Brasil
A
História do Brasil compreende, tradicionalmente, o período desde a chegada dos
portugueses até os dias actuais, embora o seu território seja habitado
continuamente desde tempos pré-históricos por povos indígenas. Após a chegada
de Pedro Álvares Cabral, capitão-mor de expedição portuguesa a caminho das
Índias, ao litoral sul da Bahia em 1500, a Coroa portuguesa implementou uma política
de colonização para a terra recém-descoberta a partir de 1530. A colonização
europeia se organizou por meio da distribuição de capitanias hereditárias pela
coroa portuguesa a membros da nobreza e pela instalação de um governo-geral em 1548. A
economia da colónia, iniciada com o extrativismo do pau-brasil e as trocas
entre os colonos e os índios, gradualmente passou a ser dominada pelo cultivo
da cana-de-açúcar para fins de exportação. No início do século XVII, a
Capitania de Pernambuco atinge o posto de maior e mais rica área de produção de
açúcar do mundo. Com a expansão dos engenhos e a ocupação de novas áreas para
seu cultivo, o território brasileiro se insere nas rotas de comércio do velho
mundo e passa a ser paulatinamente ocupado por senhores de terra, missionários,
homens livres e largos contingentes de escravos africanos. No final do século
XVII foram descobertas ricas jazidas de ouro nos atuais estados de Minas
Gerais, Goiás e Mato Grosso que foi determinante para o povoamento do interior
do Brasil. Em 1789, quando a Coroa portuguesa anunciava a Derrama, medida para
cobrar supostos impostos atrasados, eclodiu em Vila Rica (atual Ouro Preto) a
Inconfidência Mineira. A revolta fracassou e, em 1792, um de seus líderes,
Tiradentes, morreu enforcado.
Em
1808, com a transferência da corte portuguesa para o Brasil, fugindo da sua subjugação da França, consequência da Guerra Peninsular travada entre
as tropas portuguesas e as de Napoleão Bonaparte, o Príncipe-regente Dom João
de Bragança, filho da Rainha Dona Maria I, abriu os portos da então colônia,
permitiu o funcionamento de fábricas e fundou o Banco do Brasil. Em 1815, o
então Estado do Brasil, apenas um Vice-reino do império português, tornou-se
temporariamente a sede de um enorme reino que unia todo esse império, com a
nova designação oficial de Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, em que a
então Rainha Dona Maria I foi coroada. Com a morte da mãe, em 1816, o então
Príncipe-regente Dom João de Bragança foi coroado o seu rei. Logo depois volta
para o Reino de Portugal, deixando seu filho mais velho, Dom Pedro de Alcântara
de Bragança, o príncipe real do reino unido, como regente do Brasil.
Quando descoberto pelos portugueses em 1500, estima-se que o atual território do Brasil (a costa oriental da América do sul), era habitado por 2 milhões de indígenas, do norte ao sul. A população ameríndia era repartida em grandes nações indígenas compostas por vários grupos étnicos entre os quais se destacam os grandes grupos tupis-guaranis, macro-jê e aruaque. Os primeiros eram subdivididos em guaranis, tupiniquins e tupinambás, entre inúmeros outros. Os tupis se espalhavam do atual Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte de hoje. Segundo Luís da Câmara Cascudo, os tupis foram «a primeira raça indígena que teve contacto com o colonizador e (…) de correntemente a de maior presença, com influência no mameluco, no mestiço, no luso-brasileiro que nascia e no europeu que se fixava». A influência tupi se deu na alimentação, no idioma, nos processos agrícolas, de caça e pesca, nas superstições, costumes, folclore, como explica Câmara Cascudo:
«O tupi era a raça histórica, estudada pelos
missionários, dando a tropa auxiliar, recebendo o batismo e ajudando o
conquistador a expulsar inimigos de sua terra. (…) Eram os artífices da rede de
dormir, criadores da farinha de mandioca, farinha de pau, do complexo da goma de
mandioca, das bebidas de frutas e raízes, da carne e peixe moqueados, elementos
que possibilitaram o avanço branco pelo sertão».
Do lado europeu, a descoberta do Brasil foi precedida por vários tratados entre Portugal e Espanha, estabelecendo limites e dividindo o mundo já descoberto do mundo ainda por descobrir. Destes acordos assinados à distância da terra atribuída, o Tratado de Tordesilhas (1494) é o mais importante, por definir as porções do globo que caberiam a Portugal no período em que o Brasil foi colónia portuguesa. Estabeleciam suas cláusulas que as terras a leste de um meridiano imaginário que passaria a 370 léguas marítimas a oeste das ilhas de Cabo Verde pertenceriam ao rei de Portugal, enquanto as terras a oeste seriam posse dos reis de Castela (actualmente Espanha). No atual território do Brasil, a linha atravessava de norte a sul, da atual cidade de Belém do Pará à atual Laguna, em Santa Catarina. Quando soube do tratado, o rei de França Francisco indagado qual era "a cláusula do testamento de Adão" que dividia o planeta entre os reis de Portugal e Espanha e o excluía da partilha. O Tratado de Tordesilhas (1494), firmado entre Espanha e Portugal para repartir as terras descobertas e "por descobrir", definiu os rumos da história do "futuro" Brasil.
O período compreendido entre o Descobrimento do Brasil em 1500, (chamado pelos portugueses de Achamento do Brasil), até a Independência do Brasil, é chamado, no Brasil, de Período Colonial. Os portugueses, porém, chamam este período de A Construção do Brasil, e o estendem até 1825-1826 quando Portugal reconheceu a independência do Brasil. Há algumas teorias sobre quem foi o primeiro europeu a chegar nas terras que hoje formam o Brasil. Entre elas, destacam-se a que defende que foi Duarte Pacheco Pereira entre Novembro e Dezembro de 1498 e a que argumenta que foi o espanhol Vicente Yáñez Pinzón no dia 16 de janeiro de 1500, possivelmente no Cabo de Santo Agostinho, litoral sul de Pernambuco. No entanto, oficialmente o Brasil foi descoberto em 22 de abril de 1500, pelo capitão-mor duma expedição portuguesa em busca das Índias, Pedro Álvares Cabral, que chegou ao litoral sul da Bahia, na região da atual cidade de Porto Seguro, mais precisamente no distrito de Coroa Vermelha.
No
dia 9 de março de 1500, o Português Pedro Álvares Cabral, saindo de Lisboa,
iniciou viagem para oficialmente descobrir e tomar posse das novas terras para
a Coroa, e depois seguir viagem para a Índia, contornando a África para chegar
a Calecute. Levava duas caravelas e 13 naus, e por volta de 1 500 homens (entre os mais experientes Nicolau Coelho, que acabava de regressar da Índia), Bartolomeu Dias, que descobrira o cabo da Boa Esperança, e seu irmão Diogo
Dias, que mais tarde Pero Vaz de Caminha descreveria dançando na praia em Porto
Seguro com os índios, «ao jeito deles e ao som de uma gaita». As principais
naus se chamavam 'Anunciada', 'São Pedro', 'Espírito Santo', 'El-Rei', 'Santa Cruz', 'Flor
de la Mar', 'Victoria' e 'Trindade'. O vice-comandante da frota era Sancho de Tovar
e outros capitães eram Simão de Miranda, Aires Gomes da Silva, Nuno Leitão,
Vasco de Ataíde, Pero Dias, Gaspar de Lemos, Luís Pires, Simão de Pina, Pedro
de Ataíde, de alcunha o ‘inferno’, além dos já citados Nicolau Coelho e
Bartolomeu Dias. Por feitor, a armada trazia Aires Correia, que havia de ficar
na Índia, e por escrivães Gonçalo Gil Barbosa e Pero Vaz de Caminha. Entre os
pilotos, que eram os verdadeiros navegadores, vinham Afonso Lopes e Pero
Escobar. Diz a Crónica do Sereníssimo Rei D. Manuel I:
"E,
porque el Rei sempre foi mui inclinado às coisas que tocavam a nossa Santa fé
católica, mandou nesta armada oito frades da ordem de S. Francisco, homens
letrados, de que era Vigário frei Henrique, que depois foi confessor del Rei e
Bispo de Ceuta, os quais como oito capelães e um vigário, ordenou que ficassem
em Calecut, para administrarem os sacramentos aos portugueses e aos da terra se
se quisessem converter à fé".
