FORTES E FORTALEZAS DE COSTA DO REINO DE PORTUGAL E ALGARVE
FORTES E FORTALEZAS DE COSTA
Ilha da Madeira-Porto Santo
FORTES E FORTALEZAS DE COSTA-ILHA DA MADEIRA
BALUARTE VELHO DO FUNCHAL
O chamado 'Baluarte Velho do Funchal' localizava-se no centro histórico da cidade do Funchal, na ilha da Madeira, Região Autónoma da Madeira. Constituiu-se na primeira estrutura de fortificação do arquipélago e foi sucedida, na segunda metade do século XVI, pela Fortaleza-Palácio de São Lourenço.
A fortificação das ilhas atlânticas portuguesas foi tardia, se comparada com a do Norte de África, e obedeceu às alterações do cenário geoestratégico no Atlântico Norte no século XVI, com o ingresso de novos atores além das Coroas de Portugal e da Espanha. Desde o início da colonização da Madeira, as sedes das duas principais capitanias – Funchal e Machico –, constituíram-se em importantes centros de comércio e navegação, predominando a primeira pela excelência do seu porto. Por essa razão, o segundo capitão do donatário do Funchal, João Gonçalves da Câmara (1467-1501), sucessor do primeiro donatário, seu pai (1450-1467),João Gonçalves da Câmara, ciente dos riscos e prejuízos incorridos em alto mar pelas embarcações portuguesas, e temendo qualquer assalto à povoação florescente, solicitou à Infanta Dona Beatriz, tutora de seu filho Dom Diogo e administradora do mestrado da Ordem de Cristo, que se fizesse uma fortaleza para defesa do porto. A Infanta, entretanto, pretextando as muitas despesas havidas, foi adiando a obra. Posteriormente, o 5º duque de Viseu (futuro Manuel I de Portugal), em 21 de junho de 1493 determinou que se fizesse "cerca e muros nesta villa do Funchall (...) antre a Ribeyra De Sam Francisco E De Santa Luçia E que chegue Junto cõ ho mar E que Deve ser de Gramdeza ao menos tamanha como Setuvall", prometendo que, depois desta concluída, se passaria a erguer idêntica fortificação na vila de Machico. Entretanto, o donatário renovou, em 1494, o pedido de autorização para a edificação de uma cerca, muros e um baluarte com uma torre junto à sua residência, no local então denominado como "Altinho das Fontes", junto ao mar, onde brotavam as chamadas "Fontes de João Diniz". O baluarte velho. Apenas em 1513, à época do terceiro Capitão-donatário, Simão Gonçalves da Câmara, o Magnífico (1501-1530), é que se iniciaram os trabalhos de fortificação, com as obras do "mestre das obras reais", João de Cáceres. Embora uma historiografia tradicional admita que essas obras tiveram início imediato - o que supostamente seria corroborado pela existência de um monumental brasão de armas em cantaria regional de grande dimensão, aposto sobre o torreão da actual Fortaleza-Palácio de São Lourenço a Sudeste (possivelmente posterior, uma vez que Dom João III também utilizou as mesmas armas) -, a sua conclusão só viria a ocorrer no reinado de João III de Portugal (1521-1557). Em 1528, uma embarcação de Biscaia atacou duas outras que carregavam açúcar no porto do Funchal. Diante desse fato, a Câmara solicitou ao soberano que fizesse erguer uma fortificação, queixando-se de que nada havia para a defesa do porto. Em resposta, no ano seguinte (1529), o soberano indicou que se deveria escolher o sítio nos limites da cidade, ou na praia de Santa Catarina ou no extremo oposto, no cabo do Calhau (hoje Santiago), e que o seu custo deveria ser suportado pelo imposto sobre as carnes e os couros, até então empregue em melhoramentos na cidade do Funchal. A construção era definida em linhas como como "…um baluarte com torre", sendo a última erguida onde o capitão achasse melhor. Nesse mesmo ano, remeteu de Lisboa um conjunto de peças de artilharia de grosso calibre, para a defesa do porto enquanto a fortificação era erguida o que, no entanto, não ocorreu de imediato, também não tendo sendo remetidos os competentes artilheiros para manejá-las. As obras, a cargo do mestre de pedraria Estevão Gomes, estariam concluídas em fins de 1540 e inícios de 1541, abrangendo o período do quarto Capitão-donatário, João Gonçalves da Câmara (1530-1536) e do quinto, Simão Gonçalves da Câmara (1536-1580). No mesmo período foi nomeado um condestável para a fortificação. Com o aumento no movimento do porto, entretanto, em duas décadas essa defesa mostrava-se insuficiente, conforme o demonstrou o assalto ao Funchal pelo corsário francês Pierre Bertrand de Montluc (3 de outubro de 1566). O desembarque registou-se na praia Formosa, tendo o cronista Gaspar Frutuoso registado:
"(…) Francisco Gonçalves de Câmara com mais trezentos homens da terra e das naus estavam recolhidos à Fortaleza, e muitas mulheres honradas da cidade com eles. (…)."
E referindo a posição dos atacantes numa casa fronteira à muralha Norte:
" (…) e, porque daqui varejassem bem o cubelo e as mais partes do forte, tiveram lugar de subirem muitos franceses sobre o muro, que não era mais alto que doze palmos por aquela parte d'além da porta do baluarte, o qual é a banda do Norte: e como foram dentro ou em cima do andar do muro, puderam bem atirar de arcabuzadas aos que estavam com as peças de artilharia guardando a entrada da Fortaleza (…)."
Esse episódio deu lugar a uma revisão do plano defensivo das ilhas atlânticas, sendo nomeado como novo Mestre das Obras Reais na Madeira, o arquitecto Mateus Fernandes (III), descendente de Mateus Fernandes, arquitecto do Mosteiro da Batalha. Este profissional recebeu da Provedoria das Obras de Lisboa, já no início de 1567, diversas indicações e, em março, a visita de um grupo de arquitectos italianos - Pompeo Arditi e Tommaso Benedetto - que lhe trouxeram o primeiro "Regimento das Fortificações para o Funchal", renovado posteriormente em 1572. O antigo baluarte seria também reavaliado e acrescentado nos anos seguintes.
A fortificação constava de uma torre de planta semioval, ostentando as Armas Reais, articulada com uma muralha que corria sobre o chamado "Altinho das Fontes" de João Dinis, que envolvia as casas do capitão. Ao lado das fontes de João Dinis, erguia-se um torreão-cisterna que, flanqueando a muralha, protegia a aguada das embarcações e da população na praia do Funchal. Estava artilhada com um potente conjunto de peças de bronze pelo lado voltado para o mar, remetidas de Lisboa ainda em 1529. Pelo lado de terra, a defesa constituía-se apenas de um muro de terra apiloada que, de acordo com o cronista Gaspar Frutuoso, não tinha mais do que doze palmos de terra.
