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segunda-feira, março 31, 2014

Fortes e Fortalezas de Costa - Indico - Índia I


FORTES E FORTALEZAS DE COSTA NA INDIA - FORTES DE GOA




FORTE DE PANGIM



A estrutura fortificada que ficava mais próximas da muralhas de Goa, Era o velho 'Castelo de Pangim' conquistado por Afonso de Albuquerque, ainda antes da sua entrada triunfante na cidade de Goa. Ficava aonde hoje fica o 'Palácio do Governo'. Uma carta de Afonso de Albuquerque datada de 4 de Dezembro de 1513, dera andamento às obras que ficaram entregues ao mestre Tomás Fernandes. Ficou com a sua torre e baluarte, além de uma cerca em redor. Perdendo o seu valor estratégico foi a residência dos Vice-Reis. Nova data de empreitadas de melhoramento são dadas pelo cronista António Bocarro no seu relatório de 1635;

«… o castelo de Pangim, em o qual se fizeram aposentos para os Vizo-reis estarem quando vão se despedir das armadas e Naos do Reyno. Estão feitos á borda do rio com cazas bastantes e um caes onde se desembarca per as mesmas cazas. E posto que Sua Magestade, quando se fizeram na era de seiscentos  e quinze se ouve por mal servido e mandava que as pagasse o Vizo-Rey Dom Jeronimo de Azevedo …»

Era no Forte de Pangim que os novos Vice-Reis vindos do Reino esperavam para entrar na cidade pois o novo e o antigo Vice-Reis nuca se deveriam cruzar-se.

FORTE DE GASPAR DIAS



Continuando pela margem esquerda em direcção à foz do rio Mandovi, encontrava-se o forte de 'Gaspar Dias' que está situado exactamente do lado oposto, do outro lado do rio, ao 'Forte de Reis Magos', perto da cidade de Panjim, no concelho de Tiswadi. Este lugar chama-se hoje Miramar e do forte não existe mais nada, a não ser alguns canhões. O forte de Gaspar Dias foi mandado construir pelo conde da Vidigueira, D. Francisco Gama, no ano de 1598, com o propósito de defender a foz do Rio Mandovi. Continha 18 peças de artilharia. O seu plano ficou a dever-se ao engenheiro-mor João Baptista Cairato. Em 1635 tinha o seguinte aspecto:

«… Forte de pedra e cal de altura de 15 pés e as paredes de groçura  de sinco em quadro. Cada lanço de muro tem seis braças de comprido. Não está de todo acabado mas já lhe podem por dez ou doze peças de artilharia para defender a entrada da barra, em cuja fronte está do banco que ha travessa. Por cujo respeito se fes aly este forte e, como adiante da fortaleza da Aguada e na Nossa Senhora do Cabo…».

Na Margem direita do rio Mandovi e nas pequenas ilhas havia diversos dispositivos de defesa e vigilância como o 'Forte do Passo de Naroá' situado na extremidade da ilha de Divar para a defender doas ataques vindos por terra de Bardez. Numa revolta militar em 4 de Março de 1835, por ocasião da restauração do trono da rainha e da carta constitucional em Portugal, houve um motim neste forte e este foi parcialmente destruído. Em 1842 este foi reconstruído pelo governador interino José Joaquim Lopes da Lima. As peças de artilharia que eram originárias deste forte estão hoje espalhadas pelos mais diversos edifícios governamentais na capital.

O 'Forte de Gaspar Dias' deve o nome ao facto ter ocupado parte de um palmar pertencente a um português assim chamado.

FORTE DE ALORNA



Este forte está actualmente em péssimas condições. Situado no extremo noroeste de Goa, no concelho de Pernem, na margem direita do Rio Chaporá. O forte está completamente coberto de vegetação e é praticamente impossível explorar o seu interior que inclui uma pequena casa e uma antiga capela. Aldeões de Alorna (maioritariamente hindus) afirmam que os portugueses estiveram aqui até 1961 e perante o avanço das tropas indianas afundaram todos os canhões e objectos de valor no rio. Dizem ainda que:

"Os portugueses eram bons para nós" e explicam orgulhosamente que "havia um homem português que conquistou este forte em tempos e por isso recebeu o título de Alorna".

De facto ainda existem hoje descendentes a família nobre dos Marqueses de Alorna que vivem em Portugal. Descendente do vice-rei que conquistou o forte, esta família deve o seu título a esta aldeia.



Situado num ponto militar péssimo, rodeado por montanhas, mas com muralhas excelentes foi conquistado em 5 de Maio de 1746 pelo Marquês de Castelo Novo, que aqui ganhou o título de Alorna em memória do feito. Foi contudo restituído este forte aos Bhounsolés em 1761 por ordem do governo. Pouco tempo depois estes revoltaram-se com a ajuda dos 'Ranes de Satari' e ameaçaram as possessões portuguesas do norte. Em 25 de Agosto de 1781 a fortaleza foi reconquistada pelo governador Dom Frederico Guilherme de Sousa. Uma única porta dá acesso ao interior de forte (do lado sul). A praça é um pentágono irregular com quatro baluartes e um grande fosso que facilmente se pode inundar com as águas do rio. A artilharia consistia em 4 peças de ferro, uma em cada baluarte. L. Mendes descrevia assim a localização do forte:

"A situação de Alorna é risonha, aprazível e riquíssima em pitorescas paisagens. Tem boa água e abunda em contrastes naturais que produzem agradáveis impressões aos viajantes."

FORTE DE TIRACOL



O 'Forte Tiracol' é o que está situado mais a norte, está situado num enclave, no território de Perném, na margem direita do rio que lhe deu o nome e já em plena praia e foi conquistada a 23 de Novembro de 1746. Pelo Vice-Rei Dom Pedro de Almeida Portugal. Alem da cidadela que fica no alto do morro, descem dela duas couraças, uma para o lado do rio, e outra para o mar, unidas por uma muralha. São obras feitas, depois da conquista, pela engenharia portuguesa. Dentro está a 'Capela de Santo Amónio'. Está situado num enclave, no ponto mais nortenho do estado de Goa, separada do resto do território pelo Rio Tiracol. Acessível via terrestre por norte, pelo estado de Maharastra.  O forte fica numa pequena colina e ao sopé desta situa-se a pequena aldeia piscatória de Tiracol com a sua população totalmente cristã. O forte foi recentemente renovado. De tamanho muito reduzido, este forte é contudo de longe o mais bem conservado de Goa.



Construída originalmente pelos Bhounsolos, O Forte Tiracol é o que está situado mais a norte, está situado num enclave, no território de Perném, na margem direita do rio que lhe deu o nome e já em plena praia e foi conquistada a 23 de Novembro de 1746. Pelo Vice-Rei Dom Pedro de Almeida Portugal, Marquês de Castelo Novo. Além da cidadela que fica no alto do morro, descem dela duas couraças, uma para o lado do rio, e outra para o mar, unidas por uma muralha. São obras feitas, depois da conquista, pela engenharia portuguesa. Dom Pedro de Almeida Portugal, mandou construir no seu interior uma capela que no século XIX foi elevada a igreja e dedicada a St.º António. Em 1835, pouco depois da revolução liberal em Portugal foi nomeado o primeiro governador goês na história da Índia Portuguesa. Bernardo Peres da Silva no entanto nem chegou a ocupar o seu posto, devido a um contragolpe que o derrubou. Os seus apoiantes, reunidos no Forte de Tiracol foram atacados pelo governador militar Fortunato de Mello e assassinados. Em 17 de Fevereiro de 1819 o tratado assinado pelo Rajá Bounsuló reconhecia a autoridade portuguesa nos seus domínios, e assim retirou a importância estratégico-militar do forte.


FORTE DE TIVIM/FORTE DO MEIO/COLVALE


Fortificação em ruínas, como demonstra a foto.




O fortaleza de 'São Tomé de Tivim', foi construída, em 1681 e o do Meio em 1625. A respeito destas fortificações apresentaram ao engenheiro Manuel Peres da Silva o seguinte parecer em 1 de Dezembro de 1686:

"A fortificação de Tivim é um simples muro comprido, feito em parte da fronteira de Bardez (concelho de Goa) com umas três pequenas atalaias, a que chamam fortes. Tem um fosso, feito para dividir as Velhas das Novas Conquistas por aquele lado, o qual não está acabado, mas projectada a sua conclusão, para com ela se comunicarem os rios de Chaporá com o de Bardez (Mandovi)."

No forte denominado de S. Sebastião ou do Meio lia-se sobre a porta principal a seguinte inscrição:

"REINANDO O CATHOLICO REI DÕ FILLIPE III GOVERNANDO ESTE ESTADO O VIGILÃTISSIMO DÕ MIGUEL DE NORONHA CONDE DE LINHARES SE FEZ ESTA OBRA 1635."



Próximo deste forte está a igreja de Colual, que foi fundada pelos franciscanos em 1591, reconstruída em 1678 e renovada após o incêndio que sofreu na invasão de Sambhaji em 1683.

FORTE DE CORUJEM


Este forte está completamente isolado entre o concelho de Bardez e Sanquelim e só pouco as pessoas sabem da sua existência, embora seja de alguma grandeza e tenha uma certa importância histórica na expansão portuguesa na Índia. Situa-se numa pequena ilha e está em mau estado de conservação. Com muros bem grandes, os soldados portugueses ansiosos por voltar a Portugal aqui esperavam pelos ataques devastadores dos maratas ou muçulmanos inimigos.

À muita pouca informação deste forte. Até ao século XVIII o rio de Mapuça servia de fronteira natural entre os portugueses e os muçulmanos, e alguns muros antigos deste forte podem ser vistos perto do ponto de ferry em Aldona. Contudo em 1705 os portugueses iniciaram a expansão para leste e foi sensivelmente nesta altura que foi construído o 'Forte de Corujem'.

Conta-se que um dos defensores do forte foi Úrsula e Lancastre, uma mulher portuguesa que estava determinada em triunfar no mundo dos homens, e que se disfarçou de soldado e viajou pelo mundo fora. Chegada a Corujem como soldado foi no entanto descoberta após ser capturada e despida, mas o final foi feliz e acabou por casar com o capitão.

