sábado, junho 27, 2015

Batahas e Combates-1500

Cananor
(Outono de 1500)



As difilcudades que Vasco da Gama encontrara em Calicut convenceram o Rei Dom Manuel I de que para o restabelecimento de relações comerciais com as cidades do Malabar seria conveniente promover uma demostração de força. Por isso mandou aprestar uma armada de treze navios e mil e quinhentos homens que sob o comando de Pedro Álvares Cabral, partiu para a india a 6 de Março de 1500. Porém, dos treze navios que largaram de Lisboa, apenas seis conseguiram alcançar a costa indiana, porquanto um deles por alturas de Cabo Verde, provavelmente por razão de avaria grave, desgarrou-se da armada e foi forçado a arribar ao ponto de partida, outro foi mandado regresar após o descobrimento do Brasil, para trazer a notícia, quatro perderam-se durante uma terrível tempestade que a armada sofreu ao dobrar o cabo da Boa Esperança (sendo um deles, o que era comandado por Bartolomeu Dias), um outro, em resultado dessa mesma tempestade, separou-se dos restantes e andou errando pela costa oriental de África, donde regressou directamente a Portugal, com perda de muita gente vitima de doença. Mesmo assim, a armada que em Setembro chegou a calicut era uma força de respeito.



Além disso o Rei Dom Manuel I enviara um riquíssimo presente para o Samorim, o que levou este, embora com certa relutância a autorizar os Portugueses a instalar uma feitoria na cidade e a comprar as especiarias que quisessem para carregar as suas Naus. Não obstante, as dificuldades levantadas pelos comerciantes «mouros» e pelos funcionários indianos por eles subornados eram constantes pelo que a carga se fazia com muita lentidão, o que enervava sobremaneira os Portugueses. Certo dia o Samorim fez saber a Pedro Álvares Cabral que em breve iria passar à vista de Calicut uma Nau pertencente a um mercador de Cochim que o ofendera, recusando-se a vender-lhe determinado elefante que aquela Nau transportava. E pediu-lhe que como prova de amizade o desafrontasse tomando a Nau e o elefante. Embora receoso de melindrar o rei de Cochim, Pedro Álvares Cabral entendeu que não podia recusar o pedido do Samorim sem quebra de prestígio e deu ordem a Pêro de Ataíde para preparar o seu navio para capturar aquela Nau, dando-lhe como reforço dois fidalgos e sessenta soldados. Dias depois, estando a Nau à vista de Calicut, Pêro de Ataíde preparou-se para ir ao encontro, mas teve de atrasar a saída de Calicut por ter recebido ordem de Cabral para embarcar um «mouro» que o Samorim, a convite seu, havia enviado para presenciar o combate.



Daí resultou que a Nau de Cochim ganhou grande avanço e Pêro de Ataíde só a pôde alcançar ao outro dia de manhã, já perto de Cananor. Aproximando-se dela intimou-a a que amainasse. Porém, como a Nau ia prevenida levando a bordo cerca de trezentos homens bem armados e, além disso, era muito maior e mais alterosa que a de Pêro de Ataíde, não se deixou atemorizar e respondeu à intimação com apupos, acompanhados de uma chuva de flechas e de tiros de bombarda. Ao que os portugueses rispostaram prontamente disparando toda a sua artilharia. A grande maioria das naus indianas eram de construção muito fraca por serem «cosidas» com cabos de cairo e não pregadas como as da Europa. Além disso, estavam armadas com bombardas de ferro muito menos potentes do que as bombardas de bronze dos Ocidentais. Por isso, os tiros dos navios indianos, regra geral, pouco efeito faziam nos portugueses, ao passo que os tiros destes eram susceptíveis de provocar graves avarias, tanto nos cascos como nas superstruturas e no aparelho daqueles. Foi o que aconteceu neste caso. Ao fim de pouco tempo de combate a Nau de Cochim, já com muitos mortos e feridos e numerosas avarias vendo que não conseguia fazer qualquer estrago na nau de Pêro de Ataíde resolveu refugiar-se em Cananor, indo fundear no meio de outras quatro Naus de «mouros» que ali se encontravam e que logo se aprontaram para a proteger,


