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terça-feira, novembro 25, 2014

Livro das Plantas de Todas as Fortalezas - XVII


O Livro das Plantas de todas as fortalezas, cidades e povoações do ‘Estado da Índia Oriental’, popularmente referido apenas como Livro das Plantas de todas as fortalezas, é um manuscrito seiscentista, fonte para o estudo da cartografia e arquitectura militar do Estado Português da Índia, confeccionado em 1635.


Em 1632, no contexto da Dinastia Filipina, Filipe IV de Espanha ordenou ao então Vice-rei do Estado da Índia, Dom Fernando de Noronha, 5º conde de Linhares, o levantamento das fortalezas sob sua jurisdição na África Oriental, península Arábica e Extremo Oriente. Este, por sua vez, em 1633, encarregou da tarefa ao cronista oficial do Estado da Índia e Guarda-mor do Arquivo Real de Goa, António Bocarro. O resultado foi o atlas conhecido como ‘Livro das Plantas de todas as Fortalezas, Cidades e povoações do Estado da India Oriental’. Elaborado em duas vias originais, o trabalho foi remetido para a Corte, em Lisboa, no início de 1635. O texto era acompanhado por cinquenta e duas plantas de fortalezas e cidades. Na carta dedicatória que acompanhou os originais, transcrita por Barbosa Machado (1741) de um exemplar que pesquisou na biblioteca do duque de Cadaval, Bocarro refere as dificuldades que vivenciou para conseguir concluir o trabalho, dificuldades essas a que atribui as imperfeições do mesmo. Entre elas, referiu as exigências que se prendiam aos seus cargos, que o impediam de se deslocar e examinar "muito particularmente" cada uma das fortalezas ou povoações que descreveu. Por essa razão vira-se forçado a recorrer às informações solicitadas que lhe foram chegando, as quais foi expurgando com todo o rigor, pelo que poderia o soberano dar-lhes completo crédito. Porém, não garantia a mesma perfeição no que respeitava às plantas que acompanhavam o texto. Embora Bocarro não tenha nomeado o autor dos desenhos, conclui-se que foram executados por Pedro Barreto de Resende, secretário do conde de Linhares, uma vez que o próprio Resende assim o afirma, no início do códice ‘Descrições das Fortalezas da Índia Oriental’, de sua autoria. Outras versões do manuscrito incluem o ‘Livro do Estado da Índia Oriental’ (c. 1636) pelo próprio Pedro Barreto de Resende. Esta, por sua vez, foi utilizada como base por António de Maris Carneiro na preparação da sua ‘Descrição da Fortaleza de Sofala’ (1639).

A obra apresenta-se na forma de um álbum com 48 gravuras.








Estes desenhos são importantes do ponto de vista histórico e iconográfico e, embora atraentes pela sua policromia, tecnicamente apresentam limitado valor cartográfico, uma vez que lhes faltam elementos essenciais como a escala e a orientação cardeal. O delineamento mostra-se pouco cuidado, com proliferação dos símbolos da vegetação, grandes proporções das casas e muros das fortalezas. Esses detalhes não escaparam a Bocarro que, na sua carta-dedicatória lamentou a falta de orientação e escala. Assegurando não ter obtido "as plantas arrumadas e demarcadas e compassadas por petipé/ (escala) " e lamentando a total ausência, no Estado da Índia, de pessoas "scientes nas ditas artes".





As fortificações do Sudeste da Arábia registadas incluem os fortes de Soar (atual Sohar), de Corfacão (atual Khor Fakkan), de Quelba (atual Khawr Kalba), de Libédia (atual al-Bid'yya), de Madha (atual Murbah?) e de Doba (atual Dibba), o mais importante da região, a julgar pela extensão de suas defesas, mas que não sobreviveu até aos nossos dias. A relação passa deste último para a de Dio (atual Diu) na costa ocidental da Índia.



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