A
Casa da Índia, foi uma organização portuguesa, criada por volta de 1503, em Lisboa
para administrar os territórios portugueses além-mar, assim como todos os
aspectos do comércio externo, navegação, desembarque e venda de mercadorias. Assegurava
o monopólio régio da navegação e comércio do Império português desenvolvido na
sequência dos descobrimentos do século XVI. Funcionava como feitoria, alfândega
e arquivo central, sendo a mais importante instituição económica de Portugal na
época. Entre 1503 e 1755 esteve sedeada no Paço da Ribeira, em Lisboa (atual
Praça do Comércio).
Os precursores da Casa da Índia surgiram para administrar
as oportunidades comerciais resultantes da exploração portuguesa do litoral
Africano. Em 1434 foi fundada em Lisboa a "Casa de Ceuta", que não
foi bem-sucedida pois os comerciantes muçulmanos desviaram as rotas comerciais
de Ceuta para outros locais. Em 1445 em Lagos, no Algarve, seguiram-se a Casa
de Arguim e a "Casa da Guiné", para desenvolver o comércio com a
África ocidental, no âmbito da Companhia de Lagos. Em 1460, após a morte do
Infante Dom Henrique ambas as casas foram transferidas para Lisboa e fundidas
na "Casa da Guiné e da Mina", tendo o Castelo de São Jorge da Mina
desde 1482 como próspera base de negociação na costa Oeste Africana. Com a
descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama, e posterior
exploração comercial, aparece a primeira referência escrita a uma Casa da Índia
numa carta régia datada de 1501. Após o estabelecimento de uma cadeia de postos
comerciais cerca de 1503, todas as atividades foram centralizadas na "Casa
da Guiné, da Mina e da Índia", mais tarde chamada simplesmente "Casa
da Índia", que depressa se tornou a instituição económica mais importante
em Portugal, localizada no Palácio Real, no Terreiro do Paço (actual Praça do
Comércio). Crê-se que Casa da Índia teria produzido um mapa secreto, o Padrão
Real, semelhante ao planisfério copiado por Cantino, a partir do qual as cartas
náuticas seriam elaboradas, contraparte do "Padrón Real" espanhol.
Em
1504 todas as atividades comerciais na África e, sobretudo, na Ásia foram
reunidas na Casa da Índia, tornando-se sujeitas ao controlo da Coroa
Portuguesa. Sob a supervisão do "Vedor da Fazenda" (tesoureiro real)
todos os produtos tinham de ser entregues à Casa, tributados e vendidos a um
preço acordado, sendo depois os rendimentos pagos aos proprietários. A Casa da
Índia funcionava como alfândega, escritório central de contabilidade para as
várias feitorias no exterior, arquivo, armazém, autoridade de pessoal para
marinheiros, soldados e comerciantes, bem como um dos primeiros serviços de
correio do mundo. Fixava os preços e verificava as compras, vendas e
pagamentos. Além disso equipava as frotas, organizava as necessárias escoltas
militares, geria a entrada e partida dos navios e emitia os vários certificados
e licenças. Através da Casa da Índia os funcionários reais eram colocados no
exterior e os decretos reais e regulamentos eram divulgados além-mar. Entre
1506 e 1570, a Casa da Índia manteve o monopólio real sobre todas as
importações e as vendas das principais especiarias - pimenta, cravinho e canela
- seda e goma-laca, bem como sobre a exportação de ouro, prata, cobre e coral,
cobrando 30% de imposto sobre os lucros de outros dos restantes produtos,
mantendo a Coroa como a entidade reguladora do comércio em geral. Ao longo de
cerca de 30 anos, de 1503 a 1535, os portugueses ultrapassaram o comércio de
especiarias veneziano do Mediterrâneo. Em 1506 cerca de 65% dos proveitos do
reino eram provenientes das actividades além-mar. Em 1510 a coroa portuguesa
obtinha cerca de 1 milhão de cruzados anuais apenas do comércio de especiarias,
que em 1518 representavam 39% da receita da Coroa, o que levaria Francisco I de
França a apelidar Dom Manuel I de Portugal "le roi épicier", ou seja,
"o rei merceeiro."