Foi Pêro de Ataíde em seu seguimento e dentro do porto, travou novo combate com a Nau de Cochim e as outras quatro, causando-lhes muitas avarias, mortos e feridos sem, pela sua parte, sofrer dano de maior. Nessa altura apareceram alguns Paraus (espécie de Fustas) do rei de Cananor numa tentativa de expulsar os portugueses, mas foram facilmente repelidos pelo fogo da nossa artilharia, sendo obrigados a retirar muito destroçados. Entretanto caíra a noite e Pêro de Ataíde afastou-se para o mar com receio de que os inimigos pudessem aproveitar a escuridão para pôr fogo à sua Nau. Ao outro dia, voltou a tomar a posição próximo das cinco Naus e recomeçou a bombardeá-las. Em dado momento, mandou também fazer fogo sobre a multidão que se juntara na praia para ver o combate e que fugiu espavorida. Pouco tempo depois, os tripulantes das Naus adversas lançaram-se à água e fugiram a nado para terra. Pêro de Ataíde guarneceu com gente sua a Nau de Cochim e levou-a para Calicut. Dentro, tinha sete elefantes, incluindo aquele que o Samorim cobiçava, dos quais um fora morto durante o combate. À custa da sua carne tiveram os portugueses refeições de bifes durante vários dias! A tomada da Nau dos elefantes, nas circunstâncias em que ocorreu, causou grande sensação em toda a costa do Malabar e contríbuiu grandemente para consolidar o prestígio militar dos Portugueses. Quem não ficou satisfeito foi o Samorim. Embora tenha recebido o elefante que ambicionava e lavado a afronta dos mercadores de Cochim apercebeu-se de que os Portugueses eram muito mais perigosos do que inicialmente supusera e começou a recear que lhe quisessem tirar o reino. Daí para diante, as dificuldades postas ao carregamento das nossas Naus e os conflitos com a nossa gente multiplicaram-se. Por fim, na sequência de uma intriga por eles urdida «os mouros» assaltaram a feitoria portuguesa e mataram o feitor Aires Correia e cerca de cinquenta portugueses que estavam com ele ou que andavam descuidados pela cidade. Pedro Álvares Cabral ainda esperou durante um dia por quajquer explicação do Samorim. Como ela não viesse, mandou em represália tomar dez naus de «mouros» que estavam no porto. Os seus ocupantes defenderam-se valentemente, mas acabaram por fugir para terra, dexando seiscentos mortos e muitos cativos nas mãos dos portugueses. Estes baldearam a carga das Naus dos mouros para as suas e, depois de terem metido dentro daquelas os cativos, amarrados de pés e mãos, puseram-lhes fogo. Ao outro dia após ter mudado o fundeadouro dos seus navios para mais junto de terra Pedro Álvares Cabral bombardiou a cidade, desde o nascer ao pôr do Sol, matando muita gente, destruindo muitas casas e obrigando o Samorim a fugir para o interior. Feito isto, deixou Calicut, dirigindo-se para Cochim. O rei desta cidade, embora vassalo do Samorim de Calicut, andava constantemente em guerra com ele e, por isso, estava desejoso de ter os Portugueses como aliados. Recebeu muito bem Pedro Álvares Cabral, autorizou-o a deixar uma feitoria em Cochim e forneceu-lhe grande quantidade de pimenta. Entretanto, as notícias do que passara em Calicut do riquìssimo presente que Dom Manuel enviara ao Samorim e da forma como os Portugueses pagavam prontamente as suas compras com dinheiro ou mercadorias valiosas iam-se espalhando pela costa do Malabar, fazendo nascer em diversas cidades o desejo de nos terem como parceiros comerciais. Cananor e Coulão enviaram emissários a Cochim convidando Pedro Álvares Cabral a visitá-las. Encontrando-se praticamente concluída a carga das nossas Naus, teve Pedro Álvares Cabral informação de que se aproximava uma armada de Calicut composta por vinte e cinco Naus e muitos Paraus, guarnecidos por cerca de quinze mil homens, que o Samorim enviara contra ele para se vingar das destruições que tinha feito na sua capital. Pedro Álvares Cabral fez-se logo ao mar com todos os seus navios mas por se encontrar a sotavento, não conseguiu, apoximar-se do inimigo. Os indianos também não se chegaram aos portugueses, com receio da sua artilharia, limitando-se a segui-los à distância, à espera de uma oportunidade. Perante esta situação de impasse, Cabral decidiu seguir para Cananor, onde também foi muito bem recebido pelo respectivo rei. Completou a carga das suas Naus com algum gengibre e, tendo-as abarrotadas a mais não poder, iniciou o regresso a Portugal em 31 de Janeiro de 1501. Ainda perto da costa indiana, a armada portuguesa capturou uma rica Nau de Cambaia que Pedro Álvares Cabral deixou seguir viagem com o pedido de que dissese por toda a parte que os Portugueses só desejavam comerciar em paz e que o que acontecera em Calicut fora da exclusiva responsabilidade do Samorim. Apesar de ainda se ter perdido mais um navio de torna-viagem, as especiarias trazidas pela armada de Cabral deram um lucro considerável à Coroa portuguesa e reforçaram o empenho de Dom Manuel em proseguir com a empresa da Índia.



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