FORTALEZA DE N. S. DA CONCEIÇÃO DO ILHÉU
A Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição do Ilhéu localiza-se no centro histórico da cidade do Funchal, na Região Autónoma da Madeira.
A ideia para uma fortificação no Ilhéu Grande foi originalmente proposta por Diogo Cabral, em 1553, em carta endereçada da Calheta a João III de Portugal, expondo as repetidas investidas de corsários à Madeira, referindo:
A ideia para uma fortificação no Ilhéu Grande foi originalmente proposta por Diogo Cabral, em 1553, em carta endereçada da Calheta a João III de Portugal, expondo as repetidas investidas de corsários à Madeira, referindo:
"Neste porto do Funchal está um Ilhéu, de altura de trinta braças (60 metros) e mais. Nele se houvera de fazer a fortaleza, porque assegura o porto, sem se nele poder surtir. Com pouca despesa se fará. Dez homens a defenderiam a todo o poder do Turco.1 É de rocha talhada, sem ter mais de uma subida, e poucos a podem trepar. E de terra, [dista] quanto uma boa besta possa lançar uma seta. E ao pé, terá seis braças de fundo."
Face ao aumento do movimento no porto do Funchal em meados do século XVII, tornou-se patente a necessidade de reforço da sua fiscalização e segurança. Assim, para complemento do Reduto da Alfândega do Funchal tornou-se necessário a construção de uma nova fortificação no chamado Ilhéu Grande. Acredita-se que as suas primeiras obras devam ter decorrido em meados da primeira metade do século XVII, entre 1634 e 1636, sob o governo de Dom João de Menezes, embora os trabalhos não devam ter sido mais do que um reconhecimento do local e do ajuntamento, no mesmo, de alguma pedra e cal, razão pela qual os governadores seguintes terem afirmado que a levantaram "…da primeira pedra". As primeiras obras efectivas datam do contexto da Guerra da Restauração. Encontra-se referida em uma ordem do Governador, datada de 1642. Após a construção do Reduto da Alfândega, os moradores da cidade, aproveitando a chegada do novo governador, Bartolomeu Vasconcelos da Cunha (1651), solicitaram a construção efectiva de uma fortificação no ilhéu. O pedido foi formalizado a Lisboa através de cartas do Provedor da Fazenda, Francisco de Andrada, e do governador, informando que as obras nada custariam à Fazenda Real, de vez que seriam executadas pela imposição aos moradores para reparação e conservação das fortificações. Desse modo, em 10 de Fevereiro de 1652 o soberano concedeu a autorização, com base na mão-de-obra "…da gente da terra, por companhias ou esquadras…", no fornecimento do material também por parte dos moradores ("…para a alvenaria os ditos moradores se ajustarão convosco, de sorte que acudirão à obra com as [suas] pessoas e fazendas…") e para a guarnição, com o pessoal da 'Fortaleza de São Lourenço', "…a outra fortaleza que hoje há (…) para se escusarem outros soldados e despesas". A sua traça era bastante diferente da actual, como desenhada por Bartolomeu João em 1654, a iconografia mostra uma fortificação com planta circular, artilhada com seis peças montadas em suas carretas. Ao centro do terrapleno ergue-se isolada a Casa da Guarda, também de planta circular. A comunicação com o exterior era feita por um largo Portão de Armas em cantaria trabalhada, encimado por arco de volta perfeita e com um nicho superior inscrito no arco. Adiante da porta desenvolvia-se um balcão e uma longa escadaria de três lanços estendia-se até ao mar. Sobre o portão de armas encontra-se a seguinte inscrição epigráfica:
"Esta Fortaleza fez o Governador e Capitão general Bartolomeu Vasconcelos da Cunha da primeira pedra do cimo, no ano de 1654. Neste tempo era provedor da Fazenda Francisco de Andrada, que assistia às despesas da fortificação e ajudou muito esta obra".
O provedor descreveu, em carta de 21 de Abril de 1664, as dificuldades das obras, opinando que em breve a fortaleza estaria quase concluída e que o relativo atraso nas obras devia-se a ter-se dado "…por uma parte dela com quantidade de rocha rija", pelo que "os gastadores" estavam "desbastando sempre" e assim se iria "continuando a romper a dita pedra, até ficar capaz de se de poder obrar com pedra e cal". Prossegue opinando que em breve estaria apta a receber seis peças de artilharia, três de bronze e três de ferro e, quando pronta, "capaz de 12", salientando que as peças a ser instaladas "…haveriam de ser de alcance, e não como as que possui, que são meios-canhões". À época, a fortaleza encontrava-se guarnecida desde 1658, encontrando-se, como referido, artilhada. A 23 de Março de 1670, o provedor, também em carta, volta a informar sobre o andamento das obras:
"A fortaleza do Ilhéu se começou a fabricar há quatorze anos, pouco mais ou menos. E há doze anos que assistem nela soldados em casa que têm, com 6 peças de artilharia: 3 de bronze e 3 de ferro; com um mastro no meio dela, com um estandarte que dá sinal a esta cidade por que parte aparecem os navios".
Na mesma missiva, solicita que seja atribuída uma verba de para lenha e azeite para o corpo da guarda do Ilhéu, sugerindo que se devia fazer como na de São Lourenço, vindo "um escrito" à Alfândega para que o almoxarife o pudesse pagar. A autorização chegou ainda nesse ano, com data de 30 de agosto. Nesse mesmo ano, "os soldados do presídio da ilha da Madeira", em petição ao Príncipe-regente Dom Pedro, solicitaram "que por sua devoção se Hião instituindo em uma confraria de Nossa Senhora da Conceição, que serviam com muito zelo na fortaleza do Ilhéu do Mar, onde metiam suas guardas e faziam vigias". Eram, portando, soldados da 'Fortaleza de São Lourenço', destacados para o serviço do Ilhéu. Na petição narravam como tinham levantado um oratório, mas que este se encontrava "…com grande indecência, sem o devido ornato…". Tinham então intenção de fazer "uma ermida, em parte da mesma fortaleza que não fizesse dano, o que não podiam conseguir por serem pobres e não terem mais que o seu soldo", finalizando por pedir ao futuro soberano a construção da capela, comprometendo-se a arcar com as imagens, retábulo e os demais ornamentos necessários. O Príncipe-regente despachou favoravelmente a petição a 9 de Novembro de 1672, determinando medir o lugar e que "…com o mínimo de despesa possível", se fizesse a construção. Entretanto, a ordem só veio para o Funchal dez anos depois, expedida de Lisboa a 27 de Outubro de 1682 e registrada no Funchal a 28 de Janeiro de 1683. Deve ter ficado pronta, com uma cisterna, em 1687, conforme inscrição epigráfica: "Esta igreja e cisterna fez o governador e capitão general Pedro de Lima no ano de 1687". Há notícia de que o seu primeiro capelão foi o padre Manuel de Andrade, com um ordenado de 18$000 reis anuais. Em 1698 foi nomeado o seu primeiro condestável, Simão Fernandes Forte, quando estava guarnecida por 12 artilheiros com um soldo de 30 réis por dia. Nessa época os pescadores eram obrigados à condução de víveres para o ilhéu sem remuneração alguma. Porém, em casos extremos, se o mar de todo o impedisse, era lançado um cabo a terra para acudir a guarnição isolada. A fortaleza começou a trabalhar sem depender da de São Lourenço no último quartel do século XVII. Nesse período terá passado a exercer a função de Registro do porto, salvando os navios que entravam e assinalando para terra a sua proveniência. Até essa época, como se depreende dos pagamentos da fortificação de 1673, o movimento das despesas do Ilhéu ia essencialmente para os batéis de Brás Moniz, que faziam os transportes de "serviço dos soldados". Com o aumento do movimento do porto, aumentaram as despesas da pólvora, em escalada contínua entre 1675 e1689. Diante do esforço suplementar dos artilheiros do Ilhéu, o soberano concedeu-lhes, em 1691, um suplemento de "meio tostão por dia, na forma como são os soldados pagos do dito castelo de São Lourenço". Em 1692, a fortaleza do Ilhéu veio mesmo a ter capelão privativo, lugar em que foi provido o padre José de Andrada.
