Ano de 1728
Corte de Relações com o Vaticano.
Como era usual naquele tempo, os barretes cardinalício eram concedidos por sugestão dos Reis, numa manifestação de independência face ao Papa, mas de certo modo pressionados por Espanha, o Papa tenta impedir a afirmação de independência da Igreja Católica em Portugal. Por essa razão não é elevada a Cardeal o antigo núncio monsenhor Bichi, conforme pretendia D. João V, preferindo indicar para Cardeal Monsenhor Firrão. Na sequência desse incidente D. João V acabou por cortar relações com o Vaticano retirando de Roma o representante português André de Melo e Castro, sendo expulsos de Portugal todos os súbditos do Papa. A morte do Arcebispo de Braga D. Rodrigo de Moura Telles em Setembro deste ano, trouxe para a Igreja bracarense em período de Vacante, motivada por esse corte de relações. Também o Arcebispado de Braga, era ocupada por um Arcebispo indicado pelo Rei e confirmado pelo Papa o que dadas as circunstâncias também não aconteceu, durante 3 anos, tanto quanto durou o corte das referidas relações, mantendo-se então a Arquidiocese governada durante esse espaço de anos pelo Cabido.
A Biblioteca Régia
D.
João V gostava imenso de ler e para além disso dedicou especial atenção á
biblioteca régia e ao patrocínio da impressão de muitas obras. Criou
bibliotecas no colégio das Necessidades e no convento de Mafra e sobretudo a da
Universidade de Coimbra, construída com financiamento régio entre 1716 e 1728.
Sempre acusado de despesista pelos "inúmeros livros que fez imprimir,
dentro e fora do reino dos escritores do nosso tempo e dos séculos mais
afastados", não pode deixar de se salientar o contributo que nesta matéria
deu á causa da cultura. A biblioteca do paço ficava situada no terceiro andar
do palácio real, enriquecida com bons livros e excelente e cuidadoso
acondicionamento. As obras literárias vinham frequentemente do estrangeiro,
tendo os seus embaixadores instruções, para enviarem para Lisboa, catálogos
sobre venda de livros publicados, bem como instruções para que observassem
aspectos de organização, decoração e conteúdos.
Há referência, bastantes aos hábitos de leitura compulsiva de D. João V, para alguns "enfronhava-se de tal maneira na leitura que por vezes se esquecia de comer, jantando depois das 4 da tarde" Para sublinhar este facto, por certo exageradamente, disse D. António Caetano de Sousa que D. João V "fazia mais gosto nos livros, do que do ouro e dos diamantes que recebia do Brasil". Preferia temas de História e de Geografia de Portugal, como forma de saber onde ficavam determinados locais do seu reino, já que visitas apenas fez a províncias mais perto de Lisboa, como Estremadura e Alentejo. Nos últimos 8 anos da sua vida (1742-1750), substituiu a leitura por ouvir ler, já que a sua doença lhe dificultava os movimentos mais simples como pegar num livro e virar as páginas. Foi com a Academia Real de História que D. João V mais dinheiro gastou, para edição de obras várias e para a realização de "academias", (reuniões literárias no palácio real). Esta academia foi uma instituição fundada a 8 de Dezembro de 1720, com o objectivo de escrever a história de Portugal, teve um curto período de florescimento, entrando, a partir de 1736, em lenta decadência, até que desapareceu. Foi percursora da Academia Real das Ciências de Lisboa (Academia das Ciências), fundada em 1780, e deixou um importante espólio na sua Colecção dos Documentos e Memórias da Academia Real de História.
Ano de 1729
Aqueduto das Águas Livres - O financiamento
O decreto que autorizava o Senado da Câmara de Lisboa a regular os géneros sobre os quais se lançariam impostos, para a construção do Aqueduto das Águas Livres foi assinado em 20 de Junho de 1729. Por volta de 1730 a população de Lisboa deveria rondar os 250.000 habitantes e apenas dispunha de 3 chafarizes de água potável e mal distribuídos pela cidade, estando o negócio da distribuição entregue a particulares, que a entregavam por vezes em más condições de salubridade. Para resolver a situação, havia que trazer a água para a cidade de nascentes que existiam, a não muita distância da cidade. As referências ao projecto de construção de um aqueduto começam a ouvir-se e em Julho de 1729 foi decretado um imposto sobre determinados bens de consumo para financiamento da obra. Pelos vistos D. João V, não achou necessário financiar a obra com o ouro e os diamantes que chegavam do Brasil, pelo que o se pode dizer que a população pagou do seu bolso a água que passou a beber. O povo de Lisboa pagou porque o Rei assim decidiu, coisas do absolutismo. Foi então decidido onerar o azeite, a carne, o sal, a palha e o vinho, para fazer o total de 300.000 por ano, durante 4 anos. O imposto indirecto é cego e a comunidade patriarcal, habituada a não pagar nada, achou-se prejudicada queixando-se ao Rei, que os mandou passear e muito bem, acabando ele próprio por contribuir com 10.000 cruzados. Estava assim terminado o primeiro episódio da saga da construção do Aqueduto das Águas Livres, que duraria até 1748, na sua fase mais simples.
As Fabricas de Pólvora em Barcarena e Alcântara.
A indústria da pólvora e a instalação em Barcarena remonta ao tempo de D. João II, mas só em 8 de Dezembro de 1729 foi inaugurada com o nome actual. No início do século era grande a decadência em que se encontrava a indústria sendo conhecida a comunicação que o general artilheiro, dizia não haver pólvora sequer para as salvas na procissão do Corpo de Cristo. Além desta fábrica em Barcarena havia outra em Alcântara que havia sido começada a construção em 1690, mas só terminada em 1728 por António Cremer. Foi Cremer que arrematou o monopólio da pólvora, pois além da reconstrução dessa fábrica em Alcanena, também promoveu a recuperação da outra em Barcarena terminando-a em 1729, depois de modificar todo o seu sistema de funcionamento por forma, a que se começou a produzir "a melhor pólvora da Europa". A construção foi "sumptuosa e magnífica" conforme ainda está patente na fábrica de Barcarena e nos vestígios arquitectónicos da fábrica de Alcântara, demolida em 1939. António Cremer foi um Almirante holandês que veio para Portugal por ocasião do início da Guerra da Sucessão ao Trono de Espanha, mas que no fim dessa guerra, por cá ficou como intendente da Pólvora do Reino Alvará de 1725 entre outros cargos.
Corte de Relações com o Vaticano.
Como era usual naquele tempo, os barretes cardinalício eram concedidos por sugestão dos Reis, numa manifestação de independência face ao Papa, mas de certo modo pressionados por Espanha, o Papa tenta impedir a afirmação de independência da Igreja Católica em Portugal. Por essa razão não é elevada a Cardeal o antigo núncio monsenhor Bichi, conforme pretendia D. João V, preferindo indicar para Cardeal Monsenhor Firrão. Na sequência desse incidente D. João V acabou por cortar relações com o Vaticano retirando de Roma o representante português André de Melo e Castro, sendo expulsos de Portugal todos os súbditos do Papa. A morte do Arcebispo de Braga D. Rodrigo de Moura Telles em Setembro deste ano, trouxe para a Igreja bracarense em período de Vacante, motivada por esse corte de relações. Também o Arcebispado de Braga, era ocupada por um Arcebispo indicado pelo Rei e confirmado pelo Papa o que dadas as circunstâncias também não aconteceu, durante 3 anos, tanto quanto durou o corte das referidas relações, mantendo-se então a Arquidiocese governada durante esse espaço de anos pelo Cabido.
A Biblioteca Régia
Há referência, bastantes aos hábitos de leitura compulsiva de D. João V, para alguns "enfronhava-se de tal maneira na leitura que por vezes se esquecia de comer, jantando depois das 4 da tarde" Para sublinhar este facto, por certo exageradamente, disse D. António Caetano de Sousa que D. João V "fazia mais gosto nos livros, do que do ouro e dos diamantes que recebia do Brasil". Preferia temas de História e de Geografia de Portugal, como forma de saber onde ficavam determinados locais do seu reino, já que visitas apenas fez a províncias mais perto de Lisboa, como Estremadura e Alentejo. Nos últimos 8 anos da sua vida (1742-1750), substituiu a leitura por ouvir ler, já que a sua doença lhe dificultava os movimentos mais simples como pegar num livro e virar as páginas. Foi com a Academia Real de História que D. João V mais dinheiro gastou, para edição de obras várias e para a realização de "academias", (reuniões literárias no palácio real). Esta academia foi uma instituição fundada a 8 de Dezembro de 1720, com o objectivo de escrever a história de Portugal, teve um curto período de florescimento, entrando, a partir de 1736, em lenta decadência, até que desapareceu. Foi percursora da Academia Real das Ciências de Lisboa (Academia das Ciências), fundada em 1780, e deixou um importante espólio na sua Colecção dos Documentos e Memórias da Academia Real de História.
Ano de 1729
Aqueduto das Águas Livres - O financiamento
O decreto que autorizava o Senado da Câmara de Lisboa a regular os géneros sobre os quais se lançariam impostos, para a construção do Aqueduto das Águas Livres foi assinado em 20 de Junho de 1729. Por volta de 1730 a população de Lisboa deveria rondar os 250.000 habitantes e apenas dispunha de 3 chafarizes de água potável e mal distribuídos pela cidade, estando o negócio da distribuição entregue a particulares, que a entregavam por vezes em más condições de salubridade. Para resolver a situação, havia que trazer a água para a cidade de nascentes que existiam, a não muita distância da cidade. As referências ao projecto de construção de um aqueduto começam a ouvir-se e em Julho de 1729 foi decretado um imposto sobre determinados bens de consumo para financiamento da obra. Pelos vistos D. João V, não achou necessário financiar a obra com o ouro e os diamantes que chegavam do Brasil, pelo que o se pode dizer que a população pagou do seu bolso a água que passou a beber. O povo de Lisboa pagou porque o Rei assim decidiu, coisas do absolutismo. Foi então decidido onerar o azeite, a carne, o sal, a palha e o vinho, para fazer o total de 300.000 por ano, durante 4 anos. O imposto indirecto é cego e a comunidade patriarcal, habituada a não pagar nada, achou-se prejudicada queixando-se ao Rei, que os mandou passear e muito bem, acabando ele próprio por contribuir com 10.000 cruzados. Estava assim terminado o primeiro episódio da saga da construção do Aqueduto das Águas Livres, que duraria até 1748, na sua fase mais simples.
As Fabricas de Pólvora em Barcarena e Alcântara.
A indústria da pólvora e a instalação em Barcarena remonta ao tempo de D. João II, mas só em 8 de Dezembro de 1729 foi inaugurada com o nome actual. No início do século era grande a decadência em que se encontrava a indústria sendo conhecida a comunicação que o general artilheiro, dizia não haver pólvora sequer para as salvas na procissão do Corpo de Cristo. Além desta fábrica em Barcarena havia outra em Alcântara que havia sido começada a construção em 1690, mas só terminada em 1728 por António Cremer. Foi Cremer que arrematou o monopólio da pólvora, pois além da reconstrução dessa fábrica em Alcanena, também promoveu a recuperação da outra em Barcarena terminando-a em 1729, depois de modificar todo o seu sistema de funcionamento por forma, a que se começou a produzir "a melhor pólvora da Europa". A construção foi "sumptuosa e magnífica" conforme ainda está patente na fábrica de Barcarena e nos vestígios arquitectónicos da fábrica de Alcântara, demolida em 1939. António Cremer foi um Almirante holandês que veio para Portugal por ocasião do início da Guerra da Sucessão ao Trono de Espanha, mas que no fim dessa guerra, por cá ficou como intendente da Pólvora do Reino Alvará de 1725 entre outros cargos.
