Costa do Norte
(Fins de 1748)
A 16 de Outubro de 1748, largaram de Goa com carga e passageiros para os portos do Norte a Nau de guerra "N. S. da Misericórdia", sob o comando de Roberto Homem de Magalhães e Castro, e a Fragata "N. S. da Atalaia", sob o comando de António de Brito Sanches. Embora o cronista não o refira expressamente, è de supor que levassem em sua companhia um certo número de Parangues de mercadores, o que, de resto não atrasaria a sua marcha. O comboio começou por escalar em Bombaim, onde se demorou quatro dias. Dali seguiu para Damão. Por esta altura estava em vigor um Tratado de Paz celebrado com o Angriá. Não obstante, a 18 de Novembro, entre Bombaim e Damão, o comboio foi atacado por uma esquadra daquele constituida por seis Palas e seis Galvetas, combate que se desenrolou nos moldes habituais. Os navios maratas colocaram-se a rè do comboio e começaram a bombardiá-lo intensamente na esperança de o conseguirem desorganizar para depois poderem atacar separadamente os navios que o compunham. Mas, mais uma vez, viram os seus intentos gorados. Uma das Palas, tendo-se aproximado demasiadamente da "N. S. da Misericórdia", foi atingida em cheio por uma bordada desta, ficando desarvorada e a meter água. Acorreram em seu auxilio duas outras Palas que a tomaram a reboque e a levaram para fora do campo de tiro da nossa Nau antes que esta tivesse tido tempo de voltar a carregar as suas peças. Cerca das quatro da tarde, após seis horas de violento canhoneio, os navios do Angriá bateram em retirada. Nesta acção os maratas tiveram cerca de oitenta mortos e feridos e ficaram com alguns dos seus navios bastante danificados. Da nossa parte as baixas e os danos sofridos foram minimos. Após a chegada a damão o comboio fraccionou-se. Um certo número de Parangues seguiram para Surrate e Diu escoltados pela "N. S. da Misericórdia", enquanto os restantes ficavam a descarregar em Damão sob a protecção da "N. S. da Atalaia", fundeada do lado de fora da barra. Provavelmente em princípios de Dezembro já a "N. S. da Misericórdia" estava de regresso a Damão. Como tinha a bordo passageiros e carga destinados às Naus de torna-viagem que era urgente fazer chegar a Goa, seguiu sozinha para esta cidade. A "N. S. da Atalaia" continuou em Damão aguardando que um Patacho destinado a Moçambique e os Parangues acabassem de carregar. Em meados de Dezembro, encontrando-se aqueles prontos, fez-se de novo ao mar, rumo ao Sul. Um pouco antes de chegar a Bombaim o comboio foi novamente interceptado por uma esquadra do Angriá de cinco Palas e doze Galvetas com a qual a "N. S. da Atalaia" travou um segundo combate ainda mais encarniçado que o primeiro. Inesperadamente, após algumas horas de vivo duelo de artilharia em que os navios maratas foram duramente atingidos, o seu comandante pôs termo á luta e enviou uma Galveta com bandeira branca apresentar desculpas a Brito Sanches com a explicação de que o tinha atacado por supor que era Inglês! Aliás era esta a desculpa usualmente utilizada pelos Capitães do Angriá quando atacavam navios nossos em períodos de paz. É possivel que utilizassem o mesmo processo com os Ingleses dizendo-lhes que os tinham confundido com navios portugueses! É claro que todos navios, tanto mercantes com de guerra, içavam prontamente a bandeira do seu país quando avistavam outro navio. Mas com ventos fracos, como os que predominavam na costa ocidental da Índia fora do período da «monção», as bandeiras ficavam pendentes e eram dificeis de distinguir. Outra desculpa a que os Capitães maratas podiam recorrer. Quando conseguiam capturar algum navio de uma nação com quem estivessem em paz justificavam-se dizendo que transportava qualquer coisa que se destinava a uma nação ou potentado com quem estivessem em guerra. A única forma de obrigar os Capitães do Angriá a respeitar os Tratados era fazendo navegar os navios mercantes em comboios fortemente escoltados.
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