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quinta-feira, dezembro 26, 2013

Quadros da Armada Real Portuguesa IV



Quadros da Marinha Real Portuguesa

Sargentos e Praças

A tripulação dos navios era formada por profissionais, havia a classe dos Sargentos:
Sargento-Mor, Sargento-Chefe, Sargento-Ajudante, Primeiro-Sargento, Segundo-Sargento, Sub-sargento, Segundo-Sub sargento.

Dos Praças: Primeiro-Marinheiro, Segundo-Marinheiro, Primeiro-Grumete, Segundo-Grumete (com a especialidade concluída) e o Segundo-Grumete.

Depois havia os recrutas: contratados (a maioria obrigados), e gente provindo das principais ruas das cidades do Reino (a bem ou a mal).


Nas Esquadras da Marinha Real a vida nos navios que partiam para alto-mar era muito dura. Sargentos e Praças espremem-se em espaços exíguos, enfrentam os perigos dos mares e padecem de doenças terríveis. A principal causa de mortalidade, além dos naufrágios, é o mal das gengivas, um flagelo das tripulações. A tripulação se ressente da falta de alimentos frescos. Os oficiais têm permissão para embarcar animais vivos, como galinhas, cabritos e porcos, mas essa carga geralmente é consumida nos primeiros dias de viagem. A partir daí, a principal comida a bordo são os 'biscoitos da regra', feitos de farinha de trigo e centeio. Cada tripulante tem direito geralmente a 400 gramas diários de biscoito, a ração básica de sobrevivência no mar. A má conservação dos alimentos é um problema grave. Armazenada em paióis pouco arejados, quentes e húmidos, a comida apodrece rapidamente. Os navios vivem infestados de ratos, baratas e carunchas. Insectos e vermes disputam com os homens o alimento escasso e comprometem as já precárias condições de higiene. Os temperos fortes são usados para disfarçar o gosto dos alimentos deteriorados. Peixes frescos são uma raridade (além de difíceis de pescar em alto-mar, a tripulação prefere não gastar o pouco alimento disponível como isca de resultados incertos).


As refeições são preparadas num fogão a lenha existente no convés e cuidadosamente vigiado para evitar incêndios. À noite os fogões ficam apagados. A água, transportada em grandes tonéis, também apodrece pelo acumulo de algas e parasitas. Quando ela escasseia, nas longas viagens, o racionamento aumenta e cozinha-se com água do mar. Talvez venham daí as febres e diarreias que atormentam a todos. Os navios funcionam como organizações militares, com hierarquia e tarefas bem definidas, o que não tem impedido motins e rebeliões. Não é só os praças que se manifestam-se nos momentos de desespero. A elite da tripulação é composta de representantes da nobreza e profissionais altamente especializados na arte de navegar. O posto mais alto é o do capitão. Depois os sargentos-chefes, e primeiros-sargentos, responsáveis pela contratação dos marujos e pela rotina de bordo. O tenente-piloto é o comandante das operações náuticas. Deve conhecer a posição do navio o tempo todo, definir seu curso, saber ir e retornar em segurança. O escrivão, representante directo da coroa, encarrega-se de fazer os relatos da viagem no livro de contabilidade. O restante da tripulação é dividido em três categorias. Os marinheiros são profissionais do mar com experiência em viagens anteriores. Nesse grupo estão os carpinteiros, calafates, tanoeiros, meirinhos, despenseiros, cozinheiros, e os navios levam ainda a gente de guerra, os soldados e artilheiros equipados com os canhões que tanto efeito causam no além-mar. Os grumetes são aprendizes de marinheiros, novatos de primeira viagem. Aprendem a içar e recolher as velas, operar as bombas para drenar o navio e outras rotinas náuticas. Os que mostram aptidão são promovidos a marinheiros.


