Invasão
Muçulmana da Península Ibérica
A
invasão islâmica da península Ibérica, também referida como invasão muçulmana,
conquista árabe ou expansão muçulmana, refere-se a uma série de deslocamentos
militares e populacionais ocorridos a partir de 711, quando tropas islâmicas
oriundas do Norte de África, sob o comando do general Tárique, cruzaram o
estreito de Gibraltar, penetraram na península Ibérica, e venceram Rodrigo, o
último rei dos Visigodos da Hispânia, na batalha de Guadalete. Após a vitória,
termina o Reino Visigótico. Nos séculos seguintes, os muçulmanos foram
alargando as suas conquistas na península, assenhoreando-se do território
designado em língua árabe como al-Andaluz, que governaram por quase oitocentos
anos.
História
Boa
parte do território da península era então dominada pelos visigodos. A
monarquia dos visigodos era eletiva. Com a morte do Rei Vitiza em 710, as
cortes reuniram-se para eleger o seu sucessor, constituindo-se duas facções em
disputa pela eleição, o grupo de Ágila II e o de Rodrigo, o último Rei Visigodo
de Toledo. Os partidários de Ágila II solicitaram apoio ao governador muçulmano
de África, Muça Ibne Noçair, abrindo-lhe as portas de Ceuta e incitando-o a
enviar uma expedição militar à península, já que, desde o final do século VI,
os judeus vinham sendo perseguidos naquela região e, dentro da xariá, a lei
islâmica, é obrigação do muçulmano defender os adeptos dos livros (judeus e
cristãos). “Ó fiéis, não tomeis por amigos
os judeus nem os cristãos, que sejam amigos entre si. Porém, quem dentre, vós
os tomar por amigos, certamente será um deles, e Alá não encaminha os iníquos”.
Esta defesa praticamente foi decidida após 612 quando, por decreto real, os
regentes decretaram o batismo compulsório de judeus, sob pena de confisco dos
bens ou expulsão daquela terra.
A
Resistência Asturiana
Abdulaziz
ou Abdul-el-Aziz, subjugou as províncias da Lusitânia e da Cartaginense,
saqueando as cidades do Norte que lhe abriam as portas e atacando aqueles que
lhes tentaram resistir. Às suas investidas escapou, porém, uma parte das
Astúrias, no Norte, onde se refugiou um grupo de Visigodos sob o comando de
Pelágio. Uma caverna nas montanhas servia simultaneamente de paço ao Rei e de Templo
de Jesus Cristo. Por vezes, Pelágio e seus companheiros desciam das montanhas
em surtidas para atacar os acampamentos Islâmicos ou as aldeias despovoadas de Cristãos.
Um desses ataques, historiograficamente designado de «Batalha de Covadonga» em 722,
marcou, segundo muitos historiadores, o início do longo processo de retomada
dos territórios ocupados, ao qual se deu o nome de Reconquista. A partir do
pequeno território, que Pelágio designou como Reino das Astúrias, os Cristãos “hispano-godos e lusitano-suevos”,
acantonados nas serranias do Norte e Noroeste da Península, foram
gradativamente formando novos Reinos, que se estenderam para o Sul. Surgiram os
Reinos de Castela, Leão de onde derivou mais tarde o Condado Portucalense e,
subsequentemente, Portugal, Pamplona e Aragão. O Reino das Astúrias durou de
718 a 925, quando Fruela II ascendeu ao trono do Reino de Leão.
A
Reconquista
A
Reconquista durou toda a Idade Média e só terminou no início da Idade Moderna,
em 1492, quando os muçulmanos foram definitivamente expulsos pelos Reis
Católicos, Fernando e Isabel. A influência deixada pelos muçulmanos ainda pode
ser percebida nas inúmeras palavras do português e do espanhol que vieram do
árabe, como "açúcar"
(azúcar), "alcaide", "almirante". Segundo o
dicionário Housaiss, existem na língua portuguesa cerca de 700 palavras de
origem árabe.
Cronologia
O
Domínio Muçulmano na Península Ibérica, então denominada al-Andaluz, durante a
Idade Média pode ser dividido nas seguintes fases.
1º
Período
711-756,
Invasão Muçulmana da Península Ibérica e estabelecimento de um Emirado
dependente do Califado de Damasco.
2º
Período
756-1031,
O Emirado tornou-se Independente, sob Abderramão I, em 756. Estabeleceu-se a Capital
em Córdova. Posteriormente os Emires tomaram o Título de Califas, ao ser Fundado
o Califado de Córdova, em 929.
756-929,
Estabelecimento do Emirado de Córdova, após a proclamação de Abderramão I como
Emir
Independente.
929-1031,
Califado de Córdova, proclamado por Abderramão III.
3º
Período
1031-1492.
Finda a hegemonia da Família do Primeiro-Ministro Almançor, o vitorioso, iniciou-se um período de
anarquia, a fitna de Al-Andaluz, alimentado pela ambição dos Generais. Córdova
aboliu o Califado, estabelecendo uma República. Com a desagregação do Califado,
formaram-se por toda a Hispânia variadíssimos pequenos estados independentes e
rivais, as Taifas. Aproveitando-se de tal desordem, os Cristãos apressaram o
movimento da Reconquista.
1031-1085.
