Lepanto - 07 de Outubro de 1571
I
- Contextualização Histórica
A História é testemunha de que a lenta decadência do poderio naval dos otomanos começou com a jornada de Lepanto.
Principal Inimigo:
Decadência da Cristandade, com o Renascimento. Problemas internos, com o Protestantismo em 1527, que levara a Inglaterra do Rei Henrique VIII, e estava corroendo a Alemanha e a França. Cobiça dos Reis Católicos influenciados pelo humanismo, que já não eram movidos pelo zelo da Fé e adesão à Igreja, chegando a fazer alianças com os próprios muçulmanos para garantir seus interesses particulares.
1º)
1453 - Queda de Constantinopla.
2º)
Domínio da Pérsia e do Egipto com o Sultão Selim I.
3º)
Queda de Rhodes em 1522 (forçando a Ordem de São João de Jerusalém a ir para a
ilha de Malta).
4º)
O Sultão Solimão II, chamado o ‘Magnífico’, sucessor de Selim I, ocupava
Belgrado e atacava, através de Barbarroxa, temível corsário, várias cidades que
estavam sobre a tutela da ‘Sereníssima República de Veneza’: Clissa, Prevesa,
Castelnuovo, e as ilhas mais ao sul, próximas à Grécia.
Isso sem falar dos ataques em outras regiões e das alianças com Reis Católicos contra outros Reis Católicos, fruto da decadência da cristandade.
5º)
Seu desejo era de invadir Roma e entrar a cavalo na Basílica de São Pedro.
Outras
Datas:
2º)
A Invencível Armada em 1587 - Derrota dos Espanhóis e Portugueses para os
Ingleses.
II – Início da Reacção Católica
O Ano de 1565 - Vitória da Ordem de São João de Jerusalém (chamada de ‘escorpiões do mediterrâneo’ pelos infiéis – atualmente é conhecida como ‘Soberana Ordem Militar e Hospitalar de Malta’) sobre os otomanos, quando estes tentaram invadir a ilha de Malta, ao sul da Sicília. Os muçulmanos perderam 30.000 homens e seu grande General: Dragut Reis.
Ano
de 1566 - Eleição do Papa São Pio V, ardia na alma do novo pontífice o desejo
de soerguer a Cristandade para um duplo combate: contra o protestantismo e
contra o adversário Otomano.
2º)
Escreveu carta ao ‘Grão-Mestre da Ordem de São João de Jerusalém’, que
tencionava abandonar a ilha diante da iminente vitória dos turcos, para que não
abandonasse seu posto:
“Ponde
de lado a ideia de abandonar a ilha. Vossa simples presença em Malta inflamará
a coragem dos cristãos e imporá respeito ao Otomano, pelo terror do nome que o
fulminou no ano passado. Sabei que ele teme vossa pessoa mais que todos os
vossos soldados reunidos”. La Valette, Grão-Mestre, leu a carta do Papa diante
do Conselho da Ordem, beijou respeitosamente o documento pontifício e depois o
solo da ilha, e exclamou: “A voz de vosso
vigário, ó Jesus, indica o meu dever. Ficaremos aqui, e aqui morreremos”.
III – Formação da Liga da Cristandade
1º)
Queda da cidade de Quios, no arquipélago jónico, e da cidade de Szigethvar, na
Hungria, com o consequente, avanço do Império Otomano.
2º)
Morte do Sultão Solimão II, sucedido por seu filho Selim II, conhecidamente
mole e sensual.
3º)
Optimismo nos católicos, não acharam necessário a Liga, visto que Selim II não
representava um grande inimigo, apesar dos apelos do Papa. Em sentido
contrário.
4º)
Em Dezembro do mesmo ano, 1566, São Pio V dirige às nações católicas novo brado
de alarma e o convite a se unirem numa Liga em defesa da Cristandade. Ninguém
quer ouvi-lo, pois estão ocupados com seus problemas internos.
5º)
Três anos de espera
Selim II Ameaça Veneza:
1º) Em fins de 1569 chegava a Constantinopla a notícia de que o arsenal veneziano fora destruído pelo fogo e, devido a uma má colheita, a Península toda estava ameaçada pela fome.
