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quarta-feira, outubro 29, 2014

O Império Otomano - XIV - XIX



O Império Otomano (em turco otomano: دَوْلَتِ عَلِيّهٔ عُثمَانِیّه; transl: Devlet-i ʿAliyye-yi ʿOsmâniyye ou عثمانلى دولتى; Osmanlı Devleti, em turco moderno, Osmanlı Devleti ou Osmanlı İmparatorluğu) foi um Estado turco que existiu entre 1299 e 1922 e que no seu auge compreendia a Anatólia, o Médio Oriente, parte do norte de África e do sudeste europeu. Foi estabelecido por uma tribo de turcos oguzes no oeste da Anatólia e era governado pela dinastia Otomana (Osmanlı).

Em círculos diplomáticos, muitas vezes, fazia-se-lhe referência como ‘Sublime Porta’ ou simplesmente como ‘A Porta’. Esta porta era a entrada do palácio do grão-vizir, símbolo do poder otomano, que embora residisse no sultão, a sua face visível era a do governo do seu grão-vizir, pois era muito raro que alguém para além dos seus servidores mais directos e altos dignitários otomanos fosse admitido à presença do sultão.


Fundado por Ertughrul e o seu filho Osman I (em árabe, Uthmān ou Otman, de onde deriva o nome ‘otomano’), nos séculos XVI e XVII, o império constava entre as principais potências políticas da Europa e vários países europeus temiam os avanços dos otomanos nos Balcãs. No seu auge, no século XVII, o território otomano compreendia uma área de 5.000.000 km² e estendia-se desde cerca do estreito de Gibraltar, a oeste, ao mar Cáspio e ao golfo Pérsico, a leste, e desde a fronteira com as atuais Áustria e Eslovénia, no norte, aos atuais Sudão e Iémen, no sul. Sua capital era a cidade de Constantinopla, tomada ao Império Bizantino em 29 de maio de 1453. O Império Otomano foi a única potência muçulmana a desafiar o crescente poderio da Europa Ocidental entre os séculos XV e XIX. Declinou marcadamente ao longo do século XIX e terminou por ser dissolvido após sua derrota na Primeira Guerra Mundial. Ao final do conflito, o governo otomano desmoronou e o seu território foi partilhado. O cerne político-geográfico do império transformou-se na República da Turquia, após a guerra de independência turca.


A partir de 1517, o sultão otomano, era também, o ‘Califa do Islão’, e o Império Otomano era entre 1517 e 1922 (ou 1924) o sinónimo de Califado, o Estado Islâmico. O auge do Império Otomano foi durante o governo de Solimão, o Magnífico, no qual seus exércitos chegaram às portas de Viena, e Constantinopla foi transformada em capital cultural e política. Durante este breve período, o Califado atingiu sua máxima extensão, estendendo-se do oceano Atlântico até o Índico; do norte do Sudão até o sul da Rússia. Foi também durante o seu governo que ocorreram as batalhas de Rodes, Tabriz, Malaca, Manila e o Cerco de Viena.

Ascensão do Império Otomano

(1299-1453)

Com o desaparecimento do Sultanato de Rum, por volta de 1300, a Anatólia turca foi dividida em uma colcha de retalhos de estados independentes, os Beyliks. Por volta de 1300, o enfraquecido Império Bizantino havia perdido a maioria de suas províncias na Anatólia para dez Beyliks. Um desses Beyliks era liderado por Osman I, filho de Ertughrul, da região de Eskişehirna Anatólia Ocidental. No mito da fundação do império contada em uma história medieval turca conhecida como "O sonho de Osman", Osman quando jovem sonhou com a visão de um império que era uma grande árvore cujas raízes se estendiam por três continentes e seus ramos cobriam os céus. Ainda de acordo com o sonho, essa árvore que simbolizava o império de Osman, alcançava quatro rios com suas raízes, o Tigre, o Eufrates, o Nilo e o Danúbio. Essa árvore fazia sombra em quatro cadeias de montanhas, o Cáucaso o Tauro, o Atlas e os Balcãs. Osman I era admirado como um governante forte e dinâmico, muito depois de sua morte era um elogio a frase "ele pode ser tão bom como Osman." Durante seu reino como sultão, Osman estendeu as fronteiras otomanas até a fronteira do Império Bizantino e estabeleceu um governo formal e cujas instituições iriam mudar drasticamente a vida por todo o império. O governo usou a entidade legal conhecida como millet, na qual minorias étnicas e religiosas podiam lidar seus assuntos independentemente do poder central.


No século após a morte de Osman I, o domínio otomano começou a se estender sobre o Mediterrâneo Oriental e os Balcãs. Seu filho, Orhan I capturou a cidade de Bursa em 1324 e a tornou capital do Estado Otomano. A queda de Bursa em mãos otomanas significou o fim do domínio bizantino no noroeste da Anatólia. A importante cidade de Tessalónica, foi conquistada dos venezianos em 1387, e a vitória turca na batalha do Kosovo em 1389, efectivamente, marcou o fim do poder sérvio na região, abrindo caminho para a expansão otomana na Europa. A Batalha de Nicópolis em 1396, amplamente considerada como a última cruzada de larga escala da Idade Média, não conseguiu parar o avanço vitorioso dos turco-otomanos. Com a extensão do domínio turco nos Balcãs, a estratégica conquista de Constantinopla tornou-se um objetivo fundamental. O império controlou quase todas as terras ex-bizantinas que circundavam a cidade, mas os bizantinos foram temporariamente aliviados quando Tamerlão invadiu a Anatólia na Batalha de Ancara em 1402, prendendo o sultão Bayezid I. A captura de Bayezid gerou o caos entre os turcos. O Estado entrou em uma guerra civil que durou de 1402 a 1413, com os filhos de Bayezid lutando pela sucessão. Ela só terminou quando Mehmed I emergiu como o sultão e restaurou o poder, pondo fim ao período que ficou conhecido como ‘Interregno Otomano’. Parte dos territórios otomanos nos Balcãs (por exemplo, Tessalónica, a Macedónia e o Kosovo) foi temporariamente perdida após 1402, sendo posteriormente recuperada por Murad II entre 1430 e 1450. Seu filho, Mehmed, o ‘Conquistador’, reorganizou o Estado e os militares, e demonstrou sua habilidade militar ao capturar Constantinopla em 29 de maio de 1453, com 21 anos de idade.

A Queda de Constantinopla
(1453)


Denomina-se queda de Constantinopla a conquista da capital bizantina pelo Império Otomano sob o comando do sultão Maomé II, na terça-feira, 29 de maio de 1453. Isto marcou não apenas a destruição final do Império Romano do Oriente, e a morte de Constantino XI Paleólogo, o último imperador bizantino, mas também a estratégica conquista crucial para o domínio otomano sobre o Mediterrâneo oriental e os Balcãs. A cidade de Constantinopla permaneceu capital do Império Otomano até a dissolução do império.


A conquista de Constantinopla para os Turcos Otomanos foi um evento histórico que segundo alguns historiadores marcou o fim da Idade Média na Europa, e também decretou o fim dos últimos vestígios do outrora poderoso império Romano agora dividido e chamado de império Bizantino. Mas agora governavam um império depauperado economicamente e sem o apoio da Igreja, império que perdurou até 1453 quando foi conquistada pelas forças otomanas. Os otomanos já haviam imposto sua força ao combalido Império Bizantino, tomando suas últimas cidades asiáticas de Bursa, Niceia (atual İznik) e Nicomédia (atual İzmit), antes da conquista da cidade.


O imperador bizantino Cantacuzeno prometeu aos otomanos a posse de uma fortaleza do lado europeu do estreito de Dardanelos (a primeira ocupação de uma civilização asiática na Europa desde a invasão do Império Mongol sobre a Ucrânia, no século XIII). Entretanto, o príncipe otomano Suleiman decidiu reforçar sua posição tomando a cidade de Gallipoli, estabelecendo o controle sobre toda a península e uma base estratégica para a expansão do Império Otomano na Europa. Quando Cantacuzeno exigiu a devolução da cidade, os otomanos voltaram-se para Constantinopla.


O cisma, entre Igrejas Romana e Ortodoxa, manteve Constantinopla, distante, das nações ocidentais, e mesmo durante os cercos de turcos muçulmanos, não conseguira mais do que indiferença de, Roma e seus aliados. Em uma última tentativa de aproximação, tendo em vista a constante ameaça turca, o imperador João VIII Paleólogo promoveu um concílio em Ferrara, na Itália, onde as diferenças entre as duas fés foram rapidamente resolvidas. Entretanto, a aproximação provocou tumultos entre a população bizantina, dividida entre os que rejeitavam a igreja romana e os que apoiavam a manobra política de João VIII.

João VIII morrera em 1448, e seu filho Constantino XI Paleólogo assumiu o trono no ano seguinte. Era uma figura popular, tendo lutado na resistência bizantina no Peloponeso frente ao exército otomano, mas seguia a linha de seu pai na conciliação das igrejas oriental e ocidental, o que causava desconfiança não só entre o clero bizantino como também no sultão Murad II, que via esta aliança como uma ameaça de intervenção das potências ocidentais na resistência à sua expansão na Europa.


Em 1451, Murad II, morreu, sendo sucedido, pelo o seu jovem, filho Maomé II Inicialmente, Maomé prometera não violar o território bizantino. Isto aumentou a confiança de Constantino que, no mesmo ano se sentiu seguro o suficiente para exigir o pagamento de uma anuidade para a manutenção de um obscuro príncipe otomano, mantido como refém, em Constantinopla. Furioso mais pelo ultraje do que pela ameaça a seu parente em si, Maomé II ordenou os preparativos para um cerco total à capital bizantina.


O pavor agia como uma epidemia, corroendo os nervos dos patrícios, dos nobres, da corte e do povo em geral. A situação piorou ainda mais quando o sultão mandara expor 76 soldados cristãos empalados por seus carrascos na frente das muralhas para que os habitantes de Constantinopla soubessem o destino que os aguardava. Dias mais depressivos tiveram antes, no momento em que a grande bombarda turca (chamada de Grã Bombarda) um monstro de bronze e de oito metros de comprimento e de sete toneladas, que os sitiantes trouxeram de longe, arrastado por 60 bois e auxiliado por um contingente de 200 homens (ele era dividido ao meio para melhor facilitação do transporte), começara a despejar balas de 550 quilos contra as portas e as muralhas da cidade. Parecia um raio atirado dos céus para vir arrasar com as expectativas de salvação dos cristãos. Pela frente os turcos invasores tinham uma linha de 22 km de muralhas e 96 torres bem fortificadas ainda por vencer, mas para os cristãos era pior, pois somente viam a sombra da foice da morte.


Os dois lados se prepararam para a guerra. Os bizantinos, agora com a simpatia das nações católicas, enviaram mensageiros às nações ocidentais implorando por reforços, e conseguindo promessas. Três navios genoveses contratados pelo Papa estavam a caminho com armas e provisões. O Papa ainda havia enviado o cardeal Isidro, com trezentos arqueiros napolitanos para sua guarda pessoal. Os venezianos enviaram em meados de 1453 um reforço de 800 soldados e 15 navios com suprimentos, enquanto os cidadãos venezianos residentes em Constantinopla aceitaram participar das defesas da cidade. A capital bizantina ainda recebeu reforços dos cidadãos de Pera (atual Beyoğlu) e genoveses renegados, entre os quais Giovanni Giustiniani Longo, que se encarregaria das defesas da muralha leste, e 700 soldados. Tonéis de fogo grego, armas de fogo, e todos os homens e jovens capazes de empunhar uma espada e um arco foram reunidos. Entretanto, as forças bizantinas provavelmente não chegavam a 7 mil soldados e 26 navios de guerra ancorados no Corno de Ouro. Os otomanos, por sua vez, iniciaram o cerco construindo rapidamente uma fortaleza 10 km ao norte de Constantinopla. Maomé II sabia que os cercos anteriores haviam fracassado porque a cidade recebia suprimentos pelo mar, então tratou de bloquear as duas entradas do mar de Mármara, com uma fortaleza armada com três canhões no ponto mais estreito do Bósforo, e pelo menos 125 navios ocupando Dardanelos, o mar de Mármara e o oeste do Bósforo.


Maomé ainda reuniu um exército estimado em 100 mil soldados, 80 mil dos quais soldados turcos profissionais (os demais recrutas capturados em campanhas anteriores, mercenários, aventureiros e renegados cristãos, que seriam usados para os ataques directos). Cerca de 5.000 desses soldados eram janízaros, a elite do exército otomano. No início de 1452, um engenheiro de artilharia húngaro chamado Urbano ofereceu seus serviços ao Sultão. Maomé o fez responsável pela instalação dos canhões em sua fortaleza.


O cerco, começou oficialmente, em 6 de, abril de 1453, quando o grande canhão, disparou o primeiro tiro em direção ao vale do Rio Lico, que penetrava em Constantinopla por uma depressão sob a muralha que possibilitava o posicionamento da bombarda em uma parte mais alta. A muralha, até então imbatível naquele ponto, não havia sido construída para suportar ataques de canhões, e em menos de uma semana começou a ceder.


Todos os dias, ao anoitecer, os bizantinos se esgueiravam para fora da cidade para reparar os danos causados pelo canhão com sacos e barris de areia, pedras estilhaçadas da própria muralha e paliçadas de madeira. Os otomanos evitaram o ataque pela costa, pois as muralhas eram reforçadas por torres com canhões e artilheiros que poderiam destruir toda a frota em pouco tempo. Por isso, o ataque inicial se restringiu a apenas uma frente, o que possibilitou tempo e mão-de-obra suficientes aos bizantinos para suportarem o assédio.


No início do cerco, os bizantinos, conseguiram duas vitórias, animadoras. Em 12 de abril, o almirante búlgaro Suleiman Baltoghlu, a serviço do sultão, foi repelido pela armada bizantina ao tentar forçar a passagem pelo Corno de Ouro. Seis dias depois, o sultão Maomé II tentou um ataque à muralha danificada no vale do Licos, mas foi derrotado por um contingente bem menor, mas mais bem armado de bizantinos, sob o comando de Giustiniani. Em 20 de abril os bizantinos avistaram os navios enviados pelo Papa, mais um outro navio grego com grãos da Sicília, que atravessaram o bloqueio de Dardanelos quando o Sultão deslocou seus navios para o mar de Mármara. Baltoghlu tentou interceptar os navios cristãos, mas viu sua frota ser destruída por ataques de fogo grego despejado sobre suas embarcações. 


