão X em 1513. Visto como o muito esperado contacto com o lendário Preste João
e com Pêro da Covilhã, Mateus foi enviado por Albuquerque de Cananor para Portugal. Em
Fevereiro de 1513, enquanto Mateus, estava em Portugal, Albuquerque, zarpou para
o Mar Vermelho com uma força de cerca de 1.000 portugueses e 400 malabares.
Estava, desde o início, investido sob ordens do reino na missão de garantir o
domínio deste canal para Portugal. A árida ilha de Socotra revelara-se ineficaz
para controlar a entrada do Mar Vermelho e fora abandonada. A sugestão de
Albuquerque que Massawa poderia tornar-se uma boa base portuguesa pode ter sido
influenciada pelos contactos com Mateus. Sabendo que os mamelucos preparavam
uma segunda frota no Suez, quis avançar antes dos reforços chegarem a Áden e,
assim, sitiou a cidade. Áden era uma cidade fortificada e, apesar de seguir
equipado com escadas de assalto estas quebraram. Após meio-dia de dura batalha
as forças de Albuquerque acabaram por retirar. Cruzaram então o Mar Vermelho no
interior do estreito Bab-el-Mandeb, como a primeira frota europeia a ter
navegado nessas águas. Albuquerque tentara chegar a Jeddah, mas os ventos eram
desfavoráveis e em Maio recolheram à ilha de Kamaran, até que a doença e falta
de água doce os forçou a partir. Em Agosto de 1513, após uma segunda tentativa
para chegar a Áden, voltaram para a Índia, sem resultados significativos.
Tentando destruir o poder do Egipto, consta que Albuquerque ponderou a ideia de
desviar o rio Nilo para secar todo o país. Entre as intenções mais
demonstrativas do seu temperamento destaca-se o plano de roubar o corpo do
profeta Maomé, sequestrando-o como penhor enquanto todos os muçulmanos não
abandonassem a Terra Santa. Em
1514 na Índia Afonso de Albuquerque dedicou-se à administração e diplomacia, a
concluir a paz com Calecute, a receber embaixadas e a consolidar e embelezar
Goa, estimulando os casamentos com locais. Na época poucas portuguesas chegavam
ao Índico e, desde 1511 o governo português incentivou os casamentos dos seus
homens com locais, numa política definida por Albuquerque. Para promover a
fixação, o rei de Portugal atribuía o estatuto de homem livre e isenção de
pagamento de impostos à Coroa aos então conhecidos como 'casados', ou 'homens casados' que se aventuravam a estabelecer-se no exterior. Com
o encorajamento de Albuquerque, e apesar de grande oposição, os casamentos
mistos floresceram. Frequentemente nomeou locais para cargos da administração
portuguesa e não interferiu nas tradições, com excepção do 'sati', a
imolação das viúvas, que proibiu.
No
início de 1514, foi enviada ao Papa Leão X, a embaixada faustosíssima do Rei
Manuel I, liderada por Tristão da Cunha, que percorreu as ruas da cidade numa
extravagante procissão de animais das colónias e riquezas das Índias que
impressionaram a Europa. Nesse ano, Afonso de Albuquerque enviara embaixadores
ao Sultão Muzafar II de Cambaia (Guzerate), pedindo autorização para construir
uma fortaleza em Diu. A missão voltou sem acordo, mas foram trocados presentes
diplomáticos, incluindo um Rinoceronte-indiano. Albuquerque enviou-o ao Rei Dom Manuel I, que por sua vez o enviou como presente ao Papa Leão X. Contudo morreu
num naufrágio na costa italiana. Com base numa descrição escrita e num breve
esboço, o pintor alemão Albrecht Dürer criou então o famoso rinoceronte de
Dürer sem jamais ter visto o rinoceronte real, que foi o primeiro exemplar
visto na Europa desde os tempos romanos. O seu prestígio chegara ao auge,
criando as bases do Império Português no Oriente e sendo «Chamado o Grande
pelas heróicas façanhas com que encheu de admiração a Europa e de pasmo e
terror a Ásia». Em
1513 após regressar do Mar Vermelho, já em Cananor, Albuquerque fora visitado
por um embaixador do Xá Ismail I Safávida da Pérsia, que enviara embaixadores a
Guzerate, Ormuz e Bijapur. O embaixador enviado a Bijapur visitou Albuquerque
convidando-o a nomear um enviado de volta para a Pérsia. Miguel Ferreira foi
enviado através de Ormuz para Tabriz, onde manteve várias conversações com o xá
Ismail sobre os objectivos comuns de derrotar o sultão mameluco. Tendo
retornado com ricos presentes e um embaixador, em Março de 1515 no regresso
foram recebidos por Albuquerque em Ormuz, onde veio de estabelecer o seu
domínio. A ilha no Golfo Pérsico rendeu-se-lhe sem resistência. Aí permaneceu,
concluindo a construção da fortaleza de Ormuz em 1515, investindo em esforços
diplomáticos para o seu plano de domínio dos pontos estratégicos que permitiam
o controlo marítimo e o monopólio comercial da Índia e a receber enviados, mas
cada vez mais doente. Em Novembro de 1515, decidiu voltar, mas não sobreviveu à
viagem.
A
carreira de Afonso de Albuquerque teve um final doloroso e ignominioso. Na
corte portuguesa tinha vários inimigos que não perdiam a oportunidade de
espicaçar a inveja do Rei Dom Manuel I contra ele, insinuando que pretendia a
independência do poder na Índia. A sua conduta, por vezes imprudente e
tirânica, serviu estes fins na perfeição. No regresso de Ormuz, à entrada do
porto de Goa, cruzou-se com um navio vindo da europa que trazia a notícia da
sua substituição pelo seu inimigo pessoal Dom Lopo Soares de Albergaria, líder do
grupo que se lhe opusera quando da substituição do Vice-Rei. O golpe foi
demasiado para Afonso de Albuquerque, que morreu no mar a 16 de Dezembro de
1515. É-lhe
atribuída a frase de "Mal com el-rei por amor-dos-homens, mal com os
homens por amor de el-rei", que terá exclamado ao saber da notícia. Pouco
antes de morrer, em resposta a uma carta do Rei admoestando-o pelos gastos e
conquistas excessivas, e por não se ter dedicado ao objectivo inicial, escreveu
uma carta ao Rei em tom digno e afectuoso, assumindo a sua conduta e pedindo
para o seu filho natural as honras e recompensas que eram justamente devidas a
si próprio:
"Senhor.
Eu nam escrevo a vos alteza per minha mão, porque, quando esta faço, tenho
muito grande saluço, que he sinal de morrer: eu, senhor, deixo quá ese filho
per minha memória, a que deixo toda minha fazemda, que he assaz de pouca, mas
deixo lhe a obrigaçam de todos meus seruiços, que he mui grande: as cousas da
índia ellas falarám por mim e por elle: deixo a índia com as principais cabeças
tomadas em voso poder, sem nela ficar outra pendença senam cerrar se e mui bem
a porta do estreito; isto he o que me vossa alteza encomendou: eu, senhor, vos
dey sempre por conselho, pera segurar de lá índia, irdes vos tirando de
despesas, peço a vossa alteza por merce e que se lembre de tudo isto, e que me
faça meu filho grande, e lhe dè toda satisfaçam de meu seruiço, todas minhas
confianças pus nas mãs de vos alteza e da senhora Rainha, a elles mem comemdo,
que façam minhas cousas grandes, pois acabo em cousas de voso seruiço, e por
elles vollo tenho merecido, e as minhas tenças, as quaes comprey pela maior
parte, como vossa alteza sabe, beijar lhe ey as mãos pollas em meu filho,
escrita no mar a 6 dias de Dezembro de 1515. Afomso dalboquerque" carta de
Afonso de Albuquerque ao rei D. Manuel I
O Rei Dom Manuel I enviara Dom Lopo Soares de Albergaria em Março de 1515. Contudo em
Agosto, através de contactos em Veneza, soube que o Sultão mameluco do cairo,
incomodado com os avanços no Mar Vermelho, preparara no Suez uma frota com
homens e artilharia prontos para investir contra os portugueses na Índia e,
principalmente, em Ormuz. Temendo os efeitos e arrependido de ter substituído
Albuquerque, escreveu de imediato a Dom Lopo Soares, pedindo-lhe que caso já
tivesse iniciado a governação devolvesse a Albuquerque o comando das operações,
provendo-o de meios para que este pudesse combater as forças rivais. Contudo
quando a carta chegou, Albuquerque já havia falecido.
Segundo
Brás de Albuquerque, antes de morrer Albuquerque pediu para vestir o manto da
Ordem Militar de Santiago, "já que era comendador". "Em Goa o seu
corpo foi recebido por uma multidão que não acreditava que Albuquerque tivesse
morrido. Assim foi sepultado na igreja de Nossa Senhora da Serra em Goa" que
mandara edificar em 1513, em cumprimento de um voto por se ter salvado com a
sua nau "de uns baixios" na ilha de Kamaran (esta igreja foi demolida
entre 1811 e 1842, durante o breve período de domínio britânico de Goa). Em
1566, passados 51 anos, «foi trasladado, como dispusera seu testamento, ao
convento de Nossa Senhora da Graça dos Religiosos Eremitas de Santo Agostinho
da corte, para onde foi conduzido em 19 de Maio de 1566 com pompa». A igreja da
Graça ruiu com o terramoto de Lisboa de 1755 e foi reconstruida, perdendo-se o
rasto do túmulo original.
O Rei Dom Manuel I de Portugal, reconhecendo demasiado tarde a sua fidelidade,
procurou reparar a injustiça com que fora tratado cumulando de honras o seu
filho natural Brás de Albuquerque, cumprindo assim o último pedido
de Afonso de Albuquerque. Baptizado Brás, este mudou o nome para Afonso «por
insinuação do Rei Dom Manuel, querendo este Príncipe igualmente eternizar na sua
pessoa a memória de seu ilustre progenitor».
Dom Afonso Brás de Albuquerque, 2º Duque de Goa
Dom Afonso
Brás de Albuquerque nasceu em Alhandra, por volta de 1501 e faleceu em Lisboa,
em 1581, filho natural de Dom Afonso de Albuquerque, foi ‘Vedor da Fazenda’, ‘Membro
Directivo da Misericórdia’ e ‘Presidente do Senado de Lisboa’. Pertenceram-lhe
dois dos edifícios mais representativos do Renascimento português: a Casa dos
Bicos, que mandou construir em Lisboa, e a Quinta da Bacalhoa, em Azeitão. Dom Brás
de Albuquerque era filho natural de Dom Afonso de Albuquerque e nasceu na mesma
quinta do Paraíso na vila de Alhandra, em 1501. Em Fevereiro de 1506 foi legitimado
por seu pai, antes de este partir para a Índia com a missão secreta ordenada
pelo Rei de se tornar ‘Governador do Estado Português da Índia’. Em 1515, pouco
antes de morrer, Dom Afonso de Albuquerque escreveu ao Rei Dom Manuel I de
Portugal solicitando para Brás de Albuquerque fica-se com todas as honras e
bens a que tinha direito, solicitando ainda especial atenção para a sua
formação.
“Eu, senhor, deixo quá
ese filho per minha memória, a que deixo toda minha fazemda, que he assaz de
pouca, mas deixo lhe a obrigaçam de todos meus seruiços, que he mui grande: (...)
peçoa vos alteza por mercee que se lembre de tudo isto, e que me faça meu filho
grande, e lhe dè toda satisfaçam de meu seruiço...”
Carta
de Dom Afonso de Albuquerque ao Rei Dom Manuel I
Dom
Manuel I, em memória do seu ilustre pai (que tinha, inclusive, como amigo),
acrescentou-lhe o nome de Afonso, “querendo
este Príncipe igualmente eternizar na sua pessoa a memória de seu ilustre
progenitor”, encarregando-se da sua educação desde a morte de Afonso de
Albuquerque, em 1515. Foi educado pelos padres de Santo Elói, adquirindo uma
esmerada cultura humanista. Em 1521, com vinte anos, Dom Brás de Albuquerque
deslocou-se a Itália na comitiva da Infanta Dona Beatriz de Portugal, segunda
filha de Dom Manuel I, quando esta foi casar com Dom Carlos III de Sabóia. Em
Itália terá ficado impressionado com a arquitectura renascentista. Pertenceram-lhe dois dos edifícios mais representativos do Renascimento
português: a Casa dos Bicos que mandou construir em 1523 em Lisboa, revestida
de pedra aparelhada em forma de ponta de diamante, ou ‘bicos’, de clara
influência renascentista italiana, e a Quinta da Bacalhoa em Azeitão, que
comprou aos Duques de Viseu em 1528, enriquecendo-a com azulejos, uma “casa de prazer” junto ao tanque e dois
robustos pavilhões nos muros laterais.
Casou com uma das damas mais ilustres da
Corte, Dona Maria de Noronha, filha de Dom António de Noronha, 1.º Conde de
Linhares, 'Escrivão da Puridade' do Rei Dom Manuel I de Portugal, e de Dona Joana
da Silva, filha de Dom Diogo da Silva, 1º Conde de Portalegre.
Em
1557 publicou os "Commentarios de
Afonso de Albuquerque capitão geral & gouernador da India, colligidos (...)
das proprias cartas que elle escreuia ao muyto poderoso Rey Dõ Manuel, o
primeyro deste nome..." baseado em cartas que lhe haviam sido enviadas
pelo pai, quando este permanecia na Índia.
Foi ‘Vedor da Fazenda’ do Rei Dom João III de Portugal. Em 1569 era presidente do ‘Senado de Lisboa’, quando por seus esforços combateu a peste. Morreu em Lisboa em 1580 e foi sepultado na paroquial igreja de São Simão, na vila de Azeitão. Deixou uma filha única, Dona Joana de Albuquerque, esposa de Dom Fernando de Castro. Em 1576 publica uma nova edição dos "Commentarios de Afonso de Albuquerque ...", com um título ligeiramente diferente: "Comentários do Grande Afonso de Albuquerque etc." Nessa segunda edição, com já mais de 70 anos tem "emendado algumas coisas que tinha escriptas, e acrescentado outras, advertido de mais certas informações" como ele diz na sua dedicatória a El-Rei Dom Sebastião, o que faz dela segundo Inocêncio Francisco da Silva "muito mais estimavel que a primeira. Esta obra diz o mesmo Inocêncio, é uma das fontes originais a consultar para a história da Índia. Seu autor é contado geralmente no número dos bons clássicos da língua, e o Padre António Pereira de Figueiredo não duvidou dar-lhe o quinto lugar antepondo-lhe apenas João de Barros, Damião de Góis, Francisco de Andrade, e Diogo do Couto. Parece-me contudo que esta opinião do ilustre filólogo terá poucos seguidores." O livro dá-nos uma perspectiva sóbria e profunda da sociedade portuguesa na Índia.
Em
1557 Brás de Albuquerque publicou uma selecção dos documentos de seu pai sob o
título "Commentarios de Afonso dAlboquerque capitão geral & gouernador
da India, colligidos (...) das proprias cartas que elle escreuia ao muyto
poderoso Rey Dõ Manuel". Seriam impressos segunda vez em 1576, com o
título "Comentários do Grande Afonso de Albuquerque". Nessa segunda
edição, com já mais de 70 anos, Brás de Albuquerque corrigira e completara a
informação, como afirma na dedicatória ao rei Dom Sebastião de Portugal. Em
1572 os feitos de Albuquerque foram celebrados por Luís Vaz de Camões em
"Os Lusíadas", Canto X (estrofes 40 a 49). O
poema heróico de Francisco de Sá de Meneses, ‘Malaca Conquistada pelo grande
Afonso de Albuquerque’, em 12 Cantos e oitava rima, é publicado pela primeira
vez em 1634. Uma
extraordinária e cara variedade de mango que Afonso de Albuquerque costumava
trazer das suas viagens à Índia foi nomeada em sua honra e ainda hoje é vendida
em todo o mundo como Manga Afonso. Em
1515, com o fim do seu mandato de Governador, Afonso de Albuquerque foi feito Vice-Rei e "Duque de Goa" pelo Rei Dom Manuel I, que então lhe
concedeu o tratamento "Dom" e os títulos de "vice-rei da
Índia" e de "Senhor do Mar Vermelho", títulos de que nunca
usufruiu em vida. O título de Duque de Goa era o primeiro título nobiliárquico
português de Duque concedido fora da família real e o primeiro referente a uma
localidade fora do Reino. Sendo um título em vida, extinguiu-se com a sua morte
nesse mesmo ano.
3º
- Dom Lopo Soares de Albergaria
(Governador
do Estado da Índia 1515-1518)
Lopo
Soares de Albergaria nasceu em Lisboa, em 1442 e faleceu em Torres Vedras, por volta de 1520. Também conhecido como Lopo Soares
de Alvarenga, como mais usualmente é apelidado, foi um influente aristocrata e
militar, capitão-mor e governador da Fortaleza de São Jorge da Mina, depois
nomeado por Dom Manuel I, em 1515, como o 3.º governador da Índia, sucedendo no
cargo a Afonso de Albuquerque. Em
novo, a 18 de Janeiro de 1469, igualmente, usou o nome Lopo Soares de Melo e
com este, sendo na altura moço fidalgo da Casa Real, teve uma tença anual de Dom Afonso V para mantimento de seus estudos. A
22 de Abril de 1504, Lopo Soares capitaneou a Armada que partiu para a Índia e
derrotou os muçulmanos, defendendo-se dos ataques do Rei de Calecute. Regressou
a Portugal logo no ano seguinte, em 1505, nos começos do Verão, acompanhado
pelo heróico Duarte Pacheco Pereira. Ruma novamente para a Índia, depois de ter
sido nomeado governador desse território, sucedendo a Afonso de Albuquerque em
1515. Em 1519 voltou a Portuga, substituído do cargo por Dom Diogo Lopes de Sequeira. Há
quem diga que aí, durante esses quatro anos não conseguiram dar continuidade ao
trabalho de Afonso 'o Terríbil', tendo tido vários insucessos,
militares que em geral desagradou, não só aos réis indianos, mas também aos
portugueses e derrotou os muçulmanos. Isso
e devido à sua expedição ao Mar Vermelho de 1517, em busca de turcos, que se
diz que resultou em fracasso, na verdade, apenas decidiram não avançar sobre
terra e suspender o ataque ao porto de Jedá, face ao risco de um bombardeamento
com êxito por parte da artilharia turca. O que, por alguns, foi considerado bom
senso do chefe militar português, e por muitos, pura cobardia. Recuo que se
juntaria a um outro, iniciado dois anos antes, com a derrota, bem real, em
Mamora, no litoral marroquino, onde morreram 4.000 portugueses. E esquece-se
que enquanto estava nas mesmas funções, na governação da Índia, em 1518, venceu
a armada do Egipto e incendiou Zeila, na costa etíope assim como fundou a
fortaleza de Colombo, na Ceilão ou Taprobana (actual Sri Lanka), sendo esta
identificada como o factor mais significativo da sua governação. Outra
estranheza é ter sido dado ouvidos a uma difamação contra ele pois reza a
história que Dom Lopo era um homem honesto e esta vinha principalmente por parte
de um Vigário Geral de Cochim que mais tarde foi acusado, de crimes de
peculato, de "mulherengo" e acabou por desaparecer da arena
política/religiosa da Índia. Viveu
por algum tempo no Solar de Refojos, em Vale de Cambra, no lugar da Portela de
Vila Chã, mas, quando regressou foi antes para a sua quinta, em Torres Vedras. O
rei Dom Manuel I ainda intima-o a apresentar-se no Paço, em Lisboa, para prestar
contas (financeiras) de acontecimentos havidos no Oriente. Mas o fidalgo
recusou responder às injunções do rei. Dom Manuel insiste e intima-o a
apresentar-se de imediato... Lopo Soares de Albergaria responde-lhe - pedindo
que o dispensasse de tal mercê e "pois se era por questão de demandas com
Fernão de Alcáçova (Vedor da Fazenda da Índia) não se queria defender delas e
se dava por condenado, para o que respondia sua fazenda; se mesmo fosse
necessário o ser executado, em Torres Vedras havia picota para toda a execução
e ele cá estava de pé quedo; e se sua Alteza o chamava para lhe fazer mercê e
bem contente estava com o que tinha, porque Deus o trouxera para junto de suas
filhas." El-Rei acabou por dispensar de insistir na sua demanda. Tinha
como sua propriedade uma capela na Igreja da Graça, em Lisboa, onde se
encontrava sepultada sua mulher. Era sob a invocação de São Fulgêncio, onde
está o actual baptistério, e tinha sido mandada edificar para si e seus
herdeiros que a cederam depois. Os seus pais tinham antes dele lá uma outra ou
mais provavelmente era uma extensão da mesma pois ela seguiu essa instrução e a
sua família, pela mão de sua filha Dona Catarina e única a ter descendência,
continuou a usar esse espaço, pelo menos até 1884, para túmulo.
Lopo
Soares de Albergaria, 1.º senhor de Pombalinho, (que comprou, ao Conde de Penela).
Nascido cerca 1442, em Lisboa e falecido depois de 1520, em Torres Vedras. Filho
de, Dom Rui Gomes de Alvarenga, Conde Palatino, Chanceler-mor do Reino, Presidente da Casa da Suplicação, Fidalgo do Conselho, doutor em Leis,
embaixador a Castela e de Dona Mécia de Melo ou Dona Milícia de Melo Soares, filha de
Estêvão Soares de Melo, Senhor da honra de Melo, e de Dona Tereza de Andrade,
filha de Rui Nunes Freire de Andrade, senhor de Algés. Casamento,
com, Dona Ana de Albuquerque, filha de Nuno da Cunha 'o Velho' e de Dona Catarina
de Albuquerque. Tiveram
os seguintes filhos:
Dona Guiomar de Albuquerque casada com Dom Afonso de Menezes e Vasconcelos, senhor de
Mafra. Sem descendência.
Dona Catarina de Albuquerque, 2ª senhora de Pombalinho (herdeira), casada em 1490
com Dom Fernando de Almada. Com descendência.
4º
- Dom Diogo Lopes de Sequeira
(Governador
do Estado da Índia 1518-1522)
Diogo
Lopes de Sequeira nasceu em Alandroal, em 1465 e faleceu em Alandroal, em 1530, foi um fidalgo Português
que aportou pela primeira vez em Malaca em 1509, antes da conquista em 1511 por
Afonso de Albuquerque. Foi governador da Índia de 1518 a 1522. Ao
serviço de Dom Manuel I, foi enviado para fazer o reconhecimento da costa de
Madagáscar (então nomeada Ilha de São Lourenço) e respectivas potencialidades
comerciais, aportando depois na Índia. Durante esta viagem, que se prolongou
por vários anos, chegou a Samatra e Pacém, onde ergueu padrões com as armas
portuguesas. Em outras viagens passou por Ceuta, Arzila, Alcácer Ceguer, Diu e
Goa, reparando fortalezas em diversas paragens. Em
1509, pouco antes de Afonso de Albuquerque assumir o cargo de governador da
Índia, Lopes de Sequeira comandou a primeira frota portuguesa a chegar a
Malaca. Obtendo a autorização do sultão local, aportou com cinco navios para
comerciar levando credenciais e presentes. Inicialmente foi bem recebido,
desembarcou homens e mercadorias, no entanto não conseguiu um acordo para
estabelecer uma feitoria, pois os gujarates, os mercadores muçulmanos locais,
opuseram-se com o apoio do bendahara. Visto como uma intrusão no comércio entre
o estreito de Malaca e as ilhas indonésias, foi planeada uma tentativa de
destruir a expedição. Diogo Lopes de Sequeira abandonou rapidamente a costa com
três dos navios, deixando para trás dois navios incendiados, várias baixas e
dezanove prisioneiros. Afonso de Albuquerque, instado a libertar os
portugueses, conquistaria Malaca em 1511. Diogo Lopes de Sequeira foi nomeado
governador da Índia de 1518 a 1522, cargo que terá desempenhado de forma
contestável, enriquecendo abusivamente. Em 1524, já sob Dom João III, participou
da Conferência de Elvas e Badajoz onde Portugal disputaria as Molucas com
Castela, nos acordos de demarcação a Este do da linha do Tratado de
Tordesilhas, onde, mercê da relação difícil com o rei, terá assumido uma
posição favorável aos últimos.
5º
- Dom Duarte de Meneses
(Governador
do Estado da Índia 1522-1524)
Dom Duarte de Meneses nasceu antes de 1488 e faleceu depois de Março de 1539. Capitão de Tânger,
governador da Índia. Dom Duarte de Meneses, era filho primogénito de Dom João de Meneses 1.º Conde de
Tarouca e prior do Crato, e de sua mulher Dona Joana de Vilhena, e neto paterno
de Dom Duarte de Meneses, 1º capitão de Alcácer-Ceguer. Também era o avô do 14.º
vice-rei da Índia e homónimo, dom Duarte de Meneses. Sucedeu
a seu pai no cargo de capitão do Tânger, que capitaneava já pelo menos desde
1507 em nome de seu pai. "Gozava de uma formidável reputação enquanto
chefe guerreiro". Foi
Ferido no rosto num ataque que se fez no campo de Alcácer Quibir. Em 1508,
participou no ataque a Azamor. Assim descreve Pedro de Mariz, em seus Diálogos
de varia história, uns dos feitos de Dom Duarte enquanto capitão de Tânger.
"O
anno (…) de mil,& quinhentos,& doze [4 de Abril de 1512], os Alcaides
Barráxa (Mulei Ali Ibn Rachid), alcaide de Xexuão), & Almandarim (Sidi
Al-Mandri, alcaide de Tetuão), com oitocentos de cavallo, & dous mil de pé,
sahirão furiosos, a destruir os Mouros nossos confederados,& vassallos:
& andando senhores do campo fazendo grande mal, & destruição naquelles
povos, chegarão ao campo de Tanger, onde lhe sahio Dom Duarte de Menezes,
Capitão daquella cidade, com duzentos de cavallo, & duzentos de pé. Tanto
que os Mouros houvérão vista delles, logo se poserão em som de batalha, &
se vierão pera elles muy crespos, com grandes alaridos, & algazàtas. Mas
Barráxa, como mais versado, e destro naquellas occasioens, disse aos que
estavam junto delle que não era aquella a gente, que se havia de vencer com
gritas, senão cõ armas, & muito esforço, que elle lhes pedia tivesem todos
naquella hora, porque lhe certificava o havião de haver bem mister, & em
dizendo isto, logo se começou a batalha bem pelejada, & muito furiosa, em
que ao principio os nossos levavão a pior. Mas sobrevindo a pessoa de Dom
Duarte de Menezes, de tal maneira se houverão com sua presença, &
companhia, que depois de pelejarem húa hora em peso, sem se conhecer melhoria,
ficàrão os Mouros vencidos, & desbaratados, fugindo Almandarim com cento de
cavallo: & Barràxa correndo muito perigo de ser morto, porque ao fugir,
cahio o cavallo com elle, & por sua grande destreza se salvou em outro,
indo lhe os nossos no alcance. Morrérão dos nossos seis, ou sete, & feridos
vinte, & três. E dos Mouros ficarão mortos no campo seiscentos, &
cativos duzentos, & quarenta, e entre elles muitos, muito nobres, &
especiaes cavalleiros. Tomarão 160 azemelas, 40 cavallos, 20 egoas, vinte
camellos, & outro muito despojo."
Em
1515, com D. João Coutinho, capitão de Arzila, resolvem atacar, a aldeia, de
Aljubilia, situada na Serra de Farrovo. Em 12 de Setembro de 1516, por ocasião
da visita à encomenda de Sesimbra, encontrava-se ausente em Tânger, em 1517,
também com Dom João Coutinho, fizeram uma entrada em terra de mouros, chegando
até ao campo de Alcácer Quibir, onde mataram alguns, fizeram cativos cerca de
37, capturaram 1.700 cabeças de gado vacum e 5.000 cabeças de gado miúdo. Nomeado
governador da Índia, partiu em 5 de Abril de 1522 com uma Armada de doze naus,
acompanhado do seu irmão Dom Luís de Meneses.
"Ao
longo do triénio do governador, o sudeste asiático (e as Molucas), mesmo que
constituindo questões prementes, foram alvo de uma atenção muito inferior à
atenção dada ao Golfo Pérsico, onde o controlo de Ormuz rapidamente se tornara
numa questão capital".
Goa
foi em grande parte deixada ao cuidado do seu capitão, Francisco Pereira
Pestana, associado próximo de Dom Duarte, que entrou em conflito com uma boa
parte da sua população de casados. Apenas chegado, soube que a aduana de Ormuz
estava sitiada, e mandou-lhe seu irmão em socorro. Entretanto alcançou uma
vitória contra Dabul (hoje Dabhol), "tomando duas galeras de
"rumes" (turcos), e fazendo-a tributaria. Com isso e com a recém,
chegada de Dom Luís, temeroso Melique Az do moderno sucessor, de cujas cavalearias
em África tinha noticia, mandou cessar a opressão que suas fustas davam a
Chaul".
