Guerras
Napoleónicas é a designação do conflito armado que se estendeu de 1803 a 1815,
opondo a quase totalidade das nações da Europa a Napoleão Bonaparte, herdeiro
da Revolução Francesa e ditador militar. Napoleão chegou ao poder como 1° Cônsul
(1799) vindo a ser coroado Imperador da França, em 1804, sob o título de
Napoleão I. A partir de 1807 conduziu o governo sem atender aos corpos
legislativos e com características autoritárias, imperiais e expansionistas. As
guerras, a princípio localizadas como conflitos entre soberanos, tornaram-se
guerras nacionais a partir da resistência popular de Espanha e Portugal (Guerra
Peninsular) aos invasores napoleónicos. Com o apoio da Grã-Bretanha, as nações
europeias, derrotadas em sucessivas coligações, acabaram por se impor a
Napoleão na Batalha de Waterloo (1815) e forçaram o Imperador francês ao
exílio.
Antecedentes
(1789
- 1802)
Guerras Revolucionárias Francesas
Notícias
dos acontecimentos da Revolução Francesa de 1789 foram recebidas com grande
alarme pelas lideranças políticas nos países pela Europa, o que só piorou
quando eles souberam da prisão e execução do Rei Luís XVI de França. A primeira
tentativa de esmagar a recém, nascida República Francesa veio em 1793 quando o
Império Austríaco, o Reino da Sardenha, o Reino de Nápoles, o Reino da Prússia,
Espanha e o Reino da Grã-Bretanha formaram a chamada Primeira Coligação. Os
franceses tomaram várias medidas, incluindo conscrições em massa (levée en
masse), reformas militares e uma política de guerra total, que acabaram
contribuindo para a vitória e sobrevivência da República. Ainda assim, o
conflito interno persistiu e se tornou uma guerra civil aberta.

A Guerra da
Primeira Coligação terminou quando o jovem General Napoleão Bonaparte derrotou os Austríacos na Itália e chegou às portas de Viena, impondo á Áustria o Tratado
de Campoformio. Em 1797, apenas a Inglaterra continuava oficialmente em guerra
contra a França. As guerras revolucionárias francesas foram uma série de
grandes conflitos, entre 1792 e 1802, nos quais se enfrentaram, de um lado, a
França Revolucionária e, de outro, amplas coligações formadas pelo Reino Unido,
Prússia, Império Russo, Duas Sicílias, Espanha, Suécia, Países Baixos,
Portugal, Reino da Sardenha e Reino de Nápoles, resultando numa vitória
francesa decisiva, que garantiu a sobrevivência da República Francesa. De
facto, os franceses massacraram as coligações dos países inimigos, numa grande
demonstração de habilidade e genialidade militar. E, comandada pelo jovem e
habilidoso General Napoleão Bonaparte, a França manteve-se sempre na ofensiva,
empreendendo uma violenta reação à invasão aliada. As batalhas foram marcadas
pelo fervor revolucionário francês e por inovações militares, as campanhas
viram os exércitos revolucionários franceses derrotar coligações inimigas e
expandir o controlo francês sobre os Países Baixos, a península Itálica e a
Renânia. As guerras envolveram um grande número de soldados, em especial devido
ao recurso à mobilização em massa. As guerras revolucionárias francesas
costumam ser divididas entre a Primeira Coligação (1792 - 1797) e a Segunda
Coligação (1798 - 1801), embora a França também estivesse em guerra com o Reino Unido
continuamente entre 1793 a 1802. As hostilidades cessaram com o tratado de
Amiens (1802).
Guerra Da Primeira Coligação
(1791
– 1792)

Na
altura de 1791, as monarquias da Europa olhavam com preocupação os
desdobramentos na França e consideravam a possibilidade de intervir, ou em
apoio a Luís XVI ou para tirar partido do caos. A personagem principal, era o Sacro Imperador Romano Leopoldo II, irmão de Maria Antonieta, que via com
preocupação a tendência revolucionária francesa ao radicalismo, embora ainda
tivesse esperança de evitar uma guerra. Em 27 de agosto, Leopoldo e o Rei
Frederico Guilherme II da Prússia, em consulta com nobres franceses emigrados,
emitiram a Declaração de Pilnitz, que anunciava o interesse dos monarcas da
Europa no bem-estar de Luís e sua família e ameaçava com vagas mais severas, consequências caso algo de mau lhes acontecesse. Os chefes revolucionários
franceses viram a declaração como uma ameaça séria. Ademais das diferenças
ideológicas entre a França e as potências monárquicas da Europa, havia
contínuas controvérsias acerca do, status das propriedades Imperiais na Alsácia,
e os franceses se preocupavam com a agitação no exterior dos nobres emigrados,
especialmente nos Países Baixos Austríacos e nos Estados Germânicos menores. Por
fim, a França declarou guerra primeiramente à Áustria, por meio de uma decisão
da assembleia em 20 de abril de 1792 que se seguiu a uma longa lista de
reclamações apresentadas pelo ministro do exterior Dumouriez. Este preparou a
imediata invasão dos Países Baixos Austríacos, onde esperava que a população
local se rebelasse contra o domínio dos Habsburgos. Entretanto, a revolução
havia desorganizado o exército e as forças levantadas eram insuficientes para a
invasão. Em seguida à declaração de guerra, houve uma deserção em massa de
soldados franceses. Enquanto o governo revolucionário apressadamente levantava
novas tropas e reorganizava as forças armadas, um exército aliado, composto
basicamente por tropas prussianas, sob o Comando do Brunsvique-Luneburgo,
reuniu-se próximo a Coblença, no Reno.

Em julho, Brunsvique invadiu a França,
tomou com facilidade as fortalezas de Longwy e Verdun e emitiu uma proclamação
em que declarava sua intenção de restaurar os plenos poderes do Rei francês e
considerava como rebelde qualquer pessoa ou cidade que resistisse. Entretanto,
em 20 de Setembro, em Valmy, as forças de Brunsvique chegaram a um impasse
contra o General Dumouriez e o General François-Étienne Kellermann no qual se distinguiu a
artilharia francesa, altamente profissional.

Embora a batalha terminasse
indefinida, o resultado reforçou o moral francês. Ademais, os prussianos, ao
avaliar que a campanha durava mais e custava mais caro do que o planejado,
decidiram retirar-se do território francês. No dia seguinte, a monarquia foi
formalmente abolida e a Primeira República, declarada. Entretanto, os
franceses haviam sido bem-sucedidos em diversas outras frentes, ao ocupar a
Saboia e Nice, enquanto o General Custine invadia a Alemanha e ocupava várias
cidades ao longo do Reno, chegando até Frankfurt. Dumouriez passou à ofensiva
na Bélgica e saiu vitorioso contra os austríacos em Jemappes em 6 de Novembro,
de modo que ocupou a totalidade do país até o início do inverno.

Em
21 de janeiro, o governo revolucionário executou Luís XVI em seguida a um
julgamento. O fato uniu toda a Europa, inclusive a Espanha, Nápoles e os Países
Baixos, contra a Revolução. Até mesmo o Reino Unido, de início simpático à
assembleia francesa, já se juntara à Primeira Coligação contra a França.
Levantaram-se exércitos contra a França em todas as suas fronteiras. Em
resposta, a França declarou o recrutamento de centenas de milhares de homens, o
que deu início à política francesa de usar a mobilização maciça e de manter-se
na ofensiva para que estes grandes exércitos tomassem e usassem o material
bélico capturado ao inimigo. A França sofreu sérios reveses de início, ao ser
expulsa da Bélgica e ao ter que lidar com revoltas no oeste e no sul. Mas na
altura do final do ano, os novos e gigantescos exércitos e uma política severa
de repressão interna que incluía execuções em massa haviam logrado repelir as invasões
e extinguir as revoltas. O ano terminou com as forças francesas à frente, mas
próximas às fronteiras de antes do conflito.
(1794)
O
ano de 1794, trouxe ainda mais vitórias para os exércitos revolucionários.
Embora a invasão do Piemonte houvesse fracassado, forças francesas invadiram a
Espanha através dos Pirenéus e tomaram São Sebastião, e os franceses saíram
vitoriosos da batalha de Fleurus, o que lhes permitiu ocupar a totalidade da
Bélgica e a Renânia.
(1795)
Após
conquistar os Países Baixos num ataque-surpresa durante o inverno, a França
estabeleceu ali a República Batava, um Estado-fantoche. A Prússia e a Espanha
decidiram aceitar a paz e cederam, pelo tratado de Basileia, a margem esquerda
do Reno à França. A paz representou o fim da fase de crise da Revolução. A
França ficaria livre de invasões por muitos anos. O Reino Unido procurou
reforçar os rebeldes na Vendeia, sem sucesso, e as tentativas de derrubar o
governo em Paris foram frustradas pela guarnição militar chefiada por Napoleão
Bonaparte, com a correspondente fundação do Diretório. Na frente renana, o General
Pichegru, que negociava com os monarquistas exilados, traiu seu exército e
forçou a evacuação de Mannheim e o fracasso do sítio de Mogúncia por Jourdan.
(1796)
Os
franceses prepararam um grande avanço em três frentes, com Jourdan e Moreau no
Reno e Bonaparte na península Itálica. Os três exércitos deveriam encontrar-se
no Tirol e marchar contra Viena. Jourdan e Moreau adentraram rapidamente a
Alemanha. Em setembro, Moreau atingira a Baviera e a divisa do Tirol, mas
Jourdan foi derrotado pelo arquiduque Carlos, de modo que os dois exércitos
franceses viram-se forçados a recuar para o outro lado do Reno. Por outro lado,
Napoleão obteve sucesso total em sua ousada invasão da Itália. Ele dividiu os
exércitos da Sardenha e da Áustria, de maneira a derrotá-los, impor a paz à
Sardenha, tomar Milão e sitiar Mântua. Derrotou os sucessivos exércitos
austríacos lançados contra as tropas francesas para tentar romper o sítio. A
rebelião na Vendeia foi finalmente esmagada em 1796 por Lazare Hoche, mas este
não logrou desembarcar suas tropas na tentativa de invasão da Irlanda.
Napoleão
finalmente capturou Mântua, com a rendição de 18 mil soldados austríacos. O Arquiduque Carlos da Áustria não logrou impedir Napoleão de invadir o Tirol e o
governo austríaco propôs a paz em abril, simultaneamente a uma nova invasão
francesa da Alemanha comandada pelos Generais Moreau e Hoche. Pelo tratado de Campoformio,
assinado em outubro, a Áustria cedeu a Bélgica à França e reconheceu o controlo
francês da Renânia e de boa parte da península Itálica. A antiga República de
Veneza foi partilhada entre a Áustria e a França. O tratado pôs termo à
Primeira Coligação, embora o Reino Unido permanecesse em guerra.
Napoleão No Egito
Com
apenas o Reino Unido na guerra e vendo-se sem uma marinha forte o suficiente
para combatê-lo diretamente, Napoleão planejou uma invasão do Egito em 1798,
que satisfaria o seu desejo pessoal de glória e interesse do Diretório em tê-lo
longe de Paris. O objetivo militar da expedição não é claro, mas pode ter sido
ameaçar o controlo britânico sobre a Índia. Napoleão partiu de Toulon para
Alexandria e, após tomar Malta, desembarcou em junho. Ao marchar na direção do
Cairo, venceu a Batalha das Pirâmides. Entretanto, sua frota foi destruída por
Horatio Nelson na Batalha do Nilo, o que o deixou isolado em território
egípcio. Napoleão passou o restante do ano consolidando sua posição no Egito. O
governo francês também aproveitou o conflito interno na Suíça para invadi-la e
estabelecer ali a República Helvética, ademais de anexar Genebra. Tropas
francesas depuseram o papa e fundaram uma república em Roma. Uma força
expedicionária francesa foi de fato enviada para o Condado de Mayo para apoiar
os rebeldes irlandeses durante sua rebelião contra a Inglaterra, no verão de
1798. Apesar dos sucessos iniciais, a força terrestre acabou sendo derrotada e
a marinha francesa também foi vencida (batalha de Tory Island). Os franceses
também estavam sob pressão nos Países Baixos do Sul e em Luxemburgo, onde a
população local se rebelava contra a conscrição e a violência anti-religiosa
(Guerra dos Camponeses). A França em 1798 também lutava uma guerra não
declarada no mar contra os Estados Unidos, conhecida como a "Quase-guerra",
que se resolveu em 1799.

Bonaparte retornou do Egito em 23 de agosto de 1799 e
tomou controlo do governo a 9 de novembro do mesmo ano no Golpe de 18 de
brumário, que derrubou o Diretório e formou o chamado Consulado, liderado por
Napoleão. Sob sua liderança, o exército francês se rearmou e foi reorganizado.
Uma força de reserva também foi mobilizada para futuras campanhas além do Reno
e na Itália. Em todas as frentes, os franceses, sob a liderança de Napoleão,
começaram a avançar e empurraram os austríacos para longe do seu território e
também afastaram a ameaça da Rússia. Na Itália, Bonaparte derrotou os
austríacos novamente nas batalhas de Marengo e Hohenlinden em 1800. Derrotada,
a Áustria assina o Tratado de Lunéville (9 de fevereiro de 1801). Agora isolado,
o Reino Unido foi forçado a assinar o Tratado de Amiens com a França.
Data De Início E Nomenclatura
Não
há consenso sobre quando as guerras revolucionárias francesas terminaram e as
guerras napoleónicas começaram. As datas para o começo do conflito são
debatidas entre 9 de novembro de 1799, quando Napoleão tomou o poder no 18 de
brumário, ou em 18 de maio de 1803, quando a Grã-Bretanha encerrou o período de
paz que firmou com a França. Outra data debatida é 2 de dezembro de 1804,
quando Bonaparte se coroou Imperador. Historiadores Britânicos se referem ao
período quase contínuo de guerras de 1792 a 1815 como a "Grande Guerra
Francesa", ou como a fase final da Segunda Guerra dos Cem anos, que teria
ido de 1689 a 1815. Na França, as Guerras Napoleónicas são geralmente
integradas com as Guerras Revolucionárias Francesas (Les guerres de la
Révolution et de l'Empire).
Napoleão
foi, e ainda é, reconhecido por suas vitórias nos campos de batalha.
Historiadores e analistas militares há muito tempo estudam seus feitos. Em
2008, Donald Sutherland escreveu: "A batalha ideal Napoleónica era
manipular o inimigo a uma posição in favorável através de manobras e ardis,
forçando ele a mandar suas principais forças e reservas para a batalha principal
e depois realizar um ataque envolvente com as tropas não comprometidas ou
reservas no flanco ou por trás. Tal ataque surpresa ou daria um duro golpe na
moral inimiga ou o forçaria a quebrar suas linhas. Ainda assim, a própria
impulsividade do inimigo começava o processo onde um pequeno exército francês poderia
derrota-los um a um". Após 1807, Napoleão criou uma força de artilharia
bem armada e altamente móvel. O imperador francês, ao invés de contar com sua
infantaria para enfraquecer as linhas inimigas, ele agora usava artilharia
pesada para enfraquecer o inimigo. Uma vez que a posição inimiga estava
amaciada, a infantaria e a cavalaria avançavam em peso.
Guerra Da Segunda Coligação

Porém,
em 1798, a Segunda Coalizão foi formada contra a França e era composta
novamente pela Áustria, Reino Unido, Nápoles, o Império Otomano, os Estados
Papais, Portugal, o Império Russo, a Suécia e alguns outros países. Durante a
Guerra da Segunda Coligação, a República Francesa sofria com corrupção e
divisões internas sob o governo do Diretório (cinco directeurs que detinham o
poder executivo total). A economia francesa estava em frangalhos e não tinha
mais os serviços de Lazare Carnot, o ministro da guerra que havia
supervisionado as campanhas bem-sucedidas no exterior após uma reforma nas
forças armadas na década de 1790. O general Bonaparte, principal arquiteto da
vitória contra a primeira coligação, lançou uma incursão militar no Egito. Na Europa,
a França sofria com derrotas e privações. O principal instigador e financiador da
guerra era a Inglaterra, velha rival do país. A paz firmada ao fim de 1797 não
durou muito tempo. De fato, logo em 1798, Reino Unido e Áustria se organizaram
para formar uma nova aliança contra a França. Eles receberam apoio do Império
Russo, que também se via ameaçado com as ideias da revolução.
(1799)

Na
Europa, a Coligação lançou várias expedições militares contra a França,
incluindo campanhas na Itália e Suíça, além de uma invasão anglo-russa dos
Países Baixos. O General Russo, Alexander Suvorov, derrotou os franceses em
vários confrontos no norte da Itália, os expulsando dos alpes. Contudo, não
conseguiram muito sucesso na Holanda, com a derrota britânica na batalha de
Castricum, enquanto os russos e austríacos foram esmagados na segunda batalha
de Zurique. Esses reveses desestimularam a Rússia, que se retirou da Coligação. O
General Napoleão Bonaparte lançou-se então numa invasão da Síria e do Egito,
mas após o fracassado cerco de Acre, ele se retirou para o território egípcio,
onde repeliu uma invasão anglo-turca. Enquanto isso, a França se afundava numa
crise interna política. Napoleão decidiu então voltar a Paris, deixando o que
sobrou de suas tropas para atrás. O general, ainda muito popular entre o povo
por causa de suas vitórias na guerra, usou sua influência para dar um golpe de
estado, fundando assim o chamado Consulado Francês, com ele próprio na figura
de chefe de governo.
(1800)
Napoleão
enviou então o General Moreau com suas tropas para a Alemanha, enquanto ele
próprio reunia suas forças em Dijon e marchou para além da Suíça, onde atacou
os exércitos austríacos na Itália. Bonaparte conquistou uma importante vitória
na batalha de Marengo e reocupou o norte italiano. Moreau então invadiu a
Baviera e derrotou a Áustria na batalha de Hohenlinden. Ele continuou até Viena
e com isso o governo austríaco foi obrigado a aceitar os termos de paz
franceses.
Os
austríacos e franceses negociaram então o tratado de Lunéville, que basicamente
reiterava o antigo tratado de Campoformio. No Egito, os otomanos e britânicos
forçaram a rendição das guarnições francesas remanescentes nas cidades do Cairo
e Alexandria. Os ingleses prosseguiam então com a guerra no mar. Formando a
chamada Coligação da Neutralidade Armada, que incluía a Prússia, Rússia,
Dinamarca e Suécia, para permitir o comércio, apesar do bloqueio naval
britânico na Europa. O Reino da Dinamarca e Noruega, ainda aliado da França,
resistiu mas foram derrotados pelo Almirante Horatio Nelson na batalha de
Copenhaga. Em dezembro de 1801, a França enviou uma expedição até
Saint-Domingue para encerrar uma rebelião no Haiti, mas acabou fracassando.
(1802)
Em
1802, os britânicos e a liderança francesa acertaram o tratado de Amiens,
encerrando a guerra. Um período de ténue paz se iniciou, mas não duraria muito,
com as hostilidades retornando no ano seguinte. Este tratado é reconhecido
pelos historiadores como o evento que encerrou as guerras revolucionárias francesas.
A partir de 1804, com a coroação de Napoleão Bonaparte e o nascimento do
Império Francês, os conflitos que se seguiram seriam ainda mais brutais e de
grande intensidade e ficariam conhecidos como as Guerras Napoleónicas.
A
Primeira República Francesa, que começou à beira da derrota e da subversão,
conseguiu, no decorrer do conflito, superar seus inimigos e produziu um novo
exército, que levaria anos para ser sobrepujado. Reformas nas forças armadas
garantiram subidas de patente por meritocracia, em detrimento de origem
aristocrática (apesar da condição financeira ainda ser um pesado fator). Com a
conquista da margem esquerda do Reno e a dominação assegurada nos Países
Baixos, na Suíça e na Itália, a jovem república francesa expandiu-se para
conquistar um dos maiores territórios já controlados pelo país em sua história
(superado em poder, influência e extensão territorial na Europa apenas pelo
país na era Napoleónica). Contudo, a paz de Amiens se provou frágil e em 1804 a
guerra já havia sido retomada a todo o vapor, após uma nova Coligação erguer-se
contra a França. Após a derrota da Áustria, a guerra continuou entre a França e
a Inglaterra. Napoleão foi colocado no comando do Exército de Inglaterra,
reunido em Dunquerque, tendo em vista a invasão das Ilhas Britânicas mas,
atendendo ao facto de os Ingleses dominarem os mares, o que tornava improvável
o sucesso da travessia do Canal da Mancha, Napoleão propôs ao Directório, em
Fevereiro de 1798, o abandono deste projecto e a adopção de outro, uma
expedição ao Egipto que, com sucesso, daria aos Franceses uma base para expulsar
os Ingleses da Índia. Libertos dos encargos contra as forças da Primeira
Coligação, os Franceses não suspenderam a sua expansão na Europa. Em Fevereiro
de 1798, ocuparam Roma, capturaram o Papa e estabeleceram a República Romana.
Em Abril desse mesmo ano, estabeleceram a República Helvética.
Factores Da Vitória Francesa