Os navios, chegaram com êxito ao Corno de Ouro, e Baltoghlu, foi humilhado, publicamente pelo Sultão e dispensado. Em 22 de abril, o sultão aplicou um golpe estratégico nas defesas bizantinas.



Impossibilitados, de atravessar a corrente, que fechava o Corno de Ouro, o sultão ordenou a construção de uma estrada de rolagem ao norte de Pera, por onde os seus navios poderiam ser puxados por terra, contornando a barreira. Com os navios posicionados em uma nova frente, os bizantinos logo não teriam recursos para reparar suas muralhas. Sem escolha, os bizantinos se viram forçados a contra-atacar, e em 28 de abril tentaram um ataque de surpresa aos turcos no Corno de Ouro, mas foram descobertos por espiões e executados. Os bizantinos então decapitaram 260 turcos cativos e arremessaram seus corpos sobre as muralhas do porto.


Bombardeados diariamente em duas frentes, os bizantinos raramente eram atacados pelos soldados turcos. Em 7 de Maio o Sultão tentou um novo ataque ao vale do Lico, mas foi novamente repelido. No final do dia, os otomanos começaram a mover uma grande torre de assédio, mas durante a noite soldados bizantinos conseguiram destruí-la antes que fosse usada. Os turcos também tentaram abrir túneis por baixo das muralhas, mas os gregos cavavam do lado interno e atacavam de surpresa com fogo ou água. A mão-de-obra estava sobrecarregada, os soldados cansados e os recursos escasseando, e o próprio Constantino XI coordenava as defesas, inspeccionava as muralhas e reanimava as tropas por toda a cidade.


A resistência de Constantinopla começou a ruir frente ao desânimo causado por uma série de maus presságios. Na noite de 24 de maio houve um eclipse lunar, relembrando aos bizantinos uma antiga profecia de que a cidade só resistiria enquanto a lua brilhasse no céu. No dia seguinte, durante uma procissão, um dos ícones da Virgem Maria caiu no chão. Logo em seguida, uma tempestade de chuva e granizo inundou as ruas. Os navios prometidos pelos venezianos ainda não haviam chegado e a resistência da cidade estava no seu limite.


Ao mesmo tempo, os turcos enfrentavam problemas. O custo para sustentar um exército de 100 mil homens era muito grande, e oficiais comentavam da ineficiência das estratégias do Sultão até então. Maomé II se viu obrigado a lançar um ultimato a Constantinopla, os turcos poupariam as vidas dos cristãos se o imperador Constantino XI Paleólogo, entregasse a cidade. Como alternativa, prometeu levantar o cerco se Constantino pagasse um pesado tributo. Com os tesouros vazios desde o saque feito pela Quarta Cruzada, Constantino foi obrigado a recusar a oferta, e Maomé lançou um ataque rápido e decisivo.


O ataque final. Maomé II ordenou que as tropas descansassem no dia 28 de maio para se prepararem para o assalto final no dia seguinte. Pela primeira vez em quase dois meses não se ouviu o barulho dos canhões e das tropas em movimento. Para quebrar o silêncio e levantar o moral para o momento decisivo, todas as igrejas de Constantinopla tocaram seus sinos por todo o dia. Durante a madrugada do dia 29 de maio de 1453, Maomé lançou um ataque total às muralhas, composto principalmente por mercenários e prisioneiros, concentrando o ataque no vale do Lico.



Por duas horas, o contingente superior de mercenários europeus foi repelido pelos soldados bizantinos sob o comando de Giovanni Giustiniani Longo, providos de melhores armas e armaduras e protegidos pelas muralhas. Mas com as tropas cansadas, teriam agora que enfrentar o exército regular de 80 mil turcos.


O exército turco atacou por mais duas horas, sem vencer a resistência bizantina. Então abriram espaço para o grande canhão, que abriu uma brecha na muralha por onde os turcos concentraram seu ataque. Constantino XI Paleólogo em pessoa coordenou uma cadeia humana que manteve os turcos ocupados enquanto a muralha era consertada. O Sultão então lançou mão dos janízaros, que escalavam a muralha com escadas. Mas após mais uma hora de combates, os janízaros ainda não haviam conseguido entrar na cidade.


Com os ataques concentrados no vale do Lico, os bizantinos cometeram a desatenção de deixar o portão da muralha noroeste semiaberto. Um destacamento otomano penetrou por ali e invadiu o espaço entre as muralhas internas e externas. Neste momento, o comandante Giustiniani fora ferido e havia sido retirado às pressas para um navio. Sem sua liderança, os soldados gregos lutaram desordenadamente contra os disciplinados turcos. Diz-se que no último momento, o imperador Constantino XI Paleólogo desembainhou a espada e partiu para a luta, e nunca mais foi visto. Giustiniani também viria a morrer mais tarde em virtude dos ferimentos na ilha grega de Quios, onde encontrava-se ancorada a prometida esquadra veneziana à espera de ventos favoráveis.


O saque e o controle turco. Desesperados, os sobreviventes correram para suas casas a fim de salvar suas famílias. Muitos fugiram em navios, quando os marinheiros turcos viram que a cidade caíra e poderiam aproveitar para participar do saque. Os turcos saquearam e mataram o quanto puderam. A Catedral de Santa Sofia (hoje conhecida como Hagia Sophia), o coração de todo o cristianismo ortodoxo, viu-se repleta de refugiados à espera de um milagre que não aconteceu, os clérigos foram mortos e as freiras capturadas.



Maomé II entrou na cidade à tarde em desfile triunfal e ordenou que a catedral fosse consagrada como mesquita. Talvez por ter considerado a cidade por demais destruída, o sultão ordenou o fim dos saques e da destruição no mesmo dia (contrariando a promessa de 3 dias de saques que fizera antes da guerra). Terminou com cinquenta mil presos, entre os quais soldados, clérigos e ministros. Este contingente bizantino recebeu autorização para viver na cidade sob a autoridade de um novo patriarca, Genádio, designado pelo próprio sultão para se assegurar de que não haveria revoltas. Caía finalmente, depois de mais de dez séculos, a maçã de prata ou simplesmente Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente.


A queda de Constantinopla teve grande impacto no Ocidente. Os cronistas da época confiavam na resistência das muralhas e achavam impossível que os turcos pudessem superá-las. Chegou-se a iniciar conversações para uma nova cruzada para liberar Constantinopla do jugo turco, mas nenhuma nação poderia ceder tropas naquele momento. Os próprios genoveses se apressaram a prestar respeitos ao sultão, e assim puderam manter seus negócios em Pera (atual Beyoğlu) por algum tempo.


Com Constantinopla (e todo o Bósforo, neste sentido) sob domínio muçulmano, o comércio entre Europa e Ásia declinara subitamente. Nem por terra nem por mar os mercadores cristãos conseguiriam passagem para as rotas que levavam à Índia e à China, de onde provinham as especiarias usadas para conservar alimentos, além de artigos de luxo, e para onde se destinavam suas mercadorias mais valiosas.


Desta forma, as nações europeias iniciaram projetos para o estabelecimento de rotas comerciais alternativas. Portugueses e espanhóis aproveitaram sua posição geográfica junto ao Oceano Atlântico e à África para tentar um caminho ao redor deste continente para chegar à Índia (percurso percorrido com sucesso por Vasco da Gama entre 1497 e 1498). Já Cristóvão Colombo via uma possibilidade de chegar à Ásia pelo oeste, através do Oceano. Nesta empreitada, financiada pelos reis de Espanha, o navegador genovês alcançou, em 1492, o continente americano, dando início ao processo de ocupação do Novo Mundo. Com as grandes navegações, os dois países, outrora sem muita expressão no cenário político europeu, se tornaram no século XVI os mais poderosos do mundo, estabelecendo uma nova ordem mundial.


A cidade se tornou a nova capital do Império Otomano, e Mehmed II assumiu o título de Kayser-i Rûm (‘Imperador Romano’). No entanto, este título não foi reconhecido pelos gregos ou pelos europeus ocidentais, e os czares russos também alegaram serem os sucessores do título imperial oriental. Para consolidar a sua aclamação, Mehmed II aspirava ter controlo sobre o capital ocidental, Roma, e as forças otomanas ocuparam partes da península Itálica, a partir de Otranto e Apúlia, em 28 de Julho de 1480. Mas depois da morte de Mehmed II, em 3 de maio de 1481, a campanha na Itália foi cancelada e as forças otomanas recuaram.

Crescimento

(1453-1683)

Este período da história otomana, pode ser dividido, em dois períodos. Um de crescimento territorial, económico e cultural até 1566, depois seguido de um período de relativa estagnação política e militar.

Expansão e Apogeu

(1453-1566)


A conquista otomana de Constantinopla consolidou, o poder do império como uma força em potencial no sudeste da Europa e no Mediterrâneo oriental. Durante este tempo, o Império Otomano entrou em um período de conquistas e expansão ampliando suas fronteiras mais longe na Europa e no norte da África. As conquistas em terra foram orientadas pela disciplina e inovação do exército otomano, e sobre o mar, a marinha otomana ajudou nesta expansão significativamente. A marinha também bloqueou as principais rotas comerciais marítimas, em concorrência com as cidades-estado italianas no mar Negro, mar Egeu e mar Mediterrâneo e com possessões portuguesas no mar Vermelho e oceano Índico. O Estado também prosperou economicamente, graças ao seu controle das rotas de maior tráfego entre a Europa e a Ásia. Este bloqueio sobre o comércio entre a Europa Ocidental e a Ásia é frequentemente citado como um factor primário de motivação para que os reis da Espanha financiassem a viagem de Cristóvão Colombo para encontrar outra rota de navegação para a Ásia.


O império prosperou sob o domínio de uma linha de sultões empenhada e eficaz. O sultão Selim I (1512-1520) expandiu as fronteiras leste e sul do império, derrotando Shah Ismail do Império Safávida, na Batalha de Chaldiran. Selim I estabeleceu a presença otomana no Egipto e criou uma presença naval no mar Vermelho. Após esta expansão otomana, uma competição começou entre o Império Português e o Império Otomano para se tornar a potência dominante na região.



Sucessor de Selim, Solimão I, o Magnífico (1520-1566), alargou ainda mais as fronteiras do império. Após a tomada de Belgrado em 1521, Solimão conquistou o sul e o centro do Reino da Hungria (ao passo que as regiões ocidental, norte e nordeste não foram conquistadas) e estabeleceu o domínio otomano, no território da Hungria atual (excepto a parte ocidental) e outros territórios da Europa Central, após sua vitória na Batalha de Mohács em 1526. Ele então liderou o cerco de Viena em 1529, mas não conseguiu tomar a cidade após o início do inverno, forçando sua retirada. Em 1532, outro ataque a Viena com um exército planejado para ter mais de 250.000 homens foi repelido a 97 quilómetros ao sul da cidade, na fortaleza de Güns. Depois de mais avanços pelos otomanos em 1543, o governante Habsburgo Ferdinand oficialmente reconheceu a ascendência otomana na Hungria em 1547.



Durante o reinado de Solimão, a Transilvânia, a Valáquia e, intermitentemente, a Moldávia, tornaram-se principados do Império Otomano. No leste, os otomanos tomaram Bagdad a partir da Mesopotâmia em 1535, ganhando o controlo da Mesopotâmia e acesso naval ao golfo Pérsico. Até o final do reinado de Solimão, a população do império atingiu a marca de cerca de 15.000.000 pessoas.


Sob Selim e Solimão, o império tornou-se uma força dominante naval, controlando grande parte do mar Mediterrâneo. As façanhas do almirante otomano Hayreddin Barbarossa, que comandou a marinha otomana durante o reinado de Solimão, conduziram a uma série de vitórias militares sobre as marinhas cristãs.



Entre estes estavam a conquista aos espanhóis de Túnis e Argélia, a evacuação dos muçulmanos e judeus da Espanha para a segurança das terras otomanas (em particular, Tessalónica, Chipre, e Constantinopla), durante a Inquisição Espanhola e a captura de Nice do Sacro Império Romano Germânico em 1543. Esta última conquista ocorreu em nome da França numa aliança entre as forças do rei francês Francisco I e as de Hayreddin Barbarossa. França e o Império Otomano, unidos pela oposição mútua à Monarquia de Habsburgo, na Europa do Sul e na Europa Central, tornaram-se fortes aliados durante este período. A aliança era económica e militar, como os sultões concederam à França o direito do comércio dentro do império, sem cobrança de impostos. Na verdade, o Império Otomano foi por esse tempo uma parte significativa e aceite da esfera política europeia, e entrou em uma aliança militar com a França, o Reino da Inglaterra e a República Holandesa contra Espanha, Itália [necessário esclarecer] e Áustria.


À medida que o século XVI avançava, a superioridade naval Otomana foi desafiada pelo crescente poder marítimo da Europa ocidental, particularmente em Portugal, no golfo Pérsico, oceano Índico e nas ilhas das Especiarias. Com os otomanos bloqueando rotas marítimas para o Oriente e Sul, as potências europeias foram impulsionadas a encontrar outro caminho para a seda e as rotas de especiarias, agora sob o controle otomano. Em terra, o império estava preocupado com as campanhas militares na Áustria e na Pérsia, duas frentes amplamente separados.



A tensão destes conflitos sobre os recursos do império e da logística de manutenção de linhas de abastecimento e comunicação entre essas grandes distâncias, em última instância fez com que seus esforços marítimos se tornassem insustentáveis e sem êxito. A necessidade imperiosa militar para a defesa nas fronteiras ocidentais e orientais do império acabou por tornar impossível o engajamento eficaz a longo prazo em uma escala global.


Revoltas e Renascimento
(1566-1683)

O efectivo militar e as estruturas burocráticas do século passado também ficaram sob tensão durante um período prolongado de governo por sultões fracos. Mas, apesar destas dificuldades, o império manteve-se uma como potência expansionista até a Batalha de Viena em 1683, que marcou o fim da expansão otomana na Europa. 
Os estados europeus iniciaram esforços no momento para travar o controlo otomano das rotas comerciais terrestres. Estados da Europa Ocidental começaram a contornar o monopólio do comércio otomano, estabelecendo suas próprias rotas navais para a Ásia. Economicamente, o enorme afluxo de prata espanhola do Novo Mundo causou uma forte desvalorização da moeda otomana e inflação galopante. Isto teve graves consequências negativas em todos os níveis da sociedade otomana.