Bach estreia a Paixão segundo São Mateus. A Paixão Segundo S. Mateus foi apresentada ela primeira vez na Sexta-feira de paixão em 1729 na Igreja de São Tomás em Leipzig. Embora Bach tenha alterado a orquestração pois e 1736 já incluía dois órgãos na orquestração. Esta oratória representa o sofrimento e a morte de Cristo segundo aquele evangelho e tem uma duração de 2 horas e meia, sendo a sua obra mais extensa. Trata-se, sem dúvida alguma, de uma das obras mais importantes de Bach e uma das obras-primas da música ocidental. São esta e a Paixão segundo São João as únicas Paixões autênticas do compositor conservadas em sua totalidade. A Paixão segundo São Mateus consta de duas grandes partes constituídas de 68 números, em que se alternam 5 coros, corais, recitativos, ariosos e árias. Para lá da mera apreciação estética, é uma música paradoxal: é inegável que se constrói em cima de um culto da dor e da culpa, verdadeiramente doentio, que o cristianismo histórico cultivou. Por outro lado, atinge níveis de beleza que, dizem alguns, flutuam longe acima da divisão ordinária entre alegria e dor – um estado que somente os místicos parecem compreender.
O Casamento
O primeiro facto importante da vida de D. José foi o seu casamento no dia 19 de Janeiro de 1729 ainda com 14 anos, com Mariana Vitória filha de Filipe V de Espanha, apenas com 11 anos, filha do segundo casamento do Rei de Espanha com Isabel Farnésio. Na realidade tratou-se dum duplo casamento, pois também se negociou o casamento de D. Maria Bárbara, filha de D. João V, com o infante Fernando, futuro Fernando VI, também filho de Filipe V do seu primeiro casamento com Maria Luisa de Saboia. As negociações prévias, para a realização destes casamentos, foram por demais complicadas. Quanto ao casamento propriamente dito, começaram nos dias 7 e 8 de Janeiro, com a partida das respectivas famílias reais em direcção à fronteira de Badajoz. A viagem da Família Real que começou por ser de bergantim até à Aldeia Galega, nome porque era conhecido nesse tempo a localidade, que hoje reconhecemos como Montijo, com foral atribuído desde 1514 por D. Manuel I.
Depois já uma comitiva mais alargada, seguiu viagem que durou 9 dias até à chegada a Elvas no dia 16, altura em que se juntaram as duas comitivas. O dia 17 foi destinado à troca de cumprimentos e presentes e no dia 19 realizou-se então a cerimónia que decorreu num palácio de madeira especialmente construído para o efeito, sobe o rio Caia, metade sobre o lado espanhol e a outra metade sobre o lado português. O duplo casamento motivou que a referida construção em madeira, fosse ricamente decorada por preciosas tapeçarias. Como a decoração foi repartida entre as duas coroas, pode antever-se a competição que daí terá ocorrido entre "os dois monarcas mais opulentos da Europa, aqueles que tinham por tributários dos seus tesouros, as minas de prata do Peru e as de oiro e diamantes do Brasil". Deu-se então a 19 a respectiva "troca de princesas", retirando-se depois os respectivos monarcas, para Elvas e Badajoz, onde se teriam então realizado os festejos que se prolongaram até ao dia 27 de Janeiro. D. José e a futura Rainha só regressaram a Lisboa no dia 12 de Fevereiro, tendo o desembarque do Bergantim Real sido realizado em frente aos jardins do palácio de Belém, seguindo-se um Te Deum, beija-mão real na Patriarcal e fogo-de-artifício do Castelo de S. Jorge. Naturalmente que atendendo à idade dos noivos a consumação do casamento foi adiada, só vindo a acontecer em 1732, quando D. Maria Vitória, completou 14 anos. Na realidade mesmo sendo tão jovem era a segunda vez porque passava por esta situação, pois já anteriormente havia "casado" com Luís XV de França quando tinha 3 anos de idade e o seu noivo apenas 11 anos.
Ano de 1732
Março, 10 - Proibição da vinda para Portugal de mulheres residentes no Brasil. A necessidade de povoar o vasto território do Brasil, fazia com que Portugal desenvolvesse uma política contrária ao envio de mulheres jovens para os conventos. Em 1721, o Conde de Assumar, capitão general de São Paulo e das terras de Minas, chamou a atenção das autoridades de Lisboa a respeito da saída de jovens donzelas que eram enviadas para os conventos de Portugal. Isto, na sua opinião, prejudicava o povoamento da colónia, onde as mulheres brancas eram poucas. Daí resultou o alvará· de 1732, no qual D. João V proibia a saída de mulheres para o reino, sem sua autorização. Elas deveriam permanecer no Brasil e casar para povoar a terra; não havia lugar para mulheres solteiras na América portuguesa.
Abril - Inicia-se a construção da Igreja dos Clérigos no Porto. A primeira pedra da igreja é lançada no dia 23 de Junho de 1732, justamente na presença do arquitecto Nicolau Nasoni, tocando todos os sinos dos diferentes templos da cidade ao mesmo tempo para comemorar esse facto. As obras começaram a seguir a bom ritmo, mas ao fim de algum tempo ficaram totalmente paradas. A razão deveu-se provavelmente a várias intrigas movidas pelo pároco de Santo Ildefonso, preocupado com a ocorrência que o novo templo vinha a estabelecer. A expulsão do mestre pedreiro António Pereira, aliado do referido pároco e a sua substituição por Miguel Francisco da Silva não alterou grandemente o estado das obras.
Reatamento das Relações com a Santa Sé.
Em 24 de Setembro de 1731 o papa Clemente XII, acaba com o conflito existente com D. João V e concede finalmente o cardinalato ao ex. núncio em Lisboa Monsenhor Bichi, que tinha estado na origem do corte de relações com a Santa Sé em 1728 no pontificado de Bento XIII, como havia sido referido em Corte de relações com o Vaticano. O reatamento das relações foi confirmado com a chegada a Lisboa do novo núncio em Setembro de 1732.
Setembro, 16 - Explosão do paiol de munições de Campo Maior, devido à queda dum raio que provocou inúmeros mortos e feridos e grandes prejuízos. O castelo de Campo Maior, visto do jardim do Palácio Visconde de Olivã. Parecendo um castelo medieval, foi, na realidade, reconstruído no século XVIII. Em 1732, a torre de menagem que albergava o paiol das munições, foi atingida por um raio, seguiu-se uma grande explosão que destruiu a maior parte do castelo medieval e grande parte da vila.
A Real Noite de Núpcias
Foi
o Rei D. João V que anunciou à jovem princesa que nessa noite de 31 de Março de
1732, iria dormir pela primeira vez com o príncipe D. José seu marido, assim o
relata D. Mariana Vitória em carta a seus pais, descrevendo a lágrimas de
alegria que o Rei e a Rainha verteram nessa noite. Continua descrevendo a sua
noite nupcial, (segundo nos é relatado na biografia de D. José da autoria de
Nuno Monteiro, aqui amplamente citado) na qual foi acompanhada pela Rainha que
a penteou e meteu na cama, tendo chegado depois D. João V acompanhado pelo
príncipe metendo-o na cama e retiraram-se cobrindo-os de bênçãos. Depois o meu
Príncipe começou a cumprir o seu dever muito bem-continua a princesa. No outro
dia levantámo-nos às dez horas e quando eu estava na toilete ele deu-me uma
peça de brilhantes para o pescoço. Havia muitas dúvidas quanto á virilidade de
D. José, atendendo á uma menor robustez e flacidez nos joelhos quando anda em
contraste com o vigor demonstrado pela sua sereníssima esposa, apreensões
imputáveis a observadores espanhóis, quando ao que parece tudo teria corrido
muito bem, mau grado a apregoada debilidade real, por falta de exercício, não
se confirmou.
Ano de 1733
Maio, 24 - Instruções dadas a José da Cunha Brochado para ajustar com Espanha uma liga ofensiva e defensiva. Esta ofensiva diplomática, ao que parece pagas pelo "bolsinho" de sua majestade (uma espécie de saco azul moderno), acabaram por vir a resultar no acordo pré-nupcial duplo que viria a ser assinado ainda este ano em 7 Outubro. Assim a princesa D. Maria Bárbara, casaria com o príncipe das Astúrias e D. José casaria com D. Mariana Vitória, ficando assim seladas pelo casamento dos dois príncipes herdeiros, o compromisso de ajuda mútua. Curiosamente ambas as princesas haviam estado na lista de casamento de Luís XV, a portuguesa fora chumbada porque "não estava em condições de corresponder ao objectivo, por serem frequentes os casos e loucura e de má saúde na família", receando-se que não pudesse vir a ter filhos. A princesa Mariana Vitória que teria estado "á experiência" na corte francesa, acabaria por ser devolvida a Filipe V, pelo que ficaram então reunidas as condições para o futuro enlace.
Vice-Rei da Índia, foi também governador e capitão-general da ilha da Madeira. Filho de Luís Saldanha da Gama, capitão-general de Mazagão (Marrocos), iniciou a carreira das armas ainda muito jovem, servindo com o pai em Mazagão. Foi, depois, coronel de Infantaria e camarista do Infante D. António. Em 1725, foi nomeado Vice-rei da Índia, cargo em que se manteve até 1732, regressando então ao reino. Durante a sua brilhante governação as forças portuguesas obtiveram vários êxitos militares, conseguindo reconquistar Mombaça. Chefiou ainda a embaixada portuguesa que se deslocou a Pequim, encarregada de saudar o imperador.
Estreia
da Primeira Ópera Portuguesa
La pacienza di Socrate, foi a primeira ópera, escrita por um autor português Francisco António de Almeida, estreou nos Paços da Ribeira, no Carnaval de 1733. Este compositor foi um foi um dos que pertenceram ao pequeno grupo de compositores portugueses enviados para Roma a expensas da corte de D. João V, com a finalidade de se aperfeiçoarem na arte da música. Francisco de Almeida representa sem dúvida "o estrangeirado": a sua música é puramente italiana. Francisco António de Almeida viveu na primeira metade do séc. XVIII. Embora não se saibam ao certo as datas correctas do seu nascimento e da sua morte, tudo leva a crer que tenha nascido por volta de 1700 ou 1702 e que a sua morte tenha ocorrido por volta de 1755. Foi, com António Teixeira, Joaquim Vale Mexelim e João Rodrigues Esteves, um dos primeiros pensionistas enviados a Roma por D. João V para estudar música italiana. Aí permaneceu durante 6 anos entre 1720 e 1726. Dois anos depois, no Carnaval de 1735, Almeida apresentou, também nos Paços da Ribeira, a ópera “La Finta Pazza”, a que se seguiu no Carnaval de 1739 a ópera cómica “La Spinalba overo Il Vecchio Matto”. “La Spinalba”, cujo estilo elegante e extremamente expressivo nos faz recordar “La Serva Padrona” de Pergolegi, foi a única ópera de Francisco António de Almeida que chegou até nós completa. Inúmeras obras suas de carácter religioso perderam-se provavelmente com o terramoto de 1755. Ainda no domínio da música religiosa Francisco António de Almeida compôs duas oratórias “Il Pendimento de David” e “La Giuditta”, esta última inspirada no livro apócrifo do Velho Testamento e a única que chegou até nós.