Os
factores que conduzem a um determinado acontecimento histórico são sempre muito
complexos e, dificilmente poderão ser exaustivamente enunciados. No entanto,
vale a pena mencionar, de forma muito sumária, os factores que, no entender de
Richard Ernest Dupuy e Trevor Nevitt Dupuy contribuíram para a vitória
francesa. As grandes alterações sociais e políticas proporcionadas pela
Revolução Francesa, que permitiram a concepção e execução da (levée en masse), que
permitiu colocar uma população em armas, em defesa da República. O fervor
revolucionário que inspirou e foi a verdadeira força anímica das fileiras
francesas e que não pôde ser ultrapassado pelos exércitos conservadores
profissionais, com melhor treino e uma disciplina muito superior. A revolução
industrial, embora na sua fase inicial, já permitiu desviar muita mão-de-obra
para os exércitos. A organização do exército, em grande parte obra de Lazare
Carnot. O génio táctico e estratégico de Napoleão Bonaparte, revelado na sua
Primeira Campanha de Itália.
Portugal Na Primeira Coligação

Em
Portugal as notícias da Revolução Francesa foram acolhidas com alguma
expectativa, mas não com repúdio. A situação só começou a alterar-se após os
acontecimentos da fuga de Luís XVI e daí por adiante até à sua execução. Depois
deste acontecimento, a guerra na Europa parecia inevitável e Portugal, entre o
Atlântico e a Espanha, tinha que acautelar os seus interesses. Por um lado,
tinha de assegurar a as linhas de comunicações do Império e, para isso,
necessitava de se manter em bom relacionamento com a potência que dominava os
mares, a Inglaterra. Por outro lado, necessitava da não hostilidade da Espanha
para preservar a sua independência. O mais poderoso rival da Espanha nos seus
objectivos comerciais era a Inglaterra. Pelo Tratado de Paris, de Fevereiro de
1763, a Espanha teve de fazer importantes concessões à Inglaterra e até a sua
única conquista durante a Guerra dos Sete Anos, a colónia de Sacramento, teve
de ser devolvida a Portugal. Por isso, Carlos III não resistiu a interferir na
Guerra da Independência Americana e, em Abril de 1779, assinou um tratado
secreto com a França. O tratado previa que, obtida a vitória, a Espanha
recuperaria Gibraltar. Nesta guerra, a Espanha reconquistou a Florida, ocupou
as posições britânicas nas Bahamas e expulsou os Ingleses de Belize. Na Europa,
pôs cerco a Gibraltar mas não obteve sucesso pois não tinha capacidade para
bloquear a posição pelo mar. No entanto, em Fevereiro de 1782, recuperou
Minorca que se encontrava em mãos inglesas. Seria difícil encontrar interesses
coincidentes entre a Espanha e a Inglaterra. A Portugal interessava manter a
neutralidade e, simultaneamente, não se afastar daquelas duas potências que
tinham como único objectivo comum conter a Revolução Francesa. Luís Pinto de
Sousa Coutinho, ministro dos negócios estrangeiros português, propôs constituir
uma tríplice aliança com a Grã-Bretanha e a Espanha. Desta forma evitava que
Portugal ficasse isolado quando os interesses das três potências deixassem de
coincidir. Colocado entre o Atlântico, onde se definia o papel da Grã-Bretanha,
e o continente, onde a única fronteira era com a Espanha, dificilmente se
verificaria a convergência de interesses. A solução encontrada foi a de obter
acordos com a Espanha onde não obrigasse a uma discordância com a Grã-Bretanha.
Mas uma unidade de acção com a Espanha envolvia ainda o risco de
subalternização de Portugal relativamente à potência continental. A situação de
Portugal era, assim, precária e podia tornar-se mais perigosa se a Espanha se
colocasse ao lado da França. A execução de Luís XVI levou Carlos IV de Espanha
a chamar o seu embaixador em Paris. Esta atitude valeu-lhe a declaração de
guerra da Convenção (18 de Março de 1793). A Espanha entrou assim na Primeira
Coligação. Desta forma, para Portugal, era preciso garantir a convergência com
a Espanha não colocando nunca em perigo a aliança com a Grã-Bretanha. Portugal
assinou separadamente, com aquelas potências tratados de assistência mútua.
Assinou com a Espanha, em Madrid, a 15 de Julho de 1793, e com a Grã-Bretanha,
em Londres, a 26 de Setembro desse mesmo ano. Portugal não se juntava à
Coligação mas auxiliava estas duas potências beligerantes: Espanha e
Grã-Bretanha, assumia assim o estatuto de potência auxiliar. Formalmente,
mantinha a sua situação de neutralidade. De acordo com as regras da diplomacia
da época, esta era uma atitude legítima que foi reconhecida pelas outras
potências europeias. Foi neste âmbito que Portugal enviou para a Catalunha uma
força com cerca de 5.000 homens, o "Exército Auxiliar à Coroa de
Espanha" sob o comando do Marechal de Campo John Forbes Skellater.

Esta
força iniciou a viagem por mar a 19 de Setembro de 1793 e iniciou o desembarque
no porto de Rosas, na Catalunha, a 9 de Novembro. Tinha início, para as tropas
portuguesas, a Campanha do Rossilhão.
Terceira
Coligação

Após
a dissolução da Segunda Coligação (1802), a negativa do Reino Unido em entregar
a ilha de Malta aos Cavaleiros da Ordem de São João de Jerusalém iniciou novo
conflito com os franceses. Em 1805, com a adesão da Áustria, de Nápoles, da
Rússia e da Suécia ao conflito em apoio aos ingleses, originava-se a Terceira
Coligação. A Espanha era então aliada da França. A ideia
desta coligação era tentar deter as crescentes ambições do governante francês,
Napoleão Bonaparte, que em Maio de 1804 recebera o título de imperador. Napoleão
enfrentou os austríacos, que haviam invadido a Baviera, tendo vários Estados
alemães apoiado a França na ocasião. As tropas francesas derrotaram as forças
austríacas na batalha de Ulm, onde fizeram vinte e três mil prisioneiros, e
iniciaram o avanço, ao longo do rio Danúbio, sobre Viena. As tropas russas,
lideradas pelo General Mikhail Kutuzov e pelo Czar Alexandre I da Rússia,
levaram reforços aos austríacos, mas foram vencidas na batalha de Austerlitz. A
Áustria rendeu-se novamente, e assinou o Tratado de Presburgo (26 de dezembro
de 1805). Em consequência, foi formada a Confederação do Reno, tendo Napoleão
aproveitado a situação para nomear os seus irmãos, José I de Nápoles, e Luís I
da Holanda. Enquanto isso, no mar, o Almirante Britânico Horatio Nelson
derrotava as Armadas Francesas e Espanholas na Batalha de Trafalgar (21 de
outubro de 1805). Como consequência, no ano seguinte (1806), Napoleão decretou
o Bloqueio Continental, pelo qual os portos de toda a Europa seriam fechados ao
comércio Britânico. A superioridade naval da Grã-Bretanha e a retirada da
Família Real Portuguesa para o Brasil dificultaram, na prática, a aplicação
desta medida, conduzindo ao fracasso dessa política económica europeia
francesa.
Prelúdio

O
Reino Unido não estava feliz com várias ações tomadas pela França após a
assinatura do Tratado de Amiens. Napoleão Bonaparte havia anexado Piemonte e a
Ilha de Elba, e se proclamou presidente da República Italiana, um Estado criado
pela França. Os franceses também interferiam bastante nos assuntos comerciais
britânicos, apesar dos acordos de paz. Paris também reclamava que a Grã-Bretanha
ainda dava abrigo a certos indivíduos e não calava a imprensa anti França do
país. A ilha de Malta havia sido capturada pelos britânicos durante a Guerra da
Segunda Coligação e esse assunto foi tratado em um complexo acordo estipulado
pelo 10º artigo do Tratado de Amiens onde a Ordem de São João foi restaurada
com uma guarnição napolitana. Contudo, o enfraquecimento da Ordem através do
confisco de seus bens na França e Espanha, além de outros atrasos, evitaram que
os britânicos pudessem se retirar da ilha nos três meses estipulados pelo tratado.
A República Helvética foi estabelecida pela França quando eles invadiram a
Suíça em 1798. Os franceses retiraram suas tropas, mas violentas revoltas
aconteceram contra o governo, que muitos suíços viam como centralizado demais.
Alarmado, Bonaparte reocupou o país em 1802 e impôs um acordo de mediação. Esta
ação causou ultraje na Grã-Bretanha, que protestou afirmando que este ato
violava o Tratado de Lunéville. Embora as potências continentais não estivessem
preparadas para agir, os britânicos decidiram enviar um agente para ajudar os
suíços a obter suprimentos e deu ordens para as suas forças armadas não
devolverem a Colônia do Cabo para a Holanda, como eles haviam prometido no
Tratado de Amiens. Contudo, a resistência suíça acabou entrando em colapso
antes de qualquer mudança significativa nas políticas internacionais e depois
de um mês os ingleses decidiram revogar a ordem de não entregar a Colônia do
Cabo. Ao mesmo tempo, a Rússia também entrou nas discussões sobre a ilha de
Malta. Preocupada com a possibilidade de recomeço das hostilidades quando
Bonaparte descobrisse que a Colônia do Cabo não havia sido retida, os
britânicos começaram a deliberadamente procrastinar sua evacuação de Malta. Em
janeiro de 1803, um artigo oficial do governo francês publicou um relatório de
um agente comercial que dizia com quanta facilidade a França havia conquistado
o Egito. Os britânicos usaram isso como motivo para exigir algum tipo de
satisfação e segurança antes de evacuar Malta, que podia ser usado como rota
para o Egito. A França negou qualquer intenção de tentar anexar o Egito e
perguntou que tipo de garantias os ingleses precisavam, mas estes não
responderam. Ainda não havia um interesse das partes em recomeçar as hostilidades,
com o primeiro-ministro Henry Addington afirmando publicamente que a
Grã-Bretanha estava em um profundo estado de paz. No começo de março de 1803, o
governo de Addington recebeu a notícia de que a Colônia do Cabo havia sido
reocupada pelo Exército Britânico, de acordo com as ordens dadas. No dia 8,
novas ordens foram passadas aos militares para se prepararem para uma
retaliação francesa, mas a propaganda estatal afirmou falsamente que isso era
uma resposta as preparações que os franceses estavam fazendo e que negociações
com Paris estavam sendo feitas. Napoleão reagiu repreendendo o embaixador
britânico na frente de 200 espectadores a respeito das preparações militares não
justificadas do seu país. O governo do primeiro-ministro inglês, Henry
Addington, sabia que haveria uma investigação para saber se o motivo das
recentes preparações militares era justificado ou não. Durante o mês de abril
ele tentou, sem sucesso, procurar o apoio de William Pitt para se blindar de
qualquer dano político. Nesse mesmo período, o governo britânico fez um
ultimato á França, exigindo a retenção de Malta por pelo menos dez anos, a
permanente aquisição da ilha de Lampedusa do Reino da Sicília e a evacuação da
Holanda. Em retorno, eles reconheceriam as conquistas territoriais francesas na
Itália, se Napoleão se retirasse da Suíça e recompensasse o Reino da Sardenha
por suas perdas territoriais. A França ofereceu, em contra partida, colocar a
ilha de Malta em mãos russas, para aliviar as preocupações britânicas, se
retirar da Holanda, uma vez que a saída inglesa de Malta estivesse concluída, e
formar uma convenção para dar satisfação ao Reino da Grã-Bretanha em outros
temas. Porém os britânicos falsamente afirmaram que a Rússia nunca se ofereceu
e o seu embaixador deixou Paris. Ainda tentando evitar uma guerra, Bonaparte
tentou fazer um acordo secreto com os ingleses onde estes poderiam se manter em
Malta se aos franceses fosse permitido ocupar a península de Otranto, em
Nápoles. Porém todos os esforços foram infrutíferos e a Inglaterra oficialmente
declarou guerra a França em 18 de maio de 1803.

Em 1804, Napoleão foi coroado
Imperador dos Franceses. Sua ascensão não foi diretamente reconhecida por
nenhuma potência europeia.
Guerra Entre O Reino Unido E A França
(1803
- 1814)
Motivações
Britânicas

Os Britânicos terminaram sua paz fraca criada pelo tratado de Amiens quando
declarou guerra a França em maio de 1803. O governo do Reino da Grã-Bretanha
estava ficando cada vez mais irritado com Napoleão alterando a ordem política
na Europa Ocidental, especialmente na Suíça, na Alemanha, na Itália e na
Holanda. O académico Frederick Kagan diz que os britânicos estavam insultados e
alarmados com o controlo de Napoleão sobre o território suíço. O líder francês
falou que os ingleses não tinham nada a dizer a respeito dos acontecimentos na
Europa continental e queria interromper a circulação de jornais ingleses que
difamavam Napoleão. A Grã-Bretanha imaginava estar perdendo o controlo político
e sua hegemonia, além da perda de mercados, e se preocupava que Napoleão iria
tentar ameaçar suas colónias fora do continente europeu. O autor Frank McLynn
afirma que a decisão britânica de ir a guerra contra a França em 1803 foi uma
"mistura de motivações económicas e neurose nacional, uma ansiedade
irracional sobre os motivos e intenções de Napoleão". Contudo, McLynn
argumenta que, no longo prazo, a decisão de fazer guerra foi correta, pois as
intenções de Napoleão eram hostis e iam de encontro aos interesses britânicos.
Além disso, Bonaparte não estava preparado para a guerra naquele momento e era
o melhor período para os britânicos irem a ofensiva. A Inglaterra então tomou
conta de Malta, se recusando a acatar os termos do tratado de Amiens. O maior
medo dos britânicos era que Napoleão estaria tomando o controlo da Europa,
tornando o sistema internacional instável e excluindo a Grã-Bretanha do cenário
político. Muitos académicos afirmam que a postura agressiva de Napoleão fez
dele inimigo de muitos países e lhe custou aliados. Em 1808 os franceses já
estavam em controlo de boa parte da Europa continental, mas o conflito
constante com a Inglaterra levou a Guerra Peninsular e a Campanha da Rússia,
onde muitos afirmam que foram erros de cálculo de Napoleão. Nunca houve uma
tentativa séria de encerrar um conflito por meio de um acordo de paz. O pedido
mais relevante foi feito por Charles James Fox, secretário de relações
exteriores inglês, em 1806 e terminou em fracasso. Os britânicos queriam reter
suas possessões coloniais no exterior e ainda manter Hanôver sob seu controle,
e em retorno reconheceria as conquistas territoriais francesas. Os franceses
aceitaram deixar aos ingleses Malta, Colónia do Cabo, Tobago e a Índia
Francesa, mas queriam a Sicília em troca da restauração de Hanôver, uma
condição que os britânicos recusaram. Ao contrário dos seus aliados nas
Coligações, o Reino da Grã-Bretanha esteve sempre em guerra contra a França no
curso das Guerras Napoleónicas. Protegidas por sua superioridade naval, os
britânicos travaram poucas batalhas terrestres contra a França no curso da
década, preferindo travar a sua guerra por procuração. O governo britânico gastou
enormes quantidades de dinheiro para apoiar outros Estados europeus guerrearem
contra Napoleão, chegando a pagar por exércitos inteiros. Foi dinheiro inglês,
por exemplo, que manteve viva a rebelião espanhola na Guerra Peninsular (1808 -
1814), apoiando os guerrilheiros. Uma força Anglo-portuguesa, liderada por
Arthur Wellesley, apoiada pelos espanhóis, realizaram uma campanha bem-sucedida
por terra para expulsar os franceses da Espanha, dando a Inglaterra a
oportunidade de invadir a França pelo sul. Em 1815, o exército britânico venceu
as tropas de Napoleão em Waterloo. Além de algumas pequenas batalhas navais
travadas em alguns cantos do império colonial britânico, as guerras napoleónicas
tiveram um aspecto global bem menor se comparado com a Guerra dos Sete Anos
(1756 - 1763), que foi o primeiro conflito a ser caracterizado como uma
"guerra mundial".
Guerra
económica