A revolta do Rei de Ormuz (Turan-Shah) para com os portugueses,
planeada com seu conselheiro e Wazîr (alguazil), Ra'is Sharafuddin Fali,
começou uma noite de Novembro de 1521 em que foram assaltados de maneira
concertada, "com ferro, e fogo no mar e na terra", a Fortaleza de
Ormuz, mas também Baharem, Mascate, Curiate, e Soar. Era então Capitão da
Fortaleza Dom Garcia Coutinho, que logo mandou a notícia ao novo governador, Dom Duarte. De Mascate vieram Tristão Vaz da Veiga, que passou a Ormuz por entre
160 navios que "torneavam por aquela parte", e dois dias mais tarde
Manuel de Sousa. O navio deste último, via-se a duas léguas, impedido de
avançar, "Acudi-lo era perigo para a fortaleza, e não o acudir era perigo
para todos. Tristão Vaz em seu navio aventurou-se a socorrê-lo por a metade dos
cento e sessenta inimigos. Correm atrás dele os oitenta, e chovendo as balas, e
flechas, não lhe impedem a carreira, mas quiz impedi-la Manuel de Sousa porque,
suspeitando sêr inimigo, desde de là começou a apuntar-lhe a artilharia, com
que fez algum dano, até que conhecido pela grandeza de sua estatura, cessou os
tiros, e chegando ao navio do Sousa, foi recolhido nele. Está bramando Elrei de
Ormuz contra seus oitenta barcos que não ousaram envestir um só; e tem
rasão". Conseguiram depois os dois navios chegar à fortaleza. O Rei perdendo pouco a pouco a esperança de sacudir o jugo português, e temendo o
castigo que viria desta sua rebelião, determinou refugiar-se na ilha de
Queixome (Qishm), distante 3 léguas de Ormuz. Aí fez secretamente passar toda a
sua gente: "e executado isto (com impiedade barbara a tanta luz),
entregou-se às chamas aquela povoação formosa em grandeza, em edifícios, e em
concurso de nações várias (Ormuz). Ardeu quatro dias, e outras tantas noites
com horror dos que de longe a viam voar em fantasmas de fumo; e com medo dos
que estavam perto, que não pensaram escapar-se de sêr lambidos das línguas que
horrivelmente estendia aquele incêndio. (…) Ficaram os nossos, ainda que
admirados do facto bestial, aliviados do assombro do cerco, saindo a valer-se
de alguma coisa na cidade: em que só acharam água em cisternas, e brasa em todo
edifício." Chegaram logo dois navios com bastimentos e munições, o de Dom Gonçalo Coutinho, primo de Dom Garcia, e o de Sebastião Ferreira. Dom Luís de Meneses, que seu irmão tinha enviado a Ormuz, chegou à vila de Soar com
dez velas, e destruíram aquele lugar, enquanto matavam o rei de Ormuz os
seus próprios validos em Queixome (princípios de 1522), e puseram a coroa a
Mamud Xá (Muhammad Shah, seu sobrinho), moço de treze anos, filho do rei
passado". Chegado a Queixome, Dom Luís, depois de tentar "várias
coisas, que não tiveram efeito" (negociar com o alguazil Ra'is Sharafuddin
Fali, prometendo-lhe que a sua má conduta anterior seria perdoada, se se
prestasse a regressar a Ormuz e a tomar conta da situação); tentou outro
negócio: entendeu-se com Ra'is Shamsher (qua acabava de estrangular o antigo 'Rei' Turan Shah, para que assassine o alguazil, Raez Xarafo (Ra'is Sharafuddin Fali)
e seu cúmplice e tio, Raez Xabadim, logo que se apresentasse a ocasião, e
propôs ao novo rei, o seguinte: "que voltasse a habitar Ormuz; que pagasse
os 20 mil xerafins de tributo antigos; que se satisfizesse a estes pontos; que
os capitães portugueses não se intrometeriam no governo da sua cidade; e outras
coisas que se remataram com enviar a Elrei um presente de pérolas, e ouro, e
jóias, e sedas"... Depois
foi Dom Luís para Goa, onde encontrou "seu irmão e toda a cidade, chorando
a morte de Dom Manuel ElRei de Portugal.
Parece
que não satisfeito pela solução alcançada, partiu então o próprio Dom Duarte
para Ormuz com seis navios. Era agora capitão da fortaleza Dom João Rodrigues de
Noronha, que tinha acolhido Raez Xarafo (Ra'is Sharafuddin), porque morto Raez
Xabadim, este tinha fugido e pedido a protecção dos portugueses, pretendendo
que era ele que queria que o rei voltasse e que por isso era perseguido, e o
rei para provar sua boa-fé, tinha voltado para Ormuz: "Chegado a Ormuz Dom Duarte, poz no tear da justicia as culpas dos que a tinham na rebelião
antecedente, e foi julgado de muitos, que ao fim vieram a têr maiores culpas
quem menos as tinha. Porque Raez Xarafo (Ra'is Sharafuddin Fali) homem riquissimo,
e alma de todos aqueles movimentos (só em 1529, foi feito prisioneiro e enviado
para Portugal), ficara premiado, e Raez Xamexir (Ra'is Shamsher), que (segundo
o acordo de Dom Luís) executou a morte de Raez Xabadim, outro tirano da
liberdade daqueles reis, posto em desterro, em vez do premio prometido e
esperado, e ultimamente o novo rei com a inocência da sua idade, e daquelas
culpas, pagou-as com aceitar 35 mil xerafins de tributo, que se lhe impuseram
(insolente carga) sobre os 25 antecedentes, que não podia pagar com a cidade
florentissima, e havia de poder agora mais com ela assolada, outros discorriam
que Dom Duarte nestas acções não tinha sido governado do interesse, senão pelo
que lhe ditava seu juizo, pequeno erro, porque os conhecedores podem errar com
mais ligeira culpa que os gananciosos, mas a ganância muitas vezes persuade com
veementes sofismas, que há-de parecer obra do zelo a que foi do
interesse." O Novo tratado de submissão, de 15 de Julho de 1523, passava
então, de 15.000 xerafins no tempo de Albuquerque, a 25.000 no tempo de Lopo
Soares, e agora a 60.000. Foi
Governador da Índia até 1524, quando foi substituído por Vasco da Gama. Teve
uma administração desastrosa, com derrotas militares e perdas de territórios,
voltando preso para o reino, encarcerado "no castelo de Torres Vedras e
outros locais, situação em que permaneceu durante sete anos". Libertado
através da intercessão do Conde de Castanheira, retomou depois suas anteriores
funções em Tânger, em 1536. Em 4 de Outubro de 1536 tomou pela segunda vez
possessão do governo de Tânger. Vinha com sua família, e Dom João, seu filho
maior.
"O
primeiro feito que dele encontramos, foi pouco venturoso. Soube que alguns
almogavares introduziram-se no campo, e mandou Ayres de Sousa, em 9 de Fevereiro
de 1537, que lhes fizesse frente com quarenta de cavalo. Sahiram os mouros de
Benamaqueda, Ayres de Sousa o envestio, fugiram os mouros e seguiram-lhe os
nossos até a praça de Nofiza, distante duas léguas, sem considerar os
inconvenientes (…). Esperavam os alcaides com muita gente, e sahindo com bríos,
encontraram os nossos disseminados e os cavalos sem alento. Aínda que estes
procuraram resistir, foram facilmente desfeitos. Morreram os mais pelejando
como valerosos cavaleiro, entre eles Ayres de Sousa, Luís de Ataíde, Lourenço
Correia e outros. Ficaram cativos Lopo de Sequeira, Antonio de Sequeira, Gaspar
Antunes, Juan de Guevara e Jorge da Silveira (...). Alguns dias depois (desse
desastre) passou Dom Duarte a Ceuta, em romaria a Nossa Senhora de África, como
o tinha prometido. Regressou com Dom Nuno Álvares de Noronha, que governava
aquela praça, com intenção de passar ambos a Arzila vêr o conde Dom João
[Coutinho], mas impedio a isso o tempo, que era de água e frio (...). Teve
depois aviso do Conde Dom João, que determinava penetrar en Berbéria, se o podia
reforçar com algum socorro. Em 14 de Junho desse mesmo ano, mandou-lhe Dom João
seu filho, com parte da sua gente. Correram ambos o campo de Alcácer sem
encontrar oposição. Apanharam quinze mouros e um negro de Lopo Mendes, que
tinha fugido, quatro cavalos, duas éguas, e setenta jumentos (...).
Quinta-feira, às 9 da manhã, do dia 6 de Dezembro de 1537, nasceu em Tânger Dom Duarte de Meneses, filho de Dom João, que depois foi (…) vice-rei da Índia, de quem
se fará menção mais à frente, por têr sido governador desta cidade. Neste tempo
tratava-se de paz com os mouros (…). O 7 de Maio seguinte de 1538, veio a
Arzila Muley Abrahem e o confirmou com Dom João Coutinho, Conde de Redondo,
incluindo aquela praça com as demais desta fronteira. E tendo matado, dias
depois, a um mouro, o cavaleiro desta cidade, Rui Gomes, que tinha encontrado
descuidado num campo, com a seguridade da paz, foi preso, e convencido da
culpa, cortou-se lhe a cabeça em praça pública, para exemplo dos outros. Do
governo de Dom Duarte não, encontramos mais noticias. Como parece que houve mais
paz que guerra, não ocorreram sucessos dignos da História. A, Dom Duarte sucedeu
Dom João de Meneses, seu filho, sendo esta capitania própria e hereditária de
aquela Casa. Entregou-lhe o governo em 1° de Janeiro de 1539, e detendo-se até
Março, sahio para Lisboa”.
Casou
com Filipa de Noronha, filha de Simão Gonçalves de Câmara de Lobo, 3° capitão
da Ilha da Madeira da parte do Funchal; com quem têve Dom João de Meneses, &
Dom Pedro de Meneses, que a seu tempo também governaram Tânger. Com mulher
desconhecida têve também Dom Fernando de Menezes, que também chegou a governar
Tânger, (com a mesma ou com outra, Dona Joana, mulher de Damião Dias, escrivão da
fazenda). E com Clara Morena de Bivar, têve duas filhas. Dona Inácia e Dona Brites
de Meneses.
6º
- Dom Vasco da Gama
(Vice-Rei
do Estado da Índia e Governador do Estado da Índia 1524)
Vasco
da Gama nasceu em Sines, por volta de 1460 ou 1469 e faleceu em Cochim, na Índia, a 24 de Dezembro de 1524, foi
um navegador e explorador português. Na Era dos Descobrimentos, destacou-se por
ter sido o comandante dos primeiros navios a navegar da Europa para a Índia, na
mais longa viagem oceânica até então realizada, superior a uma volta completa
ao mundo pelo Equador. No fim da vida foi, por um breve período, Vice-Rei da
Índia. Nasceu
provavelmente em 1460 ou 1468 ou ainda 1469, em Sines, na costa sudoeste de
Portugal, possivelmente numa casa perto da Igreja de Nossa Senhora das Salvas
de Sines. Sines, um dos poucos portos da costa alentejana, era então uma
pequena povoação habitada por pescadores. Era filho legítimo de Estêvão da
Gama, que em 1460 era cavaleiro da casa de Dom Fernando de Portugal, Duque de
Viseu e Mestre da Ordem de Cristo. Dom Fernando nomeara-o Alcaide-mor de Sines e
permitira-lhe receber uma pequena receita de impostos sobre a fabricação de
sabão em Estremoz. Estêvão da Gama era casado com Dona Isabel Sodré, filha de
João Sodré (também conhecido como João de Resende). Sodré, que era de
ascendência Inglesa, tinha ligações à casa de Dom Diogo, Duque de Viseu, filho
de Fernando de Portugal, Duque de Viseu. Pouco
se sabe do início da vida deste navegador. Foi sugerido pelo médico e
historiador português Augusto Carlos Teixeira de Aragão, que terá estudado em
Évora, onde poderá ter aprendido matemática e navegação. É evidente que
conhecia bem a astronomia, e é possível que tenha estudado com o astrónomo
Abraão Zacuto. Em 1492, Dom João II de Portugal enviou-o ao porto de Setúbal, a sul
de Lisboa, e ao Algarve para capturar navios franceses em retaliação por
depredações feitas em tempo de paz contra a navegação portuguesa (uma tarefa
que Vasco da Gama executou rápida e eficazmente). Desde
o início do século XV, impulsionados pelo Infante Dom Henrique, os portugueses
vinham aprofundando o conhecimento sobre o litoral Africano. A partir da década
de 1460, a meta tornara-se conseguir contornar a extremidade sul do continente
africano para assim aceder às riquezas da Índia (pimenta preta e outras
especiarias) estabelecendo uma rota marítima de confiança. A República de
Veneza, dominava grande parte das rotas comerciais entre a Europa e a Ásia, e
desde a tomada de Constantinopla, pelos otomanos limitara o comércio e aumentara
os custos. Portugal pretendia usar a rota iniciada por Bartolomeu Dias, para
quebrar o monopólio do comércio mediterrânico. Quando
Vasco da Gama tinha cerca de dez anos, esses planos de longo prazo estavam
perto de ser concretizados: Bartolomeu Dias tinha retornado de dobrar o Cabo da
Boa Esperança, depois de explorar o "Rio do Infante" (Great Fish
River, na actual África do Sul) e após ter verificado que a costa desconhecida
se estendia para o nordeste. Em simultâneo foram feitas explorações por terra
durante o reinado de Dom João II de Portugal, suportando a teoria de que a Índia
era acessível por mar a partir do Oceano Atlântico. Pero da Covilhã e Afonso de
Paiva foram enviados via Barcelona, Nápoles e Rodes até Alexandria, porta para
Áden, Ormuz e Índia. Faltava
apenas um navegador comprovar a ligação entre os achados de Bartolomeu Dias e
os de Pero da Covilhã e Afonso de Paiva, para inaugurar uma rota de comércio
potencialmente lucrativa para o Oceano Índico. A tarefa fora inicialmente
atribuída por Dom João II a Estevão da Gama, pai de Vasco da Gama. Contudo, dada
a morte de ambos, em Julho de 1497 o comando da expedição foi delegado pelo
novo rei Dom Manuel I de Portugal a Vasco da Gama, possivelmente tendo em conta
o seu desempenho ao proteger os interesses comerciais portugueses de
depredações pelos franceses ao longo da Costa do Ouro Africana. A chamada
Primeira Armada da Índia seria financiada em parte pelo banqueiro florentino
Girolamo Sernige.
Dom Manuel
I de Portugal confiou a Vasco da Gama o cargo de Capitão-mor da frota que, num
sábado 8 de Julho de 1497, zarpou de Belém em demanda da Índia. Era
uma expedição essencialmente exploratória que levava cartas do Rei Dom Manuel I
para os reinos a visitar, padrões para colocar, e que fora equipada por
Bartolomeu Dias com alguns produtos que haviam provado ser úteis nas suas
viagens, para as trocas com o comércio local. O único testemunho presencial da
viagem é consta num diário de bordo anónimo, atribuído a Álvaro Velho. Contava
com cerca de cento e setenta homens, entre marinheiros, soldados e religiosos,
distribuídos por quatro embarcações:
São
Gabriel, uma nau de 27 metros de comprimento e 178 toneladas, construída
especialmente para esta viagem, comandada pelo próprio Vasco da Gama
São
Rafael, de dimensões semelhantes ao São Gabriel, também construída especialmente
para esta viagem, comandada por Paulo da Gama, seu irmão, no regresso, com a
tripulação diminuída, foi abatida em Melinde, prosseguindo na Bérrio e São
Gabriel.
Bérrio,
uma nau ligeiramente menor que as anteriores, oferecida por Dom Manuel de Bérrio,
seu proprietário, sob o comando de Nicolau Coelho.
São
Miguel, uma nau para transporte de mantimentos, sob o comando de Gonçalo Nunes,
que viria a ser queimada na ida, perto da baía de São Brás, na costa oriental
africana.
A
expedição partiu de Lisboa, acompanhada por Bartolomeu Dias que seguia numa
caravela rumo à Mina, seguindo a rota já experimentada pelos anteriores
exploradores ao longo da costa de África, através de Tenerife e do Arquipélago
de Cabo Verde. Após atingir a costa da atual Serra Leoa, Vasco da Gama
desviou-se para o sul em mar aberto, cruzando a linha do Equador, em demanda
dos ventos vindos do oeste do Atlântico Sul, que Bartolomeu Dias já havia
identificado desde 1487. Esta manobra de 'volta do mar' foi
bem-sucedida e, a 4 de Novembro de 1497, a expedição atingiu novamente o
litoral Africano. Após mais de três meses, os navios tinham navegado mais de
6.000 quilómetros de mar aberto, a viagem mais longa até então realizada em
alto mar. A
16 de Dezembro, a frota já tinha ultrapassado o chamado 'rio do
Infante' ("Great Fish River", na atual África do Sul) (de onde
Bartolomeu Dias havia retornado anteriormente) e navegou em águas até então
desconhecidas para os europeus. No dia de Natal, Gama e sua tripulação baptizaram
a costa em que navegavam o nome de Natal (actual província Kwazulu-Natal da
África do Sul). A
2 de Março de 1498, completando o contorno da costa africana, a armada chegou à
costa de Moçambique, após haver sofrido fortes temporais e de Vasco da Gama ter
sufocado com mão de ferro uma revolta da marinhagem. Na costa Leste Africana,
os territórios controlados por muçulmanos integravam a rede de comércio no
Oceano Índico. Em Moçambique encontram os primeiros mercadores indianos.
Inicialmente são bem recebidos pelo sultão, que os confunde com muçulmanos e
disponibiliza dois pilotos. Temendo que a população fosse hostil aos cristãos,
tentam manter o equívoco mas, após uma série de mal entendidos, foram forçados
por uma multidão hostil a fugir de Moçambique, e zarparam do porto disparando
os seus canhões contra a cidade. O
piloto que o sultão da ilha de Moçambique ofereceu para os conduzir à Índia
havia sido secretamente incumbido de entregar os navios portugueses aos mouros
em Mombaça. Um acaso fez descobrir a cilada e Vasco da Gama pôde continuar. Na
costa do actual Quénia a expedição saqueou navios mercantes árabes desarmados.
Os portugueses tornaram-se conhecidos como os primeiros europeus a visitar o
porto de Mombaça, mas foram recebidos com hostilidade e logo partiram.
Em
Fevereiro de 1498, Vasco da Gama seguiu para norte, desembarcando no amistoso
porto de Melinde (rival de Mombaça) onde foi bem recebido pelo sultão que lhe
forneceu um piloto árabe, conhecedor do Oceano Índico, cujo conhecimento dos
ventos de monções permitiu guiar a expedição até Calecute, na costa sudoeste da
Índia. As fontes divergem quanto à identidade do piloto, identificando-o por
vezes como um cristão, um muçulmano e um guzerate. Uma história tradicional
descreve o piloto como o famoso navegador árabe Ibn Majid, mas relatos
contemporâneos posicionam Majid noutro local naquele momento. Em 20 de Maio de
1498, a frota alcançou Kappakadavu, próxima a Calecute, no actual estado
indiano de Kerala, ficando estabelecida a Rota do Cabo e aberto o caminho marítimo
dos Europeus para a Índia. No
dia seguinte à chegada, entre a multidão reunida na praia, foram saudados por
dois mouros de Tunes (Tunísia), um dos quais dirigiu-se em castelhano «Ao diabo
que te dou, quem te trouxe cá?». E perguntaram-lhe o que vínhamos buscar tão
longe, e ele respondeu: «Vimos buscar cristãos e especiaria», conforme relatado
por Álvaro Velho. Ao ver as imagens de deuses Hindus Gama e os seus homens
pensaram tratar-se de santos cristãos, por contraste com os muçulmanos que não
tinham imagens. A crença nos "cristãos da Índia", como então lhes
chamaram, perdurou algum tempo mesmo depois do regresso. Contudo,
as negociações com o governador local, Samutiri Manavikraman Rajá, samorim de
Calecute, foram difíceis. Os esforços de Vasco da Gama para obter condições
comerciais favoráveis foram dificultados pela diferença de culturas e pelo
baixo valor de suas mercadorias, com os representantes do samorim a
escarnecerem das suas ofertas, e os mercadores árabes aí estabelecidos a
resistir à possibilidade de concorrência indesejada. As mercadorias
apresentadas pelos portugueses mostraram-se insuficientes para impressionar o
samorim, em comparação com os bens de alto valor ali comerciados, o que gerou
alguma desconfiança. Os portugueses acabariam por vender as suas mercadorias
por baixo preço para poderem comprar pequenas quantidades de especiarias e
jóias para levar para o reino. Por
fim o samorim mostrou-se agradado com as cartas de Dom Manuel I e Vasco da Gama
conseguiu obter uma carta ambígua de concessão de direitos para comerciar, mas
acabou por partir sem aviso após o Samorim e o seu chefe da Marinha Kunjali
Marakkar, insistirem para que deixasse todos os seus bens como garantia. Vasco
da Gama manteve os seus bens, mas deixou alguns portugueses com ordens para
iniciar uma feitoria. Vasco
da Gama iniciou a viagem de regresso a 29 de Agosto de 1498. Na ânsia de
partir, ignorou o conhecimento local sobre os padrões da monção que lhe
permitiria velejar. Na Ilha de Angediva foram abordados por um homem que se
afirmava cristão mas que se fingia de muçulmano ao serviço de Hidalcão, o
sultão de Bijapur. Suspeitando que era um espião, açoitaram-no até que ele
confessou ser um aventureiro judeu polaco no Oriente. Vasco da Gama
apadrinhou-o, nomeando-o Gaspar da Gama. Na
viagem de ida, cruzar o Índico até à Índia com o auxílio dos ventos de monção
demorara apenas 23 dias. A de regresso, navegando contra o vento, consumiu 132
dias, tendo as embarcações aportado em Melinde a 7 de Janeiro de 1499. Nesta
viagem cerca de metade da tripulação sobrevivente pereceu, e muitos dos
restantes foram severamente atingidos pelo escorbuto, por isso dos 148 homens
que integravam a armada, só 55 regressaram a Portugal. Apenas duas das
embarcações que partiram do Tejo conseguiram voltar a Portugal, chegando,
respectivamente em Julho e Agosto de 1499. A caravela Bérrio, sendo a mais leve
e rápida da frota, foi a primeira a regressar a Lisboa, onde aportou a 10 de
Julho de 1499, sob o comando de Nicolau Coelho e tendo como piloto Pêro
Escobar, que mais tarde acompanhariam a frota de Pedro Álvares Cabral na viagem
em que se registrou o descobrimento do Brasil em Abril de 1500. Vasco
da Gama regressou a Portugal em Setembro de 1499, um mês depois de seus
companheiros, pois teve de sepultar o irmão mais velho Paulo da Gama, que
adoecera e acabara por falecer na ilha Terceira, nos Açores. No seu regresso,
foi recompensado como o homem que finalizara um plano que levara oitenta anos a
cumprir. Recebeu o título de "almirante-mor dos Mares das Índia",
sendo-lhe concedida uma renda de trezentos mil réis anuais, que passaria para
os filhos que tivesse. Recebeu ainda, conjuntamente com os irmãos, o título
perpétuo de Dom e duas vilas, Sines e Vila Nova de Milfontes. A
12 de Fevereiro de 1502, Vasco da Gama comandou nova expedição com uma frota de
vinte navios de guerra, com o objetivo de fazer cumprir os interesses
portugueses no Oriente. Fora convidado após a recusa de Pedro Álvares Cabral,
que se desentendera com o monarca acerca do comando da expedição. Esta viagem
ocorreu depois da segunda armada à Índia, comandada por Pedro Álvares Cabral em
1500, que ao desviar-se da rota descobrira o Brasil. Quando chegou à Índia,
Cabral soube que os portugueses que haviam sido aí deixados por Vasco da Gama
na primeira viagem para estabelecer um posto comercial haviam sido mortos. Após
bombardear Calecute, rumou para o sul até Cochim, um pequeno reino rival, onde
foi calorosamente recebido pelo Rajá, regressando à Europa com seda e ouro. Gama
tomou e exigiu um tributo à ilha de Quíloa na África Oriental, um dos portos de
domínio árabe que haviam combatido os portugueses, tornando-a tributária de
Portugal. Com ouro proveniente de 500 moedas trazidas por Vasco da Gama do
régulo de Quíloa (actual Kilwa Kisiwani, na Tanzânia), como tributo de
vassalagem ao Rei de Portugal, foi mandada criar, pelo Rei Dom Manuel I para o
Mosteiro dos Jerónimos, a Custódia de Belém. Nesta
viagem ocorreu, o primeiro registo europeu, conhecido do avistamento, das ilhas
Seychelles, que Vasco da Gama nomeou Ilhas Almirante (ilhas do Almirante) em
sua própria honra. Vasco da Gama partira com o objectivo de instalar o centro
português e uma feitoria em Cochim, após esforços consecutivos de Pedro Álvares
Cabral e João da Nova. Bombardeou Calecute e destruiu postos de comércio
árabes. Depois
de chegar ao norte do Oceano Índico, Vasco da Gama aguardou até capturar um
navio que retornava de Meca, o Mîrî, com importantes mercadores muçulmanos,
apreendendo todas as mercadorias e incendiando-o. Ao chegar a Calecute, a 30 de
Outubro 1502, o samorim estava disposto a assinar um tratado, num acto de
ferocidade que chocou até os cronistas contemporâneos, que o consideraram um
acto e vingança pelos portugueses mortos em Calecute da sua primeira viagem. Em
1 de Março de 1503 inicia-se a guerra entre o samorim de Calecute e o rajá de
Cochim. Os seus navios assaltaram navios mercantes árabes, destruindo também
uma frota de 29 navios de Calecute. Após essa batalha, obteve então concessões
comerciais favoráveis do Samorim. Vasco da Gama fundou a colónia portuguesa de
Cochim, na Índia, regressando a Portugal em Setembro de 1503. Vasco da Gama
voltou a pátria em 1513 e levou vida retirada, em Évora, apesar da consideração
de que gozava junto do rei. Em
1519 foi feito primeiro Conde da Vidigueira pelo rei Dom Manuel I, com sede num
terreno comprado a Dom Jaime I, Duque de Bragança, que a 4 de Novembro cedera as
vilas da Vidigueira e Vila de Frades a Vasco da Gama, seus herdeiros e
sucessores, bem como todos os rendimentos e privilégios relacionados, sendo o
primeiro Conde português sem sangue real. Tendo
adquirido uma reputação de temível "solucionador" de problemas na
Índia, Vasco da Gama foi enviado de novo para o subcontinente indiano em 1524.
O objectivo era o de que ele substituísse o Duarte de Meneses, cujo governo se
revelava desastroso, mas Vasco da Gama contraiu malária pouco depois de chegar
a Goa. Como vice-rei actuou com rigidez e conseguiu impor a ordem, mas veio a
falecer na cidade de Cochim, na véspera de Natal em 1524. Foi
sepultado na Igreja de São Francisco (Cochim). Em 1539 os seus restos mortais
foram transladados para Portugal, mais concretamente para a Igreja de um
convento carmelita, conhecido actualmente como Quinta do Carmo (hoje
propriedade privada), próximo da vila alentejana da Vidigueira, como conde da
Vidigueira de juro e herdade (ou seja, a si e aos seus descendentes) desde
1519. Aqui
estiveram até 1880, data em que ocorreu a trasladação para o Mosteiro dos
Jerónimos, que foram construídos logo após a sua viagem, com os primeiros
lucros do comércio de especiarias, ficando ao lado do túmulo de Luís Vaz de
Camões. Há quem defenda, porém, que os ossos de Vasco da Gama ainda se
encontram na vila alentejana. Como testemunho da trasladação das ossadas, em
frente à estátua do navegador na Vidigueira, existe a antiga Escola Primária
Vasco da Gama (cuja construção serviu de moeda de troca para obter permissão
para efectuar a trasladação à época), onde se encontra instalado o Museu
Municipal de Vidigueira.
Conde
da Vidigueira em 1519 pelo Rei Dom Manuel I de Portugal.
Almirante
dos mares da Índia.
Segundo
Vice-Rei da Índia em 1524.
Dom
com direito excepcionalmente estendido a toda a sua descendência masculina e
feminina, e a sua irmã.
O comércio de especiarias viria a ser um trunfo para a economia portuguesa, e a
viagem de Vasco da Gama deixou clara a importância da costa leste da África
para os interesses portugueses: os seus portos forneciam água potável, víveres
e madeira, serviam para reparos e como abrigo para os navios esperarem em
tempos desfavoráveis (aguardando a monção, ou abrigando-se de ataques). Um
resultado significativo desta exploração foi a colonização de Moçambique pela
Coroa Portuguesa. Embora
o rei Dom Manuel tenha compreendido a importância das suas mercadorias, apesar
de escassas, as conquistas de Vasco da Gama foram um pouco obscurecidas pelo
seu fracasso em trazer bens comerciais de interesse para as nações da Índia.
Além disso, a rota de mar estava repleta de perigos (a sua frota levou mais de
trinta dias sem ver terra e apenas 60 dos seus 180 companheiros, numa das suas
três naus, regressaram a Portugal em 1498). No entanto, esta jornada abriu a
rota do cabo directa para a Ásia. Na segunda armada à Índia, de Pedro Álvares Cabral,
seria feita uma demonstração de poder, com tripulação dez vezes maior e 9
navios a mais. Da
sua esposa, Dona Catarina de Ataíde, Vasco da Gama teve sete filhos. Alguns
acompanharam-no e vieram a desempenhar importantes cargos no Oriente:
Dom Francisco, Segundo Conde da Vidigueira
Dom Estêvão,
11º governador da Índia
Dom Paulo
Cristóvão, um mártir na Etiópia
Dom Pedro,
Isabel de Ataíde
Dom Álvaro
da Gama, Capitão de Malaca.
7º
- Dom Henrique de Meneses
(Governador
do Estado da Índia 1524-1526)
Henrique
de Meneses, o segundo senhor do Louriçal, (Lisboa, c. 1496 - Cananor, 2 de
Fevereiro de 1526) foi um militar e administrador dos estados ultramarinos
portugueses, sétimo governador da Índia Portuguesa. D.
Henrique era filho bastardo de D. Fernando de Meneses, o Ruivo, "e de uma
mulher nobre da família dos Marizes", chamada Constança Vaz de Mariz. Com
doze anos, D. Henrique começou sua vida de guerreiro em Marrocos. Como militar
notabilizou-se na conquista de Azamor em 1513 e na derrota infligida a Almendarim
(Sidi Al-Mandri II, alcaide de Tetuão). Mais
tarde foi para a Índia, e tornou-se capitão de Goa. Em Dezembro de 1524, após a
morte de Vasco da Gama, foi nomeado Governador da Índia. Nessa época o mar da
Índia, principalmente as costas do Malabar, tinha-se "transformado em
viveiro de piratas". Contra isso Vasco da Gama preparava uma expedição
punitiva, quando a morte o encontrou.
"Um
dos magnates que mais comprometido se encontrava nesta manobra era o velho e
astuto Melek-Iaz, senhor de Diu, que ao conhecer as intenções repressivas de D.
Vasco, se apressara a enviar-lhe um embaixador" prometendo larga
indemnização. Mas quando chegou o embaixador, foi Henrique de Meneses que
encontrou, e este recusou todas as oferendas.
Depois
foi D. Henrique para Cochim onde Vasco da Gama tinha assentado o governo da
Índia. Durante a viagem desbaratou 3 navios piratas, e em Cochim mandou recado
ao capitão de Cananor, Heitor da Silveira para lançar fogo aos paraus de
Calecute que se encontrassem em Maravia, e depois à povoação, que pertencia aos
domínios do samorim. Em 18 de Fevereiro de 1525, saiu de Cochim com uma frota
de 50 velas. Atacou Panane, que incendiou, e depois foi para Calecute cujo
samorim era poderoso inimigo dos portugueses, bombardeou os paraus e combinou
com D. João de Lima, comandante da fortaleza local, por fogo à cidade. Grande
parte dela ficou em ruínas. Foi então para Coulete, "praça-forte dos
domínios do Samorim". Contra à vontade dos seus capitães atacou
simultaneamente a enorme frota de paraus que a defendia, e as fortificações na
terra. Conseguiu vencer, e depois lançou fogo à cidade. Regressou
então a Cochim. Nessa cidade houve um roubo de uma peça de artilharia. Acusaram
injustamente alguns naires e D. Henrique quis castigá-los. O rajá de Cochim,
amigo dos portugueses, reclamou esses homens para julgar e punir caso fossem
culpados, o que ele recusou. Os naires eram dum príncipe que o rajá recebia,
que ameaçou reavê-los pela força se necessário e o rajá disse-lhe que antes
teria de passar sobre seu cadáver. Sabendo a resposta do rajá, o orgulhoso D.