FORTE DE AGUADA


Colocado num ponto estratégico, controlando o estuário do Rio Mandovi, no concelho de Bardez, este forte é dos mais grandes e mais bem conservados em Goa. É visitado por muitos turistas, e conta com a atracção de dois faróis. Um é o mais velho do género na Ásia, o outro bem mais moderno cumpre agora a tarefa de ajudar à navegação marítima. O forte é muito grande, com vários baluartes. Estende-se por vários quilómetros quadrados e numa das suas partes junto ao rio Mandovi situa-se presentemente a prisão de Goa. 



Esta praça tinha originalmente o nome de Santa Catarina, mas devido às diversas fontes de água fresca no seu interior, foi baptizada de 'Forte Aguada', sendo que aqui os barcos portugueses aportavam para se reabastecerem de água e mantimentos. Começada a construção em 1604, foi finalizada a parte principal em 1812, data que está (estava?) marcada numa placa:

"REINANDO MUI CATHOLICO REI D. FILLIPE 2.º DE PORTUGAL MANDOU A CIDADE FAZER ESTA FORTALEZA DO DINHEIRO DE UM POR CENTO, PARA GUARDA E DEFFENSÃO DAS NÁOS, QUE A ESTE PORTO VEM, A QUAL FOI ACABADA PELOS VEREADORES DO ANNO 1612, SENDO VICE-REI DÉSTE ESTADO RUI LOURENÇO DE TAVORA."



Este forte foi essencial na defesa de Goa no bloqueio dos holandeses no século XVII e nas diversas incursões guerreiras dos maratas em Bardez. No seu interior encontra-se ainda a Capela de Nossa Senhora da Boa Viagem e o farol da Aguada, mandado construir pelo governador interino Lopes de Lima em 1841, que incluía uma grande lanterna e um sino de 2.250 quilos. Este sino era originário do Convento dos Agostino em velha Goa. Este sino, está presentemente na Igreja de Panjim. Um moderno farol veio a substituir aquele que foi um dos mais antigos faróis na Ásia.

FORTE DE PONDÁ



O forte situa-se a uns 5 quilómetros de Pondá, sendo uma reconstituição da antiga fortaleza que aqui se situava, muito bem conservado e no seu centro ergue-se uma bela estátua do líder guerreiro marata Shivaji que por aqui passou no século XVII. Construído pelos guerreiros de 'Adil Shah' (muçulmanos) foi destruído pelos portugueses em 1549. Esteve em ruínas por mais de 100 anos, até que Shivaji reconquistou a cidade e mandou reconstruir o forte em 1675. Em Outubro de 1683 o vice-rei tentou conquistá-lo mas sem sucesso, devido ao grande número de tropas do rei marata Sambhaji. Esta região do interior e maioritariamente habitada por hindus provocou sempre muitos problemas aos portugueses que aqui por diversas vezes saíram derrotados em batalhas, tendo neste lugar igualmente perdido a vida um vice-rei em combate.

FORTE DE NANUZ



O forte de Nanuz situa-se a 2 km a sul da capital do concelho de Satari, Valpoi. Nanuz é uma pequena aldeia e para quem vem da costa é sempre surpreendente observar o grande número de muçulmanos nesta zona do interior de Goa que aqui chegam a ser maioritários em algumas aldeias. Em princípio não existe hoje nenhum forte de Nanuz. Parece que existe ainda uma pequena gruta que originalmente pertencia á fortificação perto do Rio Mandovi. Hoje já só existe um pequeno pilar com uma placa que diz "Local do antigo Forte de Nanuz". Este lugar fica numa colina mesmo na margem do rio e o terreno desce abruptamente até à água.

Há muito pouco material sobre este forte. Construído provavelmente bem antes da chegada dos portugueses a estas terras do interior, foi utilizado regularmente como local para as rebeliões dos camponeses e pelos "Ranés" (dinastia hindu desta região) contra os portugueses, especialmente durante o século XIX. Devido a esse facto e à dificuldade com que os portugueses enfrentavam os revoltados no terreno montanhoso e inóspito, foi demolido pelos próprios portugueses em 1895. Hoje resta um pilar com a referida placa, que suportava uma cruz de prata, que foi levada para Portugal, com autorização indiana, em 1974.

FORTE DE MORMUÃO



O forte de Mormugão localiza-se no ponto oposto ao Palácio do Cabo, na ponta sul da foz do Rio Zuari, nas imediações da cidade de 'Vasco-da-Gama', concelho de Mormugão. Este forte está praticamente completamente em ruínas, sendo que há algumas dezenas de anos ainda era possível visitá-lo.



A praça de Mormugão começou-se a construir em Abril de 1624 (governando a Índia D. Francisco da Gama, 3º conde da Vidigueira), conforme rezava uma lápide na entrada. O forte deve muita da sua importância à sua localização estratégica. No século XVII com as contínuas pestes e a insalubridade e ataques inimigos flagelando a Velha Goa, os vice-reis tentaram transferir a capital da Índia Portuguesa para Mormugão, tendo sido construídos alguns edifícios para o efeito, mas a mudança foi abandonada devido aos altos custos, e já no século XIX foi aceite Nova Goa (hoje Panjim) como a nova capital de Goa. O forte de Mormugão esteve também em foco durante o bloqueio naval holandês do século XVII, defendendo a barra do Rio Zuari e impedindo ataques dos navios holandeses.

FORTE DE CABO DE RAMA


O 'Forte de Chaporá' deve ser dos mais bem construídos em Goa. Situado no 'Cabo de Rama', uma ponta terrestre no sul de Goa, oferece uma vista sobre a costa. Em dias de bom tempo pode-se ver até uma distância de dezenas de quilómetros, até 'Karwar' que fica no estado de 'Karnataka'.



Em mau estado de conservação, vale contudo pela sua localização isolada. As suas muralhas são de grande espessura e no seu interior existe uma pequena capela. A entrada consiste num edifício deste século, provavelmente construído pelos militares portugueses antes de 1961. À frente do forte, no parque de estacionamento há um pequeno cruzeiro dedicado em português a um goês enfermeiro falecido.



Esta fortaleza passou para o domínio português em 1763 durante o governo do vice-rei D. Manuel de Saldanha e Albuquerque, 1º Conde da Ega. Originalmente era uma fortificação mourisca, com 15 baluartes e um fosso do lado terrestre. No século XIX ainda havia aqui 21 peças de ferro. Este lugar era conhecido como sendo muito saudável e próprio para a convalescença de doenças. Tem duas nascentes de água potável, ainda hoje existentes, de diferentes temperaturas. Também existe um pequeno lago. Já no século XIX tinha perdido a sua importância militar e os cerca de 30 militares aqui estacionados nesse período limitavam-se a impedir o contrabando nas praias vizinhas.

FORTE CHAPORÁ



O 'Forte de Chaporá' situa-se no concelho de Bradez, no extremo norte, na costa. Situado no alto de um monte rodeado pelas localidades de Siolim e Vagator, foi de grande importância estratégica devido à sua localização costeira que controla igualmente a foz do Rio Chaporá. Está hoje em razoáveis condições. No interior encontram-se também alguns túmulos muçulmanos que se presumem ser pré - portugueses.



Este forte tinha sido originalmente construído pelo Adil Shah de Bijapur. Isto explica também a origem do nome (Shahpura - cidade do Shah). A actual construção é dos portugueses, datada de 1617. Com o propósito de albergar a população de Bardez dos ataques norteiros dos Maratas servia também para defender o vasto estuário do rio Chaporá. Com os seus baluartes octogonais e paredes bem sólidas este forte tem semelhanças com o de 'Aguada' ou de 'Cabo de Rama'. A história da fortaleza conta com duas capitulações portuguesas. A primeira em 1684, quando o capitão português se rendeu às tropas maratas lideradas por Sambhaji. Com o recuo dos maratas, os portugueses reconstruíram o forte em 1717, com túneis que ligavam o interior do forte à praia. Contudo em 1739 o forte foi mais uma vez capturado pelos maratas e Bardez ocupada por estes. Em 1741, os portugueses voltaram a instalar-se definitivamente no forte e só em 1895 este foi abandonado, devido à sua perda de importância com a adição das Novas Conquistas para o domínio português e a consequente deslocação da fronteira para norte.

FORTE DE RACHOL



Rachol é uma pequena aldeia que se situa no concelho das Velhas Conquistas de Salcete. Fica na margem esquerda do Rio Zuari e tem como importante monumento o Seminário de Rachol. O forte hoje quase que já não existe, contudo ainda se passa pelo antigo portão de entrada que continua de pé com o brasão português. Também partes dos fossos são visíveis e alguns muros que faziam parte daquilo que foi um dos maiores fortes portugueses na Ásia.



O forte de Rachol foi conquistada em 1520 pelo Krishnarav, imperador do reino de 'Vijayanagara', ao sultanato de Bijapur então sob comando de Ismail Adil Shah. Cedeu-o no mesmo ano aos portugueses em troca de protecção contra os muçulmanos do norte. No auge da sua importância no século XVI e XVII foi defendido por mais de 100 canhões e nunca mais foi perdido para os hindus ou muçulmanos. Foi renovado e reconstruído em 1604, e após o cerco do guerreiro marata Sambhaji em 1684, feito que é assinalado pela seguinte placa:

"SENDO O CONDE DE ALVOR VICE-REI DA INDIA MANDOU REFORMAR ESTA FORTALEZA DEPOIS DE SE DEFENDER DO CERCO DE SAMBAGY, EM 22 DE ABRIL DE 1684."

Foi renovado mais uma vez em 1745 pelo Marquês de Alorna.

FORTE DE SANQUELIM



Sanquelim situa-se no concelho de Bicholim no noroeste de Goa. É uma pequena vila com uma grande maioria de hindus. Não há indicações quanto à presente existência do forte. De construção hindu foi conquistado e reconquistado com a anexação das Novas Conquistas nos séculos XVII e XIX. No século XIX ainda aqui se encontravam algumas dezenas de militares portugueses.

FORTE DE BANASTARIM OU SÃO TIAGO



Este forte é dos mais antigos em Goa. Localizava-se na ponta oriental da cidade de Goa (Velha Goa), a caminho do canal de 'Combarjua' e na sua margem direita.