Em
resposta ao bloqueio naval imposto pelos ingleses contra a costa francesa
iniciado em maio de 1806, Napoleão firmou o Decreto de Berlim, em 21 de
novembro do mesmo ano, que iniciou o Bloqueio Continental. O objetivo era
isolar a Grã-Bretanha economicamente ao tentar encerrar o seu comércio com o
continente. O Reino Unido manteve um exército de 220.000 soldados profissionais
no auge das Guerras Napoleónicas, onde apenas metade estavam disponíveis para
campanhas, com o resto sendo alocado na Irlanda e em outras possessões
coloniais inglesas pelo mundo para garantir sua proteção e que estas próprias
não tentassem se rebelar. Cerca de 2,5 milhões de homens serviram nos exércitos
napoleónicos (incluindo milícias e guardas nacionais). Muitos destes soldados
eram fornecidos pelos países satélites de Napoleão. O maior exército que ele
conseguiu mobilizar para uma campanha foi de 685.000 homens para lutar na
Rússia (1812), sendo que metade destas tropas, eram franceses. A marinha
real britânica conseguiu impedir o comércio extracontinental francês (ao atacar
navios franceses em alto-mar e até tomando pela força possessões coloniais
francesas no exterior) mas não pode fazer muita coisa com as relações
comerciais dentro do continente europeu. Além disso, a França tinha uma
população bem maior que a do Reino Unido e também tinha uma agricultura muito
maior. Contudo, a Grã-Bretanha tinha os maiores parques industriais da Europa e
sua dominância militar nos oceanos garantiu que o país manteria sua riqueza
através do comércio marítimo. Isso garantiu que a França não conseguiria manter
a Europa sob seu controle pela paz, pois os países de lá sempre precisariam de
bens e matérias primas encontradas fora do continente. Ainda assim, o governo
francês acreditava que conseguiria enfraquecer a Inglaterra ao isola-la do continente
e acabar com sua influência económica na região.
Financiando
o conflito

Um
fator importante para o sucesso britânico foi sua habilidade de mobilizar todos
os recursos financeiros e industriais da nação para derrotar a França. O Reino
da Grã-Bretanha tinha uma população de 16 milhões de pessoas, metade da
população francesa (que era de um pouco mais de 30 milhões). Então, com uma
população maior, é natural que a França tivesse um exército maior. Contudo, os
britânicos compensavam isso ao subsidiar, através de empréstimos, as forças
armadas de países como Áustria e Rússia, que tinham pelo menos 450.000 homens
em armas em 1813. Pelos termos do tratado Anglo-Russo de 1803, os britânicos
pagariam ₤1,5 milhões de libras por cada 100.000 soldados que a Rússia
conseguisse mobilizar. Mais importante, a produção nacional britânica
manteve-se forte e seu setor bem organizado de negócios canalizava a produção
para as necessidades militares. O Reino Unido usou seu poder económico para
expandir a marinha real, dobrando o seu número de fragatas e aumentando em 50%
o seu inventário de navios de linha, enquanto aumentava o número de marinheiros
de 15.000 para 133.000 em oito anos após o começo das guerras contra a França
em 1793. Os franceses, enquanto isso, viram sua marinha ser reduzida pela
metade. O Bloqueio Continental, que visava isolar a Inglaterra economicamente
do restante do continente europeu, acabou fracassando devido a corrupção,
contrabando e da dificuldade de impor tal bloqueio a todos os portos da região.
No final, a economia britânica sofreu pouco. Os subsídios britânico a Rússia e
a Áustria mantiveram estes países na guerra. O orçamento britânico em 1814
chegou a £66.000.000 de libras, incluindo £10 milhões para a marinha de guerra,
£40 milhões para o exército, £10 milhões em empréstimos aos aliados e £38
milhões em juros da dívida nacional. De fato, a dívida pública subiu para £679
milhões, o dobro do PIB nacional na época. Fundos vinham de investidores
privados e impostos sobre os cidadãos. Um imposto que viu um acentuado
crescimento foi o de terras e sobre novas rendas. O custo total da guerra foi
estipulado em £831 milhões de libras. Em contraste, o sistema financeiro
francês era inadequado e Napoleão se viu forçado a adquirir fundos e
requisições nas novas terras conquistadas.
Guerra Da Terceira Coligação
(1803)

Em
1803, o Reino Unido reuniu seus aliados pelo continente para formar a Terceira
Coligação contra a França. Em resposta, Napoleão contemplou invadir a
Grã-Bretanha, e reuniu um efetivo de 200.000 homens na cidade de Bolonha para a
operação. Contudo, antes que ele pudesse autorizar uma invasão, ele precisava
conquistar superioridade naval ou pelo menos afastar a esquadra britânica do
Canal Inglês. Um complexo plano para distrair a marinha inglesa foi feito ao
ameaçar as possessões coloniais britânicas nas Índias Ocidentais, mas fracassou
quando a frota Franco-espanhola, sob comando do Almirante Villeneuve, foi
forçada a recuar após a mal sucedida batalha de Cabo Finisterra, a 22 de julho
de 1805. A marinha britânica então bloqueou Villeneuve em Cádiz, na costa de
Andaluzia (sul da Espanha), até ele partir para Nápoles em 19 de outubro. Por
fim, a esquadra combinada da marinha francesa foi derrotada na decisiva batalha
de Trafalgar, em 21 de outubro de 1805. O comandante da frota britânica, o Almirante
Horatio Nelson, morreu no combate.

Napoleão então não veria outra oportunidade
de desafiar o poderio inglês no mar, nem ameaçaria mais uma invasão das ilhas
britânicas. Ele então voltou sua atenção para os inimigos no continente, que
naquela altura estavam se mobilizando contra ele. Em abril de 1805, a Rússia e
o Reino Unido assinaram um tratado que visava remover a França da República
Batava (atual Holanda) e da Confederação Suíça. A Áustria se juntou a aliança
após a anexação da cidade de Génova pelos franceses e a proclamação de Napoleão
como Rei da Itália em 17 de março de 1805. A Suécia, que já havia concordado em
emprestar a região da Pomerânia sueca como base militar para que as tropas
britânicas atacassem a França, se juntou a coalizão em 9 de agosto. Os
austríacos foram os primeiros a partir para a ofensiva na guerra ao invadir a
Baviera com um exército de 70.000 homens sob comando de Karl Mack von
Leiberich. Napoleão então moveu seu exército, que estava estacionado na
Bolonha, para confrontar os austríacos. Em Ulm (25 de setembro a 20 de outubro)
Napoleão cercou as forças de Leiberich e forçou sua rendição, sofrendo
pouquíssimas baixas no processo. Com o principal exército austríaco ao norte
dos Alpes derrotado, os franceses marcharam sobre Viena. Então, afastado de
suas linhas de suprimentos, Napoleão teve que enfrentar agora uma força
austro-russa comandado pelo Marechal Mikhail Kutuzov, acompanhado pelo Imperador
Russo Alexandre I em pessoa.

A 2 de dezembro, ele esmagou essa tropa, nas
cercanias de Morávia, na Batalha de Austerlitz. Mesmo em menor número,
Bonaparte infligiu cerca de 25.000 baixas ao inimigo, sofrendo apenas 7.000
dentre a sua própria tropa. Derrotada, a Áustria não teve escolha se não sair
da Coligação e procurar a paz com a França. A 26 de dezembro de 1805 foi
firmado o Tratado de Pressburg, que forçou os austríacos a ceder a região de
Vêneto para o Reino de Itália (governado por Napoleão) e Tirol para a Baviera.
Com a saída da Áustria da guerra, um impasse apareceu. Napoleão venceu diversas
batalhas, mas o poderio completo do exército russo não havia sido testado, com
o grosso de suas tropas ainda no seu território. Bonaparte agora tinha comando
absoluto da França e havia expandido seu novo império ao conquistar a Bélgica,
os Países Baixos, a Suíça, e boa parte da Alemanha ocidental e o norte da
Itália. Seus apoiadores afirmam que Napoleão pretendia encerrar suas
conquistas ali, mas sua mão foi forçada a continuar lutando e ganhar novos
territórios para o país a fim garantir segurança nacional diante de países que
se negavam a aceitar os seus feitos. O escritor Esdaille, contudo, discorda e
afirma, ao fim da terceira coligação, as potências europeias estavam dispostas
a aceitar Napoleão como ele era. O autor afirma: "Em 1806, tanto a Rússia
quanto o Reino Unido possivelmente estava ansiosos para fazer paz e eles podiam
até concordar com os termos apresentados e deixar intactas as conquistas de
Napoleão. Já a Áustria e a Prússia queriam simplesmente serem deixadas em paz.
Para firmar uma paz sólida, então, poderia até ser fácil. Mas (...) Napoleão
não estava preparado para fazer concessões".
Guerra Da Quarta Coligação
(1806
- 1807)

A
Quarta Coligação, foi a aliança formada pela Grã-Bretanha e pela Rússia e
Suécia, contra a França de Napoleão Bonaparte, em 1806. A Prússia aderiu à
Coligação, sendo as suas tropas derrotadas na batalha de Jena (14 de Outubro de
1806), tendo as forças francesas ocupado Berlim. Em seguida, Napoleão derrotou
os exércitos russos na batalha de Friedlândia, (1807) obrigando o Czar
Alexandre I da Rússia a assinar o Tratado de Tilsit. Uma ténue paz se seguiu na
Europa, até a volta das hostilidades dois anos mais tarde. Alguns meses após o
término da Terceira Coligação contra a França, iniciou-se a Guerra da Quarta
Coligação (1806 - 1807) formada pelo Reino Unido, Prússia, Rússia, Saxónia e
Suécia para, novamente, lutar contra Napoleão. Em julho de 1806, Bonaparte
formou a Confederação do Reno que firmou uma aliança entre vários pequenos
Estados no coração da Alemanha, na região da Renânia, e no oeste do país. Ele
amalgamou muitos pequenos países em um conjunto de Ducados e Reinos para fazer
a governança de países na Alemanha não prussiana mais fácil. Napoleão elevou os
governantes dos dois maiores Reinos da Confederação, a Saxónia e a Baviera,
para o status de Rei. Em agosto de 1806, o Rei Prussiano, Frederico Guilherme
III, decidiu entrar em guerra contra a França, independente da ajuda das outras
potências. O exército russo, principal aliado da Prússia, em particular, estava
longe demais. A 8 de outubro de 1806, Napoleão avançou com suas tropas para o
leste do Reno e sobre a Prússia. Napoleão pessoalmente derrotou um exército
prussiano na Batalha de Jena (14 de outubro de 1806), enquanto o Marechal Louis
Nicolas Davout também os derrotou na Batalha de Auerstedt no mesmo dia. No
auge, cerca de 160.000 soldados franceses participavam da campanha contra a
Prússia, usando sua mobilidade para derrotar o inimigo. Os prussianos
conseguiram mobilizar até 250.000 soldados, sendo que eles sofreram 25.000
baixas, com 150.000 homens, feitos prisioneiros. Pelo menos 4.000 peças de
artilharia e 100.000 mosquetes foram capturados. Em Jena, o combate não foi tão
significativo. Mas em Auerstädt o grosso do exército prussiano foi destruído.
Então, a 27 de outubro de 1806, Napoleão marchou sobre Berlim.

Lá ele visitou a
tumba de Frederico, o Grande e ordenou que seus Marechais removessem seus
chapéus quando entraram na tumba para reverencia-lo. No total, levou apenas 19
dias para Napoleão subjugar a Prússia e entrar em Berlim. O ponto decisivo da
campanha foi sua vitória nas batalhas de Jena e Auerstädt. A Saxónia decidiu
então se afastar dos prussianos e, junto com vários Estados menores alemães, se
aliaram de vez a França. No próximo estágio da guerra, os franceses lutaram
para forçar os russos para fora da Polónia. Os nacionalistas poloneses
imediatamente se levantaram em favor da França. Soldados alemães também
ajudaram as tropas de Napoleão, principalmente em cercos militares nas regiões
da Silésia e Pomerânia, com assistência também de soldados holandeses e
italianos. Napoleão então virou-se para o norte para confrontar o que sobrou
das tropas russas e para capturar a capital nova da Prússia em Königsberg. Após
uma vitória contestada em Eylau (7 - 8 de fevereiro de 1807), Bonaparte
conseguiu forçar a rendição da cidade de Danzig após um curto cerco (24 de maio
de 1807). Outra vitória contestada veio na Batalha de Heilsberg (10 de junho de
1807), onde forçou os russos a recuar novamente. Uma vitória mais definitiva
veio na Batalha de Friedland (14 de junho de 1807), onde conseguiu derrotar o
grosso do exército imperial russo. Após esta derrota, o Czar Alexandre I da
Rússia decidiu procurar a paz com a França e firmou então o Tratado de Tilsit
(7 de julho de 1807). Na Alemanha e na Polónia, novos estados satélites de
Napoleão, como o Reino de Vestefália, o Ducado de Varsóvia e a República de Danzig,
foram estabelecidos. Em setembro de 1807, o Marechal Guillaume Brune completou
a ocupação da Pomerânia sueca, permitindo ao exército sueco, contudo, fugir com
toda a sua munição. Impossibilitado de invadir a Inglaterra devido á
superioridade naval desta, Napoleão impôs o Bloqueio Continental, proibindo os
países do continente europeu de comercializar com o Reino Unido. Os Britânicos
responderam lançando uma grande ofensiva naval contra o aliado mais fraco da
França, a Dinamarca. Apesar de declaradamente neutros, os Dinamarqueses eram
pressionados pelos franceses e russos para apoiar a frota de Napoleão. Londres
não podia simplesmente ignorar a ameaça dinamarquesa. Em novembro de 1807, a Marinha
Real Britânica bombardeou a cidade de Copenhaga, capturando a frota
dinamarquesa, garantindo o fluxo de navios ingleses na região. A Dinamarca não
lutou na guerra ao lado da França e agora com a perda de suas bases navais
ficou ainda mais irrelevante no conflito. No Congresso de Erfurt (setembro - outubro
de 1808), Napoleão e Alexandre I concordaram que a Rússia deveria forçar a
Suécia a se unir ao Bloqueio Continental, o que levou a Guerra Finlandesa de
1808 - 1809 e a divisão do território sueco em duas partes no Golfo de Bótnia.
A parte leste se tornou o Grão-Ducado da Finlândia, pertencente a Rússia.
Polónia

Em
1807, Napoleão fortaleceu sua base de poder na Europa oriental. A Polónia
sempre fora dividida pelos seus três vizinhos, mas Bonaparte criou o chamado
Ducado de Varsóvia, mas este Estado se tornou muito dependente da França. O
Ducado incorporava territórios que outrora pertenciam a Áustria e Prússia. Sua
população era de 4,3 milhões e em 1814 enviou 200.000 homens para lutar ao lado
de Napoleão. Incluindo 90.000 que marcharam com ele até Moscovo (a maioria não
retornou). Os russos fortemente se opuseram a ideia de uma Polónia soberana e
independente, e isto foi um dos motivos que levou a França a invadir o Império
Russo em 1812. O Ducado polonês foi dissolvido em 1815, após a queda de
Napoleão. A Polónia só voltaria a ser um Estado independente em 1918. A
influência de Napoleão no território polonês (assim como em outros territórios
ocupados e vizinhos) foi imensa, incluindo a implementação do código napoleónico,
a abolição da servidão, e a introdução das burocracias que firmaram a classe
média local.
Guerra Da Quinta Coligação
(1809)
A
Quinta Coligação foi a aliança formada pela Grã-Bretanha e pela Áustria, a
Prússia e a Suécia (nações absolutistas), contra a França de Napoleão
Bonaparte, em 1809. No ano de 1808, os exércitos de Napoleão, dominavam
praticamente toda a Europa, excepto a Rússia e a Grã-Bretanha. Na Suécia
ocupada, o Marechal francês Jean-Baptiste Bernadotte, foi eleito o novo
herdeiro do trono. Na Espanha ocupada, entretanto, onde após ter destronado
Carlos IV de Espanha,

Napoleão nomeara seu irmão, José Bonaparte, como Rei da
Espanha, tiveram início insurreições de cunho nacionalista. Os espanhóis,
revoltados, expulsaram José Bonaparte de Madrid, vindo a eclodir a chamada
Guerra da Independência Espanhola (1808 - 1814). Nesse contexto, constituída a
Quinta Coligação, Napoleão derrotou os austríacos na batalha de Wagram (Julho
de 1809) obrigando-os a assinar o Tratado de Schönbrunn. Ao mesmo tempo,
divorciou-se de sua primeira mulher, Josefina de Beauharnais, e desposou Maria
Luisa de Áustria, filha de Francisco I da Áustria, na esperança de evitar novas
coligações da Áustria contra a França. Apesar de boa parte das terras
hereditárias dos Habsburgos continuaram em suas mãos, a França formalmente
anexou a província da Carinthia, a Carníola e alguns portos no mar Adriático,
enquanto a Galícia foi dado aos poloneses e a cidade de Salzburgo, em Tirol,
passou para os bávaros. Devido às perdas territoriais, a Áustria perdeu do, seu
controle cerca de três milhões de pessoas, cerca de um quinto de sua população.
Apesar da luta na Península Ibérica continuar, o continente europeu continuou
em relativa paz até a França invadir a Rússia em 1812, dando início a Guerra da
sexta Coligação. Com o controle de boa parte da Europa Ocidental, muitos
historiadores afirmam que, ao fim da guerra da quinta coligação, o Império Napoleónico
atingiu o auge do seu poder e influência, chegando a sua máxima extensão territorial
no começo de 1812. A Quinta Coligação (1809) começou com uma aliança entre o
Reino Unido e a Áustria contra a França, enquanto os ingleses instigavam a
Guerra Peninsular com Portugal e a Espanha contra as tropas francesas de
ocupação. Mais uma vez, os britânicos se tornaram a principal figura do
conflito, tomando as maiores ações já que o principal teatro de operações
contra Napoleão foi, inicialmente, no mar. A marinha do Reino Unido liderou uma
série de operações bem-sucedidas contra os franceses nas suas colónias
ultramarinas. Em terra, a guerra da Quinta Coligação viu menos movimentações
militares que as anteriores. Uma delas foi a Expedição de Walcheren de 1809,
que envolveu um esforço duplo do exército e marinha do Reino Unido para
distrair as forças francesas no leste e aliviar a situação dos austríacos. Esta
operação terminou em desastre quando o comandante, John Pitt, falhou em
capturar seu objetivo, a base naval francesa na Antuérpia. Durante boa parte da
guerra, as operações militares britânicas em terra (com exceção da península
ibérica) viraram apenas ações isoladas executadas pela marinha real, que
dominavam os mares após ter derrotado boa parte da oposição naval por parte da
França e seus aliados, bloqueando seus portos e bases navais e outras
fortificações costeiras. Estas ações isoladas visavam interromper o trafego
naval (civil e militar) francês, atrapalhando suas linhas de comunicação e
suprimentos. Quando os países da coalizão tentavam lançar expedições perto da
costa, a marinha britânica os ajudava pelo mar ou desembarcava tropas e
suprimentos para eles. A guerra económica continuava com o Bloqueio Continental
imposto pela França contra o Reino Unido, proibindo o comércio da Europa com as
ilhas britânicas. Devido a falta de suprimentos militares e má organização nos
territórios controlados pela França, muitas brechas foram encontradas no
bloqueio e muitos líderes em nações dominadas por Napoleão toleravam e até
encorajavam o comércio contrabandista com os ingleses. Em termos de danos económicos
a Grã-Bretanha, o bloqueio foi maioritariamente ineficiente. Na verdade,
implementa-lo era mais dispendioso para a França. Assim, Napoleão rapidamente
percebeu que países como a Espanha, Portugal e Rússia abertamente desrespeitavam
seu bloqueio e invadi-los seria a única opção. Essas acabaram sendo decisões
táticas erradas, pois o custo da ocupação do território espanhol e da ofensiva
contra o Império Russo foram astronómicos e comprometeram um elevado número de
vidas francesas e de aliados, o que acelerou a derrota de Napoleão. Ambos os
lados lançaram dispendiosas campanhas militares para forçar os seus bloqueios.
Os britânicos travaram um conflito contra os Estados Unidos na Guerra
anglo-americana (1812 - 1815), enquanto os franceses travaram a Guerra
Peninsular (1808 - 1814) para manter a Espanha sob controlo e impedir a
comercialização da Península Ibérica com a Inglaterra. O conflito ibérico
começou quando Napoleão invadiu Portugal pois estes se recusaram a tomar parte
do Bloqueio Continental e continuaram a comercializar com o Reino Unido. Quando
o governo espanhol falhou em manter o sistema continental, a ténue aliança
entre a França e a Espanha acabou terminando. Tropas francesas avançaram e
tomaram grandes porções do país, incluindo a capital Madrid, e instalaram um
novo Rei no poder, o próprio irmão de Napoleão, José Bonaparte. Isso levou a
revolta da população local e uma onda de nacionalismo tomou conta da nação. Os
britânicos intervieram, apoiando o movimento de guerrilha espanhola contra a
ocupação francesa. A Áustria, que estava em paz com a França, aproveitou-se do
fato que os franceses estavam voltando sua atenção para a Espanha, decidiu
reivindicar seu território perdido na Alemanha após sua derrota em Austerlitz
(durante a guerra da terceira coligação). O Império Austríaco conseguiu avançar
bem inicialmente, já que as tropas do Marechal Louis Berthier estavam
espalhadas pela frente leste. Napoleão deixou cerca de 170.000 homens sob
comando de Berthier para defender toda a Europa Oriental. Após ver seu exército
sofrer diversas derrotas na Espanha, Napoleão decidiu pessoalmente tomar conta
da situação e liderou a contra-ofensiva, conquistando algum sucesso. Ele
retomou Madrid, derrotou o grosso do exército rebelde espanhol e forçou a
retirada dos Britânicos da Península Ibérica (Batalha de Corunha, 16 de janeiro
de 1809).