A expansão do Império Russo sob Ivan IV (1533-1584) na região do Volga e do mar Cáspio, khanatos tártaros interromperam a peregrinação do norte e as rotas comerciais. Um plano muito ambicioso para contrariar isto foi concebido por Sokullu Mehmet Paşa, grão-vizir sob Selim II, na forma de uma ligação, entre os rios, Volga e Don na forma de um canal (iniciado em junho 1569), combinado com um ataque em Astracã, falhou, o canal sendo abandonado com o início do inverno. Doravante, o império voltou a sua atual estratégia de utilizar o Canato da Crimeia como baluarte contra a Rússia. Moscovo após ser saqueada e ser mandada destruir pelo fogo em 1571, o Khan da Crimeia Giray I, apoiado pelos otomanos, desenvolveu o plano de conquista total do Estado russo. No ano seguinte, a invasão foi repetida, mas repelida na Batalha de Molodi. O Canato da Crimeia permaneceu como um poder significativo na Europa Oriental e uma ameaça para a Rússia moscovita, em especial até ao final do século XVII.


No sul da Europa, uma coalizão de potências católicas, liderados por Dom Felipe II da Espanha, formaram uma aliança para desafiar as forças navais otomanas no mar Mediterrâneo. Sua vitória sobre a frota otomana na Batalha de Lepanto (1571) foi um golpe surpreendente para a imagem de invencibilidade otomana.



No entanto, os historiadores hoje acreditam que o significado da batalha foi simbólico e não estritamente militar, para no prazo de seis meses após a derrota, uma nova frota otomana de cerca de 250 barcos, incluindo oito galeões modernos havia sido construída, com o porto de Constantinopla despejando um novo navio todos os dias na altura da construção. Em discussões com um ministro veneziano, o grão-vizir turco, comentou: "capturando o Chipre de você, cortamos um de seus braços, derrotando a nossa frota você apenas raspou nossas barbas." A recuperação naval otomana persuadiu a República de Veneza a assinar um tratado de paz em 1573, e os otomanos foram capazes de expandir e consolidar a sua posição no norte da África.


Em contrapartida, a fronteira Habsburgo havia-se estabelecido em uma das fronteiras mais ou menos permanentes, marcada apenas por batalhas relativamente menores concentrando-se na posse das fortalezas individuais. Este impasse foi causado principalmente pelo desenvolvimento europeu do comércio italiano, baixas fortificações construídas pelos Habsburgo ao longo da fronteira que eram quase impossíveis de capturar sem cercos longos. Os otomanos não tinham resposta para essas novas fortificações no estilo que faziam com que a artilharia que anteriormente era utilizada de forma eficaz (como no cerco de Constantinopla), ficasse quase inútil. O impasse foi também um reflexo de simples limites geográficos, na era pré-industrial, Viena marcou o ponto mais distante que um exército otomano poderia marchar desde Constantinopla durante o início da primavera ao final de temporada da campanha em outono. Isso também se reflecte nas dificuldades impostas ao império pela necessidade de manter duas frentes distintas; uma contra os austríacos, e outro contra um Estado islâmico rival, a Pérsia Safávida.



No campo de batalha, os otomanos gradualmente caíram atrás dos europeus em tecnologia militar, como a inovação, que alimentou forte expansão do império tornou-se sufocada por um crescente conservadorismo religioso e intelectual. Alterações nas tácticas militares europeias e armas na revolução militar causou a outrora temida cavalaria Sipahi a perder relevância militar. A ‘longa guerra’ contra a Áustria (1593-1606) criou a necessidade de um maior número de infantaria equipada com armas de fogo. Isto resultou em um relaxamento da política de recrutamento e um crescimento significativo no número de corpos de janízaros. Isso contribuiu para os problemas de indisciplina, a eficácia e a rebeldia definitivas no corpo que lutou com o governo, mas nunca inteiramente resolveram durante (e depois), este período todo. O desenvolvimento de armas de fogo e tácticas mais lineares com o aumento da utilização de armas de fogo pelos europeus mostrou-se mortal contra a infantaria reunida em formação cerrada usado pelos otomanos. Sekbans também foram recrutados pelos mesmos motivos e na desmobilização virou-se para o banditismo em revoltas Jelali (1595-1610), que geraram a anarquia generalizada na Anatólia no final do século XVII e início do século XVIII. Com a população do império atingindo 30.000.000 de pessoas até 1600, a falta de terra colocava maior pressão sobre o governo.


No entanto, o século XVII não era simplesmente uma época de estagnação e declínio, mas também um período-chave na qual o Estado Otomano e as suas estruturas começaram a se adaptar às novas pressões e novas realidades, interna e externa. O Sultanato de mulheres (1648-1656) foi um período em que a influência política do harém imperial era dominante, como as mães dos sultões jovens exerciam o poder em nome dos seus filhos. Esta não foi uma iniciativa inédita, Hürrem, que se estabeleceu no início de 1530 como a sucessora de Nurbanu, foi descrita pelo veneziano Baylo Andrea Giritti como "uma mulher de extrema bondade, coragem e sabedoria, apesar do fato de que ela frustrou alguns, enquanto a outros, gratificante ". Mas, a inadequação do Ibrahim I (1640-1648) e da adesão de Mohammed IV em 1646 criou uma crise significativa da regra de que as mulheres dominassem o harém imperial. As mulheres mais proeminentes deste período foram Kösem e sua filha-de-lei Turhan Hatice, cuja rivalidade política culminou no assassinato de Kösem em 1651.


Este período deu lugar à altamente significativa Era Köprülü (1656-1703), durante o qual o controle efectivo do império era exercido por uma sequência de grão-vizires da família Köprülü. Em 15 de Setembro de 1656, o octogenário Mehmed Köprülü aceitou os selos do gabinete tendo recebido garantias de Turhan Hatice de autoridade e liberdade sem precedentes de interferências. Um disciplinador e conservador feroz, ele conseguiu reafirmar a autoridade central e ímpeto militar do império. Isto continuou sob seu filho e sucessor Köprülü Fazıl (grão-vizir 1661-1676). O vizirado Köprülü viu o sucesso militar se renovando com a autoridade restaurada na Transilvânia, a conquista de Creta concluída em 1669 e a expansão para o sul da Ucrânia, com as fortalezas do Khotin e Kamianets-Podilskyi e o território de Podolia cedendo ao controle otomano, em 1676. Este período de afirmação renovada chegou a um final desastroso, quando o grão-vizir Kara Mustafá Paşa, em maio de 1683 liderou um exército enorme para tentar um segundo cerco otomano de Viena. O ataque final foi fatalmente adiada, as forças otomanas foram varridas na Batalha de Viena.


A Santa Liga favoreceu a derrota em Viena e em quinze anos de guerra culminou no Tratado de Karlowitz (26 de janeiro de 1699) que pôs fim à Grande Guerra Turca e pela primeira vez viu o Império Otomano entregar o controlo de importantes territórios europeus (muitos permanentemente), incluindo a Hungria otomana. O império chegou ao fim da sua capacidade de efectivamente realizar uma política expansionista agressiva contra os seus rivais europeus e que era para ser forçado a partir deste ponto a adoptar uma estratégia essencialmente defensiva. Apenas dois sultões neste período exerceram pessoalmente o controle político e militar do império, o vigoroso Murad IV (1612-1640) recapturando Erevan (1635) e Bagdad (1639) dos Safávidas e reafirmando a autoridade central, ainda que durante um breve reinado. Mustafá II (1695-1703) levou o contra-ataque otomano de 1695-6 contra os Habsburgos na Hungria, mas este contra-ataque foi desfeito na desastrosa derrota em Zenta (11 de Setembro de 1697).

Estagnação e Reforma

(1699-1822)


Mahmud II. Durante o período de estagnação muitos territórios otomanos nos Balcãs foram cedidos à Áustria. Certas áreas do império, como Egipto e Argélia, tornaram-se independentes em todos os aspectos e, posteriormente, tornaram-se colónias da Grã-Bretanha e da França, respectivamente. No século XVIII, a autoridade centralizada deu lugar a diferentes graus de autonomia provincial apreciada por governadores e líderes locais. Várias guerras foram travadas entre o Império Russo e o Império Otomano entre os séculos XVIII e XIX.


O longo período de estagnação otomana é tipicamente caracterizado por historiadores como uma época de reformas falhas. Na última parte deste período, houve reformas educacionais e tecnológicas, incluindo a criação de instituições de ensino superior como a Universidade Técnica de Istambul, a ciência e a tecnologia otomana foram altamente respeitadas na época medieval, como resultado da síntese de estudiosos otomanos de aprendizagem clássica com a filosofia islâmica e matemática, e o conhecimento de tais avanços chineses em tecnologia como a pólvora e a bússola. Neste período, as influências tornaram-se regressivas e conservadoras. As corporações de escritores denunciaram a imprensa como ‘Invenção do Diabo’, e foram responsáveis por uma desfasagem de 43 anos entre a sua invenção por Johannes Gutenberg na Europa em 1450 e sua introdução na sociedade otomana com a imprensa em Constantinopla, que foi estabelecida pelos judeus sefarditas emigrados da Espanha em 1493. Os judeus sefarditas haviam migrado para o Império Otomano logo após escaparem da Inquisição Espanhola em 1492.


A Era das Tulipas (ou Lâle Devri em turco), nomeada assim por causa da apreciação da flor tulipa pelo sultão Ahmed III e seu uso para simbolizar o seu reinado de paz, a política do Império para a Europa sofreu uma mudança. A região foi pacífica entre 1718 e 1730, após a vitória Otomana contra a Rússia na Campanha Pruth em 1711 e o Tratado de Passarowitz trouxe um período de pausa na guerra. O império começou a melhorar as fortificações das cidades que faziam fronteira com os países dos Balcãs agindo como uma defesa contra o expansionismo europeu. Outras reformas preliminares também foram aprovadas. Os impostos foram reduzidos, houve tentativas de melhorar a imagem do Estado otomano, e os primeiros exemplos de investimento privado e empreendedorismo ocorreram.


Esforços de reforma militar otomana começam com Selim III (1789-1807) que fez as primeiras tentativas importantes para modernizar o exército com padrões europeus. Estes esforços, no entanto, foram prejudicados por movimentos reaccionários, em parte da liderança religiosa, mas principalmente a partir do corpo de janízaros, que se tornou anarquista e ineficaz. Invejosos de seus privilégios e firmes opositores às mudanças, eles criaram uma revolta janízara. Os esforços de Selim custaram-lhe o seu trono e sua vida, mas foram resolvidos de forma espectacular e sangrenta pelo seu sucessor, o dinâmico Mahmud II, que massacrou o corpo de janízaros em 1826.


A Lista de Sultões do Império Otomano

Os sultões otomanos dominavam um vasto império transcontinental entre os longos anos de 1299 a 1922. No seu apogeu, o Império Otomano estendeu-se da Hungria no norte, a Somália no sul, e da Argélia, a oeste ao Iraque a leste. Administrado em primeiro lugar, da cidade de Bursa, na Anatólia, a capital do império foi transferida para Edirne em 1366 e depois para Constantinopla (atualmente conhecida como Istambul) em 1453 após a sua captura das mãos do Império Bizantino. Os primeiros anos do Império Otomano foram objecto de diferentes narrativas, devido à dificuldade de discernir o fato das lendas, no entanto, a maioria dos estudiosos modernos concordam que o império entrou em existência em torno de 1299 e que o seu primeiro governante foi Osman I, Khan (líder) da tribo Kayi dos turcos Oguzes. A dinastia otomana que ele fundou iria durar seis séculos através dos governos de 36 sultões. O Império Otomano desapareceu como resultado da derrota das Potências Centrais, com quem tinha-se aliado durante a Primeira Guerra Mundial. A divisão do império pelos Aliados vitoriosos e que à Guerra de Independência Turca que se seguiu levou ao nascimento da moderna República da Turquia.


O Estado Otomano, era uma monarquia, absoluta, durante grande parte, de sua existência. O sultão era o ápice do regime hierárquico otomano e actuou com capacidades políticas, militares, judiciais, sociais e religiosas, sob uma variedade de títulos. Eles foram, teoricamente, responsáveis unicamente perante a lei divina e a Deus (o seriat islâmico, conhecidos em árabe comosharia), da qual ele era o executor principal. Seu mandato celeste foi reflectido nos títulos irano-islâmicos, como ‘sombra de Deus na Terra’ (Zill Allah-alem fi'l) e ‘califa da face da terra’ (halife-i ru-yi zemin). Todos os oficiais eram ocupados por sua autoridade e toda lei era emitida por ele na forma de um decreto chamado Firman. Ele era o comandante militar supremo e tinha o título oficial de toda a terra. Após a queda de Constantinopla em 1453, os soberanos otomanos vieram a considerar-se como os sucessores do Império Romano, daí o seu uso ocasional dos títulos César (kaysar) e Imperador. Após a conquista do Egipto em 1517, Selim I aprovou também o título do califa, assim, afirma ser o governante muçulmano universal. Aos sultões otomanos recém-empossados eram dados a espada de Osman, em uma importante cerimónia que servia como o equivalente a coroação ou entronização dos monarcas europeus ocidentais. Um sultão não entronizado com as cerimónias tradicionais, não era elegível para ter seus filhos incluídos na linha de sucessão.


Embora teocrático e absoluto na teoria e, em princípio, o poder do sultão foram limitados na prática. As decisões políticas tinham de ter em conta as opiniões e atitudes dos membros importantes da dinastia, os estabelecimentos burocráticos e militares, bem como líderes religiosos. A partir do século XVII, o império entrou em um longo período de estagnação, durante o qual os sultões estavam muito debilitados. Muitos deles acabaram por ser depostos pelo corpo dos poderosos janízaros. Apesar de estarem impedidos de herdar o trono, as mulheres do harém imperial, especialmente a mãe do sultão governante, conhecida como a Sultão Valide, também desempenharam um papel importante nos bastidores políticos, efectivamente governando o império durante o período conhecido como o sultanato das mulheres.


O declínio dos poderes dos sultões é evidenciado pela diferença no comprimento do governo entre os primeiros sultões e os outros que foram últimos. Suleiman I, que governou quando o sultanato estava em seu apogeu no século XVI, teve um governo de 46 anos, o mais longo da história do Império Otomano. Murad V, que governou no período final do século XIX, durante o declínio, teve o menor governo registrado, ficou no poder por apenas 93 dias antes de ser destronado. O constitucionalismo foi estabelecido somente durante o governo do sucessor de Murad V, Abdulhamid II, que assim se tornou último governante absoluto do sultanato e seu primeiro soberano constitucional.