La pacienza di Socrate, foi a primeira ópera, escrita por um autor português Francisco António de Almeida, estreou nos Paços da Ribeira, no Carnaval de 1733. Este compositor foi um foi um dos que pertenceram ao pequeno grupo de compositores portugueses enviados para Roma a expensas da corte de D. João V, com a finalidade de se aperfeiçoarem na arte da música. Francisco de Almeida representa sem dúvida "o estrangeirado": a sua música é puramente italiana. Francisco António de Almeida viveu na primeira metade do séc. XVIII. Embora não se saibam ao certo as datas correctas do seu nascimento e da sua morte, tudo leva a crer que tenha nascido por volta de 1700 ou 1702 e que a sua morte tenha ocorrido por volta de 1755. Foi, com António Teixeira, Joaquim Vale Mexelim e João Rodrigues Esteves, um dos primeiros pensionistas enviados a Roma por D. João V para estudar música italiana. Aí permaneceu durante 6 anos entre 1720 e 1726. Dois anos depois, no Carnaval de 1735, Almeida apresentou, também nos Paços da Ribeira, a ópera “La Finta Pazza”, a que se seguiu no Carnaval de 1739 a ópera cómica “La Spinalba overo Il Vecchio Matto”. “La Spinalba”, cujo estilo elegante e extremamente expressivo nos faz recordar “La Serva Padrona” de Pergolegi, foi a única ópera de Francisco António de Almeida que chegou até nós completa. Inúmeras obras suas de carácter religioso perderam-se provavelmente com o terramoto de 1755. Ainda no domínio da música religiosa Francisco António de Almeida compôs duas oratórias “Il Pendimento de David” e “La Giuditta”, esta última inspirada no livro apócrifo do Velho Testamento e a única que chegou até nós.
A
música em Portugal no seu tempo. Muitas manifestações musicais aconteceram
graças á Rainha D. Maria Ana ou por sua iniciativa.
A
título de exemplo:
1711
- A 'Fábula de Acis e Galateia', festa “harmónica
com violinos, violões, flautas e oboés”.
1712
- A peça 'Fábula de Alfeo e Arethusa' de Luis Calisto da Costa e Faria.
1713
- Uma festa de zarzuela intitulada 'O poder da harmonia'.
Para além dos excessos “freiráticos”, a Nobreza e El-rei em particular, preferiam continuar a frequentar os conventos femininos, em especial o de Odivelas, para ouvir música sacra entre outras distracções. País cinzento e de poucas diversões na corte portuguesa, a avaliar pela correspondência da jovem nora espanhola para a sua família, sendo excepção diversões pelo Entrudo, como em 1730 foi o da representação da peça D. Quixote. A primeira ópera de António José da Silva O Judeu foi “Vida do Grande D. Quixote de la Mancha e do gordo Sancho Pança”, que se representou no Teatro do Bairro Alto em Lisboa em Outubro de 1733, na sequência de uma semana com várias distracções no paço. Desde 1732 até ao grande terramoto de 1755, representaram-se cerca de uma centena de óperas, grande parte traduzidas e cantadas em Português tendo chagado a funcionar, ao mesmo tempo, cinco teatros de ópera, incluindo o do Bairro Alto. Isto revela o interesse que a ópera, nova forma de espectáculo, despertou em Portugal. D. João V gostava de teatro em especial as organizadas pelos Jesuítas do Colégio de Santo Antão. Serenatas eram muito frequentes, mas hoje existem muitos libretos, mas quase nenhumas partituras dessas serenatas.
Compositores identificado desse tempo, Carlos Seixas, Scarlatti, o Barão de Astorga compositor siciliano, Francisco António de Almeida, organista da patriarcal, autor das operas La d’Pazienza di Socrate (1733), La Spinabla (1739) e Il Trionfo Amore, e António Teixeira, autor de numerosas músicas de Igreja, que foi o primeiro compositor dramático da língua Portuguesa e um dos casos mais interessantes da história da música nacional, pois escreveu música para sete óperas, com base nos materiais existentes na Biblioteca do Palácio de Vila Viçosa; foram reconstituídas as partituras de Guerras de Alecrim e Mangerona e de As Variedades de Proteu. A qualidade musical e dramática, impõem António Teixeira como um dos principais compositores dramáticos da primeira metade do século XVIII. António Almeida e António Teixeira a partir de 1717, foram estudar para Itália, como pensionistas do Rei.
O Convento de Mafra
As dificuldades para manter os trabalhadores foram enormes chegando a ser tomadas medidas drásticas, para castigar os fugitivos. Os que fossem apanhados teriam de trabalhar 3 meses sem receber pagamento e se fossem reincidentes, esperava-os as galés e açoites. Acomodaram-se nesta obra as pessoas em casas de madeira que se construíram e foram abatidas depois da obra concluída, numa área superior ao Terreiro do Paço. Da enorme massa de trabalhadores envolvida, muito adoeceram e morreram, tendo D. João V determinado que ás famílias de cada um dos mortos de desse uma esmola de 3 mil réis, um hábito para ser amortalhado, uma cova e cinco missas por alma.
Foram realmente tempos de trabalhos forçados, muitos homens reduzidos á condição de escravos, obrigados a deixar as suas terras e famílias para trabalharem numa obra, que apenas era do gosto do Rei. Imensos problemas com demoras nos pagamentos aos trabalhadores e ajustamento de trabalho com mestres de ofício, fizeram atrasar a obra que afinal não agradava a ninguém para além do próprio Rei.
Os religiosos do convento também se queixavam, do sítio onde foi edificado, que nem agradava á Família Real, que o Rei tinha dificuldade em conseguir que o acompanhassem a Mafra. Transferência de festas importantes para Mafra foi outro dos subterfúgios a que D. João V se socorreu para tentar tornar Mafra um local bem querido e importante. Mesmo com a construção por acabar em 1733 resolveu ali festejar o seu aniversário, que habitualmente se festejava no Paço da Ribeira, o que igualmente havia acontecido no ano anterior, quando em meados de Outubro uma grande tormenta quebrou os vidros do convento, logo o Rei mandou para Mafra, oficiais e vidraceiros, para que sob pena de prisão, tivessem tudo pronto na véspera do seu aniversário em 22 de Outubro, nessa altura só os camaristas o acompanharam, permanecendo os demais cortesãos em Lisboa. Quando o Rei adoeceu em 1742, Mafra ainda não estava totalmente concluído, mandando El-rei arrematar a obra por 625.000 cruzados, com um prazo de 8 anos para a sua finalização. Em 1744 decidiu mandar comprar as quintas e casais num perímetro de 3 léguas em torno do edifício, para fazer uma cerca para os padres do convento e para mandar fazer uma tapada, para onde o príncipe D. José pudesse ir a caça, para "o ver mais vezes naquele sítio". Parece que o príncipe herdeiro contudo, preferia caçar coelhos na real tapada de Alcântara.
Ano de 1734
A ideia pré-concebida que D. João V foi apenas um rei gastador, que desbaratou o ouro e os diamantes do Brasil apenas em obras inúteis e espalhafatosas é completamente errada, porque a sua preocupação em desenvolver indústrias também foi evidente, como neste blogue modestamente se têm tentado demonstrar. Em 5 de Outubro de 1734 foi lavrada uma escritura a favor dum francês de nome Robert Godin, para estabelecer uma fábrica de sedas em Lisboa, que viria a ter as suas primeiras instalações na Fonte Santa, estabelecendo-a depois ao fundo da Rua de S. Bento em 1737, finalmente mudou-a para o Rato em 1738. Algumas originalidades à francesa, foram implementadas, que passavam pela instalação por um lado dum talho e duma padaria no próprio edifício, bem como a construção dum bairro operário na periferia da fábrica, por outro foram colocados tabiques nas janelas para que os operários se não distraíssem. Alguns exageros despesistas conduziram a empresa para uma vida difícil, como escrevia nas suas memórias do industrial de origem francesa Jacome Ratton, em que este escreve sobre as manufacturas existentes em Portugal em finais do século XVIII e inícios do século XIX. Principiou pois a fábrica da seda por uma sociedade de particulares, no Reinado do Senhor Rei D. João V, os quais mandaram vir operários de Lyon, e foi estabelecida no edifício que hoje se conhece por este nome ao Rato, para esse fim construído. Mas como sucede frequentemente, que estabelecimentos de grande custo não prosperem desde logo, achava-se este já em penúria de fundos no princípio do sucessivo Reinado; e querendo o Governo elevá-lo ao maior grau de prosperidade possível, e introduzir-lhe a fabricação dos Galões de ouro e prata, que até àquele tempo todos vinham de França, se havia necessidade deles para a tropa e culto Divino, o tomou por sua conta, nomeando-lhe Directores negociantes, e aplicando-lhe muitos fundos não só para o fazer trabalhar com vigor no seu respectivo destino, mas para servir como de viveiro a muitas artes, e ofícios, de que o Reino se achava destituído. Foi por aquela Direcção que, no Bairro das Amoreiras, então terras de serradura, se edificaram acomodações para Mestres, com certo número, cada hum, de teares de seda de lavor, cujas manufacturas eram compradas, e pagas pela dita Direcção, que também lhes fornecia a seda já pronta, como me parece que ainda se pratica, em maior, ou menor abundância. Foi outro sim com fundos da referida Direcção das sedas, que se edificaram no mesmo Bairro Em 1750, o Estado apropriou-se da fábrica, por insolvência de Robert Godin.
Nascimento
da Infanta Dona Maria
A Rainha D. Maria I nasceu no dia 17 de Dezembro de 1734, antes de ela nascer a sua avó a Rainha de Espanha escrevia à filha D. Mariana Vitória, ao mesmo tempo que enviava um cirurgião a acompanhar a carta onde mostrava a sua grande preocupação pelos maus cuidados que sua filha viesse a ter durante o parto. A preocupação, reflectia diferença de mentalidades, em Espanha os partos Reais eram feitos por cirurgiões, em Portugal por parteiras. Obviamente que em Portugal era assim por razões beatas, que impediam que um médico homem, assistisse a um parto, coisa de mulher. Isabel Farnésio pelos vistos já não pensava assim, mas por carta a filha aceitou a vinda do médico com a condição de ficar num quarto ao lado "para o caso de haver necessidade", dizendo a sua mãe "os portugueses não aceitam bem os cirurgiões parteiros". Seria baptizada a 9 de Janeiro do ano seguinte.
Descobertas novas jazidas de ouro em Mato Grosso. A descoberta de diamantes no Brasil ocorreu como consequência da procura do ouro no leito dos rios, através da lavagem do cascalho. Em 1726 foram entregues as primeiras pedras ao governador de Minas Gerais, D. Lourenço de Almeida que as identificou como diamantes por ter estado mais de 17 anos no governo da Índia. Não se conhece muito bem a razão, porque só comunicou à coroa essa descoberta 3 anos depois, enviando 6 pedras dessa para serem examinadas, o que lhe valeu ser censurado porque já há mais de dois chegavam a Lisboa diamantes nas frotas do Brasil. Igualmente se lhe ordenava que estudasse o melhor meio de serem cobrados os quintos do Rei devidos sobre essas pedras. Quintos do Rei, que hoje teria a designação genérica de imposto, era intensamente cobrado no Brasil desse tempo, já se fazia sobre a produção aurífera. Desde 1725 a capitação sobre os escravos produtivos ou não, maiores de 14 anos, ou sobre o minerador quando este os não possuísse. Assim começou a saga da exploração de diamantes, sendo o Brasil o maior produtor de diamantes do mundo entre os anos de 1730 a 1860.