As
âncoras levantadas em Lisboa, a frota passaram por São Nicolau, no arquipélago
de Cabo Verde, em 16 de março. Tinham-se afastado da costa africana perto das
Canárias, tocados pelos ventos alísios em direcção ao ocidente. Em 21 de abril,
da nau capitânia avistaram-se no mar, boiando, plantas. Mais tarde surgiram
pássaros marítimos, sinais de terra próxima. Ao amanhecer de 22 de abril
ouviu-se um grito de "terra à vista", pois se avistou o monte que
Cabral baptizou de Monte Pascoal, no litoral sul da atual Bahia.
Ali aportaram as naus, discutindo-se até hoje se teria sido exactamente em Porto Seguro ou em Santa Cruz Cabrália (mais precisamente no ilhéu de Coroa Vermelha, no município de Santa Cruz Cabrália), e fizeram contacto com os tupiniquins, indígenas pacíficos. A terra, a que os nativos chamavam Pindorama ("terra das palmeiras"), foi a princípio chamada pelos portugueses de Ilha de Vera Cruz e nela foi erguido um padrão (marco de posse em nome da Coroa Portuguesa). Mais tarde, a terra seria rebaptizada como Terra de Santa Cruz e posteriormente Brasil. Estava situada 5.000 km ao sul das terras descobertas por Cristóvão Colombo em 1492 e 1.400 quilómetros aquém da Linha de Tordesilhas.
"Tendo
velejado para o norte, acharam dez léguas mais adiante um arrecife com porto
dentro, muito seguro. No dia seguinte, sábado, entraram os navios no porto e
ancoraram mais perto da terra. O lugar, que todos acharam deleitoso,
proporcionava boa ancoragem e podia abrigar mais de 200 embarcações. Alguma
gente de bordo foi à terra, mas não pode entender a algaravia dos habitantes,
diferente de todas as línguas conhecidas".
No
dia 26 de abril, um domingo (o de Pascoela), foi oficiada a primeira missa no
solo brasileiro por frei Henrique Soares (ou frei Henrique de Coimbra), que
pregou sobre o Evangelho do dia. Baptizaram a terra como Ilha da Vera Cruz no
dia 1 de maio e numa segunda missa Cabral tomou posse das terras em nome do rei
de Portugal. No mesmo dia, os navios partiram, deixando na terra pelo menos
dois degredados e dois grumetes que haviam fugido de bordo. Cabral partiu para
a Índia pela via certa que sabia existir a partir da costa brasileira, isto é,
cruzou outra vez o Oceano Atlântico e costeou a África.
O Rei Dom Manuel I recebeu a notícia do descobrimento por cartas escritas por Mestre João, físico e cirurgião de Dom Manuel e Pero Vaz de Caminha, semanas depois. Transportadas na nau de Gaspar de Lemos, as cartas descreviam de forma pormenorizada as condições geográficas e seus habitantes, desde então chamados de índios. Atento aos objectivos da Coroa na expansão marítima, Caminha informava ao rei:
“Nela
até agora não podemos saber que haja ouro nem prata, nem alguma coisa de metal
nem de ferro lho vimos; pero a terra em si é de muitos bons ares, assi frios e
temperados como os d'entre Doiro e Minho, porque neste tempo de agora assi os
achamos como os de lá; águas são muitas infindas e em tal maneira é graciosa,
que querendo aproveitar-se dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem; pero o
melhor fruto que nela se pode fazer me parece que será salvar esta gente (…)
boa e de boa simplicidade. Navegando
a loeste, aos xxiiij dias do mes Dabril viram terra, do que forão muito
alegres, porque polo rumo em que jazia, vião não ser nenhuma das que até então
eram descubertas. Padralures Cabral fez rosto para aquela banda & como
forão bem à vista, mandou ao seu mestre que no esquife fosse a terra, o qual
tornou logo com novas de ser muito fresca & viçosa, dizendo que vira andar
gente baça & nua pela praia, de cabelo comprido & corredio, com arcos
& frechas nas mãos, pelo que mandou alguns dos capitães que fossem com os
bateis armados ver se isto era assi, os quaes sem sairem em terra tornaram à capitaina
afirmando ser verdade o que o mestre dixera. Estando já sobrancora se alevantou
de noite hum temporal, com que correram de longo da costa ate tomarem hum porto
muito bom, onde Pedralures surgio com as outras naos & por ser tal lhe pos
nome Porto Seguro”.
Além
das cartas acima mencionadas, outro importante documento sobre o descobrimento
do Brasil é o Relato do Piloto Anónimo. De início, a descoberta da nova terra
foi mantida em sigilo pelo Rei de Portugal. O resto do mundo passou a conhecer
o Brasil desde pelo menos 1507, quando a terra apareceu com o nome de América
na carta (mapa) de Martin Waldseemüller, no qual está assinalado na costa o
Porto Seguro.
Em 1501, uma grande expedição exploratória, a primeira frota de reconhecimento, com três naus, encontrou como recurso explorável apenas o pau-brasil, de madeira avermelhada e valiosa usada na tinturaria europeia, mas fez um levantamento da costa. Comandada por Gaspar de Lemos, a viagem teve início em 10 de maio de 1501 e findaria com o retorno a Lisboa em 7 de Setembro de 1502, depois de percorrer a costa e dar nome aos principais acidentes geográficos. Sobre o comandante, podem ter sido D. Nuno Manuel, André Gonçalves, Fernão de Noronha, Gonçalo Coelho ou Gaspar de Lemos, sendo este último o nome mais aceito. Em 1501, no dia 1 de Novembro, foi descoberta a Baía de Todos os Santos, na atual Bahia, local que mais tarde seria escolhido por Dom João III de Portugal para abrigar a sede da administração colonial. Alguns historiadores negam a hipótese de Gonçalo Coelho, que só teria partido de Lisboa em 1502. O Barão do Rio Branco, em suas Efemérides, fixa-se em André Gonçalves, que é a versão mais comumente aceita. Mas André Gonçalves fazia parte da armada de Cabral, que retornou a Lisboa quando a expedição de 1501 já partira para o Brasil e com ela cruzou na altura do arquipélago de Cabo Verde. Assim, diversos historiadores optam por Gaspar de Lemos, que entre Junho e Julho de 1500 havia chegado a Portugal com a notícia do descobrimento. O florentino Américo Vespúcio vinha como piloto na frota (e por seu nome seria baptizado todo o continente, mais tarde). Depois de 67 dias de viagem, em 16 de agosto, a frota alcançou o que hoje é o Cabo de São Roque (Paraíba) e, segundo Câmara Cascudo, ali plantou o marco de posse mais antigo do Brasil. Houve, na ocasião, contactos entre portugueses e os índios potiguaras. Ao longo das expedições, os portugueses costumavam baptizar os acidentes geográficos segundo o calendário com os nomes dos santos dos dias, ignorando os nomes locais dados pelos nativos. Em 1 de Novembro (Dia de Todos os Santos), chegaram à Baía de Todos os Santos, em 21 de Dezembro (dia de São Tomé) ao Cabo de São Tomé, em 1 de janeiro de 1502 à Baía da Guanabara (por isso baptizada de "Rio de Janeiro") e no dia 6 de janeiro (Dia de Reis) à angra (baía) baptizada como Angra dos Reis. Outros lugares descobertos foram a foz do rio São Francisco e o Cabo Frio, entre vários. As três naus que chegaram à Guanabara eram comandadas por Gonçalo Coelho, e nela vinha Vespúcio. Tomando a estreita entrada da barra pela foz de um rio, chamaram-na Rio de Janeiro, nome que se estendeu à cidade de São Sebastião que ali se ergueria mais tarde.
Em 1503 houve nova expedição, desta vez comandada (sem controvérsias) por Gonçalo Coelho, sem ser estabelecido qualquer assentamento ou feitoria. Foi organizada em função um contrato do rei com um grupo de comerciantes de Lisboa para extrair o pau-brasil. Trazia novamente Vespúcio e seis navios. Partiu em maio de Lisboa, esteve em agosto na ilha de Fernando de Noronha e ali afundou a nau capitânia, dispersando-se a armada. Vespúcio pode ter ido para a Bahia, passado seis meses em Cabo Frio, onde fez entrada de 40 léguas terra adentro. Ali teria deixado 24 homens com mantimentos para seis meses. Coelho, ao que parece, esteve recolhido na região onde se fundaria depois a cidade do Rio de Janeiro, possivelmente durante dois ou três anos. Nessa ocasião, Vespúcio, a serviço de Portugal, retornou ao maior porto natural da costa brasileira, a Baía de Todos os Santos. Durante as três primeiras décadas, o litoral baiano, com suas inúmeras enseadas, serviu fundamentalmente como apoio à rota da Índia, cujo comércio de produtos de luxo (seda, tapetes, porcelana e especiarias) era mais vantajoso que os produtos oferecidos pela nova colónia. Nos pequenos e grandes portos naturais baianos, em especial no de Todos os Santos, as frotas se abasteciam de água e de lenha e aproveitavam para fazer pequenos reparos.