A Lista dos Sultões


A tabela a seguir, lista os sultões otomanos, em ordem cronológica. Para os califas, geralmente há um lapso temporal entre o momento em que terminou o governo de um sultão e o momento em que seu sucessor foi entronizado. Isso ocorre porque era praticado entre os otomanos o que o historiador Quataert descreveu como "sobrevivência do mais apto, não o filho mais velho", quando um sultão morria, seus filhos tinham de lutar entre si pelo trono até que um vencedor emergisse. Por causa das lutas internas e fratricidas, numerosas que ocorreram, a data de morte de um sultão, portanto, nem sempre coincide com a data de adesão do seu sucessor. Em 1617, a lei de sucessão passou de sobrevivência do mais apto para um sistema baseado na antiguidade agnática (ekberiyet), em que o trono sultânico iria para o homem mais velho da família. Isto, por sua vez explica porque a partir do século XVII, um sultão falecido era raramente sucedido por seu próprio filho, mas geralmente por um tio ou irmão. A antiguidade agnática foi mantida até a abolição do sultanato, apesar de tentativas infrutíferas no século XIX de substituí-la por primogenitura.

1º - Sultão Imperante Osman I.




GHAZI (O Guerreiro), BEY (O Escudeiro), KARA (O Terrestre ou O Negro), por sua bravura.
Sultão desde c. 1299 - Governou até c. 1324
Filho de Ertuğrul Ghazi. Governou até sua morte.

2º - Sultão Imperante Orhan I. 




GHAZI (O Guerreiro), BEY (O Escudeiro)
Sultão desde c. 1324 - Governou até c. 1361
Filho de Osman I e Mal Hatun. Governou até sua morte.

3º - Sultão Imperante Murad I.




HÜDAVENDİGÂR - Khodāvandgār - (O como um Deus), (Sultão desde 1383).
Sultão desde c. 1360 - Governou até 1389.
Filho de Orhan I e Nilüfer Hatun. Governou até sua morte. Morto em batalha na Batalha do Kosovo.

4º - Sultão Imperante Bayezid I.




YILDIRIM (O Raio)
Sultão desde 1389 - Governou até 1402
Filho de Murad I e Gülçiçek Hatun. Capturado no campo de batalha na Batalha de Ancara (fim do governo de fato) Morreu em cativeiro em Akşehir em 8 de março de 1403.

5º - Sultão Imperante Mehmed I.




ÇELEBİ (O Amável), KİRİŞÇİ (literalmente, O Criador de Cordas do arco).
Sultão desde 1413 - Governou até 1421.
Filho de Bayezid I e Devlet Hatun. Governou até sua morte.

6º - Sultão Imperante Murad II.




KOCA (O Grande)
Sultão desde 1421 - Governou até 1444.
Filho de Mehmed I e Emine Hatun. Abdicou por vontade própria em favor de seu filho Mehmed II.

7º - Sultão Imperante Mehmed II.




FATİH (O Conquistador).
Sultão desde 1444 - Governou até 1446.
Filho de Murad II e Hüma Hatun. Entregou o trono ao pai depois que lhe pediu para voltar ao poder.

Sultão Imperante Murad II.




KOCA (O Grande)
Sultão desde 1446 - Governou até 3 de Fevereiro de 1451
Segundo Governo. Forçado a retornar ao trono na sequência de uma insurgência dos Janízaros. Governou até sua morte.

Sultão Imperante Mehmed II.




FATİH (O Conquistador)
Sultão desde 3 de Fevereiro de 1451 - Governou até 3 de Maio de 1481.
Segundo Governo. Conquistou Constantinopla em 1453. Governou até sua morte.

8º - Sultão Imperante Bayezid II.




VELÎ (O Santo).
Sultão desde 19 de Maio de 1481 - Governou até 25 de Abril de 1512.
Filho de Mehmed II e Aminā Gül-Bahār Khātun.
Abdicou. Morreu perto de Didimoteico em 26 de maio de 1512.

9º - Sultão Imperante Selim I.




YAVUZ (O Severo)
Sultão desde 25 de Abril de 1512 - Governou até 21 de Setembro de 1520.
Filho de Bayezid II e Gül-Bahār Sultan. Califa dos Muçulmanos depois de 1517. Governou até sua morte.

10º - Sultão Imperante Suleiman I.





MUHTEŞEM (O Magnífico) ou KANÛNÎ (O Legislador).
Califa dos Muçulmanos, Sultão desde 30 de Setembro de 1520 - Governou até 6 ou 7 de Setembro de 1566.
Filho de Selim I e Ayışā Hâfize (Ayşe Hafsa) Valide Sultan. Governou até sua morte.

11º - Sultão Imperante Selim II.




SARI (O Amarelo).
Califa dos Muçulmanos, Sultão desde 29 de Setembro de 1566 Governou até 21 de Dezembro de 1574.
Filho de Suleiman I e Hürrem (Khurram ou Karima) Haseki Sultan, خرم سلطان. Governou até sua morte.

12º - Sultão Imperante Murad III.



Califa dos Muçulmanos, Sultão desde 22 de Dezembro de 1574 - Governou até 16 de Janeiro de 1595.
Filho de Selim II e Afife Nur-Banû Valide Sultan. Governou até sua morte.

13º - Sultão Imperante Mehmed III.




ADLÎ (O Justo)
Califa dos Muçulmanos, Sultão desde 27 de Janeiro de 1595 - Governou até 20 ou 21 de Dezembro de 1603.
Filho de Murad III e Safiye Valide Sultan. Governou até sua morte.

14º - Sultão Imperante Ahmed I.




BAKHTÎ (O Afortunado)
Califa dos Muçulmanos, Sultão desde 21 de Dezembro de 1603 - Governou até 22 de Novembro de 1617.
Filho de Mehmed III e Handan Valide Sultan. Governou até sua morte.

15º - Sultão Imperante Mustafá I.



Califa dos Muçulmanos, Sultão desde 22 de Novembro de 1617 - Governou até 26 de Fevereiro de 1618.
Filho de Mehmed III e uma mulher desconhecida. Destronado, devido ao seu retardo mental, não-sindrómico, em favor de seu jovem sobrinho Osman II.

16º - Sultão Imperante Osman II.




GENÇ (O Jovem)
Califa dos Muçulmanos, Sultão desde 26 de Fevereiro de 1618 - Governou até 19 de Maio de 1622
Filho de Ahmed I e Mâh-Firûze Hatice (Khadija) Valide Sultan. Destronado em um motim dos Janízaros em 19 de maio de 1622. Assassinado em 20 de maio de 1622 pelo grão-vizir Kara Davud Paşa (Negro Da'ud Paşa) da compressão de seus testículos.

Sultão Imperante Mustafá I.



Califa dos Muçulmanos, Sultão desde 20 de Maio de 1622 - Governou até 10 de Setembro de 1623
Segundo Governo. Retornou ao trono após o assassinato de seu sobrinho Osman II. Destronado, devido à sua retardo mental sindrómico e confinado até sua morte em Istambul em 20 de janeiro de 1639.

17º - Sultão Imperante Murad IV.




GHAZI (O Guerreiro)
Califa dos Muçulmanos, Sultão desde 10 de Setembro de 1623 - Governou até 8 ou 9 Fevereiro de 1640.
Filho de Ahmed I e Mâh-Peyker Kösem Valide Sultan. Governou até sua morte.

18º - Sultão Imperante Ibrahim I.



Califa dos Muçulmanos, Sultão desde 9 de Fevereiro de 1640 - Governou até 8 de Agosto de 1648.
Filho de Ahmed I e Mâh-Peyker Kösem Valide Sultan. Sofria de transtorno da ansiedade. Destronado em 8 de agosto de 1648 em um Golpe de Estado, liderado por Sheikh ul-Islam.         Estrangulado em Istambul em 18 de agosto de 1648 a mando do grão-vizir Mevlevi Mehmed Paşa (Sofu Mehmed Paşa).

19º - Sultão Imperante Mehmed IV.




AVCI (O Caçador)
Califa dos Muçulmanos, Sultão desde 8 de Agosto de 1648 - Governou até 8 de Novembro de 1687
Filho de Ibrahim I e Turhan Hatice (Khadija) Valide Sultan Destronado em 8 de Novembro de 1687, após a derrota otomana na Segunda Batalha de Mohács. Morreu em Edirne em 6 de janeiro de 1693.

20º - Sultão Imperante Suleiman II.



Califa dos Muçulmanos, Sultão desde 8 de Novembro de 1687 - Governou até 22 de Junho de 1691.
Filho de of Ibrahim I e Saliha Dilâşub Valide Sultan. Governou até sua morte.

21º - Sultão Imperante Ahmed II.



KHAN GHAZI (O Príncipe Guerreiro)
Califa dos Muçulmanos, Sultão desde 22 de Junho de 1691 - Governou até 6 de Fevereiro de 1695
Filho de Ibrahim I e Hatice (Khadija) Muazzez Sultan. Governou até sua morte.

22º - Sultão Imperante Mustafá II.




GHAZI (O Guerreiro).
Califa dos Muçulmanos, Sultão desde 6 de Fevereiro de 1695 - Governou até  22 Agosto de 1703.
Filho de Mehmed IV e Mâh-Pârā Ummatullah (Emetullah) Râbi'a Gül-Nûş Valide Sultan. Destronado em 22 de agosto de 1703, em virtude de um levante Janízaro conhecido como o Incidente de Edirne. Morreu em Istambul em 8 de janeiro de 1704.

23º - Sultão Imperante Ahmed III.



Califa dos Muçulmanos, Sultão desde 22 de Agosto de 1703 - Governou até 1 ou 2 de Outubro de 1730
Filho de Mehmed IV e Mâh-Pârā Ummatullah (Emetullah) Râbi'a Gül-Nûş Valide Sultan. Destronado em consequência de uma revolta Janízara liderada por Patrona Halil. Faleceu em 1 de Julho de 1736.

24º - Sultão Imperante Mahmud I.




GHAZI (O Guerreiro), KAMBUR (O Corcunda).
Califa dos Muçulmanos, Sultão desde 2 de Outubro de 1730 - Governou até 13 de Dezembro de 1754.
Filho de Mustafá II e Saliha Sebkati Valide Sultan. Governou até sua morte.

25º - Sultão Imperante Osman III.




SOFU (O Devoto)
Califa dos Muçulmanos, Sultão desde 13 de Dezembro de 1754 - Governou até 29 ou 30 de Outubro de 1757
Filho de Mustafá II e Şehsuvar Valide Sultan. Governou até sua morte.

26º - Sultão Imperante Mustafá III.




YENİLİKÇİ (O Primeiro Inovador)
Califa dos Muçulmanos, Sultão desde 30 de Outubro de 1757 - Governou até 21 de Janeiro de 1774.
Filho de Ahmed III e Âminā (Emine) Mihr-î-Şah Sultan. Governou até sua morte.

27º - Sultão Imperante Abdülhamid I.




O Servo de Deus
Califa dos Muçulmanos, Sultão desde 21 de Janeiro de 1774 - Governou até 6 ou 7 de Abril de 1789.
Filho de Ahmed III e Râbi'a Sharmi Sultan, رابعه سلطان. Governou até sua morte.

28º - Sultão Imperante Selim III.




BESTEKÂR (O Compositor).
Califa dos Muçulmanos, Sultão desde 7 de Abril de 1789 - Governou até 29 de Maio de 1807.
Filho de Mustafá III e Mihr-î-Şah Valide Sultan. Destronado, como resultado da revolta Janízara liderada por Kabakçı Mustafá contra suas reformas. Assassinado em Istambul em 28 de Julho de 1808 sob o comando do sultão otomano Mustafá IV.

29º - Sultão Imperante Mustafá IV.



Califa dos Muçulmanos, Sultão desde 29 de Maio de 1807 - Governou até 28 de Julho de 1808.
Filho de Abdülhamid I e Ayishā Sinā Pervar (Ayşe Seniyeperver) Valide Sultan. Destronado em uma insurreição liderada por Alemdar Mustafá Paşa. Executado em Istambul em 17 de Novembro de 1808 por ordem do sultão otomano Mahmud II.

30º - Sultão Imperante Mahmud II.




ISLAHÂTÇI (O Reformador).
Califa dos Muçulmanos, Sultão desde 28 de Julho de 1808 - Governou até 1 de Julho de 1839.
Filho de Abdülhamid I e Nakş-î-Dîl Haseki Valide Sultan (mãe adoptiva de Mahmud II). Dissolveu os Janízaros em consequência do Incidente Auspicioso em 1826 Governou até sua morte.

Kemal Reis


Kemal Reis nasceu em Gallipoli, c. 1451 e faleceu no Mediterrâneo em 1511, foi um corsário e almirante do Império Otomano durante o reinado do sultão Bayezid II. Também conhecido como ‘Kamal Alì’ e, no Ocidente, como ‘Camali’, ‘Camalicchio’ ou ‘Camal Aichio’. Era tio paterno de Piri Reis, outro almirante e cartógrafo otomano, que o acompanhou em muitas das suas importantes expedições navais. Segundo algumas fontes teria sido o corsário mais famoso e mais perigoso do seu tempo e o inventor dos canhões navais de longo alcance.

A origem e o início de carreira de Kemal (Reis é um título honorífico turco que significa ‘capitão’), nasceu na costa anatólia do Mar Egeu por volta de 1451. O seu nome completo e original era Ahmed Kemaleddin. O seu pai era um turco de nome Ali e natural da cidade de Karaman, na Anatólia Central. No Ocidente, particularmente em Itália e Espanha, ficou conhecido com nomes como Camali e Camalicchio. Começou a sua carreira como comandante da frota pertencente ao Sanjak Bey (governador provincial) de Egriboz (atualmente Eubeia), então uma possessão otomana.


Em 1487 Bayezid II encarregou Kemal Reis da tarefa de defender as terras do emir de Granada, Maomé XII (conhecido entre os cristãos como Boabdil), o último bastião muçulmano na Península Ibérica. Kemal navegou para Espanha e desembarcou uma força expedicionária de tropas otomanas em Málaga, que foi capturada, juntamente com as aldeias vizinhas, tendo sido feitos muitos prisioneiros. Daí navegou para as Ilhas Baleares e para a Córsega, onde atacou localidades costeiras antes de desembarcar as suas tropas perto de Pisa, na Península Itálica.



De Pisa deslocou-se novamente para a Andaluzia e em diversas ocasiões entre 1490 e 1492 transportou muçulmanos e judeus fugidos de Espanha para as províncias do Império Otomano, onde eram bem-vindos. Os muçulmanos e judeus espanhóis contribuíram muito para o desenvolvimento do Império Otomano através da introdução de novas ideias, métodos e tecnologias. Kemal Reis continuou a desembarcar as suas tropas na Andaluzia e tentou parar o avanço dos espanhóis bombardeando os portos de Elche, Almeria e Málaga.