Em 1771, o sargento-mor Luís de Alincourt projectou a união dos dois ilhéus, o que só ocorreria, entretanto, um século mais tarde. A fortificação deixou de ficar insulada quando da construção do molhe da Pontinha, que nela entesta.
FORTALEZA DE S. FILIPE DO PELOURINHO
A 'Fortaleza de São Filipe do Pelourinho', também referido como 'Forte Novo da Praça' ou simplesmente 'Forte do Pelourinho', localizava-se em frente ao mar, entre a ribeira de Santa Luzia e a ribeira de João Gomes, no centro histórico da cidade do Funchal, na Região Autónoma da Madeira. Foi erguida para complemento da 'Fortaleza de São Lourenço' e reforço das defesas do porto do Funchal.
As primeiras notícias que envolvem a sua construção referem a tomada de casas para a construção de uma "fortaleza" já em 1574, junto à ponte de Nossa Senhora do Calhau (ainda existente embora de maiores dimensões). Entretanto, alguns anos depois ainda não havia certeza de se efectivar a construção, dado que um certo António Álvares, apelidado de "o Nordeste", mandou lavrar testamento em 11 de Junho de 1578 legando a sua esposa umas casas em que viviam, observando "…que se se desmancharem por causa da fortaleza, o Provedor, com o dinheiro delas, comprará outra propriedade." As obras da nova fortaleza estavam concluídas e a mesma artilhada em Outubro de 1581, conforme explicação do capitão Luís Melo a Dom Francisco de Alava em Lisboa, onde são fornecidos desenhos da mesma. No Verão desse ano, Filipe II de Espanha determinou ao conde de Lançarote, nas Canárias, que avançasse com cerca de duzentos milicianos, reforçados por artilheiros tudescos de Sevilha, para fazerem face à ameaça representada pelas armadas de António de Portugal baseadas no vizinho arquipélago dos Açores e por entretanto haverem falecido de peste em Almeirim, o capitão do Funchal e seu herdeiro. Essas tropas foram aquarteladas na 'Fortaleza de São Lourenço' e na 'Fortaleza Nova da Praça', passando esta última a ser comandada pelo capitão Juan de Léon Cabrera, da ilha de Maiorca. Após a Restauração da Independência, a Fortaleza Nova da Praça, como foi designada até aos finais do século XVII, foi sempre guarnecida por forças insulares da Madeira, e era diante do seu Portão de Armas que se estabeleciam as vigias e as rondas do Funchal, daqui partindo para Santiago e para os Ilhéus, pontos extremos de observação. Em 1754 era seu Condestável o capitão Roque João Acciaioly.
De planta rectangular, possuía uma bateria aberta pelo lado do mar, e entestava pelo lado de terra com o largo do Pelourinho. Primitivamente, antes da guarnição espanhola, possuía quartel para de 15 a 20 homens. De seu Portão de Armas acedia-se ao terrapleno por um túnel. Unia-se por um pano de muralha à 'Fortaleza de São Lourenço', pano esse do qual quase nada chegou aos nossos dias.
FORTALEZA DE S. JOÃO BAPTISTA DO PICO
A 'Fortaleza de São João Baptista do Pico', popularmente referida apenas como 'Fortaleza do Pico', localiza-se no chamado Pico dos Frias, na freguesia de São Pedro, concelho do Funchal, na Região Autónoma da Madeira. Um dos "ex-libris" da ilha, esta fortaleza foi erguida no contexto da Dinastia Filipina, em posição dominante sobre o Picos dos Frias, como parte integrante do sistema defensivo da cidade do Funchal contra os ataques de corsários e piratas, frequentes nesta região do oceano Atlântico à época. Do alto de seus muros, os visitantes podem desfrutar de um dos melhores panoramas da cidade e porto do Funchal.
Padrasto à cidade do Funchal e à própria 'Fortaleza de São Lourenço', o pico dos Frias e a nascente de água que ali existia, havia sido adquirido às freiras de Santa Clara pela Companhia de Jesus, que ali instalara uma pequena residência de recreio, para além de terem canalizado as águas da nascente para o seu Colégio no Funchal. Desde 1590 existia um projeto de Mateus Fernandes (III) para uma fortificação no Pico, mas devido à resistência dos padres da Companhia, o mesmo não havia se materializado. Os registos mais antigos acerca da sua construção datam de 1600, época em que Cristóvão Falcão de Sousa foi nomeado governador para a Madeira. Em finais de 1601, enviou a Lisboa o Sargento-mor do Funchal, Roque Borges de Sousa, com uma planta da nova fortificação. Com o regresso do Sargento-mor ao Funchal, tiveram início as obras, então somente em madeira, estando guarnecida já em inícios de 1602, do que muito se queixaram os Jesuítas então a Lisboa. O "Elucidário Madeirense" refere que o seu primeiro Condestável foi Francisco de Sousa, nomeado em 1624, com o ordenado de 24$000 reis anuais e duas pipas de vinho. Nos anos seguintes, a fortaleza foi sendo passada a pedra e cal, sob a orientação de Jerónimo Jorge. Sob a invocação de São Filipe, as suas obras estariam concluídas já em 1632, de acordo como uma inscrição epigráfica sobre o Portão de Armas. Os trabalhos prosseguiram até1640, de acordo com outra inscrição, que transcreve:
"O governador Luiz de Miranda Henriques Pinto fez o terço do baluarte [de] S. Paulo e quási toda a cortina que pega ao baluarte [de] S. João e a cisterna com seus bocais e corpo da guarda rotos na rocha e o revelim da porta e as quatro casas dos armazéns da primeira praça, rotos na rocha e o princípio dos outros armazéns e terraplenos desta primeira praça."