No Rio de Janeiro, alguns navios aportaram no local que os índios chamavam de Uruçumirim, a atual praia do Flamengo. Junto à foz do rio Carioca (outrora abundante fonte de água doce) foram erguidas uma casa de pedra e um arraial, deixando-se no local de degredados e galinhas. A construção inspirou o nome que os índios deram ao local (cari-oca, "casa dos brancos"), que passaria a ser o gentílico da cidade do Rio. O arraial, no entanto, foi logo destruído. Outras esquadras passariam pela Guanabara; a de Cristóvão Jacques, em 1516; a de Fernão de Magalhães (que chamou o local de Baía de Santa Luzia), em 1519, na primeira circunavegação do mundo; outra vez a de Jacques, em 1526, e a de Martim Afonso de Sousa, em 1531. Outras expedições ao litoral brasileiro podem ter ocorrido, já que desde 1504 são assinaladas atividades de corsários. Holanda, em Raízes do Brasil, cita o capitão francês Paulmier de Gonneville, de Honfleur, que permaneceu seis meses no litoral de Santa Catarina. A actividade de navegadores não-portugueses se inspirava doutrina da liberdade dos mares, expressada por Hugo Grotius em Mare Liberum, base da reacção europeia contra Espanha e Portugal, gerando pirataria alargada pelos mares do planeta.
O pau-brasil (que os índios tupis chamavam de ibirapitanga) era a principal riqueza de crescente demanda na Europa. Estima-se que havia, na época do descobrimento, mais de 70 milhões de árvores do tipo, abundando numa faixa de 18 km do litoral do Rio Grande do Norte até a Guanabara. Quase todas foram derrubadas e levadas para a Europa. A extracção foi tanta que actualmente a espécie é protegida para não sofrer extinção. Para explorar a madeira, a Coroa adoptou a política de oferecer a particulares, em geral ristãos-novos, concessões de exploração do pau-brasil mediante certas condições, os concessionários deveriam mandar seus navios descobrirem 300 léguas de terra, instalar fortalezas nas terras que descobrissem, mantendo-as por três anos; do que levassem para o Reino, nada pagariam no primeiro ano, no segundo pagariam um sexto e no terceiro um quinto. Os navios ancoravam na costa, algumas dezenas de marinheiros desembarcavam e recrutavam índios para trabalhar no corte e carregamento das toras, em troca de pequenas mercadorias como roupas, colares e espelhos (prática chamada de "escambo"). Cada nau carregava em média cinco mil toras de 1,5 metro de comprimento e 30 quilogramas de peso.
Em 1503, toda a terra do Brasil foi arrendada pela coroa a Fernão de Noronha (ou Loronha), e outros cristãos-novos, produzindo 20 mil quintais de madeira vermelha. Segundo Capistrano de Abreu, em Capítulos da História Colonial, cada quintal era vendido em Lisboa por 21/3 ducados, mas levá-lo até lá custava apenas meio ducado. Os arrendatários pagavam 4 mil ducados à Coroa. Comerciantes de Lisboa e do Porto enviavam embarcações à costa para contrabandearem pau-brasil, aves de plumagem colorida (papagaios, araras), peles, raízes medicinais e índios para escravizar. Surgiram, assim, as primeiras feitorias. O náufrago Diogo Álvares, o Caramuru, estabeleceu-se desde 1510 na barra da Baía de Todos os Santos, onde negociava com barcos portugueses e estrangeiros. Outra feitoria foi chamada de Aldeia Velha de Santa Cruz, próxima ao local da descoberta.
Além
dos portugueses, seus rivais europeus, principalmente franceses, passaram a frequentar
a costa brasileira para contrabandear a madeira e capturar índios. Os franceses
contrabandearam muito pau-brasil no litoral norte, entre a foz do rio Real e a
Baía de Todos os Santos, mas não chegaram a estabelecer feitoria. Outro ponto
de contrabando, sobretudo no século XVII, foi o Morro de São Paulo (Bahia). Até
que Portugal estabelecesse o sistema de capitanias hereditárias, a presença
mais constante na terra era dos franceses. Estimulados por seu rei, corsários
passam a frequentar a Guanabara à procura de pau-brasil e outros produtos.
Ganharam a simpatia dos índios tamoios, que a eles se aliaram durante décadas
contra os portugueses. Portugal,
verificando que o litoral era visitado por corsários e aventureiros
estrangeiros, resolveu enviar expedições militares para defender a terra. Foram
denominadas expedições guarda-costas, sendo mais marcantes as duas comandadas
por Cristóvão Jacques, de 1516-1519 e 1526-1528. Suas expedições tinham carácter
basicamente militar, com missão de aprisionar os navios franceses que, sem
pagar tributos à coroa, retiravam grandes quantidades do pau-brasil. A
iniciativa teve poucos resultados práticos, considerando a imensa extensão do
litoral e, como solução, Jacques sugeriu à Coroa dar início ao povoamento.
A expedição enviada em 1530 sob a chefia de Martim Afonso de Sousa tinha por objectivos explorar melhor a costa, expulsar os franceses que rondavam o sul e as cercanias do Rio de Janeiro, e estabelecer núcleos de colonização ou feitorias, como a estabelecida em Cabo Frio. Martim Afonso doou as primeiras sesmarias do Brasil. Foram fundados por esta expedição os núcleos de São Vicente e São Paulo, onde o português João Ramalho vivia como náufrago desde 1508 e casara-se com a índia Bartira, filha do cacique Tibiriçá. Em São Vicente foi feita em 1532 a primeira eleição no continente americano e instalada a primeira Câmara Municipal e a primeira vila do Brasil. A presença de Ramalho, que ajudava no contacto com os nativos e instalara-se na aldeia de Piratininga, foi o que inspirou Martim Afonso a instalar a vila de São Vicente perto do núcleo que viria a ser São Paulo. A mais polémica expedição seria a de Francisco de Orellana que, em 1535, penetrando pela foz do rio Orinoco e subindo-o, descreve que numa única viagem, em meio de um incrível emaranhado de rios e afluentes amazónicos, teria encontrado o rio Cachequerique, raríssima e incomum captura fluvial que une o rio Orinoco aos rios Negro e Amazonas. A administração das terras ultramarinas, que a princípio foi arrendada a Fernão de Noronha, agente da Casa Fugger (1503-1511), ficou a cargo directo da Coroa, que não conseguia conter as frequentes incursões de franceses na nova terra. Por isso, em 1516, D. Manuel I e seu Conselho criam nos Açores e na Madeira as chamadas «capitanias do mar», por analogia com as estabelecidas no Oceano Índico. O objetivo fundamental era garantir o monopólio da navegação e a política do mare clausum (mar fechado). De dois em dois anos, o capitão do mar partia com navios para realizar um cruzeiro de inspecção no litoral, defendendo-o das incursões francesas ou castelhanas. No Brasil, teriam visitado quatro armadas.
As armadas de Jacques assinaram-se com insistência no rio da Prata. Também em 1516 ocorre a primeira tentativa de colonização metódica e aproveitamento da terra com base na plantação da cana (levada de Cabo Verde) e na fabricação do açúcar. Já devia ter havido algumas tentativas de capitanias e estabelecimentos em terra, pois em 15 de Julho de 1526 o rei D. Manuel I autorizou Pedro Capico, "capitão de uma capitania do Brasil", a regressar a Portugal porque "lhe era acabado o tempo de sua capitania". Talvez Jacques tenha ido buscar Capico em Porto Seguro, pois a ele era justamente atribuída a fundação de uma feitoria no local, muito antes de ser doada como capitania a Pero do Campo Tourinho. Outras capitanias incipientes podem ter existido pelo menos em Pernambuco, Porto Seguro, Rio de Janeiro e São Vicente.