Nomeado como Almirante da Armada Otomana. Em 1495 Kemal Reis foi promovido a almirante da marinha de guerra otomana pelo sultão Bayezid II, que ordenou a construção de um grande navio-almirante, o ‘Göke’, com capacidade para transportar 700 soldados e que estava armada com os canhões mais potentes da época. Foram construídas duas grandes galés deste tipo, uma para Kemal Reis e outra para Burak Reis. Em Outubro de 1496, uma frota de 5 galés, 5 fustas, uma barca de três mastros e um navio menor partiu de Constantinopla e atacaram o Golfo de Tarento. Em janeiro de 1497 desembarcou em Modon e mais tarde capturou diversos navios venezianos no Mar Jónico, os quais levou para Eubeia juntamente com a respectiva carga. Em março de 1497 Bayezid II encarregou-o de proteger os navios que carregavam bens valiosos pertencentes às fundações religiosas de Meca e Medina dos frequentes ataques dos Cavaleiros de São João, então baseados em Rodes (em 1522 os otomanos conquistaram Rodes e autorizaram os cavaleiros a abandonar a ilha pacificamente). Kemal Reis dirigiu-se para Rodes com uma força de 2 barcas e 3 fustas e capturou uma barca dos cavaleiros perto de Montestrato.



Posteriormente desembarcou em Stalimene (Lemnos) e daí navegou para Tenedos (Bozcaada) e voltou a Constantinopla. Em Junho de 1497 foram-lhe atribuídas mais duas grandes galés e em Julho do mesmo ano instalou a sua base de operações contra os venezianos e cavaleiros de São João na ilha de Quios, no Mar Egeu. Em abril de 1498 saiu dos Dardanelos em direção às ilhas egeias controladas pela República de Veneza à frente de uma frota de 6 galés, 12 fustas com grandes canhões, 4 barcas e 4 navios menores. Em junho de 1498 apareceu na ilha de Paros e navegou depois para Creta, onde desembarcou as suas tropas em Sitia, cidade que capturou juntamente com as aldeias próximas antes de enviar batedoras para examinarem as características do castelo veneziano próximo. No mês seguinte dirigiu-se a Roseta, no Egipto, com uma frota de 5 galés, 6 fustas e duas barcas, para transportar 300 peregrinos que se dirigiam a Meca, os quais levavam consigo 400.000 ducados de ouro enviados por Bayezid II ao sultão mameluco.


Perto do porto de Abu Kabir, a frota otomana capturou dois navios portugueses (uma nau) e uma cravela depois de um feroz combate que durou dois dias. Kemal Reis navegou depois para Santorini e capturou uma barca veneziana antes de capturar outro navio português no Mar Egeu. Em janeiro de 1499 Kemal Reis embarcou em Constantinopla com uma frota de 10 galés e outros 4 navios de outros tipo e em Julho juntou-se-lhe uma grande frota otomana enviada pelo grão-vizir Koca Davud Paxá. A frota sob o comando de Kemal Reis passou então a ser composta por 67 galés, 20 galeotas e cerca de 200 navios mais pequenos. Com esta frota, Kemal Reis iniciou uma guerra em larga escala contra a República de Veneza, a qual ficou conhecida como a ‘Segunda Guerra Otomano-Veneziana’. Em agosto de 1499, depois de ter chegado ao Mar Jónico com a sua grande armada, Kemal Reis encontrou uma frota veneziana de 37 galés, 17 galeotas e cerca de 100 navios menores comandada pelo Almirante Antonio Grimani perto do Cabo Zonchio, onde se desenrolou a Batalha de Zonchio, também conhecida como ‘Batalha de Sapienza’ de 1499 ou ‘Primeira Batalha de Lepanto’. A batalha naval, a primeira da história em que foram usados canhões em navios, teve lugar em quatro dias diferentes (12, 20, 22 e 25 de Agosto de 1499) e saldou-se numa importante vitória dos otomanos. Durante os combates foi afundada a galé de Andrea Loredan, membro da influente família Loredan de Veneza. Antonio Grimani foi feito prisioneiro a 29 de Setembro, mas acabou por ser libertado e tornar-se-ia Doge de Veneza em 1521. O sultão Bayezid II ofereceu 10 das galés venezianas capturadas a Kemal Reis, que estacionou a sua frota na ilha de Cefalónia entre Outubro e Dezembro de 1499. Em Dezembro de 1499 os venezianos atacaram Lepanto com o objetivo de retomarem os territórios perdidos no Mar Jónico. Kemal Reis saiu de Cefalónia e reconquistou Lepanto aos venezianos, onde se manteve entre abril e maio de 1500 e onde os seus navios foram reparados por um exército de 15.000 operários otomanos. Partindo de Lepanto, Kemal Reis navegou até à ilha de Corfu, onde bombardeou os portos venezianos. Em agosto de 1500 voltou a derrotar a armada veneziana na ‘Batalha de Modon’, também chamada de ‘Segunda Batalha de Lepanto’. Kemal Reis bombardeou a fortaleza de Modon e capturou a cidade. Mais tarde combateu novamente a armada veneziana ao largo da costa de Coron e capturou esta cidade e um bergantim veneziano.


De Coron Kemal Reis dirigiu-se para a ilha de Sapienza e afundou a galé veneziana Lezza. Em Setembro de 1500 atacou Voiussa e em Outubro apareceu no Cabo de Santa Maria da ilha de Levkas antes de terminar a campanha e voltar a Constantinopla em Novembro. Na sequência da vitória na Batalha de Modon, a armada e os exércitos otomanos rapidamente dominaram a maior parte das possessões venezianas na Grécia, tendo Modon e Coron, os "dois olhos da República" sido perdidas para os otomanos. Os ataques da cavalaria otomana alcançaram os territórios venezianos no norte da Itália e em 1503 Veneza teve que negociar a paz reconhecendo as conquistas otomanas.



Em janeiro de 1501 Kemal Reis saiu de Constantinopla com uma armada de 36 galés e fustas. Em fevereiro desembarcou na ilha de Eubeia e em Náuplia antes de se navegar para Corfu em março. Daí navegou para o Mar Tirreno, onde capturou a ilha Pianosa e fez muitos prisioneiros (para serem vendidos como escravos). Em abril de 1501 desembarcou novamente em Náuplia e em Monemvasia com uma frota de 60 navios, o que levou o comandante veneziano baseado em Corfu a chamar de volta os navios venezianos que se dirigiam ao Líbano e ao Levante para reforçar as defesas da Republica Sereníssima que ainda restavam na Moreia. Em maio de 1501, com uma força de 8 galeotas e 13 fustas, Kemal reis escoltou os navios de carga que carregaram material de construção para reforçar as fortalezas otomanas nas ilhas de Quios e Tinos, onde capturou a galé de Girolamo Pisani, o comandante veneziano local, um estandarte oficial de São Marcos, o patrono de Veneza, além de outra galé veneziana de nome ‘Basadonna’.


Kemal Reis dirigiu-se depois ao porto de Zonchio, perto de Navarino (Pilos), com uma frota de 5 galeotas e 14 fustas, onde desembarcou e capturou o castelo veneziano e as localidades vizinhas depois de um cerco que durou menos de dez horas. No porto de Zonchio foram capturadas três galés, uma caravela e outros navios venezianos que ali estavam atracados. Estes navios foram levados primeiro para Modon, depois para a ilha de Egina e finalmente para Eubeia. Mais tarde conquistou Navarino, anexando mais um porto importante às possessões otomanas. Em junho de 1501 navegou para o Mar Adriático e reforçou as defesas otomanas em Voiussa e Vlorë.


Em Julho de 1501 Kemal Reis, acompanhado pelo seu sobrinho Piri Reis, zarpou do porto de Modon com uma força de 3 galés e 16 fustas e dirigiu-se ao Mar Tirreno, onde se aproveitou da guerra entre Jacopo d'Appiano, governante de Piombino, e as forças papais sob o comando de Cesare Bórgia. Os otomanos desembarcaram em Pianosa e capturaram-na rapidamente, fazendo muitos prisioneiros. De Pianosa Kemal Reis seguiu para o Canal de Piombino e atacou as localidades costeiras da área. Em agosto de 1501 desembarcou na Sardenha e capturou várias localidades costeiras e fez 1.050 prisioneiros. Combateu com vários navios de guerra genoveses ao largo das costas da Sardenha, os quais escaparam rumo ao norte depois de danificados por tiros de canhão.


Ainda em agosto de 1501, Kemal Reis zarpou para as Baleares, desembarcando em Maiorca, onde se deram ferozes combates com os espanhóis. Kemal Reis seguiu depois para a Espanha continental e capturou 7 navios espanhóis ao largo de Valência. Nestes navios descobriu um estranho adorno de cabeça feito em penas (cocar?) e uma pedra negra desconhecida. Foi-lhe dito por um dos prisioneiros que tais coisas provinham das terras recentemente descobertas do outro lado do Oceano Atlântico. Esse prisioneiro afirmava ter visitado essas terras três vezes sob o comando de um homem chamado Colombo e que tinha em sua posse um mapa desenhado pelo próprio Colombo que mostrava a novas terras situadas além do Mar da Escuridão. Este mapa viria a ser uma das principais fontes do famoso mapa de 1513 desenhado pelo almirante e cartógrafo Piri Reis, sobrinho de Kemal Reis.



Depois de deixar Valência, ainda em agosto de 1501, Kemal Reis zarpou para sul e bombardeou as defesas costeiras da Andaluzia antes de desembarcar as suas tropas, que atacaram vários portos e cidades. Dirigiu-se depois para oeste, passando o Estreito de Gibraltar e entrando no Atlântico. Depois de atacar várias localidades da costa atlântica, Kemal dirigiu-se para sul, paras as Canárias, onde encontrou pouca resistência por parte dos espanhóis. Como noutras ocasiões, Piri Reis aproveitou a viagem com o tio para desenhar o seu famoso portulano, conhecido como ‘Mapa de Piri Reis’, que depois se viria a incluir na sua obra Kitab-ı Bahriye (Livro da Navegação). Seguindo a linha costeira, Kemal voltou ao oriente, desta vez ao longo da costa norte africana, tendo desembarcado em vários pontos de Marrocos e Argélia. Ao largo de Trípoli, na Líbia capturou vários navios genoveses, onde também interceptou várias galés venezianas antes de voltar para Constantinopla.



Em maio de 1502 Kemal Reis zarpou de Constantinopla com uma frota de 50 navios rumo a Eubeia. Em junho de 1502 capturou a ilha de Cós juntamente com o castelo de San Pietro, pertencente aos Cavaleiros de São João. Dirigiu-se depois a Náuplia, cujo porto bombardeou até que foi chamado para ajudar na defesa de Mitilene, a qual estava cercada por uma armada conjunta franco-veneziana. Em Julho de 1502 desembarcou as suas tropas em Lesbos e combateu as tropas francesas em Mitilene, a qual tinha sido anteriormente conquistada pelos otomanos em 1462. Em agosto de 1502 Kemal Reis fez de Levkas a sua nova base para as operações nos mares Jónico e Adriático, cujas costas, pertencentes às repúblicas de Veneza e Ragusa (atual Dubrovnik) atacou, capturando várias localidades costeiras. Entretanto, a importância estratégica de Levkas (Santa Maura para os venezianos) fez com que a Republica Sereníssima organizasse uma enorme armada sob o comando do Almirante Benedetto Pesaro, constituída por 50 galés e numerosos navios mais pequenos. À esquadra veneziana juntaram-se 13 galés papais sob o comando de Giacomo Pesaro, irmão de Benedetto e bispo de Pafos, bem como 3 galés dos Cavaleiros de São João e 4 galés francesas sob o comando do Capitão-mor Prégent de Bidoux. O tamanho da frota inimiga forçou Kemal Reis a abandonar Levkas e retornar a Gallipoli e seguidamente a Constantinopla, onde, em Outubro de 1502, ordenou a construção de novos navios no Arsenal Imperial do Corno de Ouro.


Em março de 1503 Kemal Reis zarpou de Constantinopla com os seus novos navios e navegou para Gallipoli, onde tomou o comando da frota otomana que aí estava baseada. No entanto, caiu severamente doente e teve que voltar a Constantinopla para ser tratado. O tratamento prolongar-se-ia até março de 1505, obrigando-o a ficar inactivo. Em março de 1505 Kemal Reis foi encarregado de atacar os Cavaleiros de São João em Rodes, os quais causavam grandes estragos nas rotas marítimas otomanas ao longo das costas da Anatólia. Partiu de Gallipoli em direção a Cós, que já tinha conquistado anteriormente aos Cavaleiros, com o objetivo de servir de base a um assalto à vizinha Rodes. Em maio de 1505 assaltou as costas de Rodes e desembarcou numerosas tropas otomanas na ilha, que bombardearam o castelo dos cavaleiros desde terra e tomaram o controle de várias localidades. De Rodes, Kemal dirigiu-se às ilhas de Tilos e Nísiros, onde bombardeou as fortalezas dos Cavaleiros desde o mar. Ainda em maio de 1505, capturou a ilha de Lemnos e atacou a ilha de Quios antes de voltar para Modon em Julho de 1505. Em Setembro de 1505 Kemal Reis atacou a Sicília e capturou três navios (um da República de Ragusa e dois da Sicília) ao largo da costa. Em janeiro de 1506 fez da ilha de Djerba, na Tunísia, a sua base e zarpou para Espanha, onde desembarcou novamente na costa da Andaluzia em bombardeou os portos de Almeria e Málaga. Na volta, transportou os sobreviventes das perseguições da Inquisição aos judeus e muçulmanos ibéricos para Constantinopla.


Em maio de 1506 Kemal Reis voltou ao Mar Egeu com uma esquadra de 8 galeotas e fustas. Em junho desembarcou na ilha de Leros com uma força de 500 janízaros, onde assaltaram o castelo veneziano comandado por Paolo Simeoni. Ao longo desse mês atacou em vários pontos do arquipélago do Dodecaneso antes de partir em direção ao Mediterrâneo Ocidental com uma frota de 22 navios, incluindo 3 grandes galés e 11 fustas. Desembarcou na Sicília, onde atacou localidades costeiras e foi confrontado com o vice-rei da Sicília, um aliado da Espanha. Em Setembro de 1506 enfrentou uma armada espanhola que pretendia atacar Djerba e capturou uma galé espanhola durante o combate. Em Outubro de 1506 desembarcou em Trápani, na Sicília e incendiou os navios genoveses que estavam no porto, cujas tripulações foram libertadas por não terem experiência de guerra naval e não terem sido considerados úteis. Mais tarde bombardeou a galé veneziana comandada por Benedetto Priuli. Ao fogo dos canhões da fortaleza de Trápani respondeu com os canhões do seu navio. Seguidamente navegou para a ilha de Cerigo, no Mar Jónico, com uma força de três galés e duas fustas, e trocou tiros com a armada veneziana sob o comando de Girolamo Contarini. Voltou depois a Constantinopla.