Calculando-se que, nesse período se produziram em Minas Gerais cerca de 610 quilos de diamantes. A grande preocupação se gerou no Reino, discutindo-se a forma de controlar a produção e a colecta do respectivo quinto. A grade dificuldade era o controlo dessa liquidação, resumindo-se os vários pontos de vista, expressos quer pelo governador de Minas Gerais, quer por vários especialistas, ás seguintes hipóteses:
Cobrar-se
o quinto rigoroso de todos os diamantes extraídos
Cobrar-se
o quinto por capitação sobre os escravos que minerassem
Acrescentar-se
a esta capitação 5% sobre o valor dos diamantes
Cobrar-se
o quinto e também o dízimo, (dupla tributação)
Dividir-se
o terreno das minas, cobrando-se o arrendamento em vez do quinto
Administração
das minas por conta da Fazenda Real, proibindo a todos os vassalos a mineração
Todas
as soluções propostas procuravam resolver o problema da dificuldade de
cobrança. Optou-se pela hipótese de escolher entre os 11 ribeiros onde haviam
sido detectados diamantes, 2 ou 3 dos melhores, proibindo-se a pesquisa nos
demais. Dividir a área de pesquisa em lotes, reservar o melhor para sua
Majestade e arrendar anualmente os restantes a quem der maior preço.
Ano de 1735
Conflito estende-se à Colonia de Sacramento
Não
se pense que apesar do incidente referido anteriormente, não ter provocado uma
guerra aberta entre Portugal e a Espanha na Europa, não tenha tido as suas
repercussões na América do Sul nomeadamente na Colónia de Sacramento. Pelo
menos durante cerca de dois anos a Colónia de Sacramento esteve bloqueada pelas
forças espanholas. Diferendo, este que só viria a ser resolvido pelo Tratado de
Madrid em 1750. Em Junho de 1735 chegou uma armada inglesa como medida de
defesa, destinada apoiar Portugal no eventual conflito que viesse a decorrer
com a Espanha. Este conflito começa por ser mediado pela França, mas que o
posterior ataque à colónia de Sacramento acima referido não veio favorecer. No
mesmo ano em que a França assume o controlo directo das ilhas Maurícias,
rebaptizada como a "Ile de France", e que seria mais um argumento
para a Inglaterra não aprovar a mediação francesa neste conflito. Por ocasião
desse ataque, foram enviados a Sacramento, pelo governador do sul do Brasil,
Gomes Freire de Andrade, reforços comandados pelo brigadeiro José da Silva
Pais, que apesar de não ter conseguido os seus objectivos, veio a fundar nas
proximidades da Lagoa dos Patos a povoação Rio Grande de São Pedro, origem do
estado do Rio Grande do Sul. Só em 16 de Março de 1737 se assina uma convenção
luso-espanhola sobre este incidente com o embaixador português, acontecido em
1735, por mediação da Inglaterra e da Holanda. Afinal uma guerra de criados,
haveria de arrastar um conflito durante 2 anos. Um incidente menor que poderia
ter desencadeado uma guerra. Muito embora os Casamentos Reais pudessem de algum
modo atenuar a conflitualidade entre Portugal e Espanha a verdade é que a
situação política não era na altura muito tranquila, sobretudo por causa das
questões fronteiriças no Brasil, ligadas à colónia de Sacramento. Os exemplos
dos factos acontecidos em Madrid em Março de 1735, com o nosso embaixador Pedro
Álvares Cabral são reveladores. Um incidente provocado pelos criados do
embaixador, que tirando um prisioneiro das mãos dos oficiais de justiça
espanhóis, dando-lhe guarida na embaixada, violaram os princípios das relações
diplomáticas entre os dois países, pois na sequência a residência do embaixador
foi invadida e presos os criados implicados. A retaliação por parte de Portugal
não se fez esperar e o mesmo aconteceu aqui à casa do embaixador espanhol e
também presos alguns dos seus servidores. D. João V convoca uma junta com
algumas personalidades para o ajudarem a tomar decisões. A reunião decorreu em
casa do secretário de Estado Diogo de Mendonça, por se encontrar doente. Entre
essas personagens contavam-se o Cardeal da Mota, o Cardeal da Cunha e o Conde
da Ericeira e Alexandre de Gusmão, as figuras mais proeminentes do Reino. O
propósito era discutir uma proposta do embaixador para que se "rompesse guerra" com se
chamava na altura ao acto de declaração de guerra. A proposta só obteve um voto
favorável, mas duas conclusões se podem tirar daqui a delicadeza das relações
ibéricas na eminência da guerra e a troca de opiniões, segundo o que foi
relatado ao embaixador D. Luís da Cunha, pois a ideia generalizada que ficou da
reunião foi que mesmo que houvesse guerra com o Mundo haveria que se manter a
aliança com a Inglaterra.
Ano de 1736
Julho, 15 - Morte em Lisboa de D. Francisca Josefa (nasceu em Lisboa, a 30 de Janeiro de 1699) 8º filho de D. Pedro II, está sepultado no Mosteiro de S. Vicente de Fora). Morreu solteira.
Alvará criando 3 secretarias de Estado
Julho, 28 - Dom João V cria as Secretarias de Estado: Negócios Interiores do Reino. Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos. Negócios Estrangeiros e da Guerra. Os secretários de Estado terão o tratamento de Senhoria. O monarca nomeia para a Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, Marco António de Azevedo Coutinho, embaixador em Londres. No início do século XVIII, a administração do Reino, embora tutelada directamente pelo monarca, era coordenada, essencialmente, por três secretarias que tinham a função de organizar e de submeter a despacho régio as "consultas" dos diversos órgãos da administração central - tribunais, conselhos ou mesas - com responsabilidades na condução dos negócios do Reino. Desde logo, D João V encontrou na estrutura administrativa concebida pelos seus antecessores um obstáculo ao projecto de centralização dos mecanismos de decisão e execução das ordens régias. Com efeito, a orgânica administrativa obedecia a um complicado mecanismo burocrático que, ao invés de tornar mais célere e eficiente o papel da administração central, concorria não só para a sua ineficácia como para a subsistência das instituições típicas da época feudal. O monarca, pela sua carta de 28 de Julho de 1736, reorganizou as três Secretarias, designando-as todas de "Estado": Secretaria de Estado dos Negócios Interiores do Reino, Secretaria de Estado da Marinha e Domínios Ultramarinos e Secretaria de Estado dos Estrangeiros e Guerras. Esta reestruturação correspondeu a um maior grau de especialização das pastas governamentais, bem como à definição mais precisa das atribuições de cada uma das Secretarias. A função desempenhada pelos Secretários de Estado revestiu-se, ao tempo de D. João V, de maior prestígio e protagonismo políticos. Equiparados aos mais altos dignitários do reino, aqueles Secretários passaram a ter voto no Conselho de Estado e a ocupar um lugar cada vez mais proeminente junto do soberano, influenciando, desde então, a tomada de decisão em relação aos negócios que tutelavam através das respectivas secretarias. Os Secretários de Estado acabaram mesmo por afastar os conselheiros de Estado do despacho ordinário dos negócios, tendo a actividade do Conselho diminuído francamente durante o reinado de D. João V. Por seu turno, as Secretarias de Estado foram absorvendo as competências que dantes eram apanágio dos diversos Conselhos, concorrendo, assim, para a sua gradual desvalorização política.
Agosto,
3 - Morte na quinta de Belas de D. Manuel José Francisco António Caetano
Estêvão Bartolomeu, nasceu, em Lisboa, a 3 de Agosto de 1697, 7º filho de D. Pedro
II. Faleceu no mesmo dia do seu nascimento e está sepultado no Mosteiro de S.
Vicente de Fora. Tinha sido general no exército
austríaco e fora proposto para Rei da Polónia.
Morreu solteiro e sem descendência.
Agosto, 6 - Criação da
freguesia de São Pedro na barra do Rio Grande do Sul, no Brasil.
Outubro, 4 - Surtida dos
defensores da Colónia do Sacramento, fortaleza portuguesa no rio da Prata,
contra os atacantes espanhóis.
Novembro - Representação de O
Labirinto de Creta de António José da Silva, o Judeu, no Teatro do Bairro Alto.
Glosa de “Alma minha gentil que te partiste” por ocasião da morte da infanta
Dona Francisca, irmã de Dom João V e incluída nos Acentos Saudosos das Musas
Portuguesas em 1736.
Novembro, 16 - Ataque a Mazagão
pelas forças do Xerife de Marrocos.
Conclusão da torre da Universidade de Coimbra. Edificada entre 1728 e 1733, em substituição de uma outra erigida em 1561, a Torre da Universidade foi desenhada pelo arquitecto romano António Canevari, a trabalhar em Portugal ao serviço de D. João V, constituindo a primeira das torres universitárias europeias. Elegante e raro exemplar de torre barroca de carácter civil, de sobriedade clássica, aloja, além dos relógios, os sinos que regulam o funcionamento ritual da Universidade.
Revestimento total da abóbada da Igreja de São Francisco no Porto em talha dourada
O estabelecimento dos Franciscanos no Porto data de 1223, ano de um documento doando terrenos para a construção do convento. Por querelas com o bispo, as obras só terão arrancado definitivamente em 1244, prolongando-se pelo século XIII. Desse primitivo conjunto nada chegou até hoje, já que no século XV o convento foi integralmente reformulado, concluindo-se entre 1410 e 1425. Originalmente a cobertura era em abóbada de cruzaria de ogivas, mas foi nesta altura totalmente revestida por uma solução em talha dourada.
Este ano foi o das reconciliações, primeiramente com a Espanha em 16 de Março, por mediação da Inglaterra e da Holanda. O conflito que envolveu um conflito menor com o embaixador português em Madrid. Um incidente menor que poderia ter desencadeado uma guerra, este tratado seria o percursor do 'Tratado de Madrid', uma convenção assinada entre Portugal e Espanha, em 13 de janeiro de 1750, para assentar as fronteiras das possessões na América do Sul. Também por esta altura foram reatadas as relações diplomáticas com a França, D. Luís da Cunha é nomeado embaixador em França e o Marquês de Argenson embaixador em Portugal. Foi mais demorado o reatamento das relações com a França, provavelmente por não ter havido o empenho inglês, como no caso espanhol.
Diogo Barbosa Machado publica o 2.º tomo da sua obra Memórias para a História de Portugal, que compreendem o governo do Rei Dom Sebastião, único do nome, desde o ano de 1554 até o de 1561, começada a publicar no ano anterior. Jacob de Castro Sarmento, médico refugiado em Londres, publica Teórica Verdadeira das Marés, conforme a filosofia do incomparável cavalheiro Isaac Newton, o primeiro texto newtoniano em português, uma das primeiras obras de divulgação do trabalho de Newton a vir à luz na Europa.
Dom Tomás da Silva Teles, 13.º Visconde de Vila Nova da Cerveira, publica sob o pseudónimo de Teotónio de Sousa Tavares: 'Discurso sobre a disciplina militar', a ciência de um soldado de infantaria, dedicado aos soldados novos.
Janeiro, 12 - Após condenação por um tribunal local, foram degolados em Tonquim, na China, quatro sacerdotes jesuítas, sendo três portugueses: Vicente da Cunha, Bartolomeu Álvares de Parâmio, Manuel de Abreu Arouca e João Gaspar Crast.
Janeiro, 31 - Dom Diogo Fernandes de Almeida é nomeado censor da Academia Real da História Portuguesa.
Fevereiro, 1 - Observa-se um cometa em Lisboa.