2º)
O Sultão Selim II rompe a paz e envia um ultimatum: ou Veneza entregava uma de
suas possessões preferidas, Chipre, ou era a guerra. Veneza pede auxílio, mas
não quer a aliança com a Espanha, apenas a mediação do Papa junto aos demais
Estados para conseguir dinheiro, tropas e mantimentos. A Espanha também não
quer a Liga, pois Veneza várias vezes fez alianças com os Turcos. O Papa São
Pio V intervém e exorta a Espanha a mandar uma esquadra poderosa para proteger
Malta e garantir a rota que levaria socorro à ilha de Chipre. A Liga entre
Espanha e Veneza deveria ter um carácter defensivo e ofensivo, e ajustar-se
para sempre ou, pelo menos, por um tempo determinado. Felipe II inicia
negociações, enviando embaixadores. O Papa São Pio V nomeia Marco António
Colonna (conhecido de Felipe II e de Veneza) como chefe da esquadra auxiliar
pontifícia.
Seis
Meses perdidos em negociações.
1º)
Sob a égide e mediação do Pontífice Romano, começaram as negociações. Com um
discurso inflamado, o Papa convocava a todos para uma nova cruzada.
2º)
Jogos de interesses. Os Espanhóis desconfiavam das intenções dos venezianos e
queriam cobrar mais caro pelos cereais. Os venezianos se diziam
impossibilitados de contribuir com mais de uma quarta parte dos gastos de
guerra, quando eram sobejamente conhecidas as possibilidades do tesouro da
Senhoria…
3º)
Apesar de seu temperamento fogoso, o Papa São Pio V intervinha com uma
paciência e cordura heróicas.
4º)
Sugestão de Dom João d’Áustria como Generalíssimo dos Exércitos Cristãos. Irmão
bastardo do Rei Felipe II, jovem de 24 anos e maneiras profundamente
aristocráticas que a todos impressionava.
5º)
Peste atacava a esquadra veneziana e os turcos atacavam a ilha de Chipre, a
qual caía depois de 48 dias de resistência heróica.
6º)
Desânimo na cristandade. Não seria melhor atacar separados mesmos?
7º)
O Papa São Pio V reclama e diz que a culpa é dos príncipes católicos, os quais
deviam arrepender-se de sua atitude antes que fosse tarde demais e só expiariam
sua falta se se resolvessem afinal a unir-se na defesa da causa da Cristandade.
8º)
Os turcos sitiavam Famagusta, ameaçavam Corfu e Ragusa.
9º)
O Núncio em Veneza, Facchinetti, anunciava, já em fevereiro de 1571, que se não
se finalizasse a Liga, havia o perigo de que Veneza pedisse a Paz e cedesse
Chipre, desfazendo a possibilidade de reagir contra os otomanos.
Forma-se a Liga. Em março chegaram, com diferença de apenas dois dias, a resposta do Rei da Espanha e do Doge de Veneza.
1º)
Superadas as pequenas desavenças restantes, forma-se a Liga, que devia ser
estável, ter um carácter defensivo e ofensivo, e dirigir-se não somente contra
o sultão, mas também contra seus Estados tributários, Argel, Túnis e Trípoli.
2º)
A tríplice aliança contaria com duzentas galeras, cem transportes, 50 mil
infantes espanhóis, italianos e alemães, 4.500 cavalos-ligeiros, e o número de
canhões necessários.
3º)
O Papa arcaria com a sexta parte dos gastos, a Espanha com três sextos e Veneza
com o resto.
4º)
O Sumo Pontífice publica um jubileu, toma parte nas procissões rogatórias e
manda cunhar uma medalha comemorativa.
IV – Preparativos para a Batalha
O
Papa São Pio V lembra a Dom João d’Áustria que ele ia combater pela Fé Católica
e de que por isso Deus lhe daria a vitória.
O Papa envia o estandarte da Liga:
Era de damasco de seda azul e ostentava a imagem do Crucificado, tendo aos pés as armas do
Papa, da Espanha, de Veneza e de Dom João.
1º)
Dom João recebeu o estandarte solenemente, das mãos do Cardeal Granvela, na
Igreja de Santa Clara, com a presença de muitos nobres, entre os quais os
Príncipes de Parma e de Urbino. “Toma,
ditoso Príncipe, disse-lhe o Cardeal, a insígnia do verdadeiro Verbo Humanado;
toma o sinal vivo da santa Fé, da qual és defensor nesta empresa, ele te dará
uma vitória gloriosa sobre o ímpio inimigo, e por tua mão será abatida sua
soberba. Amém!”.