Esta praça foi conquistada ao Hidal-Kan por Afonso de Albuquerque em 2 de Abril de 1512 e foi baptizada de Fortaleza de São Thiago. A fortaleza é de origem moura e a Igreja de S. Tiago construída em 1541, já no século XIX estava em ruínas. Há algumas referências curiosas a este forte no passado. Falando desta fortaleza, o Marquês de Pombal, nas Instruções que em nome do rei D. José deu ao governador e capitão geral da Índia em 1774 diz:

" Á na fortaleza de S. Thiago dezasseis peças, e uma d'elas do género de canhão de disforme grandeza."



Também referindo-se a este grande canhão o secretario Cláudio Lagrange Monteiro de Barbuda já no século XIX dizia:

"Mas ainda estava assestado em 1839, sobre os restos de um baluarte desta fortaleza, provavelmente construída pelos mouros, esse canhão de não tão disforme grandeza, como dizem as Instruções, (...). Alguns escritores lhe dão o nome de mourisca, talvez por ser obra dos mouros."

FORTE DE ANJEDIVA



Situado na ilha de mesmo nome que se encontra a cerca de 120 km a sul da capital de Goa, Panjim, este forte é dos mais antigos construídos pelos portugueses no Oriente. A ilha mede 1,3 km de comprimento e 300 metros de largura média. Esta ilha é hoje desabitada. No século XIX ainda aqui habitavam cerca de 200 pessoas (todas cristãs). Inclui várias couraças, a igreja dedicada a Nossa Senhora das Brotas, a capela dedicada a Nossa Senhora das Dores, um tanque com água potável e um antigo aquartelamento militar.

Foi aqui que desembarcou Dom Francisco de Almeida em 13 de Setembro de 1505. Mandou construir uma fortaleza que contudo foi destruída sete meses depois. A ilha de Anjediva esteve desocupada até 1661, quando os ingleses aqui se instalaram à espera que o tratado de 23 de Julho do mesmo ano (que cedia Bombaim aos ingleses) se fizesse cumprir, o que de facto aconteceu em 1665, ficando a ilha novamente desocupada. Com as invasões maratas sob comando de Sambhaji os portugueses reconstruíram o forte em 1682 sob ordens do então vice-rei D. Francisco de Távora, conde de Alvor como testemunha a seguinte placa:

"GRAÇAS A DEUS  FRANCISCO DE TAVORA CONDE DE ALVOR DO CONSELHO DE ESTADO, VICE-REI E CAPITÃO GENERAL DA INDIA, MANDOU EM 5 DE MAIO DE 1682 EDIFICAR N'ESTA ILHA ESTA FORTALEZA POR AMARO SIMÕES PEREIRA, PRIMEIRO CAPITÃO MÓR D'ELLA , O QUAL LHE LANÇOU A PRIMEIRA PEDRA EM 2 DE JUNHO DO DITO ANNO, E A PÔZ DEFENSAVEL ANTES DE SEIS MESES, COM DEZASSEIS CANHÕES, E LHE CONCERTOU POÇOS, FONTES, TANQUE GRANDE, E A COURAÇA REAL E O BALUARTE DE S. FRANCISCO COM TODAS AS SUAS SERVENTIAS, MURO, PORTAES, E ESTA CRUZ PARA SEMPRE. -ANGEDIVA 3 DE MAIO DE 1683-M.T.-ARMAS-M.S."


domingo, março 30, 2014

Fortes e Fortalezas de Costa - Indico - Índia II

FORTES E FORTALEZAS DE COSTA NA INDIA - FORTE DE DIU


FORTALEZA DE DIU

A fortaleza de Diu localiza-se na ilha de Diu, no extremo sul da península de Katiavar, à entrada do golfo de Cambaia, na costa de Guzerate, na Índia.


Erguida por forças portuguesas em 1535-1536, é considerada pelos estudiosos de arquitectura militar como a mais importante e bem fortificada estrutura erguida no Estado Português da Índia.



Devido à sua importância estratégica, a fortaleza de Diu foi alvo da cobiça e resistiu a inúmeros cercos e ataques de árabes, turcos, indianos e às diversas tentativas neerlandesas para dela se apoderarem em finais do século XVII.



Reputada como inexpugnável, acompanhou o declínio de Diu a partir do século XVIII até à sua queda.



sábado, março 29, 2014

Fortes e Fortalezas de Costa - Indico - Índia III


Fortaleza de Santo Ângelo de Cananor


A 'Fortaleza de Santo Ângelo de Cananor', também referida como 'Castelo de Santo Ângelo' ou 'Fortaleza de Cananor', localizava-se na cidade portuária de Cananor, no estado de Kerala, na costa sudoeste da Índia. A costa do Malabar constituía-se numa expressiva região produtora e exportadora de especiarias, nomeadamente a pimenta. Ao final do século XV caracterizava-se politicamente como um mosaico de pequenos reinos. Estes, embora maioritariamente hindus, abrigavam comunidades expressivas de mercadores islamizados. Entre eles incluía-se o reino de Kolathunad, cujos rajás pertenciam à família Kolathiri. Na passagem para o século XVI, o porto de Cananor era o mais destacado deste reino, atrás apenas, a nível regional, pelo principal entreposto de especiarias do Malabar, a cidade de Calecute. Tornou-se possessão portuguesa entre 1505 e 1663, quando foi conquistada por forças neerlandesas, passando depois para o domínio inglês.


A cidade foi avistada pela armada de Vasco da Gama já em 1498, mas só foi visitada por uma armada portuguesa em janeiro de 1501, sob o comando de Pedro Álvares Cabral, em resposta a um convite do soberano local. Ao final desse mesmo ano, a armada de João da Nova, assinalou a presença portuguesa em Cananor com o estabelecimento de uma feitoria, reorganizada no ano seguinte (1502) por Vasco da Gama, que ali deixou como feitor Gonçalo Gil Barbosa. Daqui eram exportados principalmente gengibre, cardamomo, e importados cavalos para os exércitos do Império de Vijayanagara. As rivalidades com os mercadores islamizados locais logo se fizeram sentir, de modo a que, em Outubro de 1505, a armada do futuro Vice-rei, Dom Francisco de Almeida demorou-se na cidade, em negociações com o soberano local para a construção de uma fortaleza capaz de defender a feitoria. Bem-sucedida, a fortificação começou a ser erguida ainda no mesmo ano, em posição dominante sobre um extenso promontório que se projectava sobre o mar, dominando a baía, a alguma distância a leste da cidade de Cananor. Principiou-se por erguer uma muralha pelo lado de terra, antecedida por um fosso, atrás da qual se desenvolvia o corpo da feitoria-fortaleza, dominado pela torre de menagem, ao lado da qual se erguia a casa do capitão.

Entre maio e agosto de 1507, a fortaleza sofreu um duro assédio, o chamado cerco de Cananor. O ataque deveu-se a uma questão de sucessão dinástica na família Kolathiri que conduziu ao trono um herdeiro favorável aos interesses do Samorim de Calecute e da comunidade de mercadores islamizados de Cananor, tradicionais inimigos dos portugueses. O Vice-rei Dom Francisco de Almeida foi avisado da preparação do mesmo pelo corsário hindu Timoji, que abasteceu a fortaleza durante o cerco. Este apenas foi levantado diante da chegada de uma armada de socorro (27 de agosto de 1507, sob o comando de Tristão da Cunha, que levou o soberano local a assumir uma posição conciliatória com os Portugueses. Francisco Serrão integrava esta armada. O episódio é recordado em um verso de 'Os Lusíadas': "Vereis a fortaleza sustentar-se / De Cananor, com pouca força e gente; (...) ".


Em agosto de 1509 Almeida, recusando-se a reconhecer Dom Afonso de Albuquerque como novo governante a sucedê-lo, deteve-o nesta fortaleza após a Batalha Naval de Diu. Albuquerque foi libertado após três meses de confinamento, e assumiu o cargo com a chegada de uma frota maior, em Outubro de 1509. Albuquerque fez reconstruir a fortaleza. A fortaleza foi reforçada em 1526 por iniciativa do então governador Dom Lopo Vaz de Sampaio. A Cananor portuguesa desenvolvia-se então a leste do corpo central da fortaleza, entre esta e a muralha exterior situava-se a parte habitacional onde, no século XVII residiam cerca de quarenta famílias de 'casados' portugueses e trinta de 'casados da terra' (cristãos nativos). A oeste, na extremidade do promontório, localizavam-se o cais e as edificações do hospital, dos armazéns (mantimentos e munições), e uma ermida. Para além das muralhas da cidade portuguesa, desenvolvia-se uma área mista, habitada por população luso-indiana ou cristianizada, além de uma pequena aldeia piscatória hindu. A cidade nativa de Cananor, designada como 'bazar dos mouros' pelas fontes portuguesas, situava-se no centro da baía a alguma distância da fortaleza portuguesa. Sob o governo do Vice-rei Dom Antão de Noronha, durante o cerco de 1565, Dom António de Noronha foi o responsável pela sua defesa, uma vez que o seu capitão à época, Dom Paio de Noronha a desejava abandonar.

Em 1663 Cananor foi conquistada por forças neerlandesas, ano da queda da cidade de Cochim, pondo fim à influência comercial português na costa do Malabar. Os neerlandeses modernizaram a antiga fortificação portuguesa, sendo erguidos novos baluartes, com os nomes de 'Hollandia', 'Zeelandia' e 'Frieslandia', que são as principais estruturas que chegaram aos nossos dias. A primitiva estrutura portuguesa foi posteriormente demolida. Os neerlandeses venderam a fortificação ao sultão Ali Raja de Arakkalem 1772. A cabeça de Kunjali Marakkar foi exibida nos muros da fortaleza após o seu assassinato. Poucos anos mais tarde, em 1790 foi conquistada por forças britânicas, quando se converteu no quartel-general das forças militares britânicas na costa do Malabar até 1887. Da fortificação manuelina, com grandes alterações introduzidas no século XIX pelos britânicos, restam apenas vestígios da primitiva torre e do muro sobre as rochas da praia. A fortificação portuguesa, na extremidade de uma ponta rochosa, era dominada por uma torre de três pavimentos, em torno da qual se encontravam as casas do capitão e a feitoria, conjunto essencialmente inalterado até ao século XVII. A cidade portuguesa encontrava-se envolvida por um muro abaluartado numa extensão de 550 metros, defendido por um fosso.