Só os oficiais têm aposentos próprios. A maioria da tripulação vive esparramada pelo convés e dorme em lugares improvisados. Expostos ao sol, ao frio e à chuva, muitos marinheiros morrem de doenças pulmonares. Não há 'casas de banho'. As necessidades são feitas directamente no mar, com a ajuda de pequenos assentos pendurados sobre a amurada. O uso de urinóis à noite e durante as tempestades aumenta a pestilência a bordo. O responsável pelos raros cuidados com a higiene da tripulação é o médico-cirurgião e o barbeiro. Seu estojo é composto de seis navalhas e de duas pedras de limar, e a do barbeiro duas tesouras, uma pedra de limar, dois espelhos, dois pentes, uma bacia de barbear e outra para se lavar. Nos médicos também inclui apetrechos parar curar feridas e uma farmácia de bordo com uns unguentos, óleos aromáticos, purgantes, água destilada e ervas medicinais. A função do médico é tão importante que ele é dos poucos tripulantes com o privilégio de dividir a mesa de jantar com o capitão e o piloto. Na longa solidão dos mares, as viagens são intermináveis e tediosas. O jogo de cartas constitui uma das poucas actividades de lazer a bordo, mas é mal visto pelos padres. Embora seja muito pequeno o número dos tripulantes instruídos nas letras, os padres também se opõem à leitura de livros profanos. Em seu lugar, distribuem obras que contam histórias de santos. A actividade religiosa a bordo é intensa. Os padres promovem rezas, ladainhas e representações teatrais de episódios religiosos, como o Mistério da Paixão. A adesão da tripulação é entusiasmada. Desde tempos imemoriais, os marinheiros demonstram grande fervor religioso, quando não superstição pura e simples. Sua profissão de alto risco explica esse apego.

(Marinheiro preparando a ancora

(Marinheiros a puxar a ancura)

(Marinheiro a enrolhar a vela do mastro)

A partir de 1793 os navios mercantes e de viagem passaram a navegar em comboios escoltados por uma Esquadra até a um determinado ponto e no regresso eram escoltados a partir de um lugar pré combinado. Nos comboios da Carreira da Índia, e principalmente para o Estado do Brasil, a bordo dos Navios Mercantes, podiam embarcar até 800 passageiros, o que acarretava uma grande disciplina a bordo, facto que implicava muito rigor e metodologia. As crianças representavam 10% numa viagem, eram alistadas pelos pais que recebiam o seu soldo, estes faziam os piores trabalhos, costurar velas, limpar excrementos, entre outros. Na marinha de guerra a má formação e tipo de personalidade dos marinheiros e dos mais elementos da tripulação contribuíam para haver uma grande disciplina a bordo. Na maioria dos casos estes marinheiros eram homens rudes que se faziam ao mar muitas vezes contrariados ou iludidos por um sonho ou aventura. Por isso os castigos a bordo eram frequentes, a disciplina era essencial para o bom funcionamento dos navios da armada.


A disciplina na Marinha Real nos séculos XVIII e inícios do XIX, é muitas vezes visto como um código severo e inflexível de 'começar', com o chicote e acabar com um enforcamento.  Mas para tirar a punição fora do contexto por vezes é perder a comparação entre a vida na terra e vida no mar durante o período. O código de justiça georgiana era conhecido, com razão, como o código de sangue.  Em terra, a um homem podia ser dada uma sentença de prisão longa ou transportado para um navio para a vida por crimes relativamente menores, ele pode ser enforcado por roubar tão pouco como um lenço.  A prisão rotineiramente era mantida por 20 presos a uma cela que media 20 pés por quinze anos. No mar as regras que os homens obedeceram eram conhecidos como os Artigos de Guerra.  Um homem só poderia ser enforcado por traição, motim, ou deserção. Sodomia era também uma ofensa capital, mas poucos homens foram processados ou enforcados por isso, e parece provável que tenha sido uma ocorrência rara em um navio de guerra. O espaço aberto dos homens oferecia poucas oportunidades de privacidade. No mar, a disciplina era relativamente fácil de manter. Os marinheiros sabiam que suas vidas dependiam de trabalhar em conjunto para evitar o naufrágio do navio, ou ser tomada pelo inimigo. Isso pode explicar em parte que eram necessários ter pelo menos 20 anos para comandar um navio de marinheiros experientes, desde que o capitão não comprometesse a sua segurança a tripulação estava disposta a trabalhar para ele.