Fevereiro, 19 - É fundado no sul do Brasil, a cidade, de Rio Grande, por ordem do Brigadeiro José da Silva Pais. António José da Silva o Judeu-apresentação das Guerras do Alecrim e Manjerona no mesmo ano de nova prisão. Em 1737, denunciado por uma escrava, foi levado novamente às barras da Inquisição em companhia da mulher e da filha. E, ao fim de dois anos, acabou sentenciado a morrer degolado e queimado em auto-de-fé, em cadafalso armado no Terreiro do Trigo. Até ser preso pela Inquisição, António José viu encenadas várias peças em Lisboa, a mais famosa a ópera Guerras do Alecrim e da Manjerona (1737), inspirada nos conflitos entre os ranchos de Coimbra, a única obra teatral ambientada em Portugal e impressa pouco antes de ser levada à cena.
Março, 16 - Assinatura, em Paris, por mediação da Grã-Bretanha e dos Países Baixos (Holanda), da 'Convenção Luso-Espanhola' que termina a crise entre os dois países, provocada pelo incidente com o embaixador português em Madrid Álvares Cabral, acontecido no ano anterior. A convenção suspende as hostilidades nas fronteiras do Brasil, e na Colónia do Sacramento.
Março, 24 - Tendo terminado o conflito diplomático entre
Portugal e a França, iniciado em 1724, chega a Lisboa o novo cônsul Duvernay,
que acumula com o cargo de encarregado de negócios.
Maio, 9 - João Abreu de Castelo Branco é nomeado Governador
do Maranhão, Henrique Luís Freire de Andrade Capitão-general de Pernambuco e
Francisco Pedro de Mendonça, Governador da ilha da Madeira.
Maio, 14 - O Governador da Colónia do Sacramento é
informado de que deve suspender as hostilidades com a Espanha no rio da Prata.
Maio, 21 - Fim das confrontações luso-espanholas no rio da
Prata, nos actuais Uruguai e Argentina.
Junho, 11 - Dom Luís da Cunha apresenta as credenciais de
embaixador a Luís XV, Rei de França, em Paris.
Julho, 30 - Despachos Régios, provendo cargos de
corregedores, provedores e ouvidores, assim como nomeando juízes de Fora para
várias localidades.
Agosto - Luís António Verney começa a sua viagem para
Itália, dirigindo-se a Roma. Nunca mais regressará a Portugal.
Agosto, 29 - Dom António Luís de Távora, 4.º Conde de
Sarzedas pelo casamento, governador e Capitão-general de Goiás morre a meio do
seu mandato.
Setembro - Chega à Colónia do Sacramento a notícia da
Convenção Luso-Espanhola de 16 de Março.
Outubro, 5 - António José da Silva, o Judeu, a mulher, a
mãe, a tia, o irmão e a cunhada são presos pelo Santo Ofício, quando
participavam na cerimónia judaica do Yom Kipur.
Outubro, 14 - O Governo francês informa o cônsul Duvernay
que o novo embaixador francês em Lisboa faria a primeira visita protocolar ao
Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, questão protocolar que tinha
criado uma crise diplomática entre Portugal e a França.
Outubro, 19 - Na confluência dos rios Vade e Lima, junto a
Ponte da Barca, aparece um peixe com dimensões desusadas: cerca de 31 palmos de
comprimento.
Dezembro, 17 - Por decreto do Papa Clemente XII os patriarcas de Lisboa passam a ser nomeados Cardeais no Consistório imediatamente a seguir à sua eleição, uma questão que tinha criado um conflito diplomático entre Portugal e a Santa Sé. Este reconhecimento confirma a política de Dom João V de afirmação de Portugal como uma potência com direitos rigorosamente iguais às outras grandes potências católicas (o Império alemão e a Casa da Áustria, a França e a Espanha).
Dezembro, 20 - O Papa Clemente XII concede o título de
Cardeal Patriarca de Lisboa ao Arcebispo em funções, Dom Tomás de Almeida.
Dezembro, 28 - A Rainha, Dona Maria Ana de Áustria, e a
princesa do Brasil, Dona Mariana de Bourbon, visitaram a capela das Necessidades,
local de especial devoção da Rainha, tendo visitado depois o presépio do
Mosteiro dos Jerónimos, em Belém.
Ano de 1738
Janeiro, 1 - É ratificado um novo acordo postal com a
Espanha.
Janeiro, 13 - A praça de Mazagão, comandada por Bernardo
Pereira de Barredo, Governador e Capitão-general, consegue rechaçar um ataque
das forças do Xerife de Marrocos.
Finais de Janeiro, inícios de Fevereiro - O Mosteiro de
Xabregas receberam de Roma, como autênticas, partes de várias Relíquias: dos
cabelos da virgem Maria, da sua túnica, da sua toalha, do livro por onde
rezava, um bocado de outra toalha com sangue de Jesus, parte da tábua do
presépio, “ou berço onde esteve sendo menino”, e da túnica de São José.
Fevereiro, 8 - Por Bula, o Papa Clemente XII confirmaram
todos os favores concedidas à Basílica Patriarcal de Lisboa.
Março, 22 - Nomeação para diversos cargos judiciais e
administrativos.
Março, 28 - Rodrigo César de Meneses é substituído no
Governo de Angola.
Abril, 1 - João Jacques de Magalhães assume o governo da
capitania de Angola. Por breve de Bento XIV, o Cardeal Dom Francisco de
Saldanha é nomeado visitador apostólico e reformador geral da Companhia de
Jesus em Portugal.
Maio, 6 - Dom João V recebe em audiência monsenhor Júlio
Saccheti, sobrinho do núncio, que trouxera o barrete cardinalício a ser
entregue pelo núncio apostólico, Caetano Cavallieri, ao cardeal patriarca, Dom
Tomás de Almeida.
Junho, 23 - Dom João V dá honras de Duquesa de Lafões a
Dona Joana de Bragança, filha do Infante Dom Miguel, filho natural de Dom Pedro
II, devido ao seu casamento com Dom Luís José de Castro, Conde de Monsanto,
filho dos Marqueses de Cascais, dando ao seu irmão mais novo, Dom João Carlos
de Bragança honras de Marquês.
Junho, 31 - Confirma-se que Dom João Carlos de Bragança,
filho do 1.º Duque de Lafões D. Pedro Henrique de Bragança, neto de Dom Miguel de Bragança e de Dona Luisa Casimira de Sousa Nassau e Ligne, passa a ter honras de Marquês, tendo precedência
sobre os Marqueses criados posteriormente ao decreto.
Julho, 5 - Para festejar os 20 anos da Princesa do Brasil,
Dona Mariana Vitória de Bourbon, Dom João V e a corte assistiram a um torneio
de "quatro fios" ou quadrilhas, organizado na Junqueira, em Lisboa.
No dia 8 foi a vez de se organizar uma tourada, “um combate de touros”, e no
dia 12 realizou-se um torneio de arte equestre.
Julho, 13 - A Família Real partiu para Mafra.
Julho, 31 - Nomeação provendo os bispados que se achavam
vagos nos domínios ultramarinos.
Agosto, 1 - Dom Frei Valério do Sacramento é confirmado
como Bispo de Angra.
Agosto, 11 - Parte da capitania de São Paulo é anexado à
capitania do Rio de Janeiro. É criada a capitania do Rio Grande do Sul.
Setembro, 28 - Pela carta apostólica 'In Eminenti' o Papa
Clemente XII condena a Maçonaria. Um edital da Inquisição portuguesa exortou os
católicos à denúncia das lojas ou das associações maçónicas existentes e pedia
a todos que se abstivessem de tais sociedades. Morreu em Faro o Cardeal
Pereira, Bispo do Algarve. Fora nomeado Cardeal em 19 de Novembro de 1719 pelo
Papa Clemente XI.
Outubro, 3 - Os cónegos da Sé Patriarcal de Lisboa,
(designados Principais), passam a poder usar mitra.
Outubro, 10 - Monsenhor Caetano Cavallieri, Arcebispo de
Tarso, núncio apostólico, morreu em Lisboa. As exéquias realizam-se na Igreja
do Loreto, no dia 13.
Outubro, 18 - Assinatura do 'Tratado de Versalhes' que põe
fim à Guerra da Sucessão da Polónia.
Outubro, 26 - A Rainha Dona Maria Ana de Áustria recebeu
Dona Joana de Bragança com as honras de Duquesa de Lafões, oficializando-se
assim o determinado em 23 de Junho por Dom João V.
Ano de 1739
Começa a edificação do Solar de Mateus em Vila Real.
António Caetano de Sousa publica as Memórias Histórias e Genealógicas dos
Grandes de Portugal.
Janeiro, 7 - Teresa de Noronha, primeira mulher de
Sebastião José de Carvalho e Melo, morre em Lisboa.
Janeiro, 15 - Novo ataque do exército marroquino a Mazagão.
Mateus Valente do Couto, 'adail da Cavalaria', contra-ataca e desbarata as
forças marroquinas perseguindo-as até Azamor.
Janeiro, 29 - Lei definindo e alargando o tratamento de
Excelência. Os secretários de Estado passam a ser tratados por Excelência,
equiparando-os aos grandes seculares eclesiásticos.
Fevereiro, 19 - O Duque de Cadaval é nomeado Mordomo-mor da
Rainha Maria Ana de Áustria.
Março, 7 - O Brigadeiro José da Silva Pais assume o governo
da Ilha de Santa Catarina, no Brasil.
Março, 11 - António José da Silva, o Judeu, é condenado à
morte pela Inquisição.
Abril, 4 - Novo ataque das forças marroquinas a Mazagão.
Maio, 16 - Os Maratas conquistam Baçaim. Portugal cede,
além de Baçaim, a província do Norte da Índia, em Maio, mantendo Damão e Diu. É
novamente proibido o uso de solas e atanados estrangeiros.
Maio, 25 - Dom frei António de Guadalupe, Bispo do Rio de
Janeiro, é transferido para a diocese de Viseu.
Julho, 30 - Francisco Xavier de Miranda Henriques, antigo
governador de Mazagão, é nomeado governador da capitania do Rio Grande do
Norte, no Brasil.
Agosto, 7 - Jácome Oddi, Arcebispo de Leodiceia, novo
núncio da Santa Sé, chega a Lisboa.
Agosto, 26 - José Soares da Silva morre em Lisboa. Membro
fundador da Academia de História Portuguesa, publicou as Memórias de El Rei Dom
João I, em quatro tomos.
Setembro, 21 - Nascimento da Infanta Dona Maria Francisca
Doroteia, terceira filha de Dom José e de Dona Mariana Vitória, em Lisboa.
Outubro, 25 - Sentem-se vários abalos de terra em Portimão.
Dezembro, 3 a 6 - Grandes trombas de água provocam cheias
nas bacias dos rios Tejo (sobretudo nas “Lezírias de Santarém”, Mondego e
Douro, perdendo-se numerosos navios fundeados nos rios).
Ano de 1740
Janeiro, 1 - Surge em Lisboa o semanário 'O Expresso da
Corte' e 'Emprego de Curiosidades nas Cidades de Lisboa Ocidental e Oriental'.
Janeiro, 2 - Sai o Folheto de Lisboa, escrito pelo padre
Luís Montês Matoso.
Janeiro,
29 - Lei dos tratamentos - Por
esta lei foram definidos quem pode usufruir dos tratamentos de
"excelência" e o de "senhoria". Consagra e delimita a
primeira elite da monarquia na qual têm lugar os grandes eclesiásticos e
seculares não se incluindo Viscondes e Barões e alguns Altos dignitários. O Rei
levou muito a sério o cumprimento desta lei chegando a repreender os
dignatários que não a respeitassem ou a não fizessem respeitar, aceitando por
exemplo o tratamento por Senhoria quando a ele não tinham direito.
