(Hospital Real da Marinha) |
A respectiva organização da saúde naval começa em 1790, quando começam a surgir disposições mais consistentes relativas à organização do Serviço Naval de Saúde com as publicações de vários diplomas em que o quadro é aumentado implementa-se a graduação dos cirurgiões e dos físicos, criam-se as categorias de primeiros-cirurgiões e Cirurgião-Mor da armada, com um físico-mor e vários médicos de 1ª e 2ª classe, estabelece-se a obrigatoriedade da prestação de serviço em terra no então hospital do Tronco ou hospital militar da corte. Do ponto de vista sanitário algumas características basilares dos navios pouco se alteraram ao longo dos séculos XVI, XVII e parte do XVIII condicionando marcadamente a saúde dos navegantes. Também deve ser salientado que os médicos e cirurgiões deste quadro de saúde naval transitavam por vezes a seu pedido por outras por conveniência de serviço para médicos e cirurgiões de guarnições de regimentos ou para fortalezas nomeadamente para o Brasil e nos estabelecimentos ou hospitais da África Portuguesa ou da Índia ou regimentos locais do exército. D. Rodrigo de Sousa Coutinho, que prossegue a obra iniciada pelo seu antecessor e que entre outros assuntos dedica especial atenção á saúde naval, entendendo que o serviço deveria de dispor de um hospital privado. Por alvará régio de 16 de Outubro de 1796, pouco mais de um mês de ter assumido as suas funções, Sousa Coutinho manda instalar o hospital numa das casas da rua do Olival em Alcântara sob a direcção do Físico-mor da Armada Inácio Xavier da Silva. Cedo se verificou que a precariedade das instalações era incompatível com um serviço cuidado e passados oito meses é transferido o hospital para as instalações do convento do Desterro que já servira de hospital provisório, quando aconteceu o trágico terramoto de 1755. Mas Sousa Coutinho pretendia um hospital que fosse ‘sólido, cómodo e sadio’ diligenciando junto do príncipe regente D. João para a necessidade da construção de um hospital de raiz e não a adaptação de outras instalações. Foi eleito para o efeito o local para a construção do hospital naval o antigo colégio de São Francisco Xavier também conhecido como Hospício dos Jesuítas ao Paraíso sito na rua com o mesmo nome, a Santa Clara. Desde da expulsão da ordem dos Jesuítas que estava transformado em recolhimento de mulheres na dependência do todo-poderoso Diogo Inácio de Pina Manique, Intendente Geral da Policia.
A relação do ministro da marinha e o príncipe regente deveria ser sólida e de grande entendimento (como a história veio demonstrar) já que não obstante o terror reverencial que o senhor intendente da policia provocava, em ofício de 6 de Julho de 1797, mandou sua Alteza Real despejar a casa e que Diogo Inácio procurasse outro poiso para as recolhidas, no que foi prontamente obedecido. Data de 27 de Setembro de 1797, o alvará real com força de lei assinado por D. João príncipe regente em nome de sua Augusta Mãe Rainha de Portugal que mandava constituir um empréstimo de 150.000 cruzados destinado á construção do novo hospital com um respectivo Laboratório Químico e Dispensário Farmacêutico. Obras começadas num período de grande turbulência europeia com o erário público desgastado com a diplomacia portuguesa a evitar os apetites espanhóis e franceses no rescaldo da campanha do Rossilhão onde nos vimos metidos sob pressão e que só serviu para fragilizar ainda mais a posição portuguesa.
Em 1800 as obras foram mandadas parar e suspensas durante um período indeterminado. Foi constituído novo empréstimo e em 1801 retomam as obras com o empenho pessoal do príncipe regente ampliada a verba para 215.000 cruzados. Foi o hospital inaugurado em cortejo solene em 1 de Novembro de 1806 e desde essa altura até hoje nunca deixou de funcionar. Foi nomeado Inácio Xavier da Silva director do novo Hospital Real da Marinha até 1824 foram 27 anos á frente dos destinos do hospital. Na sua regência o príncipe inaugurou o novíssimo hospital que até á construção do hospital Dona Estefânia será o único hospital construído de raiz da cidade de Lisboa. O seu director assistiu à partida da família real para o Brasil, e coabitou com os médicos e cirurgiões franceses do exército do General Junot. Assistiu em 1811 à passagem do hospital para a dependência da Administração Central dos Hospitais Militares sob as ordens do físico-mor do exército José Carlos Barreto com a nova designação de Hospital Militar de Santa Clara.
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