Avanço
Turco. Angustiado com as notícias do avanço turco, São Pio V mandou uma carta a
Dom João exortando-o a zarpar para Messina. Dom João chega a Messina. De uma
formosura varonil, louro e de olhos azuis, no esplendor da juventude,
profundamente aristocrático, o filho do imperador causou enorme impressão em
Messina, onde foi recebido com júbilo indizível. Ardor da juventude de Dom João
soma-se à experiência dos oficiais. Três semanas de deliberações por alguns
desentendimentos. Uns queriam apenas a defesa, outros o ataque. O próprio Dom
João hesitou. O Núncio exorta ao combate em nome de São Pio V. O Núncio
‘Odescalchi’, que viera distribuir partículas do Santo Lenho para que houvesse
uma partícula em cada nau, comunicou ao Príncipe que o Pontífice lhe prometia
em nome de Deus a vitória, por cima de todos os cálculos humanos, e mandava
dizer que se a esquadra se deixasse derrotar “iria ele mesmo à guerra com seus cabelos brancos para vergonha dos
jovens indolentes”.
Medidas
morais de Dom João para preservar o ‘Carácter Sacral da Expedição’:
1º)
Proibiu a presença de mulheres a bordo.
2º)
Cominou pena de morte para as blasfémias.
3º)
Enquanto esperava o regresso de uma esquadrilha de reconhecimento, todos
jejuaram três dias e nenhum dos 81.000 marinheiros e soldados deixou de
confessar-se e comungar, o mesmo fazendo os condenados que remavam nas galeras.
Saída de Messina a caminho da guerra. Nos dias 15 e 16 de Setembro o espectáculo
foi deslumbrante. As naus começaram a mover-se duas a duas, encimadas por
bandeiras cujas cores as distinguiam segundo a posição que assumiriam na
batalha. À frente tremulavam as bandeiras verdes de Andrea Doria, o comandante
dos espanhóis. Em seguida vinha a batalha, ou centro, com suas bandeiras azuis,
e o gonfalão de ‘Nossa Senhora de Guadalupe’ sobre a Nau de Dom João d’Áustria.
Os estandartes do Papa e da Liga ficaram guardados para o momento do embate. À
direita da batalha vinha Marco António Colonna na nau-capitânia do Papa, à
esquerda, o veneziano Sebastião Veniero, grande conhecedor das lides do mar,
com seus setenta anos vigorosos, altivamente em pé na Proa de sua nau. A
divisão de Veneza, comandada pelo nobre Barbarigo, seguia atrás, com bandeiras
amarelas, as bandeiras brancas de Dom Álvaro de Bazán, Marquês de Santa Cruz,
fechavam aquele imponente cortejo naval. O Núncio papal dava a bênção a cada
barco que passava com seus cruzados piedosamente ajoelhados.
V - Em Direção à Batalha
Sinais
da passagem dos turcos:
Restos carbonizados de igrejas e casas, objectos de culto profanados, corpos dilacerados de Sacerdotes, mulheres e crianças covardemente assassinados.
Inconformidade
católica
Localização
da esquadra inimiga:
Lepanto,
porto localizado pouco mais ao sul, no estreito de igual nome, o qual liga o
Golfo de Patras ao de Corinto.
A 6 de Outubro, notícia de que Famagusta, capital de Chipre, caíra em poder do Crescente e que o General Mustafá cometera as piores atrocidades com o comandante da praça, Marco Antonio Bragadino, a quem mandara esfolar vivo e cuja pele, cheia de palha, fizera conduzir por toda a cidade. Cresce a inconformidade católica e o desejo de combater os infiéis. Céu cinzento e cheio de névoa, vento que detinha os católicos e puxava os otomanos para fora do estreito de Lepanto, facilitando o combate. 7 de Outubro, domingo, duas horas da madrugada, um vento fresco vindo do poente limpou o céu, prometendo um dia ensolarado. Antes do amanhecer as naus católicas levantaram âncoras e adentraram no estreito de Lepanto. Levanta-se a bandeira que sinaliza a presença do inimigo. Ordem para formar para a batalha. Troar de canhão. Içado o estandarte da Liga no mastro mais alto da Galera-Capitânia. “Aqui venceremos ou morreremos”, bradou Dom João.
VI – Formação para o Combate
A
esquadra católica procurou-se estender o quanto pôde, desde o litoral etólio
até o alto mar. Dom João comandava o centro, ladeado por Dom Colonna e Dom Veniero, o
catalão Dom Roqueséns vinha um pouco mais atrás. A esquadra espanhola de Andrea
Doria, com 60 naus, formava a ala direita, em direção ao mar alto. As 35
embarcações, do Marquês de Santa Cruz aguardava ordens à retaguarda, para uma
eventual intervenção.