Primeiro período das Taifas ou Reinos Islâmicos Independentes em al-Andaluz,
após a fragmentação do Califado Cordovês.
1085-1144.
Império Almorávida.
1144-1172.
Segundo período das Taifas.
1172-1212.
Califado Almóada.
1212-1238.
Terceiro período das Taifas.
1238-1492.
Reino Násrida de Granada.
O
Emirado de Córdova (em árabe أمير قرطبة, Imārat Qurṭuba) foi um Emirado Independente
que existiu na Península Ibérica entre 756 e 929. A sua Capital era Córdova
(Córdoba). Após a conquista pelos Muçulmanos, entre 711 e 718, o território Ibérico
foi transformado em província do Califado Omíada, cuja sede era em Damasco. Em
750, os Omíadas caíram numa revolta e foram sucedidos pelos Abássidas, que
massacraram os membros da Dinastia Anterior. Um dos Omíadas, Abderramão I,
escapou do massacre e em 756 chegou a Al-Andaluz (a Península Ibérica Muçulmana).
Após conquistar Córdova, Abderramão fundou o Emirado e conseguiu a Independência
de Bagdad, sede do Califado Abássida em 773. O Emirado durou até 929, quando o Emir
Abderramão III se autoproclamou Califa, fundando o Califado de Córdova.
Al-Andaluz
(em árabe: الأندلس; transl. al-andaluz; alåndɑlʋs) foi o nome dado à Península
Ibérica pelos seus conquistadores Islâmicos do Século VIII, tendo o nome sido
utilizado para se referir à península independentemente do território
politicamente controlado pelas forças Islâmicas. De início integrado na
província norte-africana do Império Omíada, o al-Andaluz seria um emirado de
756-929 e posteriormente um califado independente do poder abássida (929-1031).
Com a dissolução do califado em 1031, o território pulverizou-se em vários
reinos Taifa. Com a reconquista dos territórios pelos cristãos, descendentes
dos godos, que se refugiaram na região das Astúrias, no norte da península, num
processo que ficou designado historicamente por Reconquista, o nome al-Andaluz
foi-se adequando ao cada vez menor território sob ocupação Árabe-Muçulmana, na
metade sul da Península, aproximadamente a mesma área da antiga província
romana Bética, cujas fronteiras foram progressivamente empurradas para sul, até
à tomada de Granada pelos Reis Católicos. A região Ocidental da Península era
denominada Gharb al-Andaluz ("o
ocidente do al-Andaluz") e incluía o actual território português. De
uma maneira geral, o Gharb al-Andaluz foi uma região periférica em relação à
vida económica, social e cultural do al-Andaluz.
Etimologia
A
origem do nome al-Andaluz é incerta. O nome fez a sua primeira aparição em 716,
num dinar bilíngue cunhado na Península Ibérica e que se encontra hoje em dia
no Museu Arqueológico Nacional em Madrid. Nessa moeda a palavra Span(ia) em
latim, corresponde a al-Andaluz, em Árabe. A palavra al-Andaluz está
relacionada ao vocábulo Vandalícia, nome que teria recebido a Bética Romana
quando os Vândalos ali se fixaram entre 409 e 429. Esta posição foi partilhada
por outros estudiosos, mas nunca foi possível encontrar provas documentais que
mostrem que a Bética foi alguma vez chamada de Vandalícia. Al-Andaluz seria uma
arabização do nome dado pelos Visigodos à Bética. Quando estes se fixaram na Península
Ibérica, os senhores Visigodos dividiram a terra conquistada em lotes, aos
quais chamaram Sortes Gótica. A forma singular deste nome, Gótica Sors, que era
também por eles usada para se referir ao Reino Visigótico, tinha como seu
equivalente na língua Goda a forma landa-hlauts, de onde derivaria al-Andaluz. Outra
teoria, procura relacionar al-Andaluz com a Atlântida, a famosa lenda relatada
por Platão que alude à existência de uma ilha para lá das Colunas de Hércules
(o Estreito de Gibraltar) e que teria penetrado no mundo Árabe. De acordo com este
autor, a expressão Árabe, Jazirat al-Andaluz (a ilha do al-Andaluz), que surge
nos textos dos Autores Árabes, deve ser interpretada como uma tradução de "ilha do Atlântico" ou "Atlântida".
História
Política
Distinguem-se
os seguintes períodos na história política do al-Andaluz.
Período
da conquista territorial e dos governadores, durante o qual o al-Andaluz dependia
do Califado Omíada de 711 a 756.
Emirado
de Córdova de 756 a 929.
Califado
de Córdova de 929 a 1031.
Primeiro
período de Reinos de Taifas de 1031 a 1090.
Período
Almorávida de 1090 a 1146.
Segundo
período de Reinos de Taifas de 1145 a 1150.
Califado
Almóada de 1146 a 1228.
Terceiro
período de Reinos de Taifas de 1228 a 1262.
Reino
Násrida de Granada de 1238 a 1492.
A
Conquista Territorial
Desde
os finais do Século VII que os Árabes atacavam as costas do sul da Península Ibérica.