A cisterna apresenta a data de 1639 no murete, datando também da gestão daquele governante. Após a Restauração Portuguesa, em 1642 era tenente da fortaleza Francisco de Mesa, que posteriormente alcançaria o posto de Sargento-mor da Madeira. Ao final desse ano, o tenente recebeu para azeite e lenha da casa da guarda. Foi sucedido no cargo por Benedito Catalão, da anterior guarnição filipina, "por me haver servido há mais de vinte anos", de acordo com o despacho de João IV de Portugal. No contexto da Guerra da Restauração foram concluídos os baluartes, assim como a 'Capela de São João Baptista', que rebaptizou a praça.
Data deste período iconografia de autoria de Bartolomeu João, que a retracta em 1654 apenas com as muralhas e com as edificações interiores ainda em obras. Esta etapa construtiva terá sido a mais complexa, nomeadamente no ângulo dos baluartes de São Paulo e de São João, de altura monumental. Ao longo do século XVIII foi objecto de outras alterações, tendo sido nomeado em 1751 como seu comandante o Capitão-cabo Rodrigo da Costa Almeida. Neste período, as suas dependências funcionaram como armazém de pólvora e como prisão. De acordo com o "Elucidário", em 1770 aqui foram recolhidos os rapazes vadios do Porto Santo para aprenderem ofícios nas oficinas da fortaleza, nas modalidades de latoaria, ferraria, folha-de-flandres, armaria e coronharia. A mesma fonte complementa que estas oficinas conheceram grande incremento em 1802, sob a fiscalização do sargento-mor, ali tendo sido confeccionadas três espingardas com coronhas de diferentes madeiras da ilha, para instrução de Suas Altezas Reais. Quando do grande aluvião de 1803 todas as famílias desabrigadas foram recolhidas à 'Fortaleza do Pico', que se encheu de barracas de campanha, armadas nas esplanadas.
O recinto da fortaleza, em forma de cidadela a uma altitude de 111 metros acima do nível do mar, ocupa uma área de 2.750 metros quadrados. Em seu interior destaca-se a grande cisterna escavada na rocha e em abóbada sobre a bateria principal, com as dimensões de 18 metros de comprimento, 6 metros de largura e 10 metros de altura até ao fecho.
FORTALEZA DE S. TIAGO DO FUNCHAL
Conhece-se o seu aspecto inicial através de um desenho de 1654, de autoria de Bartolomeu João, filho de Jerónimo Jorge (falecido em 9 de Dezembro de 1617), que a representa de pequenas dimensões, já com três ordens debaterias artilhadas com quinze peças, fechando pelo lado Leste as muralhas da cidade. As esplanadas médias eram gémeas, comunicando com a esplanada baixa por duas escadarias. À época, existia uma porta que acedia uma escada para o mar. Acerca deste período, o "Elucidário" complementa:
"Aumentada depois da Restauração, teve uma nova muralha e portão exterior, sendo o remate dos muros da cidade. Em 1697 foi capitão 'ad honorem' desta fortaleza Manuel Telo Catanho de Meneses com a obrigação de a ter limpa e provida de vigias."
No século XVIII foi reedificada e ampliada por determinação do governador e capitão-general da Madeira José Correia de Sá, com projecto atribuído ao engenheiro Francesco Tosi Colombina ou ao seu sucessor, Francisco de Alincourt, estando indicada a data de 1767 em uma inscrição epigráfica sobre uma das portas. Essas obras conferiram à fortaleza o seu actual aspecto, restando da primitiva construção apenas uma das escadarias que estabelecia comunicação entre a esplanada média e a baixa, onde se encontra a cisterna. Estava guarnecida, em meados do século, por 20 homens. À época da Guerra Peninsular, por volta de 1801, uma esquadra composta pelos 'HMS Agro', a fragata 'HMS Carrysfort', e o bergantim 'HMS Falcon', desembarcou na Madeira um efectivo de 3.500 soldados britânicos, sob o comando do coronel Henry Clinton, ficando aquarteladas nas semiabandonadas fortificações, entre as quais esta fortaleza, então sob o comando de João Manuel de Atouguia e Vasconcelos. Quando do grande aluvião de 1803, o seu comandante recebeu ordens para alojar nas dependências da fortaleza as vítimas que tinham ficado sem habitação. Nesse mesmo ano, esteve detido nas dependências da fortaleza o morgado João de Freitas da Silva, evadido do 'Convento de São Bernardino', "(...) para onde tinha sido mandado até se instruir nos rudimentos da doutrina cristã".
No mesmo período, por volta de 1806 o destacamento britânico abandonou a ilha. Ainda durante o século XIX foram iniciadas as obras de construção da Casa do Governador da fortaleza, que alteraram parcialmente o volume estrutural da mesma, aproximando-o da actual feição.
Na sequência do saque do Funchal de 1566, o novo mestre das Obras Reais na Madeira, Mateus Fernandes (III), procedeu a ampliação do antigo baluarte. Uma planta do Funchal (Mateus Fernandes, c. 1570), figura a fortaleza, no interior da qual se encontravam as Casas do Capitão, defendida por uma muralha de planta rectangular, a Sudeste do qual se erguia o torreão manuelino e, a Noroeste, um outro torreão junto ao qual teriam entrado os corsários franceses, em 1566. Em 1572 o projecto defensivo foi modificado, sendo aumentado para três baluartes. Determinou-se ainda a demolição das casas que lhe eram impedimento, e que se cortassem os balcões da frontaria do Calhau, onde haviam de construir-se os muros da cidade rasgados por cinco portas – duas ao sul voltadas para o mar, uma a este e duas a oeste –, correndo as muralhas entre as ribeiras de João Gomes e de São Francisco (actual ribeira de São João), a entestarem nos morros da Pena e do Pico dos Frias. Acredita-se que cerca de 1580 estariam concluídos o baluarte Sudoeste, quadrangular, bem como dois baluartes pentagonais a Norte, em posição dominante, cobrindo a cidade. A fortificação é assim descrita, à época:
"Adiante logo da Alfândega [a] um tiro de besta está a Fortaleza velha, que é a principal, situada sobre uma rocha, e tem pela banda do mar seis grandes e formosos canos d'água que dela sai, e nela nasce na mesma rocha sobre que e fundada; e de maneira nenhuma se pode tomar nem tolher pela banda de terra de nenhuns inimigos: a qual Fortaleza tem pela banda do mar dois cubelos, como torres, mui fortes, que guardam o mesmo mar, e artilharia, de que estão bem providos; e pela banda da terra outros dois, que guardam toda a cidade por cima, por estarem mais altos que ela; na qual parte tem também um muro mui alto e forte, com uma fortíssima porta de alçapão. E, assim como tem dentro água, não lhe faltam atafonas, fornos e celeiros para recolher os mantimentos, e ricos aposentos, onde o capitão pousa, adornados com seu jardim e frescura."