O
Almirante Ali-Pachá também dispôs sua esquadra para o combate
1º) O Generalíssimo Turco parecia querer investir resolutamente pelo centro e ao mesmo tempo envolver os cristãos, aproveitando-se da sua superioridade numérica sobre estes (286 naus contra 208). O Vento soprava de leste, favorável aos infiéis, enquanto os católicos tinham que se mover à força de remos. 4 horas, até que as duas armadas estivessem prontas para o combate. O vento amainara.
“Não é mais hora de falar, mas de lutar”, respondeu Dom João a Doria, que queria propor um ‘Conselho de Guerra’ e discutir se convinha ou não dar combate a um inimigo numericamente superior. Conselho prudente de Doria indicando que cortasse o enorme esporão que pesava na proa das galeras. Passagem em revista às tropas. O comandante supremo apresentou-se aos nobres e à tripulação de cada nau levando na mão um crucifixo, e conclamando com ardor para o lance iminente: “Este é o dia em que a Cristandade deve mostrar seu poder, para aniquilar esta seita maldita e obter uma vitória sem precedentes”. E, mais adiante: “É pela vontade de Deus que viestes todos até aqui, para castigar o furor e a maldade destes cães bárbaros, todos cuidem de cumprir seu dever. Ponde vossa esperança unicamente no Deus dos Exércitos, que rege e governa o mundo universo”. A, outros dizia: “Lembrai-vos de que combateis pela Fé: nenhum poltrão ganhará o Céu”. Distribuía escapulários, medalhas e rosários. O inimigo cantava com suas cornetas, vociferações, címbalos e cimitarras. Diziam: “Esses cristãos vieram como um rebanho para que os degolemos”. A ordem dada por Ali-Pachá era de não fazer prisioneiros. O Príncipe Dom João ajoelha e reza. Todos os seus homens fazem o mesmo. No meio de um silêncio grandioso os Religiosos davam a última bênção e a absolvição geral aos que iam expor-se à morte pela Fé.
VII
– A Batalha tem início
O
Almirante Otomano Ali-Pachá Reis dá o tiro de canhão para chamar os cristãos à
luta. Dom João aceita o desafio, respondendo com outro tiro. O Vento mudara
inesperadamente. O primeiro tiro que partira contra os infiéis lhes afundara
uma galera. Aos gritos de “vitória, vitória,
Viva Cristo!”, os cruzados lançaram-se com toda a energia na Batalha.
Estamos no dia 7 de Outubro de 1571. A ‘Batalha de Lepanto’, entre ‘Reinos Cristãos’ e os ‘Turcos’ foi a maior ‘Batalha Naval no Mediterrâneo’ depois da ‘Batalha de Actium’ em 31 Antes de Cristo. Dos cerca de 30.000 homens de armas que deveriam embarcar, dois terços eram pagos pela coroa dos Habsburgos e os restantes por Venezianos, Genoveses, Estados do Papa e Cavaleiros da Ordem de Malta. Depois de várias movimentações e após a esquadra se ter reunido em Messina, no estreito que separa a península itálica da Sicília, a frota dirige-se para oriente para enfrentar os Otomanos, que julgavam serem em menor numero. As duas frotas enfrentam-se na manhã do dia 7 de Outubro e cada uma delas divide-se em três grupos. O principal combate ocorre no grupo central, quando as forças turcas sob o comando de Ali Pasha Reis atacam directamente a engalanada Galera Real onde seguia Dom Juan de Áustria.
Ocorre, que a disposição da frota cristã, incluía um tipo de navio, construído nos arsenais de Veneza, o qual tinha sido mantido em segredo. Em frente da primeira linha central das forças de galeras cristãs, foram colocadas duas grandes Galeaças Venezianas.
Estes navios, tinham uma mobilidade reduzida, mas ao contrário das galeras, tinham um castelo de proa redondo equipado com nove canhões e ao mesmo tempo dispunham de seis canhões que permitiam disparar bordadas contra as galeras turcas. Quando a Frota Turca, segue a grande galera de Ali Pasha, que se atira contra o navio de Dom Juan de Áustria, sofre um intenso ataque de artilharia das enormes galeaças venezianas.