O Conde D. Julião, Governador Visigodo de Ceuta, convida os Muçulmanos a
desembarcar na Península, como forma de retaliação pelo facto, da sua filha ter
sido raptada pelo Rei Visigótico Rodrigo que Reinou de 710 a 711. Em julho de
710 o Conde proporciona quatro barcas para que os Muçulmanos desembarquem em
Tarifa, num acto que serviria para a exploração do terreno. Em Abril ou Maio de
711, Tárique, um antigo escravo que se tinha tornado Lugar-Tenente do Governador
da Ifríquia, uma província do Califado Omíada, que corresponde à Tunísia, Muça
ibne Noçáir, atravessa o estreito que separa a África da Península Ibérica, e
que a partir de então receberia o seu nome Gibraltar, de Jabal al Tariq, "a montanha de Tárique", com
um exército constituído por Árabes e Berberes. Esta invasão resultou não só das
ambições Islâmicas, mas também da resposta a um apelo lançado por uma das
facções Visigodas, a dos partidários de Ágila II, que eram opositores do Rei Visigótico
Rodrigo. Em Julho do mesmo ano, o Exército Islâmico trava uma Batalha decisiva
com as tropas do Rei Rodrigo num local tradicionalmente identificado pela
historiografia como o Rio Guadalete «Batalha
de Guadalete», mas que alguns investigadores consideram ter ocorrido junto
ao rio Barbate, e que saldaria na vitória das forças Muçulmanas. O Rei Rodrigo
desapareceu em combate. Uma tradição Cristã afirma que ele teria sido sepultado
em Viseu. Tárique continuaria o seu avanço e conquistaria Toledo, Capital do
Reino Visigótico, onde passa o Inverno de 711. Por esta altura, o Governador da
Ifríquia chega à Península e censura Tárique pelo acto da conquista. O Califa Omíada
de Damasco, Ualide I, nada sabia sobre esta invasão. A chegada dos Árabes e dos
Berberes foi saudada pelos Judeus, que tinham sido perseguidos nas últimas
décadas do Reino Visigótico. As determinações de sucessivos Concílios da Igreja
Peninsular tinham contribuído para a discriminação deste segmento populacional.
O III Concílio de Toledo determinou o baptismo forçado de crianças filhas de
casamentos entre Judeus e Cristãos. O XVI proibiu os Judeus de praticarem o
comércio com Cristãos, o que provocou a ruína de muitas famílias, e o Concílio
XVII condenou-os à escravatura sob o pretexto de conspirarem, junto com os Judeus
do Norte de África, para a queda do Reino Visigótico. Muitos Judeus abriram as
portas das cidades para facilitarem o avanço das tropas Islâmicas e ofereceram-se
como guardas das cidades ao serviço dos novos senhores. A Conquista Islâmica da
Península seria efectuada num período de cinco anos por Tárique, Muça e
Abdalazize, filho de Muça. O território que corresponde ao que é hoje Portugal
foi atingido pela expedição de Abdalazize entre 714 e 716. Em 718 ocorreu a «Batalha de Covadonga», durante a qual
um grupo de Cristãos refugiados nas Astúrias, liderados por Pelágio, derrotou
os Muçulmanos, o que os forçou a se retirarem da região Cantábrica. As forças Islâmicas
levam a cabo várias expedições contra a Gália, mas são detidos em 732 em
Poitiers pelo Rei Carlos Martel. Até 756 o al-Andaluz teve vinte Governadores
dependentes de Damasco, tendo em Sevilha, e mais tarde em Córdova, a sua Capital.
Emirado
de Córdova
A
queda dos Omíadas em Damasco e a tomada do poder pelos Abássidas em 750 teriam
repercussões políticas no al-Andaluz. O único sobrevivente do massacre da
família Omíada, o Príncipe Abderramão I, chega à Península em 756 e instala-se
em Córdova, onde toma o título de Emir, declarando-se independente do Califado
dos Abássidas. Ele dará início a uma Dinastia que governa o al-Andaluz até
1031. Abderramão I teve que lidar com as ambições territoriais do Franco Carlos
Magno, cujo exército, ao deixar a Península em 778, acabaria por sofrer um
ataque dos Bascos na região dos Pirenéus, episódio imortalizado em, “La chanson de Roland”. O Emirado de
Córdova seria um importante centro cultural, que manteve relações diplomáticas
com os Reinos Cristãos, até mesmo com o Império Bizantino. O Emirado teve que
conviver desde o início com revoltas internas das tribos Árabes e Berberes, bem
como dos Moçárabes. Uma dessas revoltas ocorreu no Território Ocidental, onde o
Chefe da Tribo dos Yahsubis revolta-se contra o poder do Emir, declarando-se a
favor dos Abássidas de Bagdade. As revoltas contra o poder central de Córdova
atingem o seu auge no último quartel do Século IX.
Califado
de Córdova
Em
929 o Emir Abderramão III declarou-se Califa, título que lhe conferia Independência
não só Política, mas também Religiosa em relação aos Abássidas. Esta sua acção
foi motivada pelo aparecimento dos Fatimidas no Norte de África, que eram
seguidores do Islão Xiita, assumindo-se Abderramão como guardião da Ortodoxia Sunita.
Abderramão pacificou o Sul e o Levante Peninsular, onde tinham surgido vários
movimentos Independentistas. O seu sucessor, al-Hakam II, Governou durante um
período de paz. O terceiro Califa de Córdova, Hixam II, foi eclipsado durante a
sua menoridade por Maomé ibne Abi Amir, mais conhecido pelo seu nome das Crónicas
Cristãs, Almançor que ocupava o cargo de Hájibe ou Prefeito do Palácio.