Finais de Janeiro - Grande cheia do Tejo.
Fevereiro, 6 - O papa Clemente XII morre em Roma.
Fevereiro, 27 - Capitulação das pazes celebradas com o
Bounsolo, na Índia.
Março, 25 - Frei Manuel do Cenáculo Vilas Boas professa na
regra de São Francisco.
Abril, 7 - Dona Francisca Bernarda Mascarenhas é eleito
abadessa do mosteiro de Odivelas.
Maio, 30 – O Doutor Frei Manuel da Rocha, monge de Cister,
é nomeado cronista do Reino.
Maio, 31 – O novo embaixador de França chega a Lisboa.
Junho, 1 – O Conde de Chavigny visita, de acordo com o
protocolo exigido por Portugal, o 'Secretário de Estado dos Negócios
Estrangeiros', equiparando-se em termos protocolares com as grandes potências
europeias.
Agosto, 17 – Eleição do Papa Bento XIV.
Outubro, 20 - Com a assistência da Família Real, realiza-se
uma corrida de touros em Pedrouços.
Novembro, 7 - Dom Frei João do Nascimento é nomeado Bispo
do Funchal.
Dezembro, 12 - Decreto do Papa Bento XIV determinando que a
nomeação dos Bispos passasse a ser realizada por proposta da 'Coroa
Portuguesa'. A nomeação do Arcebispo de Braga fica, assim, resolvida.
Dezembro, 19 – Dom Policarpo de Sousa é confirmado como
Bispo de Pequim.
Dezembro, 21 - Inicia-se a construção de igreja do 'Senhor Jesus da Pedra', em Óbidos. Fora da Vila, na estrada para as Caldas da Rainha, ergue-se o Santuário do Senhor da Pedra, templo inaugurado em 1747. O risco da obra é de autoria do Arq. Capitão Rodrigo Franco (da Mitra Patriarcal) e tem a particularidade de articular um volume cilíndrico (exterior) com um polígono hexagonal (interior), em planta centrada à qual se anexam três corpos (dois correspondentes às torres e outro que corresponde à sacristia). No seu programa de simetrias destaca-se o jogo de janelas invertidas. O seu interior apresenta três capelas: a capela-mor dedicada ao Calvário, com uma tela de André Gonçalves, e as capelas laterais dedicadas a Nossa Senhora da Conceição e à Morte de São José, com telas de José da Costa Negreiros. A "estranha" imagem de pedra de Cristo Crucificado, em maquineta própria no Altar-Mor, esteve até à inauguração do Santuário recolhida numa pequena ermida junto à estrada para Caldas da Rainha onde era objecto de grande devoção, nomeadamente do Rei D. João V.
Grandes Perdas Territoriais na Índia
(1732-1740)
Após o regresso de Saldanha da Gama a Portugal, deixando o cargo de Governador-geral da Índia, marcado pela perda de Mombaça, ainda que reconhecidamente sem culpa, com os créditos dum governo dos mais brilhantes naquele território, foi nomeado como Vice-rei em 1732, D. Pedro de Mascarenhas, Conde de Sandomil, já com a idade de 62 anos, muito embora a sua folha de serviços de brilhante militar, tenha induzido D. João V a esperar dele um governo enérgico, de acordo com as exigências do momento. Porém o governo da Índia viria a revelar-se já excessivamente pesado e complexo para a sua idade. Os maratas, (que em sentido lato se refere ao povo do Decão ocidental (Maharxtra), é na acepção restrita, a tribo militar histórica dessa região, e que constitui uma casta), achavam-se no apogeu da sua força e da sua arrogância e os seus marajás era nessa época os maiores inimigos dos povos ocidentais. Foi efectivamente desastroso porque em 1739 se perdeu Baçaim, cidade tão importante que lhe chamavam a corte do Norte; perdeu-se a Ilha de Karanjá, Trapôr, Sarapuá, Tana. Foi desde então que, na costa norte, Portugal ficaria apenas com Damão e Diu.
A invasão dos maratas, que assolaram as terras de Bardez e de Salsete, que puseram Goa em risco de se perder e as vitórias do pirata Angriá que em 1740 destruiu a esquadra portuguesa, completaram a série de infortúnios que assinalaram o governo do Conde de Sandomil, que durou de 1732 a 1739. As causas principais desses desastres, foi a inércia e desleixo do governo de Lisboa, a falta de energia do Vice-Rei, a guerra surda que lhe promovia o arcebispo francês, que era um homem intolerável, e as intrigas dos ingleses, também eles interessados em acabar com a coocorrência que significava a presença portuguesa na Índia. A 18 de Maio de 1741 entregou o governo ao seu sucessor, o Marquês de Louriçal, que como se verá viria a conseguir estancar as percas registadas pelo anterior Vice-Rei.
(1732-1740)
Após o regresso de Saldanha da Gama a Portugal, deixando o cargo de Governador-geral da Índia, marcado pela perda de Mombaça, ainda que reconhecidamente sem culpa, com os créditos dum governo dos mais brilhantes naquele território, foi nomeado como Vice-rei em 1732, D. Pedro de Mascarenhas, Conde de Sandomil, já com a idade de 62 anos, muito embora a sua folha de serviços de brilhante militar, tenha induzido D. João V a esperar dele um governo enérgico, de acordo com as exigências do momento. Porém o governo da Índia viria a revelar-se já excessivamente pesado e complexo para a sua idade. Os maratas, (que em sentido lato se refere ao povo do Decão ocidental (Maharxtra), é na acepção restrita, a tribo militar histórica dessa região, e que constitui uma casta), achavam-se no apogeu da sua força e da sua arrogância e os seus marajás era nessa época os maiores inimigos dos povos ocidentais. Foi efectivamente desastroso porque em 1739 se perdeu Baçaim, cidade tão importante que lhe chamavam a corte do Norte; perdeu-se a Ilha de Karanjá, Trapôr, Sarapuá, Tana. Foi desde então que, na costa norte, Portugal ficaria apenas com Damão e Diu.
A invasão dos maratas, que assolaram as terras de Bardez e de Salsete, que puseram Goa em risco de se perder e as vitórias do pirata Angriá que em 1740 destruiu a esquadra portuguesa, completaram a série de infortúnios que assinalaram o governo do Conde de Sandomil, que durou de 1732 a 1739. As causas principais desses desastres, foi a inércia e desleixo do governo de Lisboa, a falta de energia do Vice-Rei, a guerra surda que lhe promovia o arcebispo francês, que era um homem intolerável, e as intrigas dos ingleses, também eles interessados em acabar com a coocorrência que significava a presença portuguesa na Índia. A 18 de Maio de 1741 entregou o governo ao seu sucessor, o Marquês de Louriçal, que como se verá viria a conseguir estancar as percas registadas pelo anterior Vice-Rei.
Ano de 1741
O cavaleiro de Oliveira publica as suas 'Cartas Femininas'.
O sino da Torre da Universidade de Coimbra é fundido. Diogo Barbosa Machado
publica a sua obra 'Biblioteca Lusitana'.
Janeiro - Dom José de Mascarenhas, futuro Duque de Aveiro,
8.º Conde de Santa Cruz, é reconhecido como 5.º Marquês de Gouveia.
Fevereiro, 25 - Bula Papal contra os clérigos negociantes
de escravos no Brasil.
Março, 15 - São concedidos vários privilégios à fábrica de
vidros de Coina, no Barreiro, fundada em 1719.
Maio, 9 - Dom Frei João da Cruz assume as funções de Bispo
do Rio de Janeiro.
Maio, 15 - Criação, em Lisboa, da paróquia de Santa Isabel
Rainha de Portugal, por desmembramento das freguesias de Santos, São Sebastião
da Pedreira, Santa Catarina e São José.
Maio, 18 - Dom Luís de Meneses, Marquês de Louriçal, assume
o governo do Estado da Índia. Dom Pedro de Mascarenhas, Conde de Sandomil
abandona o governo da Índia.
Maio, 25 - Audiência Régia ao Conde de Esterhazy, embaixador extraordinário de Maria Teresa, Rainha da Boémia e Hungria, chefe da Casa de Áustria, para dar parte do nascimento do Arquiduque José seu primeiro filho varão, futuro Imperador da Alemanha, e sobrinho neto da Rainha de Portugal, Dona Maria Ana de Áustria.
Junho, 13 - A Fortaleza de Corquém e o Forte de Colsala, na
Índia, são tomados pelas forças portuguesas.
Junho, 19 - James O’Hara, Barão de Tyrauley, embaixador
britânico, realiza a sua audiência de despedida.
Julho, 14 - Criação da nova Basílica de Santa Maria por
meio da Bula de Bento XVl ‘Ea quae providentiae’.
Agosto - Começa a publicar-se o periódico Mercúrio Político
e Histórico.
Agosto, 31 - Lisboa deixa de estar dividida em duas
províncias eclesiásticas, ficando a cidade com apenas uma jurisdição. A
publicação da Gazeta de Lisboa Ocidental termina.
Setembro, 15 - Nomeação de João Zuzarte de Santa Maria para
governador de Cabo Verde.
Outubro, 11 - O Marquês de Louriçal, Vice-Rei da Índia,
assina um tratado de paz com o Bounsuló.
Outubro, 2 - A Rainha Dona Maria Ana de Áustria passa o dia
em São José de Ribamar numa caçada aos coelhos.
Novembro, 30 - Incêndio no convento de São Francisco em
Lisboa que destruiu o dormitório e a biblioteca.
Dezembro, 16 - Morreu em Lisboa com cento e quinze anos Ana
da Silva, natural dos Olivais. Segundo a notícia “nunca
tinha sido sangrada nem tomado remédio purgativo.”
Dezembro, 20 - Breve Papal dirigido aos Bispos do Brasil
sobre a escravidão dos índios que tinha por alvo, expresso, a 'Companhia de
Jesus'.
Dezembro, 26 - Audiência de Dom João V ao corpo
diplomático, por ocasião do Natal.
Portugal
e a guerra da sucessão na Áustria
(1741-1748)
(1741-1748)
Esta primeira metade do século XVIII, foi dum modo geral marcado, no plano internacional, por permanentes conflitos entre as coroas inglesa e espanhola. Tudo girava à volta do comércio marítimo e da consequente rivalidade de interesses, que dava origem em sem número de conflitos. Era muito difícil para Portugal guarda uma posição de neutralidade, sempre que esses conflitos surgiam, por um lado a Espanha apelava à solidariedade ibérica e à proximidade familiar das casa reais, por outro a Inglaterra sempre invocava a velha questão da aliança e das vezes que havia socorrido contra algumas arbitrariedades espanholas. Por coincidência outra questão muito mais importante abalou na altura a Europa, passando para segundo plano o irritante e permanente conflito hispano-britânico. Falo da guerra de sucessão do trono austríaco, que logo neste ano de 1740 eclodiu originado pela morte do Imperador Carlos VI. O estado alemão era realmente uma federação de estados, que elegiam entre si um deles como Imperador cuja corte se situava em Viena de Áustria. Raro era porém a vez que a morte dum imperador não provocasse alguma agitação mais ou menos violente entre os seus Estados, envolvendo muitas vezes outros países, exteriores ao Império, mas cujos soberanos, normalmente parentais se achavam com direito a reclamar esse ceptro. Pela Pragmática sansão, Carlos VI assegurou a sua sucessão a sua filha Maria Teresa, casada como Francisco de Lorena, duque de Toscana. Gerou-se em torno desta questão imensa polémica e conflito de interesses de difícil síntese, mas que envolviam igualmente primas de Maria Teresa filhas de D. José I a quem Carlos VI havia sucedido. Atalhando razões o certo é que com o apoio de Frederico II da Prússia e dos franceses, o eleitor da Baviera, Carlos Alberto é nomeado Imperador com o nome de Carlos VII. Esta vitória traduzia-se igualmente numa derrota da Inglaterra o do governo do ministro Walpole, apoiante de Maria Teresa. Esta guerra que ficou conhecida pela guerra da Sucessão na Áustria, irá estender-se até ao ano de 1748 e se bem que tenha envolvido grande parte das nações europeias nesse conflito, além de afastar, como disse a premência incomodativa para Portugal, dos referidos conflitos permanentes entre a Inglaterra e Espanha, veio pela conjugação de vários factores, dar a Portugal a oportunidade para, além de se manter neutral, poder assumir o importante papel de medianeiro da paz, que poderia elevar o conceito de Portugal no resto da Europa.