No porto o trabalho era mais difícil, e muitas vezes oficiais superiores pensariam duas vezes antes de ir abaixo ao convés. A privacidade e o espaço era dono dos marinheiros que tinham a oportunidade de estar com a família e por todas as “contas em dia”. Havia a punição da ‘partida’ os ‘mestres’ batiam nas costas com uma bengala de vime ou com uma corda curta normalmente construída pelo ‘companheiro’. Era usada quando um marinheiro não estava a puxar o seu peso ou a mover-se rápido o suficiente depois de uma ordem dada O Almirantado Britânico proibiu seu uso em 1809, após o corte marcial do Capitão Robert Corbett. Na verdade a maioria dos capitães já haviam deixado a prática até então. O Chicote, em teoria um capitão de um navio só poderia pedir um máximo de 12 chicotadas, mais deveria ser tratado por uma corte marcial. Esta regra foi quebrada rotineiramente abertamente, com capitães escrevendo em seus diários o número de chicotadas concedidos para cada flagelação. Até 72 chicotadas seria improvável para atrair a atenção do Almirantado. Os homens aceitaram isso, as punições distribuídas por corte marcial tendem a ser muito mais grave. O limite de chibatadas que um capitão foi removido em 1806, e a nova regulamentação afirmou que um capitão não dava a ordem punição "sem motivo suficiente, nem mesmo com maior severidade do que a ofensa deve realmente merecer." O açoite era um castigo que parece ter sido bastante ineficaz, era frequente um homem ser flagelado pelo mesmo crime novamente. Um capitão sádico poderia fazer das tripulações a vida uma miséria, e de navios de guerra tendia a haver um aumento de deserções. A aplicação do castigo era realizada pelo ‘companheiro’ com um chicote de nove caudas. O castigo era geralmente realizada um dia após o crime, e o ‘companheiro’ faz um novo gato para cada flagelação.  O gato em si era mais pesado que a versão utilizada no Exército, feito de uma alça de corda com cerca de dois metros de comprimento e uma polegada de diâmetro para que os nove caudas da linha fossem anexos. A linha era uma polegada de diâmetro e cerca de dois metros de comprimento. Uma vez concluído, ele era colocado em um saco de baeta vermelha até ser necessário. A flagelação começava com toda tripulação se reunir a ré para testemunhar a punição.



O homem que era julgado era geralmente amarrado a uma grade arrebitado. Os ‘policias’ ficavam de lado em uniforme de gala e os fuzileiros alinhados à ré.  O capitão iria ler o artigo de Guerra que o agressor tinha quebrado e, em seguida a ordem seria dada para serem dadas a dúzia de chicotadas. Se mais de uma dúzia era ordenado, em seguida, um segundo companheiro dos mestres dava as doze próximas. A força dos golpes pode ser demonstrado pelo fato de que um gato padrão de nove caudas foi facilmente capaz, quando empunhada por um homem médio, de fazer grandes estragos ás costas de um homem. O efeito sobre as vítimas foi dito que se assemelhava a carne queimada e enegrecida. A forma mais grave de flagelação foi uma rodada de flagelação da frota. O número de chicotadas foi dividido pelo número de navios no porto e o agressor foi remado entre navios para que cada navio testemunhar a punição. A aceitação de flagelação pelos marinheiros para manter a disciplina, é difícil de medir. Nos motins 'Grande', no 'Nore' e 'Spithead', o açoitamento não foi mencionado na lista de queixas dos marinheiros. Um marinheiro só podia ser enforcado por traição, motim, ou deserção. Os enforcamentos, (possivelmente devido à escassez de homens), foram eventos raros. Um amotinado seria enforcado do braço Quintal do navio. Se ele fosse bem visto pelos seus companheiros de equipe o enforcamento era rápido e o suficiente para quebrar o pescoço. Ocasionalmente, um homem pulava ao mar para evitar o estrangulamento lento do laço. Para um ladrão a punição era ‘correr para o desafio’. Os ladrões foram particularmente impopulares com os homens, que não tinham onde trancar suas posses. O autor do furto caminhava lentamente através de duas linhas de homens que estavam armados com cordas com um nó no final. Então, eles batiam no homem quando ele passava para baixo da linha. O roubo importante era punido com açoites, e somente para este crime foi o gato atado com nós, três em três intervalos de polegada. Se os meninos dos navios que foram apanhados os problemas que poderiam ter feito para "beijar a filha dos artilheiros". Eles estavam inclinados sobre um canhão e chibatados na parte traseira. O artilheiro era o oficial encarregado do bem-estar dos ‘meninos’. Um homem também podia ser levado até ás mortalhas, onde era amarrado no aparelhamento e deixados à mercê do tempo, por quanto tempo o oficial que ordenou o castigo devia permanecer lá.