Henrique não só entregou os naires mas foi pessoalmente apresentar desculpas.
Dizia depois que "fora aquela a atitude que mais lhe custara tomar em toda
a sua vida." Em Calecute, o Samorim quis vingar-se e atacou a fortaleza
portuguesa comandada por D. João de Lima. Este soube resistir até o verão, onde
em fim D. Henrique pôde vir acudir com 25 navios, com reforços que já tinham
chegado de Cochim, Cananor e Goa, eram cento e trinta navios. O
Samorim propôs as pazes às condições do Governador mas este pediu o impossível,
a expulsão de todos os árabes residentes em Calecute. Deu-se a batalha contra
os 40.000 homens do Samorim, e os portugueses mais uma vez conseguiram vencer.
O Samorim submeteu-se, mas D. Henrique mandou que a fortaleza portuguesa fosse
evacuada e minada. Mas quando partiram os "mouros", eles foram
visitar a fortaleza que explodiu nesse momento. Pouco
depois, sofrendo havia já muito tempo duma chaga numa perna, recolheu-se a
Cananor para tratamento. Mas já era muito tarde, e "pouco depois de
desembarcar e antes que pudesse iniciar a cura que desejava obter, falecia a 2
de Fevereiro de 1526, apenas com trinta anos de idade". Quando
o rei D. João III aprendeu sua morte, "sendo-lhe notado o muyto
sentimento, que mostrava por um seu privado”, ele respondeu: «que quereis que
faça hum homem a quem morre o D. Henrique».
8º
- Dom Lopo Vaz de Sampaio
(Governador
do Estado da Índia 1526-1529)
Lopo
Vaz de Sampaio (Carrazeda de Ansiães - Lisboa, 1534) foi o 8º governador da
Índia, de 1526 a 1529.
Armado
cavaleiro por D. Afonso V, foi um ilustre combatente em terras do Norte de
África e da Índia. Durante o seu governo, um português de nome António Tenreiro
efectuou uma viagem por terra da Índia a Portugal. Em 1529, foi substituído por
Nuno da Cunha no cargo de governador e mandado prender por questões políticas e
comerciais. Veio como prisioneiro para Portugal e conquistou de novo a
liberdade, ao fim de algum tempo, depois de enviada uma petição ao Rei D. João
III.
9º
- Dom Nuno da Cunha
(Governador
do Estado da Índia 1529-1538)
Nuno
da Cunha (1487-1539) foi governador da Índia, filho de Tristão da Cunha, que
acompanhou à Índia em 1506 e de D. Antónia de Albuquerque. Nomeado
governador em 1527, partiu com 11 naus e 1.500 homens. Como governador foi
competente e honesto. Em 1531 mandou edificar a fortaleza de Chalé para melhor
vigiar Calecute e, em 1534, obteve do sultão de Cambaia as ricas terras de
Baçaim. Em 1535 o sultão de Cambaia pede auxílio aos portugueses contra os
mogóis, oferecendo-lhe em troca a ilha de Diu.
10º
- Dom Garcia de Noronha
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1538-1540)
Dom
Garcia de Noronha (1479 - 3 de abril de 1540), trineto do rei D. Fernando I,
foi o terceiro vice-rei e o décimo governador da Índia (1537), já no fim da
vida. Antes
foi capitão-mor do mar da Índia, cargo imediatamente abaixo do de vice-rei, na
altura este era exercido por seu tio materno, Afonso de Albuquerque, com o qual
esteve nas conquistas de Goa, Ormuz e Calecute e cujo governo secundou. Foi
fidalgo do Conselho de D. Manuel I e D. João III, senhor e alcaide-mor do
Cartaxo, moço fidalgo e depois cavaleiro fidalgo da Casa Real, e tinha de
moradia 6.500 reais por mês quando no início de 1538 regressou à Índia, na nau
Espírito Santo, para tomar posse como vice-rei. D. Garcia foi considerado «um
dos maiores homens de Portugal» ou, como diziam na Índia, «o mais ousado doudo
de Portugal», e a sua vida é tratada pelo cronista, nomeadamente João de
Barros, Damião de Góis, Fernão Lopes de Castanheda e Brás de Albuquerque, além
de ser referido por Luís de Camões nos «Lusíadas». Serviu
no Norte de África e partiu a primeira vez para a Índia em 1511 como
capitão-mor da armada desse ano, de seis naus, e depois como capitão-mor do
mar, tendo-se notabilizado na conquista de Banastarim e na expedição ao Mar
Roxo e nas negociações com o rei de Calecute. São de 1 de Outubro de 1513 os
capítulos que fez D. Garcia de Noronha com o rei de Calecute, pelos poderes
concedidos por Afonso de Albuquerque, capitão-mor e governador das Índias, para
este mandar vender àqueles portos, coral, panos de seda e azougue. Foi
depois capitão-mor de Ormuz, em cuja conquista esteve e cuja fortaleza mandou
construir. Em 1516 regressou a Portugal, onde permaneceu 22 anos, como
conselheiro de D. Manuel I e senhor e alcaide-mor do Cartaxo. Esteve no
casamento de D. Manuel I com D. Leonor e «foi hum dos Fidalgos que lhe beijarão
a mão». Quando o rei de Marrocos cercou Safim com um exército de 90.000 homens,
D. João III nomeou em 1534 D. Garcia de Noronha capitão-mor de armada que
partiu para o Norte de África para combater a ameaça, o que conseguiu,
obrigando o rei de Marrocos a levantar o cerco e ficando como capitão-mor e
governador de Safim. Já
nomeado vice-rei, partiu de novo para a Índia em 1538, como capitão-mor da
armada desse ano, de dez naus, e um ordenado de 8.000 cruzados e levando com
ele 114 dos principais fidalgos das famílias Nobres do Reino. D. Garcia nasceu
em 1479, certamente em Lisboa, e faleceu vice-rei a 3 de Abril de 1540, em
Cochim, indo a sepultar à capela-mor da Sé de Goa, com grande pesar de todos,
que muito o estimavam e respeitavam. Datada
de 29 de Outubro de 1539, enviou D. Garcia de Noronha, vice-rei da Índia, uma
interessante carta ao secretário de Estado António Carneiro, onde dá notícias
de Ormuz e Baçaim e comenta o governo e decadência do Estado da Índia,
sobretudo por causa das armadas e dos ofícios da fazenda real, concluindo que,
estando ele com 44 anos de serviço e muito velho, se via sem forças para
sustentar esse governo. Esta situação piorou muito após a sua morte, tendo-lhe
sucedido D. Estevão da Gama. Numa
carta ao rei, de 3 de Novembro de 1540, Sebastião Garcez dá conta da grande
desordem que havia na Índia depois do falecimento do vice-rei D. Garcia de
Noronha, afirmando que, depois que entrou no governo D. Estevão da Gama,
introduziu na feitoria toda a fazenda que tinha, vendendo-a por maior preço e
exercitando outras muitas violências. D. Garcia tentou colocar alguma ordem no
uso e abuso de privilégios em Goa, do que resultou queixa dos moradores para o
rei, existindo um longo traslado de 11 de Outubro de 1539 do agravo que
interpuseram por o vice-rei D. Garcia de Noronha lhes não guardar os
privilégios, graças e franquezas que D. Manuel I lhes concedeu, como também
Afonso de Albuquerque, em nome do dito senhor, e que contém as respostas que o
vice-rei deu. D. Garcia teve muitos outros benefícios ao longo da sua vida. Casou-se
com sua prima D. Inês de Castro (c. 1494 - d. 1565), irmã de D. João de Castro,
vice-rei da Índia (1547). D. Garcia de Noronha morreu em Cochim, indo sepultar
à Sé de Goa, onde está no centro da capela-mor, numa magnífica lápide negra com
as armas dos Noronha e a seguinte inscrição, em letra redonda com feição
gótica: «Aqui jaz Dom Garcia de Noronha Viso Rei que foi da Idia. Faleceu nesta
cidade de Goa aos 3 dias de Abril da era de 1540».
11º
- Dom Estêvão da Gama
(Governador
do Estado da Índia 1540-1542)
Estêvão
da Gama (c. 1505-1576) foi um militar e administrador dos estados ultramarinos
portugueses, tendo exercido o cargo de governador da Índia Portuguesa. Filho
de Vasco da Gama e de Dona Catarina de Ataíde, nasceu em data incerta, presumivelmente
em 1505. Foi com o pai para a Índia onde desempenhou o cargo de capitão-mor.
Substituiu Paulo da Gama, seu irmão, como capitão de Malaca, em 1538, tendo
desde 1534 servido sob suas ordens. Em 1540 foi designado pelo rei governador
da Índia (1540-1542), pois tinha provado o seu valor no cargo anterior,
afugentando os inimigos de Portugal na região. Não deixou de fazer o mesmo
quando se tornou governador, tendo efectuado uma campanha em 1541 contra a
frota do paxá do Egipto. Pelo caminho atendeu o pedido de socorro da Etiópia
contra os invasores Otomanos enviando quinhentos homens comandados pelo seu
irmão Cristóvão da Gama. Depois de deixar o cargo, voltou para Portugal onde
foi indicado para Governador de Lisboa, tendo declinado o convite para ser
novamente governador da Índia.
12º
- Dom Martim Afonso de Sousa
(Governador
do Estado da Índia 1542-1545)
Martim
Afonso de Sousa (Vila Viçosa, c.1490/1500-Lisboa, 21 de Julho de 1571) foi um
nobre e militar português. Jaz em São Francisco de Lisboa. Como
Tomé de Sousa, descendia por linha bastarda do rei Afonso III de Portugal.
Senhor de Prado e de Alcoentre, ainda parente do conde de Castanheira, D.
António de Ataíde, tão influente sobre o rei D. João III de Portugal, Martim de
Sousa foi Senhor de Prado, e Alcaide-mor de Bragança e mais tarde Governador da
Índia e do Estado do Brasil. Serviu algum tempo ao Duque de Bragança D.
Teodósio I1 mas «como era de um espírito elevado e queria esfera onde se
dilatasse em coisas grandes, largou a Alcaidaria mor de Bragança e outras
mercês que tinha do Duque, para servir ao Príncipe D. João, filho do rei D.
Manuel. Depois foi a Castela e esteve algum tempo em Salamanca; e voltando a
Portugal, D. João III, que já então reinava, o recebeu com muita estimação e
honra porque Martim Afonso de Sousa foi um fidalgo em quem concorreram muitas
partes, porque era valeroso, dotado de entendimento e talento grande».
Acompanhou
a rainha viúva D. Leonor a Castela. Lutou
sob o Imperador Carlos V contra os franceses. Depois de ter servido com honra no Brasil, foi nomeado
capitão-mor do Mar das Índias (1533), foi encarregado de proteger as possessões
de Portugal no Oriente. Defendeu a feitoria de Diu contra mouros e hindus,
derrotou o rajá de Calecute e combateu os corsários que saqueavam as embarcações
portuguesas na região. Vitorioso, foi nomeado por D. João III (1542) vice-rei
das Índias. Há
controvérsia quanto ao fim de sua carreira. Alguns historiadores afirmam que
ele retornou a Portugal em 1545 ou 1546, tornando-se um dos membros do Conselho
de Estado. Outros sustentam que foi chamado de volta sob a acusação de desvio
de dinheiro da Coroa e enriquecimento ilícito, mantendo-se afastado da vida
pública até morrer. Na
carta de 20 de Novembro de 1530 D. João III, rei de Portugal, confere-lhe jurisdição
sobre os tripulantes da armada e sobre todos os habitantes da Colónia.
Carta
de Grandes Poderes ao capitão-mor, e a quem ficasse em seu lugar.
Carta
de Poder para o capitão-mor criar tabeliães e mais oficiais de justiça.
Carta
para o capitão-mor dar terras de sesmaria.
Já
em 1534 se encontrava em Portugal. D. João III mandou-o servir na Índia com o
posto de Capitão-Mor do mar Índico. Embarcou na Armada de cinco naus, que
governava. Chegando
à Índia; «o Governador Nuno da Cunha reflectiu que el Rei em Martim Afonso de Sousa
lhe mandava não só o Capitão-mor do mar, mas companheiro, e sucessor no
Governo. No fim deste ano, o Governador o meteu de posse, mandando-o sobre a
praça de Damão, situada do Reino de Cambaia, com 40 velas, e 500 portugueses,
que rendeu, sendo mortos quase todos os inimigos, e a Fortaleza foi arrasada. O
rei de Cambaia, temendo maiores perdas, querendo na amizade dos nossos
evitá-la, pediu pazes ao Governador do Estado Nuno da Cunha, que foram juradas
solenemente com a condição de dar a El Rei de Portugal para sempre Baçaim».
Foram duras condições de direitos a pagar, que se vieram a moderar quando se
concedeu levantar-se a Fortaleza de Diu, conseguida por negociações por Martim
Afonso de Sousa quando no ano de 1535 se achava em Chaul. Em
1536 Martim Afonso foi mandado à costa do Malabar «e destruiu e assolou todos
os lugares marítimos do Reino do Samorim, que estava com seus aliados todos os
Príncipes de Repelim, que destruiu. Estas e outras empresas lhe conseguiram o
respeito e temor na Ásia e voltando para o Reino, sucedeu depois a morte do
Vice-Rei D. Garcia de Noronha, que foi a 3 de abril de 1540, e aberta a via de
sucessão, se achou nomeado Martim Afonso de Sousa; e como havia voltado para o
Reino, sucedeu D. Estêvão da Gama no governo, que os seus parentes quiseram
dilatar; porém o conde da Castanheira, primo de Martim Afonso, o fez nomear
para Governador da Índia, para onde partiu a 7 de abril de 1541 com quatro
naus, levando consigo a São Francisco Xavier, (…) entrou em Goa a 6 de maio de
1542. (…) Em 1545 lhe sucedeu D. João de Castro».
Foi
senhor de Alcoentre, que comprou ao marquês de Vila Real. Instituiu um morgado
e foi donatário das capitanias de Santa Ana e São Vicente na costa do Brasil, e
do Conselho do Rei D. João III, comendador de Mascarenhas na Ordem de Cristo. Do
casamento, Martim Afonso de Sousa e Ana Pimentel deixaram numerosos filhos:
Pedro
ou Pero Lopes de Sousa, senhor de Alcoentre e Alcaide-mor de Rio Maior.
Lopo
Rodrigues de Sousa, morto ao acompanhar o pai à Índia.
Rodrigo
Afonso de Sousa que entrou na Ordem de S. Domingos e professou como Frei
António de Sousa. Foi eleito Prior de S. Domingos em Lisboa, Provincial no ano
de 1550, Mestre da Ordem e pregador do rei D. Filipe II. Em 1580 passou a Roma,
ao Capítulo Geral da Ordem. O papa Clemente VIII o nomeou Vigário Geral de toda
a Ordem dos Pregadores em 1594. Foi nomeado Bispo de Viseu em 1595, tendo
governado com prudência. Morreu em maio de 1597.
Gonçalo
Rodrigues de Sousa, morto sem sucessão.
D.
Inês Pimentel, casada com D. António de Castro, 4.º Conde de Monsanto.
D.
Brites Pimentel, que morreu estando comprometida com D. Luís de Ataíde, mais
tarde 3.º conde de Atouguia e Vice-Rei na Índia.
Fora
do casamento teve Martim Afonso de Sousa:
Tristão
de Sousa, que passou a Índia e foi Capitão de Maluco.
Isabel
Lopes de Sousa, que casou em São Vicente com Estêvão Gomes da Costa.
13º
- Dom João de Castro
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1545-1548)
Dom João de Castro (Lisboa, 27 de Fevereiro de 1500-Goa, 6 de Junho de 1548) foi um
nobre, cartógrafo e administrador Governador do Estado da Índia. Foi governador
e capitão general, 13.º governador e 4.º vice-rei do Estado Português da Índia. Secretário
da Casa do Rei D. Manuel I de Portugal, era filho de D. Álvaro de Castro,
senhor do Paul de Boquilobo, governador da Casa do Cível e vedor da fazenda de
João II de Portugal e de Manuel I de Portugal, e de D. Leonor de Noronha, filha
do 2.ºconde de Abrantes, D. João de Almeida, e de D. Inês de Noronha. Foi
discípulo de Pedro Nunes e condiscípulo do Infante D. Luís. Aprendeu Letras por
vontade do pai, mas "...como por inclinação era muito afeiçoado às armas,
aspirando por elas à glória, a que o exemplo de seus maiores o chamava",
enveredou pela carreira militar. Embarcou aos 18 anos para Tânger, onde serviu
durante nove anos sendo governador daquela praça D. Duarte de Meneses, e onde
foi ordenado cavaleiro. D. Duarte escreveu a D. João III, recomendando João de
Castro particularmente, dizendo que ele tinha servido de maneira que nenhum
posto já lhe tivera servido. De
volta ao reino, conservou-se por algum tempo na Corte. Desposou sua prima, D.
Leonor Coutinho, filha de Leonel Coutinho, fidalgo da casa de Marialva, e de D.
Mécia de Azevedo, filha de Rui Gomes de Azevedo. Quando o soberano armou a
expedição a Túnis em auxílio a Carlos V (1535), D. João acompanhou o infante D.
Luís, distinguindo-se de tal modo que, com a vitória, Carlos V quis armá-lo
cavaleiro, "honra a que se escusou, por já o haver sido por outras mãos,
que o que lhes faltava de reais, tinham de valorosas". O imperador mandou
entregar 2.000 cruzados a cada um dos capitães da armada, "o que o D. João
de Castro também rejeitou, porque servia com maior ambição da glória, que do
prémio".
Em
seu retorno, foi recebido por D. João III com grandes provas de consideração.
Este, por carta de 31 de Janeiro de 1538, concedeu-lhe a comenda de São Paulo
de Salvaterra na Ordem de Cristo, a qual aceitou pela honra, e não por
conveniência, pois era tão pequeno o rendimento dela que não bastava para as
suas despesas, sendo contudo a primeira e única mercê que recebeu. Professou a
6 de Março de 1538, conforme a lista dos cavaleiros daquela Ordem. Retirou-se
então para a sua casa na serra de Sintra, desejando viver só, entregue aos
cuidados da família e aos trabalhos agrícolas. Passou
pela primeira vez à Índia Portuguesa como simples soldado, com seu cunhado D.
Garcia de Noronha, nomeado vice-rei, indo render D. Nuno da Cunha, e que muito
estimou levá-lo na armada "não só com os méritos de sucessor",
segundo diz Jacinto Freire de Andrade, mas com a mercê de lhe suceder no
governo, que lhe foi concedida por alvará de 28 de Março de 1538. Embarcou com
seu filho D. Álvaro de Castro, que apenas contava 13 anos, dando por distracções
daquela idade os perigos do mar. A
armada de D. Garcia de Noronha chegou a Goa com próspera viagem, e achou o
governador D. Nuno da Cunha com a armada pronta a socorrer Diu, e pelejar
contra as galés turcas, que o tinham sitiado no cerco, que defendeu António da
Silveira. D. Garcia de Noronha, com a posse do governo, tomou a obrigação de
socorrer a praça.
"Para o que se lhe ofereceu D. João de Castro, que
embarcou no primeiro navio como soldado aventureiro, parecendo já pressentir os
futuros triunfos que o chamavam a Diu, porém a retirada dos turcos privou D.
Garcia da vitória, ou lha quis dar sem sangue, se menos gloriosa, mais
segura."
Falecendo
D. Garcia, sucedeu-lhe no governo D. Estêvão da Gama, e D. João de Castro
achou-se com ele na expedição ao Mar Roxo. D. Estêvão partiu com 12 navios de
alto bordo e 60 embarcações de remo, a 31 de Dezembro de 1540, sendo D. João de
Castro o capitão dum galeão. Esta viagem até Suez foi deveras notável, e D.
João fez dela um roteiro minucioso, que ofereceu ao infante D. Luís. Oito meses
depois recolheu a Goa, em 21 de Agosto, tendo adquirido pelas experiências que
fizera durante a viagem, o nome de filósofo. Regressando
a Portugal, foi nomeado general da armada da costa em 1543, em prémio dos
serviços. Saiu logo para comboiar as naus, que de viagem se esperavam da Índia,
contra os corsários que infestavam os mares. Conseguiu desbaratar sete naus dos
corsários, e entrou com a frota da Índia pela barra de Lisboa, sendo recebido
com o maior entusiasmo. D. João de Castro estava em Sintra quando o rei,
perseguido por altos empenhos ao tratar-se de escolher o sucessor de Martim
Afonso de Sousa, 13.º governador da Índia, consultou, irresoluto, seu irmão o
infante D. Luís, o qual lhe aconselhou a nomeação de D. João de Castro. Aceitou
o rei o conselho, e mandou chamá-lo à Corte em Évora, e com palavras
lisonjeiras o nomeou, por provisão datada de 28 de Fevereiro de 1545. D. João
aceitou, beijando a mão do monarca reconhecido pela honra, que não solicitara. Levou
consigo para a Índia os seus dois filhos D. Álvaro e D. Fernando. Aprestou
brevemente a armada, que constava de 6 naus grandes, em que se embarcaram 2.000
homens de soldo; a capitânia S. Tomé, em que o governador ia, que lhe deu este
nome, por ser o do apóstolo da Índia, sendo os outros capitães D. Jerónimo de
Meneses, filho e herdeiro de D. Henrique, irmão do marquês de Vila Real, Jorge
Cabral, D. Manuel da Silveira, Simão de Andrade e Diogo Rebelo. A armada partiu
a 24 de Março de 1515. D. João recebera a mercê da carta de conselho com data
de 7 de Janeiro de 1515 e fizera o seu testamento a 19 de Março, deixando
testamenteiros Lucas Geraldes, D. Leonor, sua mulher, e D. Álvaro, seu filho;
instituiu o morgado na quinta da Fonte D'El-Rei, em Sintra, denominada da Penha
Verde. A
armada chegou a Goa em Setembro. Lançado nos complicadíssimos negócios da
administração da Índia, teve de pegar em armas contra o Hidalcão, por lhe não
querer entregar o prisioneiro Meale, como seu antecessor estava resolvido a
fazer. Hidalcão foi derrotado a duas léguas da cidade de Goa, e viu-se obrigado
a pedir a paz. Acabado o incidente, 1546 trouxe outro deveras gravíssimo, a
guerra de Diu, promovida por Coge Çofar, que pretendia vingar a derrota
sofrida. Travou-se ardente luta, e no fim de sangrentos episódios, foram
derrotados os portugueses. D. João de Castro mandou novo reforço, e, não
contente com isso, organizou nova expedição que ele próprio comandou. Desta vez
ficaram vitoriosas as tropas portuguesas, o inimigo teve de levantar o cerco e
fugiu, deixando prisioneiros e artilharia. Para reedificar a Fortaleza de Diu,
que depois da vitória ficara derribada até ao cimento, D. João escreveu aos
vereadores da Câmara de Goa, a fim de obter um empréstimo de 20.000 pardaus
para as obras da reedificação, a célebre carta, datada de 23 de Novembro de
1546, em que ele dizia, que mandara desenterrar seu filho D. Fernando, que os
mouros mataram nesta fortaleza, para empenhar os seus ossos, mas que o cadáver
fora achado de tal maneira que não se pudera tirar da terra, pelo que, o único
penhor que lhe restava, eram as suas próprias barbas, que lhe mandávamos por
Diogo Rodrigues de Azevedo, porque todos sabiam, que não possuía ouro nem
prata, nem móvel, nem coisa alguma de raiz, por onde pudesse segurar as suas fazendas,
e só uma verdade seca e breve que Nosso Senhor lhe dera. É heróico este acto.
Tanta era a consciência da própria honra que empenhava os ossos do filho,
depois as barbas, ao pagamento duma soma que pedia para o serviço do rei, e não
para si. O povo de Goa respondeu a esta carta com quantia muito superior à que
fora pedida, vendo que tinham um governador tão humilde para os rogar, e tão
grande para os defender. Remeteram-lhe aquele honrado penhor, acompanhado do
dinheiro e duma carta muito respeitosa solicitando por mercê que aceitasse
aquela importância, que a cidade de Goa e seu povo emprestavam da sua boa e
livre vontade, como leais vassalos do rei. A carta tem a data de 27 de Dezembro
de 1547. Depois
da vitória de Diu, não pôde D. João descansar. Teve novamente de combater
Hidalcão, que derrotou, tomando Bardez e Salsete. Dirigiu-se para Diu, mas
havendo só a notícia do socorro que levava, assustado o inimigo fugiu, voltou a
Goa, onde se viu obrigado a repelir ainda o Hidalcão, destruindo-lhe os portos.
Havendo chegado a Lisboa a fama das suas proezas no Oriente, o rei quis
recompensá-lo, enviando-lhe o título de vice-rei, em carta de 13 de Outubro de
1547, prorrogando-lhe o governo por mais três anos, dando-lhe uma ajuda de
custo de 10.000 cruzados, e concedendo ao seu filho D. Álvaro o posto de
capitão-mor do mar da Índia. As mercês chegaram tarde para que o novo vice-rei
as pudesse gozar. Cansado pelos trabalhos das contínuas guerras, adoeceu
gravemente, e reconhecendo em poucos dias indícios de ser mortal a doença, quis
livrar-se do encargo do governo. Chamou o bispo D. João de Albuquerque, D.
Diogo de Almeida Freire, o Dr. Francisco Toscano, chanceler-mor do Estado,
Sebastião Lopes Lobato, ouvidor geral, e Rodrigo Gonçalves Caminha, vedor da
Fazenda, e entregando-lhes o Estado com a paz dos príncipes vizinhos assegurado
sobre tantas vitórias, mandou vir à sua presença o governador popular da
cidade, o vigário Geral da Índia, o guardião de São Francisco, Frei Antônio do
Casal, São Francisco Xavier e os oficiais da Fazenda do rei. Dirigiu-lhes então
as seguintes palavras:
"Não
terei, senhores, pejo de vos dizer, que ao vice-rei da Índia faltam nesta
doença as comodidades que acha nos hospitais o mais pobre soldado. Vim a
servir, não vim a comerciar ao Oriente, a vós mesmo quis empenhar os ossos de
meu filho, e empenhei os cabelos da barba, porque para vos assegurar, não tinha
outras tapeçarias nem baixelas. Hoje não houve nesta casa dinheiro, com que se
me comprasse uma galinha, porque nas armadas que fiz, primeiro comiam os
soldados os salários do governador, que os soldos de seu rei, e não é de
espantar; que esteja pobre um pai de tantos filhos. Peço-vos, que enquanto
durar esta doença me ordeneis da fazenda real uma honesta despesa, e pessoa por
vós determinada, que com modesta taxa me alimente."
Expirou
nos braços de São Francisco Xavier. Foi sepultado na capela-mor do convento
hoje de São Francisco, com o hábito e insígnias de cavaleiro da Ordem de
Cristo. Em 1576 foram os restos mortais trasladados para o convento de São
Domingos, de Lisboa, e depois de celebradas pomposas exéquias, transportaram-se
para o claustro do convento de São Domingos de Benfica, para a capela
particular dos Castros, fundada por seu neto, o inquisidor geral e bispo da
Guarda D. Francisco de Castro. Os cabelos das barbas do grande vice-rei da
Índia estavam em poder do referido bispo da Guarda que os recolheu numa urna,
ou pirâmide de cristal, assentada numa base de prata, na qual estão gravados em
torno dísticos diferentes, que fazem de acção tão ilustre engenhosa memória,
ficando aos sucessores de sua casa este honrado depósito, como para tornar
hereditárias as virtudes de D. João de Castro. A
trineta do vice-rei, D. Mariana de Noronha e Castro, era a possuidora do
memorável depósito, e quando faleceu deixou em testamento aos frades de São
Caetano, do convento onde hoje está estabelecido o Real Conservatório, um
legado que compreendia a urna que recolhia as venerandas barbas, com a
declaração: "Quero e ordeno que os bigodes de meu trisavô, D. João de
Castro, vice-rei da Índia, os tenham sempre os religiosos teatinos da Divina
Providência, em lugar decente de sua sacristia, com o mesmo ornato de prata e
caixa, em que lhos deixo, sem o poderem mudar, ou desfazer-se dele." Os
frades colocaram a relíquia em um nicho na sacristia, coberto com um painel
representando D. João de Castro. O herdeiro do morgado instituído pelo
vice-Rei, e de que fora administradora D. Mariana, pôs demanda aos padres,
contestando o legado, e alegando que as barbas de D. João eram pertença do
mesmo morgado, porque as vinculara D. Francisco de Castro, Bispo da Guarda,
neto do instituidor. Os frades alegavam que as barbas não eram vinculadas, e
que D. Francisco não podia dispor do que não era seu, que somente mandara fazer
um ornato de prata e uma caixa de veludo para as guardar com mais decência, e
que fora esse ornato que ele vinculara, como constava precisamente da verba do
seu testamento, não dispondo das barbas de seu avô, assim como não dispusera
seu irmão mais velho, D. Manuel, senhor da casa, e por estes motivos a
comunidade não se julgava obrigada a restitui-las. Não chegou a haver sentença
no pleito, mas, sem que se conheça a razão, diz Tomás Caetano do Bem que em
1792 se achava as disputadas barbas em poder de António Saldanha Castro
Albuquerque Vila fria, senhor da casa de D. João de Castro. Os
antigos Gregos haviam descoberto que uma pedra metálica escura podia repelir ou
atrair objectos de ferro (era a origem do estudo do magnetismo). Na época das
grandes navegações, não se conseguia localizar um navio no mar pelas duas
coordenadas, a latitude e a longitude, a determinação desta exigia um relógio a
bordo que indicasse a hora exacta no meridiano de referência, e a determinação
astronómica da longitude dava erros inaceitáveis. Durante a viagem até à Índia,
D. João de Castro levou a cabo um conjunto de experiências que conseguiu
detectar fenómenos, nomeadamente relacionados com o magnetismo e com as agulhas
magnéticas a bordo. É de supor que devia esses conhecimentos a Pedro Nunes,
naturalmente o directo inspirador de todas as observações que realizou nas suas
viagens. Quando em 5 de Agosto de 1538, D. João de Castro decidiu determinar a
latitude de Moçambique, encontrou a causa que ditava o «espantoso desconcerto»
das agulhas, notou o desvio da agulha descobrindo-o 128 anos antes de Guillaume
Dennis de Nieppe (1666), o qual é registado na História da Navegação como se
fosse o primeiro a conhecer esse fenómeno. A, sua observação, nas proximidades
de Baçaim, em 22 de Dezembro de 1538, de um fenómeno magnético, pelo qual se
verificavam variações da agulha devido à proximidade de certos rochedos,
confirmadas quatro séculos mais tarde, foi denominado, atracção local. D. João
de Castro refutou a teoria de que a variação da declinação magnética não se
fazia por meridianos geográficos. As suas observações são o mais importante
registo de valores da declinação magnética no Atlântico e no Índico, no século
XVI, e úteis para o estudo do magnetismo terrestre. Foi uma das personalidades
da ciência experimental europeia desse século, relacionando a importância desse
estudo com as navegações. O seu nome ficou ligado à ciência pelas suas obras
que evidenciavam uma tendência para o moderno espírito científico.
