domingo, julho 27, 2014

Batalhas e Combates-1762

Calicut
(Janeiro de 1762)


Em resultado da desagregação do império mogor, que se acelarou a partir de 1707, a Índia ficou transformada numa manta de retalhos. No Norte continuou, por muitos anos a luta entre Mogores e Maratas, sem que estes últimos tenham conseguido realizar a sua própria unidade politica. O Sul encontrava-se dividido em numerosos estados independentes que se guerreavam com frequência sem que qualquer deles, conseguisse alcançar a supremacia. Uma enorme diversidade de etnias, liguas e religiões contribuia para agravar ainda mais o estado caótico em que se achava mergulhado o subcontinente. Por outro lado, o seu litoral encontrava-se cravejado de estabelecimentos europeus. Na costa ocidental, Goa, Damão e Diu estavam nas mãos dos Portugueses, Bombaim nas dos Ingleses e Mahé nas dos Franceses, em Vinguria e Cochim havia feitorias holandesas e em Surrate de Ingleses, Holandeses e Portugueses. Na costa oriental os Franceses encontravam-se instalados em Pondichery, Karikal e Chandernagor, os Ingleses em Madras e Calcutá, os Holandeses em Paleacate e os Dinamarqueses em Tranquebar, os Portugueses tinham feitorias em São Tomé e Porto Novo. De entre todos os Europeus foram os franceses os primeiros que se aperceberam do estado de debilidade politica em que se encontrava a Índia e que procuraram tirar partido disso. Sob a direcção de Dupleix, a partir de 1740, utilizando sobretudo a intriga politica, começaram a penetrar no interior da Índia, conseguindo colocar sob o seu controlo efectivo vastas regiões. Alarmaram-se os Ingleses e começaram a reagir utilizando os mesmos processos. Durante a Guerra de Sucessão da Áustria (1744-1748) tiveram lugar importantes confrontos na costa do Coromandel entre uns e outros. De início foram os Franceses quem levou a melhor, por fim preponderou a supremacia naval dos Ingleses. Feita a paz, a luta entre ambos continuou por intermédio dos príncipes indianos que uns e outros apoiavam. Em 1751 os Ingleses, sob o comando de Robert Clive, alcançaram uma importante vitória sobre o rajá de Bengala tornando-se praticamente senhores da região, em 1754 Dupllix, é destituido do cargo de governador de Pondichery. Com a sua retirada para França desvaneceu-se o sonho de um império francês na Índia. Tenazmente Clive continua a alargar o dominio e a influência dos Ingleses. Sentindo-se cada vez mais forte e mais apoiada pelo governo britânico, a Companhia Inglesa das Índias, em 1750, decidiu, de uma vez por todas acabar com o flangelo do Tulagi Angriá. Em Abril de 1751 uma esquadra inglesa, sob o comando do comodoro William James, atacou resolutamente Sverndruga, que capitulou ao fim de dois dias de bombardeamento. Os seus fortes foram desmantelados e todos os navios que estavam no porto foram queimados. Em Fevereiro de 1756 foi a vez de Vjayadruga. Atacada por terra e por mar por ingleses e Maratas viu os seus fortes igualmente arrasados e a esquadra reduzida a cinzas. O Tulagi Angriá para não ser capturado pelos Ingleses, entregou-se aos Maratas, que o conservaram preso até ao fim dos seus dias.



Desta forma se extinguiu uma famosa familia de corsários que durante mais de meio século pôs em cheque o dominio do mar que os Europeus vinham exercendo na costa ocidental da Índia. A partir de então a navegação naquela costa passou a fazer-se com relativa segurança, embora sujeita a ataques esporádicos de corsários maratas e de outras nações mas de menor poder que os Angriás. Durante os dez anos que decorrem entre 1752 e 1762, que saibamos, não foi atacado qualquer navio português importante na costa ocidental da Índia. Pelo contrário, em terra continuaram as lutas contra os Bounsulós, os Maratas e o rei de Sunda, entrecortadas por acordos de paz de fraca consistência. Durante o governo do conde de Alva (1754-1756), o único vice-rei da Índia que morreu em combate, perderam-se praticamente todas as «Novas Conquistas». Pondá e os distritos do Sul foram recuperados em 1758, Alorna e os distritos do Norte só viriam a sê-lo, a titulo definitivo em 1778. Virá a propósito dizer que em 1760 a cidade de Goa foi abandonada, sendo a capital do Estado da Índia transferida para Pangim. Desde então o termo «Goa» passou a designar o conjunto do território português ligado àquela cidade e não a cidade propriamente dita. O abandono de Goa deveu-se ao facto de os seus solos serem muito permeáveis, do que resultava a permanente inquinação da água dos poços e as consequentes epidemias de febre tifóide e outras doenças infecto-contagiosas que dizimavam a população. Já em 1684 havia sido decidido transferir a capital para Mormugão onde se chegaram a abrir algumas ruas e a erguer alguns edificios. Mas, dois anos depois, o projecto fora posto de parte por se ter chegado à conclusão que era demasiadamente dispendioso. A 2 de Janeiro de 1762 largou de Goa, sob o comando do Capitão-de-mar-e-guerra José Plácido de Matos, uma esquadra constituida pela Nau de guerra "N. S. das Necessidades" de 70 peças de artilharia, e pela Fragata "N. S. do Monte Alegre", de 40 peças, com a missão de escoltar a Nau de torna-viagem até a pôr fora de vista da costa e em seguida ir ao encontro do navio vindo de Macau, que por essa altura, já devia ter chegado ao cabo Comorim. Terminada sem incidentes a primeira parte da missão, Plácido de Matos foi navegando para sul à vista da costa até que ao chegar a Calicut encontrou là fundeado o navio de Macau juntamente com um outro navio português vindo possivelmente, da costa do Coromandel. Tinha a nossa esquadra acabado de iniciar com ambos a viagem de regresso a Goa quando foi acometida por uma esquadra marata composta por seis Palas e mais de vinte galvetas. Nesta altura o Estado Português da Índia achava-se em paz com os Maratas. Mas o Almirante da esquadra marata, que tinha arrematado por bom dinheiro o direito a fazer o corso na costa ocidental da Índia, deve ter pensado que «amigos, amigos ... negócios à parte!» E durante três dias e três noites conservou-se no rasto dos navios portugueses, atacando-os por diversas vezes com artilharia, na esperança de fazer desgarrar algum deles para depois o tomar à abordagem. Mas nada conseguiu. De todas as vezes que as suas palas ousaram aproximar-se da nossa esquadra foram duramente castigadas pela poderosa artilharia da "Necessidades" e da "Monte Alegre", sofrendo estragos e baixas. Ao findar a terceira noite de combate a esquadra marata abandonou a luta e desapareceu rumo ao Sul. A nossa esquadra, com os dois navios mercantes que levava à sua guarda, continuou a navegar para Norte, a caminho de Goa, onde chegou sem mais novidade. Para premiar Plácido de Matos pela vitória que alcançara o vice-rei concedeu-lhe um foro de fidalgo, que mais tarde, foi confirmado pelo Rei.




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