Ano de 1742
Compra do terreno nos limites ocidentais de Lisboa para
edificação de uma igreja dedicada a 'Nossa Senhora das Necessidades'.
Encomendada aos arquitectos Luigi Vanvitelli e Niccolo Salvi da 'Capela de São
João Baptista' para a 'Igreja de São Roque', em Roma. Começa a edificação do
'Convento da Trindade', em Setúbal, da 'Igreja da Misericórdia', em Elvas e da
'Igreja de Santa Isabel', em Lisboa. Começam as obras de restauro da 'Igreja de
São Domingos', em Lisboa.
Os meninos de Palhavã e (...), outros mais.
Após a doença que o atingiu em Maio de 1742, D. João V mandou por intermédio do cardeal da Cunha, consultar o jesuíta da Companhia de Jesus o padre José da Costa, para saber se "era obrigado em consciência a declarar por filhos seus ilegítimos, os três senhores que se educaram em S. Vicente e em Santa Cruz de Coimbra". Perante a reposta afirmativa do jesuíta e de mais alguns ilustres que consultou, decidiu o Rei, declarar 3 filhos adulterinos. Nessa declaração afirma que eles não eram filhos da mesma concubina, mas todas elas, "mulheres limpas de todo o sangue infecto". Nesse documento firmado em 1742, mas só publicado em 1752 após a sua morte, se declarava afinal o que já toda agente sabia, "os meninos de Palhavã" eram seus filhos. A expressão deriva do facto de terem habitado no palácio dos Marqueses de Louriçal, situado na zona de Palhavã, na altura arredores de Lisboa, mas que hoje se situa em plena cidade (o edifício - denominado Palácio da Azambuja - é hoje a Embaixada de Espanha em Portugal, sendo também conhecido por "Palácio dos Meninos de Palhavã").
Eram eles:
Dom António que nasceu em Lisboa, a 1 de Outubro de 1704 e faleceu na capital, a 14 de Agosto de 1800, sepultado no claustro do São Vicente de Fora, filho de uma francesa. Tendo obtido o grau de doutor em Teologia pela Universidade de Coimbra. Esteve desterrado no Buçaco, por ordem de Pombal, de 1760 a 1777.
Dom Gaspar nasceu em Lisboa, a 8 de Outubro de 1716 e faleceu em Braga, a 18 de Janeiro de 1789, filho de Dona Madalena Máxima de Miranda. Foi o segundo «Menino de Palhavã». Exerceu o múnus de arcebispo de Braga, de 1758 à data da sua morte.
Dom José nasceu em Lisboa, a 8 de Setembro de 1720 e faleceu na mesma cidade, a 31 de Julho de 1801, sepultado no Mosteiro de São Vicente de Fora, filho da Madre Paula, freira em Odivelas. Foi doutor em Teologia pela Universidade de Coimbra e inquisidor-mor em 1758. Esteve desterrado no Buçaco, com seu irmão Dom António, de 1760 a 1777, por ordem do Marquês de Pombal.
Menos sorte teve contudo outra filha de nome Maria Rita, pelo facto de ser mulher, não constou do "requerimento de paternidade", assinado pelo Rei em 1742. Era filha da "Flor de Murta", assim se alcunhava a mãe Dona Luísa Clara de Portugal, dama da casa da Rainha. Eventualmente nascida em Maio 1731, professou no convento de Santos até à morte, em data que se ignora. Também como fruto da sua relação com Dona Filipa de Noronha, filha do Marquês de Cascais, terão gerado uma filha, nascida em Maio de 1710, no convento de Santa Clara, para onde Dona Filipa terá sido desterrada. A criança durou pouco tempo, enquanto o destino de sua mãe parece traçado numa carta existente na Biblioteca do Palácio da Ajuda, onde alude às promessas de casamento do Rei não cumpridas, mas termina dizendo "Peço a V. Majestade licença para professar no convento onde morreu Santa Teresa de Jesus, que assim como o amor de V.M. me desterrou do Paço, quero que a sua ingratidão me extermine do Reino".
Os meninos de Palhavã e (...), outros mais.
Após a doença que o atingiu em Maio de 1742, D. João V mandou por intermédio do cardeal da Cunha, consultar o jesuíta da Companhia de Jesus o padre José da Costa, para saber se "era obrigado em consciência a declarar por filhos seus ilegítimos, os três senhores que se educaram em S. Vicente e em Santa Cruz de Coimbra". Perante a reposta afirmativa do jesuíta e de mais alguns ilustres que consultou, decidiu o Rei, declarar 3 filhos adulterinos. Nessa declaração afirma que eles não eram filhos da mesma concubina, mas todas elas, "mulheres limpas de todo o sangue infecto". Nesse documento firmado em 1742, mas só publicado em 1752 após a sua morte, se declarava afinal o que já toda agente sabia, "os meninos de Palhavã" eram seus filhos. A expressão deriva do facto de terem habitado no palácio dos Marqueses de Louriçal, situado na zona de Palhavã, na altura arredores de Lisboa, mas que hoje se situa em plena cidade (o edifício - denominado Palácio da Azambuja - é hoje a Embaixada de Espanha em Portugal, sendo também conhecido por "Palácio dos Meninos de Palhavã").
Eram eles:
Dom António que nasceu em Lisboa, a 1 de Outubro de 1704 e faleceu na capital, a 14 de Agosto de 1800, sepultado no claustro do São Vicente de Fora, filho de uma francesa. Tendo obtido o grau de doutor em Teologia pela Universidade de Coimbra. Esteve desterrado no Buçaco, por ordem de Pombal, de 1760 a 1777.
Dom Gaspar nasceu em Lisboa, a 8 de Outubro de 1716 e faleceu em Braga, a 18 de Janeiro de 1789, filho de Dona Madalena Máxima de Miranda. Foi o segundo «Menino de Palhavã». Exerceu o múnus de arcebispo de Braga, de 1758 à data da sua morte.
Dom José nasceu em Lisboa, a 8 de Setembro de 1720 e faleceu na mesma cidade, a 31 de Julho de 1801, sepultado no Mosteiro de São Vicente de Fora, filho da Madre Paula, freira em Odivelas. Foi doutor em Teologia pela Universidade de Coimbra e inquisidor-mor em 1758. Esteve desterrado no Buçaco, com seu irmão Dom António, de 1760 a 1777, por ordem do Marquês de Pombal.
Menos sorte teve contudo outra filha de nome Maria Rita, pelo facto de ser mulher, não constou do "requerimento de paternidade", assinado pelo Rei em 1742. Era filha da "Flor de Murta", assim se alcunhava a mãe Dona Luísa Clara de Portugal, dama da casa da Rainha. Eventualmente nascida em Maio 1731, professou no convento de Santos até à morte, em data que se ignora. Também como fruto da sua relação com Dona Filipa de Noronha, filha do Marquês de Cascais, terão gerado uma filha, nascida em Maio de 1710, no convento de Santa Clara, para onde Dona Filipa terá sido desterrada. A criança durou pouco tempo, enquanto o destino de sua mãe parece traçado numa carta existente na Biblioteca do Palácio da Ajuda, onde alude às promessas de casamento do Rei não cumpridas, mas termina dizendo "Peço a V. Majestade licença para professar no convento onde morreu Santa Teresa de Jesus, que assim como o amor de V.M. me desterrou do Paço, quero que a sua ingratidão me extermine do Reino".
Janeiro - A vila de Laguna, fundada em 1676, é transferida
da Capitania de São Paulo para a Capitania do Rio de Janeiro.
Fevereiro, 6 - A Rainha, os Príncipes Dom José e Dona Mariana Vitória e o Infante Dom Pedro assistiram no palácio de Belém à apresentação de uma máquina a vapor. A apresentação foi realizada pelo Doutor Bento de Moura Portugal, superintendente e conservador das 'Fábricas Reais da Fundição de Artilharia' da comarca de Tomar. O Rei, o Príncipe Dom José e o Infante Dom António já tinham assistido à apresentação.
Fevereiro, 14 - É preso em Lisboa Jean Coustor, venerável
de uma loja maçónica.
Março, 24 - Audiência Régia ao novo Embaixador britânico,
Charles Compton.
Março, 25 - Alvará demarcando os bairros de Lisboa.
Abril, 4 - Dom João Carlos de Bragança, Duque de Lafões em
1778, é mandado regressar a Lisboa, saindo da Universidade de Coimbra sem se
despedir do reitor.
Abril, 30 - António do Couto de Castelo Branco, General e
'Guarda-mor da Torre do Tombo', autor das 'Memórias e Observações Militares e
Políticas', morre em Elvas, onde exercia o cargo de governador.
Maio, 1 - Charles Compton embaixador da Grã-Bretanha em
Lisboa é recebido em audiência por Dom João V, para entrega das suas cartas
credenciais.
Maio, 23 – A Rainha Dona Maria Ana assume a Regência,
durante a recuperação do Rei.
Maio, 29 - A Gazeta de Lisboa informa na edição de 3 de
Julho que, neste dia, Dom João V começou a mover o braço esquerdo e no seguinte
passou a mexer a perna, e que “com estes sinais se confirma cada vez mais a esperança, de
que brevemente se chegará a restabelecer de todo.”
Junho - Manuel Pereira de Sampaio, embaixador português em
Roma, entrega ao Papa Bento XIV um rico cálice de ouro, presente do monarca
português.
Junho, 13 - Dom Luís de Meneses, Marquês do Louriçal,
Vice-rei da Índia, morre em Goa.
Julho, 8 - Dom Luís Bernardo de Távora, filho dos Marqueses
de Távora, e Dona Leonor Tomásia de Távora, sua tia, casam em Lisboa.
Julho, 9 - Dom João V parte para as Caldas da Rainha, para
ser tratado no 'Hospital Real'. Subiu o Tejo num bergantim até Vila Nova da
Rainha. A Rainha partiu no dia 11, fazendo a mesma viagem que o Rei, indo o
Infante Dom Francisco no mesmo dia por terra.
Julho, 21 - O Infante Dom Francisco, 7.º Duque de Beja,
filho de Dom Pedro II e de Dona Maria Sofia, morre em Óbidos.
Agosto, 6 - Dom João V reconhece os chamados “meninos da
Palhavã”, Dom António, Dom Gaspar e Dom José, como seus filhos.
Agosto, 7 - Dom Frei Manuel Coutinho, Bispo de Lamego,
morre em Soure.
Agosto, 8 - Francisco Carneiro da Figueira, reitor e
reformador da Universidade de Coimbra, morre.
Agosto, 25 - Carlos Seixas, compositor, cravista e
organista da 'Capela Real', de que foi Vice mestre, morre em Lisboa.