14º
- Dom João de Castro
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1548)
15º
- Dom Garcia de Sá
(Governador
do Estado da Índia 1548-1549)
Garcia
de Sá (Porto, ca. 1486-Goa, 13 de Junho de 1549), fidalgo da Casa Real, foi o
14.º governador da Índia (1548), sucedendo a D. João de Castro, cargo que muito
prestigiou e em que faleceu, sendo sepultado na capela-mor da igreja de Nossa
Senhora do Rosário, em Goa. No seu curto governo, integrou no território de Goa
as províncias de Bardez e Salcete e conseguiu que o rei de Tanor se convertesse
ao cristianismo. Era
senhor da quinta da Quintã, em Sardoura, (Castelo de Paiva), prazo do mosteiro
de Vila Boa do Bispo, que deu em dote a sua filha D. Leonor, por procuração
feita na Índia a Diogo Brandão Sanches, a 24 de Outubro de 1549, registado no
prazo em 1552. Como D. Leonor não teve geração, deve depois ter ficado para sua
única irmã D. Joana de Albuquerque. De
Garcia de Sá há várias cartas e mandados como governador e capitão-general da
Índia, bem como cartas para o rei e para o secretário de Estado Pedro de
Alcáçova Carneiro. Foi governador depois de uma longa e notável carreira na
Índia. A 28 de Junho de 1522 tomou posse como governador e capitão-mor de
Malaca. Em 1527 comandou uma armada que foi às ilhas de S. Miguel. A 22 de
Fevereiro de 1528 teve provisão para receber 1.000 reais, assinando o recibo,
valor relativo à venda que, com seu irmão Francisco de Sá, fez a D. João III do
ofício de vedor da fazenda do Porto, que herdaram do pai. Garcia
de Sá nasceu no Porto, filho de João Rodrigues de Sá, camareiro-mor e fidalgo
do Conselho de D. Afonso V, que lhe deu os condados de Massarelos (15 de Março
de 1468) e de São João da Foz (29 de Dezembro de 1469), alcaide-mor do Porto de
juro e herdade (16 de Junho de 1449), senhor de Matosinhos, Sever, Barreiro,
Paiva, Baltar, Gondomar, Aguiar de Sousa e Bouças (13 de Fevereiro de 1459),
etc., e de sua 3.ª mulher (casados com confirmação real de 21 de Junho de 1484,
recebendo ela de arras os senhorios de Gondomar e Aguiar de Sousa) D. Joana de
Albuquerque. Garcia
de Sá casou com a belíssima D. Catarina Pires, «a flor de Miragaia», retratada
por Camilo Castelo Branco, que faleceu em Goa em Novembro de 1546 e jaz em
riquíssimo cenotáfio, de mármore branco, na parede da capela-mor da igreja de
Nossa Senhora do Rosário, com a seguinte inscrição: «Aqui jaz D. Catarina
mulher de Garcia de Saa a qual pede a quem isto ler que peça misericórdia a
Deus para sua alma». Tiveram
duas filhas, D. Joana de Albuquerque e D. Leonor de Sá, consideradas a mais
belas mulheres portuguesas do seu tempo. Casaram ambas no mesmo dia, na Sé de
Goa. D. Joana casou com D. António de Noronha (1517-1550), capitão-mor das naus
da Índia, filho do vice-rei D. Garcia de Noronha, com geração. D. Leonor casou
com Manuel de Sousa de Sepúlveda, que a História Trágico-Marítima retracta e
Camões canta, com geração extinta.
16º
- Dom Jorge Cabral
(Governador
do Estado da Índia 1549-1550)
Jorge
Cabral (1500-1510?) foi um militar português, o 15.º Governador da Índia
Portuguesa, entre 1549 e 1550. Era filho de João Fernandes Cabral, Senhor de
Azurara, com Joana de Castro. Era sobrinho de Pedro Álvares Cabral. Sua esposa,
Lucrécia Fialho, foi a primeira esposa de um governador da Índia a morar no
país. Combateu por muitos anos na Índia, antes de tornar-se Governador, por
ocasião da morte de Garcia de Sá.
17º
- Dom Afonso de Noronha
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1550-1554)
Dom
Afonso de Noronha (1510-1554?) foi um nobre e militar português, governador de
Ceuta entre 1540 e 1549, sucedendo ao seu irmão, Nuno Álvares Pereira de
Noronha e 5.º Vice-rei da Índia e 16.º Governador da Índia Portuguesa, de 1550 a
1554. Na Índia edificou as fortalezas dos Reis Magos de Goa e de Mascate,
pacificou o Ceilão e defendeu bravamente Ormuz, quando atacada por uma poderosa
esquadra turca. Era
o quarto filho de Dom Fernando de Menezes, 2.º Marquês de Vila Real com Dona
Maria Freire de Andrade.
18º
- Dom Pedro Mascarenhas
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1554-1555)
D.
Pedro de Mascarenhas (Mértola, ca. 1484-Goa, 16 de Junho de 1555) foi um
militar, diplomata e administrador dos estados ultramarinos portugueses, sendo
o 6º vice-rei da Índia Portuguesa. Foi
embaixador de Portugal na Santa Sé, onde desenvolveu esforços junto do papa
Paulo III para a vinda da Companhia de Jesus para as missões na Índia, a pedido
do Rei D. João III e de Diogo de Gouveia. A 15 de Março de 1540, finda a sua
missão, regressou a Portugal na companhia de Francisco Xavier. Em
1554 foi nomeado vice-rei da Índia Portuguesa com sede em Goa, cargo que ocupou
durante um ano até à sua morte em 1555.
19º
- Dom Francisco Barreto
(Governador
do Estado da Índia 1555-1558)
Francisco
Barreto (Faro, 1520-Sena, 9 de Julho de 1573) foi um militar português. Ao
comando de uma pequena frota, partiu para a Índia Portuguesa em 1547 e, mais
tarde, em 1552, foi enviado para Cochim a fim de controlar o comércio da pimenta
que a guerra impedia de ser embarcada nas naus portuguesas. Em 16 de Junho de
1555 assumiu o cargo de 18.º governador da Índia, em substituição de D. Pedro
Mascarenhas, entretanto falecido.
«E
não havendo mais de que oito dias, que o Governador estava de posse, succedeo a
mór perda, e desaventura, que nunca a India teve, e foi, que vespera de S.
João, já de noite, lançou hum homem hum foguete de humas casas, junto a nossa
Senhora do Rosario, que o demonio encaminhou pera a ribeira das Armadas, e foi cahir
sobre o galeão S. Mattheus, que estava varado, cuberto de palha, que tomou logo
fogo com tanta braveza, que foi espanto; e como estava a barlavento dos mais
galeões, que estavam varados também junto delle, e o vento era rijo, foi-se
pegando o fogo de galeão em galeão com tamanho estrondo, e terremoto, que
parecia que se assolava toda a Cidade. O Governador, vendo aquelle incendio,
acudio á ribeira com todos os Fidalgos, moradores e soldadesca que havia (...).
E foi esta diligência que poz, tal, que foi parte pera se salvar toda a mais
Armada? Durou este incendio toda aquella noite, e o dia seguinte, em que se
queimaram, e consumiram seis galeões Reais, quatro caravelas, e duas formosas
galés, cousa que todos sentiram muito, porque era a mór força que o Estado
tinha.»
Manteve-se
no cargo até 1558, altura em que partiu de regresso ao reino, tendo só chegado
a Lisboa três anos depois, devido a contratempos que o fizeram escalar em
Moçambique. Já em Portugal foi nomeado general das galés do reino até 1569, ano
em que foi enviado para Moçambique como governador de Monomotapa para
conquistar as minas de ouro. Morreu em Moçambique, mas os seus restos mortais
foram mais tarde trasladados para Portugal. Outro Francisco Barreto foi
governador de Pernambuco.
20º
- Dom Constantino de Bragança
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1558-1561)
Dom
Constantino de Bragança (1528-14 de Julho de 1575) foi o 20.º governador da
Índia Portuguesa (o 7.º com o título de Vice-Rei) e o 9.º capitão da Ribeira
Grande (Ribeira Grande é um concelho de Cabo Verde, tendo Cabo Verde sido
fundado pelos portugueses e sido uma colónia do Ultramar Português de 1460 a
1975). Dom Constantino foi indicado, em 1548, para ser o embaixador especial do
então Rei de Portugal, Dom João III, para o baptizado de um filho do então Rei
de França, Henrique II. Era
filho de Dom Jaime de Bragança, IV duque de Bragança, e de D. Leonor de Mendoza
(com o casamento titulada duquesa consorte de Bragança), esta última, da alta
nobreza espanhola, filha de D. Juan Alonso Pérez de Guzmán y Zúñiga, VI duque
de Medina-Sidonia, e Dona Isabel de Velasco (com o casamento titulada duquesa
consorte de Medina-Sidonia). Sendo Dom Constantino, portanto, tetraneto de Dom
João I de Portugal, além de membro da Sereníssima Casa de Bragança e, como tal,
membro da alta nobreza portuguesa. O
triénio que passou em Goa foi um governo prodigioso. Conquistou Damão ao Rei de
Cambaia, que fugiu da cidade, e tomou também a fortaleza vizinha de Balasar
(fortaleza, esta, localizada no atual estado indiano de Guzarate). Tendo levado
para Goa o «dente de Buda», adorado pelos orientais, recusando o resgate que os
crentes lhe ofereciam e reduzindo o dente a pó. Em 1561 D. Constantino
regressou ao Reino. Quando Vice-Rei da Índia Portuguesa, Dom Constantino de
Bragança protegeu o poeta Luís Vaz de Camões, aquando da estadia de Camões na
Índia Portuguesa. É considerado pelo grande historiador C. R. Boxer como um dos
mais fanáticos governadores portugueses na Índia, como Dom Francisco Barreto
(1555-1558). Diz Boxer em, que a «posição da Igreja católica romana em Portugal
e no seu império ultramarino era já poderosa em 1550 e foi ainda mais reforçada
pela Contra-Reforma, a que Portugal aderiu imediata e incondicionalmente.»
Continua ele: “Os padres tinham geralmente imunidade, as Ordens religiosas e a
Igreja possuíam cerca de 1/3 da terra disponível em Portugal e muitas das
melhores terras da Índia portuguesa. Os «padres e os prelados passavam muitas
vezes a vida inteira na Ásia, tendo assim uma influência contínua que
contrastava com os períodos trienais de permanência dos vice-reis e
governadores (…), numa época profundamente religiosa, o império marítimo
português na Ásia pode ser descrito como uma empresa militar e marítima moldada
numa forma eclesiástica. Quando alguns oficiais da Coroa protestaram junto do
vice-rei, D. Constantino de Bragança, contra seus esforços para converter, de
uma maneira ou de outra, os banianos locais, salientando que desse modo a
colecta dos impostos da Coroa seria dificultada. ‘Ele replicou, como príncipe
muito cristão, que preferia, para honra da Fazenda Real e glória de Sua Alteza,
a conversão do canarim mais pobre daquela ilha a todos os lucros obtidos sobre
aquelas terras e das carracas carregadas com pimenta, e que arriscaria tudo
para a salvação duma só alma’. E não eram palavras sem fundamento», continua
Boxer: «porque foi o mesmo vice-rei que rejeitou a oferta do rei de Pegu para
pagar um resgate real pela relíquia sagrada do dente de Buda, de que ele se
tinha apoderado em Jafanapatão, e que foi publicamente reduzida a pó, com o
auxílio de um almofariz e de um pilão, pelo arcebispo de Goa.»
Enquanto
Vice-Rei da Índia Portuguesa, D. Constantino residia em Goa (a capital da Índia
Portuguesa). Envolve-se, então, com uma aristocrata goesa, de família brâmane a
mais alta casta da Índia. Sua descendência natural acabaria por permanecer em
Goa, com a mãe e a família materna, após o retorno de D. Constantino de
Bragança ao Reino, em decorrência de ter sido exonerado do cargo. Um dos
descendentes de D. Constantino, D. Aleixo João de Bragança, viria a se mudar
para o Brasil, em 1811, no contexto da transferência da corte portuguesa para o
Brasil (1808-1822) e do Decreto de Abertura dos Portos às Nações Amigas (1808).
D. Aleixo João, que chegou no Recife, Pernambuco, se estabeleceria em Salvador,
Bahia, local este, onde moravam muitas famílias goesas, em função do intenso
comércio extra ultramarino Goa-Bahia, que acontecia desde o século XVII. Após
casamentos entre D. Aleixo João e sua descendência (o seu filho que teve
descendência estabeleceu-se em Laranjeiras (a então cidade mais próspera de
Sergipe) com outras famílias da aristocracia brasileira, dá-se origem a duas
famílias (únicas descendentes de D. Aleixo João), os Tavares de Bragança e os
Bragança de Azevedo. O filho que mudou-se para Laranjeiras, Sergipe, o Dr.
Francisco Alberto de Bragança, hospedaria no solar da família, o chamado Solar
dos Braganças, o imperador do Brasil D. Pedro II, a imperatriz D. Teresa
Cristina e alguns membros da comitiva imperial, aquando da visita do imperador
às Laranjeiras, em 1860. Findo
o período como Vice-Rei da Índia Portuguesa, D. Constantino retorna ao Reino,
onde casa-se com D. Maria de Melo, filha de D. Rodrigo de Melo, I marquês de
Ferreira e I conde de Tentúgal, e de D. Brites de Menezes (que era filha de D.
Antão de Almada, III conde de Avranches). Sem geração do casamento.
21º
- Dom Francisco Coutinho
(Vice-Rei
do Estado da Índia 1561-1564)
Dom
Francisco Coutinho (1517-Goa, 19 de Fevereiro de 1564) foi um nobre e militar
português. Foi o 3.º Conde de Redondo, Capitão de Arzila, e o 8.º Vice-Rei da
Índia. D.
Francisco era filho de D. João Coutinho, e neto de Vasco Coutinho, dois
Capitães de Arzila como ele. A sua capitania começou em princípios de 1546,
sucedendo a D. Manuel Mascarenhas. Dos seus feitos guerreiros pouco nos resta
porque Bernardo Rodrigues, autor dos Anais de Arzila deixou seu livro
incompleto, e não chegou a esse ano. Sabe-se que em 15 de Junho, ajuntando-se
com Francisco Botelho, capitão de Tânger, foi correr uma aldeia, que pela muita
névoa que havia não chegou a encontrar, mas na volta conseguiram cativar 15
mouros, e recolhendo-se foram perseguidos por muitos outros, "mas voltaram
sobre êles e mataram e cativaram muitos". Também nesse mesmo ano, e
novamente com o capitão de Tânger, em 21 de Julho, fizeram uma outra corrida
com sucesso. Também em 20 de Janeiro de 1548, sempre com Francisco Botelho,
correu ao "campo de Alexarife, para além de Alcácer, e tomou muitos
mouros, e trouxeram "de gado grosso mais de 500 cabeças. Recolhendo-se
a nossa gente, vindo às portas de Alcácer, saíram dele a ela 400 mouros de
cavalo e 1.000 de pé, que investiram com os nossos furiosamente, mas os dois
capitães voltaram sobre êles até junto da povoação e mataram cento e tantos
mouros de cavalo e de pé. D. João III agradeceu aos dois capitães tão famosa
vitória". Provavelmente
em 1548, antes do 10 de Novembro, vieram correr Arzila os três alcaides de
Alcácer, Tetuão e Xexuão, "com cerca de 2.500 de cavalo. D. Francisco saiu
da vila a pelejar com eles e desbaratou-os". Mas
em Janeiro de 1549, o Xerife, Mohammed ech-Cheikh, toma Fez e reunifica
Marrocos. O perigo é grande para as praças portuguesas. D. francisco informa
"el-rei (D. João III) que se dizia que os filhos do Xerife com muitos
alcaides se preparavam para virem sôbre os lugares de África, principalmente
sobre Alcácer e Arzila. Logo D. João mandou buscar socorro ao Algarve e
Andaluzia, por Luís de Loureiro, que estava em Alcácer. Mas isso era apenas
fingimento, porque o despejo de Arzila estava já decidido, em Conselho, porque
esta praça não tinha porto seguro, e porque o Imperador Carlos V, de Espanha
(Carlos I) reagiu pela indiferença ao pedido de ajuda do rei de Portugal”. Devia
Luís de Loureiro recolher nos navios todos os moradores, "a artilharia, as
munições; que se derrubasse a igreja S. Bartolomeu e o mosteiro de S.
Francisco, os clérigos e objectos sagrados dela fossem levados para a Sé de
Tânger, e os frades dêle para o mosteiro de Tânger, da mesma ordem", que
se metesse fogo à vila, mas antes que se avaliasse os bens dos moradores para
os indemnizar. Quanto a D. Francisco, devia falar aos fidalgos, cavaleiros,
moradores, "animando-os e pedindo-lhes que fossem servir el-rei a Tânger,
e que isto feito se embarcasse com sua mulher e mais família e viesse à sua
côrte, porque desejava compensá-lo do dano que sofria com a perda da sua
capitania". Assim
foi, só que Luís de Loureiro ficou como capitão, com os soldados e fronteiros,
porque o rei esperava resposta de negociações com o "rei de Beles"
(Abû Hassûn `Alî, tio do antigo rei de Fez Ahmed el Outassi), que propôs ao rei
de ficar com Arzila, para lutar contra o Xerife. D.
João quando D. Francisco voltou fez-lhe mercê de 300.000 reais de tença, e
pouco depois foi nomeado regedor da casa da suplicação, e em 1561, vice-rei da
Índia. Durante seu vice-reinado, Luís Vaz de Camões escreveu uma ode em sua
homenagem, a primeira composição camoniana a ser impressa. A obra foi inserida
por Garcia da Orta nos seus Colóquio dos simples e drogas e coisas medicinais
da Índia, publicados em Goa, em 1563. Casou-se
com Maria de Blaesvelt, de origem francesa. Desta união, teve 7 filhos, dentre
os quais destacam-se:
Luís
Coutinho, 4.º Conde de Redondo, que morreu na Batalha de Alcácer-Quibir.
João
Coutinho, 5.º Conde de Redondo, 21.º Vice-Rei da Índia
22º
- Dom João de Mendonça Furtado
(Governador
do Estado da Índia 1564)
João
de Mendonça Furtado (1530-Batalha de Alcácer-Quibir, 1578) foi um militar
português. Foi o 21.º Governador da Índia. Rumou para a Índia ainda em 1547,
sendo nomeado comandante da Fortaleza de Chaul e depois, Capitão de Malaca. Em
1564, foi nomeado Governador da Índia, de forma interina entre Fevereiro e
Setembro daquele ano. Exerceu igualmente o cargo de "General da armada do
reino". Esteve ao lado de Dom Sebastião na batalha de Alcácer-Quibir. Filho
de, António de Mendoça Furtado e de D. Isabel de Noronha e Castro, filha de D.
Fernando de Almada, 2.º conde de Abranches. Casado
com, Joana de Aragão, filha de Nuno Rodrigues Barreto, Alcaide-mor de Faro,
& Veador da Fazenda do Algarve, & de sua mulher D. Leonor de Milão. Pais
de, Nuno de Mendoça, 1º conde de Vale de Reis, que foi da Chave dourada do
Cardeal Alberto e seu Gentil-homem da Câmara, Comendador de Armamar na Ordem de
Cristo, Capitão General em Tanger e Governador desse "Reino". Casou
com Guiomar da Silva Teles de Menezes, filha de Luís da Silva, Alcaide-mor de
Moura e Comendador de Campanhã na Ordem de Cristo.
23º
- Dom Antão de Noronha
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1564-1568)
Dom
Antão de Noronha (1520-1569) foi um militar e nobre português. Foi governador
de Ceuta em 1549, 22.º Governador e 9.º Vice-rei da Índia, de 1564 a 1568. Era
filho de João de Noronha, portanto neto de Fernando de Menezes, 2.º Marquês de
Vila Real e sobrinho de Afonso de Noronha, que o levou para a Índia. Foi
capitão de Ormuz. Durante seu vice-reinado na Índia, defendeu Cananor e Malaca,
e reconquistou e reconstruiu Mangalor, com a edificação de uma fortaleza no
local. Não deixou descendência.
24º
- Dom Luís de Ataíde
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1568-1571)
D.
Luís de Ataíde, 3.º conde de Atouguia e primeiro e único marquês de Santarém,
(1517-10 de Março de 1580 em Goa). Filho segundo de D. Afonso de Ataíde e de
sua mulher D. Maria de Magalhães, era bisneto do 2º conde de Atouguia, D.
Martinho de Ataíde. Foi
governador-geral da Índia Portuguesa e Vice-Rei da Índia Portuguesa (entre 1568
a 1571 e 1578 a 1581). Fez
armas na África, e passando ao Oriente, participou da expedição de D. Estêvão
da Gama ao Mar Vermelho e foi armado cavaleiro por ele na igreja de Santa
Catarina do Monte Sinai. Regressando ao Reino, foi enviado à corte de Carlos V
e tomou parte em sua expedição contra os luteranos. Regressando, manteve-se
estranho às lutas políticas que se seguiram à morte de D. João III de Portugal
a respeito da Regência. Quando D. Sebastião tomou o governo, foi nomeado 10º
Vice-Rei da India em Março de 1568. Partiu a 7 de abril e chegou a Goa em 10 de
Setembro de 1568. Tratou logo de «introduzia a disciplina nos serviços e manter
domínio do mar, para o que fez os maiores sacrifícios, a fim de organizar
esquadras que protegessem o comércio e mantivessem rigor na tributação sobre a
navegação dos locais». Fez sufocar a revolta de Baticala por uma frota sob o
comando de Afonso Pereira de Lacerda. Encarregou Martim Afonso de Miranda da
polícia da costa do Malabar, com 20 navios. Fez
dar caça aos corsários, reprimir excessos dos malabares e atacar as forças do
Samorim por D. Diogo de Meneses. Para garantir a segurança da navegação,
conquistou em 1569 as praças de Onor e de Bracelor, cujos portos eram centro de
piratas. Conseguiu mudar os negócios da India, e os príncipes indígenas se
aliaram para expulsar os portugueses. «Ao Hidalcão, que marchava sobre Goa,
deveriam ficar pertencendo esta cidade, Onor e Bracelor; ao Nizam Melek,
caberiam Chaul, Damão e Baçaim; Diu ficaria para o sultão de Cambaia,» mesmo em
volto em outras campanhas. Cercado em Goa por numeroso exército do Hidalcão, D.
Luís de Ataíde conseguiu enviar socorro a Chaul e operar sortidas amiudadas. O
Nizam Melek, depois de um grande ataque a Chaul em 29 de junho de 1571,
levantou o cerco de Goa. D. Luís demorou as negociações de paz, deixando a seu
sucessor o trabalho de as concluir e voltou para Portugal em 6 de janeiro de
1572, terminado seu tempo de governo. Com o prestígio alcançado, chegou ao Tejo
em 3 de Julho do mesmo ano, entrou solenemente em Lisboa e foi conduzido
debaixo do pálio da Sé à igreja de São Domingos, a direita do Rei. Como
todos os fidalgos ajuizados, reprovou os projetos marroquinos do rei.
Escusou-se, quando convidado a chefiar a expedição. Foi então de novo nomeado
vice-rei da India, o 12º e para lá partiu em 16 de Outubro de 1577 com três
naus. O título de conde de Atouguia, o 3.º, lhe foi concedido por carta de D.
Sebastião de Portugal em 4 de Setembro de 1577. ‘Marquês de Santarém’ foi um
título criado em 1580 pelo rei Filipe I de Portugal (II de Espanha).
25º
- Dom António de Noronha
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1571-1573)
D.
António de Noronha o Catarraz (1510-1574) foi um militar português. Foi o 24.º
Governador da Índia e o 11.º Vice-Rei da Índia. Era
filho de D. Martinho de Noronha, da casa do Cadaval. Foi para a Índia na Armada
de 17 de Março de 1571, nomeado vice-rei. No governo de D. Antão de Noronha,
defendeu Cananor. Durante seu vice-reinado, firmou a paz com Akbar e levantou o
cerco de Goa. Era conhecido pela sua habilidosa diplomacia. Após ser
substituído no governo, voltou à Corte, onde morreu de desgosto, sem casar e
deixar descendência.
26º
- Dom António Moniz Barreto
(Governador
do Estado da Índia 1573-1576)
António
Moniz Barreto (1530-Lisboa, 1600) foi um militar português. Foi o 25.º
Governador da Índia. Combateu em Damão com 120 soldados, vencendo um batalhão
de 2 mil indianos, em 1559. Foi nomeado mas recusou o cargo de governador de
Malaca. Em 1573, foi nomeado governador da Índia, cargo que ocupou até 1576. Governou
de forma despótica, e as crónicas da época dizia que não possuía qualidades de
governante. Durante seu governo, o Império Português perdeu Ternate. É sucedido
por D. Diogo de Meneses, por têr morrido na viagem, perto de Moçambique, Rui
Lourenço de Távora, indigitado para vice-rei da Índia. Por sua genealogia, era
descendente de Pedro de Menezes, 1.º Conde de Vila Real, primeiro governador de
Ceuta.
27º
- Dom Rui Lourenço de Távora
(Vice-Rei
do Estado da Índia 1576)
Rui
Lourenço de Távora (c.1490-perto da Ilha de Moçambique, 1576) nomeado Vice-rei
da Índia. Rui
Lourenço de Távora, avô do 19° vice-rei da Índia, e homónimo Rui Lourenço de
Távora, neto, foi do Conselho d'Estado, e trinchante d'El-Rei D. João III. Em
1576 é nomeado 12° vice-rei da Índia, e parte de Lisboa em 7 de Março numa
armada de cinco naus, em que ia como Capitão-mor, na nau Chagas. Morrendo antes
de chegar a Moçambique, foi substituído
na capitania-mor das naus por Cristóvão
de Bovadilha, e no governo da Índia por D. Diogo de Meneses que lá estava, e o
tomou da mão de António Moniz Barreto que o tinha.
28º
- Dom Diogo de Meneses
(Governador
do Estado da Índia 1576-1578)
Dom
Diogo de Meneses (c. 1520-Cascais, 2 de agosto de 1580) foi um militar e
administrador colonial português. Exerceu o cargo de capitão-mor da Fortaleza
de Malaca e foi o 26.º governador da Índia, de 1576 a 1578, em substituição de
Rui Lourenço de Távora, que faleceu durante a viagem para o Estado Português da
Índia. Durante o seu governo registou-se a derrota portuguesa na Batalha de
Alcácer-Quibir, que contribuiu para a degradação progressiva do Império
Português no Oriente. Lutou
ao lado de D. António de Portugal, Prior do Crato, contra a invasão do reino
por Filipe II de Espanha, vindo a cair prisioneiro e, posteriormente, a ser
decapitado (ou enforcado) por ordem do Duque de Alba:
“Após
atacar o Castelo de Setúbal, as tropas castelhanas iam submetendo os redutos
anti filipistas. Em Cascais, no mês de agosto, o Duque de Alba venceu a
guarnição portuguesa enforcando o comandante dela, D. Diogo de Meneses, além do
alcaide Henrique Pereira e dois artilheiros. 26.º Governador da Índia chamado a
organizar a defesa em Portugal contra a entrada do exército espanhol em
território nacional, primeiro no Alentejo e depois em Cascais, tendo sido
executado (na fortificação à data existente na Cidadela de Cascais) pelos
invasores por não se ter entregado nem rendido”.
29º
- Dom Luís de Ataíde
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1578-1580)
D.
Luís de Ataíde, 3.º conde de Atouguia e primeiro e único marquês de Santarém,
(1517-10 de Março de 1580 em Goa). Filho segundo de D. Afonso de Ataíde e de
sua mulher D. Maria de Magalhães, era bisneto do 2º conde de Atouguia, D.
Martinho de Ataíde. Invernando
em Moçambique, chegou a Goa em 31 de agosto de 1578, recebendo o governo de D.
Diogo de Meneses. Negociou a paz com o Hidalcão, que a havia rompido, assegurou
domínio onde havia pontos de sedição e refreou os excessos da alçada
eclesiástica, que provocavam a emigração dos indígenas. Faleceu pouco depois de
ter recebido no Oriente notícias do desastre de Alcácer Quibir, da morte do
cardeal-rei e do domínio filipino. Seu cadáver foi depositado na igreja dos
Reis Magos em Goa, e trasladado mais tarde para o convento do Bom Jesus em
Peniche, do qual era donatário. Aquando a ruína do convento, os seus restos
mortais foram transferidos para a igreja de Nossa Senhora da Ajuda.
Actualmente, o seu túmulo encontra-se na Igreja da Misericórdia de Peniche. Casou
três vezes mas não teve geração masculina:
1º
Com D. Joana de Távora Vilhena, filha de Luís Álvares de Távora, 13.º senhor de
Mogadouro, e de D. Filipa de Vilhena.
2º
Com D. Maria de Noronha, filha do 4.º conde de Odemira.
3º
Com sua sobrinha D. Isabel de Meneses, filha de Tristão da Cunha, comendador de
S. Pedro de Torres Vedras, e de sua irmã D. Helena de Ataíde. A viúva professou
nas freiras descalças da Madre de Deus, em Lisboa.
A
linha feminina faria recair o título em D. João Gonçalves de Ataíde, fidalgo da
Casa real, neto de Simão Gonçalves da Câmara, capitão donatário da ilha da
Madeira, e de sua 2ª mulher D. Isabel da Silva, filha de D. João de Ataíde,
conde de Atouguia. Passou-se assim: quando morreu, sucedeu na Casa (mas não no
título) seu irmão D. Álvaro Gonçalves de Ataíde, já velho. Era comendador de
Santa Maria de Escalhão, casado com sua sobrinha D. Isabel da Silva, filha de
seu primo Luís Gonçalves de Ataíde, senhor das Ilhas Desertas, e de sua irmã D.
Violante da Silva, sem sucessão. O filho destes, Luís Gonçalves de Ataíde, capitão
de Ceuta, senhor das Ilhas Desertas, e comendador de Adaúfe na Ordem de Cristo,
casou com Dona Violante da Silva, filha de Francisco Carneiro, secretário do
rei D. João III de Portugal, capitão donatário da Ilha do Príncipe, e de Dona
Mécia da Silveira. O 4º conde de Atouguia será o filho deste casal, João
Gonçalves de Ataíde.