“Na terra de Santa Cruz, o valor e as
possibilidades de comércio não justificavam (…) organizações da mesma
importância» que as feitorias de Portugal na África. «Mesmo assim, foram
instaladas, quer pelos concessionários do comércio do pau-brasil, quer pelo
próprio governo português, várias feitorias, postos de resgate onde se
concentravam, sob o abrigo de fortificações primitivas, os artigos da terra que
as naus vinham buscar. São por demais deficientes até hoje as notícias sobre
estas feitorias, Igaraçu, Itamaracá, Bahia, Porto Seguro, Cabro Frio, São
Vicente e outras intermediárias, que desapareciam, ora esmagadas pelo gentio,
ora conquistadas pelos franceses. Mas o próprio comércio do pau-brasil é uma
demonstração de sua existência, e as notícias sobre a década anterior, de 1530,
salientam a preocupação do Governo português de defendê-las.» Eram assim postos
de resgate de carácter temporário, estabelecimentos efémeros, assolados por
entrelopos e corsários franceses, por selvagens. Por muitos anos cessará todo o
interesse de Portugal pelo Brasil. O Brasil ficou ao acaso… Colonizar a nova
terra seria dispendioso, sem lucro imediato. Portugal, no auge de sua técnica
de navegação, de posse de feitorias fincadas em vastíssimas costas de oceanos,
não tinha recursos humanos, com uma população estimada em um milhão de
habitantes. Impunha-se uma atitude predominantemente fiscal. Havia o quê? Havia
macacos, papagaios, selvagens nus e primitivos. Mas havia pau-brasil…”
“(...)
depois das primeiras explorações, as terras do Brasil tornaram-se constante
teatro da pirataria universal. Especuladores franceses, alemães, judeus e
espanhóis aqui aportam, comerciam com o gentio ou seelvajam-se e com eles
convivem em igual barbaria. Os navegadores de todos os pontos aqui se aprovisionam
ou se abrigam das tempestades. Aventureiros aqui desembarcam, e vivem à
ventura, na companhia de degredados e foragidos. O que procura a corte
portuguesa de D. Manuel I são as riquezas do Oriente, e se alguma expedição
aqui toca e se demora, (....) não é o Brasil que as atrai mas ainda a
fascinação do Oriente.”
As capitanias hereditárias. A apatia só iria cessar quando D. João III ascendeu ao trono. Na década de 1530, Portugal começava a perder a hegemonia do comércio na África Ocidental e no Índico. Circulavam insistentes notícias da descoberta de ouro e de prata na América Espanhola. Então, em 1532, o rei decidiu ocupar as terras pelo regime de capitanias, mas num sistema hereditário, pelo qual a exploração passaria a ser direito de família. O capitão e governador, títulos concedidos ao donatário, teria amplos poderes, dentre os quais o de fundar povoamentos (vilas e cidades), conceder sesmarias e administrar a justiça. O sistema de capitanias hereditárias implicava na divisão de terras vastíssimas, doadas a capitães-donatários que seriam responsáveis por seu controle e desenvolvimento, e por arcar com as despesas de colonização. Foram doadas aos que possuíssem condições financeiras para custear a empresa da colonização, e estes eram principalmente "membros da burocracia estatal" e "militares e navegadores ligados à conquista da Índia". De acordo com o mesmo autor, a sugestão teria sido dada ao rei por Diogo de Gouveia, ilustre humanista português, e respondia a uma "absoluta falta de interesse da alta nobreza lusitana" nas terras americanas.
Foram criadas, nesta divisão, quinze faixas longitudinais de diferentes larguras que iam de acidentes geográficos no litoral até o Meridiano das Tordesilhas, e foram oferecidas a doze donatários. Destes, quatro nunca foram ao Brasil; três faleceram pouco depois; três retornaram a Portugal; um foi preso por heresia (Tourinho) e apenas dois se dedicam à colonização (Duarte Coelho na Capitania de Pernambuco e Martim Afonso de Sousa na Capitania de São Vicente). Das quinze capitanias originais, apenas as capitanias de Pernambuco e de São Vicente prosperaram. As terras brasileiras ficavam a dois meses de viagem de Portugal. Além disso, as notícias das novas terras não eram muito animadoras: na viagem, além do medo de "monstros" que habitariam o oceano (na superstição europeia), tempestades eram frequentes; nas novas terras, florestas gigantescas e impenetráveis, povos antropófagos e não havia nenhuma riqueza mineral ainda descoberta. Em 1536, chegou o donatário da capitania da Baía de Todos os Santos, Francisco Pereira Coutinho, que fundou o Arraial do Pereira, na futura cidade do Salvador, mas se revelou mau administrador e foi morto pelos tupinambás. Tampouco tiveram maior sucesso as capitanias dos Ilhéus e do Espírito Santo, devastadas por aimorés e tupiniquins.
Tomé de Sousa. Após o fracasso do projecto de capitanias, o rei João III unificou as capitanias sob um Governo-Geral do Brasil e em 7 de janeiro de 1549 nomeou Tomé de Sousa para assumir o cargo de governador-geral. A expedição do primeiro governador chegou ao Brasil em 29 de março do mesmo ano, com ordens para fundar uma cidade para abrigar a sede da administração colonial. O local escolhido foi a Baía de Todos os Santos e a cidade foi chamada de São Salvador da Baía de Todos os Santos. As condições favoráveis da terra, o clima quente, o solo fértil, a excelente posição geográfica, fizeram com que o rei decidisse reverter a capitania para a Coroa (expropriando-a do donatário Pereira Coutinho). As tarefas de Tomé de Sousa eram tornar efectiva a guarda da costa, auxiliar os donatários, organizar a ordem política e jurídica na colônia. O governador organizou a vida municipal, e sobretudo a produção açucareira: distribuiu terras e mandou abrir estradas, além de fazer construir um estaleiro. Desse modo, o Governo-Geral centralizou a administração colonial, subordinando as capitanias a um só governador-geral que tornasse mais rápido o processo de colonização. Em 1548, elaborou-se o Regimento do Governador-Geral, que regulamentava o trabalho do governador e de seus principais auxiliares - o ouvidor-mor (Justiça), o provedor-mor (Fazenda) e o capitão-mor (Defesa). O governador também levou ao Brasil os primeiros missionários católicos, da ordem dos jesuítas, como o padre Manuel da Nóbrega. Por ordens suas, ainda, foram introduzidas na colônia as primeiras cabeças de gado, de novilhos levados de Cabo Verde. Ao chegar à Bahia, Tomé de Sousa encontrou o velho Arraial do Pereira com seus moradores, e mudaram o nome do local para Vila Velha. Também moravam nos arredores o náufrago Diogo Álvares "Caramuru" e sua esposa Paraguaçu (baptizada como Catarina), perto da capela de Nossa Senhora das Graças (hoje o bairro da Graça, em Salvador). Consta que Tomé de Sousa teria pessoalmente ajudado a construir as casas e a carregar pedras e madeiras para construção da capela de Nossa Senhora da Conceição da Praia, uma das primeiras igrejas erguidas no Brasil. Tomé de Souza visitou as capitanias do sul do Brasil, e, em 1553, criou a Vila de Santo André da Borda do Campo, transferida em 1560 para o Pátio do Colégio dando origem à cidade de São Paulo.
Em 1553, a pedidos, Tomé de Sousa foi exonerado do cargo e substituído por Duarte da Costa, fidalgo e senador nas Cortes de Lisboa. Em sua expedição foram também 260 pessoas, incluindo seu filho, Álvaro da Costa, e o então noviço José de Anchieta, jesuíta basco que seria o pioneiro na catequese dos nativos americanos. A administração de Duarte foi conturbada. Já de início, a intenção de Álvaro em escravizar os indígenas, incluindo os catequizados, esbarrou na impertinência de Dom Pero Fernandes Sardinha, primeiro bispo do Brasil. O governador interveio a favor do filho e autorizou a captura de indígenas para uso em trabalho escravo. Disposto a levar as queixas pessoalmente ao rei de Portugal, Sardinha partiu para Lisboa em 1556 mas naufragou na costa de Alagoas. Durante o governo de Duarte da Costa, uma expedição de protestantes franceses se instalou permanentemente na Guanabara e fundou a colônia da França Antártica. Ultrajada, a Câmara Municipal da Bahia apelou à Coroa pela substituição do governador. Em 1556, Duarte foi exonerado, voltou a Lisboa e em seu lugar foi enviado Mem de Sá, com a missão de retomar a posse portuguesa do litoral sul.