Mas quando Bonaparte partiu, uma campanha de guerrilha contra a
ocupação francesa começou em larga escala, terminando em milhares de mortos e
forçando Napoleão a deixar para atrás uma grande força (soldados que seriam
úteis em outras frentes). Enquanto isso, o ataque austríaco no leste forçou
Napoleão a desviar o olhar das forças britânicas devido a sua necessidade de
partir para enfrentar a Áustria no coração da Alemanha. Os britânicos então
enviaram Sir Arthur Wellesley com um novo exército para Portugal, garantindo
que a luta na região não parasse. A guerra na Península Ibérica foi desastrosa
para a França. Enquanto Napoleão comandava as tropas pessoalmente, a luta
esteve bem. Mas quando ele deixou a Espanha, a situação voltou a descambar e o
número de mortos se multiplicou. Bonaparte subestimou a quantidade de tropas
que seria necessário para manter aquele país sob controlo. No final, o território
Ibérico se tornou um beco sem saída, drenando dinheiro, recursos e soldados da
França. O historiador David Gates chamou a Guerra Peninsular de a "Úlcera
Ibérica". Uma vez afastado em definitivo do trono da França, Napoleão
teria dito: "Aquela malfadada guerra me destruiu (...) Todas as
circunstâncias dos meus desastres estão unidos por aquele fatal nó". Enquanto
isso, os austríacos avançavam sobre o Ducado de Varsóvia (atual Polónia), mas
acabaram sendo derrotados na Batalha de Raszyn em 19 de abril de 1809. O
exército polonês, aliados dos franceses, tomaram então de volta a Galícia Ocidental,
após conquistarem mais sucessos. De volta da campanha de Portugal e Espanha,
Napoleão então tomou controlo das tropas no leste e levou seu exército para
lançar uma contra-ofensiva ao Império Austríaco. Depois de algumas batalhas de
intensidade baixa, os austríacos começam a recuar, abandonando a Baviera.
Bonaparte então lançou-se sobre a Áustria. Tentando atravessar rapidamente o
rio Danúbio ele enfrentou os austríacos na Batalha de Aspern-Essling (22 de
maio de 1809). Os franceses não conquistaram seus objetivos e ambos os lados
sofreram pesadas baixas. Mas o comandante austríaco, o Arquiduque Carlos, não
se aproveitou do cenário favorável e permitiu que Napoleão se reagrupasse. Em
julho, o exército imperial francês marchou em Viena novamente. Napoleão então
infligiu uma grande derrota aos austríacos na Batalha de Wagram, no começo de
julho de 1809. Foi nesta batalha que o Marechal francês Carlos Bernadotte foi
privado do seu comando quando ele recuou, contrariando as ordens de Napoleão.
Um tempo depois, Bernadotte aceitou a oferta de se tornar o príncipe herdeiro
da Suécia.

Ele mais tarde se tornaria um dos maiores incentivadores dos suecos
para se voltar contra os franceses. A Guerra da Quinta Coalizão terminou com a
assinatura do Tratado de Schönbrunn (14 de outubro de 1809). No leste, apenas
rebeldes, liderados por Andreas Hofer, na região alemão de Tirol, continuavam a
lutar contra os exércitos franco-bávaros até novembro de 1809. Enquanto isso, a
guerrilha na Península Ibérica continuava. Em 1811, o Império Francês de
Napoleão chegou ao auge de sua extensão territorial. No leste, a Áustria e a
Prússia, cansadas de lutar, tiveram de firmar a paz com Bonaparte novamente. No
oeste, britânicos e portugueses permaneciam restritos em uma área ao redor de
Lisboa (atrás das inexpugnáveis linhas de Torres Vedras) e resistindo no Cerco
de Cádis. Na Espanha, a situação ainda não se acalmara, com os rebeldes lutando
contra as tropas francesas por todo o território. Para tentar sedimentar a paz,
Napoleão desposou Maria Luísa, uma arquiduquesa austríaca e filha do monarca
Francisco I. Bonaparte esperava firmar uma boa aliança com a Áustria, ao mesmo
tempo que segurava sua própria posição como imperador ao gerar um filho e
herdeiro (algo que sua primeira esposa, Josefina, não conseguiu). Além do
Império Francês, Napoleão controlava a Confederação Suíça, a Confederação do
Reno, o Ducado de Varsóvia e o Reino da Itália. Outros territórios aliados a
França eram:
O
Reino Da Espanha
(Governado por José Bonaparte, irmão mais velho de Napoleão).
O
Reino De Vestefália
(Governado por Jerónimo Bonaparte, irmão mais novo de
Napoleão).
O
Reino De Nápoles
(Governado por Joaquim Murat, marido da irmã de Napoleão,
Carolina Bonaparte).
O
Principado De Luca E Piombino
(Governado por Elisa Bonaparte, irmã de Napoleão,
e seu marido Félix Baciocchi).
Guerras Subsidiárias
Os
acontecimentos na Europa durante as Guerras Napoleónicas influenciaram conflitos
militares e eventos que aconteceram fora do continente, como nas Américas e em
outros lugares pelo mundo.
Sexta
Coligação

A
Sexta Coligação foi a união militar da Áustria, Prússia, Rússia, Suécia, Reino
Unido e alguns estados alemães contra o Império Francês de Napoleão Bonaparte.
A coligação conseguiu derrubá-lo do poder e forçá-lo ao exílio na Ilha de Elba.
Em 1812, Napoleão invadiu a Rússia. Após uma importante vitória na Batalha de
Borodino, ele conquistou Moscovo mas não conseguiu capturar o Imperador
Alexandre I e nem subjugar o Império russo. Com a aproximação do inverno e com
poucas provisões, ele ordenou uma retirada de volta a França, via Alemanha,
contudo o exército francês foi duramente castigado pelo frio e pelos ataques
russos à sua retaguarda enfraquecida. A Rússia então aliou-se à Sexta
Coligação. A Suécia também aderiu a coligação, em resposta a invasão da
Pomerânia sueca por tropas francesas. Em 1813, Napoleão partiu para ofensiva,
derrotando as tropas aliadas em Lützen (maio) e em Bautzen. Bonaparte, que
perdera boa parte do seu exército na Rússia, conseguiu reunir 250 mil homens (a
maioria inexperientes). Os seus Estados satélites da Confederação do Reno
forneceriam mais tropas, contudo os Aliados estavam mais preparados e em maior
número. Guarnições do exército francês ainda estavam em grande número lutando
na Espanha. Em agosto de 1813, Napoleão derrotou um exército com quase o dobro
do tamanho do seu na Batalha de Dresden, contudo ele não conseguiu explorar
este sucesso pois o Marechal Nicolas-Charles Oudinot foi derrotado pelos prussianos
a caminho de Berlim. Napoleão então reagrupou-se na Saxónia, mas foi forçado a
bater em retirada sobre o rio Reno, após ter sido derrotado pelos Aliados na Batalha de Leipzig, deixando livres os Estados alemães. Boa parte, dos países
da Confederação do Reno voltaram-se contra os franceses logo em seguida. Os
exércitos russos, austríacos e prussianos invadiram a França pelo norte e
tomaram Paris em março de 1814.

Napoleão abdicou do trono e partiu para o
exílio na ilha de Elba. Os membros da Sexta Coligação reuniram-se no Congresso
de Viena para restaurar as monarquias absolutistas na Europa. No entanto,
enquanto era discutido o novo mapa europeu, Bonaparte evadiu-se de seu local de
exílio, regressando à França e constituindo um novo exército. Depois de vencer
a batalha de Ligny e fracassar em Quatre-Bras, a 18 de junho de 1815 foi
definitivamente vencido na batalha de Waterloo, que pôs fim às Guerras
Napoleónicas.
Guerra De 1812

Ao
mesmo tempo que acontecia a Guerra da Sexta Coligação, apesar de tecnicamente
não ser considerada parte das Guerras Napoleónicas, aconteceu também a Guerra
de 1812, com os Estados Unidos declarando guerra contra a Grã-Bretanha. Uma das
principais causas do conflito entre essas nações foi a constante interferência Britânica em assuntos navais americanos, com embarcações dos Estados Unidos, atacadas pelos ingleses e seus marinheiros capturados sendo alistados á
força na Marinha Real Britânica. Os franceses também interferiram (em um ponto
os americanos cogitaram declarar guerra a França por isso). Esta guerra acabou
terminando em um impasse militar e não houve mudanças territoriais. A paz entre
o Reino Unido e os Estados Unidos foi formalmente acertada no Tratado de Gante
de 1815. Naquela altura, Napoleão já estava no seu primeiro exílio em Elba. O
efeito maior da Guerra de 1812 no contexto dos conflitos na Europa da época foi
que os americanos conseguiram distrair a Marinha Inglesa o suficiente para dar
uma pequena vantagem aos franceses. A compra da Luisiana em 1803, por sua vez,
foi pacífica com Napoleão desistindo da ideia de construir um império colonial
nas Américas. Ele então tomou a Luisiana dos espanhóis e vendeu a terra aos Estados Unidos por US$ 15 milhões de dólares, incluindo US$ 11 milhões em ouro.
Revoluções Na América Latina
Com
a abdicação dos Reis Carlos IV e Fernando VII e a instalação de José Bonaparte
como novo Rei da Espanha por Napoleão, guerras civis e revoluções nas Américas
acabaram por acontecer. Entre 1808 e 1833, as colónias espanholas no continente
latino-americano começaram, uma após a outra, a se separar do Império Espanhol.
Enfraquecida pelas questões internas, a Espanha não teve como resistir por
muito tempo.
A
Invasão Francesa Da Rússia
(1812)

O
Tratado de Tilsit de 1807 resultou na Guerra Anglo-Russa (1807 - 1812). O Imperador da Rússia, Alexandre I, declarou guerra ao Reino Unido após um ataque
inglês contra a Dinamarca em setembro de 1807. Os ingleses apoiavam a frota
sueca durante a Guerra Finlandesa e conseguiram vitórias contra os russos no
Golfo da Finlândia em julho de 1808, e novamente em agosto de 1809. Contudo, o
sucesso do exército russo em terra forçou a Suécia a assinar a paz, em 1809, e
com a França, em 1810, juntando-se então ao Bloqueio Continental contra a
Grã-Bretanha. Ainda assim, após 1810, as relações entre os franceses e os
russos começou a se deteriorar. Em abril de 1812, o Reino Unido, a Rússia e a
Suécia assinaram um pacto secreto contra Napoleão. Um dos assuntos centrais na ténue
paz que se seguiu ao tratado de Tilsit foi a questão polonesa. Napoleão e
Alexandre I divergiam sobre a forma como o país deveria ser, tornando-se uma
nação semi-independente sob controlo de ambos. Como o autor Charles Esdaille
notou, "havia a ideia implícita de que uma Polónia russa seria, é claro, uma
guerra contra Napoleão". O historiador Paul Schroeder diz que a questão
polonesa foi "a causa maior" da guerra de Napoleão contra a Rússia,
mas ele completa afirmando que o fato do governo russo passar a se recusar a se
unir ao Bloqueio Continental também foi um fator importante. Em 1812, no auge
do seu poder e influência na Europa, Napoleão invadiu a Rússia com seu Grande
Exército (o exército imperial), apoiado por milhares de soldados de Estados
satélites e aliados. Sua força de invasão consistia de quase 650.000 homens
(incluindo 270.000 franceses e os demais sendo de nações subservientes ao
Império, como alemães, poloneses e italianos). Os exércitos napoleónicos
cruzaram o rio Neman, em 24 de junho de 1812. A Rússia convocou então a
"Grande Guerra Patriótica" para resistir a invasão estrangeira.
Napoleão afirmou que o motivo central da guerra era pela Polónia. Assim, os
poloneses, em apoio, forneceram 100.000 homens a Bonaparte. Apesar das
expectativas polonesas, Napoleão não fez concessões para a Polónia, pois ele
queria usar aquele território para futuras negociações com a Rússia. O Grande Exército
de Napoleão foi avançando pela Rússia, enfrentando pouca resistência e travando
batalhas de pequena intensidade. O primeiro grande confronto, a Batalha de
Smolensk, ocorreu entre 16 e 18 de agosto, resultando em uma contestada vitória
francesa. Durante esse período, o Marechal Nicolas Oudinot foi detido na
Batalha de Polotsk por forças russas comandada pelo General Peter Wittgenstein. Isso impediu que os franceses chegassem a São Petersburgo. A principal coluna
do exército francês, liderado por Napoleão, marchava até Moscovo. Os russos
implementaram táticas de terra queimada, importunando o Grande Exército com a
cavalaria leve cossaca.

O exército francês não conseguiu adaptar-se ao novo
cenário adverso. Assim, logo nas primeiras semanas, os franceses começaram a
sofrer pesadas baixas. Ao mesmo tempo, o exército russo recuou por pelo menos
três meses. A tática de retirada era liderada pelo Marechal Michael Andreas
Barclay de Tolly e o príncipe Mikhail Kutuzov, feito Comandante-em-chefe pelo Czar
Alexandre I. A política de evitar combates e destruir o terreno, era
interrompida por batalhas pequenas. Porém alguns confrontos de grande
intensidade aconteceram, como a Batalha de Borodino, em 7 de setembro de 1812.
A luta aconteceu nas cercanias de Moscovo e foi uma das mais sangrentas das
Guerras Napoleónicas, envolvendo 250.000 homens e resultando em 70.000 baixas. Seu
resultado foi, no quadro geral, indecisivo, mas deu uma leve vantagem a
Napoleão. Bonaparte terminou controlando a região, mas não destruiu o exército
russo e nem capturou seus líderes. Longe da França, Napoleão foi forçado a
esticar suas linhas de suprimento e ele não tinha como receber reforços,
fazendo com que cada perda fosse sentida. Já a Rússia, com uma população
enorme, podia repor suas baixas rapidamente. Napoleão entrou em Moscovo a 14 de
setembro de 1812, após uma nova retirada por parte do exército russo. A
população de Moscovo já havia, em sua grande maioria, seguido o governo e
abandonou a cidade. Então, o governador da cidade, Fyodor Rostopchin, ordenou
que Moscovo fosse queimada. Alexandre I se recusava a capitular e qualquer
proposta de paz feita pelos franceses era recusada. Em outubro, sem
possibilidade clara de uma vitória, Napoleão começou a desastrosa retirada do
seu exército da Rússia. Na Batalha de Maloyaroslavets, em outubro de 1812, os
franceses tentaram chegar na cidade de Kaluga, onde poderiam encontrar comida e
outros suprimentos. Mas o exército russo bloqueou o seu caminho. Napoleão foi
forçado a se retirar pela mesma rota que o levou a Moscovo, indo pelas áreas
destruídas nas estradas próximas a Smolensk. Nas semanas seguintes, o Grande Exército
de Napoleão apanhou o meio do inverno russo, sofrendo com, além do frio, a
falta de suprimentos e as constantes ações de guerrilha das milícias russas. Quando
o que sobrou do exército de Napoleão que cruzou o rio Berezina em novembro de
1812, apenas 27.000 retornaram em boa ordem, com outros 380.000 sendo mortos ou
dado como desaparecidos, além de outros 100.000 capturados. Bonaparte foi
direto para Paris, para preparar a sua defesa contra os russos e a campanha se
encerrou formalmente em 14 de dezembro, quando os últimos soldados franceses
retornaram da Rússia. Os russos também sofreram, perdendo 210.000 homens, mas
eles podiam repor essas baixas rapidamente, algo que os franceses não
conseguiam.
Guerra Da Sétima Coligação
(1815)