30º
- Dom Fernão Teles de Meneses
(Governador
do Estado da Índia 1581)
Fernão
Teles de Meneses (Santarém, 1530-Lisboa, 26 de Novembro de 1605) foi um militar
português. Foi o 28.º governador da Índia. Não deixou descendentes.
31º
- Dom Francisco de Mascarenhas
(Vice-Rei
do Estado da Índia e Governador do Estado da Índia 1581-1584)
Dom
Francisco de Mascarenhas, (c. 1530-4 de Setembro de 1608) primeiro conde de
Vila da Horta e de Santa Cruz, foi o 13.º vice-rei da Índia, Capitão do
donatário nas ilhas de Flores e Corvo. Recebeu o título de Conde de Vila da
Horta de D. Filipe I, cerca de 1585, a favor de D. Francisco de Mascarenhas.
Como D. Francisco de Mascarenhas perdeu a capitania da ilha do Faial numa
demanda que manteve com a família Corte Real, Filipe I substituiu o título pelo
de conde de Santa Cruz, concedendo ao titular a capitania do donatário nas
ilhas de Flores e Corvo.
32º
- Dom Duarte de Meneses
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1584-1588)
Dom
Duarte de Meneses (Tânger, 6 de Dezembro de 1537-Goa, 4 de maio de 1588) foi um
nobre e militar português. Foi Capitão de Tânger e Capitão de Arzila, foi o
30.º governador da Índia e o 14.º vice-rei da Índia. Era neto de Duarte de
Meneses, que também foi governador da Índia, entre 1522 e 1524. D.
Duarte nasceu em Tânger duma família que governava a cidade quase por sucessão
hereditária: o mais antigo sendo D. João de Meneses, 1.° Conde de Tarouca (que
governou entre 1486 e 1489 & (1501-1508), os filhos deste, Duarte de
Meneses, seu avô (1508-1521 e 1536-1539), e Henrique de Meneses (1521-1522),
João de Meneses, o Púcaro, seu pai (1539-1546), e seus tios Pedro (1520-1550) e
Fernando (1553). D. Duarte foi nomeado governador em 1574. Sucedeu a D. António
de Portugal, Prior do Crato, que voltou para Portugal. Pouco depois atacou os
mouros, fazendo muitos mortos e «mais de cento e cinquenta cativos, sem contar
grande número de cavalos e outros despojos». Diz
D. Fernando de Menezes, que em previsão da sua Jornada, D. Sebastião «mandou
chamar (...) a D. Duarte para tratar com ele o referente à África» (idem).
Entretanto substitui-o Pedro da Silva, seu cunhado. Nesse mesmo ano Chegou D.
Sebastião a visitar Tânger, com D. Duarte, tomando de novo o governo da Praça.
O
rei «saía ao campo a caçar com toda a confiança como se estivera em Almeirim
(...). Atemorizado El Rei de Fez com estes princípios, reuniu tanta gente que
cobria os campos, pelejaram os nossos contra eles, servindo a presença do Rei
de estímulo ao valor natural, mas como era tão desigual o número, foi-lhes
necessário valer-se das defesas da cidade e arredores, que fizeram com a
artilharia considerável dano aos mouros. Assistia El Rei desde a torre mais
alta do Castelo, donde via a batalha e a retirada dos mouros pelo prejuízo que
recebia. Alegrou-se muito com o êxito, querendo a fortuna lisonjeá-lo em estes
começos para empenhá-lo depois em maiores ruinas.»
Voltou
então o Rei para Portugal, sempre acompanhado de D. Duarte. Pedro da Silva
ficou governando a praça. Mas D. Duarte voltou pouco depois. Em 1576,
Cid-Abdelcherim, filho de Bentude, «senhor de Alcácer-Quibir, Arzila, larache,
Taleg, Carife, Agéra, e outros muitos lugares e comarcãos», por morte de seu
pai, «lhe succedeo no estado e autoridade e esforço (...). E como foi sempre
leal vasallo do Xarife Mulei-Hamet, por o ter jurado rei, (...) estando em
Alcácer-Quibir, tendo posto seu irmão Cid-Hazus por capitão de Arzila, e
temendo Mulei maluco o prendesse ou matasse, se recolhe-o secretamente, com as
mulheres, filhos e fazenda, a Arzila, onde o irmão estava, e não se dando por
seguro na fortaleza, querendo-se encomendar ao emparo de el rei de Portugal,
escreveu a dom Duarte de Menezes (...) que em hum dia certo viesse, e lhe
entregaria Arzila. Dom Duarte de Menezes, que não desprezou a ocasião, com toda
a pressa fez cinco navios prestes, com a gente necessária, e chegou a Arzila no
dia e hora aprazados, a quem Cid-Abdelcherim abriu pacificamente as portas; e
os portugueses entrarão sem resistência». O
rei D. Sebastião prevenido «extremadamente se alegrou».
«Passou
esta entrega d'Arzila no anno de 1577 (...). D. Duarte de Menêzes, como tomou
posse de Arzila, não se sahio delle, até não ter recado de el rei, mas porque
Tanger ficava sem capitão na absência de dom Duarte, ficando lá sua mulher e
filhos, mandou el rei a Pero da Silva por capitão a Tanger, por ser cunhado de Dom
Duarte e irmão de Dona Leanor da Silva, sua mulher. Quando D. Sebastião voltou
a Marrocos, em 1578, foi para a infortunada expedição que acabou com sua morte.
Mais uma vez vinha acompanhado de D. Duarte, mas «governando-se só por sua
opinião, resolveu a batalha, sem valer para nada as indicações de D. Duarte, a
quem encarregou o governo do Exército. Disse-lhe D. Duarte, que já que queria
pelejar, lhe desse licença para atacar de noite aos mouros em seus alojamentos,
pois que a experiencia, que de eles tinha, o assegurava a vitória, sem muito
derramamento de sangue».
O
rei não quis aceitar, e foi de dia, em 4 de Agosto de 1578, que formou o
exército e passou o rio, começando a batalha que acabou desastrosamente. D.
Duarte ficou prisioneiro em Alcácer Quibir. Quando o corpo do rei lhe foi
apresentado, a ele e aos outros fidalgos cativos, reconheceram-no. Fizeram um
conselho dos fidalgos cativos «& assentarão que se deviam resgatar todos
juntos, assi por ficar o preço mais favorável, como por atalhar o dano que
resultaria do muito que por si prometessem alguns mal sofridos
impossibilitando-os mais.»
«Depois
desta resolução pareceu bem aos do conselho, a quem os mais avião dado sua
autoridade que se devia pedir ao Xarife, mandasse pôr em guarda do corpo del
Rey algum fidalgo, assi por autoridade, como por não acontecer ficar de maneira
que se pudesse outro pôr em seu lugar, dando-se daqui ocasião, a nunca se ter
aquelle por verdadeiro, tornou dom Duarte com isto ao Xarife, o qual o concedeo
muy facilmente, & foy ordenado que Belchior do Amaral fosse acompanhar o
corpo, & dar-lhe sepultura. Partio Belchior do Amaral pera Alcaçar, &
nas logeas das casas de Abraen Sufiane Alcayde da mesma villa lhe fez a
sepultura, ajudado de hum Tudesco, onde no caixão em que vinha foy enterrado,
cuberto de cal & area, & de infinitas lagrimas, pondo-lhe alguns sinaes
de pedras & tijolos, pera se conhecer a todo o tempo.»
Quando,
resgatado, regressou a Portugal, foi nomeado pelos cinco governadores do Reino,
capitão-geral do Algarve, por carta de 24 de Março de 1580. Devido ao seu
grande prestígio nobiliárquico, político e militar, foi nomeado vice-rei da
Índia por carta de 18 de Fevereiro de 1584, tendo Filipe I atribuído a D.
Duarte de Menezes, o título de conde de Tarouca, com que deveria partir para a
Índia, mas que este rejeitou por não lhe ser atribuído de juro e herdade. D.
Duarte partiu de Lisboa a 10 de Abril de 1584, aportando em Cochim a 25 de
Outubro. Pouco depois da sua chegada decidiu a polémica nomeação do seu tio,
Rui Gonçalves da Câmara, para fundar a fortaleza de Panane, com base nos
acordos firmados no vice-reinado anterior, por D. Gil Eanes Mascarenhas, com o
Samorim de Calecute, e de o colocar no comando de uma esquadra enviada ao
Estreito, encarregada de destruir uma alegada armada turca que estava ser
preparada para atacar os Portugueses. Esse mesmo ano mandou, por ordem régia,
submeter Solor, praça construída e guarnecida por frades, à jurisdição da Coroa
e elevou Macau ao estatuto de cidade, aprovando a constituição do Senado da
cidade. Nas
naus que partiam da Índia para o Reino durante o ano de 1586, seguia a bordo o
arcebispo de Goa, frei Vicente, que se tinha demitido do seu cargo, por várias
desinteligências com o vice-rei e oficiais da Coroa, estando em causa conflitos
jurisdicionais de poder. Morreu na viagem, algures envenenado. Diz [Manuel de
Faria e Sousa: «deixava seu arcebispado, por não poder sofrer Vice-Reis, e
Ministros, nem mesmo os próprios Eclesiásticos. Vinha (dizia ele) informar o
Rei, e o sumo Pontífice. Com sua morte morreram as culpas»... Em
Abril de 1588, pouco antes da sua morte, enviou uma carta ao Daimiô Toyotomi
Hideyoshi, unificador do Japão («suas vitorias, e obras, e fama, & nome,
que ainda nas partes, que estão mui longe se ouve de Vossa Alteza e como
sujeitou a seu império os mais senhores e reinos das quatro partes de Japão
cousa que nunca foi ouvida desde os antigos até gora»), agradecendo-lhe de
proteger os padres («Soube também que os Padres, que estão nesses reinos
recebem muitos favores de V. A. e com o resplandor de seu favor vão
promulgando, pregando, e ensinando a lei para salvar aos homens») e
enviando-lhe um embaixador, a pedido dos jesuítas («por elles me pedirem que
escrevesse a Vossa alteza e lhe mandasse um embaixador dando-lhe as graças
disto, folguei de o fazer. E porquanto o Padre Visitador estes anos atras foi
outra vez a esses reinos de V. A. e eh ai conhecido nessa terra lhe encarreguei
esta embaixada, e peço a V. A. por esta carta que daqui adiante mais, e mais o
queira favorecer»), com presentes («dous montantes; 2 corpos de armas; 2
cavalos com seus arreos; 2 pistoletes e hum tersado; 2 pares de guademecins
dourados, e hua tenda pera campo»). No Japão a situação estava longe do que
indica a carta. O Daimiô, tinha interdito aos Senhores japoneses de se
converterem ao cristianismo, receando que estes se tornem em uma força
contrária aos seus projetos, e se deixava os padres mais ou menos livres era
porque o comércio com Portugal e Espanha era-lhe indispensável...»
Morreu
em 4 de maio de 1588, logo depois de têr celebrado em presença de Manuel de
Sousa Coutinho, a vitória deste que tinha quebrado o cerco de Colombo por Raju,
rei de Sitawaka, abertas as vias da sucessão, nas quais primeiramente surgiu o
nome de Matias de Albuquerque, então estante no Reino, na segunda via de
sucessão apareceu Manuel de Sousa Coutinho indigitado governador da Índia. D.
Duarte tinha casado com D. Leonor da Silva, filha de Diogo da Silva, Senhor de
Vagos, embaixador ao Concílio de Trento, e de D. Antónia de Vilhena (filha do
2.° Barão de Alvito, D. Diogo Lobo da Silveira), de quem têve:
D.
João, morto sem descendência. Era o mais velho, e «morreu na batalha com El Rey
D. Sebastião, estando naquelle tempo vencendo huma Comenda em Tangere, em companhia
de seu pai, que era Capitão, e Governador daquella cidade».
D.
Luís de Meneses, 2.º Conde de Tarouca.
D.
António de Meneses, Comendador do Sardoal, Governador de Malaca, morto na Índia
sem posteridade.
Dona
Maria de Vilhena (c. 1570), que casou com D. Francisco da Gama, 4.º Conde da
Vidigueira.
Dona
Luísa e D. Antónia de Meneses, freiras em Santa Clara, Santarém.
Dona
Francisca, religiosa na Anunciada de Lisboa.
33º
- Dom Manuel de Sousa Coutinho
(Governador
do Estado da Índia 1588-1591)
Manuel
de Sousa Coutinho (1540-1591) foi um militar português, o 31.º Governador da
Índia. Filho de Cristóvão de Sousa Coutinho, senhor de Baião, e de D. Maria de
Albuquerque, desde muito jovem combatia na Índia. Foi governador de Ceilão,
defendendo a ilha dos ataques de Raju. Foi
nomeado Capitão de Malaca em 1588 e logo depois, foi nomeado governador da
Índia, por ocasião da morte de Duarte de Menezes. Durante seu governo, mandou
uma esquadra para defender os interesses portugueses na costa oriental
africana, em especial em Mombaça, que era atacada pelo rei mouro Mir Ali Bei.
Substituído no cargo por Matias de Albuquerque, em 1591, viria a falecer com a
sua mulher num naufrágio, durante a viagem de regresso ao continente.
34º
- Dom Matias de Albuquerque
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1591-1597)
Dom
Matias de Albuquerque (1547-1609) foi um militar português, o 32.º Governador
da Índia e o 15.º vice-rei da Índia, sendo descendente de Afonso de
Albuquerque. Serviu na Índia por mais de 30 anos, combatendo e alcançando
importantes vitórias, como em Mangalor (1566) e na defesa de Goa, que
encontrava-se sitiada em 1571. Entre 1584 e 1588 é capitão da fortaleza de
Ormuz, onde procedeu aos trabalhos de reparação da fortaleza, que se encontrava
em mau estado, tendo inclusivamente mandado construir grandes cisternas. Como
vice-rei, teve fama de administrador honesto e conseguiu vitórias em Ceilão e
Malabar. É considerado um dos mais respeitados governantes da Índia Portuguesa.
Casou-se com Filipa de Vilhena, sem deixar descendência.
35º
- Dom Francisco da Gama
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1597-1600)
Dom
Francisco da Gama, 4.º Conde da Vidigueira (1565-Oropesa, Julho de 1632) foi um
nobre e militar português. Por duas vezes, foi Governador e Vice-Rei da Índia.
Era bisneto de Vasco da Gama e filho de Vasco da Gama, 3.º Conde da Vidigueira. Ao
lado de seu pai, aos 13 anos, combateu na Batalha de Alcácer-Quibir, onde seu
pai tombou e ele, feito prisioneiro. Resgatado, retorna a Portugal em 1595.2 No
final da vida, acusado de peculato e outras desonras, morre na Espanha, a
caminho da Corte para tentar explicar-se. Foi
nomeado vice-rei da Índia em 1597, partindo para Goa no mesmo ano. Assumiu a
região com mínimas condições de governabilidade, sem dinheiro nem navios para
defesa. Tentou implementar reformas pouco populares, na tentativa de conter a
corrupção e a desordem. Conseguiu um empréstimo e montou defesas, tanto no mar
(combatendo os piratas indianos e os ingleses) como ao norte (combatendo os
mongóis). Durante essa gestão, anexou a Ilha de Colombo, graças à deposição do
rei local por um parente, protegido da Coroa Portuguesa. Angariando muitos
inimigos, acabou por regressar à Portugal em 1600, tendo a população contra sua
administração.
36º
- Dom Aires de Saldanha
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1600-1605)
Aires
de Saldanha (Santarém, 1542-perto da Ilha Terceira, 1605) foi um militar
português. Foi comendador de Sabacheira. Foi
para a Índia em 1558, com o vice-rei Constantino de Bragança, servindo desta
feita por doze anos na região. Regressou em 1570 à Portugal, onde casou-se com
Joana de Albuquerque, logo depois retornou à Índia, desta vez com o vice-rei
Rui Lourenço de Távora. Foi nomeado capitão de Malaca, onde mandou construir o
forte de Tidor. Regressando a Portugal, foi nomeado governador do Tânger, cargo
que exerceu por 9 anos. Em
1600, foi nomeado 17.º vice-rei da Índia e 34.º governador da Índia. Durante
seu vice-reinado, além das dificuldades financeiras, teve de lutar contra os
neerlandeses em várias frentes, defendendo Cochim e Goa, além de repeli-los nas
Ilhas Molucas. Morreu durante o seu retorno à Portugal, perto da Ilha Terceira,
sendo primeiro sepultado em Angra do Heroísmo, depois seu corpo foi transladado
para Santarém. Instituiu o Morgado da Junqueira, na freguesia da Junqueira, em
Lisboa. Era
filho de António de Saldanha, militar e navegador que descobriu a Baía de
Saldanha, e de Joana de Mendonça. Casado com, Joana de Albuquerque, filha de D.
Manuel de Moura, morgado de São João da Praça e de Isabel de Albuquerque. Filhos:
António de Saldanha, o Cativo, comendador de São Martinho de Lagares e da
Sabacheira, casado com D. Joana da Silva ou D. Joana de Vilhena, filha de
António da Costa e de Margarida de Castro, com geração
Diogo de Saldanha
casado com Jerónima Lobo,
Isabel de Albuquerque casada com D. Simão Gonçalves
de Ataíde, senhor das Ilhas Desertas.
Fora do casamento teve bastarda
D. Luísa
de Saldanha, casada com Filipe de Brito de Nicote capitão-mor de [Pegu] morto
em combate em 30 de Março de 1613
37º
- Dom Martim Afonso de Castro
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1605-1607)
D.
Martim Afonso de Castro (falecido em Malaca, 3 de junho de 1607) foi um
administrador dos estados ultramarinos portugueses, vice-rei da Índia de 1605 a
1607. É
filho de D. António de Castro, 4.º Conde de Monsanto, e de D. Inês Pimentel.
Encarregado de pacificar a Insulíndia, então também designada por Partes do
Sul, juntou e comandou pessoalmente uma das maiores armadas alguma vez postas
no mar pelos portugueses. As operações sofreram diversos reveses tanto por
causa dos elementos como da má direcção. Depois de no primeiro embate na
batalha do Cabo Rachado os portugueses causaram grandes danos nos navios
holandeses, pondo-os em retirada, o vice-rei optou por não explorar o sucesso,
abrigou-se em Malaca deixando a maior parte dos navios de alto-bordo surtos
frente à cidade. O comandante holandês, Cornelis Matelieff de Jonge, depois de
uma rápida reparação dos seus navios, contra-atacou e os navios portugueses,
indefesos e sem possibilidade de manobrarem, foram destruídos pelo fogo inimigo
ou pelo dos portugueses que assim tentaram evitar a captura pelo inimigo.
38º
- Dom Aleixo de Meneses
(Governador
do Estado da Índia 1607-1609)
Frei
Aleixo de Meneses, nascido Pedro de Meneses, O.S.A. (Lisboa, 25 de Janeiro de
1559-Madrid, 3 de Maio de 1617) foi arcebispo de Goa (1595-1612), governador da
Índia (1607-1609), arcebispo de Braga (1612-1617) e governador de Portugal
(1612-1615). Filho
de D. Aleixo de Meneses, aio do rei D. Sebastião, foi nomeado pelo rei Filipe I
de Portugal arcebispo de Goa, ali levantou dois recolhimentos de donzelas. Com
idade de 10 anos perdeu o pai e ficou sob a tutela de seu tio Frei Agostinho de
Jesus. Aos 15 anos ingressou no convento de Nossa Senhora da Graça, em Lisboa,
onde recebeu o hábito de eremita de Santo Agostinho, a 24 de Fevereiro de 1574.
No ano seguinte fixa o nome de Frei Aleixo de Jesus ou de Meneses. Em 1582 encontra-se
no convento da Graça, de Coimbra. Em 1588 é eleito prior do convento de Nossa
Senhora da Graça, de Torres Vedras, exercendo o cargo no biénio de 1588-1590,
em 1590 é prior do convento em Santarém e em 1592 no de Lisboa. Com
a morte do Vice-rei Martim Afonso de Castro, em Malaca, em Junho de 1607, foi
Frei Aleixo nomeado Governador da Índia. O seu governo durou dois anos e meio,
o novo vice-rei D. João Pereira Forjaz, 5° conde da Feira, nomeado pelo rei de
Portugal, que vinha na Armada de 29 de Março de 1608, faleceu na viagem. Foi
arcebispo de Braga, tomando posse em 1612. Nomeado Vice-Rei de Portugal, lugar
que aceitou com beneplácito do Papa Paulo V, foi também Presidente do Conselho
de Portugal, Capelão-Mor e governador do Priorado de Guimarães. Faleceu em
Madrid em 1617, sendo provisoriamente sepultado no Convento de São Felipe. Em
1621 foi trasladado para a capela-mor da igreja do Pópulo, em Braga.
39º
- Dom André Furtado de Mendonça
(Governador
do Estado da Índia 1609)
André
Furtado de Mendonça (Lisboa, 1558-1 de Abril de 1611) foi governador da Índia
(1609) e um dos mais destacados capitães do Estado da Índia. André
Furtado de Mendonça terá nascido em Lisboa por volta do ano de 1558. Em 1576,
apenas com 18 anos, embarca pela primeira vez para a Índia, onde bem cedo se
dedicou ao estudo das rotas, da meteorologia e oceanografia e da cartografia do
Índico, assim como do armamento, conhecimentos que lhe permitiriam obter
vantagem em combate, quer no mar quer em terra. Naquela
época era difícil ser-se soldado e em particular, sê-lo na Índia. Somente
alguns capitães conseguem afastar do espírito a tentação de seguir o caminho
fácil do enriquecimento e sucesso individual, sublimando, em si, os ideais de
fidelidade à Pátria, ao Rei, a Deus e à Moral. (Curiosamente, é uma visão
semelhante, com base na busca de glória através do serviço ao seu Rei e à
Pátria, que vai orientar a vida do almirante Horácio Nelson, vitorioso de
Trafalgar a 21 de Outubro de 1805). Na sequência de vários sucessos em acções
de guerra no mar, André Furtado de Mendonça evolui, em sete anos de simples
soldado a capitão famoso, que comandava já outros capitães, apenas com a idade
de 25 anos. Em 1599 é designado para o comando de uma armada de 37 navios e 2.000
homens, com a missão de erradicar a pirataria que comprometia os interesses
portugueses no Índico, a qual era liderada pelo corsário muçulmano Mohamed
Marcar Cunhale, que beneficiava da protecção do Samorim de Calecute. A missão
contra o corsário vai desenrolar-se desde Dezembro de 1599 até ao ataque final
em princípio de Março de 1600 à fortaleza que servia de base às operações de
pirataria na foz do rio Pudepatão. No
dia 2 de Março de 1600, o contingente português, com André Furtado Mendonça à
frente das tropas, numa demonstração de coragem e de capacidade de liderança ao
mais alto nível, assaltou a fortaleza esmagando completamente as suas defesas.
Desta vitória dos portugueses resultou, não apenas a eliminação do mais
poderoso corsário do Índico, como também a submissão do Samorim de Calecute ao
Vice-Rei, o que reforçou a autoridade portuguesa na Índia. Em Abril de 1606,
encontrando-se André Furtado Mendonça à frente da capitania de Malaca, foi
aquela praça sitiada por uma armada holandesa com 11 naus sob o comando do
Almirante holandês Matelieff, juntamente com navios dos reinos locais,
totalizando 14.000 homens embarcados. A desproporção dos meios era total, tendo
em conta que o efectivo português seria da ordem de pouco mais de uma centena e
meia de homens em armas. A resistência ao cerco imposto, em condições
muitíssimo difíceis, durou até ao dia 13 de Agosto de 1606, altura em que os
sitiantes receberam a notícia da aproximação da armada do Vice-Rei da Índia D.
Martim Afonso de Castro e demandaram outras paragens, com perdas superiores a
250 homens. O
novo vice-rei D. João Pereira Forjaz, 5° conde da feira, nomeado pelo rei de
Portugal, que vinha na Armada de 29 de Março de 1608, falecendo na viagem, foi
André Furtado Mendonça que assumiu a partir de 1609, as funções de governador
da Índia, antes que chegasse o novo vice-rei Rui Lourenço de Távora que partiu
de Lisboa na armada de 25 de Outubro de 1608. Quando este chegou e antes de o
substituir, depois de André Furtado ter apenas governado 3 meses, têve estas
palavras: «Muito me pesa de ter vindo neste tempo à Índia com este cargo, pois
com isso se atalha o muito que um tal capitão e Governador, havia, de obrar
neste império com seu valor pelas armas, com sua prudência para o governo, com
sua fortuna para os acasos». Disse também de Furtado Mendonça um seu sucessor,
D. Miguel de Noronha: “Foi o mais temido pelos inimigos e aceite pelo povo
Vice-Rei que houve na Índia”. A sua governação da Índia portuguesa, apenas por
alguns meses, conseguiu inverter a tendência de desgoverno que se vinha
acentuando anteriormente. Em 1610, entregou o governo da Índia ao Vice-Rei Rui
Lourenço de Távora e embarcou para Portugal para se avistar com o Rei Filipe
II, à época Rei de Portugal, que o mandara chamar. O Capitão-mor da Armada era
D. Manuel de Meneses, e Furtado de Mendonça que se encontrava já doente quando
embarcou, ia na nau Penha de França de Ambrósio de Pina. Veio a falecer a 1 de
Abril de 1611, quando a nau que o transportava se encontrava a cerca de 270
léguas da ilha de Ascensão naufragou. A 5 de Julho decorreu o cortejo fúnebre
que levou o corpo para a igreja da Graça onde ficou sepultado ao lado de outro
dos heróis da Índia, Afonso de Albuquerque. Sem
mulher e sem filhos, viveu para o serviço da Pátria. Com total dedicação, não
obtendo quaisquer vantagens materiais da sua missão de 33 anos de serviço na
Índia, dizia ele que foi servir para a Índia e não comerciar. Entre outros
feitos, eliminou a pirataria que aniquilava o comércio português, apaziguou ou
submeteu os reinos indígenas que se rebelavam contra os portugueses, liderou a
resistência ao cerco de Malaca imposto pelos holandeses com uma guarnição muito
reduzida, culminando a sua estadia na Índia portuguesa com o exercício da
governação daquelas possessões, constituindo um exemplo da liderança portuguesa
sob a qual foi edificado o ‘Império Português no Mundo’.
40º
- Dom Rui Lourenço de Távora
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1609-1612)
Rui
Lourenço de Távora (1556-19 de junho de 1616) foi vice-rei da Índia, de 1609 a
24 de Dezembro de 1612. Filho
do diplomata Lourenço Pires de Távora, passou com seu irmão Álvaro a servir em
Tânger. Em 1576 foi para a Índia, acompanhando seu avô (Rui Lourenço de Távora,
que fora nomeado vice-rei da Índia, mas que morreu no caminho), chegando a
comandar uma galé. Sabendo que D. Sebastião tencionava passar a África,
regressou ao reino, chegando em 1579, apenas para saber as notícias do desastre
de Alcácer Quibir, e da morte dos seus dois irmãos. Foi nomeado governador da
Torre velha, em frente da Torre de Belém, pelo cardeal D. Henrique, e mais
tarde apoiou D. Filipe I. Serviu na defesa de Sesimbra, e na de Lisboa,
atacadas pelos ingleses. Foi nomeado capitão de Ceuta e depois capitão de
Tânger, mas nenhum dos governos pôde exercer por doença grave que teve. Em 1595
foi nomeado governador do Algarve, durante sete anos, residindo em Lagos, tendo
trabalho para defender as cidades da costa contra as armadas inglesas que as
assaltavam. Faro foi tomada e queimada pelos ingleses, que voltavam comandados
pelo conde de Essex da expedição de Cádis. Em
1608 foi nomeado vice-rei da Índia. Coube-lhe gerir as consequências negativas
da derrota da armada do vice-rei D. Martim Afonso de Castro e tentar com os
escassos recursos disponíveis enfrentar o poderio crescente da VOC e dos
ingleses. Estabeleceu relações com o Grão-Mogol, e mandou tropas para
conquistarem o Monomotapa, missão que da corte lhe incumbiam com muita
urgência. Substituído em 1612 por D. Jerónimo de Azevedo, demorou-se ainda
algum tempo na Índia, regressando ao reino em 1613. Teve no caminho um encontro
com umas naus holandesas, e chegando a Lisboa, morreu pouco depois, no ano de
1615, quando era pela segunda vez nomeado provedor da Misericórdia.
41º
- Dom Jerónimo de Azevedo
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1612-1617)
Dom
Jerónimo de Azevedo (1540-Lisboa, 1625) foi um fidalgo português. De
família abastada, era filho natural de D. Manuel de Azevedo, Comendador de São
João de Alpendurada, e de Violante Pereira, neto paterno de D. João de Azevedo,
Bispo do Porto, e de Joana de Castro, e irmão do Beato Inácio de Azevedo. Serviu
por muitos anos na Índia. Em 1596, ao morrer o Rei do Ceilão, deixou-lhe a ilha
como herança. Foi nomeado 39.º Governador e 20.º Vice-Rei da Índia em 1611,
rumando para Goa em 1612. Quando regressou à corte, em 1617, teve seus bens
confiscados, por suspeita de enriquecimento ilícito.
42º
- Dom João Coutinho
(Vice-Rei
em 1617-1619)
João
Coutinho (c. 1540-10 de Novembro de 1619) foi 5º conde de Redondo, Capitão de
Tânger, e vice-rei da Índia entre 1617 e 1619.
43º
- Dom Jerónimo Coutinho
(Governador
do Estado da Índia 1619)
Jerónimo
Coutinho (cerca de 1545) foi um político português. Foi conselheiro de Estado e
Presidente do Desembargo do Paço. Nomeado em 1619 como governador da Índia,
recusou a nomeação. Foi pai de Filipa de Vilhena.
44º
- Dom Afonso de Noronha
(Vice-Rei
em 1619)
Afonso
de Noronha (c. 1550-depois de 1627, Madrid) foi Capitão de Ceuta e de Tânger,
Governador do Algarve, e nomeado Vice-rei da Índia. D.
Afonso era filho de Miguel de Noronha e de D. Joana de Vilhena, e neto de D.
Afonso de Noronha, 5.º vice-rei da Índia. Foi «Comendador das Comendas de S.
João da Castanheira, S. Nicolau de Cabeceiras de Basto, Santa Maria de Belmonte,
S. Salvador de Peña-Mayor, e das Olalhas na Ordem de Christo, e depois de ter
servido vários postos nas Armadas foy Capitão mór das naos da India no anno de
1597, a qual viagem fez com felicidade, e voltando ao Reyno no de 1599 ocupou o
posto de general da Armada (Armada da Costa, ou Armada real de Portugal) na
ocasião, que se entendeu, que a Armada de Holanda, e Zelanda vinha a este
Reyno».