Fortaleza de São Sebastião de Baçaim


A Fortaleza de São Sebastião de Baçaím (também conhecida como Praça-forte de Baçaim) foi uma fortificação que integrou o Estado Português da Índia entre 1535 e 1739. Localiza-se na antiga cidade de Baçaim (hoje Vasai-Virar), no estado de Maharashtra, na Índia, a cerca de 50 quilómetros ao norte de Bombaim. Constitui-se numa das mais importantes praças-fortes portuguesas no antigo Indostão.


A cidade, integrante dos domínios do reino de Cambaia, devia a sua riqueza à pesca, ao comércio de cavalos, de sal, madeiras, pedras para construção (basalto, granito) e à construção naval. Adicionalmente, a região era próspera em termos agrícolas, produzindo arroz, algodão e cana-de-açúcar.


Em 1528, o Capitão Heitor da Silveira, conquistou e incendiou a cidade. Após isto, o governante de Thana submeteu-se voluntariamente como tributário a Portugal. Em 1532 teve lugar um novo assalto português a Baçaim e, após uma forte resistência, conseguiram penetrar na sua fortificação, arrasando-a. Em consequência, foi imposto tributo às cidades de Thana, Bandra, Mahim e Bombaim. Em 23 de Dezembro de 1534 o Sultão de Guzerate cedeu, através de um tratado, Baçaim e suas dependentes (Salcete, Bombaim, Parel, Vadala, Sião, Vorli, Mazagão, Thana, Bandra, Mahim, Caranja e outras) a Portugal. No ano seguinte (1535) uma feitoria portuguesa foi instalada em Baçaim, dando-se início à construção da Igreja de Nossa Senhora da Vida. Ainda nesse ano de 1535, as forças do Sultão de Guzerate assaltaram a cidade. Por essa razão, em maio de 1536, por determinação de Dom Nuno da Cunha, uma fortificação foi iniciada, em torno da qual a cidade portuguesa floresceu.



Com planta atribuída ao milanês Giovanni Battista Cairati, arquitecto mor de Portugal no Oriente sob o reinado de Filipe I de Portugal (1580-1598), foi consagrada a São Sebastião, apresentando influências do Renascimento europeu. Os muros da cidade foram erguidos entre 1552 e 1582, pois nesta última data já se encontrava envolvida por imponente muralha de pedra e cal, reforçada por dez modernos baluartes em forma de orelhão, conforme representado em carta de Pedro Barreto de Resende (1635). Capital da Província do Norte na Índia portuguesa, resistiu aos assaltos de forças locais e estrangeiras até ser ocupada pelas forças do Império Marata, que também conquistaram todos os territórios dela dependente (1739). Da Fortaleza de São Sebastião dependiam as tranqueiras de Saibana, Varenepor, e Conrangem, além do Forte de Mamura, do Forte de Caranjá e os Baluartes de Tana. Atualmente, as ruínas da cidade e a própria fortaleza, encontram-se ameaçadas pela exploração das jazidas de gás ao longo da costa, e pela proximidade da metrópole de Bombaim, hoje com uma população de mais de onze milhões de habitantes. Após o portão de armas abre-se um pequeno pátio de onde as ruinas do antigo forte podem ser contempladas. No seu interior destacam-se três capelas, onde se reconhece a arquitectura portuguesa do século XVII. A capela mais ao sul encontra-se mais bem conservada, ainda com o seu tecto abobadado. Decorado com pedras esculpidas, alguns dos seus arcos ainda revelam a sua antiga riqueza.

Fortaleza de Ormuz



O forte português em Ormuz, localizado na ilha do Golfo Pérsico de Ormuz. No seu apogeu, Ormuz foi um dos mais importantes portos do Oriente Médio, controlando rotas comerciais entre a Índia e a África Oriental. Antes de ficar sob o controle Português no início dos anos 1500, Ormuz foi uma cidade-estado que floresceu como reino independente. Sua localização privilegiada ao longo de rotas comerciais fez dela, uma das cidades mais ricas do mundo. Os Portugueses controlaram a cidade e seu porto de 1515 até 1622, quando foram expulsos da região pelos Persas.


sexta-feira, março 28, 2014

Fortes e Fortalezas de Costa - Indico - Africa Oriental I


Fortes e Fortalezas na Africa Oriental


Forte de São Tiago Maior do Tete

O Forte de São Tiago Maior do Tete, também denominado Fortaleza do Tete, localiza-se na margem direita do rio Zambeze, na cidade de Tete, capital da província do Tete, em Moçambique. Embora a ocupação da primitiva povoação Swahili do Tete por forças portuguesas remonte a 1530, local onde ocorria uma dinâmica feira regional do Reino Monomotapa, a povoação somente foi elevada à categoria de vila e sede de concelho em 1763. A primitiva fortificação do Tete remonta aos anos de 1575-1576, período em que os Portugueses efectivamente consolidaram a sua presença na região. Entretanto, a fortificação foi reconstruida por determinação do Capitão-general Caetano de Melo e Castro (1682-1686).

Forte Jesus de Mombaça



O Forte Jesus de Mombaça, também referido como Fortaleza de Jesus de Mombaça, localiza-se na cidade de Mombaça, no atual Quénia. Ergue-se no topo de uma formação de coral, sobranceira à entrada do antigo porto de Mombaça, e tinha a função de defesa daquela escala das rotas comerciais portuguesas entre o Estado da Índia e os seus interesses na África Oriental, na passagem do século XVI para o XVII. Nesta povoação Swahili, em um dos melhores portos de águas profundas da costa oriental africana, em posição estratégica frente ao subcontinente indiano, constitui-se um importante entreposto comercial islâmico, que mantinha significativas relações com Cambaia e Sofala.


Ao contrário de Melinde, Mombaça hostilizou a presença da frota de Vasco da Gama em 1498, vindo a ser atacada em 1505, em represália, por Dom Francisco de Almeida, primeiro Vice-rei do Estado Português da Índia. Nos anos seguintes, por diversas ocasiões foi alvo de ataques portugueses, o último dos quais, conduzido por Dom Nuno da Cunha, em 1528. Este, a caminho de Goa onde viria a tomar posse como Governador-geral do Oriente, decidiu pela destruição da cidade, arrasada na ocasião. No contexto da Dinastia Filipina, diante de alterações nas condições que mantinham a principal base de operações portuguesa na feitoria de Melinde, foi decidida a transferência das suas operações para Mombaça, com a ocupação definitiva desta cidade em 1585.


Diante dos ataques, dos turcos Otomanos, em 1585, e em 1588, para guarnecer este porto estratégico, foi projectada pelo arquitecto militar milanês Giovanni Battista Cairati, arquitecto mor de Portugal no Oriente sob o reinado de Filipe I de Portugal (1580-1598), uma fortificação compacta e poderosa, a Fortaleza de Jesus de Mombaça. As obras foram iniciadas pelo seu primeiro capitão, Mateus Mendes de Vasconcelos, a partir de 11 de abril de 1593 e estavam concluídas em 1596. Após a partida de Mendes de Vasconcelos, as relações entre os Portugueses e o sultão de Mombaça começaram a deteriorar-se. Foi nesse contexto que, em 1626, Muhammad Yusif, educado em Goa onde recebera o batismo cristão e o nome de Dom Jerónimo Chingulia, foi feito sultão. No poder, a 16 de agosto de 1631, as suas forças penetraram de surpresa na fortaleza, matando o seu capitão, Pedro Leitão de Gamboa, e massacrando toda a população portuguesa de Mombaça: 45 homens, 35 mulheres e 70 crianças.


Tão logo a notícia chegou à Índia, uma expedição portuguesa foi organizada em Goa e enviada para a retomada de Mombaça. Entretanto, após um cerco que se estendeu por dois meses, de 10 de Janeiro de 1632 a 19 de Março de 1632, a empreitada foi abandonada. Em 16 de maio o sultão abandonou a posição em Mombaça e tornou-se um pirata. Finalmente, em 5 de agosto de 1632 a pequena força portuguesa sob o comando do capitão Pedro Rodrigues Botelho, que havia permanecido em Zanzibar, reocupou a fortaleza. Obras de ampliação e reforço da fortificação tiveram lugar em 1639.Em Fevereiro de 1661 o sultão de Omã saqueou a parte Portuguesa da cidade de Mombaça, mas não dirigiu nenhum ataque à fortaleza.


Em 1696 uma grande expedição islâmica de Omã atingiu Mombaça, impondo cerco à fortaleza a partir do dia 13 de março. A sua guarnição constituía-se então por de 50 a 70 soldados Portugueses e algumas centenas de nativos leais. A fortaleza recebeu auxílio, em Dezembro desse ano, de uma expedição Portuguesa enviada para esse fim, mas nos meses seguintes, uma epidemia matou todos os Portugueses da guarnição e, a 16 de Junho de 1697 a defesa da praça encontrava-se nas mãos do xeque Daud de Faza, com 17 de seus familiares, 8 Africanos e 50 Africanas. Em 15 de Setembro de 1697 uma embarcação Portuguesa chegou com alguns reforços e, no final de Dezembro do mesmo ano, outra chegou de Goa também com alguns soldados. Na manhã de 13 de Dezembro de 1698, após dois anos e nove meses de assédio, as forças de Omã fizeram um ataque decisivo, logrando finalmente tomar o forte, cuja guarnição estava reduzida ao Capitão, nove homens e um religioso, frei Manoel de Jesus. Sete dias mais tarde, uma frota com reforços Portugueses chegava a Mombaça, mas era tarde demais, com a conquista do Forte Jesus, toda a costa dos atuais Quénia e Tanzânia, juntamente com Zanzibar e Pemba, caiu em mãos das forças islâmicas de Omã.


Graças a uma revolta das tropas africanas contra os governantes de Omã, o sultão de Pate, a quem o forte foi oferecido, entregou-o aos Portugueses em 16 de Março de 1728. No ano seguinte (1729), uma revolta dos habitantes de Mombaça contra os Portugueses conduziu a um novo cerco ao forte no mês de abril, forçando a rendição da guarnição em 26 de Novembro desse mesmo ano. A partir de então a fortificação mudaria de mãos ao sabor das forças dominantes na região. Assim, entre 1741 e 1837 Mombaça constitui-se numa cidade-estado independente.