(Gaspar Frutuoso. Saudades da Terra.)
À época da Dinastia Filipina (1580-1640), a administração do arquipélago da Madeira passa a ser exercida por Governadores Gerais, o primeiro dos quais foi o desembargador João Leitão. A 'Fortaleza Velha' passou a sediar a força castelhana permanente que guarneceu a ilha, passando o seu paço a abrigar o Governador Militar, Dom Agostinho de Herrera, conde de Lanzarote, substituído em 1582 pelo Capitão Juan de Aranda. As obras da fortaleza foram concluídas neste período, sob a direcção do mestre de obras reais, Jerónimo Jorge, compreendendo a edificação do baluarte central Norte, semi-pentagonal, no início do século XVII, guarnecendo o Portão de Armas, sob a invocação de 'São Lourenço'. Posteriormente, a imagem - com a data de 1636 (1639?) na sua base - seria colocada num nicho sobre o Portão de Armas -, passando a fortaleza a denominar-se "de São Lourenço" e o baluarte de "do Castanheiro", dada a árvore que veio a crescer na sua esplanada. O seu perfil castrense foi suavizado com a construção do Palácio do Governador militar da ilha, edifício dotada de uma extensa fachada, objeto de extensa remodelação nos séculos subsequentes. Data de meados do século XVII a sua melhor representação iconográfica: o desenho "Fortaleza de S. Lourenço onde está o presídio do Governador na Ilha da Madeira", de autoria de Bartolomeu João, na carta corográfica. "Descrição da Ilha da Madeira, Cidade do Funchal, Villas, Lugares, Ribeiras, Portos e Enseadas, e mais Secretos…". Nele é possível identificar os baluartes Norte e Noroeste da fortaleza, e uma área assinalada por três aberturas para o interior do baluarte Norte, então a descoberto, actualmente integrada no corpo Norte do palácio - a Sala Vasco da Gama.
Após a Restauração da independência Portuguesa (1 de Dezembro de 1640), cuja notícia só foi conhecida oficialmente na Madeira em Janeiro de 1641, sendo formalizada pela aclamação e reconhecimento de Dom João IV (1640-1656), foi extinto o presídio castelhano sediado na 'Fortaleza de São Lourenço', dispersando-se a sua guarnição. Luís de Miranda Henriques, nomeado por Margarida de Sabóia, Duquesa de Mântua a 22 de Maio de 1640, manteve-se como Governador durante o ano de 1641. Um incêndio em 1699 destruiu parcialmente a residência do Governador, o que conduziu a uma nova intervenção na área residencial da fortaleza. Acredita-se que date desta época o crescimento do corpo Sul em mais um pavimento, que veio a ser absorvido pela edificação dos salões do andar nobre, de elevado pé-direito, ao final do século XVIII. Foi nesta fase construtiva que a função residencial passou a predominar sobre a função defensiva do conjunto, particularmente com a campanha de obras sob o governo de Dom Diogo Pereira Forjaz Coutinho, quando foram edificados os três salões principais, actualmente designados como 'Sala dos Capitães-Donatários', 'Salão Nobre ou de Baile' e 'Sala Vermelha', e, posteriormente, a 'Sala Verde' e a galeria que a delimita pelo lado Norte, sobre o jardim interior. O conjunto passou, por essa razão, a ser mais frequentemente denominado como "Palácio" do que como "Fortaleza".
Entre o final do século XVIII e o início do século XIX, a nova ala edificada no prolongamento do andar nobre sacrificou o baluarte Sudoeste, sobre o qual foi erguida uma nova dependência, actualmente denominada como 'Sala do Baluarte'. Datará da mesma época a formação do jardim interior, que contava com um tanque de água. Ambos encontram-se figurados em levantamento de Paulo Dias de Almeida ("Fort.ª de S. Lour.º Rezid.ª dos Governadores",1805). O mesmo autor, em obra posterior, registra:
"Esta fortaleza só serve para residência dos governadores, não tem artilharia alguma e a bateria do mar é muito acanhada." ("Descrição da Ilha da Madeira…", 1817)
No contexto da Guerra Peninsular registaram-se as ocupações britânicas da Madeira: A primeira, pelas forças do Coronel William Henry Clinton, de 23 de Julho de 1801 a 27 de Janeiro de 1802, sem interferência directa na administração civil; A segunda, entre 1807 e 1814, tendo, a 24 de Dezembro de 1807 o Estado-Maior do Tenente-Governador William Carr Beresford se instalado no 'Palácio de São Lourenço', então residência do Governador Pedro Fagundes Bacelar d'Antas e Menezes onde, como em todas as fortalezas da ilha, foi hasteada a Bandeira do Reino Unido, sendo posteriormente publicada uma proclamação em que a população foi levada a reconhecer Jorge III do Reino Unido como seu legítimo soberano. Esta situação manteve-se até à assinatura do Tratado de Restituição da Madeira (Londres, 16 de Março de 1808), cuja cópia chegou à Madeira em finais de Abril. O 'Palácio de São Lourenço' foi então devolvido à administração civil, tendo Beresford seguido para Lisboa em Agosto do mesmo ano. Uma guarnição britânica permaneceu estacionada no arquipélago até Setembro de 1814, quando da assinatura do Tratado de Paz entre a Grã-Bretanha e a França naquele ano.
Parte do perímetro defensivo da 'Fortaleza de São Lourenço' foi desmantelada, destino que partilhou com a maioria das defesas da ilha, perdida a sua importância estratégica. De 1635 data a edificação da sua capela, baptizada com o nome do santo padroeiro, São Lourenço. No entanto, deste templo subsiste apenas uma inscrição gravada na cantaria e que alude à sua fundação. Com efeito, as profundas obras de remodelação e adaptação realizadas nos séculos XVIII e XIX alteraram a fachada palaciana e demoliram a capela seiscentista. O torreão Noroeste manteve-se após a construção do baluarte Noroeste à época filipina, encontrando-se figurado com quatro pavimentos pelo mestre das obras reais, Bartolomeu João, que sucedeu a seu pai, Jerónimo Jorge em 1618. Os três pavimentos superiores foram demolidos no século XVIII. O pavimento térreo do torreão, incorporado ao interior do baluarte Noroeste, foi recuperado entre 1998 e 1999, encontrando-se integrado à área dos jardins interiores do Palácio. Pela sua volumetria e extensão impõe-se a 'fachada do Palácio de São Lourenço', ritmada pelas suas numerosas janelas e varandas. A porta principal é obra de aparato, sendo sobrepujada por uma escultura alusiva ao santo padroeiro. O interior palaciano é majestoso e foi também objecto de remodelações nos séculos XVIII e XIX. Das numerosas dependências são de mencionar, pela sua rica ornamentação galante, as denominadas salas do "Dossel", "Boule", "Império" ou ainda a sala "Luís XVI". Grande dignidade artística apresenta um retracto de João VI de Portugal, obra realizada em 1819 pelo pintor Joaquim Leonardo da Rocha. O Palácio de S. Lourenço é ainda defendido pelos seus poderosos baluartes filipinos, formados por amplas muralhas com esplanadas e canhoneiras protectoras. Na parte leste subsiste um torreão circular manuelino marcado pelo brasão de armas deste monarca, obra provavelmente realizada pelo mestre João de Cáceres, engenheiro militar real e responsável pelas defesas do Funchal a partir de 1513. Marcado pelas armas espanholas da dinastia filipina, o baluarte Norte é um imponente testemunho da renovação e melhoria das modernas defesas de São Lourenço.