D.
Afonso foi nomeado Capitão de Ceuta em 1602, que governou três anos, até 1605.
Em Março de 1610, sucedeu a Nuno de Mendonça no governo da praça de Tânger.
«Achou os Mouros muy embaraçados, e divididos em parcialidade». Em guerra
contra seus irmãos, o sultão Muley Xeque Al-Mamun, filho do rei de Marrocos
Ahmed al-Mansur, pediu ajuda a Filipe II, cedendo-lhe em contrapartida a cidade
de Larache. Depois de várias tentativas, já no governo de Nuno de Mendonça têve
isso efeito em 20 de Novembro de 1610.»
Diz
a esse propósito D. Caetano de Sousa: «Na expedição de Larache quando se tomou,
se deveu muito à sua indústria [de D. Afonso], e trabalho, fazendo grandes
despesas com as tropas Hespanholas, que teve em Tangere para aquella facção,
aos filhos de Muley Rey de Fez tratou com grandeza mostrando em tudo a do seu
ânimo valeroso.»
Essa
cedência de Larache ocasionou uma crise ainda maior no país. Mas depois da
morte de Muley Xeque Al-Mamun, em Agosto de 1613, o país ficou mais sossegado e
o rei D. Filipe pensou que as praças marroquinas não necessitavam tanta
guarnição. «Mandou El Rey António Pereira Lopes de Berredo a visitar as Praças
de Africa da Coroa de Portugal com ordem, e authoridade para reformar as
despezas superfluas (...). Chegou a Tangere, comunicou ao General as ordens, e
o intento que trazia de diminuir o presidio, cortar a Cidade da porta do Campo,
à porta do Mar, para que se pudesse com menos gente defender. Opozselhe o
general com a efficacia que devia, mostrando-lhe como esta Cidade se conservava
sempre com grande reputação, que se os reys de Portugal sendo menores o não
fizerão, encontrava muito o credito de hum tão grande Monarca semelhante
resolução, que de Portugal sahião as despezas, e para ellas não havia
repugnancia no Reyno. Mas como Antonio Pereira não disestia, começará a haver
entre huns e outros differenças, o Poco andava alterado (...). Escreveo o
General a El Rey, e aos Ministros sobre esta matéria (...). Em contrário
escrevia o reformador (...). Ouvindo El Rey humas, e outras razoens, e
mandando-as consultar com as pessoas de mayor prudencia, e noticias, em
particular com D. Francisco de Almeida, que tinha governado Tangere com tanta
satisfação, conformando-se com seu parecer, resolveu, que se não alterasse o
estado das cousas.»
Em
todo o tempo que governou D. Afonso de Noronha Tânger, «servio de adail Jorge
de Mendonça Pessanha; a cidade foy bem provida, em particular das cousas da
Berberia, que os Mouros vendião em abundancia, como em terra própria (...). Com
ele servio D. Miguel de Noronha seu filho mais velho, que foy depois Conde de
Linhares, e governou esta Cidade (...); e D. Affonso residio nella até Junho do
anno de 1614.» Sucedendo-lhe D. Luis de Meneses, conde de Tarouca. «E sendo [D.
Afonso] ocupado nos Governos das praças de Tangere, e Ceuta perto de dez anos,
em todo o seu tempo não teve infelicidade alguma»
Foi
nomeado Vice-Rei da Índia no ano de 1621 para onde partiu em 29 de Abril, mas
não chegou a governar por arribar com a Armada a Lisboa. Encontramos a menção
de D. Afonso como Governador do Algarve em Manuel de Meneses, Relação da
Restauração da Bahia em o anno de 1625, apesar de não se encontrar seu nome nas
listas que se dão geralmente desses governadores, diz D. Manuel de Meneses que
quando se soube da tomada de S. Salvador da Bahia pelos holandeses, em 26 de
Julho de 1624, em Portugal, «e no último do mesmo à meia-noite a Madrid»,
Filipe de Portugal tomou a resolução de recuperar a cidade, e «a D. Manuel de
Meneses fez mercê por carta de 9 de Agosto de o eleger para levar a seu cargo a
(armada) de Portugal. Logo a fidalguia de Portugal, uns em ajudando com sua
fortuna, outros com seus serviços, manifestaram seu entusiasmo numa tal empresa
(...):
«Não
se pode negar que foi o primeiro D. Afonso de Noronha que tendo ocupado os
postos de Portugal começando por soldado na vinda dos ingleses sendo já casado,
por soldado na armada de Fernão Telles, por capitão almirante da armada da
India, capitão geral de Septa, de Tangere, da armada real de Portugal,
governador do Algarve, eleito viso rei da India aonde navegava e achando-se
naquela ocasião com só um filho D. Miguel de Noronha conde de Linhares, capitão
geral de Tangere casado com filha herdada de D. Pedro de Meneses e com filhos,
e sendo de idade, posto que não tanto, como parece, mostram os cargos que
servio, saindo do conselho d'Estado, de que hé ministro antigo, quando chegou a
carta de El-Rei de (...) de Agosto entrou na casa do consulado, e recebendo
pequeno soldo se alistou por soldado para a empresa, exemplo não necessário
para a disposição de animo com que estavam os mais senhores e fidalgos, mas
eficaz para os abrasar quando frios e esquecidos estivessem.»
As
armadas de Portugal e de Espanha partiram para a Bahia e quando lá chegaram
«Advertiu D. Afonso de Noronha seria acertada pelas consequências se fizesse
saber na cidade que a culpa se remetia e se dava livres sayda a todos de
qualquer nação que não fosse Olandeza que quisesse sayr da cidade.» Ao cabo de
poucos dias recuperaram a cidade brasileira, e D. Afonso mostrou-se generoso,
diz Manuel Severim de Faria, «Entre as pessoas que cobraram liberdade, foi Dom
Francisco Sarmento, Governador que tinha sido de Potosi, que com uma nau sua,
carregada de prata, foi cativo ao entrar na barra, sem saber que estava pelos
Holandeses. Trazia este fidalgo sua mulher e filhas, e posto que as Barras de
sua prata, que os Holandeses lhe tinham tomadas, importavam muitos mil
cruzados, ficou ele sem coisa alguma, e em tal estado, que pediu ajuda e esmola
para se vir a Espanha, de que, compadecendo-se Dom Afonso de Noronha, com ânimo
generoso, vendeu a Baixela, e lhe deu 500 cruzados, ficando em estado que os
outros fidalgos o socorreram até Portugal.».
Na
volta para Portugal, ainda com a armada foi ao socorro de Cádis cercada pelos
ingleses, chegando quando os inimigos já se retiravam. Em 1626 ou 1627 foi chamado
pelo rei de Espanha e Portugal para uma junta em Madrid, criada havia pouco, e
destinada a "prover nas coisas da Índia e companhia Mercantil".
Morreu em Madrid em data incerta.
D.
Afonso casou com Dona Arcangela Maria de Portugal, filha de Dom Pedro de
Noronha, 7.° Senhor de Vila Verde, e de Dona Catarina de Ataíde, e teve como
filhos, D. Joana de Noronha (c. 1580), que casou com Luis Carrilo de Toledo,
1.° Marquês de Caracena. Miguel de Noronha, 4.º Conde de Linhares, 44.º
Governador da Índia e 23.º Vice-rei da Índia.
45º
- Dom Fernão de Albuquerque
(Governador
do Estado da Índia 1619-1622)
Fernão
de Albuquerque (Barcelos, Martim, 1540-29 de janeiro de 1623) foi um militar e
administrador dos estados ultramarinos portugueses. Foi Capitão-Mor de Malaca,
Governador de Ceilão e Capitão de Damão e de Goa, antes de ser nomeado 41.º
Governador da Índia, em 1619, após a morte de João Coutinho, 5.º Conde de
Redondo.
46º
- Dom Francisco da Gama
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1622-1628)
Dom
Francisco da Gama, 4.º Conde da Vidigueira (1565-Oropesa, Julho de 1632) foi um
nobre e militar português. Por duas vezes, foi Governador e Vice-Rei da Índia.
Era bisneto de Vasco da Gama e filho de Vasco da Gama, 3.º Conde da Vidigueira.
Em 1622, foi nomeado novamente vice-rei da Índia. Em sua segunda passagem pela
região, ainda continuava a ter muitos inimigos, mas sua força militar estava
melhor preparada, tendo nesse momento defendido Malaca dos neerlandeses. Em
1628, foi substituído pelo bispo de Meliapor, Dom Luís de Brito e Menezes. Foi
acusado de peculato e incúria, caindo em desgraça perante o rei Felipe de
Portugal e Espanha. Dom
Francisco da Gama casou-se duas vezes. De seu primeiro casamento, com Dona
Maria de Vilhena, filha do vice-rei da Índia Duarte de Menezes, apenas uma
filha sobreviveu à idade adulta, Maria de Vilhena, que casou-se com João de
Ataíde, 4.º conde de Castanheira. De
seu segundo casamento, com Leonor Coutinho, filha do vice-rei da Índia Rui
Lourenço de Távora, teve os seguintes filhos, Maria Coutinho, que casou-se com
Rodrigo da Camara, 3.º conde de Vila Franca, Eufrásia Maria de Távora, que
casou-se com Luis Lobo, 7.º barão de Alvito, Catarina Coutinho, que viveu por
apenas um dia, Vasco Luís da Gama, 5.º Conde da Vidigueira. Guiomar Coutinho,
Teresa Maria Coutinho, Inês Domingas Coutinho e Ana Maria Coutinho.
47º
- Dom Luís de Brito e Meneses
(Governador
do Estado da Índia 1619)
Frei
Luís de Brito e Meneses, OSA (cerca de 1570-Cochim, 29 de Julho de 1629) foi um
religioso português. Foi bispo de São Tomé de Meliapor, de 1615 a 1628, quando
tornou-se o 43.º Governador da Índia. Neste período, foi Bispo de Cochim,
quando veio a falecer.
48º
- Dom Lourenço da Cunha
(Concelho de Governo Interino 1629)
49º - Dom Gonçalo Pinto da Fonseca
(Concelho
de Governo Interino 1629)
50º - Nuno
Álvares Botelho
(Concelho de Governo Interino 1629)
Nuno
Álvares Botelho (Aldeia Galega do Ribatejo, 1590-Samatra, 5 de Maio de 1631)
nobre português é considerado como o último grande capitão da Índia Portuguesa. Filho
do futuro governador do Brasil, Diogo Botelho, e neto dum antigo capitão de
Tânger Francisco Botelho, Nuno Álvares começou a sua carreira militar muito
novo, integrante nas armadas de vigia das costas de Gibraltar e Marrocos, papel
que desempenha entre 1598 e 1616, onde adquire muita experiência em guerra no
mar que lhe será útil nos mares do Oriente. Álvares Botelho parte para a Índia
Portuguesa por duas vezes, em 1617 embarcando com o Vice-Rei D. João Coutinho,
ao comando de uma das seis naus e em 1620 como capitão-mor, embarca, de novo,
ao comando de 4 naus e 6 galeões. Em 1624 parte em definitivo para a Índia para
tentar aliviar a situação no Oceano Índico que começava a tornar-se difícil
para os Portugueses. Nessa
condição, parte para o Estreito de Ormuz para tentar repor o domínio português
nessa zona, recorde-se que Ormuz tinha sido conquistada em 1622 pelos persas
com a ajuda naval dos ingleses. E em Fevereiro de 1625 defronta uma armada
inglesa, no entanto o resultado dessa batalha é inconclusivo, mas permitiu aos
portugueses recuperar o prestígio na região e, provavelmente, salvar Mascate de
mais ataques ingleses. Em 1628 volta a Goa, onde compõem um triunvirato de
Governadores da Índia pelo falecimento do governador anterior e onde o sucessor
não estava claramente definido, entretanto Malaca é cercada pelas forças do
Sultão de Achém por uma formidável armada de 236 embarcações e 19 mil homens,
depois de resolvida a questão de sucessão, tendo sido eleito vice-rei D. Miguel
de Noronha, 4.º Conde de Linhares, Álvares Botelho oferece-se para ir salvar Malaca.
Prepara-se então a armada de socorro a Malaca, composta por 28 navios de remo,
que parte finalmente em Setembro de 1629 comandada pelo capitão Álvares
Botelho. Enquanto
não chegava a armada de socorro, Malaca ia resistindo às investidas inimigas com
tenacidade dos soldados e moradores e com ajuda das robustas fortificações.
Chegada entretanto a armada de Álvares Botelho, procedeu-se então ao confronto,
em que a habilidade do capitão português em combate com a desorientação do
general dos Achéns Lançamane, saldou-se na derrota total da armada inimiga, já
que dos 236 navios e 19 mil homens que foram tentar conquistar Malaca nenhum
voltou ao seu país. Nuno Álvares Botelho foi então recebido em triunfo na
cidade pelo capitão português da praça Gaspar de Melo de Sampaio, procedendo-se
à avaliação do valioso saque, sobretudo em material bélico. Logo
após a sua vitória, tenta aliviar a difícil situação em que a cidade se
encontrava face ao cada vez maior controlo da região pelos holandeses, fazendo
frente às armadas holandesas que proliferavam nas águas da região. No entanto
pouco tempo depois da grande vitória em Malaca, Álvares Botelho morre afogado
depois da fusta onde seguia ter sido atingida por uma nau holandesa, morrendo
afogado. Foi levado para Malaca onde foram celebradas as exéquias solenes,
sendo enterrado na capela-mor. Morrendo assim o último grande capitão português
na Índia, cujos feitos militares causaram grande impressão, nomeadamente entre
os cronistas da época que não deixaram de registar a sua biografia. A grande
vitória que obteve em Malaca, para além de um enorme prestígio militar, o
reconhecimento do Rei Filipe III, patente, tanto na intenção, expressa em carta
enviada à sua viúva, D. Brites de Lima, de pôr luto pela sua memória, como na concessão
do título de 1.º Conde de São Miguel ao seu filho, D. Francisco Nuno Álvares
Botelho.
51º
- Dom Miguel de Noronha
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1629-1635)
Dom
Miguel de Noronha, 4.º Conde de Linhares (1585-Madrid, 1647) foi um nobre e
militar português. Foi governador de Tânger (1624 a 1628), como seu pai D.
Afonso, angariando grande sucesso nas lutas contra os mouros naquela região.
Logo após, foi nomeado 44.º Governador da Índia e 23.º Vice-rei da Índia, cargo
que exerceu de 1629 a 1635. Era neto de Dom Afonso de Noronha, que também foi
vice-rei da Índia. Durante seu vice-reinado na Índia, teve graves problemas com
corrupção e ataques externos, tendo grandes perdas no Ceilão e Mombaça. De
volta à Europa, foi nomeado membro do Conselho de Portugal em Madrid. Neste
cargo, defendeu que Portugal deveria ser um reino incorporado, tendo graves
desavenças com o conde-duque de Olivares, que acreditava que todos os domínios
de Dom Filipe III deveriam ser províncias espanholas. Depois da Guerra da
Restauração, continuou fiel a Felipe III, terminando a sua vida na capital
espanhola.
52º
- Dom Pero da Silva
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1635-1639)
Pero
da Silva ou Pedro da Silva1 (cerca de 1580-Goa, 24 de junho de 1639) foi um
administrador dos estados ultramarinos portugueses.
53º
- Dom António Teles de Meneses
(Governador
do Estado da Índia 1639-1640)
António
Teles de Meneses, 1.º Conde de Vila Pouca de Aguiar (cerca de 1600-Julho de
1657) foi um administrador dos estados ultramarinos portugueses. Foi
nomeado como 46.º Governador da Índia em 1639, onde ficou até 1640. Devia ter
regressado no final desse ano ao Reino de Portugal pois a História o descreve
como sendo um dos Quarenta Conjurados que, na revolução do 1 de Dezembro de
1640, restabeleceram a Independência de Portugal em relação ao jugo de Castela.
Tomou posse na Bahia como 18º governador do Brasil em 26 de Dezembro de 1647.
Era o primeiro conde de Vila Pouca de Aguiar e levava a incumbência de socorrer
a capitania na ameaça do Coronel Sigismund van Schkoppe.
Em
várias terras de Portugal, "fizeram-se levas de homens para a sua armada.
Em Coimbra e Esgueira houve soldados que fugiram e outros que se escusaram,
invocando terem a seu cargo os pais e as mães viúvas. (…) Ordenou-se, ao mesmo
tempo, o embarque para o Maranhão dos presos degredados do Limoeiro, devido à
falta de gente que havia naquela capitania (decreto de 30 de Julho de 1648).”
"Para
fazer frente à ofensiva holandesa contra o Estado Português da Índia, em 1657,
decidiram a Regente e os seus ministros tomar a medida que se impunha: a
reconstituição da nossa armada de alto bordo da Índia. Para o cargo de Vice-Rei
foi nomeado António Teles de Meneses (que já tinha sido governador), um dos
raros chefes de mar que havia em Portugal". Partiu a armada em 4 de Abril,
mas "durante a viagem faleceu. A armada ia toda junta, o que era caso
raro, chegou a salvamento a Mormugão a 5 de Setembro e à barra do Mandovi dois
dias mais tarde."
54º
- Dom João da Silva Telo e Meneses
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1640-1644)
Dom
João da Silva Telo e Meneses, 1.º Conde de Aveiras (cerca de 1600-Moçambique,
1651) foi um nobre e militar português. Nomeado em 1640 como 25.º Vice-rei da
Índia, onde ficou até 1644. No regresso à Portugal, foi feito Regedor das
Justiças. Chegou a ser novamente nomeado Vice-rei da Índia, em 1651, mas morreu
a caminho, em Moçambique. Foi membro do Conselho de Estado e Guerra do Rei Dom
Filipe III, e do Rei Dom João IV. Era Comendador de Arouca na Ordem de Cristo,
e de Moguelas na Ordem de Santiago.
55º
- Dom Filipe de Mascarenhas
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1644-1651)
Filipe
de Mascarenhas (1580-1651?) foi um administrador dos estados ultramarinos
portugueses. Foi governador do Ceilão, de 1630 a 1631, sendo logo após nomeado
Governador de Moçambique, entre 1633 e 1634. Tornou a ser governador do Ceilão,
entre 1640 e 1645. Logo, foi nomeado 26.º vice-rei da Índia, cargo que exerceu
até 1651.
56º
- Dom João da Silva Telo e Meneses
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1651)
Dom
João da Silva Telo e Meneses, 1.º Conde de Aveiras (cerca de 1600-Moçambique,
1651) foi um nobre e militar português. Chegou a ser novamente nomeado Vice-rei
da Índia, em 1651, mas morreu a caminho, em Moçambique. Foi membro do Conselho
de Estado e Guerra do Rei Dom Filipe III, e do Rei Dom João IV. Era Comendador
de Arouca na Ordem de Cristo, e de Moguelas na Ordem de Santiago. No regresso à
Portugal, foi feito Regedor das Justiças. Chegou a ser novamente nomeado
Vice-rei da Índia, em 1651, mas morreu a caminho, em Moçambique. Foi membro do
Conselho de Estado e Guerra do Rei Dom Filipe III, e do Rei Dom João IV. Era
Comendador de Arouca na Ordem de Cristo, e de Moguelas na Ordem de Santiago.
57º
- Dom Francisco dos Mártires
(Membro
do conselho Interino 1651-1652)
Frei
Francisco dos Mártires OFM (Lisboa, 1583-Goa, 25 de Setembro de 1652) foi um
prelado português. Foi nomeado bispo de Macau em 13 de abril de 1630, mas não
teve seu nome confirmado pela Santa Sé. Mas, em 1635, foi nomeado Arcebispo de
Goa e Primaz da Índia. Durante sua prelazia, compôs o 2.º Conselho de Governo
Interino da Índia Portuguesa, que assumiu após a morte de João da Silva Telo e
Meneses.
58ª
- Dom Francisco de Melo e Castro
(Membro
do conselho Interino 1651-1652)
Francisco
de Melo e Castro (Colares, cerca de 1600 - Goa, 1664), foi um administrador dos
estados ultramarino português. Governador do Ceilão. Durante duas
oportunidades, foi membro do Conselho do Governo da Índia Portuguesa. Era pai
de António de Melo e Castro, também administrador português.
59º
- Dom António de Sousa Coutinho
(Membro
do conselho Interino 1651-1652)
António
de Sousa Coutinho (século XVI-11 de junho de 1668) foi um militar e foi um
administrador dos estados ultramarino português. Formou, por duas vezes, o
Conselho de Governo da Índia Portuguesa e foi o último governador do Ceilão
Português em Colombo. Como
desde jovem estava na Índia, recebeu, em 1641, a capitania de Malaca. Como os
neerlandeses estavam dominando a região, foi nomeado capitão-donatário de Goa
e, posteriormente, de Baçaim. Formou o 2.º e o 3.º Conselho de Governo da
Índia. Depois do 2.º Conselho, foi nomeado capitão-general do Ceilão, onde teve
vida dura, imposta pelo cerco neerlandês contra a Ilha. Após oito meses de
batalhas, sem conseguir receber ajuda e já sem pólvora, rendeu-se, em 12 de
maio de 1656. Retornou a Goa, onde foi membro do 3.º Conselho de Governo.
60º
- Dom Vasco de Mascarenhas
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1652-1653)
Vasco
de Mascarenhas, 1.º Conde de Óbidos, (c. 1605-4 de Julho de 1678) foi um
administrador dos estados ultramarino português. Foi um dos primeiros
governadores das armas nomeados por D. João IV e optando pelo distrito do
Algarve. Em 1643, na sequência da Guerra da Restauração e nessa qualidade, na
companhia daquele que veio a ser o 1º conde de Soure, chegou a invadir a
Espanha. Tinha sido governador-geral do Brasil em 1640. Foi Vice-Rei da Índia, de 1652 a 1653.
61º
- Dom Brás de Castro
(Governador
do Estado da Índia 1653-1655)
D.
Brás de Castro foi Governador (intruso) da Índia entre 1653 e 1655. Não
obstante a irregularidade da sua investidura, D. Brás de Castro governou
efectivamente a Índia. Era filho de D. Rodrigo de Castro e de sua mulher D. Ana
de Eça. Em 1649 foi nomeado governador de Macau, passando depois a conselheiro
do Estado da Índia. Em
1653 apossara do poder por meios violentos expulsando Vasco Mascarenhas. Em
1655, o novo Vice-Rei, Rodrigo Lobo da Silveira o aprisionou, com seus saques,
retendo-os na Fortaleza da Aguada e depois os enviou para serem julgados no
reino.
62º
- Dom Rodrigo Lobo da Silveira
(Governador
do Estado da Índia 1655-1656)
63º
- Dom Manuel Mascarenhas Homem
(Governador
do Estado da Índia 1656)
Manuel
Mascarenhas Homem (cerca de 1600-Goa, 27 de Setembro de 1657) foi um
administrador dos estados ultramarinos portugueses. Foi governador do Ceilão
Português e da Índia Portuguesa. Faleceu exercendo a função de Conselheiro da Administração
da Índia.
64º
- Dom Manuel Mascarenhas Homem
(Membro
do conselho Interino 1656-1661)
65º - Dom
Francisco de Melo e Castro
(Membro
do conselho Interino 1656-1661 e governador do Ceilão)
Dom Francisco de Melo e Castro (Colares,
cerca de 1600-Goa, 1664) foi um administrador dos estados ultramarinos
portugueses. Durante duas oportunidades, foi membro do Conselho do Governo da
Índia Portuguesa. Era pai de António de Melo e Castro, também foi um
administrador dos estados ultramarinos portugueses.
66º
- Dom António de Sousa Coutinho
(Membro
do conselho Interino 1656-1661)
António
de Sousa Coutinho (século XVI-11 de junho de 1668) Formou, por duas vezes, o
Conselho de Governo da Índia Portuguesa e foi o último governador do Ceilão
Português em Colombo. Formou
o 2.º e o 3.º Conselho de Governo da Índia. Retornou a Goa, onde foi membro do
3.º Conselho de Governo.
67º
- D. L. de Mendonça Furtado e Albuquerque
(Membro
do conselho Interino 1661)
Dom
Luís de Mendonça Furtado e Albuquerque, 1.º Conde do Lavradio (Lavradio,
1610-Lisboa, 1677) foi um nobre e militar português. Foi
senhor donatário de Lavradio (por sua iniciativa elevado a vila), VIII Sr. do
Morgado e Palácio da Bacalhoa, Governador (1661) e Vice-Rei da India
(1671-1677), dos Conselhos de Estado e da Guerra. Participou
da Guerra da Restauração. Era filho de um dos principais Quarenta Conjurados,
Pedro de Mendoça Furtado (1592-1652), alcaide-mor de Mourão, alcaide-mor e
comendador de Santiago do Cacém, comendador de São Vicente de Vila Franca de
Xira, senhor do Morgado dos Pantoja e da Casa dos Almada-Abranches (Mestre-sala
do Rei), lugar-tenente do príncipe D. Afonso (futuro Rei D. Afonso VI),
comendador-mor da Ordem de Santiago, guarda-mor de D. João IV, e da 2ª mulher
D. Antónia de Mendoça e Albuquerque, filha e sucessora de D. Jerónimo Manoel,
"o Bacalhau", Comendador de São Miguel de Troviscoso e de São
Martinho da Amoreira, capitão-mor da Armada da Índia, porteiro-mor do Rei
Filipe I, e de sua mulher D. Maria de Mendoça e Albuquerque, 4.ª senhora do
Morgado dos Albuquerque (de Afonso de Albuquerque), depois chamado da Bacalhoa
(Azeitão). Foi feito Conde do Lavradio por Dom Pedro II de Portugal, em 16 de
Março de 1670. Esteve na Índia por três vezes, servindo ao Conselho de Governo
Interino. Em 1671, foi nomeado 31.º Vice-rei da Índia e 54.º Governador da
Índia. Ao retornar a Portugal, no final de seu vice-reinado, faleceu ainda em
mar, perto de Lisboa. Por ter morrido solteiro e sem deixar filhos, o título se
extingue, tornando a ser criado em 17 de janeiro de 1725, por Dom João V de
Portugal. Deixou por sucessor e herdeiro testamentário seu irmão Jerónimo de
Mendoça Furtado e Albuquerque.
68º
- Dom Manuel Mascarenhas
(Membro
do conselho Interino 1661)
69º
- Dom Pedro de Lencastre
(Membro
do conselho Interino 1661)
Dom
Pedro de Lencastre (cerca de 1625-Bahia, 1664) foi um militar português,
participou do 4.º e 5.º, Conselhos de Governo Interino da Índia Portuguesa. Era
filho de Lourenço de Lencastre, comendador de Coruche com sua esposa, Inês de
Noronha. Era cunhado de Gregório Taumaturgo de Castelo Branco. Foi capitão de
cavalos no exército da província de Alentejo, capitão-mor da Armada, sendo que
em 1657 partiu para a Índia com o seu tio, António Teles de Meneses, conde de
Vila Pouca de Aguiar, então nomeado vice-rei. Fez
parte do 4.º Conselho de Governo Interino da Índia Portuguesa, em 1661 e do 5.º
Conselho de Governo Interino, entre 1661 e 1662. No retorno ao reino, faleceu
no caminho, na Bahia, em 1664. Um mês antes do retorno, tinha-se casado com sua
prima, Margarida de Távora, filha de Fernão Teles de Meneses, 1.º Conde de
Unhão.
70º
- D. L. de Mendonça Furtado e Albuquerque
(Membro
do conselho Interino 1661-1662)
Dom
Luís de Mendonça Furtado e Albuquerque, 1.º Conde do Lavradio (Lavradio,
1610-Lisboa, 1677) foi um nobre e militar português. Foi
senhor donatário de Lavradio (por sua iniciativa elevado a vila), VIII Sr. do
Morgado e Palácio da Bacalhoa, Governador (1661) e Vice-Rei da India
(1671-1677), dos Conselhos de Estado e da Guerra. Participou
da Guerra da Restauração. Esteve na Índia por três vezes, servindo ao Conselho
de Governo Interino. Em 1671, foi nomeado 31.º Vice-rei da Índia e 54.º
Governador da Índia. Ao retornar a Portugal, no final de seu vice-reinado, faleceu
ainda em mar, perto de Lisboa. Por ter morrido solteiro e sem deixar filhos, o
título se extingue, tornando a ser criado em 17 de janeiro de 1725, por Dom
João V de Portugal. Deixou por sucessor e herdeiro testamentário seu irmão
Jerónimo de Mendoça Furtado e Albuquerque.
71º
- Dom António de Melo e Castro
(Membro
do conselho Interino 1661-1662)
António
de Melo e Castro foi um administrador dos estados ultramarinos portugueses. Foi
o 52.º Governador da Índia e 29.º Vice-rei da Índia. Antes, por duas vezes
compôs Conselhos de Administração da Índia. Após a morte de João Nunes da
Cunha, compôs novo Conselho. Foi um dos Quarenta Conjurados que, na revolução
do 1 de Dezembro de 1640, restabeleceram a Independência de Portugal em relação
ao jugo de Castela. Era filho de Francisco de Mello e Castro e pai de Caetano
de Melo e Castro, também administrador dos estados ultramarinos da Índia
Portuguesa. Casou em 1640, com Ana de Castro, filha de Jorge de Sousa de
Menezes, 2º copeiro-mor do reino e de D. Violante de Castro.
72º
- Dom Pedro de Lencastre
(Membro
do conselho Interino 1661-1662)
Dom
Pedro de Lencastre, fez parte do 4.º Conselho de Governo Interino da Índia
Portuguesa, em 1661 e do 5.º Conselho de Governo Interino, entre 1661 e 1662.
No retorno ao reino, faleceu no caminho, na Bahia, em 1664.
73º
- D. L. de Mendonça Furtado e Albuquerque
(Membro
do conselho Interino 14 de Dezembro a 16 de Dezembro de 1662)
74º
- Dom António de Melo e Castro
(Membro
do conselho Interino 14 de Dezembro a 16 de Dezembro de 1662)
António
de Melo e Castro foi um administrador dos estados ultramarinos portugueses. Foi
o 52.º Governador da Índia e 29.º Vice-rei da Índia. Antes, por duas vezes
compôs Conselhos de Administração da Índia. Após a morte de João Nunes da
Cunha, compôs novo Conselho. Foi um dos Quarenta Conjurados que, na revolução
do 1 de Dezembro de 1640, restabeleceram a Independência de Portugal em relação
ao jugo de Castela. Era filho de Francisco de Mello e Castro e pai de Caetano
de Melo e Castro, ambos também administradores do estado da Índia Portuguesa.
Casou em 1640, com Ana de Castro, filha de Jorge de Sousa de Menezes, 2º
copeiro-mor do reino e de D. Violante de Castro.
75º
- Dom António de Melo e Castro
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1662-1666)
António
de Melo e Castro, foi o 52.º Governador da Índia e 29.º Vice-rei da Índia.