Em janeiro de 1507, Kemal Reis foi encarregado por Bayezid II de perseguir os Cavaleiros de São João e navegou para Gallipoli com uma grande esquadra de 15 galés e 25 fustas fortemente armadas com canhões. Combateu com os Cavaleiros em várias ocasiões até que voltou a Constantinopla em agosto de 1507. No mesmo mês navegou para Alexandria com uma carga de 8.000 remos e 50 canhões que foram dados por Bayezid II ao sultão mameluco para ajudar este contra os portugueses, cujos navios se aventuravam no Mar Vermelho, onde prejudicavam os interesses mamelucos. Kemal Reis esteve no Egipto até fevereiro de 1508 e voltou a Constantinopla em Maio, onde coordenou pessoalmente a reparação e modificação dos seus navios no Arsenal Imperial Naval do Corno de Ouro antes de partir novamente para o Mar Egeu para se defrontar com os venezianos e Cavaleiros de São João. Em agosto de 1508 chegou a Eubeia com 2 galés, 3 barcas e numerosas fustas. Daí navegou para Tenedos, onde repeliu um ataque dos Cavaleiros e afundou um navio perto do porto de Sizia. Em Novembro de 1508 capturou uma galeaça genovesa de Savona ao largo de Tenedos. Em janeiro de 1509, comandando uma força de 13 navios, atacou o castelo de Coo, perto de Rodes, pertencente aos Cavaleiros.



Em fevereiro de 1509, acompanhado do corsário Kurtoğlu Muslihiddin Reis (conhecido como Curtogoli no Ocidente) e comandando uma grande armada de 20 navios (4 galés, 1 galeaça, 2 galeotas, 3 barcas e 10 fustas), atacou a cidade de Rodes e desembarcou um grande número de janízaros no porto. Em apenas alguns dias foram feitos vários assaltos ao castelo de Rodes e às muralhas da cidadela. Em meados de fevereiro, comandando 3 galés e 3 fustas, perseguiu navios dos Cavaleiros que tentavam fugir de Rodes, procurando a segurança nas ilhas próximas, capturou 3 galeões e outros 9 navios de outros tipos. Ainda em 1509, Kemal Reis navegou para o mar Tirreno e desembarcou na costa da Ligúria. Continuou a operar no Mediterrâneo Ocidental por algum tempo antes de regressar a Gallipoli. Em Setembro de 1510 zarpou de Gallipoli com 2 galés, 1 galeota e várias fustas para se juntar à frota otomana de navios de carga que se dirigiam de Constantinopla para Alexandria carregando madeira para construção de navios, remos e canhões, materiais enviados para ajudar os mamelucos na guerra contra os portugueses no Oceano Índico. A frota escoltada era composta por 40 navios, 8 dos quais eram galés.



No início de 1511, depois de passar pelas terras do Ducado de Naxos e ser avistado pela última vez em Dezembro de 1510, 27 navios da frota comercial otomana naufragaram devido a uma grande tempestade no Mediterrâneo. Um desses navios era o de Kemal Reis, que morreu no naufrágio com os seus homens.

O Poder Otomano
(1509-1535)

Os conflitos 'Luso-Turcos', foram uma série de combates militares, entre a Armada Portuguesa e tropas do Império Otomano, integradas em outras forças militares ou por conta própria. Alguns desses conflitos foram pontuais, enquanto outros, arrastaram-se por vários anos, a maior parte ocorreram, no Oceano Índico, durante a consolidação do Império Português na Ásia.


A 8 de Abril de 1481, a bula ‘Cogimur iubente altissimo’ proclamava a cruzada contra os turcos. Só no reinado de Dom Manuel I, é que Portugal decidiu participar na cruzada, mandando El Rei, preparar uma esquadra que partiu para o Mediterrâneo sob o comando do bispo de Évora, Dom Garcia de Meneses. No entanto, os portugueses não precisaram de combater, pois quando chegaram a Otranto esta tinha sido abandonada devido à notícia da morte súbita do Sultão, vítima de peste.


O primeiro conflito armado entre Portugueses e Turcos, deu-se em 1509 no Oceano Índico, durante a batalha de Diu, também conhecida por Batalha Naval dos Rumes, a mais emblemática batalha naval da História da Marinha Portuguesa. Foi uma tentativa por parte do Sultanato Mameluco Burji do Egipto, de impedir a criação de uma ligação regular de comércio entre a Ásia e a Europa no processo de expansão do Império Português na Ásia, enfrentando a armada portuguesa com uma frota conjunta do Sultanato, Império Otomano, Calecute e do Sultão de Gujarat, com o apoio técnico-naval da República de Veneza e da República de Ragusa.


A seguir à conquista de Diu, Afonso de Albuquerque procura uma cidade importante para a transformar na capital do Império do Oriente e decide conquistar Goa, um importante porto da costa ocidental do Indostão que estava nas mãos de Adil Khan (Hidalcão), um sultão otomano.



A cidade foi conquistada em Fevereiro de 1510, sem um único tiro, mas Albuquerque foi obrigado a abandoná-la, sob forte pressão das tropas inimigas. No entanto, a 25 de Novembro desse mesmo ano, é reconquistada de forma definitiva. Em 1535, os Otomanos sob o comando de Khair ad-Din iniciaram um ataque aos navios cristãos no mar Mediterrâneo a partir de Argel. Para os combater, Carlos V reuniu um exército sob a égide do Sacro Império Romano-Germânico, com o apoio de Portugal, República de Génova, Estados Pontifícios e da Ordem de Malta, conquistando Tunes, à altura, sob o controle do Império Otomano.


Conquista de Túnis
(1535)


Em 1535, os otomanos sob o comando de Khair ad-Din iniciaram um ataque aos navios cristãos no mar Mediterrâneo a partir de uma base em Argel. Nesse ano a Tunísia foi capturada para servir de suprimento básico para novas campanhas navais na região. Carlos V, um dos homens mais poderosos da Europa naquele tempo montou um enorme exército de cerca de 60.000 soldados para expulsar os otomanos da região. Protegido por uma frota genovesa, Carlos V destruiu a frota de Barbarossa e depois de um oneroso cerco bem-sucedido em La Goleta, capturou Túnis.



O massacre da cidade, deixou um número estimado, de 30.000 mortos. O cerco, demonstrou a força que possuía na ocasião as dinastias dos Habsburgos, Carlos V tinha sob o seu controle grande parte do sul da Itália, Sicília, Espanha, as Américas, Áustria e terras da Alemanha. Além disso, ele era o soberano do Sacro Império Romano-Germânico, e tinha também de jure o controle sobre grande parte da Alemanha. Os otomanos responderam recapturando a cidade em 1574. Porém, o controle otomano sobre Túnis foi prejudicado pelos ataques regulares dos Beyliks, operando como piratas independentes. Consequentemente, os conflitos no Mediterrâneo continuaram até que três séculos mais tarde a França fez da região o seu protectorado.


Batalha de Djerba
(1560)

A batalha de Djerba (em espanhol - batalla de Los Gelves) ocorreu entre 9 e 14 de maio de 1560, ao largo da ilha de Djerba, no que é atualmente o sul da Tunísia. Os otomanos foram comandados por Piale Paxá e Turgut Reis contra uma força naval cristã, constituída maioritariamente por forças espanholas, mas também napolitanas, sicilianas e maltesas. O resultado foi favorável aos otomanos; os europeus perderam quase metade de suas forças navais. A frota cristã estava sob o comando de Giovanni Andrea Doria, sobrinho do almirante genovês Andrea Doria.

Cerco de Malta
(1565)





O cerco de Malta (também conhecido como o 'Grande Cerco de Malta') aconteceu em 1565, quando o Império Otomano quis conquistar a ilha estratégica, sede da Ordem de Malta. Situada ao sul da Sicília e quase equidistante das costas líbias e tunisianas, controlava as rotas comerciais entre o Mediterrâneo Ocidental e Oriental, assim como as que uniam a península ibérica e o Norte da África. Dotada de excelentes portos naturais, a queda da ilha em mãos turcas teria tido consequências para a Europa cristã, tendo em conta a fraca resistência que algumas potências europeias (envolvidas entre si em conflitos de dimensão continental1) apresentavam então ao avanço do Islã conquistador, tanto dos turcos, como de tribos berberiscas. O cerco é considerado um dos mais importantes na história militar e, no ponto de vista dos defensores, o mais bem-sucedido. No entanto, ele não deve ser encarado como um acontecimento isolado, mas como o ponto culminante de uma escalada de hostilidades entre os impérios espanhol e otomano pelo controle do Mediterrâneo, escalada que incluiu um ataque prévio sobre Malta, em 1551, por parte do corsário turco Turgut Reis, e que, em 1560, havia suposto uma importante derrota da Armada Espanhola pelos turcos na batalha de Djerba.



É notável que para os ocidentais o Cerco de Malta seja um dos fatos mais importantes da Idade Moderna, enquanto para os turcos tenha pouca importância. Esta diferença pode dever-se a duas razões, não necessariamente contraditórias entre si: em primeiro lugar, o desenlace do cerco não afectou em profundidade o Império Otomano, e em segundo lugar, os turcos saíram derrotados. Algo semelhante ocorreu na batalha de Lepanto, em 1571.


A Ordem dos Cavaleiros Hospitalários de São João de Jerusalém trocou de nome em 1530 para Ordem de Malta (apelidada ‘A Religião’, desde que em 26 de Outubro desse ano, Philippe Villiers de l’Isle-Adam, Grão Mestre da Ordem, chegou junto com seus cavaleiros ao Grande Porto de Malta, para tomar posse da ilha, cedida pelo imperador Carlos V. Sete anos antes, no fim de 1522, os Cavaleiros haviam sido expulsos de sua base em Rodes pelo Sultão otomano, Solimão, o Magnífico, depois de um cerco de seis meses. Entre 1523 e 1530 os Cavaleiros não tiveram assentamento algum, até que o Imperador Habsburgo lhes ofereceu as ilhas de Malta e Gozo em troca de um pagamento simbólico anual, consistido em um falcão, que seria enviado ao Vice-rei da Sicília e uma missa a celebrar no Dia de Todos os Santos. Também lhes entregou Trípoli, cidade localizada em um território hostil, mas que o imperador pretendia utilizar para manter livre dos corsários de Berbéria, tributários dos otomanos.


Depois de consultar o Papa, Villiers de l’Isle-Adam aceitou a oferta com certos receios, pois comparada com Rodes, Malta era uma ilha pequena e isolada. Durante algum tempo os altos cargos da Ordem fizeram planos para reconquistar Rodes, mas a Ordem se acomodou em Malta, base de operações desde que os corsários seguiram atacando proveitosamente as naves turcas. A ilha, no centro do Mediterrâneo, ocupava uma posição chave no cruzamento de caminhos entre Oriente e Ocidente, de grande importância estratégica, sobretudo quando, desde 1540, os corsários berberes começaram a operar em águas do Mediterrâneo ocidental, atacando com frequência as costas da cristandade e, entre outras, as ilhas Baleares, terra que gerou Grandes Mestres e de onde procediam muitos cavaleiros. Um ataque muito recordado é o de Turgut Reis (também conhecido como ‘Dragut’) a Pollença, em 1550, no qual os turcos saíram derrotados. A cada 2 de agosto se comemorava o evento, ao grito do aviso que deu o herói local Joan Mas:

“Mare de Déu dels Àngels, assistiu-mos! Pollencins, alçau-vos! Perquè els Pirates ja són aquí!”

Efectivamente, o corsário Dragut, estava começando, a ser uma ameaça considerável, para as nações cristãs do Mediterrâneo ocidental, e a permanência da Ordem de Malta na ilha era um obstáculo para seus propósitos. Em 1551, Dragut e o almirante turco Sinán decidiram invadir Malta com cerca de 10.000 homens. Em poucos dias, Dragut deteve o ataque e mirou-se para ilha vizinha de Gozo, onde bombardeou a cidadela durante vários dias, até que, finalmente, o governador dos Cavaleiros em Gozo, Galatian de Sesse, considerando que a resistência era inútil, rendeu a cidadela. O corsário turco tomou como reféns, praticamente, toda a população (cerca de 5.000 habitantes) para depois dirigir-se a Trípoli, junto com Sinán Bajá, de onde expulsou facilmente a guarnição de Cavaleiros. Em um primeiro momento, nomeou governador um apoiante local, Aga Morat, ainda que pouco depois ele mesmo se erigiu na cidade de Bey.


Expansão do Império Otomano de 1481 a 1683 no Mediterrâneo. Sob o reinado de Solimão, seus domínios se estendiam até Trípoli e às portas de Viena. O ritmo das conquistas justificava a inquietude cristã. Em somente um século desde a conquista de Constantinopla, em 1453, já dominavam a península balcânica (1481) e a costa do norte de África até Oram. Os cercos de Malta e Viena marcaram o fim do ciclo expansionista.