A hora da refeição constituía um dos momentos mais importantes, e, um dos mais confusos. O problema da alimentação a bordo vai ser uma constante ao longo dos séculos XVIII e XIX, uma vez que se mantêm as mesmas deficiências na armazenagem dos alimentos, ou seja a mesma cupidez dos feitos responsáveis pelo abastecimento dos navios e a mesma falta de higiene do vasilhame. Além dos ajustes de horário das refeições, às condições de navegação, havia também as naturais limitações produzidas pelo próprio acanhamento dos navios e riscos implicados pelos fogos e lumes advidos das cozinhas.


A bordo havia 2 fogões, situados no convés, um de cada lado do navio, na proa e outro na popa a ré, dos quais todos tinham de se servir. Principais alimentos o biscoito, enchidos de toda a espécie, bolachas, vinho tinto, queijo, bacalhau, azeite, vinagre, sal, arroz, grão-de-bico, presunto, carnes e peixes, conservas, frutos secos (damasco, figos, ameixas, amêndoas, avelãs, e nozes), ervas aromáticas, alho, cebola, picante, louro, mostarda, orégão, entre outros. Para conservar alguns destes alimentos mantinha-se as barricas cheias de sal. Um dos principais problemas da alimentação a bordo, residia na qualidade da água, pois a falta de escalas na viagem fazia com que os navios usassem em todo o percurso a água do primeiro abastecimento em Lisboa, ou então quando se faziam escalas abasteciam-se os navios.

               
A partir do Séc. XVIII demonstrou-se que a ração alimentar com frutos cítricos (laranja e limões) evitavam o escorbuto, no Séc XIX foi determinado que a ingestão de arroz integral (em substituição do arroz polido) prevenia a ocorrência de beribéri. Os víveres são embarcados consoante o planeamento da viagem, rota e tipo de embarcação. As Naus de Linha e principalmente as Naus de viagem, transportavam animais vivos, tais como, galinhas, coelhos, carneiros, entre outros. Todos os navios levavam um capelão “ Se queres aprender a orar, entra no mar”. A maneira como os navios eram habitados, navegados e comandados resumia o pequeno universo da sociedade Portuguesa da época, onde os religiosos embarcados cuidavam de manter o enorme poder que a igreja detinha em Portugal. A bordo, a assistência religiosa era assegurada pelos padres que asseguravam todos os preceitos religiosos incluindo todas as cerimónias. As missas e os terços celebravam-se várias vezes ao dia e cumpria-se as dedicações do calendário litúrgico.