Almançor, Governou entre 978 e 1002, concentra o poder efectivo nas suas mãos,
tendo dirigido campanhas periódicas contra os Cristãos, em 997 chega mesmo a
destruir o Santuário de Santiago de Compostela. Para além disso, estabeleceu o
domínio do al-Andaluz na parte Ocidental do Magrebe, através do Vice-Reino de
Córdova. Quando Almançor faleceu, a liderança do estado passou para o seu
filho, Abdal Malique que Governou de 1002 a 1008, que foi por sua vez sucedido
pelo seu irmão Abderramão Sanchuelo, assim conhecido por ser neto do Rei de
Navarra Sancho Garcês II. Este consegue que Hixam II o nomeie herdeiro em
detrimento dos Príncipes Omíadas. O acto gera descontentamento e em Córdova
estala uma revolta contra Sanchuelo. O Califado corresponde ao período de
esplendor da Civilização Islâmica na Península Ibérica.
O
Período das Primeiras Taifas
Embora
a desagregação final do Califado de Córdova se tenha verificado em 1031, desde
1009 a situação política caracterizava-se pela instabilidade. Finda a hegemonia
da família do primeiro-ministro Almançor, começa a anarquia, provocada pela
ambição de vários protagonistas e dá-se a decomposição do Califado. O
al-Andaluz acabará retalhado em inúmeras unidades políticas, os Reinos de Taifas,
do árabe al-ta´ifa, "partido"
ou "bandeira". Os Reinos de
Taifas eram unidades políticas que partilhavam uma afinidade de origem étnica.
Muitos deles tiveram uma existência efémera. Os Berberes estabeleceram Reinos
no Centro e Sul da Península e os Eslavos na costa Leste. As Taifas com maior
extensão territorial eram as que faziam fronteira com os Reinos Cristãos, as de
Badajoz, Toledo e Saragoça, encontrando-se as mais pequenas no Sul. Aproveitando
esta desordem, os Cristãos apressaram o movimento da Reconquista, as
rivalidades entre a Taifa de Badajoz e a de Sevilha vão permitir a Fernando I
de Leão e Castela conquistar Coimbra em 1064.
Período
Almorávida
Perante
a conquista Cristã da Cidade de Toledo em 1085, Almutâmide, Rei Abádida da Taifa
de Sevilha, pede ajuda aos Almorávidas, uma Dinastia Berbere que Governava o Norte
de África. Em 1086, o Emir Almorávida Iúçufe ibne Taxufine derrota os Cristãos
na «Batalha de Zalaca». Para além do
combate aos Cristãos, os Almorávidas acabariam por subjugar os Reinos de Taifas
entre 1090 e 1110 e integrar o al-Andaluz no seu Império Norte-Africano. As
origens da Dinastia dos Almorávidas encontram-se nos Lamtuna, uma tribo de
Berberes Sanhaja que viviam de forma nómada no Sara Ocidental, entre o Sul do
atual Marrocos e as margens do rio Senegal e que se tinha convertido ao Islão,
embora superficialmente no século IX. No primeiro quarto do século XI, o
pregador Abdalá ibne Iacine al-Jazuli tentou impor aos Lamtuna uma forma do
Islão Rigorista, baseada na estrita observância da escola malequita. Perante a
rejeição destes Berberes, Iacine retirou-se com alguns adeptos para um ribat ou
arrábita, um mosteiro militar situado numa ilha perto da costa da Mauritânia,
de onde deriva o nome Almorávida, do árabe al-murabit, “guarda de fronteira”, “eremita”.
Após a morte de Iacine, emerge como líder Iúçufe ibne Taxufine, verdadeiro
fundador da Dinastia. Com os seus guerreiros, Iúçufe lança-se à conquista das
regiões correspondentes aos atuais Marrocos e a Argélia Ocidental, tomando Fez
em 1063 e fundando a cidade de Marraquexe por volta de 1069. O Rei de Aragão
Afonso I e o Rei Afonso VII de Castela e Leão lançaram ataques sobre os
territórios controlados pelos Almorávidas, e em 1118 Saragoça caiu nas mãos do Monarca
Aragonês. Eventualmente o poder Almorávida entrará em declínio e surgirá um
período dos segundos Reinos de Taifas, dos quais se destacam os de Córdova e
Málaga.
Período
Almóada
O
poder Almorávida no Norte de África seria substituído por uma nova Dinastia Berbere,
a dos Almóadas. Maomé ibne Tumarte, um Berbere que estudou em Córdova e no
Médio Oriente antes de regressar ao Norte de África, iniciou um Movimento Religioso
que pretendia um retorno ao um Islão mais "puro"
e contestou o poder dos Almorávidas junto das Tribos Berberes. Depois da sua
morte, este movimento teve como líder Abde Almumine que Reinou de 1130 a 1163,
um dos seguidores de Tumarte, que seria o primeiro Califa Almóada. Em 1145
al-Mu'min enviou um exército à Península Ibérica e após algumas batalhas o
Califado Almóada conquistou o al-Andaluz. A única excepção foi as ilhas
Baleares, onde se refugiaram os descendentes do último Governador Almorávida,
os Banu Gania, que conservaram a independência até 1203. O segundo Califa Almóada,
Abu Iacube Iúçufe, foi educado em Sevilha, onde residiu durante um período da
sua vida. Nesta cidade, o Califa ordenou um vasto conjunto de obras públicas,
que incluiu a construção de uma grande Mesquita, novos mercados e um Palácio.