Mediante estes ataques, o Grão-mestre da Ordem, Juan de Homedes, supôs que haveria outra invasão otomana em menos de um ano, pelo que dispôs que se reforçasse o Forte de Santo Ângelo em Birgu (hoje em dia, Vittoriosa), e que, além de se construir dois fortes novos, o de São Miguel no promontório de Senglea, protegendo o Burgo, e o de São Elmo, na península de Monte Sceberras (hoje em dia, centro urbano de Valeta). Os dois fortes novos foram construídos em apenas seis meses, no ano de 1552, e os três juntos foram de uma importância crucial para o resultado do Grande Cerco. Especialmente o de São Elmo, encarregado a um arquitecto italiano que o desenhou de forma hoje conhecida com traço italiano (na Itália denominada ala moderna) que era uma adaptação à importância crescente da artilharia. Os anos seguintes foram especialmente tranquilos para a ilha, ainda que as atividades dos corsários turcos (‘turco’ era uma palavra que designava também a todas as tribos berberes, que mantinham algum tipo de vassalagem com o Sultão) e as dos cristãos, muito menos. Em 1557, Jean Parisot de la Valette, cavaleiro da linha de Provença, foi eleito o 49º Grão-Mestre da Ordem, e alentou os ataques a embarcações não cristãs. Suas próprias naves parecem que chegaram a aprisionar ao redor de 3.000 escravos muçulmanos e judeus, só no período em que ostentou o cargo de Grão-Mestre. Não obstante ser um período relativamente tranquilo, em 1559, Dragut já era um problema de primeira grandeza para as potências cristãs, chegando a atacar a costa oriental da Espanha, em conivência com os mouriscos. Isto obrigou Felipe II a organizar uma expedição naval a fim de desalojar o corsário de sua base tripolitana. A Ordem se uniu à expedição, consistindo em cerca de 54 naves e 14.000 homens. A campanha finalizou em desastre, ao ver-se surpreendida a frota cristã, próximo à ilha de Djerba pelas forças do almirante Pialí Bajá, em maio de 1560. Os otomanos capturaram ou afundaram metade da frota. Este lance marcou o ápice da dominação otomana nas águas do Mediterrâneo. Depois do episódio de Djerba, a possibilidade de que os otomanos organizassem um ataque iminente contra Malta aumentou em grande escala, consciente disso, em agosto de 1560 Jean de la Valette enviou uma ordem a todos os priores da Ordem instando aos cavaleiros a estar preparados para apresentarem-se em Malta tão pronto como se publicasse uma citazione (citação). Assim, os turcos cometeram um grave erro estratégico deixando passar a oportunidade de atacar a ilha nesse mesmo momento, com a frota mediterrânea espanhola acabada e não cinco anos depois, nos quais a Espanha teve tempo de refazer sua armada. Apesar do qual, ‘a Religião’ continuou com grande êxito praticando o corso com as embarcações comerciais turcas. Em meados de 1564, Romegas, um dos marinheiros mais notáveis da Ordem, capturou certo número de naves de importância, entre as quais se incluía uma pertencente ao Eunuco Maior do Harém, fazendo prisioneiros vários personagens de importância, como o governador do Cairo, o de Alexandria e a antiga tutora da irmã de Solimão. Os êxitos dos corsários de Romegas deram aos turcos um ‘casus belli’ plausível e, no fim de 1564, a Sublime Porta decidiu tomar medidas para repetir o êxito de 1522, mas desta vez, mais longe da Anatólia, e muito mais perto dos portos espanhóis e das Repúblicas marítimas italianas.


No início de 1565, o Grão-Mestre, recebeu informações, de seus espiões, em Constantinopla sobre uma invasão que se estava preparando. Jean de la Valette cometeu uma grave falta de previsão, ao começar com atraso as medidas defensivas mais elementares: recrutar soldados na Itália, acumular víveres e acelerar os trabalhos de reparação e reestruturação nos fortes de Santo Ângelo, São Miguel e São Elmo, evacuar os civis e levar a cabo uma estratégia de terra queimada em Malta e Gozo, complicando o abastecimento inimigo. Parece que La Valette duvidou antes de tomar tão duras medidas por conta dos gastos e da crença de que o inimigo não chegaria antes de junho, quando realmente se apresentou, em 18 de maio daquele ano de 1565.


O Grão-Turco, no cume de seu poderio, havia reunido para a tomada de Malta uma das maiores frotas vistas até então. Segundo o registro de Giacomo Bosio, historiador oficial da Ordem, numa das crónicas mais precoces e detalhadas do cerco, a frota se compunha de 193 navios, entre os quais havia 131 galeras, sete galeotas (pequenas galeras) e seis galeaças (grandes galeras, menos ágeis mas com mais potência de fogo), 8 mahonas (grandes galeras de transporte), 11 veleiros com provisões e 3 mais para os cavalos. Algumas cartas do Vice-rei de Sicília, das datas em que houve o assédio proporcionam números similares. As naves transportavam um grande conjunto de instrumentos para o assédio, consistia em 64 peças, entre elas 4 enormes canhões 17 que disparavam balas de 130 libras 18 e um grande pedreiro que arremessava projécteis de 7 pés de circunferência.


O diário do Cerco do mercenário ítalo-espanhol, Francisco Balbi di Correggio, é outra fonte contemporânea e fiável sobre as forças em pugna:




Cavaleiros Hospitalários

500 Cavaleiros hospitalários

400 Soldados espanhóis

800 Soldados italianos

500 Soldados de galeras

200 Soldados gregos e sicilianos

100 Soldados do comando de São Elmo

100 Serventes dos cavaleiros hospitalários

500 Escravos de galeras

3.000 Soldados recrutados entre a população de malta

Total: 6.100 homens



Forças Otomanas

6.000 Cipaios

(cavalaria)

500 Cipaios de Caramania

6.000 Janízaros

400 Aventureiros de Mitilene

2.500 Cipaios de Rouania (Argélia)

3.500 Aventureiros de Rouania

4.000 ‘Fanáticos religiosos’

6.000 Voluntários variados

Vários corsários de Trípoli e Argel

Total: 28.500 homens do Oriente, 48.000 homens no total.


As cifras que Balbi dá, não obstante seu detalhe, não são totalmente fiáveis. O cavaleiro Hipólito Sans, em um registro menos conhecido, também cita 48.000 invasores, apesar de não estar muito claro se seu relato é verdadeiramente independente dos escritos de Balbi. Outros autores contemporâneos dão cifras mais reduzidas, o mesmo La Valette em uma carta a Felipe II, no quarto dia do Cerco conta que "o número de soldados que desembarcaram está entre 15 e 16.000, incluindo 7.000 arcabuzes entre os 3.000 janízaros e os 4.000 Cipaios. Por outro lado, um mês depois do cerco, o próprio La Valette escrevia ao Prior da linha de Alamânia relatando o seguinte. esta frota consistia em 250 naves, trirremes, birremes e outros barcos, estimamos que as forças do inimigo estejam em uns 40.000 homens de armas". O fato de que La Valette desse um número de 250 naves e 40.000 homens, notavelmente por cima dos demais registros, mostra que o mesmo Grão-Mestre não era alheio ao exagero da gesta, a qual eram proclives as forças cristãs. De fato, o capitão Vicenzo Anastagi, aliado de Sicília, afirma que as forças inimigas só chegaram aos 22.000, uma cifra similar à de muitos outros escritores dessas datas. Por sua vez, Bosia fala de um total de 30.000 homens, número parecido aos 28.500 detalhados por Balbi. Outra fonte contemporânea cita também uma cifra aproximada. Considerando a capacidade das galeras do século XVI, que podiam ter uma capacidade de levar entre 70 e 150 homens, parece claro que as cifras de Balbi são um tanto exageradas, ao passo que Anastagi, que tentava convencer o Vice-rei da Sicília de uma possível vitória no caso de este ajudar mandando tropas, seguramente estimou por baixas. Levando em conta que vários historiadores oferecem listas específicas (mesmo não sendo idênticas) totalizando algo menos de 30.000 homens (mais uns 6.000 corsários, vindos da Berbéria) pode-se concluir que a cifra real deve ter-se afastado muito. Por parte dos defensores, os números de Balbi provavelmente estimem uma baixa, já que resulta em um valor de apenas 550 cavaleiros na ilha, enquanto Bosio fala de um total de 8.500 defensores. Mesmo que grande parte desses fossem malteses sem formação militar, o número de 550 hospitaleiros continua parecendo pouco plausível. Entre os hospitalários havia alguns portugueses.


A imponente esquadra turca, que partiu de Constantinopla em março, avistou Malta no amanhecer da sexta-feira 18 de maio, no entanto, não desembarcou imediatamente, mas sim costeou a ilha até o sul e finalmente ancorou no porto de Marsaxlokk (Marsa Sirocco), a cerca de 10 quilómetros do Gran Puerto. De acordo com a maioria dos relatos, em particular com o de Balbi, ao desembarcarem os turcos, houve discrepâncias entre o chefe das forças de terra, o vizir Kızıl Ahmedli Mustafá Paşa e o Almirante Pialí Paxá. Pialí queria, antes de mais nada, tomar o forte de São Elmo, para dominar, assim, o Gran Puerto e dispor de um ancoradouro a salvo de siroco. Por outro lado, Mustafá pretendia atacar a desprotegida capital velha, Mdina, que estava no centro da ilha, e lançar-se directamente sobre os fortes de Santo Ângelo e São Miguel por terra, já que, ante a queda destes, pouco resistiriam as fortalezas menores. Se impôs o critério de Pialí, convencidos de que São Elmo apenas resistiria alguns dias. Assim, no dia 24 de maio, começaram a entrincheirar-se em torno do pequeno forte, instalando 21 canhões de combate e começando imediatamente o bombardeio. Parece certo que Solimão se enganou ao repartir a autoridade entre Pialí e Mustafá, e ao ordenar a ambos que obedecessem a Dragut quando este chegou de Trípoli. No entanto, certas cartas de espiões em Constantinopla, sugerem que o plano sempre havia sido tomar o Forte de São Elmo primeiro. De qualquer forma, os turcos cometeram um erro crucial ao centrar seus esforços contra ele.


O forte de São Elmo estava defendido por aproximadamente 100 cavaleiros e 500 soldados, os que La Valette havia ordenado lutarem até ao fim, tentando aguentar até que chegassem os reforços prometidos pelo Marquês de Villafranca, Vice-rei da Sicília. O contínuo bombardeio reduziu o forte a escombros em menos de uma semana, mas La Valette evacuava os feridos e reabastecia o forte durante a noite pelo porto. Apesar disso, no dia 8 de junho, os cavaleiros se encontravam na margem do motim e enviaram uma mensagem ao Grão-Mestre pedindo licença para fazer uma saída e poder morrer com a espada na mão. A resposta de La Valette foi pagar aos soldados e enviar uma comissão através do porto para conhecer o estado da defesa. Quando os comissionados, deram uma opinião contraposta, o Grão-Mestre disse que poderia absolvê-los se os cavaleiros tivessem medo de morrer do modo que lhes havia ordenado. Ainda que envergonhada, a guarnição se manteve firme, repelindo as numerosas investidas do inimigo, prolongando até um mês a tomado do forte. Dragut conseguiu interromper a comunicação pelo porto, mas morreu sem poder saborear a vitória. Segundo Bosio, foi mortalmente ferido no dia 17 de junho por um disparo certeiro desde o forte de Santo Ângelo e segundo Balbi e Sans por um descarregamento dos próprios canhões turcos. Finalmente, no dia 23 de junho, os turcos conseguiram tomar o que restava do forte de São Elmo, matando todos os defensores, excepto nove cavaleiros que foram capturados pelos corsários e um pequeno punhado que conseguiu escapar. Ainda que os turcos tivessem triunfado na batalha, e a frota de Pialí tenha podido ancorar em Marsamxett, o assédio ao forte de São Elmo havia custado aos turcos nada menos que 6.000 soldados mortos, incluindo metade de suas tropas menores, os janízaros. O próprio Pialí acabou ferido na cabeça. Nesse sentido foi uma verdadeira vitória pírrica, pois os homens e o tempo perdidos (quase um mês exacto, quando o comando turco calculou três ou quatro dias) foram muito importantes, o que, não obstante, não deteve Mustafá. Arturo Pérez-Reverte, o descreve da seguinte maneira em sua novela, ‘Corsários de Levante’. “E junto à ponte levadiça, sobre a qual ondeava a bandeira vermelha com a cruz de oito pontas da Religião, o barqueiro, cujo pai havia pelejado no assédio, nos contou, através de sua mistura de italiano, espanhol e franco, como aquele havia intervindo, junto com outros marinheiros do Burgo, no transporte de cavaleiros voluntários espanhóis, franceses, italianos e alemães, de Santo Ângelo até o assediado São Telmo e, como cada noite rompiam os botes e, a nado, o bloqueio turco para cobrir as terríveis baixas da jornada, sabendo que o caminho era só de ida, iam à morte seguros disso”. Também nos contou que na última noite foi impossível ultrapassar as linhas turcas, e os voluntários tiveram que voltar, e como ao amanhecer, dos fortes de Senglea e São Miguel, os ali assistidos com o mestre La Valette vieram invadir São Telmo, sob uma tropa de cinco mil turcos, lançados ao assalto contra os duzentos cavaleiros e soldados, quase todos espanhóis e italianos, que maltratados, chagados e feridos depois de cinco semanas lutando dia e noite, atacados por dezoito mil disparos de canhão, resistiam entre os escombros.



Finalizou o barqueiro seu relato detalhando como os últimos cavaleiros, feridos e sem forças para sustentarem um ponto a mais, se retiraram sem dar as costas até o último reduto da igreja, matando e morrendo como leões encurralados; mas ao ver que os turcos, furiosos pelo preço da vitória, não respeitavam a vida de nenhum dos que alcançavam, saíram de novo à praça para morrer como quem eram, de maneira que seis deles (um aragonês, um catalão, um castelhano e três italianos), abrindo passagem à facadas entre a turba dos inimigos, ainda puderam arrastar-se ao mar, querendo ganhar a nado o Burgo, mas foram presos na água. E que a cólera de Mustafá foi tanta (havia perdido seis mil homens só em São Telmo, incluindo o famoso Dragut) que mandou crucificar em madeira os cadáveres dos cavaleiros, e fazendo-lhes uma cruz no peito com dois cortes de cimitarra, deixou que a correnteza os levasse ao outro lado do porto, onde seguiam resistindo Senglea e São Miguel, e logo comprou todos os cativos e os degolou sobre as muralhas. Ao ato bárbaro, o Grão-mestre correspondeu matando os prisioneiros turcos e lançando suas cabeças com os canhões ao campo inimigo. As notícias do assédio se propagavam e estendia-se o pânico. Havia poucas dúvidas de que o resultado do cerco a Malta seria de muita importância e de que seu resultado poderia decidir a luta entre o Império Otomano e a Europa Cristã. Inclusive se diz que a rainha Isabel I de Inglaterra chegou a comentar:

“Se prevalecer o Turco contra a Ilha de Malta, são incertos os perigos que ameaçam o resto do Cristianismo no futuro”.

Todas as fontes contemporâneas indicam que os turcos queriam, também, conquistar a fortaleza espanhola de La Goleta, em Túnis, e parece que Solimão tinha pensado em invadir a Europa Ocidental através da Itália, além de seguir pela Hungria, uma vez conquistada a península balcânica.