O aparato religioso, fazia-se representar pelas alfaias religiosas e por um altar colocado no castelo de proa. Na verdade havia muitos estímulos para manter a bordo uma vida religiosa, pois os perigos eram eminentes e a morte permanente. Às Sextas Feiras, dia de abstinência, suspendia-se a carne, trazendo o peixe para a mesa. Os preceitos pascais eram de um modo geral cumpridos como se de uma aldeia se tratasse. Há muitas notícias de procissões e de solenidades religiosas em que não faltava o 'lava-pés'. Estas ocorriam com alguma frequência. Acção de Graças, Rações Diárias, Laudes, Vésperas, Completas, Ladainhas etc. Entre os actos de assistência espiritual a bordo figuravam as confissões. As várias viagens para outros continentes, traz ao país novas doenças e problemas médicos. As doenças manifestavam-se com certa facilidade e decorriam de duas situações principais, falta de condições higiénicas e alimentação deficiente. É facilmente compreensível que o navio representa, pelas suas dimensões, um excelente meio de transmissão de agentes patológicos de vária ordem. Ninguém se lavava, pois o banho era considerado nocivo à saúde


Os Navios Mercantes, e as Naus de Viagem, eram um amontoado de capoeiras, dispensas, caixas, tonéis e canastros. Esta desorganização por falta de espaço contribuía para a proliferação de ratos e baratas, que disputavam com os homens os alimentos comprometendo as condições e a higiene a bordo. A doença estava indivisível da crença, antes da partida eram frequentes as doações em benefício das casas religiosas em troca de dádiva divina. Os passageiros estavam entregues a si próprios, muitos inconscientes da aventura que os esperava. As reparações dos navios eram apresadas, os excessos de carga o alterar das rotas e o desrespeito pelas condições climatéricas faziam com que o número dos naufrágios fosse enorme, o reduzido espaço a bordo era compartilhado por animais, barris, fardos, passageiros, o frio insuportável e o calor abrasador, chuva abundante que inundava toda a embarcação, as condições sanitárias, a carência de géneros alimentares frescos a deterioração da carne e peixe, a falta de água, os abrigos para dormir faziam com que a dureza, fome, sede, doença, o risco de naufrágios, o temor de um ataque inimigo estivessem presentes. Em busca de novos horizontes de riqueza e aventura, todos os anos partiam passageiros rumo à Índia e ao Brasil. Estavam entregues a si próprios inconscientes da aventura que os esperava, sem o mínimo de informação sobre os riscos destas longas viagens. Em relação à marinha mercante, atendendo chegar em primeiro lugar com as suas mercadorias, os capitães viajavam para fora da época aconselhada, desrespeitando as monções e alterando as rotas. Apressavam as reparações nos navios, colocavam-lhes um excesso de carga reduzindo ao mínimo o espaço destinado ao alojamento das provisões e ao descanso dos tripulantes. Os naufrágios tornaram-se a principal causa da morte em Portugal, calcula-se que 40% dos navios nunca chegara ao destino “…enormes, super carregados e mal arrumadas os navios mercantes portugueses eram presa fácil de corsários franceses, e dos temporais…”.

      

Os passageiros amontoavam-se misturados com fardos, barris de carga e animais vivos que seriam consumidos durante a viagem. Por vezes uma chuva abundante, inundava a embarcação. As condições sanitárias eram as piores possíveis. Os passageiros vomitavam e faziam as suas necessidades uns sobre os outros, numa atmosfera nauseabunda sendo a falta de limpeza a causa de inúmeras doenças e mortes. As carências de géneros alimentares frescos, a deterioração da carne e peixe conduziam rapidamente a fome. A falta de água era um terrível pesadelo estas carências eram devidas quer a poupança e ambição dos armadores, quer à degradação dos alimentos pelas condições climatéricas. Doenças, o risco de naufrágio, o temor de ataque inimigo estavam sempre presentes. Havia inúmeros casos de depressão e outras doenças do foro psiquiátrico. Na verdade a maioria das embarcações a falta de recursos médicos era uma constante. Esta carência era devida a vários factores. A ignorância própria de uma época acerca das doenças e dos seus tratamentos. A existência de uma sociedade fortemente modelada pela religião e também pela falta de motivação na pratica da arte medica que era mal remunerada. A importância de ter um médico a bordo causou que alguns capitães começassem a pedir ao rei que pelo menos em alternativa aos físicos equipem as armadas com um barbeiro.