O terceiro Governador-Geral, Mem de Sá (1558-1572), deu continuidade à política de concessão de sesmarias aos colonos e montou ele próprio um engenho, às margens do rio Sergipe, que mais tarde viria a pertencer ao conde de Linhares (Engenho de Sergipe do Conde). Para enfrentar os colonos franceses estabelecidos na França Antártica, aliados aos tamoios na baía de Guanabara, Mem de Sá aliou-se aos Temiminós do cacique Arariboia. O seu sobrinho, Estácio de Sá, comandou a retomada da região e fundou a cidade do Rio de Janeiro a 20 de Janeiro de 1565, dia de São Sebastião. Com o desaparecimento de D. Sebastião e posteriormente a morte de D. Henrique I, Portugal ficou sob união pessoal com a Espanha, e foi governada pelos três reis Filipes (Filipe II, Filipe III e Filipe IV, dos quais se subtrai um número quando referentes a Portugal e ao Brasil). Isso virtualmente acabou com a linha divisória do meridiano das Tordesilhas e permitiu que o Brasil se expandisse para o oeste. Várias expedições exploratórias do interior (chamado de "os sertões") foram organizadas, fosse sob ordens directas da Coroa ("entradas") ou por caçadores de escravos paulistas ("bandeiras", donde o nome "bandeirantes"). Estas expedições duravam anos e tinham o objetivo principalmente de capturar índios como escravos e encontrar pedras preciosas e metais valiosos, como ouro e prata. Foram bandeirantes famosos, entre outros, Fernão Dias Paes Leme, Bartolomeu Bueno da Silva (Anhanguera), Raposo Tavares, Domingos Jorge Velho, Borba Gato e Antônio Azevedo.
A União Ibérica também colocou o Brasil em conflito com potências europeias que eram amigas de Portugal mas inimigas da Espanha, como a Inglaterra e a Holanda. Esta última atacou e invadiu extensas faixas do litoral nordestino, fixando-se principalmente em Pernambuco e na Paraíba por vinte e cinco anos. Das mudanças administrativas durante o domínio espanhol, a mais importante sucedeu em 1621, com a divisão da colônia em duas administrações independentes: o Estado do Brasil, que abrangia de Pernambuco à atual Santa Catarina, e o Estado do Maranhão, do atual Ceará à Amazônia. A razão se baseava no destacado papel assumido pelo Maranhão como ponto de apoio e de partida para a colonização do norte e nordeste. O Maranhão tinha por capital São Luís, e o Estado do Brasil sua capital em Salvador. Nestes dois estados, os súbditos eram cidadãos portugueses (chamados de "portugueses do Brasil") e sujeitos aos mesmos direitos e deveres, e as mesmas leis as quais estavam submetidos os residentes em Portugal, entre elas, as Ordenações manuelinas e as Ordenações filipinas.
Quando o Rei Filipe III (IV da Espanha) separou o Brasil e o Maranhão, passaram a existir três capitanias reais: Maranhão, Ceará e Grão-Pará, e seis capitanias hereditárias. Em 1737, com sua sede transferida para Belém, o Maranhão passou a ser chamado de Grão-Pará e Maranhão. Tal instalação era efeito do isolamento do extremo norte do Estado do Brasil, pois o regime de ventos impedia durante meses as comunicações entre São Luís e a Bahia. No século XVII, o Estado do Brasil se estendia do atual Pará até o Rio Grande do Norte e deste até Santa Catarina, e no século XVIII já estariam incorporados o Rio Grande de São Pedro, atual Rio Grande do Sul e as regiões mineiras e parte da Amazônia. O Estado do Maranhão foi extinto na época de Marquês de Pombal. A invasão holandesa no Nordeste brasileiro foi um importante capítulo da Guerra Luso-Holandesa. Em 1630, a Capitania de Pernambuco foi invadida pela Companhia das Índias Ocidentais. Por ocasião da União Ibérica (1580 a 1640) a então chamada República Holandesa, antes dominados pela Espanha tendo depois conseguido sua independência através da força, vêem em Pernambuco a oportunidade para impor um duro golpe na Espanha, ao mesmo tempo em que tirariam o prejuízo do fracasso na Bahia, uma vez que Pernambuco era a mais rica capitania da colónia.
Em 26 de Dezembro de 1629 partia de São Vicente, Cabo Verde, uma esquadra com 66 embarcações e 7.280 homens em direcção a Pernambuco. Os holandeses, desembarcando na praia de Pau Amarelo, conquistam a capitania de Pernambuco em Fevereiro de 1630 e estabelecem a colônia Nova Holanda. A frágil resistência portuguesa na passagem do Rio Doce, invadiu sem grandes contratempos Olinda e derrotou a pequena, porém aguerrida, guarnição do forte (que depois passaria a ser chamado de Brum), porta de entrada para o Recife através do istmo que ligava as duas cidades. O conde Maurício de Nassau desembarcou na ‘Nieuw Holland’, a Nova Holanda, em 1637, acompanhado por uma equipe de arquitectos e engenheiros. Nesse ponto começa a construção de Mauritsstad (atual Recife), que foi dotada de pontes, diques e canais para vencer as condições geográficas locais. O arquitecto Pieter Post foi o responsável pelo traçado da nova cidade e de edifícios como o palácio de Freiburg, sede do poder de Nassau na Nova Holanda, e do prédio do observatório astronómico, tido como o primeiro do Novo Mundo. Em 28 de Fevereiro de 1644 o Recife (actualmente o Bairro do Recife) foi ligado à Cidade Maurícia com a construção da primeira ponte da América Latina. Durante o governo de Nassau, Recife foi considerada a mais cosmopolita cidade das Américas, e tinha a maior comunidade judaica de todo o continente, que construiu, à época, a primeira sinagoga do Novo Mundo, a Kahal Zur Israel, bem como a segunda, a Maguen Abraham. No Palácio de Friburgo, sede do poder de Nassau na Nova Holanda, foi construído o primeiro observatório astronómico do Continente Americano.
Por diversos motivos, sendo um dos mais importantes a exoneração de Maurício de Nassau do governo da capitania pela Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, o povo de Pernambuco se rebelou contra o governo, juntando-se à fraca resistência ainda existente, num movimento denominado Insurreição Pernambucana. Com a chegada gradativa de reforços portugueses, os holandeses por fim foram expulsos em 1654, na segunda Batalha dos Guararapes. Foi nesta ocasião que se diz ter nascido o Exército brasileiro. Com a colónia holandesa tomada pelos portugueses, os judeus receberam um prazo de três meses para partir ou se converter ao catolicismo. Com medo da fogueira da Inquisição, quase todos venderam o que tinham e deixaram o Recife em 16 navios. Parte da comunidade judaica expulsa de Pernambuco fugiu para Amsterdão, e outra parte se estabeleceu em Nova Iorque. Através deste último grupo a Ilha de Manhattan, atual centro financeiro dos Estados Unidos, conheceu grande desenvolvimento económico; e descendentes de judeus egressos do Recife tiveram participação activa na história estadunidense; Gershom Mendes Seixas, aliado de George Washington na Guerra de Independência dos Estados Unidos; seu filho Benjamin Mendes Seixas, fundador da Bolsa de Valores de Nova York; Benjamin Cardozo, juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos ligado a Franklin Roosevelt; entre outros. Após a expulsão holandesa, o estado passou a declinar junto com restante do Nordeste, devido à transferência do centro político-económico para o Sudeste, o que resultou em conflitos como a Revolução Pernambucana e a Confederação do Equador, movimentos separatistas pernambucanos. A qualidade do açúcar refinado holandês, agora produzido nas Antilhas, superior ao mascavo brasileiro, também ajudou a acelerar a decadência do estado, que era baseado nos latifúndios de cultivo de cana-de-açúcar. Indo à procura de novos meios de renda, aumenta o comércio no estado gradativamente. Este efeito foi estopim de revoltas como a Guerra dos Mascates. Em 15 de maio de 1645, reunidos no Engenho de São João, 18 líderes insurrectos pernambucanos assinaram compromisso para lutar contra o domínio holandês na capitania. Com o acordo assinado, começa o contra-ataque à invasão holandesa. A primeira vitória importante dos insurrectos se deu no Monte das Tabocas, (hoje localizada no município de Vitória de Santo Antão) onde 1200 insurrectos mazombos armados de armas de fogo, foices, paus e flechas derrotaram numa emboscada 1.900 holandeses bem armados e bem treinados.