Ainda que o vice-rei da Sicília ainda não havia posto em marcha o prometido socorro (as tropas ainda estavam em plena leva), e apesar do férreo bloqueio turco, continuavam chegando reforços á ilha. À plena luz do dia, um bote de remos se dirigiu até ao Grande Porto, e mesmo que um canhonaço turco os tenha feito farpas, um comendador da Ordem, um tal Salvago, e o capitão espanhol Miranda, ganharam a costa a nado e se reuniram com os sitiados. Em outra ocasião uma galera da Sicília conseguiu escapar de sete galeras inimigas quando tentava aproximar-se por terra. Um reforço de 600 homens comandados por Enrique de la Valette, sobrinho do Grão-Mestre, fracassou ao desembarcar, porém conseguiu escapar. Além de outras tentativas falhadas, no dia 28 de junho conseguiu-se enviar verdadeiros reforços, cerca de 600 homens ao comando de Juan de Cardona, em 4 galeras enviadas pelo Vice-Rei da Sicília. Isso elevou imensamente o moral dos sitiados. Esse ‘piccolo’ socorro incluía uma companhia espanhola de elite, 150 cavaleiros vindos de todas as partes e numerosos voluntários, incluindo os irmãos do ‘duque del Infantado’ e do conde de Monteagudo, ao comando do mestre de campo Senhor Melchor de Robles. O êxito se deveu a um único soldado, Juan Martínez de Luvenia, que desembarcou sozinho e deu um aviso à esquadrilha com um fogaréu da presença ou ausência de inimigos, as três ocasiões que tentou o desembarque. Com Pialí ferido, Mustafá ordenou um ataque contra a península de Senglea no dia 15 de Julho, incorrendo o erro contrário do assédio de São Elmo: dividir os esforços em três ataques contra o Burgo e seus dois fortes anexos. Havia trasladado 100 embarcações pequenas pelo monte de Sciberras até o Grande Porto, com a intenção de lançar um ataque anfíbio contra o promontório, enquanto os corsários atacavam o Forte de São Miguel no final da linha de terra. Para a sorte dos malteses, um desertor do bando turco alertou a La Valette sobre a iminente operação e o Grão-Mestre teve tempo de construir uma paliçada no promontório de Senglea, que ajudou decisivamente a repelir o ataque. No entanto, o ataque poderia ter triunfado se algumas das naves turcas não se tivessem posto ao alcance de uma bateria que havia sido localizada na praia pelo comandante de Guiral ao pé do Forte de Santo Ângelo. Umas poucas, salvas afundaram as embarcações afogando muitos dos atacantes. O ataque por terra falhou ao mesmo tempo quando tropas de reforço cristãs conseguiram cruzar o Forte de São Miguel por uma ponte flutuante, com o resultado de que Malta se salvou pelo momento.


Enquanto os turcos haviam cercado Birgu e Senglea com sua tropa de assédio de 64 peças, a cidade era objecto do que, provavelmente, foi o bombardeio contínuo mais duro que se havia produzido na história até esse momento (Balbi assegura que se dispararam 130.000 balas de canhão no curso do assédio). Havendo destruído suficientemente um dos bastiões chaves da cidade, Mustafá ordenou outros dois assaltos massivos simultâneos em 7 de agosto, um contra o Forte de São Miguel e outro contra a mesma Birgu. Nesta ocasião, os turcos conseguiram atravessar as muralhas da cidade e apesar de o Grão-Mestre ter combatido em primeira linha, sua derrota parecia segura. Mas no último momento, inesperadamente os invasores retrocederam. A razão foi que o capitão de cavalaria Vincenzo Anastagi, em sua saída diária de Mdina, no interior da ilha, havia atacado o desprotegido hospital de campo turco, massacrando os doentes e feridos e desorganizando a retaguarda turca. Os turcos, pensando que haviam chegado os reforços cristãos de Sicília, interromperam o ataque. Unido aos esforços para a tomada de São Elmo, que, no fim, resultaram excessivos (outro erro estratégico do comando turco) visto que á posteriori, pode ser não se encarregar dos cavaleiros dispersos pelo resto da ilha.


Depois do ataque de 7 de agosto, os turcos retomaram os bombardeios a São Miguel e Birgu, dando início a um último assalto massivo contra a cidade entre 19 e 21 de agosto. O que aconteceu durante esses dias de intensa luta está muito claro. Bradford (no momento fundamental para o assédio) fala de uma mina turca perfurada até as muralhas da cidade e que o Grão-Mestre salvou a situação correndo até a brecha. Balbi, no início de suas anotações diárias, do dia 20 de agosto, disse somente que La Valetta foi advertido de que os turcos haviam-se internado nas muralhas, o Grão-Mestre correu até "o posto ameaçado, onde sua presença surpreendeu os trabalhadores. Espada à mão, permaneceu no ponto mais perigoso até que os turcos se retiraram". Bosio não faz nenhuma menção a que os turcos tivessem detonado uma mina, contudo escreve que o pânico se difundiu quando os estandartes turcos surgiram por trás das muralhas, mas que ao se dirigir até esse lugar, o Grão-Mestre encontrou inimigos. Entretanto, um canhoneiro no alto do Forte de Santo Ângelo, tomado pelo mesmo pânico, matou grande número de habitantes por ‘fogo amigo’. A situação era tão desesperadora, que, em algum momento de agosto, o Conselho de Anciãos decidira abandonar a cidade e se retirar do Forte de Santo Ângelo. Mas La Valette não permitiu fazê-lo, pois instituía que os turcos estavam perdendo seu ímpeto, como depois ficou demonstrado. Ainda que tivessem continuado o bombardeio e os assaltos menores, os invasores se consumiam de desespero. O socorro de 9.000 homens enviado da Sicília foi disperso por uma ventania muito forte e fria, e teve que voltar ao porto para reparar. Em 30 de agosto, aproveitando as chuvas que deixaram fora de jogo os arcabuzes e a artilharia cristã, os turcos tentaram seus assaltos contra o Forte de São Miguel. Primeiro os turcos tentaram com a ajuda de uma manta, pequena máquina de assédio coberta por escudos, depois com o uso de uma autêntica torre de cerco. Em ambos os casos, os engenheiros malteses construíram um túnel através das ruínas e destruíram as construções com precisas salvas de balas encadeadas, e os assaltantes foram repelidos com pedras, bestas e com armas brancas. No princípio de Setembro, o tempo estava mudando e Mustafá ordenou uma marcha sobre Mdina, para tentar passar o inverno ali. Contudo, a cidade estava cheia de malteses e suas tropas não estavam dispostas para outro assalto. Então, não pôde realizar outro ataque. Em 8 de Setembro, as festividades do nascimento da Virgem Maria, os turcos haviam embarcado sua artilharia e se preparavam para deixar a ilha, havendo perdido, talvez, um terço de seus homens devido aos combates e às enfermidades. No dia anterior, de todas as formas, o marquês de Villafranca, Garcias de Toledo, havia desembarcado com 9.600 homens na baía de São Paulo, no extremo norte da ilha antes de dar a volta na ilha, para desafiar com suas salvas a frota turca ancorada antes de voltar para a Sicília. Em terra, as forças espanholas formaram rapidamente os temidos quadros dos terços e empreenderam uma marcha de três dias. Os turcos, que preparavam o assalto final, compreenderam sua derrota e iniciaram a retirada. Mas no último momento, ainda pôde frustrar-se tudo, em 11 de Setembro, um soldado mourisco passou pelos turcos e os informou que os reforços eram de somente de 5.000 homens. Crendo naquilo, Mustafá suspendeu o embarque e se preparou para o combate. Vendo os turcos se aproximar, Álvaro de Sande, na ponta da vanguarda espanhola, carregou sobre os turcos que iam tomar posse de uma colina, com o ímpeto do ataque, e achando que vinham por cima todas as hostes da Monarquia Católica, deram meia volta e fugiram, sendo perseguidos até ás embarcações. Em 12 de Setembro, desaparecia no horizonte a última vela turca. Ainda que algumas das baixas turcas, sem dúvida, tenham sido demolidoras, seu número concreto é tão controverso quanto o de invasores. Balbi dispõe um valor de 30.000, e outras fontes cerca de 25.000. Em todo caso, muitos dos mortos eram janízaros e cipaios, tropas selectas de difícil substituição.


Por sua parte, Malta havia perdido um terço de seus cavaleiros e um terço de seus habitantes. Birgu e Senglea haviam ficado totalmente arrasadas, e seriam incapazes de resistir a um novo ataque turco. La Valette, esgotado, sugeriu inclusive a derrotista ideia de abandonar Malta e arrasá-la por completo, e que os cavaleiros se instalassem em um porto siciliano, possivelmente em Siracusa. Os espanhóis, em especial o vice-rei Garcias de Toledo, dissuadiram o Grão-Mestre de tal ideia. Porém, o envelhecido La Valette era um homem já sem forças e arrasado pelos rigores do assédio, e depois de uma breve doença, morreu ao cabo de três anos, em 21 de agosto de 1568. A gratidão da Europa para com a heróica defesa da Ordem se manifestou no dinheiro que, prontamente, começou a acudir a ilha. As ‘cidades heróicas’ (Birgu, Senglea e Kalkara) passaram a denominar-se ‘Invicta’, ‘Vittoriosa’ e ‘Cospicua’ ('Cospicua', em espanhol quer dizer, ilustre, visível, sobressalente). Posteriormente, uma cidade fortificada de construção nova se edificou sobre a península do monte Sceberras para que os turcos nunca pudessem ocupar a posição de novo. Foi baptizada como ‘Cidade de La Valette’, em honra ao Grã-Mestre. Em 1566, Felipe II enviou como presente a La Valette sua espada e adaga de aço toledano com aviamentos de ouro e pedraria gravada com a legenda em platina: ‘PLVS QVAM VALOR VALETTA VALET’ (Mais que o mesmo Valor Vale Valetta), e chamada, portanto, de ‘Valor’. O presente foi levado a Malta por frei Rodrigo Maldonado, que chegou na ilha com grande quantidade de munições, alimento e apetrechos, ante um possível novo ataque turco, e com o encargo de entregar a espada ajoelhado em público, ante seus cavaleiros e os homens da ilha que haviam compartilhado os horrores do assédio. Desde então, a cada, 8 de Setembro, a Espada e Adaga do Valor, desfilavam pelas ruas de Valeta, seguidos pelo porta-estandarte da Cruz de Malta.


O cerco de Malta pressupôs um freio ao auge otomano no Mediterrâneo e permitiu à Europa Cristã, especialmente aos Habsburgo, frear o avanço de Solimão até o Oeste. Este, ao invés de atacar novamente a, praticamente, indefesa Malta, lançou-se ao ataque contra a Hungria dos Habsburgo, com os quais tinha trégua desde o fracasso do Cerco de Viena, em 1562. O Grande Sultão morreu de apoplexia no transcurso da custosa campanha, que foi abandonada. Dois terços do exército turco morreu em decorrência de uma peste (o mal da Hungria) no caminho de volta, mas no mar, suas galeras seguiam intactas, e as potências cristãs duvidavam a hora de enfrentar suas Armadas. O novo sultão, Selim II, focou sua atenção na luta naval. A guerra entre a Cruz e a Meia-lua seguiria no Mediterrâneo sem um resultado claro. Em 1570, um ano antes da vitória histórica de Lepanto, os turcos conquistaram Chipre, de Veneza. Um grande vizir turco, disse a respeito:

“Com a conquista de Chipre, lhe mutilamos um braço; eles, derrotando nossa frota só nos têm afectado a barba. Um braço cortado não voltará a crescer, mas uma boa barba crescerá muito melhor depois de passada a lâmina”.

Não obstante, não era o mesmo, construir galeras, que tripulá-las adequadamente. Durante quase dois anos a frota otomana evitou o combate, e não foi até depois da tomada de Túnis e La Goleta, por João de Áustria, em 1573, que Selim II enviou uma força de 250 a 300 naves de guerra e um contingente de 100.000 homens para reconquistar ambas as praças, neste labor pereceram cerca de 30.000 homens nas mãos da guarnição de La Goleta, na qual, segundo Miguel de Cervantes havia cerca de 7.000 soldados espanhóis e italianos. Se bem, a custosa tomada de Túnis foi um feito de armas notável, o poderio otomano no Mediterrâneo começava seu lento declive. Prova disso é que haveria de esperar até 1612 para encontrar outro ataque turco de envergadura, foi uma nova tentativa de sitiar Malta (uma sombra do ataque acontecido em 1565), que ficou abortado, enquanto apareceram no horizonte as galeras de Nápoles.


As Campanhas Otomanas
(1538-1717)


Em 1538 os turcos regressaram a Diu com uma armada quatro vezes mais poderosa do que a reunida em 1509, sendo novamente derrotados, fugindo para o Mar Vermelho. Neste período, surgiram imensos conflitos entre portugueses e turcos, todos eles em volta da rota das especiarias e do controle da pimenta. De todas essas batalhas, destaca-se a Campanha da Etiópia (1541 a 1543), devido à importância da mesma na manutenção do Império Etíope e da religião cristã no território em que ficaram registadas para a história as batalhas de Baçente (1542) e de Wayna Daga (1543).


A Batalha de Alcácer-Quibir, conhecida em Marrocos como Batalha dos Três Reis, foi uma grande batalha travada no norte de Marrocos perto da cidade de Ksar-El-Kebir, entre Tânger e Fez, a 4 de Agosto de 1578. Os combatentes foram os portugueses liderados pelo rei Dom Sebastião aliados ao exército do sultão Mulay Mohammed (Abu Abdallah Mohammed Saadi II, da dinastia Saadi) contra um grande exército marroquino liderado pelo seu tio, o Sultão de Marrocos Mulei Moluco (Abd Al-Malik da dinastia Saadi) com o apoio do exército otomano. A vitória muçulmana foi um grande desastre para a coroa portuguesa porque derivado ao rei ainda não ter descendência originou uma crise dinástica que levou á união ibérica durante 60 anos.


A oitava Guerra Otomano-Veneziana foi travada entre a República de Veneza e o Império Otomano entre 1714 e 1718. Foi o último conflito entre as duas potências e também entre Portugal e os Turcos, terminando com uma vitória otomana contra Veneza, com a perda da posse da maior possessão de Veneza na península grega, o Peloponeso (Moreia), tendo participado ao lado da República de Veneza, Portugal os Estados Pontifícios e a Ordem de Malta. A Participação de Portugal foi decisiva para o desfecho da guerra com a sua vitoriosa participação na batalha naval de Matapan travada a 19 de Julho de 1717. Após a conquista da Moreia, pelos turcos, estes avançaram por terra, cercando Corfu. Perante esta ameaça, Dom João V, Rei de Portugal à altura, encarregou o conde de Rio Grande, o Almirante Lopo Furtado de Mendonça, de comandar a esquadra portuguesa, ao encontro da força turca sitiada ao largo do cabo de Matapan, culminando numa histórica vitória.


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