As hipo-avitaminoses, como são conhecidas as doenças causadas pela falta de vitaminas, são pragas conhecidas há muito tempo pelo homem, o escorbuto foi uma das primeiras doenças que começou a matar intensamente as Naus de Longo Curso, ficavam meses em mar sem tocar terra, privava-se o acesso dos marinheiros a alimentos que contêm vitaminas. A alimentação a bordo, era constituída basicamente de bolachas secas, agua, vinho e carne salgada. A vitamina C era totalmente ausente. Os marinheiros caiam doentes depois de um ou dois meses, as gengivas ficavam inflamadas e inchadas apodrecendo com um tremendo mau hálito, os dentes caiam todos, apareciam feridas e hemorragias nas mucosas e na pele, sobre-vinha a fraqueza, a anemia, e gradualmente a morte. Sintomas eram causados pela acção de vitamina C que é essencial para cicatrização de feridas e a formação de colágeneo (proteínas importante para pele, tendões, ossos e tecidos conjuntivo). A sua deficiência crónica leva à formação defeituosa de colágeneo o que dá sintomas de clássicos de escorbuto. O escorbuto conhecido também por mal de Lunda ou mal dos marinheiros, era a doença mais temida e porventura a mais repulsiva, manifestava-se em dores nas juntas, inchaço nas extremidades, retardando o crescimento da criança, anemia dispneia (dificuldades de respiração). Susceptibilidade aumentada ás infecções. A ignorância a respeito das causas e do tratamento do escorbuto, ate 1753, James Lind, médico naval escocês descobriu que o consumo de laranjas, lima, limões e toranjas evitava o escorbuto. Inflamação nervosa. A Beribéri (fraqueza extrema em Senegalês) é uma forma de polineunte (inflamação de bainha dos nervos) causada por falta de vitamina B1 ou tiamina, a adição de vegetais peixe e carne à dieta dos marinheiros eliminou totalmente a beribéri entre eles. Os sintomas do beribéri incluem perda de apetite, extrema fraqueza, problemas digestivos, diminuição da sensibilidade nas extremidades, atrofia progressiva dos nervos longos, dos músculos da perna e dos braços e edema (causado por insuficiência cardíaca). Outras doenças, tais como as febres, tremores, cuja causa se atribuía às grandes variações de temperatura, e ainda havia o problema com o Paludismo, Cólera etc. Em muitos navios as doenças propagavam-se com tanta facilidade que era difícil encontrar gente capaz e com robustez física para assegurar a manobra ou a defesa do mesmo. 


Para passar longos períodos de lazer os passageiros e a tripulação dedicavam-se a alguns divertimentos, uma vez que o clima a bordo era pesado, daí inventarem-se divertimentos, transferindo-se para o mar hábitos de terra, tentando, assim aliviar a pressão existente. O jogo mais procurado, embora condenado sempre pelo padre que seguia a bordo eram os jogos de azar. O lazer era proibido pelos padres que condenavam os jogos de cartas e dados, apesar das advertências dos religiosos, a jogata a bordo era uma constante. Nestes jogos trocavam-se bens e benefícios e faziam-se promessas a cumprir aquando da chegada. A pesca e a contemplação do ambiente que os envolvia eram outro dos passatempos preferidos da tripulação. A passagem de bandos de aves, de cardumes de peixes, de peixes voadores, golfinhos e de baleias, são muitas vezes comentados em qualquer relação. Por vezes pescavam tintureiras que matavam com grande divertimento à paulada no navio depois de recolhidas. Quando assim não sucedia atavam-lhes objectos flutuantes, voltavam a atira-las ao mar e ficavam regalados a ver o animal tentar, sem capacidade, poder mergulhar. Também das tintureiras faziam o seu maior espectáculo. Consistia em recriar com estas, no convés do navio, as tão apetecidas touradas, muito ao gosto da época. O teatro era igualmente levado à cena, nomeadamente em algumas ocasiões de solenidades religiosas.

      

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