A sua planta apresenta o formato de um quadrilátero, com baluartes nos vértices - os dois pelo lado de terra triangulares, em forma de espigão, e os dois voltados para o mar, em triângulo obtuso (respectivamente sob a invocação de São Filipe, Santo Alberto, São Matias e São Mateus). Próximo ao baluarte de São Matias rasga-se o portão de armas, encimado por uma lápide com a inscrição:

"Reinando em Portugal Phellipe de Austria o primeiro (…) por seu mandado (…) fortaleza de nome Jesus de Mombaca aomze dabril de 1593 (…) Visso Rei da India Mathias Dalboquerque (…) Matheus Mendes de Vasconcellos que pasou com armada e este porto, (…) arquitecto mor da India João Bautista Cairato servindo de mestre das obras Gaspar Rodrigues."

A planta do Forte Jesus, repete-se no Forte, dos Reis Magos, em Natal, na costa nordeste do Brasil, iniciado em 1598 pelo jesuíta Gaspar de Samperes, que fora "mestre nas traças de engenharia na Espanha e Flandres" e discípulo do italiano Giovanni Battista Antonelli, uma coincidência decerto explicável pelo uso das mesmas fontes.

- 11 de Abril de 1593 a 15 de Agosto de 1631 - Ocupação portuguesa

- 15 de Agosto de 1631 a 16 de Maio de 1632 - Conquista pelo sultão de Mombaça

- 16 de Maio de 1632 a 5 de Agosto de 1632 - Abandono

- 05 de Agosto de 1632 a 13 de Dezembro de 1698 - Reocupação portuguesa

- 13 de Dezembro de 1698 a Março de 1728 - Ocupação por Omã

- 16 de Março de 1728 a 26 de Novembro de 1729 - Reocupação portuguesa

- Novembro de 1729 a 1741 - Ocupação por Omã

- 1741 a 1747 - Governador de Mombaça

- 1747 a Omã

- 1747 a 1828 - Governo de Mombaça (protectorado Inglês de 1824 a 1826)


O Forte de Quiloa


As ruínas de Kilwa Kisiwani e de Songo Mnara localizam-se nas duas pequenas ilhas de mesmo nome, à entrada de uma baía a sul de Dar-es-Salam, na costa sueste da atual Tanzânia. Ambas representam os vestígios de dois grandes portos comerciais onde, entre os séculos IX e XVI, se trocou o ouro e ferro do Zimbabwe, escravos e marfim de toda a África Oriental, por tecidos, porcelana, jóias e especiarias da Ásia. As ilhas de Kilwa Kisiwani (Quíloa, na História de Portugal) e de Songo Mnara parecem ter sido ocupadas no século IX, provavelmente por populações Swahili. Nessa época, um chefe da ilha de Kilwa Kisiwani vendeu-a a um mercador árabe chamado Ali bin Al-Hasan, fundador da Dinastia Shiraz. Entre os séculos XI e XV, os seus descendentes nelas estabeleceram o mais poderoso centro comercial da África Oriental. No século XIII, os seus chefes dominavam todos os centros comerciais da costa africana, desde a ilha de Pemba, a norte, até Sofala, no sul.

O mundo ocidental ficou a conhecer Kilwa através dos escritos do geógrafo marroquino Ibn Batuta, que a visitou em 1331. Ele ficou extasiado pela "beleza da grande cidade, com edifícios construídos de pedra de coral, normalmente com um único piso e pequenos compartimentos separados por maciças paredes e com telhados formados de placas da mesma pedra, suportados pelas paredes e por estacas de mangal." Mas também encontrou "estruturas formidáveis de vários pisos e algumas belamente ornamentadas com pedra esculpida nas entradas, tapeçarias e nichos cobrindo as paredes e o chão com carpetes... Claro que estas eram as casas dos ricos, porque os pobres viviam em casas de palha, vestiam-se apenas com um pano sobre as ancas e comiam apenas papas de milho..."

Em 1500, a caminho da Índia, o português Pedro Álvares Cabral também visitou Kilwa e referiu-se às belas casas de coral e seus terraços, pertencentes a ‘mouros negros’, o que atraiu a atenção dos portugueses. Com a presença destes na região, a fortuna de Kilwa mudou radicalmente: Vasco da Gama invadiu a ilha em 1502 tornando-a tributária de Portugal. Como o sultão cessasse de pagar o seu tributo, em 24 de Julho de 1505, as forças de Dom Francisco de Almeida, primeiro Vice-rei do Estado Português da Índia, conquistaram-na e iniciaram a construção da primeira fortificação portuguesa de pedra e cal na África Oriental. A construção do forte português em Quíloa, iniciou-se no dia subsequente, à conquista (25 de Julho de 1505), tendo as obras ficado a cargo do mestre de pedraria Tomás Fernandes. Tinha como função proporcionar abrigo aos passageiros das naus da Carreira da Índia que demandavam aquele porto e, acessoriamente, a de defesa contra eventuais inimigos. Embora tenha sido a primeira fortificação de vulto a ser erguida na costa oriental africana, teve curta existência. De manutenção dispendiosa, gerando recursos insuficientes para a aquisição de especiarias no Oriente pela Coroa portuguesa, foi abandonada em 1512, concentrando-se as suas funções na Torre Velha de Moçambique.


Dom Francisco de Almeida, em carta a Manuel I de Portugal descreve a fortificação então construída como:

"huuma fortaleza que se podesse ser compraria por anos de minha vida, vee la Vossa alteza porque he tam forte que se esperara nela el rei de França e tem apousemtamento de muito boas casas pera duas tamta gente e desenbarquon os batees as pipas por huuma esquada de seis degraaos demtro no baluarte que he o mais forte da casa."

É ainda descrita, por outras fontes:

" (...) que havia de ter a fortaleza em quadra, que per quadra tinha sessenta braças, e em hum canto pera a banda da cidade huma torre quadrada, sobradada com o andar do muro (...) toda a obra em roda se fazia com outra torre quadrada per a banda da baya, em que a terra fazia uma ponta, e na torre a porta pera o mar, e nas casas dentro mandou alevantar a torre de menagem, de dous sobrados fortes, com janelas pera todas as partes, de que podia jogar artilharia."

Em Setembro de 1506, um grupo de pedreiros portugueses e quatro pedreiros ‘mouros’ "acabaram de cerrar hos muros de dentro e a torre de sobola porta do baluarte, encontrando-se a fortaleza equipada, em Fevereiro de 1507, com 73 armas de fogo", quantidade expressiva à época. No início da década de 1960, o arqueólogo britânico Neville Chittick conduziu uma campanha de prospecção arqueológica de um forte de menores dimensões, identificado como de origem portuguesa (conhecido como 'Gereza'), reconhecendo-lhe características da arquitectura militar árabe e periodizando-o do século XIX o que, modernamente é questionado, sendo proposta uma datação alternativa do século XVIII. Esta estrutura apresenta planta na forma de um quadrado com 20 metros de lado, e duas torres nos vértices, opostos, de bases maciças e sem aberturas, para o tiro senão nos pisos superiores. Em 1512, a ilha foi ocupada por uma força árabe e voltou a ser uma cidade-estado Swahili até 1784, quando se tornou num protectorado do Omã e voltou a perder o seu poderio. Em 1843, a cidade vizinha de Kilwa Kivinje, a cerca de 20 km a norte, na costa, passou a ser utilizada como porto e Kilwa Kisiwani foi abandonada e os seus edifícios tornaram-se ruínas.

Sofala


Sofala foi uma feitoria, fortaleza e povoação construída pelos portugueses na costa da actual província de Sofala em Moçambique. Em 1505 a coroa portuguesa, numa mudança da política pacifista, e decidida a impor no Índico o monopólio do comércio, envia de Lisboa a poderosa frota de Pêro de Anaia destinada a construir aí uma feitoria.

Fortaleza de São Sebastião



A Fortaleza de São Sebastião da Ilha de Moçambique localiza-se na ilha de Moçambique e cidade de mesmo nome, na província de Nampula, em Moçambique. A ilha, com apenas 2,5 quilómetros de comprimento por cerca de 1 quilómetro de largura, localiza-se a cerca de 5 quilómetros na costa norte do país, entre o canal de Moçambique e a baía de Mossuril. A cidade de Ilha de Moçambique foi a capital da África Oriental Portuguesa entre os anos de 1570 e 1898 (quando se deslocou para Lourenço Marques, actual Maputo), tendo-se constituído num importante centro missionário.



A fortaleza foi erguida no século XVI pelas forças portuguesas com fim de dar protecção e apoio às naus em trânsito de e para o Oriente, a chamada Carreira da Índia. Considerada como o mais representativo exemplo da arquitectura militar portuguesa na costa da África oriental, atendeu, complementarmente, ao tráfego marítimo regional para Quelimane, Sofala, Inhambane e Lourenço Marques. À época da chegada de Vasco da Gama (1498), a ilha de Moçambique constituía-se em uma povoação Swahili governada por um xeque, subordinado ao sultão de Zanzibar. Constituía-se então no maior porto islâmico e no maior centro de construção naval do leste africano, relacionando-se com o Mar Vermelho, a Pérsia, a Índia e as ilhas do Índico. Após a fundação de uma feitoria Portuguesa em Sofala desde 1505, aqui também foi estabelecida uma feitoria desde 1507, em busca do ouro do Monomotapa e para dar apoio às armadas da Índia que aqui faziam a invernada, "com casas pera recolhimento da gente". Nestas feitorias eram permutados panos e missangas da Índia pelo ouro, escravos, marfim e pau-preto oferecidos naquele trecho da costa africana. Para a sua defesa, por determinação de Vasco Gomes de Abreu, capitão de Sofala (e por extensão, então governador de Moçambique, subordinado a Dom Francisco de Almeida, primeiro Vice-rei do Estado Português da Índia), o feitor, Duarte de Melo, iniciou em 1508 a Torre de São Gabriel, mais comumente referida como Torre de Moçambique. Foi concluída durante uma única invernada, graças à mão-de-obra abundante e ociosa da gente da armada, sem que obedecesse a qualquer plano prévio. Constituía-se em uma torre de torre quadrada, em estilo manuelino, dividida internamente em três pavimentos, defendida por uma muralha circundante, com torres menores nos vértices. Foi artilhada e guarnecida por quinze homens. A torre cumpriu plenamente a sua finalidade até que, em 1538, a aliança entre o sultão do Guzerate e os Turcos para a recuperação da Praça-forte de Diu, já então na posse dos portugueses, fez temer pela segurança das posições portuguesas no Índico Ocidental. Ainda assim, apenas duas décadas mais tarde, em 1558 a primitiva torre foi substituída por uma fortificação de maiores dimensões e de traça mais moderna, a Fortaleza de São Sebastião, em novo local. A agora denominada Torre Velha foi parcialmente desmantelada pelos Neerlandeses durante os cercos do início do século XVII. Os religiosos da Companhia de Jesus haviam obtido o terreno onde a torre se erguia, com a condição de completarem a demolição da estrutura e de não erguerem construções que pudessem ser usadas como padrasto à nova fortaleza por parte de futuros atacantes. Porém, ignorando as ordens régias, a fortíssima estrutura da Torre Velha foi reaproveitada como alicerce da capela do Colégio de São Paulo, atual Palácio dos Capitães-Generais, nela vindo a estabelecer-se uma bateria Neerlandesa que causou pesados danos às muralhas da Fortaleza de São Sebastião durante os ataques de 1607 e 1608. Ainda no século XVI, com o objectivo de defender a parte norte da ilha de Moçambique, foi erguido um pequeno baluarte artilhado, onde mais tarde seria erguida a Capela de Nossa Senhora do Baluarte (1522), templo este que é considerado a mais antiga edificação europeia na costa oriental africana.