Ao
fim da Guerra da Sexta Coligação a paz veio a Europa novamente, mas não por
muito tempo ou da forma desejada. As potências que outrora lutaram juntas
contra Napoleão começaram a bater-se pelos seus interesses, no Congresso de
Viena a respeito do novo mapa do continente. Na França, o novo governo de Luís
XVIII se tornava cada vez mais impopular. Percebendo a situação agora mais
favorável, Napoleão Bonaparte planejou sua fuga da Ilha de Elba, que ficava a
apenas dois ou três dias pelo mar da costa francesa. Com pequenos barcos e
acompanhado de um pequeno destacamento de membros da sua Guarda Imperial, ele
desembarcou em Golfe-Juan, na Costa Azul da França, em 28 de fevereiro de 1815.
Tropas reais francesas foram enviadas para intercepta-lo mas estas mudaram de lado
ao vê-lo e marcharam com Bonaparte até Paris. A notícia que Napoleão regressara
ao poder na França, em fevereiro de 1815, varreu a Europa e logo uma nova Coligação
anti Bonapartista (a sétima) foi formada, composta pelo Reino Unido, a Rússia,
a Prússia, a Suécia, a Suíça, a Áustria, a Holanda e vários pequenos Estados
alemães. A restauração de Napoleão foi curta (período conhecido como o Governo
dos Cem Dias). As potências Europeias rapidamente reuniram um gigantesco
exército de mais 700.000 homens inicialmente, com mais reforços a caminho. O
imperador francês conseguiu apenas 280.000 soldados. Ele tentou convocar uma
conscrição em massa, mas não foi muito bem-sucedido. Veteranos também foram
chamados de volta ao serviço. Mesmo assim, a desvantagem numérica era demasiada
grande. A Coligação pretendia unir suas tropas e marchar juntos com um poder
avassalador e superar os franceses com seu grande número. Napoleão sabia que as
suas chances, de vitória eram pequenas se enfrentasse de frente as forças
unificadas da Coligação. Ele preferiu combate-los separadamente e derrota-los
um a um, antes que pudessem combinar as suas forças. Bonaparte tomou 124.000
homens do Exército do Norte e atacou as tropas aliadas estacionadas na Bélgica.
Ele pretendia investir sobre as tropas inglesas e separa-las dos prussianos,
inutilizando seus exércitos. Seu ataque inicial pegou os seus inimigos de
surpresa, forçando o recuo das tropas anglo-holandesas. Os prussianos haviam
sido mais cautelosos, concentrando boa parte dos seus exércitos ao redor de
Ligny (nas província de Namur). Eles então lutaram para tentar deter ou ao
menos atrasar o avanço francês, com o objetivo de dar tempo para as demais
tropas aliadas se reagruparem. A 16 de junho de 1815, prussianos e franceses se
enfrentaram na Batalha de Ligny, vencida por Napoleão. No mesmo dia, a ala
esquerda do exército imperial da França, comandada pelo Marechal Michel Ney,
foi bem-sucedida em deter o avanço do Duque Wellington, comandante das tropas
inglesas, que pretendia unir-se ao Marechal Blücher e os prussianos. Os
britânicos, apoiados por holandeses e alemães, acabaram não resistindo ao
avanço francês na Batalha de Quatre Bras. Ney não conseguiu cortar a retirada
de Wellington, mas estes foram forçados a recuar, junto com os prussianos. Os
ingleses montaram uma nova posição defensiva, no meio de uma escarpa, em
terreno elevado, a alguns quilómetros da vila de Waterloo, na Bélgica. Napoleão
levou então suas tropas para o coração da Bélgica, reunindo seus homens com os
de Ney, para perseguir o exército britânico de Wellington. Ao mesmo tempo ele
ordenou ao Marechal Emmanuel de Grouchy para atacar a ala direita do exército e
detivesse os prussianos enquanto estes estavam se reagrupando. Após uma série
de erros de cálculos, tanto Grouchy e Napoleão falharam em perceber que os
prussianos já haviam conseguido se reorganizar e já estavam se reagrupando
perto do vilarejo de Wavre, mais perto de Wellington do que o antecipado. O
sucesso dos exércitos da Prússia em se reagrupar rapidamente foi na falha de
Napoleão em não conseguir quebrar a sua retirada. Grouchy também não conseguiu
persegui-los adequadamente. Assim, enquanto três corpos do exército prussiano
marchavam rumo a Waterloo para apoiar os britânicos e seus aliados, a outra
metade das tropas prussianas conseguiu segurar por um tempo as forças francesas do
Marechal Grouchy antes de recuar (batalha de Wavre, 18-19 de junho de 1815). No
final, os 17.000 prussianos (comandados pelo General Johann von Thielmann)
mantiveram ocupados 33.000 franceses por tempo suficiente para que estes não
chegassem a tempo a Waterloo para ter um papel importante. Napoleão poderia ter
sido bem-sucedido se esses homens tivessem chegado antes e reforçado as suas
linhas. Os franceses evitaram por um tempo avançar contra as posições
britânicas em Waterloo, mas a 18 de junho de 1815 foi iniciada a batalha
decisiva da Guerra da Sétima Coligação. As tropas imperiais francesas atacaram
logo pela manhã, avançando lentamente pelo terreno ruim (havia chovido na
região durante toda a noite anterior). Ao fim da tarde, apesar de terem feito
alguns progressos, os franceses falharam em expulsar as forças de Wellington
das regiões elevadas de Waterloo. Quando os reforços prussianos chegaram e
atacaram o flanco direito francês, ficou claro então que a estratégia de
Napoleão deu errado. Os franceses tiveram de bater em retirada em desordem.
Agora unidas, as tropas da Coligação lançaram-se sobre a França. Bonaparte
sabia que desta vez, o golpe proferido havia sido fatal. O Marechal Grouchy
conseguiu recuar de forma organizada e levou seus soldados até Paris, onde o
também Marechal Davout tinha reunido 117.000 soldados prontos para enfrentar os
116.000 homens sob comando de Blücher e Wellington. Davout acabou sendo
derrotado na Batalha de Issy (na região de Île-de-France) e decidiu então
negociar sua rendição com a liderança das tropas da Coligação. Três dias após o
fracasso em Waterloo, Napoleão chegou a Paris. Ele ainda tinha esperanças de
conseguir montar uma nova defesa e se segurar no poder. Contudo, a Assembleia
Nacional, e até mesmo a população francesa em geral, já não lhe favorecia mais.
Sem apoio político, Napoleão foi forçado a abdicar do trono uma segunda vez em
22 de junho de 1815. A 15 de julho se rendeu aos britânicos em Rochefort. Para
evitar de cometer os mesmos erros do ano anterior, os Aliados desta vez
exilaram Bonaparte na ilha de Santa Helena, a milhares de quilómetros de
distância da Europa. O antigo imperador francês ficaria lá, solitário, até sua
morte em 5 de maio de 1821. Na França, os Bourbon foram novamente restaurados
no trono. As potências regionais então começaram o chamado "Concerto da
Europa", para restabelecer o balanço do poder no continente e garantir a
velha ordem. Enquanto isso, na Itália, a Joachim Murat, Marechal e Aliado de
Napoleão, foi permitido que ele mantivesse o título de Rei de Nápoles.
Percebendo porém que sua posição era precária ele partiu para lutar por seu
trono na chamada Guerra Napolitana (março - maio de 1815). Murat esperava
conquistar apoio de nacionalistas italianos que temiam o aumento da influência
dos Habsburgos na península itálica. Murat fez então a Proclamação de Rimini
incitando o povo italiano a guerra. Contudo, ele conseguiu pouco apoio popular
e seu exército foi esmagado pelos austríacos na Batalha de Tolentino (2 - 3 de
maio de 1815), forçando Murat a fugir. O ramo italiano da Casa de Bourbon foi
recolocado no trono de Nápoles, com a ascensão de Fernando I em 20 de maio de
1815. Murat ainda fez outra tentativa de recuperar seu poder, mas foi preso e
executado em outubro do mesmo ano. Este foi o último grande confronto instigado
pelo legado direto de Napoleão na Europa.
Efeitos Políticos

As
Guerras Napoleónicas trouxeram mudanças radicais a Europa, mas forças reaccionárias
voltaram ao poder no continente e tentaram reverter o legado da Revolução
Francesa e do reinado de Napoleão. Em poucos anos, o imperador francês
conseguiu trazer quase toda a Europa ocidental ao seu controle. Contudo, as
guerras constantes de quase duas décadas contra a França feita pelas maiores
potências do continente acabaram por colocar o país no chão. Ao fim dos
conflitos, a França já havia perdido boa parte do seu poder e influência na
Europa continental. Já o Reino Unido emergiu como a principal e inquestionável
maior força do continente, com sua marinha de guerra alcançando supremacia
naval pelo globo até meados do século XX. Para muitos países europeus, ser
subjugado pela França significou acesso a várias políticas liberais que
ganharam notoriedade durante a Revolução Francesa, como democracia inclusiva,
acesso ao devido processo legal nas cortes, abolição da servidão, redução do
poder da Igreja Católica e exigência de alterações das monarquias para uma face
mais constitucional e democrática. O clamor da emergente classe média, esta que
cresceu através do comércio e da indústria, fez com que fosse difícil as
classes dominantes restaurar as monarquias absolutistas. Assim, muitas nações
conquistadas por Napoleão tiveram que manter várias reformas impostas a eles.
Legados institucionais persistem até os dias actuais como os sistemas legais de
códigos civis, baseados no chamado Código Napoleónico. Durante o período napoleónico,
o sentimento de nacionalismo, um movimento relativamente novo, se tornou mais
significativo pelo continente. Isso moldaria o futuro da Europa pelo próximo
século. Esse sentimento acabou com alguns países e fez outros surgirem,
redesenhando drasticamente o mapa político europeu no século posterior a era Napoleónica.
Governos de feudos e aristocracias foram substituídos por ideologias nacionais
baseadas em culturas em comum e origens. Mais importante, o reino de Bonaparte
sobre a Europa plantou as sementes para as fundações das nações-estado da
Alemanha e Itália, consolidando a identidade nacional dos povos, reinos e
principados que formavam esses países, facilitando sua unificação. Ao fim das
guerras, a Dinamarca teve que ceder a Noruega a Suécia, mas como os noruegueses
haviam assinado sua própria constituição em 17 de maio de 1814, os suecos
tiveram que lutar pelo direito de ter a Noruega. O resultado da união da Suécia
com a Noruega deu mais independência aos noruegueses do que quando estava sob o
jugo dinamarquês. A Noruega se tornaria uma nação completamente independente em
1905. Outro país criado foi o Reino Unido dos Países Baixos, feito com o
propósito de ser um Estado tampão contra as pretensões da França. Esta nação
foi dissolvida em duas quando a Bélgica se tornou independente em 1830. As
guerras napoleónicas também influenciaram acontecimentos na América Latina, nas
colónias da Espanha e Portugal. O conflito enfraqueceu a autoridade e poder
militar espanhol, especialmente após a sua marinha ter sido destroçada na
batalha de Trafalgar. Várias revoltas aconteceram na América espanhola como
consequência da deterioração política na metrópole. Na América portuguesa, o
Brasil experimentou pela primeira vez uma maior autonomia política após a
transferência das cortes de Lisboa para o território brasileiro, que
posteriormente recebeu o status de Reino Unido. Após a ocupação francesa de
Portugal, as ramificações políticas se espalharam e levaram a chamada Revolução
Liberal de 1820. Com o retorno da Corte real para Lisboa, o Brasil não aceitou
retornar ao status de colónia, declarando sua independência em 7 de setembro de
1822. Após as guerras, foi instaurado o Congresso de Viena (1814 - 1815) para
restaurar as velhas fronteiras e restabelecer governos que haviam sido
depostos, tentando formar um novo equilíbrio de poder no continente. Este novo
balanço garantiu umas décadas de paz pela Europa entre as nações (mas não
internamente, com revoluções ainda acontecendo). Houve também mais integração
política e económica, além de novas ondas migratórias. A instabilidade política
instigou, principalmente, a imigração europeia para as Américas, especialmente
para os Estados Unidos, que recebeu mais de 30 milhões de imigrantes europeus
entre 1815 a 1914. Outro conceito que emergiu do Congresso de Viena foi a noção
de uma Europa mais unificada. Após sua derrota, Napoleão se remoeu com o fato
de que sua ideia de uma "Associação Europeia" pacífica e livre não
aconteceu. Contudo, as guerras Napoleónicas de fato empurraram esta noção para
a realidade, trazendo uma maior padronização entre os países em relação a formas
de governo, moedas e sistemas legais. Mais ou menos um século e meio depois,
contudo, a ideia de uma maior unificação no continente novamente ganhou força e
em 1957 foi criada a União Europeia.
Legado Militar

As
Guerras Napoleónicas tiveram um grande impacto militar. Antes de Napoleão, os
países europeus tinham exércitos regulares relativamente pequenos, composto de
soldados nacionais e mercenários. Os militares regulares, eram bons
profissionais. Os exércitos dos Antigos Regimes podiam apenas colocar pequenas
quantidades de tropas em campo de uma vez, com uma logística limitada. Assim,
era difícil reunir exércitos maiores que 30.000 homens sob um único comando em
uma batalha. Contudo, foi na segunda metade do século XVIII que os visionários
militares começaram a reconhecer o potencial de todo um país em guerra: a
chamada "nação em armas". A escala do tamanho dos conflitos na Europa
aumentou consideravelmente no período das guerras revolucionárias francesas e
no subsequente conflito na era Napoleónica. Antes disso, era incomum ver em
batalha mais do que 30.000 soldados em cada lado. A inovação francesa de
dividir o exército em corpos (permitindo a um único oficial comandar mais do
que 30.000 homens de uma vez) e também viver da terra (o que permitia aos exércitos
convocar mais homens sem ter que igualmente pedir por mais suprimentos através
de reservas e cargas) permitiu a república francesa a conseguir reunir mais
tropas em campo do que seus tradicionais oponentes. Napoleão subsequentemente
assegurou que as divisões no exército fossem separadas de forma eficiente nos
tempos em que a República operava como um único exército quando ficaram sob seu
comando direto, como imperador, permitindo que ele reunisse um exército maior
que os seus oponentes. Isso forçou seus adversários a reunir tropas cada vez
maiores, inovando também, forçando as tradicionais nações europeias a iniciar
conscrições em massa, que tiveram enormes consequências políticas. Na batalha
de Marengo, a luta final que encerrou a Guerra da Segunda Coalizão, foi travada
com pelo menos 60.000 homens em cada lado. Na batalha de Austerlitz, que
encerrou a Terceira Coligação, envolveu mais de 160.000 soldados. Na batalha de
Friedland, que levou a paz com a Rússia, em 1807, envolveu 150.000 homens.
Esses tipos de batalhas, com um número tão grande de combatentes, eram raros em
conflitos anteriores. Com as derrotas sofridas em terra para Napoleão, as
potências europeias tiveram de se renovar e convocaram conscrições em massa
para que eles pudessem superar o exército francês no campo. Já na batalha de
Wagram de 1809, cerca de 300.000 soldados se digladiaram. Em Leipzig, pelo
menos 500.000 homens lutaram no geral, sendo que 150.000 terminaram mortos ou
feridos. Durante as guerras napoleónicas, pelo menos um milhão de soldados
franceses foram mortos ou feridos (ou sofreram alguma invalidez), uma proporção
maior para o país, se comparado com o tamanho da população, do que durante a
Primeira Guerra Mundial. No geral, pelo menos 5.000.000 de soldados europeus
foram mortos (incluindo por doenças). A França tinha a segunda maior população
da Europa (atrás da Rússia) no fim do século XVIII com seus 27 milhões de
habitantes (comparado com 12 milhões do Reino Unido e 30 a 40 milhões do
Império Russo). Os estrategistas militares franceses então se aproveitaram do
levée en masse (as conscrições em massa). Antes dos esforços de Napoleão,
Lazare Carnot foi um dos líderes na reorganização dos exércitos franceses de
1793 a 1794. Neste período, a situação da França nas guerras revolucionárias
havia melhorado, com os exércitos republicanos avançando em todas as frentes. O
tamanho crescente dos exércitos europeus sinalizava uma mudança nítida na
história militar do continente. Durante os conflitos nos séculos anteriores,
como a Guerra dos Sete Anos (1756 - 1763), poucos países tinham exércitos
superiores a 200.000 no total, com as nações não conseguindo reunir mais do que
30.000 soldados no campo. Em contraste, o exército francês recrutou, durante a
década de 1790, cerca de 1,5 milhão de homens, apesar de não conseguir manter
todos ao mesmo tempo no serviço ativo. Problemas com suprimentos e doenças
impediam que exércitos grandes fossem postos em campo. Na verdade, a França não
tinha condições financeiras de recrutar grandes quantidades de tropas. Nas
guerras napoleónicas, cerca de 2,8 milhões de franceses lutaram no solo e
outros 150.000 no mar. Assim, no geral, 3 milhões de cidadãos franceses
serviram nas forças armadas nos vinte e três anos de guerra desde a fundação da
República (em 1792) até a queda do Império (em 1815). O Reino Unido tinha 750.000
homens em armas entre 1792 e 1815, uma grande expansão considerando que eles
tinham apenas 40.000 soldados regulares em 1793. O auge chegou em 1813, quando
250.000 soldados estavam no serviço ativo. No decorrer desta guerra, pelo menos
250.000 marinheiros serviram na Royal Navy (a marinha de guerra britânica). Em
setembro de 1812, a Rússia tinha mais de 900.000 homens em sua infantaria.
Entre 1799 e 1815, cerca de 2,1 milhão de homens serviram no exército. Outros
200.000 estavam na marinha. Na época, havia uma discrepância entre o tamanho
dos exércitos no papel e a força que os países realmente podiam colocar em
campo. Os russos, por exemplo, tinham uma tropa de 900.000 homens, mas dificilmente
poderiam recrutar mais do que 250.000 para campanhas. Não há números
consistentes para o tamanho dos exércitos dos outros beligerantes. No auge do
conflito (na Sexta Coligação), os austríacos tinham pelo menos 576.000 nas
forças armadas e praticamente nenhuma marinha. Porém, não conseguiam reunir
mais do que 250.000 em campo. Depois da Grã-Bretanha, a Áustria foi o inimigo
mais persistente da França no decorrer da guerra, com mais de um milhão de
soldados servindo no exército durante o desenrolar do conflito. Seu maior
exército operacional foi uma força homogénea e sólida reunida em 1813 quando
conseguiram colocar 140.000 homens em campo durante campanhas na Alemanha e 90.000
na Itália e nos Balcãs. Contudo, a Áustria começou a sofrer enormemente devido
a falta de pessoal. Assim, seus generais e oficiais começaram a adotar táticas
mais conservadoras e não tomar tantos riscos, em uma tentativa de limitar suas
perdas. A Prússia tinha um dos melhores exércitos da Europa. Contudo, eles não
conseguiam mobilizar mais que 320.000 soldados em um determinado tempo. Entre
1813 e 1815, enquanto o grosso do seu exército (cerca de 100.000 homens) era de
fato conhecido por sua determinação e competência, o resto não era uma força
estável, composto por milicianos e voluntários de talentos variados. Ainda
assim, a maioria destas tropas se saiam bem e mostravam bravura diante de
situações adversas, mesmo que as vezes faltasse profissionalismo e bons
equipamentos, se comparado aos soldados regulares. Durante as campanhas feitas
em 1813, 130.000 homens estavam envolvidos nas operações militares, sendo 100.000
atuando na Alemanha e os outros 30.000 sendo usados para cercar as guarnições
francesas perto das fronteiras. Já a Espanha não conseguia recrutar mais do que
200.000 soldados no exército, além de 50.000 homens que lutavam nas guerrilhas.
Além disso, o Império Otomano (que se envolveu muito pouco neste conflito), a
Itália, o Reino de Nápoles e o Ducado de Varsóvia não conseguiam reunir e
organizar mais do que 100.000 homens em armas. Ainda assim, países pequenos
pela Europa também podiam recrutar bons exércitos, mas apenas no papel pois na
realidade havia falta de recursos e essas tropas eram, na maioria dos casos, de
qualidade duvidosa. O tamanho e a qualidade das tropas das nações
co-beligerantes, ainda que não muito significativo, eram bem-vindos por parte
das potências continentais da Coligação. Durante a invasão da Rússia de 1812, o
percentual de tropas de origem francesa que serviam no Grande Exército de
Napoleão era de aproximadamente 50% dos 685.000 soldados recrutados. Os outros
aliados do Império Francês forneceram os demais homens, como as nações da
Confederação do Reno, a Polónia, os países que formavam a península itálica e a
Espanha. Quando, entre 1813 e 1814, várias dessas nações mudaram de lado e
passaram a apoiar a Coligação, eles providenciaram uma boa ajuda a Coligação,
enquanto privavam Napoleão dos seus muito necessários buchas de canhão.
Inovações

