O
Livro das Plantas de todas as fortalezas, cidades e povoações do ‘Estado da
Índia Oriental’, popularmente referido apenas como Livro das Plantas de todas
as fortalezas, é um manuscrito seiscentista, fonte para o estudo da cartografia
e arquitectura militar do Estado Português da Índia, confeccionado em 1635.
Em
1632, no contexto da Dinastia Filipina, Filipe IV de Espanha ordenou ao então
Vice-rei do Estado da Índia, Dom Fernando de Noronha, 5º conde de Linhares, o
levantamento das fortalezas sob sua jurisdição na África Oriental, península
Arábica e Extremo Oriente. Este, por sua vez, em 1633, encarregou da tarefa ao
cronista oficial do Estado da Índia e Guarda-mor do Arquivo Real de Goa,
António Bocarro. O resultado foi o atlas conhecido como ‘Livro das Plantas de
todas as Fortalezas, Cidades e povoações do Estado da India Oriental’. Elaborado
em duas vias originais, o trabalho foi remetido para a Corte, em Lisboa, no
início de 1635. O texto era acompanhado por cinquenta e duas plantas de
fortalezas e cidades. Na
carta dedicatória que acompanhou os originais, transcrita por Barbosa Machado
(1741) de um exemplar que pesquisou na biblioteca do duque de Cadaval, Bocarro
refere as dificuldades que vivenciou para conseguir concluir o trabalho,
dificuldades essas a que atribui as imperfeições do mesmo. Entre elas, referiu
as exigências que se prendiam aos seus cargos, que o impediam de se deslocar e
examinar "muito
particularmente" cada uma das fortalezas ou povoações que descreveu.
Por essa razão vira-se forçado a recorrer às informações solicitadas que lhe
foram chegando, as quais foi expurgando com todo o rigor, pelo que poderia o
soberano dar-lhes completo crédito. Porém, não garantia a mesma perfeição no
que respeitava às plantas que acompanhavam o texto. Embora
Bocarro não tenha nomeado o autor dos desenhos, conclui-se que foram executados
por Pedro Barreto de Resende, secretário do conde de Linhares, uma vez que o
próprio Resende assim o afirma, no início do códice ‘Descrições das Fortalezas
da Índia Oriental’, de sua autoria. Outras versões do manuscrito incluem o
‘Livro do Estado da Índia Oriental’ (c. 1636) pelo próprio Pedro Barreto de
Resende. Esta, por sua vez, foi utilizada como base por António de Maris Carneiro
na preparação da sua ‘Descrição da Fortaleza de Sofala’ (1639).
Estes desenhos são importantes do ponto de
vista histórico e iconográfico e, embora atraentes pela sua policromia,
tecnicamente apresentam limitado valor cartográfico, uma vez que lhes faltam
elementos essenciais como a escala e a orientação cardeal. O delineamento
mostra-se pouco cuidado, com proliferação dos símbolos da vegetação, grandes
proporções das casas e muros das fortalezas. Esses detalhes não escaparam a
Bocarro que, na sua carta-dedicatória lamentou a falta de orientação e escala.
Assegurando não ter obtido "as
plantas arrumadas e demarcadas e compassadas por petipé/ (escala) " e
lamentando a total ausência, no Estado da Índia, de pessoas "scientes nas ditas artes".
As
fortificações do Sudeste da Arábia registadas incluem os fortes de Soar (atual
Sohar), de Corfacão (atual Khor Fakkan), de Quelba (atual Khawr Kalba), de
Libédia (atual al-Bid'yya), de Madha (atual Murbah?) e de Doba (atual Dibba), o
mais importante da região, a julgar pela extensão de suas defesas, mas que não
sobreviveu até aos nossos dias. A relação passa deste último para a de Dio
(atual Diu) na costa ocidental da Índia.
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