Durante o seu Governo, a parte Ocidental do al-Andaluz viu-se ameaçada pelo
aparecimento de um novo Monarca Cristão, Afonso Henriques que em 1147
conquistou Lisboa. Os Almóadas Governaram a partir de Marraquexe e, à
semelhança dos Almorávidas, caracterizavam-se pela Intolerância religiosa.
Apesar disso, o poder almóada contribuiu para o desenvolvimento económico do
al-Andaluz. O avanço dos Almóadas foi travado em 1212 na «Batalha de Navas de
Tolosa», onde o Exército Português combateu ao lado de Leão, Castela, Aragão e
Navarra. Em 1228 estala em Múrcia uma revolta contra os Almóadas que se espalha
por todo o al-Andaluz. O al-Andaluz entra então num terceiro e breve período de
Reinos de Taifas. Em Múrcia, Maomé ibne Iúçufe funda uma Dinastia que governa
entre 1228 e 1266. Os Reinos Cristãos aproveitam a instabilidade para
prosseguirem com a Reconquista, em 1236 conquistam Córdova, em 1248 Sevilha e
em 1249 o Rei Português Afonso III conquista o Algarve (al-Gharb).
A
Dinastia Nasrida de Granada
Perante
o avanço Cristão sobre o sul da Península Ibérica no Século XIII, o Rei Maomé I
de Xaém, optou por declarar-se vassalo do Rei de Castela e ajudou-o na luta
contra outros Muçulmanos. Fixando-se em Granada, inicia a Dinastia dos
Násridas, que seria o último reduto do poder Islâmico na Península durante os
dois Séculos e meio seguintes. Os Sultões da Dinastia Násrida oscilaram entre a
subserviência aos Castelhanos e aos Merínidas do Norte de África. Granada
tornou-se um importante centro urbano, recebendo Muçulmanos refugiados de
outros pontos da Península. Um dos grandes legados arquitectónicos desta Dinastia
foi a construção do Palácio da Alhambra. Em janeiro de 1492 o último Rei Násrida,
Abu Abdalá ou Boabdil, capitulou perante os Reis Católicos, Fernando e Isabel.
No ano seguinte o Reino de Granada seria integrado na Espanha. As famílias Muçulmanas
de posição social mais elevada deixaram a Península, fixando residência no Norte
de África. Os Muçulmanos que permaneceram foram obrigados em 1502 a
converter-se ao Cristianismo ou então teriam de abandonar o país. Por sua vez,
os Muçulmanos que se tinham convertido à Fé Cristã (os mouriscos) foram
acusados de seguir o Islão secretamente, tendo sido expulsos da Espanha entre
1609 e 1614.
Sociedade
e Demografia.
Aspectos da vida quotidiana. A população do al-Andaluz era muito heterogénea e constituída por Árabes e Berberes, uns e outros Muçulmanos, Moçárabes, são os hispano-godos que, sob o Domínio Muçulmano conservaram a Religião Cristã o Rito-Moçárabe, que vinha do tempo de Prisciliano, mas adoptaram as formas de vida exterior dos Muçulmanos, e Judeus. Para além destes, existia outro grupo, os Muladis, que eram os Cristãos que se tinham convertido ao Islamismo. Os Moçárabes e os Judeus tinham liberdade de Culto, mas em troca dessa liberdade eram obrigados ao pagamento de dois tributos, o Imposto de Capitação (gizia), e o Imposto Predial sobre o rendimento das terras (carage). Estes dois grupos tinham autoridades próprias, gozavam de liberdade de circulação e podiam ser julgados de acordo com o seu direito.
Moçárabes
e Judeus estavam sujeitos às seguintes restrições.
Não
podiam exercer Cargos Políticos.
Os
homens não podiam Casar com uma Muçulmana.
Não
podiam ter serviçais Muçulmanos ou enterrar os seus mortos com Ostentação.
Deviam
habitar em Bairros separados dos Muçulmanos.
Estavam
obrigados a dar Hospitalidade ao Muçulmano que necessitasse, sem receber
remuneração.