FORTE DA PENHA DE FRANÇA
Constituía-se numa obra avançada, defendendo aquele ancoradouro. Foi erguida em 1712, tendo como primeiro Condestável Manuel de Ceia. Em 1801 as suas dependências aquartelaram parte das forças de ocupação britânicas, sob o comando do coronel William Henry Clinton.
FORTE DE N. S. DO AMPARO DE MACHICO
O 'Forte de Nossa Senhora do Amparo' localiza-se junto ao Passeio de Baixo em Machico, na freguesia do Machico, concelho do Machico, na ilha da Madeira, Região Autónoma da Madeira. Tinha a função de defesa daquele ancoradouro contra os ataques de piratas e corsários.
Foi erguido em 1706, às expensas do Capitão Francisco Dias Franco, escrivão da Câmara de Machico, de acordo com a inscrição epigráfica sobre o portão de armas.
FORTE DE S. ANTÓNIO DO PAUL DO MAR
Erguido em 1754, uma provisão de 1761 expedida pelo Conselho de Guerra, determinou aumentar o soldo do seu Condestável, de 12$000 reis anuais em mais uma pipa de vinho.
FORTE DE SÃO BENTO DA RIBEIRA BRAVA
O 'Forte de São Bento da Ribeira Brava' localiza-se na vila e freguesia da Ribeira Brava, concelho do mesmo nome, na ilha da Madeira, Região Autónoma da Madeira.
A sua construção remonta ao início do século XVIII, por determinação do governador e capitão-general da Madeira, Duarte Sodré Pereira, con a função de defesa daquele ancoradouro. Actualmente constitui-se em uma das atracções turísticas da comunidade.
FORTE DE S. FRANCISCO DE SANTA CRUZ
O 'Forte de São Francisco de Santa Cruz' localizava-se na cidade e concelho de Santa Cruz, na ilha da Madeira, Região Autónoma da Madeira.
Foi erguido na então vila de Santa Cruz por determinação do bispo do Funchal governador Dom Frei João do Nascimento em 1749. Para as suas obras foi aplicado o dinheiro proveniente das multas pagas pelas Ordenanças por falta de serviço de vigias.
FORTE DE S. JOÃO BAPTISTA DA MADEIRA
O 'Forte de São João Baptista', também referido como 'Forte do Desembarcadouro', localiza-se junto ao cais em Machico, na freguesia do Machico, concelho do Machico, na ilha da Madeira, Região Autónoma da Madeira.
Foi erguido por determinação do governador e capitão-general da Madeira, Duarte Sodré Pereira, em 1708, de acordo com a inscrição epigráfica sobre o Portão de Armas.
É acedido por uma porta elevada em cantaria e apresenta uma janela com moldura de cantaria vermelha com tapa-sol verde. É coberto por uma cúpula em alvenaria. A escada de acesso, que nasce lateralmente, é em pedra seca e não apresenta guarda. Em seu interior destaca-se a capela em estilo neogótico, sob a invocação do padroeiro que dá nome à fortaleza.
FORTE DE S. JORGE DA CALHETA
Em 1751 era seu capitão Bernardo da Gama.
FORTE SÃO JOSÉ
O 'Forte de São José', também referido como 'Forte do Ilhéu', 'Forte da Pontinha' ou 'Bateria da Pontinha', localiza-se na cidade e concelho do Funchal, na ilha da Madeira, Região Autónoma da Madeira. O forte ergue-se numa extremidade do porto, sobre a formação rochosa conhecida como 'ilhéu de São José'. É acedido por escadas a partir do molhe, pela estrada da Pontinha. A edificação era pouco valorizada enquanto património histórico, arquitectónico e cultural da Madeira e de Portugal, até recentemente, quando foi adquirido por um particular que vem buscando revitalizá-lo, sustentando ser este o local da primeira fortificação madeirense, à época do seu descobrimento.
De acordo com a historiografia tradicional, foi no Oeste de uma extensa baía, onde existiam dois ilhéus, que João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira, descobridores da Madeira (1419), procuraram abrigo antes de desembarcar na ilha coberta por densa vegetação. Por essa razão, teriam desembarcado preliminarmente no menor dos ilhéus, onde ergueram um abrigo provisório, para esse fim tendo talhado na rocha alguns degraus, os quais teriam subsistido até aos nossos dias. Do mesmo modo, ainda pode ser observado, numa das extremidades da rocha, o triângulo destinado à amarração das suas embarcações. Alguns autores entendem, por essa razão, que este ilhéu constitui-se na mais antiga fortificação do arquipélago. Com a colonização, o Funchal tornou-se o principal porto do arquipélago, movimentando as mercadorias essenciais à economia da ilha, como por exemplo o açúcar (séculos XV, XVI e XVII), ovinho (século XVIII) e, posteriormente, o carvão (séculos XIX e XX). Nesse contexto, a fortificação provisória deu lugar a outra, de carácter permanente, ampliada e reforçada ao longo dos séculos, complementando a defesa proporcionada pelo vizinho 'Forte de Nossa Senhora da Conceição'.
O forte foi erguido no contexto das obras do porto do Funchal, em meados do século XVIII, com a chegada do engenheiro Francesco Tosi Colombina, responsável ainda pela construção de uma muralha de acostagem até aos arrifes abaixo do 'Forte da Penha de França'. Acredita-se que Columbina tenha tido a colaboração do Capitão de Engenheiros Domingos Rodrigues Moniz, que veio a ser nomeado 'Mestre das Obras Reais na Madeira' por Provisão-Régia datada de 1 de janeiro de 1760. Nova Provisão-Régia, esta datada de 1776, determinou a ligação do ilhéu à ilha. Concluída, recebeu o nome do monarca que determinou a sua execução. A partir dessa ligação, o primitivo 'Forte de São José' passou a chamar-se também 'Forte ou Bateria da Pontinha', por estar situado na extremidade do porto. Esta ligação é visitável em nossos dias pelo Caminho Real, um dos mais antigos da ilha, preservados. No contexto da Guerra Peninsular, quando da ocupação da Madeira por tropas britânicas, entre 1801 e 1807, este forte serviu como quartel aos britânicos e, posteriormente, de cadeia.