Os
estágios iniciais da Revolução Industrial foram muito ligados às crescentes
necessidades militares para produzir armamentos e outros suprimentos para
tropas cada vez mais crescentes em números. O Reino Unido se tornou o maior
produtor de armas do continente. Esta produção de arsenal foi usado para suprir
as forças da Coligação no decorrer dos conflitos. A França era a segunda maior
produtora de armamentos, equipando suas tropas e das nações da Confederação do
Reno e seus aliados. O próprio Napoleão mostrou tendências inovadoras para o
uso da mobilidade de suas forças para enfrentar problemas como, principalmente,
desvantagens numéricas nos campos de batalha, como ele mostrou nas suas
campanhas contra tropas austro-russas em 1805, especialmente na Batalha de
Austerlitz. O exército francês reorganizou o papel da artilharia, formando
grupos móveis e independentes, ao invés das arcaicas formações militares. Outras
áreas que afetaram a arte da guerra, melhorias na comunicação entre os comandos
e suas tropas. Uso de aeronaves de vigilância quando os franceses usaram balões
de ar para espiar em posições de tropas da Coligação e guiar a artilharia,
sendo usado pela primeira vez na Batalha de Fleurus, de junho de 1794.
Guerra Total

Historiadores
discutem como as Guerras Napoleónicas se tornaram guerras totais. A maioria dos
académicos aponta que o aumento de tamanho e intensidade do conflito vem de
duas fontes. A primeira era o choque ideológico entre as ideias revolucionárias/igualitários
e o sistema conservador/hierárquico. A segunda é o aumento do nacionalismo na
França, Alemanha, Espanha e em outros países que fez deste conflito a
"guerra do povo" ao invés de confrontos entre monarcas. O historiador
David Bell argumenta que mais importante que ideologia ou nacionalismo, foi a
transformação intelectual na cultura da guerra, que veio do Iluminismo. Um
fator, ele diz, é que a guerra já não era mais um evento rotineiro, mas sim uma
experiência transformadora para a sociedade. Em segundo lugar, os militares
emergiram em seu próprio direito como uma esfera separada da sociedade, se
distanciando do ordinário mundo civil. A Revolução Francesa fez de cada cidadão
parte da máquina de guerra nacional, desde um soldado conscrito, até uma peça
vital do maquinário apoiando a luta de casa, dando suprimentos ao exército
(trabalhando nas indústrias e fazendas). Assim, segundo Bell, surgiu a ideia de
"militarismo", a crença de que os membros das forças armadas têm um
papel moralmente superior ao de um civil em tempos de crise. O exército se
tornou a essência da alma da nação. Como o próprio Napoleão uma vez proclamou,
"é o soldado que fundou a República e é o soldado que a mantém". A
França estava aparentemente exaurida após a fracassada invasão da Rússia, com
Napoleão perdendo mais da metade do seu exército. Vendo nisso uma oportunidade,
a Prússia, a Suécia, a Áustria e vários Estados alemães decidiram reiniciar as
hostilidades e declaram guerra á França. O imperador francês afirmou que
ergueria um novo exército, tão grande quanto aquele que havia levado à Rússia.
Bonaparte rapidamente recrutou entre 30.000 e 130.000 homens de nações do leste
que ainda eram leais a ele. Conscrições também começaram na França e depois de
alguns meses, ele já tinha 400.000 soldados (a maioria com pouca experiência em
combate). Os franceses eventualmente fizeram avanços na Europa oriental,
infligindo aos aliados 40.000 baixas nas batalhas de Lützen (2 de maio de 1813)
e Bautzen (20 - 21 de maio de 1813). Estas batalhas envolveram mais de 250.000
soldados, fazendo desta, uma das maiores fases das guerras. O ministro de
relações exteriores da Áustria, Klemens von Metternich, propôs, em novembro de
1813, uma oferta de paz a Napoleão. Seria permitido a Napoleão reter o título
de Imperador da França, mas o país teria que restaurar suas "fronteiras
naturais", abrindo mão das suas possessões na Itália, Alemanha e Holanda.
Napoleão ainda tinha esperanças de vencer a guerra e rejeitou os termos
apresentados. Em 1814, contudo, os franceses estavam recuando em todas as
frentes. Os aliados da Coligação agora avançavam rumo ao norte da França e
ameaçavam flanquear a cidade de Paris (a capital do império). Napoleão teria
então aceitado as propostas de Metternich para paz, mas já era tarde demais e
os aliados rejeitaram qualquer termo de paz que não fosse sua abdicação. Enquanto
isso, na Guerra Peninsular, Arthur Wellesley lançou novamente os exércitos
anglo-portugueses em ofensivas pela Espanha após o ano novo de 1812, cercando e
capturando as cidades fortificadas de Cidade Rodrigo e Badajoz. Em julho, forças
francesas foram derrotadas na importante Batalha de Salamanca. Enquanto os
franceses tentavam se reagrupar, os aliados entraram em Madrid e depois
avançaram sobre a cidade de Burgos, antes de ter que recuar de volta a Portugal
após os franceses ameaçarem um grande contra-ataque. Uma consequência da
campanha em Salamanca, a França teve que encerrar seu longo cerco a Cádis e
recuar das províncias Andaluzia e Astúrias. Em um movimento estratégico,
Wellesley planejou mover sua base de suprimentos principal de Lisboa até a
cidade de Santander. Tropas anglo-portuguesas, apoiadas por rebeldes espanhóis,
avançaram então pelo norte da Espanha e tomaram o estratégico município de
Burgos. Em 21 de junho, na Batalha de Vitória, tropas inglesas, portuguesas e
espanholas venceram as forças de José Bonaparte, encerrando de vez o poder
francês na Espanha. Os franceses então recuaram para fora de praticamente toda
a Península Ibérica, indo além da região de Pireneus. Os beligerantes
declararam então um armistício a 4 de junho de 1813 (que continuou até 13 de
agosto) onde ambos os lados usaram o período para recuperar suas perdas e se
reorganizar. Neste meio tempo, a Áustria se comprometeu a se unir em sua
totalidade a Coligação contra a França (mesmo com a filha do imperador
Francisco I sendo a esposa de Napoleão). Os austríacos mobilizaram dois grandes
exércitos, adicionando 300.000 homens as forças da Coligação na Alemanha. No
total, os Aliados mobilizaram 800.000 soldados no teatro de operações alemão. Napoleão
reuniu as tropas imperiais, recrutando soldados de todas as regiões
subordinadas a ele, chegando a 650 mil homens (porém apenas 250 mil estavam sob
seu controle direto, com outros 120 mil liderados por Nicolas Charles Oudinot e
30 mil com Louis Davout). A maioria de suas tropas não francesas vinha dos
Estados alemães da Confederação do Reno, especialmente da Saxónia e da Baviera.
Além disso, ao sul, na Itália, havia Joaquim Murat no comando dos exércitos de
Nápoles e Eugénio de Beauharnais, Rei da Itália, que comandavam mais de 100 mil
homens. Na Espanha havia mais 150 mil a 200 mil tropas francesas fatigadas, que
recuavam da luta na Península Ibérica e com 100 mil tropas inglesas, espanholas
e portuguesas no seu encalço. No geral, as forças aliadas tinham mais que o
dobro de tropas do que os franceses. Após os Estados alemães desertarem
Napoleão, viu a sua desvantagem numérica, passou a ser superior a 4 para 1. Após
o fim do curto armistício de junho-agosto de 1813, Napoleão retomou a
iniciativa e partiu para a ofensiva, derrotando uma força russa, austríaca e
prussiana na Batalha de Dresden (Agosto de 1813). A vitória foi importante, com
os franceses vencendo uma luta contra um inimigo numericamente superior e
sofrendo poucas baixas no processo. Contudo, a segunda parte da ofensiva, que
estava nas mãos dos seus Marechais, acabou fracassando e assim Bonaparte não
conseguiu capitalizar em cima desta vitória. Napoleão recuou para além do rio Elba
e posicionou-se ao redor da cidade de Leipzig, no leste da Alemanha, para
proteger sua principal rota de suprimentos. As forças da Coligação convergiram
sobre ele, com as tropas prussianas vindo de Wartenburg, e os russos e
austríacos vindos de Dresden (que havia sido reconquistada após a vitória
aliada sobre os Generais de Napoleão na Batalha de Kulm), além de reforços
vindos do norte constituído maioritariamente por militares Suecos. Na
subsequente Batalha das Nações, travada no norte da Saxónia (entre 16 e 19 de
outubro de 1813), 191.000 soldados franceses lutaram contra mais de 430.000
soldados da Coligação. O combate foi violento, com quase 100.000 homens
perecendo (somando as baixas de ambos os lados). Os franceses acabaram sendo
superados pelo absurdo número de tropas dos aliados e Napoleão foi forçado a
recuar até a fronteira franco-alemã. Uma série de batalhas de média e pequena
intensidade foram travadas (incluindo a Batalha de Arcis-sur-Aube, lutada em
solo francês), mas a desvantagem numérica era demasiada grande e Napoleão não
conseguiu montar uma defesa coesa. Após a sua derrota em Leipzig, os Estados
alemães da Confederação do Reno (outrora seus aliados) se voltaram contra ele e
passaram a apoiar a Coligação. Seu último aliado significativo era o Reino da
Dinamarca e Noruega, mas estes estavam isolados e preferiram fazer a paz com as
demais potências europeias, firmando o Tratado de Kiel de janeiro de 1814. Ao
fim de março de 1814, após uma curta batalha, tropas da Coligação marcharam em
Paris. Antes disso, Napoleão travou, no nordeste da França, a chamada Campanha
dos Seis Dias, onde tentou desesperadamente deter o avanço aliado sobre a
capital do seu império. Apesar de ter conquistado algumas vitórias
estratégicas, ele não cumpriu seu objetivo maior de salvar Paris. Naquele momento,
ele detinha pelo menos 70.000 homens, contra mais de 500.000 soldados da Coligação
que invadiam a França pelo leste. Nesse meio tempo, pelo Tratado de Chaumont (9
de março de 1814), as potências europeias da Coligação se comprometeram a
continuar lutando até que Napoleão estivesse derrotado totalmente. Mesmo com a derrota
iminente, a queda de Paris e o colapso do seu exército, Napoleão estava
determinado a continuar lutando. Ele continuou a convocar o povo francês a
lutar e chamou suas tropas e conscritos a se apresentar, mas o retorno foi
pouco. Seus Marechais também não tinham intenção de seguir com a guerra,
reconhecendo que a situação havia chegado a um ponto sem retorno. Finalmente, a
6 de abril de 1814, Napoleão abdicou do trono. Contudo, ainda havia combates de
pequena intensidade acontecendo na Itália, Espanha e Holanda durante a
primavera daquele ano. As potências aliadas da Coligação decidiram exilar
Napoleão na ilha de Elba, garantindo a ele soberania sobre o lugar mas sob
vigilância marítima da esquadra inglesa (que patrulhava a região) do
Mediterrâneo. Foi decidido também restaurar os Bourbons no trono francês,
colocando no poder Luís XVIII. Tudo foi formalizado pela assinatura do Tratado
de Fontainebleau, em 11 de abril de 1814. Representantes das principais
potências europeias então se reuniram no Congresso de Viena e começaram a
trabalhar no processo de reconstrução do mapa político da Europa.
A
Campanha do Rossilhão (7 de Março de 1793 - 22 de Julho de 1795), também
denominada Guerra dos Pirenéus ou Guerra da Convenção, foi uma campanha militar
em que Portugal participou ao lado da Espanha e do Reino Unido contra a França
revolucionária que, na altura, atravessava a fase da Convenção. O Príncipe
Regente D. João de Portugal enviou uma divisão reforçada, denominada Exército
Auxiliar à Coroa de Espanha, composta por 5.400 homens sob o Comando do Tenente-General
Britânico John Forbes.
Enquadramento
A
Campanha do Rossilhão foi na realidade a frente ao longo dos Pirenéus, com
centro no Rossilhão, de um conflito bem mais vasto, a Guerra da Primeira
Coligação, ele próprio o prelúdio das Guerras Revolucionárias Francesas.
Naquele conflito, os Reinos de Espanha e Portugal, com o apoio Britânico, declaram
guerra à França revolucionária. A causa imediata da guerra foi a execução de
Luís XVI de França e da sua esposa, a Rainha Maria Antonieta, pelos
revolucionários franceses. Aquela execução levou a que a Espanha declarasse
guerra à França a 17 de Abril de 1793, já que os actos do governo
revolucionário francês foram vistos como uma ameaça directa ao seu próprio
sistema monárquico. Essa opinião, partilhada pelas potências europeias que se
congregaram na Primeira Coligação, levou ao desencadear de um ataque
generalizado à França, no qual a Campanha do Rossilhão se insere. Portugal
decidiu não participar directamente, optando por apoiar a Espanha no seu
esforço de guerra. Enviou então, com o apoio britânico, uma divisão reforçada,
denominada Exército Auxiliar à Coroa de Espanha, composta por 5.400 homens sob
o comando do Tenente-General Britânico Forbes Skellater. Entre os oficiais
portugueses enviados destacaram-se Gomes Freire de Andrade, António Teixeira
Rebelo, João Correia de Sá e Manuel Inácio Pamplona Corte Real.
As Operações
O
exército espanhol, ao qual o contingente português foi agregado, era comandado
pelo General Antonio Ricardos Carrillo de Albornoz, mais conhecido por General
Antonio Ricardos, invadiu a França e ocupou o Rossilhão em Abril 1793. Forças
espanholas e portuguesas também participaram na tomada de Toulon em 1793. Depois
de uma campanha fulgurante, o General Antonio Ricardos voltou a Madrid para
solicitar reforços, mas faleceu de pneumonia durante a sua permanência naquela
cidade. Sem o seu comandante, as forças espanholas e portuguesas colapsaram
frente ao avanço, das forças francesas comandadas pelo General Jacques François
Dugommier, que rapidamente recapturaram todo o território perdido e
atravessaram os Pirenéus, invadindo território espanhol. As forças francesas
ocuparam St. Elmo, Collioure, Port-Vendres, Bellegarde e San Sebastian. O General
Dugommier foi morto em combate durante o assalto a San Sebastian.
Conclusão
A
Campanha do Rossilhão terminou com o Tratado de Basileia, assinado a 22 de
Julho de 1795 na cidade suíça de Basileia entre representantes da Espanha e da
França. Naquele Tratado, parte da Paz de Basileia, não houve lugar à
participação de representantes portugueses, pelo que a posição de Portugal não
foi considerada. Em consequência, a França manteve-se de jure em estado de
guerra contra Portugal até às invasões napoleónicas. A Campanha do Rossilhão
traduziu-se numa vitória para os franceses, que recuperaram todo o seu
território, viram a República Francesa reconhecida pela Espanha e ainda
receberam da Espanha o território que aquele reino mantinha na ilha Hispaniola.
Guerra
das Laranjas
A
Guerra das Laranjas é o nome atribuído ao conflito que opôs Portugal à Espanha
e à França em 1801. Este conflito insere-se na guerra entre a França e a
Inglaterra que, nesta época, se materializou na chamada Guerra da Segunda
Coligação. As ações militares da Guerra das Laranjas desenrolaram-se na Europa
e na América do Sul. Portugal foi invadido por forças espanholas a 20 de maio
de 1801. Foi uma guerra de curta duração que terminou a 6 de junho desse ano
com perda de território (Olivença) por parte de Portugal. No Brasil, a guerra
ficou conhecida como Guerra de 1801 e permitiu a expansão das fronteiras no Rio
Grande do Sul. A paz entre as potências beligerantes foi estabelecida nos
termos do Tratado de Badajoz, assinado entre Portugal e a Espanha, e do Tratado
de Madrid, assinado entre Portugal e a França.
Portugal
tinha participado na Campanha do Rossilhão enviando uma força militar em apoio
do exército espanhol. Quando a Espanha e a França puseram fim às hostilidades e
assinaram o Tratado de Basileia, em 22 de julho de 1795, sem conhecimento do
governo português, Portugal ficou numa posição difícil. Ficou em estado de guerra
com a França de quem a Espanha se tornara aliada. A França apresentou as suas
condições, para obter a paz, Portugal devia abandonar a sua aliança com a
Inglaterra. Isto significava para Portugal fazer parte de uma liga ofensiva e
defensiva que a Espanha e a França tinham estabelecido contra a Inglaterra. Mas
eram feitas mais exigências, proibir os navios ingleses de entrarem nos portos
portugueses, estabelecer facilidades comerciais ao comércio francês tanto em
Portugal como no Brasil, pagar uma indemnização de guerra à França e
regulamentar as fronteiras entre as Guianas. Neste último caso, o que a França
pretendia era ampliar a Guiana Francesa à custa do Norte do Brasil. A corte de
Lisboa tomou conhecimento, supõe-se que por intermédio do embaixador na corte
de Turim, Rodrigo de Sousa Coutinho, de notícias sobre um possível acordo
secreto entre a França e a Espanha para a conquista de Portugal. A hostilidade
entre a França e Portugal era sentida no mar, uma esquadra francesa, entre o
Cabo da Roca e a Berlenga, afundou doze navios portugueses e apresou outro,
carregado com produtos vindos do Brasil. Verificaram-se muitas outras ações
deste tipo. O facto de o governo português não ter assumido uma posição clara
como aliado da Inglaterra na guerra contra a França levava aquela potência
marítima a evitar envolver-se nestes assuntos. Ao governo português, que
pretendia preservar as suas colónias, convinha manter a ligação com a
Inglaterra que detinha a capacidade de dominar as rotas marítimas. Se Portugal
se aliasse à França, as suas colónias seriam de imediato atacadas pelos
ingleses e o estaria mais desprotegido perante as ambições territoriais de
Espanha. Portugal procurou manter uma situação de neutralidade para a qual não
dispunha de recursos. Logo em 1797, os Espanhóis começaram a concentrar tropas
junto à fronteira. Com esta medida, pretendiam pressionar Portugal a ceder às
exigências francesas. Em 1800 já se conheciam os nomes dos comandantes das
unidades espanholas que iriam invadir Portugal, já tinham sido constituídos
depósitos de víveres e já tinham sido instalados hospitais de campanha na
Estremadura e na Galiza. O General Berthier esteve presente em alguns dos locais
de concentração de tropas. Perante esta ameaça, foi enviado ao General Ralph
John Abercromby, em Gibraltar, um pedido de apoio de 12.000 homens. No dia 8 de
novembro de 1800 chegaram a Lisboa, vindos de Gibraltar, 1.500 militares
britânicos e, no dia 14, chegaram mais 722. Em Espanha, uma epidemia que surgiu
em vários pontos da Andaluzia obrigou a desviar para ali cerca de 12.000 homens
para isolar a região. Isto reduziu significativamente o potencial do exército
espanhol da Estremadura. A Espanha e a França eram aliadas nos termos do
Tratado de Santo Ildefonso assinado em 18 de agosto de 1796. A 1 de outubro de
1800, aquelas potências celebraram o segundo Tratado de Santo Ildefonso em que
eram citadas questões relativas a Itália e à entrega da Luisiana à França. No
seu artigo 7º reafirmava-se a adesão ao estabelecido no Tratado de 1796. No dia
29 de janeiro de 1801, em Madrid, foi assinado um acordo entre a França e a
Espanha, ratificado a 1 de fevereiro. De acordo com esse documento, estava
prevista a invasão de Portugal no caso de este País não aceitar as seguintes
condições.
Abandono Da Aliança Com A Inglaterra.
Encerramento
dos portos portugueses aos navios britânicos e abertura aos navios espanhóis e
franceses.
Ocupar
uma ou mais províncias portuguesas, com um quarto da população do Reino, a fim
de constituírem penhor da restituição pela Inglaterra de Maó (na ilha de
Minorca) e Malta.
Pagar
uma indemnização à Espanha e outra à França como compensação por alegados
prejuízos causados.
Proceder
a uma revisão das fronteiras.
No
dia 6 de fevereiro, D. José Maria de Sousa Botelho partiu de Lisboa para Madrid