As
cidades de Toledo, Mérida, Valência e Lisboa eram importantes centros Moçárabes
da Península. Em Toledo os Moçárabes chegaram a encabeçar uma revolta contra o Domínio
Árabe. Poucos anos depois da Invasão Muçulmana, os Cristãos (hispano-godos e
lusitano-suevos) acantonados nas serranias do Norte e do Noroeste da Península,
iniciaram a reconquista do território, formando novos Reinos que se foram
estendendo sucessivamente para o sul. Os Judeus dedicavam-se ao comércio e à
recolha dos impostos, foram também médicos, embaixadores e tesoureiros. Hasdai
Ibn Xaprut que nasceu em 915 e faleceu em 970, um Judeu, foi um dos homens de
confiança do Califa Abderramão III de Córdova. É muito difícil calcular um valor
para a população do al-Andaluz durante o período de maior extensão do domínio Islâmico
o Século X, mas tem sido sugerido um valor próximo dos 10 milhões de
habitantes. Os Árabes estabeleceram-se nas terras mais férteis, ou seja, no
sul, no levante e no vale do rio Ebro. Quanto aos Berberes, estes ocupariam as
áreas de relevo mais montanhoso, como as serras da Meseta central e serra de
Ronda, sendo também numerosos no Algarve, um Berbere, Said ibn Harun, daria de
resto o seu nome a Faro. Depois da revolta Berbere de 740, muitos regressaram
ao Norte de África. Em 741 chegaram ao al-Andaluz muitos Sírios com o objectivo
de ajudar na repressão da revolta Berbere, que acabariam por se fixar no este e
sul peninsular. Há igualmente fontes que apontam para a presença de Famílias Iemenitas
em cidades como Silves. Importa ainda salientar a presença de dois grupos
étnicos minoritários, os Negros e os Eslavos. Os negros chegaram ao al-Andaluz
como escravos ou como mercenários. Desempenharam funções como membros da guarda
pessoal dos soberanos, enquanto, outros trabalhavam como mensageiros. As
mulheres negras foram concubinas ou criadas. Os eslavos eram de início
escravos, mas muitos conseguiram progressivamente comprar a liberdade, alguns
alcançaram importantes cargos na administração. Durante o período dos primeiros
Reinos de Taifas no Século XI, alguns eslavos formariam os seus próprios Reinos.
As casas das classes mais abastadas caracterizavam-se pelo seu conforto e
beleza, graças à presença de divãs, tapetes, almofadas e tapeçarias que cobriam
as paredes. Nestas casas as noites eram animadas com a presença de poetas,
músicos e dançarinos. Nas zonas rurais e urbanas existiam banhos públicos
(hammam), que funcionavam não só como espaços de higiene, mas também de convívio.
Os banhos Islâmicos apresentavam uma estrutura herdada dos banhos Romanos, com
várias salas com piscinas de água fria, morna e quente. Neles trabalhavam
massagistas, barbeiros, responsáveis pela guarda das roupas, maquilhadores,
etc. A parte da manhã estava reservada aos homens e a da tarde às mulheres. Com
a Reconquista cristã muitos destes banhos foram encerrados por ser entender que
eram locais propícios a conspirações políticas, bem como à prática de relações
sexuais. O pão era a base da alimentação do al-Andaluz, consumindo-se também
carne, peixe, legumes e frutas. Os alimentos eram cozinhados com o recurso a
ervas aromáticas, como orégãos, alecrim e hortelã-pimenta, esta última também
usada no chá, e especiarias gengibre, pimenta, cominhos... A gordura usada era
o azeite (az-zait). Os doces eram também apreciados, como as queijadas
(qayyata), o arroz doce polvilhado com canela e diversos pastéis feitos com
frutos secos e mel, que são ainda hoje característicos da gastronomia de certas
regiões da península.
Economia
A
chegada da Civilização Islâmica à Península Ibérica provocaria importantes
transformações económicas. De uma economia essencialmente rural passou-se para
uma economia marcadamente urbana. Um dos locais mais importantes da cidade
muçulmana é o soco ou mercado. Os mercados conheceriam um renascimento na
península durante o período Islâmico. Neles realizava-se o comércio de produtos
diversos, principalmente dos produtos de metal e de outros produtos do
artesanato. As oficinas e tendas do al-Andaluz, onde se produziam esses
trabalhos, eram propriedade do Estado. Os principais produtos do comércio eram
as sedas, o algodão, os tecidos de lã. Alguns artigos de luxo produzidos no
al-Andaluz seriam exportados para a Europa cristã, para o Magrebe e mesmo para
o Oriente. A nível da agricultura, nas zonas secas do al-Andaluz surgiria o
cultivo do trigo e da cevada. Semeiam-se também ervilhas, favas e grãos, que
eram a base da alimentação da população. Em períodos durante os quais a produção
de cereais era baixa recorria-se à importação de cereais do norte de África.
Foi durante este período que o cultivo do arroz foi introduzido na Península
Ibérica, bem como da beringela, da alcachofra e da cana-de-açúcar. Os pomares
ocupavam uma importante área agrícola; Sintra seria mesmo cantada pelos poetas
pela sua fruta, sendo famosa pelas suas peras e maçãs. O actual Algarve
destacava-se pela produção de figos e uvas. Saliente-se ainda o interesse pela
produção do mel. Embora o seu consumo seja interdito pelo islão, o vinho terá
sido produzido e consumido no al-Andaluz em grandes quantidades, pelo menos até
ao período dos Almóadas, que reprimiram o seu consumo. A criação de gado era
também uma prática comum, em particular de gado bovino e caprino. Os animais de
capoeira como os coelhos e as galinhas eram muito apreciados na alimentação. Os
muçulmanos cruzaram os sistemas hidráulicos dos Romanos com os dos Visigodos e
com as técnicas que traziam do Oriente. Ao longo dos rios constroem moinhos de
água, as azenhas (saniya). Para retirarem a água dos poços introduzem a nora
(na ´ura) e a cegonha (ou picota). A abundante madeira das florestas era usada
para o fabrico de peças de mobiliário e para a construção naval. Em Alcácer do
Sal esta actividade era intensa devido à existência de bosques nas
proximidades. A pesca e a extracção do sal eram propiciadas pela existência de
uma considerável linha costeira. As espécies mais capturadas eram a sardinha e
o atum, utilizando-se para a captura deste último um tipo de rede própria,
denominada almadrava. Durante este período continua a exploração das jazidas de
minérios da península, que já vinha desde o tempo dos Romanos. O ouro era
extraído dos arenitos de alguns rios, como o Tejo. A prata poderia ser
encontrada em jazidas em Múrcia, Beja, e Córdova.