Por volta de 1538, o sultão do Guzerate, celebrou um acordo, com o 'Sublime Porta' (sultão do Império Otomano) visando reconquistar Diu, então em mãos dos Portugueses. Esta aliança rompia o equilíbrio de forças existente na região, trazendo insegurança às posições Portuguesas no Índico Ocidental, entre as quais Moçambique já desempenhava um papel estratégico. As galeras turcas, artilhadas, passaram a aventurar-se até Melinde apoiando a revolta das cidades Swahili contra a tutela Portuguesa, entre as quais a de Mombaça, aumentando o clima de insegurança naquele litoral. A primitiva Torre de São Gabriel, nesse contexto, tornava-se vulnerável a um ataque com artilharia dos turcos. Por essa razão, o Capitão-mor da costa de Melinde, João de Sepúlveda, fez a recomendação, à época, da construção de uma nova e mais poderosa fortaleza na Ilha de Moçambique capaz de preservar esta escala estratégica da ameaça turca.


O quarto Vice-rei do Estado Português da Índia, Dom João de Castro, em carta ao rei Dom João III (1521-1557), datada de Agosto de 1545, ao partir da ilha em direcção a Goa, onde ia assumir as suas funções, sobre o assunto referiu:

" (…) desta fortaleza [de São Gabriel] não deue V. A. de fazer nenhum fumdamento que se pode guardar como aguara esta, nem pêra a mamdar forteficar, asy por ser muyto pequena como por estar no majs roym sytyo de toda a Ilha, e a despesa que se nela fizer per estes dous respeitos será botada a lomje, porque he em sy tam pequena que com mais verdade se poderá chamar bastião ou baluarte que castelo e fortaleza."

Na mesma carta ao soberano, Dom João de Castro preconizava uma nova fortaleza capaz de enfrentar a ameaça da então moderna artilharia turca, juntando um projecto de sua autoria, elaborado na ocasião. No ano seguinte, por carta de 8 de Março de 1546, o soberano respondia-lhe, agradecendo as informações e "o debuxo (…) da fortaleza de Moçambique", e informando-o de que encarregara o arquitecto Miguel de Arruda de a desenhar. As directrizes apontadas por Dom João de Castro para a sua construção condizem, em linhas gerais, com a actual Fortaleza de São Sebastião, em uma extremidade da ilha, dominando o canal de acesso ao porto interior, com dois baluartes sobre a praia pelo lado virado à ilha permitindo o fogo cruzado. Aparentemente Miguel de Arruda limitou-se a fixar o projecto que Dom João de Castro remetera ao soberano. Ainda de acordo com este plano, o canal de Sancul deveria ser obstruído, o que nunca ocorreu. Francisco Pires, mestre de pedraria encarregado das obras da Fortaleza de Diu, levou consigo para a Índia, naquele ano de 1546, este risco para a nova fortificação de Moçambique.



Apesar da prioridade que a Coroa deu ao projecto, o Estado Português da Índia estava envolvido, entre outros, com o reforço do sistema defensivo de Ormuz, pelo que as obras da Fortaleza de São Sebastião apenas começaram em 1554 ou 1555. De acordo com Frei João dos Santos, o traçado da Fortaleza de Moçambique é da autoria de um sobrinho do arcebispo de Braga, Dom Frei Bartolomeu dos Mártires, "o qual arquitecto sendo mancebo se foi a Flandres, donde tornou grande oficial de arquitectura". Este arquitecto teria sido enviado em 1558 à Índia com a tarefa de erguer fortalezas em Moçambique e Damão. Possivelmente limitou-se a dar início à execução do projecto de Miguel de Arruda, que por sua vez obedecia aos ditames de Dom João de Castro. É fato que as obras avançaram muito lentamente, encontrando-se interrompidas em várias ocasiões: à escassez de mão-de-obra qualificada somava-se a dificuldade do clima que dizimava os pedreiros, oriundos em sua maior parte das praças portuguesas da Índia. A mão-de-obra não-qualificada era composta por escravos dos moradores da fortaleza, sem os quais teria sido impossível concluir a obra. A praça foi guarnecida, ainda incompleta, em 1583, por um destacamento sob o comando de Nuno Velho Pereira, responsável pela construção dos armazéns e quartéis, conforme uma inscrição epigráfica encontrada sob várias camadas de cal, nos trabalhos de recuperação que tiveram lugar na década de 1960. O seu comandante, embora subordinado ao Vice-rei da Índia, era o responsável pelo comércio da região do Zambeze. No contexto da Dinastia Filipina, a fortaleza suportou vitoriosos os assaltos neerlandeses em 1604, 1607 e 1608, embora com severos danos às suas muralhas e edifícios, causados pelo intenso fogo da artilharia inimiga. Obras de conservação e reparos foram concluídos em 1620, tendo sofrido ligeiras alterações de traçado, conforme gravura neerlandesa de 1635. A primitiva entrada, rasgada no troço da muralha entre os baluartes de São Gabriel e de Santa Bárbara, voltada para o interior da ilha, que se revelou vulnerável ao fogo da artilharia neerlandesa, foi entaipada e transferida, em algum momento nessa altura, para o troço da muralha entre os baluartes de São Gabriel e de São João. Essa primitiva Porta de Armas foi posta a descoberto em 1945, durante trabalhos realizados pela Comissão dos Monumentos. Ainda no século XVII resistiu ao assalto por forças muçulmanas de Mascate em 1669 e novamente em 1704, após a perda do Forte Jesus de Mombaça (1698). Em algum momento no século XVIII, foram-lhe procedidas novas obras de reparo e ampliação, que lhe conferiram o seu actual aspecto e dimensões. O último ataque à fortaleza foi conduzido por tropas francesas, durante as guerras que se seguiram à Revolução Francesa (1793-1797), ao qual também resistiu, invicta. À semelhança da Praça-forte de Mazagão, a Fortaleza de São Sebastião apresenta planta no formato rectangular com a extensão de cento e dez metros pelos lados maiores, com quatro baluartes nos vértices, três de formato triangular e um em forma de espigão, sob a invocação de São João, de Nossa Senhora, de São Gabriel e de Santa Bárbara. Deles, a traça do de São Gabriel, o de maiores dimensões, com vinte e quatro canhoneiras, foi consideravelmente alterada, tendo sido demolidos dois dos espigões que davam à fortaleza o aspecto de um polígono estrelado, que se observa em gravuras Neerlandesas do início do século XVII, nomeadamente em 1635.



As suas muralhas assentam na rocha, defrontando-se com o mar pelas faces Norte, Leste e Oeste. Apenas a face Sul, voltada para o lado de terra, permite um assalto. Em seu auge, a fortaleza disponibilizava quartéis para tropas, capela, hospital e armazéns. As habitações dos oficiais eram assobradadas, sendo o chão dos quartéis e dos armazéns coberto de colmo. No seu interior destaca-se a cisterna, com capacidade para cerca de duas mil pipas de água. Aberta na década de 1580, foi restaurada em 1605 pelo capitão Sebastião de Macedo e, posteriormente, em outras épocas.

Fortaleza de Maputo


A Fortaleza de Maputo apresenta planta quadrangular, erguida em alvenaria de pedra avermelhada. Possui apenas um portão de acesso que se abre para um pátio central, também de planta quadrangular, para o qual se abrem, por sua vez, as várias salas que compõem a edificação. Neste pátio ergue-se atualmente a estátua equestre de Mouzinho de Albuquerque que, antes da Independência de Moçambique, se encontrava em frente à Câmara Municipal de Lourenço Marques. A primitiva estrutura no local foi uma feitoria fortificada erguida a cerca de um quarto de milha da foz do rio Espírito Santo, por Neerlandeses oriundos da Cidade do Cabo. A expedição era integrada por 113 homens, sob o comando de Klaas Nieuhof, em dois navios, o ‘Gouda’ e o ‘Caap’. Tendo partido do Cabo a 19 de fevereiro de 1721, alcançaram a baía de Maputo no início de abril. Obtida a autorização do chefe local, iniciaram um forte de madeira, de planta pentagonal: o Forte Lagoa. Com dificuldades de toda a ordem, em cerca de seis meses, cerca da metade dos europeus havia perecido vítima, principalmente, de malária. Mesmo diante da chegada de reforços, oriundos do Cabo pelos navios 'Zeelandia' e 'Uno', trazendo mais 72 homens e mantimentos, o panorama não se alterou.