Embora muito descaracterizado ao longo dos séculos, o ilhéu do forte encontra-se coberto por pedras soltas, excepto na vertente Sudoeste, onde se encontra uma parede de rocha natural, que se estende até ao mar. É ladeado a Leste pelo antigo Caminho Real, que fazia a ligação deste ilhéu com a terra, ao 'Forte da Penha de França'. Também nesta vertente se encontram as atuais escadas em pedra, que servem de acesso ao topo do ilhéu. Na vertente Noroeste existe um pequeno lance de escadas, que servia de ligação ao mar e ao pequeno desembarcadouro, primeiramente em pedra basáltica, introduzida na fachada lateral, depois talhado na rocha viva. O ancoradouro, localizado na vertente Sudoeste, apresenta alguns degraus e os antigos cabeços, de forma triangular, que serviam para a amarração das embarcações. Do forte, restam poucos elementos exteriores aparentes que indiquem a sua conformação original. Internamente, ao contrário, revela aspectos importantes de seu passado. Aqui temos vestígios de um curto túnel de acesso com uma soleira, com o tecto abobadado, característico dos séculos XVII e XVIII. No lado Leste, existe um pequeno lance de escadas, composto por três degraus em cantaria em direcção a uma parede de formação rochosa. Nessa mesma parede existe uma chaminé natural que se eleva até ao topo do maciço rochoso. Neste patamar, resta ainda uma janela em cantaria, integrada numa parede original, com orientação para Sudeste. Um patamar superior, servido por uma escadaria com dez degraus em cantaria e com o tecto abobadado, conduz a um patamar intermediário onde se rasga, na parede Leste, uma janela elevada, em cantaria mole do tipo tufo de lapilli, típica do século XIX, e também uma estrutura de uma janela anterior de forma abobadada, provavelmente do século XVII. Existe uma abertura superior que conduz ao exterior, no topo do ilhéu e, na continuação da escadaria, em direcção Norte, com mais cinco degraus, encontramos uma porta em cantaria, coberta com pedra solta. No exterior da referida janela encontra-se outro compartimento parcialmente arruinado, também com o tecto abobadado e piso em calhau rolado. Na parede Oeste, onde se encontra a janela, existe um banco em pedra e duas aberturas no chão em forma de quadrado, que nos indicam o quarto no piso inferior, ao qual se tem acesso por uma abertura originada quando da destruição e do abandono parcial do forte. Este quarto também tem o teto abobadado, com uma estrutura de pedra de cantaria vermelha, encontrando-se coberto de pedras soltas.
FORTE DE S. PEDRO DO FUNCHAL
O 'Forte de São Pedro do Funchal', também referido como Forte Novo, localizava-se na cortina de 'Nossa Senhora do Calhau', ao Corpo Santo, no centro histórico da cidade do Funchal, na Região Autónoma da Madeira.
Foi erguido por determinação do governador e capitão-general da Madeira e Porto Santo Duarte Sodré Pereira, estando concluído em 1707. Perdida a sua função militar, foi demolido em 1897.
Apresentava uma portada de gola em estilo renascentista, encimada por um uma inscrição epigráfica, sobrepujada por uma coroa ornamentada e trabalhada em mármore branco.
De acordo com o "Elucidário Madeirense" este forte contava com um forno para balas ardentes. Estas eram retiradas com tenazes de ferro e introduzidas pela boca da peça já carregada e com uma bucha de estopa umedecida. Em virtude do calor, a peça disparava, chegando a bala em brasa à tolda dos navios de madeira, onde fazia rombo e os incendiava.
FORTE DE S. ROQUE DE MACHICO
Foi erguido na foz do Ribeirinho, para defesa da baía de Machico, ainda à época da Dinastia Filipina. Junto a si ficava o campo de revistas de 'São Roque'. Em 1695 era seu Condestável Pedro de Sousa Maciel. De acordo com o "Elucidário Madeirense" (1921), de sua estrutura restavam apenas alguns blocos das muralhas sobre a praia.
O 'Forte de São Sebastião do Caniço' localiza-se na cidade de Caniço, concelho de Santa Cruz, na ilha da Madeira, Região Autónoma da Madeira.
Actualmente é uma das atracções turísticas da cidade.
Actualmente é uma das atracções turísticas da cidade.
FORTE DO CANIÇAL
O 'Forte do Caniçal' localizava-se na freguesia do Caniçal, concelho do Machico, na ilha da Madeira, Região Autónoma da Madeira.
Foi erguido no primeiro quartel do século XVIII para defesa daquela enseada após um assalto de piratas à povoação. Em 1758 era seu capitão João de Morais Perestrelo.
FORTE DO PORTO DA CRUZ
O 'Forte do Porto da Cruz' localizava-se na freguesia de Porto da Cruz, concelho do Machico, na ilha da Madeira, Região Autónoma da Madeira.
Em posição dominante sobre a baía, foi erguido em 1708. Em 1713 foi nomeado como seu capitão João de Vasconcelos Uzel. Em 1804 foi desmantelado, tendo sido ordenado à sua guarnição que fosse trabalhar na desobstrução da ribeira de Machico.
FORTE DOS LOUROS
O 'Forte dos Louros', também referido como 'Forte de Loures' localiza-se sobranceiro à enseada e foz da ribeira de Gonçalo Aires, no sítio dos Louros, freguesia de São Gonçalo, concelho do Funchal, na ilha da Madeira, Região Autónoma da Madeira.
Trata-se de um pequeno forte erguido às expensas de Eusébio da Silva Barreto (título Ataídes / Uzeis nas genealogias madeirenses), que foi também o seu primeiro capitão-mor, em fins do século XVII, no contexto da Guerra da Restauração da independência Portuguesa. Havia já perdido a função militar quando, ao tempo do Governador e Capitão-general da Madeira e Porto Santo Dom Diogo Pereira Forjaz Coutinho, este pretendeu ali montar uma fábrica de seda.
PORTÃO DOS VARADOUROS
O 'Portão dos Varadouros' localiza-se na cidade do Funchal, na ilha da Madeira. Trata-se de uma reconstituição da antiga porta da cidade, outrora existente no largo dos Varadouros, parte integrante da muralha defensiva da cidade, e que dava acesso ao varadouro de embarcações na antiga praia de Calhau, onde se rasga hoje a Avenida do Mar. O primitivo portão foi erguido em 1689, por iniciativa do governador Dom Lourenço de Almeida.