Antes, por duas vezes compôs Conselhos de Administração da Índia. Após a morte
de João Nunes da Cunha, compôs novo Conselho. Foi um dos Quarenta Conjurados
que, na revolução do 1 de Dezembro de 1640, restabeleceram a Independência de
Portugal em relação ao jugo de Castel.
76º
- Dom João Nunes da Cunha
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1666-1668)
João
Nunes da Cunha, 1.º Conde de São Vicente (Lisboa, 1619-Goa, 7 de Novembro de
1668) foi um nobre e administrador do estado ultramarino português. Em 2 de
abril de 1666, por carta régia, foi feito Conde de São Vicente por Dom Afonso
VI de Portugal. Foi nomeado vice-rei da Índia, cargo que exerceu até a morte.
77º
- Dom António de Melo e Castro
(Conselho
de Governo Interino 1668-1671)
78º
- Dom Luís de Miranda Henriques
(Conselho
de Governo Interino 1668-1671)
79º
- Dom Manuel Corte-Real de Sampaio
(Conselho
de Governo Interino 1668-1671)
Dom
Manuel Corte-Real de Sampaio (Goa, cerca de 1630) foi um administrador colonial
luso-Indiano. Serviu como Conselheiro de Governo da Índia Portuguesa, junto com
António de Melo e Castro e Luís de Miranda Henriques, após a morte do Conde de
São Vicente. Sua filha, Paula Iria, casaria com Miguel de Almeida, futuro
governador da Índia Portuguesa.
80º
- D. L. de Mendonça Furtado e Albuquerque
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1671-1676)
Dom
Luís de Mendonça Furtado e Albuquerque, 1.º Conde do Lavradio (Lavradio,
1610-Lisboa, 1677). Governador
(1661) e Vice-Rei da India (1671-1677), dos Conselhos de Estado e da Guerra.
Participou da Guerra da Restauração. Em 1671, foi nomeado 31.º Vice-rei da
Índia e 54.º Governador da Índia. Ao retornar a Portugal, no final de seu
vice-reinado, faleceu ainda em mar, perto de Lisboa.
81º
- Dom Pedro de Almeida
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1676-1678)
Dom
Pedro de Almeida, primeiro conde de Assumar, (1630-Goa, 22 de Março de 1679) foi um militar português. Morreu de uma doença
que lhe sobreveio no sítio de Pate na costa da África. Era
filho de D. João de Almeida, senhor da casa de seu pai, comendador de Santa
Maria de Loures na Ordem de Cristo, alcaide-mor de Alcobaça, vedor da Casa Real
de D. João IV de Portugal e D. Afonso VI de Portugal. Reposteiro-mor e
Gentil-Homem de Câmara do Rei quando sua mãe D. Luísa de Gusmão lhe pôs casa.
Sua varonil beleza se tornou tão apreciada que era conhecido pelo apelido de «O
Formoso». Casou com D. Violante Henriques, Guarda-mor da Rainha D. Maria
Francisca Isabel de Sabóia quando enviuvou. Era filha de D. Marcos de Noronha,
que combateu em Alcácer Quibir e foi resgatado, Senhor do Morgado e Padroado do
convento do Salvador de Lisboa e sua mulher Maria Henriques. Violante era irmã
de D. Tomás de Noronha, 3° Conde dos Arcos, do Conselho de Estado e Presidente
do Conselho Ultramarino. Era
neto de D. Lopo de Almeida, comendador de Santa Maria de Loures na Ordem de
Cristo, alcaide-mor e capitão-mor de Alcobaça, sobrinho do Arcebispo de Lisboa
D. Jorge de Almeida, Dom Abade comendatário de Alcobaça. Foi sua mulher D.
Joana de Portugal, filha e herdeira de D. João de Portugal, da casa dos condes
de Vimioso, e D. Madalena de Vilhena, filha e herdeira de Francisco de Sousa
Tavares, capitão-mor da Índia e das fortalezas de Cananor e Diu. D. João
acompanhou o rei a Alcácer Quibir onde morreu e Madalena casou por segunda vez
com Manuel de Sousa Coutinho, tomando mais tarde o hábito das Religiosas do
Mosteiro do Sacramento de Lisboa e ele o de São Domingos de Benfica, com nome
Frei Luís de Sousa, tendo composto as Crónicas de sua Ordem e a Vida do
Venerável Frei Bartolomeu dos Mártires. Nunca mais se viram nem se comunicaram,
fosse por escrito. D. João de Portugal e Madalena tiveram dois filhos, D. Luís
de Portugal, herdeiro de sua casa, que serviu em Ceuta onde, brincando, meteu o
ferro de sua lança pela testa e morreu e D. Joana de Portugal. Foi
comendador na Ordem de Cristo de Santa Maria de Loures, de São Salvador do
Souto e São Salvador de Baldréu. Vereador da Câmara de Lisboa (“no tempo em que
o foram pessoas da sua qualidade”). 1° Donatário de Assumar. Instituidor do
vínculo de Vale de Nabais. Deputado da Junta dos Três Estados. Fora antes
capitão de cavalos e mestre de campo de um Terço de Infantaria na guerra do
Alentejo. 32° Vice-Rei na Índia, onde destruiu a esquadra árabe de Pate. Na
guerra da Restauração recebeu patente de mestre-de-campo de Infantaria. Por
estes serviços foi criado donatário de Assumar em carta de 11 de abril de 1677
na regência de D. Pedro, mais tarde D. Pedro II de Portugal, com o senhorio da
mesma vila e do Conselho de Estado do mesmo D. Pedro II e Vedor da Fazenda da
Casa Real na mesma data. Seu decreto como Vice-Rei da Índia é também de 11 de abril
de 1677. Lê-se
em Monstruosidades do tempo e da fortuna, «D. Pedro de Almeida, provedor das
valas de Santarém, ficou por valido de El-Rei (Afonso VI de Portugal) depois
que se lhe tirou o Conde de Castelo Melhor, mas com tão pouca fidalguia que era
valido e espia. Apresentou na noite em que o Rei dera o governo do Reino a Sua
Alteza uma petição em que lhe pedia 3 mil cruzados cada ano em comendas e o
título de conde em duas vidas. Despachou-o El-Rei como pedia. Na 1ª audiência
que o Príncipe Regente deu, apresentou a D. Pedro este despacho, confiado no
trato nobre com que havia servido e não advertindo que os Príncipes tanto
aborrecessem o traidor quanto estimam a traição. Saiu com uma rubrica que não
valia nada a mercê, porque não fora feita em tempo hábil e fora alcançada
subrepticiamente.»
Casou
com D. Margarida André de Noronha, Dama da Rainha D. Luísa, filha de D.
Fernando Mascarenhas, 1º Conde da Torre de juro e herdade e de D. Maria de
Noronha, irmã de D. Rodrigo da Silveira, 1° Conde de Sarzedas. Teve os
seguintes filhos, D. João de Almeida Portugal, 2° conde de Assumar, D. Lopo de
Almeida Portugal (morto em 3 de janeiro de 1744), cavaleiro professo da Ordem
de São João de Malta, seu Recebedor durante muitos anos e seu Procurador em
Portugal, depois Bailio de Negroponto, Grão Chanceler (ou Grão-Mestre) da
Religião em Portugal. Serviu na guerra contra Castela, mestre-de-campo de
Infantaria na Guerra da Liga, vedor das Casas da Princesa das Astúrias e da
Princesa do Brasil, Bailio de Leça. Beneficiado de Águas Santas, Casaréu e Vera
Cruz, D. Fernando de Almeida Portugal (morto em 9 de Novembro de 1712).
Porcionista do Colégio Real de São Paulo de Coimbra, cónego da Sé de Coimbra,
deputado do Santo Oficio da Inquisição de Lisboa, sumilher da Cortina de D.
Pedro II e D. João V, Deputado da Junta dos Três Estados. Instituidor do
morgadio de Vale de Nabais em Santarém, D. Maria Benta de Almeida Portugal
Noronha (morta em 8 de Março de 1731), dama da Rainha D. Maria Francisca de
Sabóia. Casou com Gastão José da Câmara Coutinho (1662-1736), Senhor ou
donatário das Ilhas Desertas (e Regalados?), alcaide-mor de Torres Vedras,
comendador na Ordem de Cristo de Santa Maria de Casável, Santiago de Caldelas,
Santo André da Vila Boa de Quires, coronel de um regimento de Ordenanças de
Lisboa, Vedor das Casas das Rainhas Maria Francisca Isabel de Sabóia e Mariana
de Áustria, desta foi ainda Estribeiro-Mor, muito dado ao estudo da genealogia.
82º
- Dom António Brandão
(Governador
do Estado da Índia 1678)
Dom
António Brandão, Arcebispo de Goa e Primaz das Índias, O.C. (Alcobaça,
1620-Goa, 6 de Julho de 1681) foi um religioso português, Arcebispo de Goa e
Primaz das Índias. Por um período, foi Governador da Índia interino, ora junto
com António Pais de Sande, ora sozinho.
83º
- Dom António Pais de Sande
(Governador
do Estado da Índia 1678)
António
Pais de Sande (Estremoz, 1622-Rio de Janeiro, 22 de Fevereiro de 1695) foi um
administrador dos estados ultramarinos portugueses. Participou nas campanhas da
Restauração. Foi governador de Monção e provedor das Armadas do Reino. Em 24 de
Março de 1666 foi nomeado secretário-geral da Índia Portuguesa, onde permaneceu
durante 12 anos. Foi membro do 8.º Conselho de Governo Interino da Índia
(1678). Regressado a Lisboa, recebeu a nomeação de membro do Conselho
Ultramarino. Era comendador da Ordem de Cristo e Alcaide de
Santiago do Cacém. Casou
com Catarina de Castro, de cujo casamento descende a ilustre família Pais de
Sande e Castro, Senhores do morgado e casa do Cabo, em São João da Pesqueira,
ligada por casamento à primeira nobreza do Reino. Escreveu ao Rei sobre os
paulistas, «São briosos, valentes, impacientes da menor injúria, ambiciosos de
honra, amantíssimos da sua pátria, benéficos aos forasteiros e adversíssimos a
todo ato servil, pois até aquele cuja muita pobreza lhe não permite ter quem o
sirva, se sujeita antes a andar muitos anos pelo sertão em busca de quem o
sirva, do que a servir a outrem um só dia.» Tinha razão, provam as rebeliões
contra Salvador Correia, o aniquilamento das missões, a expulsão dos jesuítas,
as desavenças com os espanhóis, as sublevações contra a alteração da moeda...
84º
- Dom António Brandão
(Arcebispo
de Goa e Primaz das Índias, Governador Interino 1678-1681)
85º
- Dom Francisco de Távora
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1681-1686)
86º
- Dom Rodrigo da Costa
(Governador
do Estado da Índia 1686-1690)
Rodrigo
da Costa (Portugal, 1657-16 de Novembro de 1722) foi um fidalgo português,
administrador ultramarino. Governador-geral do Brasil, em sua gestão
(1702-1708) iniciou-se a exploração do ouro nas Minas Gerais. No Sul, foi
evacuada a Colônia do Sacramento. Foi também vice-rei da Índia e governador da
Ilha da Madeira. Era cavaleiro da Ordem de Cristo.
87º
- Dom Miguel de Almeida
(Governador
do Estado da Índia 1690-1691)
88º
- D. F. Martins Mascarenhas de Lencastre
(Conselho
do Governo Interino 1691)
89º
- Dom Luís Gonçalves Cota
(Conselho
do Governo Interino 1691)
90º
- D. F. Martins Mascarenhas de Lencastre
(Conselho
do Governo Interino 1691-1692)
91º
- Dom Agostinho da Anunciação
(Conselho
do Governo Interino 1691-1692)
Dom
Frei Agostinho da Anunciação, Ordem de Cristo (?-Goa, 6 de abril de 1713) foi
um prelado português. Foi Arcebispo de Goa e participou do 7.º e 8.º Conselho
de Governo da Índia Portuguesa.
92º
- D. Pedro A. de M. Noronha de Albuquerque
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1692-1697)
Pedro
António de Meneses Noronha de Albuquerque, primeiro marquês de Angeja, (13 de
junho de 1661-16 de Julho de 1731) foi um administrador português, vice-rei do
Brasil e da Índia Portuguesa. Segundo conde de Vila Verde, 13° senhor de
freguesia portuguesa de Vila Verde dos Francos e dos lugares de Lapaduço,
Portela do Sol, Rechaldeira, e das vilas de Angeja, Bemposta e Pinheiro, dos
lugares de S. Martinho de Salreu, Fermelã, Vermelhinha, Canelas, Pinheiro a
Branca, alcaide-mor e comendador de Aljezur, na ordem de São Tiago, e de Santa
Maria de Penamacor, e do Prestimónio de São Salvador de Moucos, todas na Ordem
de Cristo; e dos padroados de S. João da Praça de Lisboa, e da paróquia de Vila
Verde, e do mosteiro de N. Sr.ª dos Anjos da referida vila e de Santo António,
de Aveiro; vedor da Fazenda, do conselho de Estado e de guerra, mordomo-mor da
princesa do Brasil. Passou
à Índia em 1692, como vice-Rei, e voltou em 1699. Foi general da cavalaria da
província do Alentejo, mestre de campo general, e com este posto esteve na
campanha de 1706, «em que o nosso exército, comandado pelo Marquês das Minas,
ocupou Madrid, tomando o Marquês grande parte; depois de diversas campanhas,
voltando ao reino, do principado da Catalunha, foi em 1710 comandar o exército
do Alentejo com o cargo de governador das armas da província, em 1713 teve a
nomeação de vice-Rei do Brasil e capitão general de mar e terra, com
intendência e superioridade em todas as capitanias da América, donde voltou em
1718. Desde
1676 casara com D. Isabel Maria Antónia de Mendonça, filha de Henrique de Sousa
Tavares 1.º Marquês de Arronches, 3.º conde de Miranda, governador da Relação
do Porto, do conselho de Estado, senhor da casa de Sousa, e de sua mulher, D.
Mariana de Castro. Foi marquês, em título concedido por D. João V de Portugal
por carta régia de 21 de janeiro de 1714. Foi pai de, D. António de Noronha,
(1680-1735) 3.º conde de Vila Verde e 2.º marquês de Angeja.
93º
- Dom António Luís Coutinho da Câmara
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1697-1701)
António
Luís Coutinho da Câmara (Portugal, 1638-Bahia, 1702) foi um administrador
colonial na Índia e no Brasil enquanto colónias portuguesas. Por
renúncia de seu padrasto Francisco de Faria (segundo marido da sua mãe, mas
antes, possivelmente, seu primo) e “mercê del Rey”, era almotacé-mor do reino.
Título esse confirmado por carta régia de 8 de janeiro de 1671, e que o
garantia entre os primeiros nobres da corte. Herdou a Capitania do Espírito
Santo, que vendeu em 1674. Entre 1698 e 1701, foi o 35.º Vice-Rei da Índia e
60.º Governador-Geral da Índia. Retornou à Bahia, onde viria a falecer em 1702. É
autor de uma conhecida carta ao rei de Portugal, Dom Pedro II, onde afirma:
"Considerando
eu a miséria e a penúria a que todo este Estado do Brasil se vai, ou esteja
reduzido, me parece não satisfaria a minha obrigação e ao zelo do servidor de
Vossa Majestade e bem destes povos se não representasse, como por este papel
faço a Vossa Majestade, a urgente opressão em que de presente se acham esta e
as demais praças deste Estado."
Em
seu entendimento, eram três as razões da penúria:
"A
primeira é a grande perda que teve e sentiu no abatimento do dinheiro
serrilhado." Havia carência de moeda, "aquele nervo vital do corpo
político ou o sangue dele que, derivando-se e correndo pelas veias deste corpo,
o anima e lhe dá forças."
A
segunda, na baixa do preço do açúcar, "porque como pelo abatimento dos
açúcares neste reino é gastos nos fretes, comboio e mais direitos, apenas se
tira lá o preço que aqui se dá por eles, tem mais conta aos que trazem fazendas
que são muitos levar dinheiro do que açúcar."
E
a terceira era o défice, na balança de pagamentos, "de se levar a moeda
deste Estado para o reino…"
António
Luis Coutinho da Camara, 35º vice-rei da Índia, 29º Governador do Brasil. Filho
de, Ambrósio de Aguiar Coutinho, donatário da capitania do Espírito Santo, e de
D. Filipa de Menezes filha de Lourenço de Sousa da Silva, comendador de S.
Tiago de Beduido e D. Luísa de Menezes. Casado em 1674 com, Dona Constança de
Portugal, em 1674, filha de Luís da Silva Telo de Meneses, 2.º Conde de Aveiras
e de D. Joana Inês de Portugal, senhora do morgado de Vale de Palma. Tiveram 3
filhos, João Gonçalves da Camara Coutinho, comendador de Santiago de Bonfe ou
Ronfe, de S. Miguel de Bobadela e São Salvador de Maiorca, nascido a 7 de Maio
de 1675. Casado, a 19 de Maio de 1698, com D. Luísa de Menezes, Dama do Paço,
filha de D. Lourenço de Almada, 12º senhor dos Lagares d' El-Rei, 7º senhor de
Pombalinho, e de D. Catarina Henriques, Dama do Paço, Pedro Gonçalves da
Camara, Luís Gonçalves da Camara casado com Maria Coelho.
94º
- Dom Agostinho da Anunciação
(Conselho
de Governo Interino 1701-1702)
95º
- Dom Vasco de Lima Coutinho
(Conselho
de Governo Interino 1701-1702)
96º
- Capitão Caetano de Melo e Castro
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1702-1707)
Caetano
de Melo e Castro (ca. 1680-6 de abril de 1718) foi um administrador dos estados
ultramarinos portugueses. Filho de António de Melo e Castro e neto de Francisco
de Mello e Castro. Em 1683 foi nomeado capitão-general de Sena, Sofala e
Moçambique. Foi nomeado governador-geral de Pernambuco, de 13 de junho de 1693 a
5 de Março de 1699. No exercício deste cargo reprimiu a revolta dos escravos de
Palmares. De
1702 a 1707, foi governador e vice-rei da Índia Portuguesa. Durante seu
vice-reinado, reprimiu com êxito ataque dos árabes de Omã a Damão, conseguindo
formar uma esquadra. Regressado a Portugal, em 1707, foi agraciado com a
comenda de Santa Maria de Oliveira de Azeméis. Foi sepultado no convento dos
Carmelitas de Colares.
97º
- Dom Rodrigo da Costa
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1707-1712)
Rodrigo
da Costa (Portugal, 1657-16 de Novembro de 1722) foi um fidalgo português e um
administrador dos estados ultramarinos portugueses. Governador-geral do Brasil,
em sua gestão (1702-1708) iniciou-se a exploração do ouro nas Minas Gerais. No
Sul, foi evacuada a Colónia do Sacramento. Foi também vice-rei da Índia e
governador da Ilha da Madeira. Era cavaleiro da Ordem de Cristo.
98º
- Dom Vasco Fernandes César de Meneses
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1712-1717)
Vasco
Fernandes César de Meneses, 1º Conde de Sabugosa, (16 de Outubro de 1673-24 de
Outubro de 1741) foi alferes-mor do reino, alcaide-mor de Alenquer, comendador
de São João de Rio Frio e de São Pedro de Lomar, vice-rei da Índia e do Brasil,
filho de D. Mariana de Lencastre e Luís César de Meneses, também comendador das
localidades do filho, governador do Rio de Janeiro, capitão-general de Angola e
da Bahia posteriormente. Durante
seu vice-reinado na Índia, submeteu o Rajá Kanará, através do bloqueio de
Barcelor, Calianapor, Catapal, Moloquim, Mangalor, entre outras localidades. O
rajá de Sunda, temendo também por seus domínios, propõe paz. Desejando voltar à
Corte, o Conde de Sabugosa entrega o cargo, pelas vias de sucessão, ao
Arcebispo de Goa Dom Sebastião de Andrade Pessanha, partindo assim para Portugal.
Já em 1720, é nomeado vice-rei do Brasil, para onde parte, governando desde
Salvador. Durante seu vice-reinado, a colônia foi assolada por secas e pelo
desabas tecimento, mas conseguiu defender o território de ataques estrangeiros.
99º
- Dom Sebastião de Andrade Pessanha
(Governador
do Estado da Índia 1717)
Dom
Sebastião de Andrade Pessanha (Évora, 1676-Lisboa, 11 de Março de 1737) foi um
prelado português. Estudou na Universidade de Évora. Foi arcebispo de Goa de
1716 a 1720, quando renunciou ao cargo e voltou para Portugal. Durante sua
prelazia naquela Arquidiocese, foi governador da Índia Portuguesa, entre 13 de
janeiro e 16 de Outubro de 1717.
100º
- D. Luís Carlos Inácio Xavier de Meneses
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1717-1720)
Luís
Carlos Inácio Xavier de Meneses, 5º conde da Ericeira, 1º marquês do Louriçal,
(Lisboa, 1689-Goa, 1742), foi um nobre e administrador português, vice-rei da
índia portuguesa entre 1717 e 1721 e entre 1740 e 1742. Aplicado
em livros, serviu na guerra da alta aliança e fez coisas de juízo e valor.
Educado pelo pai, por D. Luís e D. Fernando de Menezes, conviveu com os que
concorriam às Conferências Eruditas e estudou, além de línguas modernas
habituais e do latim, as matemáticas e a geografia, «sem gastar muito tempo nas
miudezas escolásticas». Bom militar, como provou nas campanhas da guerra de
Espanha (como coronel e brigadeiro de infantaria no exército do Alentejo) e na
acção na India contra piratas, e régulos subvencionados, mas seus interesses
principais estavam no campo da economia, finanças, cultura e erudição. Os
seus dois governos na Índia, o primeiro aos 27 anos como Vice-Rei e
capitão-general da India em 1717-1721 e 1740-1742, foram notáveis (sobretudo o
primeiro, quando venceu os árabes por três vezes e ganhou a cidade de
Pot-Patane e a ilha de Zumba) do ponto de vista da administração pública, por
ter restabelecido a ordem económica e financeira do domínio, e ter dado à
armada força suficiente para assegurar ao comércio português a livre passagem
pelos mares orientais. Diz dele Veríssimo Serrão, que «foi o maior dos
governantes do Oriente na primeira metade do Setecentos».
«Mereceram-lhe
especial interesse as praças do Norte, onde já então se fazia sentir a ameaça
dos Maratas, pelo que restaurou as muralhas de Damão e de Diu. Graças ao
almirante António de Figueiredo Dutra, foram os árabes vencidos em três
encontros navais. Escreveu um relatório a propor meios para se atalhar os males
e carências da Índia. No seu entender, deviam procurar-se boas relações com os
potentados vizinhos, incluindo o Grão-Mogol e o xá da Pérsia, a quem enviou
embaixadores com protestos de amizade».
Como
homem de grandes interesses intelectuais, devem-se ressaltar suas relações com
Jussieu, ao qual comunicou exemplares e descrições de plantas de Portugal e do
ultramar; o seu suplemento, em francês, do Dictionnaire Historique de Moreri; a
Tradução da Histoire de Charles XII de Voltaire e um Vocabulário dos indígenas
de Madagáscar. Embora
ligado pelo casamento à filha do conde da Ribeira Grande, à melhor nobreza do
reino e da França, recebido com todas as honras pelo Duque de Orleans e por
Luís XV de França, a Rainha viúva da Espanha e os príncipes de Rohan, seus
parentes próximos, não gozava do favor de D. João V de Portugal, por questão de
desconfiança pessoal, por acusações que lhe moveram, depois do primeiro governo
da Índia, pelas relações mantidas com o Infante D. Manuel de Bragança, pela sua
cultura «estrangeirada» e também sua dúvida pelas intrigas que lhe moveram os
ofendidos pelo «Discurso Político». Protegeu
as fábricas que o conde, seu avô estabeleceu apesar da decadência em que as
achou. Na volta do seu governo de vice-rei na India, veio para a França, entre
outros conhecimentos que aí adquiriu foi o principal o do estado de perfeição
das Artes. Havendo-se recolhido ao reino em 1723, achou vedada sua entrada no
Paço até 1736 mas em tais 13 anos fez os maiores estudos na Economia
Política, tomando todo o conhecimento do estado da Agricultura, das Artes e do
Comércio.
«A
primeira vez em que beijou a mão a El-Rei, apresentou um Discurso Político
sobre os interesses do Reino, para mostrar que não estivera ocioso, ocupara
aquele tempo em fazer-se útil à Pátria. Entre outras inadvertências ou
descuidos que lembrou, tocou largamente embora com moderação e prudência, no
demasiado aumento do Clero secular e regular e na sua amontoada riqueza. O
poder do clero escandalizado do conteúdo dele, coadjuvado dos poderes da
Superstição, do Fanatismo e da Ignorância, deu ao autor a denominação de falto
de Religião.»
É de notar, entretanto, que mesmo durante o período em que não era recebido pelo
Rei, respondia a consultas que lhe eram dirigidas pelo Conselho Ultramarino. Casou
com Ana Xavier de Rohan, filha de José Rodrigo da Câmara, 2° Conde da Ribeira
Grande, e Constança Emília de Rohan Soubise. Foram seus descendentes, Francisco
Xavier Rafael de Menezes, 6º Conde da Ericeira, 2º Marquês do Louriçal, senhor
da Ericeira; 4º senhor de Ancião, 10º senhor do Louriçal, Constança Xavier de
Menezes, casada ca. 1740, com seu primo José Félix da Cunha Menezes, senhor do
morgado de Paio Pires, Henrique de Menezes (1727-1787) 7º Conde da Ericeira e
3º Marquês de Louriçal, senhor da Ericeira, 5º senhor de Ancião, 11º senhor do
Louriçal, José Vicente de Menezes, Joana de Menezes, Margarida Xavier de
Menezes, Fernando de Menezes. Quando
faleceu, o «Elogio de Luis Carlos Inácio Xavier de Menezes, 5° conde da
Ericeira, 1° Marquês de Louriçal", impresso em Londres, foi redigido pelo
académico Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro conde de Oeiras e Marquês
de Pombal.
101º
- Dom Francisco José de Sampaio e Castro
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1720-1723)
Francisco
José de Sampaio e Castro (1675-Palácio da Casa da Pólvora, Goa, 13 de Julho de
1723), 11.º Senhor de Vila Flor, foi um administrador colonial português, sendo
o 40.º Vice-Rei da Índia e 66.º Governador da Índia. Veio a falecer de morte
súbita no Palácio da Casa da Pólvora, em Goa, onde jaz sepultado na Basílica do
Bom Jesus. Era filho de Francisco de Sampaio, governador das armas de
Trás-os-Montes1 e de sua mulher, D. Joana de Távora. Em 1698, casou-se com
Jerónima de Bourbon, filha de António de Almeida Portugal, 2.º Conde de
Avintes, sendo irmã do patriarca lisboeta Tomás de Almeida, de Luís de Almeida
Portugal, 3.º Conde de Avintes e de Lourenço de Almeida. Teve um único filho,
Manuel António de Sampaio, 12.º Senhor de Vila Flor.
102º
- Dom Cristóvão de Melo
(Governador
Interino 1723)
Cristóvão
de Melo (Évora, 1672-Goa, 9 de abril de 1734) foi um administrador português,
sendo o 67.º Governador da Índia e participando do 12.º Conselho de Governo da
Índia, junto com Dom Frei Inácio de Santa Teresa e com Cristóvão Luís de
Andrade, quando era o vedor da Fazenda e do 13.º Conselho de Governo da Índia,
com o Frei Inácio de Santa Teresa e com Tomé Gomes Moreira.
103º
- Dom Cristóvão de Melo
(Conselho
de Governador Interino 1723-1725)
104º
- Dom Inácio de Santa Teresa
(Conselho
de Governador Interino 1723-1725)
Dom
Frei Inácio de Santa Teresa O.S.A. (Porto, 22 de Novembro de 1682-Faro, 15 de
abril de 1751) foi um prelado português. Foi nomeado arcebispo de Goa em 1721,
cargo que exerceu até 1740. Durante sua prelazia em Goa, exerceu a função de
membro do Conselho de Governo da Índia Portuguesa, por duas vezes (12.º e 13.º
Conselhos). Em 1740, é nomeado bispo de Faro, mas levando seu título pessoal de
Arcebispo, cargo em que ficou até a sua morte, em 1751.
105º
- Dom Tomé Gomes Moreira
(Conselho
de Governador Interino 1723-1725)
106º
- Dom Cristóvão Luís de Andrade
(Conselho
de Governador Interino 1723-1725)
107º
- Dom João de Saldanha da Gama
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1725-1732)
Dom
João de Saldanha da Gama (19 de Março de 1674-Lisboa, 5 de Maio de 1752) foi o
41.º vice-rei da Índia, governador e capitão-general da Ilha da Madeira. Dom
João de Saldanha da Gama nasceu em 19 de Março de 1674, filho do
capitão-general de Mazagão, Luís Saldanha da Gama. Começou a sua carreira de
militar ainda jovem, com o pai em Mazagão, atingindo o posto de coronel de
Infantaria. Entre 1725 e 1732, Saldanha da Gama assume o cargo de vice-rei da
Índia. À frente das suas tropas, reconquistou Mombaça. Escreveu algumas obras,
das quais se destaca Elogio Fúnebre do Marquês das Minas, D. António Luiz de
Menezes, incluído no tomo VI das Provas da História Genealógica da Casa Real Portuguesa. Casou
em Lisboa, na freguesia da Ajuda, em 9 de Dezembro de 1703 com Joana Bernarda
de Noronha e Lancastre (nascida em28 de Dezembro de 1686). Tiveram os seguintes
filhos, Luís de Saldanha da Gama Melo Torres, 4º conde da Ponte (nascido em 9
de Dezembro de 1704) e casado com Ana Joaquina de Menezes, Mariana Josefa
Joaquina de Lancastre (nascida em 3 de Abril de 1708 e casada com seu primo
Martim Correia de Sá, 4ºvisconde de Asseca, António Francisco de Saldanha da
Gama (final de 1708), Madalena de Lancastre (Março de 1709), freira no Mosteiro
da Anunciada, José de Saldanha da Gama (15 de Abril de 1711) casado com Ana
Joaquina de Melo e Castro, D. Francisco de Saldanha da Gama (20 de Maio de 1713-1
de Novembro de 1776) que foi o terceiro cardeal patriarca de Lisboa, estudara
como porcionista do Colégio Real de S. Paulo, Coimbra, Manuel de Saldanha da
Gama (Setúbal, freguesia de São Lourenço (Vila Nogueira de Azeitão 21 de
Fevereiro de 1715 - Lisboa, freguesia de Santos o Velho, 7 de Novembro de 1780)
casado na Bahia com Joana da Silva Caldeira Pimentel Guedes de Brito (Bahia, cerca
1700-1762), filha do mestre de campo Antônio da Silva Pimentel (morto em 1706),
e de Isabel Maria Guedes de Brito, senhora de enorme fortuna. Enviuvando,
voltou a Lisboa, e na freguesia de Santos o Velho casou em 28 de Abril de 1771
com Francisca Joana Josefa da Câmara (27 de Dezembro de 1740-?) de quem teria
descendência. Foram filhos do casal, Joana Maria do Resgate de Saldanha da Gama
(20 de Fevereiro de 1771) casada com António José de Miranda Henriques, 1º
visconde de Sousel, João de Saldanha da Gama Melo Torres Guedes Brito, 6.º
conde da Ponte (4 de Dezembro de 1773-?) casado com Maria Constança de Saldanha
Oliveira e Daun, António de Saldanha da Gama, conde de Porto Santo, Ana
Joaquina de Lancastre (24 de Julho de 1721-?) casou com António José de Melo e
Torres, 3º conde da Ponte e depois com José Joaquim de Miranda Henriques, Maria
Bárbara Xavier de Lancastre (2 de Fevereiro de 1722-?) casada com José Joaquim
de Miranda Henriques.