Quando os navios turcos e cristãos se engancham, vários ocorrem para ajudar no combate, tendo lugar praticamente um combate terrestre a bordo de vários navios encostados uns aos outros numa enorme confusão de fumo, sangue e pólvora.
Porém, os navios turcos que vão em socorro da galera de Ali Pasha, não conseguem chegar sem antes serem fortemente bombardeados pelas lentas e desajeitadas galeaças de Veneza, que embora desajeitadas contam com 40 canhões de vários tipos. Nestas condições as forças cristãs conseguem vantagem táctica, porque conseguem fazer chegar navios frescos au combate, enquanto os turcos não o conseguem fazer.
É assim afundado o Navio de Ali Pasha e o destino da batalha começa a tornar-se óbvio. Entretanto, as galeaças que tinham sido deixadas para trás, voltam lentamente para a refrega, utilizando o poder dos seus 40 canhões, para destruir ou danificar muitos dos navios turcos que entretanto se tinham desviado para norte.
As outras duas batalhas que ocorreram com as restantes divisões, também acabaram por ser favoráveis aos cristãos, mercê da superioridade da artilharia dos navios venezianos e da intervenção de uma pequena esquadra de reserva de cerca de 30 galeras comandadas por Dom Álvaro de Bazan.
A Batalha de Lepanto, foi a mais memorável vitória militar de Veneza, e o dia passou a ser feriado nacional. Ela marcou que também no Mediterrâneo, era o poder dos canhões de navios pesados que decidia o destino dos conflitos. Para a coroa dos Habsburgos, a batalha também foi um sucesso, mas os comandantes Hispânicos não conseguiram retirar nenhum tipo de lição da batalha, e concluíram que a batalha se ganhou por causa da capacidade dos seus navios transportarem homens em quantidade para vencer a refrega no mar, com infantaria e não por causa da artilharia.
Esse tremendo erro de análise, viria a assombrar o ‘Império dos Áustrias’, e acabaria por influenciar o resultado da batalha que haveria de ocorrer 17 anos depois, com aquela que ficou conhecida pelos britânicos como ‘Armada Invencível’.
Ao ter tirado conclusões erradas, os comandantes militares Hispânicos não entenderam que a realidade da guerra naval tinha efectivamente mudado. Essa falha e o erro nas conclusões tiradas permitem afirmar que embora com uma vitória, é em Lepanto, que começa o longo declínio ‘Naval do Império dos Habsburgos Espanhóis’.
As
perdas dos infiéis tinham sido enormes:
De
30 a 40 mil mortos, 8 a 10 mil prisioneiros (entre os quais dois filhos de
Ali-Pachá e quarenta outros membros das famílias principais do império), 120
galeras apresadas e cinquenta postas a pique ou incendiadas, numerosas
bandeiras e grande parte da artilharia em poder dos vencedores. Doze mil
cristãos escravizados alcançaram a liberdade.
A
Liga perdeu doze galeras e teve menos de 8 mil mortos
Soube-se
depois que, no maior fragor da batalha, os soldados de Mafona tinham avistado
acima dos mais altos mastros da esquadra católica, uma Senhora que os aterrava
com seu aspecto majestoso e ameaçador.
VIII – A Visão do Papa São Pio V
1º)
Redobrara de orações e jejuns pela vitória e instava para que Monges, Cardeais
e fiéis rezassem e jejuassem na mesma intenção.
2º)
Confiava na eficácia do Rosário
No
dia 7 de Outubro ele trabalhava com seu Tesoureiro, Donato Cesi, o qual lhe
expunha problemas financeiros. De repente, separou-se de seu interlocutor,
abriu uma janela e entrou em êxtase. Logo depois voltou-se para o Tesoureiro e
disse-lhe: “Ide com Deus. Agora não é
hora de negócios, mas sim de dar graças a Jesus Cristo, pois nossa esquadra
acaba de vencer”. E dirigiu-se à sua capela. Chegam
as notícias duas semanas depois. Na noite do dia 21 para 22 de Outubro o Cardeal
Rusticucci acordou o Papa para confirmar a visão que ele tinha tido. Num pranto
varonil, São Pio V repetiu as palavras do velho Simeão: “Nunc dimitis servum tuum, Domine, in pace” (Luc. 2, 29). No dia
seguinte é proclamada a feliz notícia em São Pedro, após uma procissão e um
solene “Te Deum”. Dom João d’Áustria (Houve
um homem enviado por Deus, cujo nome era João (Jo. 1, 6). Palavras de São Pio V
sobre Dom João d’Áustria).