A sua reconstrução obedeceu a estudo histórico, respeitando a primitiva traça arquitectónica. O pórtico foi reconstruído em betão armado com forras em cantaria da região, sendo encimado pelas peças originais - Coroa, Armas Reais e lápide - que se encontravam depositadas no Museu Quinta das Cruzes.
REDUTO DA ALFÂNDAGA DO FUNCHAL
O 'Reduto de Santo António da Alfândega', referido simplesmente como Reduto da Alfândega, localizava-se no centro histórico da cidade do Funchal, na ilha da Madeira, na Região Autónoma da Madeira.
No início do século XVII os rendimentos da alfândega do Funchal eram insuficientes para fazer face aos pagamentos do clero local e das tropas castelhanas que guarneciam a cidade, tendo sido registados diversos incidentes. Entre estes destacaram-se a excomunhão dos oficiais da pagadoria pelo bispo do Funchal, Dom Jerónimo Fernando, e o cerco imposto ao Provedor da Fazenda pelos soldados, impedindo-o de contactar outras pessoas e de receber água e comida até que fossem pagos. Vindo o bispo, Dom Jerónimo Fernando, a assumir o cargo de governador da Madeira, determinou a fortificação das casas da alfândega, acredita-se que visando a repetição de incidentes como o do cerco dos soldados castelhanos. O próprio bispo declarou essas obras numa vereação geral camarária em 1630, buscando recursos da Câmara Municipal para as demais obras de fortificação da cidade, no que não logrou pleno sucesso. O assunto foi retomado no contexto da Guerra da Restauração, em 1644, quando o soberano faz referência ao imperativo de controlar-se o contrabando e defesa do desembarcadouro das fazendas, expedindo Portaria que determinava;
"(…) se fizesse um Reduto que servisse a praia, com respeito à distância que havia de uma a outra fortaleza [Fortaleza de São Lourenço e Fortaleza de São Filipe] e se abrisse uma porta para o embarque e desembarque das fazendas".
Esse documento previa ainda que todos os embarques e desembarques deveriam ser feitos exclusivamente por essa porta e que, concluídas essas obras, as fazendas que não o fizessem "(…) seriam perdidas para os proprietários (…)". As obras da fortificação teriam sido iniciadas imediatamente, conforme inscrição epigráfica sobre a sua porta voltada para a rua da Alfândega (actualmente remontado no jardim da Assembleia Legislativa): "Manuel de Sousa Mascarenhas, sendo governador e capitão-general desta ilha da Madeira, mandou fazer este Reduto e as portas dele, por ordem de Sua Magestade, no ano de 1644, sendo provedor da Fazenda Manuel Vieira Cardoso." Ao longo do século o Provedor reclamou, em algumas ocasiões, a necessidade de artilheiros para o reduto. Para remediá-la, em carta de 25 de Setembro de 1680, solicitava-se a transferência de um dos artilheiros da Fortaleza de São Lourenço para a Alfândega, dado que na primeira havia "muitos bombardeiros, e é lá escusado este, que pode [aqui] servir de condestável". A 9 de Outubro de 1803 abateu-se sobre a Madeira uma violenta tromba de água, que deu lugar a um extenso aluvião, um dos maiores da história da Ilha. Apenas na parte baixa do Funchal terão perecido cerca de 200 pessoas, calculando-se um total de 600 mortes em toda a ilha. Para proceder a recuperação da cidade e da Ilha foi enviado do Reino o brigadeiro Reinaldo Oudinot, acompanhado do capitão Matos de Carvalho. Esta equipa foi reforçada com o ingresso do tenente Paulo Dias de Almeida, que permaneceria na ilha. Por iniciativa deste último, a bateria da Alfândega foi ampliada e reforçada, avançando a esplanada em toda a frente do edifício e ao longo do calhau da Praia. Foi rematada a Oeste e a Leste com guaritas de planta quadrada, cobertas por telha, mantendo-se a pequena guarita cilíndrica do século XVIII no cunhal avançado do primitivo baluarte.
A bateria ficou constituída por um baluarte de planta triangular avançado para o mar, erguido sobre a primitiva cortina da cidade. Dela existem desenhos, do engenheiro Bartolomeu João, que dirigiu as obras, onde se visualiza que a comunicação com o Calhau da Praia fazia-se por uma porta lateral, a Leste, e por um túnel com escadaria que comunicava com o centro do terrapleno. Tratava-se do mesmo esquema de acesso utilizado na Fortaleza do Pico, desenhada por seu antecessor e pai, Jerónimo Jorge.
REDUTO DE S. JORGE
O 'Reduto de São Jorge' localizava-se na freguesia de São Jorge, concelho de Santana, na ilha da Madeira, Região Autónoma da Madeira.
Em 1785 era seu capitão Francisco Manuel Jardim Telo de Meneses
FORTES E FORTALEZAS DE COSTA-ILHA DA MADEIRA
Ilha do Porto Santo
FORTE DE S. FOSÉ DA ILHA DO PORTO SANTO
O 'Forte de São José' localiza-se em Vila Baleira, na freguesia e concelho do Porto Santo, ilha do Porto Santo, na Região Autónoma da Madeira.
Erguido durante o consulado Pombalino para defesa do ancoradouro da vila, em seu interior encontrava-se a Casa dos Governadores. Aquando das ocupações de 1801 e 1807, as suas dependências serviram de quartel às tropas britânicas e, posteriormente, como prisão.
FORTE DO PICO DA ILHA DO PORTO SANTO
O 'Forte do Pico', também referido como 'Castelo do Pico', localizava-se na freguesia e concelho do Porto Santo, na ilha do Porto Santo, na Região Autónoma da Madeira.
Em virtude dos sucessivos ataques de piratas da Barbária e outros à ilha do Porto Santo, entre os quais de destacou o de 1619, no qual pereceu ou foi escravizada quase toda a população com excepção de apenas 18 homens e 7 mulheres, Filipe III de Espanha procurou repovoar a ilha, determinando a construção de uma fortificação para a protecção das gentes. O local escolhido foi o pico rochoso que domina 'Vila Baleira', determinando edificar, ao abrigo de seus muros, casas de residência, armazéns e uma cisterna, artilhando-o. Terá sido insuficiente para assegurar a defesa da povoação quando do saque de corsários franceses sob o comando de Pierre Bertrand de Montluc em Outubro de 1566. Em 1624 foi instituído o cargo de Condestável, sendo provido Francisco de Sousa com um soldo anual de 24$000 reis e duas pipas de vinho, pago pelo almoxarifado do Porto Santo. De acordo com o "Elucidário Madeirense", o governador do Porto Santo, Martim Mendes de Vasconcelos, interessou-se vivamente pela recuperação da mesma, tendo os tijolos de que eram feitas as abóbadas do forte sido fabricados na própria ilha.
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