O
legado artístico e arquitectónico
De
notar que o legado artístico e arquitectónico islâmico em Portugal limita-se a
ruínas ou fortificações desse período, muitas delas posteriormente alteradas, e
certos traços artísticos encontrados nos azulejos ou a arquitectura tradicional
do Algarve. A civilização de al-Andaluz deixou na Espanha, especialmente no
sudeste; um vasto e único legado cultural, artístico e arquitectónico. As
primeiras manifestações artísticas e arquitectónicas islâmicas no al-Andaluz
continuam as tradições do período hispano-godo e fundem-nas com as tradições
bizantinas e persas trazidas do Oriente. A presença visigoda pode ser vista,
por exemplo, no uso do arco em ferradura, que contudo apresenta-se mais
fechado. Os materiais de construção mais comuns foram a pedra e o tijolo e os
elementos decorativos adoptados foram os geométricos, vegetais e epigráficos. Um
dos monumentos mais representativos da civilização islâmica peninsular é a
Grande Mesquita de Córdova. Este edifício começou a ser construído em 786,
durante o reinado de Abderramão I, no local onde se encontrava a basílica
visigoda de São Vicente, tendo sido alvo de sucessivas ampliações e
modificações até aos finais do século X. Na sua versão primitiva a mesquita
apresentava uma planta quadrangular, com pátio aberto onde se realizavam as
abluções e a sala coberta para as orações. A sala tinha onze naves com arcadas
perpendiculares ao muro da quibla (lugar para onde os muçulmanos se viram
quando fazem as orações). Abderramão II levou a cabo a primeira ampliação da
mesquita: derrubou o muro da quibla, tendo prolongando a mesquita para o lado
sul. O califa Abderramão III mandou ampliar o pátio para norte e colocou um
minarete, que está hoje oculto pela torre da catedral. Almançor procedeu à
última ampliação, tendo acrescentado oito naves às onze já existentes. Os
artesãos de Córdova destacaram-se pelos seus trabalhos em marfim, tendo chegado
aos nossos dias uma série de cofres rectangulares e cilíndricos feitos nesse
material. Em 936 o califa Abderramão III decide fundar uma nova cidade, Madinat
al-Zahra (Medina Azara), que deveria funcionar como nova capital e sede do
governo. Situada a cerca de oito quilómetros de Córdova, as obras da sua
construção duraram cerca de quarenta anos, mas a cidade teve uma vida efémera,
já que foi pilhada e destruída durante a anarquia que se seguiu à queda do
califado no século XI. Baseada num modelo oriental (foi inspirada no complexo
palatino de Samarra erguido pelos Abássidas perto de Bagdade), a cidade
apresentava uma planta quadrangular. Estava construída sobre a ladeira de uma
serra, o que permitiu a sua estruturação em três terraços: no nível mais alto,
estava o palácio Califal (Dar al-Mulk) e a residência dos principais membros da
corte e da guarda; no nível intermédio encontrava-se o salão das recepções
(conhecido como "Salão Rico") e no nível inferior os banhos, a
mesquita, o mercado e jardins. Outro importante legado arquitectónico do
período Califal é a mesquita Babal Mardum em Toledo, hoje Ermida do Cristo de
la Luz. Construída em 999 apresenta planta quadrangular, seguindo o modelo da
mesquita de Córdova, embora numa dimensão consideravelmente menor; este
edifício viria a influenciar a arquitectura das igrejas cristãs de Toledo. Do
período dos reinos de taifas destaca-se a Aljafería de Saragoça, mandada
construir pelo rei taifa Ahmad al-Muqtadir de 1047 a 1081, este edifício seria
mais tarde transformado num palácio cristão, que serviu de residência aos reis
de Aragão, sendo actualmente sede do parlamento da região autónoma espanhola de
Aragão. O seu aspecto exterior assemelha-se ao de um castelo ou fortaleza. O
edifício possui uma planta quadrangular, com várias torres cilíndricas e uma
quadrangular. No seu interior acham-se várias salas, sendo uma das mais ricas a
chamada sala do Oratório, com decoração de gesso. Esta "sala" é na
realidade uma mesquita privada, onde o rei e a sua corte faziam as orações. A
arte e arquitectura do período almorávida e almóada apresentam um aspecto mais
austero, talvez fruto das concepções religiosas severas destas dinastias
berberes. Os Almorávidas construíram poucos edifícios religiosos, tendo
sobretudo se dedicado a fortificar as cidades (muralhas de Sevilha, Granada,
castelo de Niebla). A actual Giralda de Sevilha, retirando-lhe os acrescentos
posteriores, é o minarete de uma mesquita almóada do século XI que existiu na
cidade e que foi destruída para se construir a catedral gótica que existe
atualmente no local. Essa mesquita foi mandada construir pelo califa Abu Yaqub
em 1172 e foi acabada pelo seu sucessor, Abu Iúçufe. Os arquitectos
responsáveis pela obra foram Amade ibne Basso e Ali al-Gumari. No claustro da
actual catedral encontra-se o Pátio de los Naranjos (das Laranjeiras), que era
o pátio onde se realizam as abluções antes da oração. Ainda em Sevilha
encontra-se outro legado deste período, a Torre do Ouro (inícios do século
XIII), uma construção militar junto ao rio Guadalquivir. O seu nome advém do
facto de ter sido coberta com azulejos que reflectiam a luz do sol, dando a
impressão de estar coberta com ouro. Dela saía uma corrente, que ligada a outra
torre que existia na outra margem do rio, impedia a entrada de barcos inimigos
no porto da cidade.