O monopólio real sobre as exportações de cobre
gerou também grandes ganhos, uma vez que o cobre, tinham grande procura na
Índia e na África Ocidental. De 1495 a 1521 da Coroa Portuguesa importou de
Antuérpia, então o centro do comércio internacional, cerca de 5.200 toneladas
de cobre, principalmente aos Fugger da Hungria, que exportou em seguida
principalmente para a Índia. O monopólio real do comércio manteve-se lucrativo
até 1570, sustentando o enriquecimento e o crédito de Portugal. A quota do
comércio total da Coroa com a Ásia em 1506 ascendeu a cerca de 25% e aumentou
de progressivamente até 50% ou mais, mas sem nunca eliminar os operadores
privados: o monopólio do comércio foi acompanhado sempre pelo livre comércio de
outros produtos como têxteis, armas, papel e peixe salgado, como o bacalhau. A
exploração de alguns monopólios reais foi por vezes entregue pela Casa da Índia
a operadores privados, por períodos determinados. Após 1570, os monopólios
foram abolidos, excepto a compra de especiarias e do comércio de cobre e prata.
Após um pico especulativo a receita começaria a declinar em meados do século,
devido aos custos da presença portuguesa em Marrocos e a gastos supérfluos. Portugal
não desenvolvera as infra-estruturas domésticas para acompanhar a actividade,
confiando em serviços externos e de estrangeiros para suportar as suas
actividades comerciais, fazendo com que grande parte da receita fosse gasta
nesse processo. Em 1549 o centro de comércio português em Antuérpia, a Feitoria
Real de Antuérpia também referida como feitoria da Flandres, faliu e foi
encerrada. À medida que o trono se empenhava em meados do século, confiava
crescentemente no financiamento externo. Cerca de 1560 a receita da Casa da
Índia não era suficiente para cobrir as suas despesas: a monarquia tinha
entrado em ruptura. A política de monopólios foi atenuada em 1570. Em 1600,
durante a União Ibérica com Espanha, o rei espanhol nomeou uma comissão formada
por três castelhanos para acompanhar a Casa da Índia, levando a uma forte
resistência de Portugal. Em 1642, após a restauração da Independência, a
política de monopólios foi finalmente abandonada, passando a Casa a ter um
carácter essencialmente de alfândega. Com o declínio do império comercial e do
poder político português nos territórios além-mar, a importância da Casa da
Índia diminuiu gradualmente. Em 1822, com o surgimento de uma monarquia
constitucional e de novas estruturas do Estado em Portugal, diversas
competências da Casa da Índia transitaram para novos ministérios e agências. A
17 de Setembro de 1833 a Casa da Índia foi dissolvida por decreto e as suas
restantes responsabilidades fiscais como Autoridade de Alfândega, foram
atribuídas à Alfândega de Lisboa.
• 1504 - Todas as actividades comerciais
na África e, sobretudo, na Ásia foram reunidas na Casa da Índia, sob o controlo
da Coroa Portuguesa.
• 1525-1528 - João de Barros foi
tesoureiro da Casa da Índia.
• 1532-1568 - Dom João III designou João
de Barros feitor das casas da Índia e da Mina, posição de grande destaque e
responsabilidade, onde se manteve até pouco antes da sua morte, provando ser um
administrador desinteressado, contrastando com antecessores que haviam
adquirido grandes fortunas.
• 1549 - O centro de comércio português em
Antuérpia, a Feitoria Real de Antuérpia, faliu e foi encerrado.
• 1570 - Parte dos monopólios reais foram
abolidos, excepto a compra de especiarias e do comércio de cobre e prata.
• 1592-1594 - Foi estabelecido na Casa da
Índia um departamento separado (consulado), dedicado à protecção de portos e da
luta contra piratas.
• 1600 - Durante a União Ibérica com
Espanha, o rei espanhol nomeou uma comissão formada por três castelhanos para
acompanhar a Casa da Índia, levando a forte resistência de Portugal.
• 1642 - A política de monopólios foi
abandonada, passando a Casa a ter um carácter de alfândega.
• 1709 - O padre jesuíta Bartolomeu de
Gusmão demonstrou os princípios do voo em balão de ar quente, fazendo voar um
aeróstato no interior da Casa da Índia.
• 1755 - O Paço da Ribeira onde funcionava
a Casa da Índia foi destruído pelo terramoto de 1755.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.