108º
- Dom Inácio de Santa Teresa
(Conselho
de Governo Interino 1732)
Dom
Frei Inácio de Santa Teresa O.S.A. (Porto, 22 de Novembro de 1682-Faro, 15 de
abril de 1751) foi um prelado português. Foi nomeado arcebispo de Goa em 1721,
cargo que exerceu até 1740. Durante sua prelazia em Goa, exerceu a função de
membro do Conselho de Governo da Índia Portuguesa, por duas vezes (12.º e 13.º
Conselhos). Em 1740, é nomeado bispo de Faro, mas levando seu título pessoal de
Arcebispo, cargo em que ficou até a sua morte, em 1751.
109º
- Dom Cristóvão de Melo
(Conselho
de Governo Interino 1732)
Cristóvão
de Melo (Évora, 1672-Goa, 9 de abril de 1734) foi um administrador português,
sendo o 67.º Governador da Índia e participando do 12.º Conselho de Governo da
Índia, junto com Dom Frei Inácio de Santa Teresa e com Cristóvão Luís de
Andrade, quando era o vedor da Fazenda e do 13.º Conselho de Governo da Índia,
com o Frei Inácio de Santa Teresa e com Tomé Gomes Moreira.
110º
- Dom Tomé Gomes Moreira
(Conselho
de Governo Interino 1732)
111º
- Dom Pedro Mascarenhas
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1732-1740)
Pedro
Mascarenhas (9 de Novembro de 1670-Lisboa, 3 de Agosto de 1745), 1º Conde de
Sandomil, Vice-rei da Índia, comendador das comendas de Santa Eugénia de Ala,
dos Dízimos do Paul de São Vicente de Fornelos, no arcebispado de Braga, da
Ordem de Cristo, e dos Fornos dos testos da Praça de Setúbal, na ordem de São
Tiago, etc. Era
filho de Fernão Mascarenhas e de sua mulher, D. Antónia de Bourbon. Pertenceu
ao conselho de guerra, governador das armas na província do Alentejo, posto em
que tinha servido na guerra de 1704 contra a Espanha; no posto de general de
batalha, depois no de general de artilharia, mestre de campo general dos
exércitos, posto em que serviu na Catalunha no exército comandado pelo marquês
das Minas, o qual depois comandou, tendo por diversas vezes mostrado prudência
e valor, que já havia manifestado em Ceuta, quando ali foi mandado com o terço
de infantaria do Algarve para socorrer aquela praça. Por carta de 12 de Março
de 1720 D. João V o agraciou com o título de conde de Sandomil. Foi
depois nomeado conselheiro de Estado, vice-rei e capitão-general da Índia, para
onde partiu, saindo de Lisboa a 26 de Abril de 1732. Não era já aos 62 anos que
poderia governar a Índia utilmente no estado em que então se encontrava, e na
verdade seu governo, que durou mais de 8 anos, foi desastroso, sem que se lhe
possa atribuir a culpa, em grande parte. Encontrou as fortalezas num estado
ruinoso, recebia de Portugal, em vez de tropas, grande número de padres
missionários, e se queria fazer um recrutamento na Índia, encontrava-se com uma
nova dificuldade, a que resultava de serem quase todos naturais leigos e
minoristas, porque eram o que faziam, para se esquivarem ao serviço dos terços. Logo
no começo do seu governo ponderou o conde de Sandomil a D. João V, em carta
datada de Goa a 19 de Janeiro de 1734, os inconvenientes de tantos missionários
na Índia, mas sem resultado pois que em Lisboa tratava-se somente de ganhar a
bem-aventurança eterna, mesmo à custa das glórias da terra. O fanatismo ia
desmoralizando o povo, que de contínuo se via ameaçado com a Inquisição. Para
remediar os inconvenientes precisava-se dum homem enérgico, e essa energia não
podia esperar-se de Pedro de Mascarenhas, que na sua mocidade fora apenas um
oficial intrépido. Foi efectivamente desastroso porque em 1739 se perdeu
Baçaim, cidade tão importante que lhe chamavam a corte do Norte; perdeu-se a
Ilha de Karanjá, Trapôr, etc. Foi desde então que, na costa norte, Portugal
ficaria apenas com Damão e Diu. A invasão dos maratas, que assolaram as terras
de Bardez e de Salsete, que puseram Goa em risco de se perder e as vitórias do
pirata Angriá que em 1740 destruiu a esquadra portuguesa, completaram a série
de infortúnios que assinalaram o governo do conde de Sandomil. As causas
principais desses desastres, foi a inércia e desleixo do governo de Lisboa, a
falta de energia do vice-rei, a guerra surda que lhe promovia o arcebispo
francês, que era um homem intolerável, e as intrigas dos ingleses. A 18 de Maio
de 1741 entregou o governo ao seu sucessor, o marquês de Louriçal, e a 6 de
Janeiro de 1742 regressou à Europa, chegando a Lisboa em Novembro do mesmo ano. Explica
Veríssimo Serrão, que seu governo correspondeu a um período de desastres
militares. «Desde o início do século XVIII que o poderio dos Maratas se fazia
sentir nas províncias do Norte, tendo como objectivo a cidade de Baçaim, rival
de Goa pela grandeza urbana e valor comercial. Não podia o vice-rei enviar
auxílio à guarnição porque em 1737 teve de sofrer no Sul um forte ataque do
mesmo inimigo contra Bardez e Salcete, o que levou à perda de Mormugão e ao
cerco de Rachol. A fim de poupar Goa, viu-se Mascarenhas obrigado a sacrificar
Chaul, relíquia da primeira ocupação portuguesa. Os Maratas aproveitaram as
dificuldades para conquistarem Taná e cercarem Baçaim, que em maio de 1739 não
resistiu ao longo assédio. Foi assim que a presença portuguesa em Cambaia ficou
reduzida às cidades de Damão e Diu e à fortaleza de Surrate.»
Este
governador mandou cunhar 30.000 xerafins de prata em moedas de cruzado, meio
cruzado ou tostão para correrem em Moçambique. O seu retracto está na sala do
dossel do palácio do governo de Pangim, vestido de armadura com a cruz da Ordem
de Cristo pendente no peito, tendo na mão um papel desenrolado, em que se vê
uma inscrição acerca da sua nomeação e permanência na Índia. Foi
casado com D. Margarida Juliana de Távora, filha do 2.º conde de São Miguel
Álvaro José Botelho de Távora e viúva de Francisco Barreto de Menezes, descendente
do Governador do Brasil que tem o mesmo nome. Foi 2º Conde de Sandomil o seu
sobrinho e herdeiro Fernando Xavier de Miranda Henriques.
112º
- D. Luís Carlos Inácio Xavier de Meneses
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1740-1742)
Luís
Carlos Inácio Xavier de Meneses, 5º conde da Ericeira, 1º marquês do Louriçal,
(Lisboa, 1689-Goa, 1742), foi um nobre e administrador português, vice-rei da
índia portuguesa entre 1740 e 1742. Bom militar, como provou nas campanhas da
guerra de Espanha (como coronel e brigadeiro de infantaria no exército do
Alentejo) e na acção na India contra piratas. O
seu Governo de 1740-1742 (quando chegou com uma esquadra de seis naus e 2 mil
soldados), foi notável, do ponto de vista da administração pública, por ter
restabelecido a ordem económica e financeira do domínio, e ter dado à armada
força suficiente para assegurar ao comércio português a livre passagem pelos
mares orientais. Diz
dele Veríssimo Serrão, que «foi o maior dos governantes do Oriente na primeira
metade do Setecentos». E de notar, entretanto, que mesmo durante o período em
que não era recebido pelo Rei, respondia a consultas que lhe eram dirigidas
pelo Conselho Ultramarino.
113º
- Dom Francisco de Vasconcelos
(Conselho
de Governo Interino 1742-1744)
Dom
Francisco de Vasconcelos, S.J. (Lisboa, abril de 1673-Goa, 30 de março de 1743)
foi um bispo português. Em 1722, foi nomeado bispo de Cochim, mas somente em
1742 saiu de Portugal rumo à Índia Portuguesa. Neste mesmo ano, foi nomeado
governador apostólico da Arquidiocese de Goa e prelado responsável pelo 11.º
Conselho de Governo, formado além dele por Luís Caetano de Almeida e Lourenço
de Noronha. Como poeta, foi participante da Fénix Renascida.
114º
- Dom Lourenço de Noronha
(Conselho
de Governo Interino 1742-1744)
115º
- Dom Luís Caetano de Almeida
(Conselho
de Governo Interino 1742-1744)
Luís
Caetano de Almeida (Pangim, 23 de Outubro de 1708-17 de Dezembro de 1757) foi
um administrador luso-Indiano. Aos
oito anos de idade, em 1716, recebe a capitania de Damão. Em 1729, recebe
Chaul. Com a morte do marquês do Louriçal, em 1742, acabaria por formar o 11.º
Conselho de Governo da Índia Portuguesa, junto com o bispo de Cochim Dom
Francisco de Vasconcelos e com o governador de Moçambique, Lourenço de Noronha.
Como os outros dois tardaram a chegar a Goa, na prática ficou como governador
interino. Dom Francisco chegaria em 20 de Dezembro de 1742 e morreria em 1743,
mais uma vez ficando sozinho no governo da Índia. Neste mesmo ano, chega
Lourenço de Noronha, com quem governaria até 1744, quando chegaria o marquês de
Castelo Novo. No ano seguinte, foi nomeado vedor da Fazenda e, em 1748, como
Conselheiro de Estado.
116º
- D. P. M. de A. Portugal e Vasconcelos
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1744-1750)
Dom
Pedro Miguel de Almeida Portugal e Vasconcelos (17 de Outubro de 1688-1756),
3.° Conde de Assumar, 1.º Marquês de Castelo Novo e 1.° Marquês de Alorna, 3.°
Governador e Capitão-mor da Capitania de São Paulo e Minas do Ouro, no Brasil,
e ainda 44.º Vice-Rei da Índia. Em
1744 foi nomeado Vice-Rei da Índia, onde derrotou o rajá Bounsuló, com a tomada
da Fortaleza de Alorna, pela qual foi-lhe dado o título de marquês. Foi ele que
disse a célebre frase "Sepultar os mortos, cuidar dos vivos e fechar os
portos", que serviu de mote à reconstrução de Lisboa após o terrível
terramoto de 1755, como à pergunta do rei D. José I de Portugal sobre o que
fazer perante a catástrofe.
117º
- Dom Francisco de Assis de Távora
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1750-1754)
Francisco
de Assis de Távora, 3.º Conde de Alvor e por seu casamento, 3.º Marquês de
Távora e 6.º Conde de São João da Pesqueira (7 de Outubro de 1703 - Lisboa, 13
de janeiro de 1759) foi um nobre, militar e administrador português. Foi
vice-rei da Índia, entre 1750 e 1754. Vítima da conspiração conhecida como o
"Processo dos Távoras", acabou por ser executado, junto com a Casa
dos Távoras. Filho e herdeiro do 2.º Conde de Alvor, Bernardo António Filipe
Néri de Távora, e de sua mulher Dona Joana de Lorena, em 1718, casou-se com sua
prima, Leonor Tomásia de Távora, 3.ª Marquesa de Távora e 6.ª Condessa de São
João da Pesqueira. Como
tenente-general, foi nomeado governador da praça de Chaves. Em carta de Dom
João V, de 18 de Fevereiro de 1750, foi nomeado vice-rei da Índia, partindo ele
e a esposa de Lisboa em 28 de março, chegando à Goa em 22 de Setembro,
sucedendo ao marquês de Alorna, Pedro Vasconcelos. Foi com o marquês à Índia o
arcebispo António Taveira da Neiva Brum da Silveira, seu amigo de longa data e
nomeado Arcebispo de Goa. Durante seu vice-reinado, teve uma notável acção na
Índia, não só através das conquistas de várias fortalezas, como no domínio
comercial, trazendo grandes vantagens aos portugueses. Empreendeu campanha
contra o pirata Cananja, tomando-lhe o forte e queimando várias de suas naves.
Declarou guerra ao rei de Sunda, tomando a praça de Piro e as fortalezas de
Ximpem e de Conem, apossando-se também da esquadrilha que estava fundeada no
rio Karwan. Invadiu depois as províncias de Pondá e de Zambaulim. Seu
retorno à Corte veio junto com sua fama pelas vitórias e pela administração de
sucesso na Índia. Dona Leonor, mulher política e bastante envolvida com as
coisas do reino, não compartilhava das ideias do novo homem dos negócios do
reino, Sebastião José de Carvalho e Melo, tido por ela como um novo-rico. Com
estes aspectos, o futuro Conde de Oeiras conseguiu um ardil julgamento contra
toda a Família Távora, sob a acusação de tentativa de regicídio contra Dom José
I. Assim acabou por ser executado, junto com os seus, em 13 de janeiro de 1759,
numa cruel execução. De seu casamento com Leonor da Távora, teve 11 filhos, dos
quais destacam-se, Luís Bernardo de Távora, 4.º marquês de Távora e também
executado com sua família, Leonor de Lorena e Távora, sobreviveu ao julgamento,
casada com João de Almeida Portugal, 2.º Marquês de Alorna, não carregou nenhum
título familiar.
118º
- Dom Luís Mascarenhas
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1754-1756)
Luís
Mascarenhas, 2.º conde de Alva (1685-Goa, 26 de junho de 1756) foi um nobre e
administrador português, 73.º Governador da Índia e 46.º Vice-Rei da Índia. Era
filho de Fernando Mascarenhas, 2.º marquês de Fronteira com Joana Leonor de
Toledo e Meneses. Casou-se com Maria Bárbara de Meneses, filha de Aleixo de
Sousa da Silva e Meneses, 2.º conde de Santiago de Beduído. Não teve
descendência. Herdou o título de seu tio João de Sousa e Ataíde, 1.º conde de
Alva por decreto de 13 e carta de 24 de março de 1754. Morreu
em combate na defesa de Goa.
119º
- D. A. Taveira da Neiva Brum da Silveira
(Conselho
de Governo Interino 1756-1757)
Dom
António Taveira da Neiva Brum da Silveira (Horta, 22 de Julho de 1706-Oceano
Atlântico, perto do Cabo da Boa Esperança, 2 de junho de 1775) foi um prelado
português. Formado
pela Universidade de Coimbra, leccionou nesta instituição. Foi nomeado
arcebispo de Goa (logo, Primaz do Oriente) em1749, por Dom João V, sendo a
nomeação ratificada pela Santa Sé em 25 de janeiro de 1750, pelo Papa Bento
XIV. Foi sagrado em 17 de março de 1750, na Sé de Lisboa, pelo patriarca Dom
Tomás de Almeida, indo para Goa com o vice-rei Francisco de Assis de Távora,
seu amigo de longa data. Foi, durante alguns períodos, presidente do Conselho
para governar a Índia Portuguesa e entre 1757 e 1758, foi governador interino. Após
os anos na Índia, já cansado e fatigado, apresenta sua renúncia e retorna para
Portugal, mas durante a viagem, veio a falecer, sendo seu corpo jogado ao mar
próximo ao Cabo da Boa Esperança.
120º
- Dom João de Mesquita Matos Teixeira
(Conselho
de Governo Interino 1756-1757)
121º
- Filipe de Valadares Sottomaior
(Conselho
de Governo Interino 1756-1757)
Filipe
de Valadares Sottomaior (Tavira, 15 de agosto de 1691-Goa, 4 de maio de 1775)
foi um administrador português. Fez
parte do 12.º Conselho do Governo da Índia, junto com Dom António Taveira da
Neiva Brum da Silveira, Arcebispo de Goa e João de Mesquita Matos Teixeira,
chanceler da Relação de Goa e conselheiro de Estado, entre 1756 e 1758. Durante
esse período, junto com o conselheiro Teixeira, "andavam sempre em
desinteligência por causa dos interesses próprios, em que só
cuidavam..."necessitando, por muitas vezes, que Dom António tivesse que
intervir para que ambos não viessem às "vias de fato". Com tantos
desmandos, abuso de autoridade e prevaricações, tão logo assumiram o governo da
Índia o 1.º Conde da Ega. Ambos foram, chamados à Metrópole, a mando do Marquês
de Pombal, sendo presos, tendo os bens confiscados e as honras tiradas. Após
hábeis negociações reais e com o uso de seu ouro levou à Índia como forte
argumento, Sotomaior conseguiu ser libertado e regressou a Goa em 1764,
sendo-lhe restituído tudo que lhe haviam retirado. Com a morte de João José de
Melo, foi nomeado em 1774 o 76.º Governador da Índia, ficando alguns meses no
cargo. Durante esse período, foi expedido em Lisboa alvará "dando nova
organização à administração política, civil e económica da Índia". Casou-se
com Luísa Francisca de Melo, sem deixar descendência.
122º
- D. A. Taveira da Neiva Brum da Silveira
(Governo
Interino 1757-1758)
123º
- Dom Manuel de Saldanha e Albuquerque
(Vice-Rei
e Governador do Estado da Índia 1758-1765)
Manuel
de Saldanha de Albuquerque e Castro, 1.º conde da Ega (Lisboa, 11 de janeiro de
1712-Lisboa, 6 de Dezembro de1771) foi um nobre português. Exerceu
o cargo de Governador capitão-general da Madeira e foi nomeado 47.º Vice-Rei da
Índia e 74.º Governador da Índia, cargo que exerceu de 1758 a 1765. Em 1758,
por carta-régia de 25 de Fevereiro expedida por Dom José I, foi nomeado Conde
de Ega. Na Índia concluiu vantajosamente a paz com o Marata, tomou e mandou
demolir a fortaleza de Pondá, e conquistou os terrenos que formam a província
do Canácona. Assim como no seu governo foram restituídas as praias de Bicholim
e Alorna ao Bounsuló, e as de Perá e Ximpem ao rajá da Junda. Demitiu-se das
suas funções ao ser gravemente acusado de ter delapidado a fazenda pública, por
ocasião do sequestro dos bens dos jesuítas a pedido do Marquês de Pombal, e ao
chegar a Lisboa foi preso. Prosseguiu-se
um julgamento de tribunal do qual foi ilibado. Conseguindo-o, apenas depois da
sua morte, por acção de defesa organizada pela sua mulher. Era filho de Aires
de Saldanha e Albuquerque Coutinho Matos e Noronha, que foi Governador Colonial
do Rio de Janeiro, casado com Dona Maria Leonor de Lancastre e Moscoso. Em 22
de Abril de 1754 casou com Dona Ana Ludovina de Almada Portugal (Lisboa, 14 de
Junho de 1722 - Ajuda, 24 de Fevereiro de 1790), filha de D. Luis José de
Almada, mestre-sala da Casa Real, e viúva do secretário de estado Marco António
de Azevedo Coutinho. No mesmo ano, em 8 de Maio, estava já a fazer a viagem
para a ilha da Madeira com o seu marido. Teve 4 filhos, sendo o primogénito
Aires José Maria de Saldanha Albuquerque Coutinho Matos e Noronha, 2.º conde da
Ega.
124º
- D. A. Taveira da Neiva Brum da Silveira
(Conselho
de Governo Interino 1765-1768)
125º
- Dom João Baptista Vaz Pereira
(Conselho
de Governo Interino 1765-1768)
126º
- Dom João José de Melo
(Conselho
de Governo Interino 1765-1768)
João
José de Melo (cerca de 1700-Goa, 10 de janeiro de 1774) foi um administrador português,
sendo o 75.º governador da Índia. João
de Melo era filho de Cristóvão de Melo, antigo governador da Índia e, como seu pai,
foi vedor geral da Fazenda na colónia. Casou-se com Inácia Leonor de Vilhena e
teve três filhos. Morreu no exercício do governo. Enquanto vedor geral da
Fazenda, após a saída do Conde da Ega do governo da Índia, compôs junto com Dom
António Taveira da Neiva Brum da Silveira e com João Baptista Vaz Pereira, o
13.º Conselho de Governo da Índia, entre 1765 e 1768. As medidas de redução de
despesas, foram o grande legado deste Conselho.
127º
- Dom João José de Melo
(Governador
e Capitão-Geral da Índia 1768-1774)
João
José de Melo (cerca de 1700-Goa, 10 de janeiro de 1774). Por
carta régia de 12 de março de 1768, foi nomeado 75.º Governador da Índia. Em
1771, por entendimento da Metrópole de que não seria mais possível a formação
do antigo Império Português, foi extinto o título de Vice-Rei e instituído o de
Capitão-Geral. Durante seu governo, foram extintas a Companhia de Cavalos da
Guarda do Vice-Rei, a Casa dos Contos de Goa, vários cargos do Palácio, entre
eles a de Capitão da cidade, além da redução do ordenado do Governador, visando
a redução de custos de manutenção. No lugar da Casa dos Contos, foi criada a
Junta da Real Fazenda, com métodos de escrituração mais modernos.
128º
- Dom Filipe de Valadares Sotomaior
(Governo
Interino 1774)
129º
- Dom José Pedro da Câmara
(Governador
e Capitão-Geral da Índia 1774-1779)
José
Pedro da Câmara (Anjos, Lisboa, 30 de Julho de 1721-1779) foi um administrador português,
sendo o 77.º Governador da Índia, o último nomeado por Dom José I. Durante
seu governo, foram extintos os tribunais da Relação e da Inquisição em Goa.
Foram, também, restauradas várias vias marginais, sendo para isso instituído um
imposto que deveria ter 10 anos de prazo, mas que até hoje são cobrados pelas
prefeituras locais. Também foram criados celeiros públicos, para o momento de
escassez. Regressou à Metrópole em 1779.
130º
- D. Frederico Guilherme de Sousa Holstein
(Governador
e Capitão-Geral da Índia 1779-1786)
Frederico
Guilherme de Sousa Holstein (2 de Dezembro de 1737-1790) foi um militar e
administrador colonial português. Era descendente pelo ramo materno de uma
poderosa família germânica, que daria origem às famílias reais da Dinamarca,
Grécia, Noruega e Reino Unido. Foi o 78.º Governador da Índia, entre 1779 e
1786.
131º
- Capitão-Geral F. da Cunha e Meneses
(Governador
e Capitão-Geral da Índia 1786-1794)
Francisco
da Cunha e Meneses (10 de Abril de 1747-12 de Junho de 1812), da família dos
condes de Lumiares, foi um militar português. Foi
governador e capitão-geral da Índia de 1786 a 1794. Devido ao seu bom
desempenho no Brasil foi nomeado para a Índia com o título de Governador, e não
de Vice-Rei, devido a não ser detentor de título nobiliárquico, onde chegou a
28 de Outubro de 1789, tomando posse do governo em 3 de Novembro. Na Índia,
conquistou Pernem e recebeu Pondá e Piró do rei de Sunda, ocupando o posto até
1794, data em que foi substituído, pelo que regressou a Portugal. Promovido a
Coronel do Regimento de Campo Maior, no Alto Alentejo, chegou ao posto de
marechal de campo em 1800. Nomeado para um posto de comando no exército do
Norte, comandado pelo marquês de la Rosière durante a Guerra de 1801, foi
nomeado quartel-mestre general do Exército do Norte, quando Gomes Freire de
Andrade foi para Coimbra em Agosto de 1801. Em
Novembro de 1807, foi indigitado para membro do Conselho de Regência do Reino
de Portugal, para auxiliar as cortes que se encontravam no Brasil, mas que foi
impossibilitado de se reunir por ordem de Junot que tinha conquistado esse
território. Já
com a partida deste, em 1808, tendo essa Regência restabelecida por sugestão do
comando militar britânico que tinha ficado encarregue do governo de Lisboa, de
acordo com a «Convenção de Sintra», foi confirmado o seu lugar por Carta Régia
de 1809.
132º
- Dom Francisco Antônio da Veiga Cabral da Câmara
(Governador
e Capitão-Geral da Índia 1794-1806)
Francisco
António da Veiga Cabral da Câmara, 1º visconde de Mirandela (Portugal, 10 de Setembro
de 1733-Rio de Janeiro,31 de maio de 1810), foi um militar e administrador português,
filho de Francisco Xavier da Veiga Cabral e Câmara. Foi o 9º ministro do
Superior Tribunal Militar. Recebeu o Viscondado em 13 de maio de 1810, marechal
de campo em 1781 e tenente-general em 1792. Sob
condições decorrentes do Tratado de Santo Ildefonso, foi nomeado governador da
Capitania de Santa Catarina, por carta régia do vice-rei 2º Marquês do
Lavradio, recebendo o comando das fortificações do marechal de campo espanhol
Guilherme de Vaughan, sendo empossado governador da capitania em 3 de agosto de
1778, governando até 5 de janeiro de 1779. Foi governador da Índia Portuguesa,
de 1794 a 1806. Retornou ao Brasil com a corte de D. João VI.
133º
- D. Bernardo José Maria Lorena e Silveira
(Vice-Rei
e Capitão-Geral da Índia 1806-1816)
Bernardo
José Maria de Lorena e Silveira, quinto conde de Sarzedas, (Campo Grande, 20 de
Abril de 1756-Rio de Janeiro,1818) foi um fidalgo e administrador português. Há
duas versões sobre a origem de Bernardo de Lorena:
A primeira versão é que seria filho de Nuno Gaspar de Lorena, nascido em 1704,
moço fidalgo, era veador da rainha D. Maria I, tenente-general, governador das
armas do Alentejo e de D. Maria Inácia da Silveira (nascida em 1723), era ao
mesmo tempo sua cunhada, pois no primeiro casamento de D. Nuno Gaspar casara
com sua irmã mais velha. Dona Maria Inácia era por sua vez riquíssima, filha do
segundo casamento do antigo governador de Minas Gerais, Dom Brás Baltazar da
Silveira.
A
segunda versão, feita por pesquisadores do Caso Távora, é que ele era apenas
filho de criação de Nuno Gaspar de Lorena, mas de fato filho bastardo do rei D.
José I com a "Marquesa Nova" (Tereza de Távora), esposa de D. Luís
Bernardo de Lorena e Távora, 4.º Marquês de Távora, executado junto com os
demais Távoras em 1759. Sendo assim, Bernardo de Lorena era meio irmão de D.
Maria I, a qual sucedeu no trono a seu pai D. José I, e que lhe concedeu cargos
e honrarias, e seu nascimento, em 1758, provocou a Conspiração dos Távoras, o
Caso Távora. Nuno Gaspar teria sido pai de criação por ter sido o 4º Marquês de
Távora executado e Tereza de Távora presa em convento, onde ficou até falecer. Essa
afirmação teve origem em Saint-Hilaire, que o conheceu no Brasil, e escreveu
sobre Bernardo de Lorena e Frei Lourenço do Caraça em seu livro "Viagem
pelas capitanias de Rio de Janeiro e de Minas Gerais". A amizade de Frei
Lourenço do Caraça com Bernardo de Lorena despertou as suspeitas de
Saint-Hilaire, pois o misterioso frei é visto, até hoje, como um dos muitos
fugitivos do Caso Távora e era de São João da Pesqueira, lugar de senhorio dos
Távoras, e era da família Figueiredo, ligada aos Távoras. Duas
datas diferentes também são dadas para seu nascimento e sua morte. Alguns
afirmam que ele nasceu em Lisboa, no dia 20 de abril de 1758. O nascimento de
Bernardo, filho bastardo, teria então causado a Conspiração dos Távora contra o
rei. Outros
dizem ter ele nascido em 20 de abril de 1756, em Campo Grande, em Portugal,
falecendo em Lisboa em 1818, ou no Rio de Janeiro em 1819. Nomeado
conselheiro de capa e espada do Conselho Ultramarino, deputado da Junta de
administração do Tabaco. Em 1806 foi nomeado vice-rei da Índia, que governou
por também nove anos até 29 de Novembro de 1816. Tal título havia sido extinto
em 1774. Entrou
a barra de Goa a 27 de maio de 1807, sendo recebido com entusiasmo por vir
investido na dignidade de vice-rei, que em 1774 fora suprimida pelo marquês de
Pombal. Achavam-se ainda em Goa uns 30 mil e tantos soldados ingleses que
ocupavam a cidade sob pretexto de a proteger contra empresas dos franceses. No
governo de Veiga Cabral, seu antecessor, «homem inábil e de curtas vistas», os
ingleses governavam a pretexto de defender Goa das tropas napoleónicas. As
tropas lhe haviam sido impostas pelo Marquês de Wellesley, irmão do duque de
Wellington. Não sucedeu, porém, assim com o Conde. Sarzedas mostrou dignidade e
força de carácter. Só
a 1 de Novembro de 1810 começaram os ingleses a retirar-se. A 2 de abril de
1813 saiu de Goa o último regimento. Sarzedas governou a Índia durante nove
anos. Conseguiu a extinção completa da Inquisição de Goa, restabelecida em
1779, na reacção contra a política pombalina, e conseguiu revigorar a
autoridade portuguesa com tato e firmeza. Entregando
o governo ao seu sucessor, o 1º conde de Rio Pardo, a 29 de Novembro de 1816,
retirou-se para Lisboa, onde veio a falecer três anos depois. Deixou
filhos legitimados por despacho do Desembargo do Paço em 4 de abril de 1818.
Entre eles, D. Francisco de Assis de Lorena e Silveira (nascido em 1780) que
casou com Maria Rita de Almeida de Sousa e Faro, sendo pais de D. Bernardo
Heitor da Silveira e Lorena (7 de abril de 1810-1812 de Dezembro de 1871),
feito 6º conde de Sarzedas, que casou com Luísa Pereira Garcez Palha e foram
pais de D. Francisco de Assis da Silveira e Lorena, 7º conde de Sarzedas. D.
Maria Inácia da Silveira. D. Maria de Paula e Lorena.