Na manhã de 11 de abril de 1722, três navios piratas Ingleses sob o comando do Capitão George Taylor, que operava nas águas, do canal de Moçambique, entraram na baía de Maputo, perseguidos por quatro navios da Companhia Inglesa das Índias Orientais, o ‘Lion’, o ‘Salisbury’, o ‘Exeter’ e o ‘Shoreham’. As embarcações piratas, eram o ‘Victory’, artilhado com 64 canhões, o ‘Cassandra’, com 36, e um barco Francês capturado ao largo da ilha de Santa Maria (actual Madagáscar). No total, possuíam um efectivo de 900 homens. A 18 de abril, decidiram capturar a feitoria Neerlandesa, que passaram a bombardear, capturando um bote e o navio ‘De Caap’, até que, às 5 horas da tarde, no forte foi içada a bandeira branca da rendição. Tendo conhecimento de que Van de Capelle, o segundo em comando, se evadira para o interior com dezoito homens, os Ingleses exigiram o seu imediato regresso, sob pena de arrasarem o estabelecimento. Sem que os Neerlandeses regressassem, o forte e feitoria foram destruídos pelos ingleses, que se retiraram dois meses mais tarde, em fins de junho. Posteriormente, nova fortificação foi erguida no local, agora por forças Austríacas sob o comando de William Bolts (o Forte São José), em 1777, sendo dali desalojadas em março de 1781, por uma expedição portuguesa vinda de Goa sob o comando do Tenente-coronel Joaquim Godinho de Mira, a bordo da fragata ‘Sant'Anna’. No relatório que este oficial encaminhou para o Governador do Estado Português da Índia, Dom Frederico Guilherme de Sousa, informa:

"(…) em 30 do mesmo [março] entrei no rio do Espírito Santo, tendo com muito trabalho de sonda passado felizmente por entre os muitos baixos de que a Bahia de Lourenço Marques é cheia. Dentro daquele rio estavam ancoradas três embarcações de gávea: uma com bandeira Portuguesa e passaporte passado pelo governador de Damão, José de Oliveira Leitão, outra com bandeira Inglesa, cujos proprietários da primeira são de Surrate, e Bombaim os da segunda, finalmente a terceira embarcação que era uma pala de mastro e meio, tinha bandeira Imperial, pertencente à Companhia de Trieste; entre esta e uma bateria de treze peças que estava em terra com a mesma bandeira Imperial, fui ancorar. Apenas surto dispus a minha tropa para executar as determinações de V. Exa. participadas na minha Instrução, e mandando parte dela com os seus competentes oficiais tomar posse da pala Imperial que estava ancorada, prevenida para qualquer resistência que se lhe fizesse, e com ordem de não fazer a menor hostilidade, isto mesmo foi executado, e a pala entrada sem a menor resistência, nem ofensa; deixei ficar a seu bordo para a comandar o capitão-tenente Francisco Lobo da Gama com uma competente guarnição, e eu com alguma tropa me encaminhei para a bateria de terra (o campo entrincheirado de S. José), que entrei sem resistência, mandei logo arriar a bandeira Imperial, e no dia seguinte 1 de abril pela manhã içar a bandeira portuguesa salvando-a com vinte e um tiros de peça; a esta salva respondeu a fragata com o mesmo número; imediatamente, mandei tocar a faxina, desmontar e conduzir a artilharia para bordo da fragata, demolir a bateria, mandando logo os dois tenentes do mar Cândido José Mourão Garcez Palha e Christovão da Costa Athaide, a bordo das outras duas embarcações que ali se achavam."

Desfeita, a posição austríaca, o local passou, a ser ocupado, por um presídio (estabelecimento de colonização militar) português, sob o comando de Joaquim de Araújo, que iniciou nova fortificação destinada à protecção da feitoria de Lourenço Marques, fundada no ano seguinte (1782). Este estabelecimento, na margem esquerda do rio Espírito Santo, na atual Baixa de Maputo, foi erguido em faxina (galhos de madeira enfeixados) e terra, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição ("Forte de Nossa Senhora da Conceição de Lourenço Marques"). Em poucos anos começaram a ser edificadas, vizinhas ao forte, as primeiras casas de pedra-e-cal, entre as quais a famosa Casa Amarela, que alberga atualmente o Museu Nacional da Moeda.


O forte foi reconstruído posteriormente pelo Capitão António José Teixeira Tigre, conforme se depreende da inscrição epigráfica no local, que reza:

"O CAPam DE GRANADros AN / Tº jOZE TEIXra TIGRE CO / MANDANDO ESTAS ILHAS / FEZ ESTA FORTALEZA / NO ANNO DE 1791."

Esta fortificação, de planta quadrangular rodeada por um fosso, teve duração efémera, vindo a ser arrasada, no contexto das lutas que se seguiram à Revolução Francesa, por três embarcações artilhadas de corsários Franceses, em 26 de Outubro de 1796. Defendido por alguns poucos homens sob o comando do Governador João da Costa Soares, o pequeno forte foi conquistado, saqueado e incendiado. Para recuperar a posição destruída, foi remetido da Fortaleza de São Sebastião um pequeno destacamento sob o comando do Tenente-ajudante Luís José, a bordo da pala 'Minerva'.



Tendo chegado a Lourenço Marques a 7 de Junho de 1799, instalaram-se "na terra do Capella, defronte do antigo presídio, por o régulo da Matola não ter querido atendê-lo imediatamente". Ali se mantiveram até cerca de 1805, quando com relativa segurança puderam "passar para o outro lado, que havia sido ocupado anteriormente pelos Holandeses e pelos Austríacos". Aqui ergueu então uma "pequena habitação fortificada para quartel de tropa e feitoria, onde se arvorasse a bandeira portuguesa, como sinal de posse do terreno, e sem intenção de fazer resistência a qualquer inimigo". O Governador e Capitão-general de Moçambique, justificou a exiguidade desse estabelecimento "por falta de recursos da província".

Fortaleza de São Sebastião


A Fortaleza de São Sebastião da Ilha de Moçambique, localiza-se, na ilha de Moçambique e cidade de mesmo nome, na província de Nampula, em Moçambique. A ilha, com apenas 2,5 quilómetros de comprimento por cerca de 1 quilómetro de largura, localiza-se a cerca de 5 quilómetros na costa norte do país, entre o canal de Moçambique e a baía de Mossuril. A cidade de Ilha de Moçambique foi a capital da África Oriental Portuguesa entre os anos de 1570 e 1898 (quando se deslocou para Lourenço Marques, actual Maputo), tendo-se constituído num importante centro missionário. A fortaleza foi erguida no século XVI pelas forças portuguesas com fim de dar protecção e apoio às naus em trânsito de e para o Oriente, a chamada Carreira da Índia. Considerada como o mais representativo exemplo da arquitectura militar portuguesa na costa da África oriental, atendeu, complementarmente, ao tráfego marítimo regional para Quelimane, Sofala, Inhambane e Lourenço Marques. Por volta de 1538, o sultão do Guzerate celebrou um acordo com a Sublime Porta visando reconquistar Diu, então em mãos dos Portugueses. Esta aliança rompia o equilíbrio de forças existente na região, trazendo insegurança às posições Portuguesas no Índico Ocidental, entre as quais Moçambique já desempenhava um papel estratégico. As galeras turcas, artilhadas, passaram a aventurar-se até Melinde apoiando a revolta das cidades Swahili contra a tutela Portuguesa, entre as quais a de Mombaça, aumentando o clima de insegurança naquele litoral. A primitiva Torre de São Gabriel, nesse contexto, tornava-se vulnerável a um ataque com artilharia dos turcos. Por essa razão, o Capitão-mor da costa de Melinde, João de Sepúlveda, fez a recomendação, à época, da construção de uma nova e mais poderosa fortaleza na Ilha de Moçambique capaz de preservar esta escala estratégica da ameaça turca. O quarto Vice-rei do Estado Português da Índia, Dom João de Castro, em carta ao rei Dom João III (1521-1557), datada de Agosto de 1545, ao partir da ilha em direcção a Goa, onde ia assumir as suas funções, sobre o assunto referiu:

" (…) desta fortaleza [de São Gabriel] não deue V. A. de fazer nenhum fumdamento que se pode guardar como aguara esta, nem pêra a mamdar forteficar, asy por ser muyto pequena como por estar no majs roym sytyo de toda a Ilha, e a despesa que se nela fizer per estes dous respeitos será botada a lomje, porque he em sy tam pequena que com mais verdade se poderá chamar bastião ou baluarte que castelo e fortaleza." (Dom João de Castro. Obras completas.)

Na mesma carta ao soberano, Dom João de Castro preconizava uma nova fortaleza capaz de enfrentar a ameaça da então moderna artilharia turca, juntando um projecto de sua autoria, elaborado na ocasião. No ano seguinte, por carta de 8 de Março de 1546, o soberano respondia-lhe, agradecendo as informações e "o debuxo (…) da fortaleza de Moçambique", e informando-o de que encarregara o arquitecto Miguel de Arruda de a desenhar. As directrizes apontadas por Dom João de Castro para a sua construção condizem, em linhas gerais, com a actual Fortaleza de São Sebastião, em uma extremidade da ilha, dominando o canal de acesso ao porto interior, com dois baluartes sobre a praia pelo lado virado à ilha permitindo o fogo cruzado. Aparentemente Miguel de Arruda limitou-se a fixar o projecto que Dom João de Castro remetera ao soberano. Ainda de acordo com este plano, o canal de Sancul deveria ser obstruído, o que nunca ocorreu. Francisco Pires, mestre de pedraria encarregado das obras da Fortaleza de Diu, levou consigo para a Índia, naquele ano de 1546, este risco para a nova fortificação de Moçambique.