a fim de conferenciar com as autoridades espanholas e francesas e tentar evitar
a guerra. No entanto, nesse mesmo dia, o embaixador espanhol em Lisboa entregou
a Luís Pinto de Sousa Coutinho um ofício da corte espanhola com um ultimato, ou
o governo português respondia favoravelmente no prazo de 15 dias à exigência de
abandonar a aliança com a Inglaterra ou o embaixador espanhol deixaria Lisboa e
seria declarada a guerra. As conversações arrastaram-se até final de fevereiro
mas sem obterem o resultado que o governo português desejava. No dia 27 de
fevereiro de 1801, Carlos IV de Espanha assinou a declaração de guerra a
Portugal. Após a notificação do corpo diplomático, a declaração de guerra foi
proclamada em Madrid no dia 2 de março. Só dez dias depois do início da invasão
é que foi publicada em Portugal. Portugal, perante as duas alternativas
possíveis (manter a aliança com a Inglaterra e conservar os territórios
ultramarinos mas sujeitar-se à guerra com a França e a Espanha ou romper a aliança
com a Inglaterra e evitar a invasão mas perder, no mínimo, o acesso ao
ultramar), foi empurrado para a primeira das hipóteses. A Espanha, por seu
lado, não podia retardar mais a invasão pois a alternativa era ver as tropas
francesas adquirirem posições preponderantes no seu território com a finalidade
de serem elas a efetuarem a invasão de Portugal. A neutralidade era impossível
na conjetura da época. Mais tarde, a respeito destes acontecimentos, Talleyrand
afirmava que Portugal se encontrava entre duas ameaças e, destas, as esquadras
inglesas não eram certamente a menor delas.
A
Guerra Na Europa-As Forças Espanholas.
Os
Espanhóis utilizaram três exércitos que foram posicionados junto à fronteira
portuguesa em três regiões: Galiza, Estremadura e Andaluzia. Os exércitos
posicionados na Galiza e na Andaluzia eram constituídos, cada um, apenas por
uma divisão. O exército posicionado na Estremadura era o mais numeroso,
constituído por cinco divisões e sob o comando de Manuel de Godoy. Embora tenha
havido ações militares noutros pontos da fronteira, foi este o exército (o da
Estremadura) que invadiu Portugal e, por isso, é este que importa ver mais em
pormenor.
A
divisão de Vanguarda, sob comando do Marechal-de-campo Francisco Maria Solano
Ortiz de Rosas, dispunha de 13.200 homens.
1ª Divisão
Comando do Tenente-General Diego de Godoy, com 7.200 homens.
2ª Divisão
Comando do Tenente-General Ignácio Lancaster, com 9.600 homens.
3ª Divisão
Comando do Tenente-General Marquês de Castelar, com 12.000
homens.
4ª Divisão,
Comando do Tenente-General Francisco Xavier de Negrete, com
4.761 homens.
As Forças Portuguesas.
As
derrotas sofridas pelas forças francesas no Norte de Itália, em 1799,
convenceram o governo português que os Franceses teriam de aceitar os termos da
paz impostos pelos aliados da Segunda Coligação e, em 1800, para reduzir as
despesas, mandou desmobilizar parte do Exército. Perante esta atitude, os
Britânicos retiram de Portugal as tropas que aqui se encontravam a pedido do governo
português. Só em fevereiro de 1801, perante a inevitabilidade da guerra, foi
dada ordem de mobilização. Comandava o Exército Português o 2º Duque de Lafões.
Só em 21 de fevereiro de 1801, o Duque de Lafões deu ordens para o recrutamento
de 2.000 homens em Lisboa o que era manifestamente insuficiente para completar
unidades muito desfalcadas. Para comandar as tropas daquela província
(Alentejo) tinha sido nomeado o Marechal de Campo Gomes Freire de Andrade. Entretanto
foram feitas alterações no dispositivo português. Foi constituído um só
exército com as tropas de Entre-Douro-e-Minho e de Trás-os-Montes e outro com
as tropas do Alentejo e Beira. No primeiro caso, foi nomeado comandante o
Marquês Louis François Carlet de La Rozière, emigrado francês enviado pelos
Britânicos para servir no Exército Português, e Gomes Freire de Andrade foi
nomeado seu Quartel-mestre. No segundo caso, o do chamado Exército de Entre
Douro e Guadiana, foi nomeado seu comandante o Tenente-general John Forbes
Skelater que partiu para o Alentejo no dia 7 de março e chegou a Estremoz a 21
desse mês, recebendo ali o comando do referido exército. O seu Quartel-mestre
general era o Marechal-de-campo João Jacob de Mestral e o Ajudante geral era o
Coronel D. Miguel Pereira Forjaz.
O
Exército de Entre Douro e Guadiana
Comando do Tenente-general João Dordaz e Queirós, com 12.138
homens. Parte deste efetivo encontrava-se a guarnecer as praças de Almeida
(3.000), Monsanto (800) e outros pontos da fronteira (800). Cerca de 1.000
homens encontravam-se doentes. A missão desta Divisão era defender a linha
Castelo Branco, Trancoso e Belmonte para impedir o avanço de tropas invasoras
em direção a Lisboa a partir da Beira.
A Região do Alentejo.
A
Divisão do Tenente-General D. António Soares de Noronha
Tinha o quartel-general
em Monforte e era constituída quatro batalhões de infantaria, seis esquadrões
de cavalaria e três bocas-de-fogo de artilharia.
A
Divisão do Tenente-General Conde de São Lourenço
Tinha o quartel-general em
Portalegre e era formada por quatro batalhões de fuzileiros, dois batalhões de
granadeiros, dois batalhões de caçadores e três bocas-de-fogo de artilharia.
A
Divisão do Tenente-General Marquês de Angeja
Tinha o quartel-general em Alter
do Chão e era formada por quatro batalhões de infantaria, seis esquadrões de
cavalaria e três bocas-de-fogo de artilharia. Existia
também uma Divisão na região do Algarve, região de que era Capitão-general D.
Francisco de Melo da Cunha de Mendonça e Meneses.
Praças do Alentejo.
Praça
de Campo Maior
Cujo governador era o Tenente-coronel do Real Corpo de
Engenheiros Matias José Dias Azedo, ficou com uma guarnição formada pelo
Regimento de Infantaria de Campo Maior, pelo Regimento de Milícias de
Portalegre e dois esquadrões do Regimento de Cavalaria de Olivença. A população
civil juntou-se aos militares na defesa da praça.
Praça
de Juromenha
Que tinha como governador o Tenente-coronel Veríssimo António da
Gama Lobo, uma companhia de caçadores do Regimento de Infantaria de Vieira
Teles, uma companhia do Regimento de Infantaria de Castelo de Vide, cinco
companhias do regimento de Milícias do Crato e um destacamento de artilharia. Em
Castelo de Vide mantiveram-se oito companhias do Regimento de Infantaria de
Castelo de Vide.
No
Marvão
A praça ficou sob o comando do Coronel José Joaquim Salazar Eça Jordão
e a sua guarnição era de apenas 150 homens pertencentes a uma companhia do
Regimento de Infantaria de Castelo de Vide e cinco companhias do Regimento de
Milícias do Crato.
Praça
de Olivença
Tendo como governador o Marechal-de-campo Jules César Auguste
Hèrcules de Chermont, tinha como guarnição um batalhão do Regimento de Milícias
de Vila Viçosa.
Praça de Estremoz
Encontrava-se um batalhão do Regimento de Milícias de
Ourique.
Praças de Castelo de Vide, Serpa, Moura, Mourão e Arronches
Dispunham de
governador e do respetivo estado-maior mas não de artilharia e essa falta
impedia-as de organizar uma defesa minimamente eficaz.
Um
ofício datado de 24 de março de 1801, dirigido por Francisco de Borja Garção
Stockler, secretário militar do Duque de Lafões, ao Tenente-general John Forbes
of Skellater, dá-nos uma ideia do estado em que se encontravam muitas das
praças portuguesas.
«Ill.mo
e Ex.mo sr.
O
senhor Marechal General junto à Real pessoa, informando que a praça de Mértola
se acha sem portas, e com algumas ruínas muito notáveis nas suas muralhas, e
considerando por outra parte quanto importa que a sobredita praça seja
guarnecida com um destacamento proporcionado à importância daquele ponto,
ordena que v. ex.ª mande examinar por um oficial engenheiro o estado da
referida fortaleza, e que desde logo requeira ao general Fernando da Costa de
Ataíde e Teive as precisas ordens para o seu pronto reparo, do qual cuidará sem
detença.
Deus
guarde a v. ex.ª, etc.»
Além
destas forças, encontrava-se em Lisboa um corpo de tropas sob o comando do
General Simon Frazer que era composto por dragões ingleses e três regimentos de
emigrados franceses. Estes regimentos eram denominados Loyal Emigrant, Castries
e Mortemar e tinham entre 750 e 800 homens cada um. Esta força saiu de Lisboa a
18 ou 19 de maio em direção ao Alentejo.
As Ações Militares.
Divisão
de Vanguarda espanhola dirigiu-se para Elvas e atingiu as imediações da praça
no dia 20 de maio. De Elvas saiu uma força portuguesa numa sortida sem
eficácia. Após uma breve troca de tiros, aquela força retirou-se para o
interior das muralhas. O governador de Elvas, D. Francisco Xavier de Noronha,
recusou render-se aos Espanhóis. A praça de Elvas, guarnecida com uma força de
cerca de 9.000 homens, tinha excelentes muralhas, abundante artilharia e abastecimentos
que lhes permitiriam resistir a um cerco prolongado. A praça não foi atacada
pelos Espanhóis que se limitaram a bloqueá-la. Desta forma, a força portuguesa
que ali se encontrava ficou retida no seu interior, não tendo intervenção nas
restantes operações militares. As, 1ª e 2ª Divisões espanholas também entraram
em Portugal pela região de Elvas mas todas as forças espanholas que por ali
circularam não foram ameaçadas pela guarnição da praça, apesar de esta ser
numerosa. No dia 5 de junho as tropas portuguesas executaram uma nova surtida,
houve troca de tiros de artilharia, mas não houve qualquer desenvolvimento da
situação. Deixando bloqueada a praça de Elvas, a 2ª Divisão e a Divisão de
Vanguarda espanholas dirigiram-se para Arronches onde, a 20 de maio, entraram
em combate com as forças portuguesas. A praça de Arronches dispunha de uma
guarnição de 1.369 homens e era seu governador D. José Cárcome Lobo. A praça
tinha as muralhas muito danificadas desde a Guerra da Restauração (1640 – 1668)
e não possuía recursos para enfrentar as forças espanholas pelo que D. José
Cárcome Lobo tinha recebido ordens para não oferecer resistência e retirar em
direção a Alegrete. A vigilância das forças portuguesas falhou completamente
pois a aproximação das tropas espanholas surpreendeu a guarnição da praça. As
tropas portuguesas encontravam-se fora das muralhas quando se aproximaram as
tropas espanholas. Estas desferiram um ataque violento e a derrota dos
portugueses foi rápida. Só não houve um desastre completo porque Bernardim
Freire de Andrade encontrava-se em Mosteiros e enviou um corpo de tropas para
proteger a retirada da guarnição de Arronches. Os Espanhóis aprisionaram 244
militares incluindo cinco oficiais. O número de mortos e feridos de ambos os
lados não é conhecido com exatidão pois nas fontes disponíveis os números
variam entre as duas dezenas e as três centenas. Depois destes acontecimentos,
as tropas sob comando de Bernardim Freire de Andrade retiraram em direção a
Portalegre. Apesar da incompetência demonstrada por D. José Cárcome Lobo, este
foi muito elogiado pelo Duque de Lafões. A 3ª Divisão espanhola avançou no dia
20 de maio para Olivença. Esta praça tinha como governador Júlio César Augusto
de Chermont, um francês ao serviço de Portugal. A guarnição da praça resumia-se
a cerca de 200 milicianos e à população. Existiam 36 bocas-de-fogo de
artilharia mas só algumas estavam montadas. A 3ª Divisão espanhola acampou em
Valverde de Leganés e foi enviada uma força de 4.000 homens a Olivença. A pouca
distância da praça foi enviado um mensageiro a intimar o governador a
render-se. Perante as ameaças do parlamentário espanhol, Chermont entregou
Olivença sem qualquer resistência. Foram negociados os termos da rendição
segundo os quais a guarnição saiu livre sendo-lhes cedidos meios para
transportar bagagens e atravessar o Guadiana. O governador e todo o seu
estado-maior ficaram livres sob o compromisso de não voltarem a pegar em armas
durante esta guerra. Os habitantes foram livres de ficar e manter os seus privilégios
ou vender os seus bens e abandonar a praça. Após ter chegado a Lisboa, Charmont
foi preso no castelo de S. Jorge. Ainda no dia 20 de maio, cerca de 3.000
homens da 3ª Divisão, sob comando do General Juan Carrafa, avançou para
Juromenha. Esta praça tinha como governador o Tenente-coronel Veríssimo António
da Gama Lobo. A aproximação das tropas espanholas foi feita por uma ponte que
estava ao alcance da artilharia da praça mas, inexplicavelmente, esta não foi
utilizada. Foram disparados alguns tiros de artilharia e de espingarda quando o
inimigo se encontrava fora do alcance das armas. Os espanhóis enviaram um
emissário e foram discutidos os termos da rendição. A guarnição portuguesa saiu
da praça e desfilou armada perante as forças espanholas como era habitual fazer
quando os termos da guarnição eram negociados. No final do desfile entregavam
as armas mas, tanto oficiais como soldados, foram autorizados a conservar o
restante equipamento. Depois as tropas podiam ser encaminhadas para a povoação
mais próxima que melhor tivesse condições para os acolher. Isto era feito sob o
compromisso de não voltarem a pegar em armas nessa guerra. Os espanhóis ficaram
na posse da artilharia, armas ligeiras, munições e abastecimentos existentes na
praça. O inventário destes recursos foi feito na presença de um comissário
português que ficou com um duplicado do documento. Gama Lobo foi julgado em
conselho de guerra e condenado à morte mas, por decreto de 23 de janeiro de
1802, a sentença foi comutada. Foi enviado em prisão perpétua para o Forte de
São Filipe de Benguela. A 4ª Divisão espanhola teve a missão de cercar Campo
Maior no início da invasão. A guarnição de Campo Maior andaria por volta dos
2.000 homens, dos quais 500 eram habitantes que colaboraram na defesa e 300 pertenciam
ao Regimento de Milícias de Portalegre. A praça estava guarnecida com 100
bocas-de-fogo de artilharia: 70 peças de diversos calibres, 16 obuses e 14
morteiros. O governador da praça era o Tenente-coronel do Real Corpo de
Engenheiros Matias José Dias Azedo. As primeiras forças espanholas a serem
avistadas eram da 2ª Divisão, de onde foi enviado um emissário a intimar a
rendição que foi prontamente recusada pelo governador. Na resposta enviada ao
comandante espanhol, no dia 22 de maio, Dia Azedo afirmava: «Tendo eu a honra
de dirigir uma guarnição pronta a derramar o seu sangue pela glória do seu
príncipe e pelos sagrados direitos da legítima defesa da sua pátria, não posso
de modo algum abrir mão dos deveres da honra, e deixar de aproveitar a constante
resolução de todos os fiéis oficiais portugueses que se acham dentro deste
recinto … ». Pelas 14H00 do dia 21 apareceram as forças da 4ª Divisão que
começaram a formar em linha de batalha. O comando do Exército português em
Portalegre ponderou, enviar socorros a Campo Maior mas a empresa mostrou-se
inviável e Godoy, ao ter conhecimento dessas intenções, mandou reforçar a 4ª
Divisão com tropas da 3ª Divisão. O bombardeamento de Campo Maior começou no
dia 23 de maio. Da praça portuguesa responderam com as bocas-de-fogo
instaladas. O fogo prosseguiu de ambos os lados até ao dia 6 de junho. Até aí
havia esperança que uma força fosse enviada para os socorrer. No entanto, a
capacidade de fogo da praça estava muito reduzida pois apenas três
bocas-de-fogo de artilharia continuavam a disparar. As muralhas estavam já
muito danificadas e a fadiga dos defensores era grande. No dia 6 foi convocado
um conselho de guerra que deliberou aceitar uma rendição em termos honrosos. No
dia 7 foi assinada a capitulação de Campo Maior saindo os defensores com todas
as honras militares, levando armas e bagagens. Seguiram por Estremoz e por Avis
até se reunirem com o grosso do exército, no dia 14 de junho, junto ao Tejo. Os
acontecimentos mostraram a impossibilidade de manter uma linha de defesa ao
longo da fronteira. Na noite de 29 de maio, em Portalegre, reuniu-se um
conselho de guerra presidido pelo Duque de Lafões. Neste conselho foi decidido
retirar em direção ao rio Tejo. A retirada começou no dia 30 de maio. Posições
que ofereciam boas condições de defesa foram abandonadas. Também se deixou às
mãos do invasor os abastecimentos e as munições que tinham sido reunidos em
Portalegre, Castelo de Vide e Alegrete, assim como os trens de hospitais,
bagagens e alguma artilharia. Numa reunião realizada durante o percurso, em
Alpalhão, foi decidido concentrar o Exército na região de Gavião e, a partir
daí, procurar manter o Alentejo em mãos portuguesas. No dia 1 de junho, as
tropas espanholas marcharam de Arronches para Portalegre. Não foi encontrada
resistência no caminho nem em Portalegre. No dia seguinte algumas forças
marcharam até Castelo de Vide onde apreenderam grande quantidade de
abastecimentos, munições e armamento. No Marvão foi oferecida resistência e os
espanhóis desistiram de tomar a praça. As forças portuguesas em retirada
chegaram à região de Gavião no dia 31 de maio. A infantaria portuguesa formou
uma linha de defesa a sul de Gavião e as unidades de emigrados formaram uma
segunda linha. Não foram enviadas forças para vigiarem os itinerários de
aproximação pelo que o comando português desconhecia a posição das forças
espanholas. A 3 de junho, o Duque de Lafões enviou uma força de 600 homens de
infantaria e 70 de cavalaria a Gáfete, a Tolosa, a Flor da Rosa e a Crato com a
missão de recolher os abastecimentos ali colocados. Para comandar esta força
foi nomeado o Brigadeiro Bernardim Freire de Andrade que, por se encontrar
doente, foi substituído por D. José Cárcome Lobo. Em Flor da Rosa, pelas 14:00,
aproximou-se uma força espanhola com cerca de 2.500 cavaleiros e três batalhões
de infantaria. D. José Cárcome Lobo dispôs-se a defender as suas posições. A
força atacante espanhola era nitidamente mais forte e os portugueses retiraram
em direção a Aldeia da Mata onde reorganizaram uma posição defensiva. Ao fim de
duas horas de combate esgotaram-se as munições e as forças portuguesas acabaram
por se render. A Guerra das Laranjas não decorreu exclusivamente no Alentejo.
Houve ações militares em Trás-os-Montes e no Algarve. A norte, no dia 8 de
junho pelas 20:00, um destacamento português sob o comando do marechal-de-campo
Gomes Freire de Andrade, com 1.787 homens de infantaria e duas peças de
artilharia ligeira (calibre 3), saiu do seu acampamento na Veiga de Chaves e
dirigiu-se em direção a Monterrei. Houve alguns combates de pouca importância
mas a operação de ataque a Monterrei não chegou a ser efetuada devido à falta
de preparação e indisciplina das tropas. Gomes Freire deu ordem de retirada das
suas forças na tarde do dia 9. Nesse dia à noite, ao serem ouvidos alguns
disparos ao longe, gerou-se a confusão nas tropas portuguesas, de tal forma que
julgaram estar perante um grande ataque espanhol. Alguns militares fugiram para
Chaves onde lançaram o pânico com as suas descrições fantasiosas dos
acontecimentos. A situação foi esclarecida por Gomes Freire. Houve mais algumas
escaramuças sem quaisquer resultados significativos. No Algarve também
ocorreram alguns incidentes. Os portugueses tinham ocupado posições na margem
direita (ocidental) do rio Guadiana. As forças espanholas, do outro lado do rio
fizeram fogo frequentemente, tanto com artilharia como com mosquetes, sobre as
tropas portuguesas que localizavam. No dia 8 de junho, as forças espanholas
tentaram atravessar o rio. As tropas portuguesas opuseram-se e, ao fim de
quatro horas de troca de tiros, os espanhóis desistiram do seu objetivo.
Conflito
na América do Sul
A Expansão do Rio Grande do Sul