IX
– Vitória da Virgem
O dia 7 de Outubro ficava consagrado a Nossa Senhora da Vitória, e mais tarde ao Santo Rosário. Na Ladainha Lauretana era acrescentada a invocação que nascera pela “vox populi” no momento da grande proeza: “Auxilium Christianorum”. Capelas com a invocação de Nossa Senhora das Vitórias começaram a surgir na Espanha e na Itália. O Senado veneziano pôs debaixo do quadro que representava a batalha a seguinte frase: “Non virtus, non arma, non duces, sed Maria Rosarii Victores nos fecit”. - “Nem as tropas, nem as armas, nem os comandantes, mas a Virgem Maria do Rosário é que nos deu a vitória“. Génova e outras cidades mandaram pintar em suas portas a efígie da Virgem do Rosário.
X – Plano do Papa São Pio V e sua morte
Seus
Planos após a “maior vitória jamais
obtida contra os infiéis”:
1º)
Promover uma confederação europeia e obter o concurso de certos régulos
maometanos rivais do Sultão, para expulsar da Europa o Crescente
2º)
Investir contra Constantinopla
3º)
Retomar o Santo Sepulcro
4º)
Aniquilar definitivamente o perigo muçulmano.
A 1º de maio de 1572, morre São Pio V. A providência o poupou de ver que a vitória de Lepanto, depois de salvar a cristandade, ficaria sem consequências estratégicas e políticas imediatas. O último ato de governo de São Pio V consistiu em entregar a seu Tesoureiro um pequeno cofre com 13 mil escudos, dos quais costumava fazer suas esmolas particulares, dizendo-lhe: “Isto prestará bons serviços à guerra da Liga”. A Liga se desfez, o Rei da França propôs ao Sultão Otomano uma aliança contra a Espanha…
Galeaça Veneziana
A Galeaça veneziana foi o resultado da combinação de grandes navios de transportes a remos, que entretanto tinham deixado de ser economicamente viáveis com o aparecimento de maiores navios à vela. O navio tem a sua origem no início do século XVI e existiram desde 1530, planos tornados oficiais através de decreto, que determinavam a forma de construção destes navios e a constituição da sua tripulação.
Com 25 remos de cada lado, sendo cada remo movido por cinco remadores, o navio tinha ainda 300 homens de guerra (infantaria), 70 marinheiros para as funções gerais de navegação além claro dos remadores, o que totalizava 620 homens no total. A ideia era a de construir um grande navio que tivesse a mobilidade dos remos, que lhe permitia mover-se mesmo sem vento. Ao mesmo tempo o navio poderia transportar maior número de canhões, pois a reduzida capacidade de fogo era a principal desvantagem das grandes galeras quando os canhões passaram a ser a principal arma naval.
Assim, numa plataforma por cima dos remadores, estavam colocados seis canhões de cada lado que permitiam à galeaça disparar lateralmente, enquanto as galeras normais só podiam utilizar os seus canhões de proa. Adicionalmente, os venezianos colocaram nas suas galeaças uma torre de proa redonda, onde colocavam nove canhões que podiam disparar em qualquer direcção. A Galeaça dispunha assim de 21 canhões de maior calibre contra apenas 3 dos navios turcos e a esses 21 canhões somavam-se mais 20 canhões de pequeno calibre, colocados em pequenos suportes, utilizados normalmente como arma antipessoal e não para destruir os navios inimigos.
Este tipo de navio foi utilizado na Batalha de Lepanto e o seu poder de fogo e mobilidade fez com que fossem colocados na primeira linha da armada da ‘Santa Liga’, tendo funcionado como uma espécie de arma secreta de Veneza. No entanto, embora poderoso, este tipo de navio não podia aproveitar a vantagem da sua mastreação latina, pelo que embora teoricamente pudesse navegar contra o vento, o facto de os remos estarem bastante baixos, fazia com que não pudesse aproveitar os ventos navegando ‘à bolina’, o que implicaria uma grande inclinação do navio e inevitavelmente a entrada de grandes quantidades de água. Não obstante, as galeaças continuaram a ser consideradas navios poderosos e valiosos nas ‘Linhas de Batalha’. Os Reinos mediterrânicos da Coroa de Aragão, como a Catalunha e Nápoles copiaram este tipo de navio e outros países como a França, construíram posteriormente Galeaças mesmo até ao século XVIII, altura em que ainda havia galeaças no Mediterrâneo.