Apesar da prioridade que a Coroa deu ao projecto, o Estado Português da Índia estava envolvido, entre outros, com o reforço do sistema defensivo de Ormuz, pelo que as obras da Fortaleza de São Sebastião apenas começaram em 1554 ou 1555. De acordo com Frei João dos Santos, o traçado da Fortaleza de Moçambique é da autoria de um sobrinho do arcebispo de Braga, Dom Frei Bartolomeu dos Mártires, "o qual arquitecto sendo mancebo se foi a Flandres, donde tornou grande oficial de arquitectura". Este arquitecto teria sido enviado em 1558 à Índia com a tarefa de erguer fortalezas em Moçambique e Damão. Possivelmente limitou-se a dar início à execução do projecto de Miguel de Arruda, que por sua vez obedecia aos ditames de Dom João de Castro. É fato que as obras avançaram muito lentamente, encontrando-se interrompidas em várias ocasiões: à escassez de mão-de-obra qualificada somava-se a dificuldade do clima que dizimava os pedreiros, oriundos em sua maior parte das praças portuguesas da Índia. A mão-de-obra não-qualificada era composta por escravos dos moradores da fortaleza, sem os quais teria sido impossível concluir a obra. A praça foi guarnecida, ainda incompleta, em 1583, por um destacamento sob o comando de Nuno Velho Pereira, responsável pela construção dos armazéns e quartéis, conforme uma inscrição epigráfica encontrada sob várias camadas de cal, nos trabalhos de recuperação que tiveram lugar na década de 1960. O seu comandante, embora subordinado ao Vice-rei da Índia, era o responsável pelo comércio da região do Zambeze. No contexto da Dinastia Filipina, a fortaleza suportou vitoriosos os assaltos neerlandeses em 1604, 1607 e 1608, embora com severos danos às suas muralhas e edifícios, causados pelo intenso fogo da artilharia inimiga. Obras de conservação e reparos foram concluídos em 1620, tendo sofrido ligeiras alterações de traçado, conforme gravura neerlandesa de 1635. A primitiva entrada, rasgada no troço da muralha entre os baluartes de São Gabriel e de Santa Bárbara, voltada para o interior da ilha, que se revelou vulnerável ao fogo da artilharia neerlandesa, foi entaipada e transferida, em algum momento nessa altura, para o troço da muralha entre os baluartes de São Gabriel e de São João. Essa primitiva Porta de Armas foi posta a descoberto em 1945, durante trabalhos realizados pela Comissão dos Monumentos. Ainda no século XVII resistiu ao assalto por forças muçulmanas de Mascate em 1669 e novamente em 1704, após a perda do Forte Jesus de Mombaça (1698). Em algum momento no século XVIII, foram-lhe procedidas novas obras de reparo e ampliação, que lhe conferiram o seu actual aspecto e dimensões. O último ataque à fortaleza foi conduzido por tropas francesas, durante as guerras que se seguiram à Revolução Francesa (1793-1797), ao qual também resistiu, invicta.

À semelhança da Praça-forte de Mazagão, a Fortaleza de São Sebastião apresenta planta no formato rectangular com a extensão de cento e dez metros pelos lados maiores, com quatro baluartes nos vértices, três de formato triangular e um em forma de espigão, sob a invocação de São João, de Nossa Senhora, de São Gabriel e de Santa Bárbara. Deles, a traça do de São Gabriel, o de maiores dimensões, com vinte e quatro canhoneiras, foi consideravelmente alterada, tendo sido demolidos dois dos espigões que davam à fortaleza o aspecto de um polígono estrelado, que se observa em gravuras Neerlandesas do início do século XVII, nomeadamente em 1635. As suas muralhas assentam na rocha, defrontando-se com o mar pelas faces Norte, Leste e Oeste. Apenas a face Sul, voltada para o lado de terra, permite um assalto.

Em seu auge, a fortaleza disponibilizava quartéis para tropas, capela, hospital e armazéns. As habitações dos oficiais eram assobradadas, sendo o chão dos quartéis e dos armazéns coberto de colmo. No seu interior destaca-se a cisterna, com capacidade para cerca de duas mil pipas de água. Aberta na década de 1580, foi restaurada em 1605 pelo capitão Sebastião de Macedo e, posteriormente, em outras épocas. Foi concluída durante uma única invernada, graças à mão-de-obra abundante e ociosa da gente da armada, sem que obedecesse a qualquer plano prévio. Constituía-se em uma torre de torre quadrada, em estilo manuelino, dividida internamente em três pavimentos, defendida por uma muralha circundante, com torres menores nos vértices. Foi artilhada e guarnecida por quinze homens. A torre cumpriu plenamente a sua finalidade até que, em 1538, a aliança entre o sultão do Guzerate e os Turcos para a recuperação da Praça-forte de Diu, já então na posse dos portugueses, fez temer pela segurança das posições portuguesas no Índico Ocidental. Ainda assim, apenas duas décadas mais tarde, em 1558 a primitiva torre foi substituída por uma fortificação de maiores dimensões e de traça mais moderna, a Fortaleza de São Sebastião, em novo local. A agora denominada Torre Velha foi parcialmente desmantelada pelos Neerlandeses durante os cercos do início do século XVII. Os religiosos da Companhia de Jesus haviam obtido o terreno onde a torre se erguia, com a condição de completarem a demolição da estrutura e de não erguerem construções que pudessem ser usadas como padrasto à nova fortaleza por parte de futuros atacantes. Porém, ignorando as ordens régias, a fortíssima estrutura da Torre Velha foi reaproveitada como alicerce da capela do Colégio de São Paulo, atual Palácio dos Capitães-Generais, nela vindo a estabelecer-se uma bateria Neerlandesa que causou pesados danos às muralhas da Fortaleza de São Sebastião durante os ataques de 1607 e 1608. Ainda no século XVI, com o objectivo de defender a parte norte da ilha de Moçambique, foi erguido um pequeno baluarte artilhado, onde mais tarde seria erguida a Capela de Nossa Senhora do Baluarte (1522), templo este que é considerado a mais antiga edificação europeia na costa oriental africana.

Ilha de Moçambique


A Ilha de Moçambique, é uma cidade insular, situada na província de Nampula, na região norte de Moçambique, que deu o nome ao país do qual foi a primeira capital. O seu nome, que muitos nativos dizem ser Muipiti, parece ser derivado de Mussa Ben-Bique, ou Mussa Bin-Bique, ou ainda Mussa Al-Mbique (Moisés filho de Mbique II), personagem sobre quem se sabe muito pouco. A Ilha tem cerca de 3 km de comprimento e 300-400 m de largura e está orientada no sentido nordeste-sudoeste à entrada da Baía de Mossuril, a uma latitude aproximada de 15º02’ S e longitude de 40º44’ E. A costa oriental da Ilha estabelece com as ilhas irmãs de Goa e de Sena (também conhecida por Ilha das Cobras) a Baía de Moçambique. Estas ilhas, assim como a costa próxima, são de origem coralina. Quando Vasco da Gama chegou, em 1498, a Ilha de Moçambique tornara-se uma povoação suaíli de árabes e negros com seu xeque, subordinado ao sultão de Zanzibar e continuava a ser frequentada por árabes que prosseguiam o seu comércio de séculos com o Mar Vermelho, a Pérsia, a Índia e as ilhas do Índico. A ilha de Moçambique ganhou uma importância estratégica como escala de navegação da carreira da Índia que ligava Lisboa a Goa, tornando-se um dos pontos de encontro das embarcações eventualmente desgarradas na viagem de ida, assim como porto de ancoragem das que eventualmente se atrasassem e perdessem a monção. Onde na Ilha é hoje o Palácio dos Capitães-Generais, fizeram os portugueses a Torre de São Gabriel no ano de 1507, data em que ocuparam a Ilha, construindo a pequena fortificação que tinha 15 homens a proteger a feitoria nela instalada. A Capela de Nossa Senhora do Baluarte, construída em 1522 na extremidade norte da ilha, a mais próxima da Ilha de Goa, é o único exemplar de arquitectura manuelina em Moçambique. Em 1558 principiou a construção da Fortaleza de S. Sebastião - totalmente com pedras que constituíam o balastro dos navios (algumas das quais ainda se vêem na praia próxima), que só terminou em 1620 e é a maior da África Austral.



Esta fortaleza era muito importante, porque a Ilha tinha-se tornado o entre posto da permuta de panos e missangas da Índia por ouro, escravos, marfim e pau-preto de África, e era da Ilha que partiam todas as viagens comerciais para Quelimane, Sofala, Inhambane e Lourenço Marques e os árabes não queriam perder os privilégios comerciais que tinham adquirido ao longo dos séculos. Para além dos portugueses outros concorrentes europeus apareceram na corrida pelo controlo das rotas comerciais. Os franceses conseguiram assumir o papel de intermediários do negócio da escravatura para as ilhas do Índico, os ingleses começavam a controlar as rotas de navegação nesta região e os holandeses tentaram a ocupação da Ilha em 1607-1608 e, não o conseguindo, devastaram-na pelo fogo. A reconstrução da vila foi difícil, uma vez que o governo colonial não existia senão para cobrar impostos e estava muito mais interessado nas terras de Sofala (na Zambézia tinham-se institucionalizado os Prazos da Coroa, e o desenvolvimento do comércio do ouro naquela região leva a que a Ilha perca a sua primazia). Então, os cristãos decidiram fundar na Ilha uma Santa Casa da Misericórdia que funcionaria como Câmara Municipal, para a defesa dos cidadãos e da terra, até 19 de Janeiro de 1763, ano em que a povoação passou a Vila. Esta viragem resultou da decisão do governo colonial em separar a colónia africana do Estado da Índia e criar uma Capitania Geral do Estado de Moçambique baseada na Ilha, a 19 de Abril de 1752. A vila voltou a prosperar e a 17 de Novembro de 1818 é elevada a cidade. A exportação de escravos era o principal comércio da ilha, tal como a do Ibo mas a Independência do Brasil em 1822, que era o principal destino deste comércio, voltou a deixar a ilha no marasmo.


À época da chegada de Vasco da Gama (1498), a ilha de Moçambique constituía-se em uma povoação Swahili governada por um xeque, subordinado ao sultão de Zanzibar. Constituía-se então no maior porto islâmico e no maior centro de construção naval do leste africano, relacionando-se com o Mar Vermelho, a Pérsia, a Índia e as ilhas do Índico. Após a fundação de uma feitoria Portuguesa em Sofala desde 1505, aqui também foi estabelecida uma feitoria desde 1507, em busca do ouro do Monomotapa e para dar apoio às armadas da Índia que aqui faziam a invernada, "com casas pera recolhimento da gente". Nestas feitorias eram permutados panos e missangas da Índia pelo ouro, escravos, marfim e pau-preto oferecidos naquele trecho da costa africana. Para a sua defesa, por determinação de Vasco Gomes de Abreu, capitão de Sofala (e por extensão, então governador de Moçambique, subordinado a D. Francisco de Almeida, primeiro Vice-rei do Estado Português da Índia), o feitor, Duarte de Melo, iniciou em 1508 a Torre de São Gabriel, mais comumente referida como Torre de Moçambique.