Ciência
À
semelhança do que sucedeu no domínio artístico, os árabes e berberes que se
fixaram na península Ibérica no século VIII começaram por recorrer aos saberes
legados pela civilização visigoda. Progressivamente, fruto dos contactos com o
Oriente (no contexto, por exemplo, da peregrinação anual a Meca) e do desejo de
alguns soberanos do al-Andaluz em fazerem das suas cortes centros de saber que
rivalizassem com as cidades do Médio Oriente, desenvolveu-se no al-Andaluz uma
ciência que apresentou aspectos de originalidade. Abderramão II foi um dos primeiros
governantes que se esforçou por converter a sua corte em Córdova num centro de
cultura e sabedoria, tendo recrutado com esse objectivo vários sábios do mundo
islâmico. Um deles foi Abas ibne Firnas, que embora tivesse sido contratado
para ensinar música em Córdova, brevemente se interessou por outros campos do
saber, como o voo; ele seria o autor de um aparelho voador feito em madeira,
com penas e asas de grandes aves (uma espécie de asa delta). Decidido em testar
a sua obra, atirou-se de um ponto alto da cidade de Córdova, e segundo os
relatos, conseguiu voar durante algum tempo, mas acabou por despenhar-se,
sofrendo alguns ferimentos. Em sua casa, ibne Firnas construiu um planetário,
no qual não só se reproduzia o movimento dos planetas, mas também fenómenos
como a chuva e a trovoada. No campo da astronomia, devem salientar-se os
trabalhos de Al-Zarqali que viveu em Toledo e em Córdova no século XI e que é
conhecido no Ocidente pelo seu nome em latim, Azarquel. Notabilizou-se pela
construção de instrumentos de observação astronómica, tendo inventado a azafea,
um tipo de astrolábio que foi usado pelos navegadores até ao século XVI.
Defendeu também que a órbita dos planetas não era circular, mas elíptica,
antecipando Johannes Kepler neste domínio. Al-Zahrawi de 936 a 1013, mais
conhecido pelo nome Albucasis, médico da corte do califa al-Hakam, foi um
importante cirurgião do al-Andaluz. É conhecido como autor da enciclopédia
Tasrif, na qual apresentou os seus procedimentos cirúrgicos (amputações,
tratamentos dentários, cirurgias aos olhos...). Esta obra seria traduzida para
o latim e usada na Europa no ensino da medicina durante a Idade Média.
Tratado
árabe sobre plantas medicinais
Na
botânica e farmacologia, Ibne al-Baitar (nascido em Málaga em finais do século
XIII) estudou as plantas da península Ibérica, Norte de África e Médio Oriente
graças às viagens que afectou nestas regiões. Foi autor da obra Kitab al-Jami
fi al-Adwiya al- Mufrada, na qual listou 1400 plantas com os seus respectivos
usos medicinais; embora se tivesse baseado nos antigos tratados gregos de
botânica, ibne Baitar apresentou o uso medicinal de cerca de 200 plantas até
então desconhecidas. Ibn al-‘Awwam, residente de Sevilha do século XII,
escreveu um tratado agrícola intitulado Kitab al-fila-hah, um dos trabalhos
medievais mais importantes nesta área. Nele listava 585 espécies de plantas e
50 de árvores de fruto, indicando como deveriam ser cultivadas. No período que
se estende entre o século X e o século XII surgiram os grandes geógrafos
peninsulares, dos quais se destacam al-Bacri, ibne Jubair e al-Idrisi. Al-Bacri
trabalhou essencialmente com fontes escritas e orais, nunca tendo deixado o
al-Andaluz. Foi autor do "Livro dos Caminhos e dos Reinos" no qual
listava todos os países conhecidos na época. O livro estava organizado por
entradas, cada uma relatando a geografia, história, clima e povo do país em
questão. Ibne Jubair, secretário do governador de Sevilha, realizou em 1183 a
peregrinação a Meca, tendo aproveitado a ocasião para descrever o Mediterrâneo
Oriental, fazendo referência aos acontecimentos políticos que aquela região do
mundo vivia, nomeadamente as Cruzadas. Al-Idrisi, nascido em Sabtá (Ceuta),
recebeu a sua educação na Córdova dos Almorávidas, mas teve que abandonar a
cidade por motivos de perseguição política e religiosa, tendo-se instalado na
Sicília dos Normandos. Nesta ilha ele escreveu o Livro de Rogério, (cujo nome
deriva do nome do patrono de al-Idrisi, o rei Rogério II da Sicília), onde
descrevia o mundo conhecido de então. As informações da obra seriam plasmadas
num planisfério de prata.
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