João Fernandes Vieira. O sucesso deu ao líder Antônio
Dias Cardoso o apelido de Mestre das Emboscadas. Os holandeses que
sobreviveram seguiram para Casa Forte, sendo novamente derrotado pela aliança
dos mazombos, índios nativos e escravos negros. Recuaram novamente para as
casas-fortes em Cabo de Santo Agostinho, Pontal de Nazaré, Sirinhaém, Rio
Formoso, Porto Calvo e Forte Maurício, sendo sucessivamente derrotados pelos
insurrectos. Por fim, Olinda foi recuperada pelos rebeldes. Cercados e
isolados pelos rebeldes numa faixa que ficou conhecida como Nova Holanda, indo
do Recife a Itamaracá, os invasores começaram a sofrer com a falta de
alimentos, o que os levou a atacar plantações de mandioca nas vilas de São
Lourenço, Catuama e Tejucupapo. Em 24 de abril de 1646, ocorreu a famosa
Batalha de Tejucupapo, onde mulheres camponesas armadas de utensílios agrícolas
e armas leves expulsaram os invasores holandeses, humilhando-os
definitivamente. Esse fato histórico consolidou-se como a primeira importante
participação militar da mulher na defesa do território brasileiro. Devido
a Primeira Guerra Anglo-Neerlandesa, a República Holandesa não pôde auxiliar os
holandeses no Brasil. Com o fim da guerra contra os ingleses, a República Holandesa
exige a devolução da colónia em maio de 1654. Sob ameaça de uma nova invasão do
Nordeste brasileiro, Portugal cede à exigência dos holandeses que Portugal
pague 4 milhões cruzados para República Holandesa entre um período de 16 anos.
Porém, em 6 de agosto de 1661 a República Holandesa cede formalmente o Nordeste
brasileiro à Portugal através da Paz de Haia. A
economia da colónia, iniciada com o puro extrativismo de pau-brasil e o escambo
entre os colonos e os índios (Pernambuco era o local de maior incidência de
pau-brasil, e de uma qualidade tão superior que regulava o preço no comércio
europeu), gradualmente passou à produção local, com os cultivos da
cana-de-açúcar e do cacau. O engenho de açúcar (manufactura do ciclo de
produção açucareiro) constituiu a peça principal do mercantilismo português,
organizadas em grandes propriedades. Estas, como se chamou mais tarde, eram
latifúndios, caracterizados por terras extensas, abundante mão-de-obra escrava,
técnicas complexas e baixa produtividade. Para
sustentar a produção de cana-de-açúcar, os portugueses começaram, a partir de
meados do século XVI, a importar africanos como escravos. Eles eram pessoas
capturadas entre tribos das feitorias europeias na África (às vezes com a
conivência de chefes locais de tribos rivais) e atravessados no Atlântico nos
navios negreiros, em péssimas condições de asseio e saúde. Ao chegarem à
América, essas pessoas eram comercializadas como mercadoria e obrigados a
trabalhar nas plantações e casas dos colonizadores. Dentro das fazendas, viviam
aprisionados em galpões rústicos chamados de senzalas, e seus filhos também
eram escravizados, perpetuando a situação pelas gerações seguintes.
Nas feitorias, os mercadores portugueses vendiam principalmente armas de fogo, tecidos, utensílios de ferro, aguardente e tabaco, adquirindo escravos, pimenta, marfim e outros produtos. Até meados do século XVI, os portugueses possuíam o monopólio do tráfico de escravos. Depois disso, mercadores franceses, holandeses e ingleses também entraram no negócio, enfraquecendo a participação portuguesa. O Brasil nasceu e cresceu económica e socialmente com o açúcar, entre os dias venturosos do pau-de-tinta e antes de as minas e o café o terem ultrapassado. Efectivamente, o açúcar foi base na formação da sociedade e na forma de família. A casa de engenho foi modelo da fazenda de cacau, da fazenda de café, da estância. Foi base de um complexo sociocultural de vida. Em 1549, Pernambuco já possuía trinta engenhos-bangué, a Bahia, dezoito, e São Vicente, dois. A lavoura da cana-de-açúcar era próspera e, meio século depois, a distribuição dos engenhos de açúcar perfazia um total de 256. Houve engenhos ainda nas capitanias de São Vicente e do Rio de Janeiro que cobriam cem léguas e couberam ambas a Martim Afonso de Sousa. Este receberia o apoio de João Ramalho e de seu sogro Tibiriçá. No Rio, funcionava o engenho de Rodrigo de Freitas, nas margens da lagoa que hoje leva seu nome. Ao entrar o século XVII, o açúcar brasileiro era produto de importação nos portos de Lisboa, Antuérpia, Amsterdão, Roterdão, Hamburgo. Sua produção, muito superior à das ilhas portuguesas no Atlântico, supria quase toda a Europa. Gabriel Soares de Sousa, em 1548, comentava o luxo reinante na Bahia e o padre Fernão Cardim exaltava suas capelas magníficas, os objectos de prata, as lautas refeições em louça da Índia, que servia de lastro nos navios: «Parecem uns condes e gastam muito», reclamava o padre.
Em meados do século XVII, o açúcar produzido nas Antilhas Holandesas começou a concorrer fortemente na Europa com o açúcar do Brasil. Os holandeses tinham aperfeiçoado a técnica, com a experiência adquirida no Brasil, e contavam com um desenvolvido esquema de transporte e distribuição do açúcar em toda a Europa. Portugal foi obrigado a recorrer à Inglaterra e assinar diversos tratados que afectariam a economia da colónia. Em 1642, Portugal concedeu à Inglaterra a posição de "nação mais favorecida" e os comerciantes ingleses passaram a ter maior acesso ao comércio colonial. Em 1654 Portugal aumentou os direitos ingleses; mas poderiam negociar directamente vários produtos do Brasil com Portugal e vice-versa, exceptuando-se alguns produtos como bacalhau, vinho, pau-brasil). Em 1661 a Inglaterra se comprometeu a defender Portugal e suas colónias em troca de dois milhões de cruzados, obtendo ainda as possessões de Tânger e Bombaim. Em 1703 Portugal se comprometeu a admitir no reino os panos dos lanifícios ingleses, e a Inglaterra, em troca, a comprar vinhos portugueses. Data da época o famosíssimo Tratado de Methuen, do nome de seu negociador inglês, ou tratado dos Panos e Vinhos. Na época, satisfazia os interesses dos grupos dominantes mas teria como consequência a paralisação da industrialização em Portugal, canalizando para a Inglaterra o ouro que acabava de ser descoberto no Brasil. No nordeste brasileiro se encontrava a pecuária, tão importante para o domínio do interior, já que eram proibidos rebanhos de gado nas fazendas litorâneas, cuja terra de massapê era ideal para o açúcar. Estuda-se bem o açúcar no item dedicado à invasão holandesa. A conquista do sertão, povoado por diversos grupos indígenas foi lenta e se deveu muito à pecuária (o gado avançou ao longo dos vales dos rios) e, muito mais tarde, às expedições dos Bandeirantes que vinham prear índios para levar para São Paulo. No final do século XVII foi descoberto, pelos bandeirantes paulistas, ouro nos ribeiros das terras que pertenciam à capitania de São Paulo e mais tarde ficaram conhecidas como Minas Gerais. Descobriram-se depois, no final da década de 1720, diamante e outras gemas preciosas. Esgotou-se o ouro abundante nos ribeirões, que passou a ser mais penosamente buscado em veios dentro da terra. Apareceram metais preciosos em Goiás e no Mato Grosso, no século XVIII. A Coroa cobrava, como tributo, um quinto de todo o minério extraído, o que passou a ser conhecido como "o quinto". Os desvios e o tráfico de ouro, no entanto, eram frequentes. Para coibi-los, a Coroa instituiu toda uma burocracia e mecanismos de controle. Quando a soma de impostos pagos não atingia uma cota mínima estabelecida, os colonos deveriam entregar jóias e bens pessoais até completar o valor estipulado (episódios chamados de derramas).