No
Rio Grande do Sul o governo local tinha uma política expansionista, fundando
povoações ao longo da região de fronteira, que além de povoar a região,
propiciava um aporte de soldados. Em janeiro de 1800, foram criadas, com
imigrantes açorianos, as povoações de Caçapava do Sul e Canguçu. A notícia da
declaração de guerra foi recebida na capital do Rio Grande do Sul em 15 de
junho de 1801, quando chegou uma embarcação vinda da Bahia, retransmitindo uma
informação dada pela corveta portuguesa Andorinha, que tinha lá aportado pouco
antes. A informação foi confirmada no dia 22, por outra embarcação vinda de
Pernambuco. Não tendo ainda recebido ordens do vice-rei, as forças militares,
divididas em dois corpos, dirigiram-se para a fronteira, uma para Rio Pardo,
outra para Rio Grande, com o objetivo de conquistar os territórios que levasse
as fronteiras aos "limites naturais" do Sul do Brasil, os rios
Uruguai e da Prata. Como não havia uma declaração de guerra conhecida e oficial
entre os dois reinos, foram organizadas pequenas tropas de milicianos, sem
uniforme, mas armados pelo governo, que realizaram os primeiros ataques. O
primeiro a se apresentar foi Manuel dos Santos Pedroso com uma tropa de
aproximadamente 30 homens, conquistou o fortim espanhol de São Martinho. José
Francisco Borges do Canto, conhecido contrabandista procurando uma amnistia, apresentou-se
com 15 homens. Encarregado inicialmente de apoiar a Manuel Pedroso, conseguiu
apoio de índios Guarani e buscou o combate com os espanhóis em São Miguel das
Missões, que cercada se rendeu em poucos dias, tendo a sua guarnição espanhola
sido libertada. Em seguida renderam-se as povoações de São João e Santo Ângelo.
O passo seguinte foi conquistar São Lourenço, São Luís e São Nicolau, que já
estavam sendo abandonadas pela população local. O comandante espanhol foi preso
tentando mobilizar uma tropa perto de São Luís e foi conduzido de volta a São
Miguel. Uma comissão de índios de São Borja, a última missão não conquistada,
trouxe cativo o administrador espanhol e prometeu fidelidade aos portugueses. Ao
sul tropas do capitão de milícias Simão Soares da Silva e do tenente José
Antunes da Porciúncula atacaram a região do Taim, conquistaram o forte de Chuí.
Já uma tropa do coronel Patrício José Correia da Câmara, liderada pelo tenente
António Alves, atacou e rendeu as tropas espanholas que abandonavam o forte de
Cerro Largo. Todos os outros fortins da região foram sucessivamente abandonados
pelos espanhóis e ocupados por destacamentos portugueses sem mais confrontos,
sendo o mais importante espólio o forte de Santa Tecla, em Bagé. O Rio Grande
do Sul ao final tinha expandido o seu território em um terço.
A Expansão do Mato Grosso

Provavelmente
ambos portugueses e espanhóis ficaram sabendo da guerra ao mesmo tempo, em
meados de julho ou princípios de agosto de 1801. Os espanhóis decidiram então
atacar o Brasil no ponto que consideravam, o mais vulnerável nas defesas
portuguesas, o forte Coimbra, atual Mato Grosso do Sul. Uma expedição comandada
por D. Lázaro de la Ribera y Espinoza, composta por mais de 500 homens foi
enviada para atacar o forte, comandado pelo tenente-coronel Ricardo Franco de
Almeida Serra, que tinha uma pequena guarnição militar de cerca de 40
militares, acompanhados de 60 civis. A expedição chegou ao forte em 16 de
setembro de 1801, sendo recebida a tiro de canhão. No dia seguinte, os espanhóis
tentaram um desembarque na ponta superior do forte, mas a artilharia portuguesa
rechaçou as milícias paraguaias. Em 19 de setembro atacaram pelo outro lado
infrutiferamente, no dia seguinte apresaram alguns mantimentos, mas sem grandes
consequências para os defensores. No dia 24 de setembro, com as suas forças
reorganizadas, os espanhóis tentaram um último esforço, novamente sem sucesso,
retirando-se no dia seguinte. Enquanto os espanhóis atacavam o Forte Coimbra, o
governador Caetano Pinto de Miranda Montenegro, futuro visconde e marquês de
Vila Real da Praia Grande, decidiu contra-atacar. Enviou uma pequena força pelo
vale do rio Mondego, comandada pelo tenente Francisco Rodrigues Prado,
comandante do forte Miranda, que tomou e arrasou o forte São Jorge, na margem
sul do rio Apa, o que permitiu fixar a fronteira definitivamente nesse rio. Um
território que o Paraguai independente pretendeu na Guerra da Tríplice Aliança.
Os
Tratados de Badajoz e de Madrid

Luís
Pinto de Sousa Coutinho, nomeado plenipotenciário, dirigiu-se a Estremoz onde
chegou no dia 21 de maio – o segundo dia da invasão. Dali enviou uma mensagem a
Manuel Godoy a informar que desejava entrar em Elvas no dia seguinte. Godoy
demorou a dar a resposta pois era do seu interesse que quaisquer conversações
para a paz ficassem para mais tarde, quando as suas tropas tivessem penetrado
mais no território português, o que diminuiria o poder negocial dos
Portugueses. Por fim, foi passado um salvo-conduto que permitiu a Sousa
Coutinho chegar a Elvas no dia 27 de maio. Ali foi convidado a dirigir-se a
Badajoz onde, a 28 de maio, iniciou as conversações com Godoy e Luciano
Bonaparte. As negociações decorreram entre 28 de maio e 8 de junho, data em que
foram assinados os tratados com a Espanha e com a França. Estas negociações
decorreram simultaneamente com as operações militares. Enquanto Sousa Coutinho
esteve em Badajoz, um sistema de mensageiros manteve-o em contacto com o
Príncipe Regente de Portugal, futuro D. João VI, que ia enviando propostas de
acordo com o andamento das negociações. A notícia da rendição de Campo Maior
chegou a Badajoz na noite do dia 6 e esse facto diminuiu ainda mais o poder
negocial português. Os dois tratados, com a Espanha e com a França, foram
assinados no dia 8 mas ambos levaram a data de 6 de junho. Assim, com o acordo
de Godoy e de Luciano Bonaparte, não foram introduzidas exigências que
constavam das instruções enviadas por Napoleão Bonaparte e que, certamente,
impossibilitavam a assinatura dos acordos dadas as exigências territoriais que
o Primeiro Cônsul impunha. De qualquer forma, estes tratados ainda teriam de
ser ratificados pelos respetivos governos mas, pelo menos, as operações militares
foram interrompidas. O tratado assinado com a Espanha, aquele que é normalmente
designado como Tratado de Badajoz foi aprovado e ratificado pelo Príncipe
Regente a 14 de junho de 1801 e por Carlos IV de Espanha a 5 de julho. Napoleão
Bonaparte não ratificou o tratado. As suas exigências incluíam a entrega dos
navios portugueses que tinham participado nas operações navais no Mediterrâneo,
contra a França e a ocupação de parte do território português. Para pressionar,
a fim de obter o que pretendia, entraram mais tropas francesas em Espanha.
Estas somavam já cerca de 30.000 homens. Tudo apontava para o reinício das
hostilidades. O Duque de Lafões foi substituído pelo Marechal Carlos Alexandre,
Conde de Goltz, e renovaram-se os pedidos de auxílio à Inglaterra. Apesar da
pressão francesa, a Espanha manteve-se fiel ao tratado assinado e Carlos IV fez
saber a Napoleão que não colaboraria numa nova guerra contra Portugal. Foram
reiniciadas as negociações com a França numa nova ronda realizada em Madrid.
Como representantes de ambos os governos estavam Luciano Bonaparte e Cipriano
Ribeiro Freire. As negociações tiveram início a 2 de setembro e terminaram no
dia 29 desse mês com a assinatura do Tratado de Madrid. Enquanto decorriam as
conversações que conduziram à assinatura do Tratado de Madrid, a França
negociava também com a Inglaterra as condições de paz entre as duas potências.
Se a assinatura de um tratado entre a França e a Inglaterra ocorresse antes da
assinatura de um tratado entre a França e Portugal, este país poderia obter
condições mais vantajosas pois não estaria sujeito a alinhar ao lado de uma ou
de outra potência. Convinha a Portugal que as conversações se arrastassem o
mais possível para que as condições impostas fossem menos pesadas. Para os
Franceses a situação colocava-se ao contrário. Quantas mais vantagens
obtivessem num tratado com Portugal, mais teriam para negociar com a
Inglaterra. Assim, na noite de 27 de setembro, Luciano Bonaparte ameaçou com
uma invasão imediata de Portugal caso não se chegasse rapidamente a acordo.
Dessa forma, o tratado foi assinado dois dias depois. No dia 1 de outubro foi
assinado entre a França e a Inglaterra o acordo preliminar da Paz de Amiens.
Consequências Territoriais dos Tratados
De
acordo com o Artigo III do Tratado de Badajoz, a Espanha «conservará em
qualidade de conquista para a unir perpetuamente aos seus domínios e vassalos a
Praça de Olivença, seu território e povos desde o Guadiana; de sorte que este
rio seja o limite dos respetivos Reinos, naquela parte que unicamente toca ao
sobredito território de Olivença.». A fronteira entre Portugal e Espanha,
na região do Alentejo, ficou assim traçada de acordo com o tratado assinado em
1801.
De
acordo com o Artigo IV do Tratado de Madrid, «os limites entre as duas Guianas
Portuguesa e Francesa serão determinados no futuro pelo rio Carapanatuba …».
Este mesmo artigo estabelecia providências relativas aos «Índios» e aos
«cidadãos ou súbditos» de ambas as potências, que residiam naquelas regiões.
Legião
Portuguesa
(napoleónica)
A
Legião Portuguesa, também referida como Legião Lusitana, foi um corpo de tropas
portuguesas integrado no Grande Armée de Napoleão Bonaparte.
História
No
contexto da Guerra Peninsular, a criação do corpo deveu-se a uma ordem directa
de Napoleão ao General de Divisão Jean-Andoche Junot, datada de 12 de Novembro de 1807, tendo-se
materializado em Fevereiro de 1808 com as melhores unidades do, entretanto
debandado, Exército Português. A Legião Portuguesa partiu para Salamanca em
Abril de 1808 e depois de um longo périplo pela Espanha e França participou nas
campanhas da Alemanha, Áustria e Rússia, tendo participado nas batalhas de
Wagram, Smolensk, Vitebsk e Borodino (Moscovo) e sofrendo pesadas baixas.
Altamente apreciadas por Napoleão, as tropas da Legião eram referidas por este
enquanto "Infantaria Negra". Foi extinta a 5 de maio de 1814, tendo
regressado a Portugal apenas cerca de um milhar dos mais de 30.000 soldados que
partiram, sem contar com os 24.000 que foram abandonando o exército francês e
voltando a Portugal para se juntarem à resistência durante a travessia de Espanha.
Assim é uma unidade de 9.000 homens que é integrada no Exército Imperial de
Napoleão. Recentemente foram descobertos alguns restos mortais de soldados
portugueses no campo da batalha de Lubino os quais foram sepultados num
cemitério em Smolensk.
Organização
A
Legião Portuguesa Formava uma Divisão Composta.
5
Regimentos de Infantaria.
3
Regimentos de Cavalaria.
1
Regimento de Artilharia.
Comandantes da legião
Pedro José de Almeida Portugal.
Gomes
Freire de Andrade, segundo comandante.
Manuel
Inácio Martins Pamplona, chefe de estado-maior general.
D.
José Carcome Lobo, comandante da 1.ª Divisão.
João
de Brito Mouzinho, comandante da 2.ª Divisão.
Para
subchefes do estado-maior.
Marino
Miguel Franzini, mas "desertou" em Espanha, regressando a Portugal.
Manuel
de Castro Pereira de Mesquita.
Entre
os ajudantes de campo do general comandante estava.
Carlos
Frederico Lecor, que conseguiu evadir-se para Inglaterra, onde foi o principal
organizador da Leal Legião Lusitana.
Eram
coronéis de cavalaria.
Marquês
de Loulé.
Roberto
Inácio Ferreira de Aguiar.
Álvaro
Xavier de Póvoas, que não saiu de Lisboa porque o seu regimento não chegou a
organizar-se.
Da
infantaria eram Coronéis.
Saldanha
e Albuquerque.
Marquês
de Ponte de Lima.
Francisco
António Freire Pego.
Conde
de São Miguel.
José
de Vasconcelos e Sá.
Francisco
Ferrari.
Caçadores a cavalo,
comandado.
D.
João de Melo
Um
batalhão de caçadores a pé, comandado.
Francisco
Cláudio Blanc.
Para
a campanha de 1809, foi criada a 13ª Meia-Brigada de Élite fazendo parte do II
Corpo de Oudinot sob o comando do General de Brigada D. José Carcome Lobo.
3
Batalhões de Infantaria, criados por elementos de diversos regimentos de
infantaria da Legião.
1
Regimento Provisional de Caçadores a Cavalo sob o comando do Coronel Roberto
Inácio Ferreira de Aguiar.
Em
1811, a Legião Portuguesa é Reorganizada.
3
Regimentos de Infantaria.
1
Regimento de Caçadores a Cavalo.
1
Batalhão de Depósito.
Em
1813, após sofrer pesadas baixas, os restos da Legião são reorganizados.
1
Batalhão de Guerra.
1
Batalhão de Depósito.
Batalhas
notáveis
Batalha
de Wagram
Batalha
de Smolensk
(1812)
Vitebsk
Batalha
de Borodino
(Moscovo)