O período que ficou conhecido como Ciclo do Ouro iria permitir a criação de um mercado interno, já que havia demanda por todo tipo de produtos para o povoamento das Minas Gerais. Era preciso levar, Serra da Mantiqueira acima, escravos e ferramentas, ou, rio São Francisco abaixo, os rebanhos de gado para alimentar a verdadeira multidão que para lá acorreu. A população de Minas Gerais rapidamente se tornou a maior do Brasil, sendo a única capitania do interior do Brasil com grande população. A essa época maioria da população de Minas Gerais, aproximadamente 78%, era formada por negros e mestiços. A população branca era formada em grande parte por cristãos-novos vindos do norte de Portugal e das Ilhas dos Açores e Madeira. Os cristãos novos foram muito importantes no comércio colonial e se concentraram especialmente nos povoados em volta de Ouro Preto e Mariana. Ao contrário do que se pensava na Capitania do Ouro a riqueza não era mais bem distribuída do que em outras partes do Brasil. Hoje se sabe que foram poucos os beneficiados no solo mais rico da América no século XVIII. As condições de vida dos escravizados na região mineira eram particularmente difíceis. Eles trabalhavam o dia inteiro em pé, com as costas curvadas e com as pernas mergulhadas na água. Ou então em túneis cavados nos morros, onde era comum ocorrerem desabamentos e mortes. Os negros escravizados não realizavam apenas tarefas ligadas à mineração. Também transportavam mercadorias e pessoas, construíam estradas, casas e chafarizes, comerciavam pelas ruas e lavras. Alguns proprietários alugavam seus escravos a outras pessoas. Esses trabalhadores eram chamados de "escravos de aluguel". Outro tipo de escravo era o "escravo de ganho", por exemplo, as mulheres que vendiam doces e salgados em tabuleiros pelas ruas. Foi relativamente comum este tipo de escravo conseguir formar um pecúlio, que empregava na compra de sua liberdade, pagando ao senhor por sua alforria.
O Brasil passou por sensíveis transformações em função da mineração. Um novo pólo económico cresceu no Sudeste, relações comerciais inter-regionais se desenvolveram, criando um mercado interno e fazendo surgir uma vida social essencialmente urbana. A camada média, composta por padres, burocratas, artesãos, militares, mascates e faisqueiros, ocupou espaço na sociedade. A população mineira, salvo nos principais centros Vila Rica, Mariana, Sabará, Serro e Caeté, era essencialmente pobre. O custo de vida altíssimo e a falta de géneros alimentícios uma constante.
Cidade de Mariana, Minas Gerais. As minas propiciaram uma diversificação relativa dos serviços e ofícios, tais como comerciantes, artesãos, advogados, médicos, mestres-escolas entre outros. No entanto foi intensamente esclavagista, desenvolvendo a sociedade urbana às custas da exploração da mão de obra escrava. A mineração também provocou o aumento do controle do comércio de escravos para evitar o esvaziamento da força de trabalho das lavouras, já que os escravos eram os únicos que trabalhavam. Os escravos mais hábeis para a mineração eram os "Minas" trazidos da Costa ocidental africana, onde eram mineradores de ouro, e saídos do porto de Elmina, em Gana, onde ficavam no Castelo de São Jorge da Mina. Foi muito comum a fuga de escravos e a formação de muitos quilombos em Minas Gerais, sendo o mais importante foi o "Quilombo do Ambrósio". Também foi responsável pela tentativa de escravização dos índios, através das bandeiras, que com intuito de abastecer a região centro-sul promoveu a interiorização do Brasil. Apesar de modificar a estrutura económica, manteve a estrutura de trabalho vigente, beneficiando apenas os ricos e os homens livres que compunham a camada média. Outro factor negativo foi a falta de desenvolvimento de tecnologias que permitissem a exploração de minas em maior profundidade, o que estenderia o período de exploração (e consequentemente mais ouro para Portugal). Assim, o eixo económico e político se deslocou para o centro-sul da colônia e o Rio de Janeiro tornou-se sede administrativa, além de ser o porto por onde as frotas do rei de Portugal iam recolher os impostos. A cidade foi descrita pelo padre José de Anchieta como "a rainha das províncias e o empório das riquezas do mundo", e por séculos foi a capital do Brasil.
Amador Bueno é aclamado "Rei do Brasil" em 1641. O início da colonização portuguesa no território brasileiro foi a primeira invasão estrangeira da história do país, então denominado pelos nativos tupis como Pindorama, que significa "Terra das Palmeiras". A resposta imediata foi de longos embates, entre eles a Guerra dos Bárbaros. Houve ainda disputas com os franceses, que tentavam se implantar na América pela pirataria e pelo comércio do Pau-Brasil, chegando a criar uma guerra luso-francesa. Tudo isso culminou com a expulsão dos franceses trazidos por Nicolas Durand de Villegagnon, que haviam construído Forte Coligny no Rio de Janeiro, estabelecendo-se em definitivo a hegemonia portuguesa. A época colonial foi marcada por vários conflitos, tanto entre portugueses e outros europeus, e europeus contra nativos, como entre os próprios colonos. O maior deles, sem dúvida, foi a Guerra contra os Holandeses (ou Guerras Holandesas, de 1630 a 1647, na Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. A insatisfação com a administração colonial provocou a Revolta de Amador Bueno em São Paulo e, no Maranhão, a Revolta de Beckman. Os colonos enchiam os navios que aportavam no Brasil, esvaziando o reino, e foram apelidados "emboabas" porque andavam calçados contra a maioria da população, que andava descalça. Contra eles se levantaram os paulistas, nas refregas do início do século XVIII que ficariam conhecidas como Guerra dos Emboabas e paulistas e ensanguentaram o rio que até hoje se chama Rio das Mortes. As Guerras Guaraníticas duraram, intermitentemente, de 1750 a 1757. Já com o Ciclo do Ouro, a capitania de Minas Gerais sofreu a Revolta de Filipe dos Santos e a Inconfidência Mineira (1789), seguida pela Conjuração Baiana em Salvador dez anos mais tarde. Esses dois grandes movimentos ficaram marcados por terem a intenção de proclamar a independência. A Inconfidência Mineira foi um movimento que partiu da elite de Minas Gerais. Com a decadência da mineração na segunda metade do século XVIII, tornou-se difícil pagar os impostos exigidos pela Coroa Portuguesa. Além do mais, o governo português pretendia promulgar a derrama, um imposto que exigia que toda a população, inclusive quem não fosse minerador, contribuísse com a arrecadação de 20% do valor do ouro retirado. Os colonos se revoltaram e passaram a conspirar contra Portugal.
Em Vila Rica (atual Ouro Preto), participavam do grupo, entre outros, os poetas Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga, os coronéis Domingos de Abreu Vieira e Francisco Antônio de Oliveira Lopes, o padre Rolim, o cónego Luís Vieira da Silva, o minerador Inácio José de Alvarenga Peixoto e alferes Joaquim José da Silva Xavier, apelidado Tiradentes. A conspiração pretendia eliminar a dominação portuguesa e criar um país livre. Pela lei portuguesa a conspiração foi classificada como "crime de lesa-majestade", definida como "uma traição contra a pessoa do rei" nas ordenações afonsinas. A forma de governo escolhida foi o estabelecimento de uma República, inspirados pelas ideias iluministas da França e da recente independência norte-americana. Traídos por Joaquim Silvério dos Reis, que delatou os inconfidentes para o governo, os líderes do movimento foram detidos e enviados para o Rio de Janeiro, onde responderam pelo crime de inconfidência (falta de fidelidade ao rei), pelo qual foram condenados. Em 21 de abril de 1792, Tiradentes, de mais baixa condição social, foi o único condenado à morte por enforcamento. Sua cabeça foi cortada e levada para Vila Rica. O corpo foi esquartejado e espalhado pelos caminhos de Minas Gerais. Era o cruel exemplo que ficava para qualquer outra tentativa de questionar o poder de Portugal. Apesar de considerada cruel hoje o enforcamento e esquartejamento do corpo, no contexto da época a pena foi menos cruel que a pena aplicada, naquela mesma época, à família Távora, no Caso Távora, por igual crime de lesa-majestade, foi condenação à fogueira. O crime de lesa-majestade era o mais grave dos regimes monarquistas absolutistas e era definido pelas ordenações filipinas, como traição contra o rei. Crime este, comparado à hanseníase pelas Ordenações filipinas, no livro V, item 6:
“Lesa-majestade
quer dizer traição cometida contra a pessoa do Rei, ou seu Real Estado, que é
tão grave e abominável crime, e que os antigos Sabedores tanto estranharam, que
o comparavam à lepra; porque assim como esta enfermidade enche todo o corpo,
sem nunca mais se poder curar, e empece ainda aos descendentes de quem a tem, e
aos que ele conversam, pelo que é apartado da comunicação da gente: assim o
erro de traição condena o que a comete, e empece e infama os que de sua linha
descendem, posto que não tenham culpa.”
O caso específico de crime de lesa-majestade praticado pelos inconfidentes foi o caso número 5, previsto nas ordenações filipinas, que diz: Se algum fizesse conselho e confederação contra o rei e seu estado ou tratasse de se levantar contra ele, ou para isso desse ajuda, conselho e favor. A Conjuração Baiana foi um movimento que partiu da camada humilde da sociedade da Bahia, com grande participação de negros, mulatos e alfaiates, por isso também é conhecida como Revolta dos Alfaiates. Os revoltosos pregavam a libertação dos escravos, a instauração de um governo igualitário (onde as pessoas fossem promovidas de acordo com a capacidade e merecimento individuais), além da instalação de uma República na Bahia. Em 12 de Agosto de 1798, o movimento precipitou-se quando alguns de seus membros, distribuindo os panfletos na porta das igrejas e colando-os nas esquinas da cidade, alertaram as autoridades que, de pronto, reagiram, detendo-os. Tal como na Inconfidência Mineira, interrogados, acabaram delatando os demais envolvidos. Centenas de pessoas foram denunciadas - militares, clérigos, funcionários públicos e pessoas de todas as classes sociais. Destas, 49 foram detidas, a maioria tendo procurado abjurar a sua participação, buscando demonstrar inocência. Mais de 30 foram presos e processados. Quatro participantes foram condenados à forca e os restos de seus corpos foram espalhados pela Bahia para assustar a população. O Principado do Brasil durou entre 1645 a 1816. Tendo sido o Brasil uma colónia do Império Português, careceu de bandeira própria por mais de trezentos anos. Não era costume, na tradição vexilologia lusitana, a criação de bandeiras para suas colónias, quando muito de um brasão. Hasteava-se no território a bandeira do reino, ou do representante directo do monarca, como o governador-geral ou o vice-rei. Ainda que não seja considerada uma bandeira brasileira, visto que seu uso era exclusivo aos herdeiros aparentes do trono português, o pavilhão dos príncipes do Brasil pode ser tido como a primeira representação flamular do Brasil. Sobre campo branco (cor relacionada à monarquia) inscreve-se uma esfera armilar – objecto que viria a ser, por muito tempo, o símbolo do Brasil. Já no pavilhão pessoal de D. Manuel I, aparece este que foi um objecto crucial para viabilizar as explorações marítimas de Portugal. Em Novembro de 1807, as tropas de Napoleão Bonaparte obrigaram a coroa portuguesa a procurar abrigo no Brasil. Dom João VI (então Príncipe-Regente em nome de sua mãe, a Rainha Maria I) chegou ao Rio de Janeiro em 1808, abandonando Portugal após uma aliança defensiva feita com a Inglaterra, que escoltou os navios portugueses no caminho.
Os portos brasileiros foram abertos às nações amigas (designadamente, a Inglaterra). A abertura dos portos se deu em 28 de janeiro de 1808 por outra carta régia de D. João, influenciado por José da Silva Lisboa. Foi permitida a importação "de todos e quaisquer géneros, fazendas e mercadorias transportadas em navios estrangeiros das potências que se conservavam em paz e harmonia com a Real Coroa" ou em navios portugueses. Os géneros molhados (vinho, aguardente, azeite) pagariam 48%; outras mercadorias, os secos, 24% ad valorem. Podia ser levado pelos estrangeiros qualquer produto colonial, excepto o pau-brasil e outros notoriamente estancados, que eram produzidos e armazenados na própria colônia. Era efeito também da expansão do capital; e deve-se recordar a falência dos recursos coactores portugueses e a tentativa de diminuir, abrindo os portos, a total dependência de Portugal da Inglaterra. No Reino, desanimaram os que se haviam habituado aos generosos subsídios, às 100 arrobas de ouro anuais, às derramas, às tentativas de controlo completo. Um autor português do século XIX comenta que foi;
"(…)
uma revolução no sistema comercial e a ruína da indústria portuguesa; era
necessária, mas cumpria modificá-la apenas as circunstâncias que a haviam ditado
desaparecessem; ajudando assim o heróico Portugal em seu esforço generoso, em
vez de deixar que estancassem as fontes da prosperidade!"
Embarque para o Brasil do Príncipe Regente de Portugal, D. João VI, e de toda a família real, no Porto de Belém, às 11 horas da manhã de 27 de Novembro de 1807. D. João, sua família e comitiva (a Corte), distribuídos por diversos navios, chegaram ao Rio de Janeiro em 7 de março de 1808. Foram acompanhados pela Brigada Real da Marinha, criada em Portugal em 1797, que deu origem ao Corpo de Fuzileiros Navais brasileiros. Instalaram-se no Paço da Cidade, construído em 1743 pelo Conde de Bobadela como residência dos governadores. Além disso, a Coroa requisitou o Convento do Carmo e a Cadeia Velha para alojar os serviçais e as melhores casas particulares. A expropriação era feita pelo carimbo das iniciais PR, de Príncipe-Regente, nas portas das casas requisitadas, o que fazia o povo, com ironia, interpretar a sigla como "Ponha-se na Rua!". A abertura foi acompanhada por uma série de melhoramentos introduzidos no Brasil. No dia 1 de abril do mesmo ano, D. João expediu um decreto que revogava o alvará de 5 de janeiro de 1785 pelo qual se extinguiam no Brasil as fábricas e manufacturas de ouro, prata, seda, algodão, linho e lã. Depois do comércio, chegava "a liberdade para a indústria". Em 13 de maio, novas cartas régias (decretos) determinaram a criação da Imprensa Nacional e de uma Fábrica de Pólvora, que até então era fabricada na Fábrica da Pólvora de Barcarena, desde 1540. Em 12 de Outubro foi fundado o Banco do Brasil para financiar as novas iniciativas e empreitadas. Tais medidas do Príncipe fariam com que se pudesse contar nesta época os primórdios da independência do Brasil. Em represália à França, D. João ordenou ainda a invasão e anexação da Guiana Francesa, no extremo norte, e da banda oriental do rio Uruguai, no extremo sul, já que a Espanha estava então sob o reinado de José Bonaparte, irmão de Napoleão, e portanto era considerada inimiga. O primeiro território foi devolvido à soberania francesa em1817, mas o Uruguai foi mantido incorporado ao Brasil sob o nome de Província Cisplatina. Em 9 de Fevereiro de 1810, no Rio de Janeiro, foi assinado um Tratado de Amizade e comércio pelo Príncipe Regente com Jorge III, rei da Inglaterra. Enquanto isso, na Espanha, os liberais, ainda acostumados com certa liberdade económica imposta por Napoleão enquanto ocupara o país, de 1807 a 1810, se revoltaram contra os restauradores Bourbon, dinastia à qual pertencia a Carlota Joaquina, esposa de D. João, e impuseram-lhes a Constituição de Cádiz em 19 de março de 1812. Em reacção, o rei Fernando VII, irmão de Carlota, dissolveu as cortes em 4 de maio de 1814. A resposta viria em 1820 com a vitória da Revolução Liberal (ou constitucional). Por isso, D. João e seus ministros se ocuparam das questões do Vice-Reinado do Rio da Prata, tão logo puseram os pés no Rio de Janeiro, surgindo assim a questão da incorporação da Cisplatina.
É importante lembrar que apesar de ser elevado a Principado em 1645, tendo sido o Brasil uma colônia do Império Português, careceu de bandeira própria por mais de trezentos anos. Não era costume, na tradição vexilologia lusitana, a criação de bandeiras para suas colónias, quando muito de um brasão. Visto que seu o título uso era exclusivo aos herdeiros aparentes do trono português, o pavilhão dos príncipes do Brasil pode ser tido como a primeira representação flamular do Brasil. Sobre campo branco (cor relacionada à monarquia) inscreve-se uma esfera armilar – objecto que viria a ser, por muito tempo, o símbolo do Brasil. Já no pavilhão pessoal de D. Manuel I, aparece este que foi um objecto crucial para viabilizar as explorações marítimas de Portugal. Contudo, como Principado, não possui nenhum privilégio administrativo, militar, económico ou social, pois ainda era visto como uma colônia portuguesa. Brasão do Vice Reino do Brasil, de 1815. No contexto das negociações do Congresso de Viena, o Brasil foi elevado à condição de Reino dentro do Estado português, que assumiu a designação oficial de Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves em 16 de Dezembro de 1815. A carta de lei foi publicada na Gazeta do Rio de Janeiro de 10 de janeiro de 1816, oficializando o ato. O Rio de Janeiro, por conseguinte, subia à categoria de Corte e capital, as antigas capitanias passaram a ser denominadas províncias (hoje, os estados). No mesmo ano, a rainha Maria I morreu e D. João foi coroado rei como João VI. Deu ao Brasil como brasão-de-armas a esfera manuelina com as quinas, encontradas já no século anterior em moedas da África portuguesa (1770).
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