Agosto, 27 - Dom Manuel Lopes Simões assume o Bispado de
Portalegre.
Setembro, 10 - Combate com os mouros durante o cerco de
Bafe em Marrocos.
Setembro, 23 - A Congregação de São Vicente de Paula é
autorizado a estabelecer-se em Portugal.
Outubro, 9 - Nomeação de João de Teive Barreto e Meneses
para o governo da Capitania do Ceará, no Brasil.
Outubro, 11 - Dom Diogo Marques Morato assume o Bispado de
Miranda.
Novembro, 8 - Aquisição pela Casa Real do terreno onde será
edificado o palácio-convento das Necessidades, em Lisboa.
Novembro, 18 - Início da construção da basílica de Santa
Maria em Lisboa.
Novembro, 20 - Luís Bernardo de Távora é feito Conde de
Alvor.
Novembro, 26 - Dom Frei Francisco de Santa Rosa de Viterbo
é confirmado como Bispo de Nanquim.
Novembro, 26 - Dom Bernardo António de Melo Osório é
confirmado como Bispo da Guarda.
Dezembro, 15 - O estado de saúde do Rei Dom João V de
Portugal piora.
Dezembro, 26 - O corpo diplomático é recebido por ocasião
da quadra natalícia.
Ano de 1743
Ano de 1743
Alexandre de Gusmão
Alexandre de Gusmão nasceu em Santos, em 1695 e faleceu na cidade de Lisboa, no ano de 1753, foi um brilhante diplomata português que nasceu no Brasil, e que representou o Reino de Portugal em vários países. Em Roma participou como convidado na corte do Papa Inocêncio XIII. Notabilizou-se pelo seu papel crucial nas negociações do ‘Tratado de Madrid’, assinado em 1750, que definiu os limites entre os domínios coloniais portugueses e espanhóis na América do Sul, criando a base para a atual estrutura territorial brasileira. Nono dos doze filhos de Francisco Lourenço Rodrigues, cirurgião, e Maria Álvares, era irmão de Bartolomeu de Gusmão, o padre voador. Estudou com os seus irmãos, Simão e Bartolomeu, no Colégio de Belém, em Cachoeira na Bahia, cujo fundador e director foi o protector da família, o padre Alexandre jesuíta e escritor. Na infância de Alexandre, pode-se retractar algumas peculiaridades, como as inscrições ao lado da sua matrícula "menino estudioso, engenhoso, mas bastante velhaco”. Padre Alexandre foi como um padrinho para Bartolomeu e Alexandre. Por sua orientação, o jovem Alexandre de Gusmão passou para o Colégio das Artes, ainda na Bahia, onde completou em três anos seus estudos de Latim e Lógica, Metafísica e Ética, Retórica e Filosofia, distinguindo-se como "filósofo excelente". Em 1710 Alexandre muda-se para Lisboa para morar com Bartolomeu, que já vivia á alguns anos em Lisboa, por meio dos contactos deste com a Corte portuguesa, Alexandre é escolhido, em 1715 como Secretário da Embaixada portuguesa, em Paris. Graduou-se em Direito Civil, Romano e Eclesiástico em Paris (1715-1719), logo após também cursou a Faculdade de Leis, em Coimbra. Alexandre de Gusmão conquistou um sólido conhecimento de história política, administrativa e em leis dos países europeus. Também entrará em contacto com as personalidades do mundo oficial e com os tratados e acordos pelos quais as nações procuravam estabelecer seus direitos. Na ida a Paris, passara por Madrid, para aprofundar-se nos trâmites do ‘Tratado de Utrecht’, que determinava limites das colónias espanholas e portuguesas nas Américas. Em Paris, além de aprimorar sua formação diplomática, cultural, e principalmente ideais anticlericais e racionalistas, de filósofos franceses. Em 1720, fez parte da delegação portuguesa nas negociações em Cambray, na França, ampliando ainda mais seus conhecimentos sobre a diplomacia internacional. Foi enviado para Roma, onde ficou sete anos, actuando como “quase” Embaixador de Portugal junto à Santa Sé. Suas atribuições a partir de então foram imprescindíveis para a estruturação política estratégica de Portugal em relação ao Brasil. Actuou como Agente da Casa Portuguesa, em Paris e Roma de 1714 a 1730, participou das negociações relacionadas à paz luso-espanhola de Utrecht, em Paris em 1715, foi Secretário particular do Rei Dom João V, desde 1730 a 1750, Membro do Conselho Ultramarino de 1743 a 1753 e Planejou e defendeu o ‘Tratado de Madrid’, em Lisboa no ano de 1750. Durante sua actuação como secretário particular de Dom João V, desenvolveu condições para desempenhar grande influência nas decisões de Portugal sobre o Brasil, principalmente a sua actuação no ‘Tratado de Madrid’, onde defendeu o princípio do ‘uti possidetis’. O Tratado teve como resultado a triplicação do território brasileiro e o ‘uti possidetis’ passou a ser largamente utilizado pela diplomacia Portuguesa para solucionar as questões fronteiriças do Brasil com a Espanha. Em 1740, foi nomeado escrivão da puridade (secretário particular do Rei). Sua influência cresceu e ele, praticamente dirigiu a política externa portuguesa neste período. De 1746 a 1750 negociou com a Espanha o ‘Tratado de Madrid’. Casou-se em Lisboa com Isabel Maria Teixeira Chaves, com quem teve os filhos Viriato e Trajano (O grande Chefe dos Lusitanos, e o maior Imperador Romano). Em 1752, a esposa e os dois filhos morreram tragicamente num incêndio que destruiu sua casa de Lisboa.
Para o Senhor Arcebispo de Braga
Sereníssimo Senhor:
Com grande mágoa do meu coração, vou
participar a Vossa Alteza que, havendo-se noticiado a El-Rei o interdito que V.
A. mandou impor na cidade do Porto e seus subúrbios, somente com o pretexto de
não haver cumprido o Provisor daquele bispado os mandados do Vigário-Geral de
Braga, expedidos em nome de V. A., e as instâncias da Irmandade dos Terceiros
Dominicanos com os frades da mesma ordem, está El-Rei tão enfadado com este
terrível acontecimento, e tão sensivelmente magoado de que V. A. o fabricasse,
que quis romper logo em passar rigorosas e providenciais ordens, que obrigassem
V. A. a levantar imediatamente o interdito, e em pôr em sossego os moradores
daquela cidade. Estas reais ordens, Senhor, havia de inquietar a V. A., obrigando-o
a declarar publicamente o desacerto com que tem usado dos direitos e regalias
da sua Igreja bracarense. Para El-Rei mais sentir, sucede este facto estando
ainda frescas as memórias das fúteis e indignas discórdias sucedidas pelo
estribeiro e ministros de V. A. contra os cónegos da sua catedral, com o que,
meu Senhor, agora acresceram novos motivos de desgostar-se El-Rei, sendo-lhe
este mais sensível, visto que as discórdias com o seu Cabido inquietavam uma
corporação particular; e o interdito perturba e desordena a corporação dos
povos de uma das mais populosas, e das primeiras cidades do Reino. Desta fatal
desordem, o que escandaliza mais a El-Rei, é o, impedir-se aos povos o
exercício público da religião, cujo escandaloso procedimento lhe tem parecido,
e aos seus ministros actuais, muito próprio dos séculos da ignorância e da
barbaridade. Em tão funesta situação, muito desgostoso eu de ouvir censurar
indecorosamente as acções de V. A., e ponderando as perigosas consequências do
interdito, me abalancei a sacrificar-me por V. A., pedindo a El-Rei quisesse
confiar-me o honroso trabalho de diligenciar o levantamento do interdito. Benigno
me ouviu Sua Majestade, e logo me honrou com a mercê pedida, a qual atribuí aos
influxos do real sangue que liga a V. A. com sua augustíssima pessoa; o que o
mesmo Senhor tem em lembrança, apesar de tantos desgostos. Mas, Senhor, eu na
verdade assevero a V. A. que totalmente me confunde, quando considero no
empenho a que me arrojei entre o meu Soberano e V. A. Sereníssima! Valha-me a
protecção da Igreja, pela parte que tem neste meu sacrifício, ainda que seja
feito em benefício de V. A. Senhor, eu estou bem persuadido de ter dado muitas
provas, a V. A. de que venero, amo e respeito a sua sereníssima pessoa, animado
com esta certeza, rogo a V. A. por tudo quanto lhe mereço queira dignar-se de
fazer levantar logo aquele funesto interdito, dando para esse fim as ordens
necessárias sem a menor perda de tempo, não esperando atenção nem obediência da
parte do Sr. Bispo do Porto, nem dos seus ministros. Logo que V. A. passar as
ordens, se dignará participar a EI-Rei essa notícia, pela Secretaria de Estado
dos Negócios do Reino. Repito, outra vez a lembrança de toda a brevidade
possível, a fim de que os povos daquela cidade do Porto e seus subúrbios sejam
imediatamente restituídos ao seu antecedente sossego e livre exercício da
religião. Assim o espero da bondade, virtudes e religião de V. A. finalmente,
que me honre com os seus preceitos, e favoreça com a sua santa bênção. Deus guarde
a V. A. por muitos e felizes anos.
Lisboa, no Paço, a 4 de Outubro de 1743.
Beijo as mãos de V. A. com a maior
submissão, e mais obsequioso respeito.
O
Arcebispo era o Infante Dom José de Bragança ou José Carlos de Bragança, meio-irmão
do Rei Dom João V, filho ilegítimo do Rei Dom Pedro II, de uma relação que este
manteve com Francisca Clara da Silva. Filha de um tanoeiro mas «gente limpa de sangue, prezada de formosa».
Foram ela e sua mãe à audiência do Rei e se queixarem de um homem que lhe não queria
cumprir a palavra que lhe tinha dado de casamento...
Janeiro, 13 - Combate entre a guarnição portuguesa e as
forças marroquinas que cercavam a praça de Mazagão. Dom Pedro de Vilas Boas e
Sampaio é sagrado Bispo de Elvas.
Janeiro, 28 - Dom Frei Feliciano de Nossa Senhora assume o
Bispado de Lamego,
Fevereiro, 17 - Dom Frei João de Moreira é sagrado Bispo de
Cabo Verde.
Março, 30 - Dom Francisco de Vasconcelos, Bispo de Cochim,
morre em Goa.
Maio, 2 - O Rei Dom João V regressa às 'Caldas da Rainha ao
Hospital Real', para continuação de tratamentos acompanhado do Príncipe Dom
José.
Maio, 25 - O Rei regressa a Lisboa.
Junho, 9 - Dom Frei Lourenço de Santa Maria, é sagrado
Arcebispo de Goa, na Sé Patriarcal de Lisboa.
Julho, 6 - São descobertos túmulos antigos nas escavações
feitas na igreja de 'Nossa Senhora de Aires', no Arcebispado de Évora.
Agosto, 3 - O embaixador francês em Lisboa, Conde de
Chavigny regressa a França, tendo com a sua missão reatado as relações
diplomáticas com Portugal.
Agosto, 9 - Dom Frei António de Castro, Bispo de Malaca,
morre em Timor.
Setembro, 19/28 - Terceira estadia do Rei Dom João V nas
Caldas da Rainha, em busca de melhoras. No dia 19 regressou a Lisboa, por ter
tido novo ataque durante a viagem.
Setembro, 30 - Um raio provoca um incêndio causando
estragos avultados no convento da Pena em Sintra.
Outubro, 31 - Tomás Pinto Brandão, poeta jocoso, autor de
'Este é o Bom Governo de Portugal', morre no Porto em casa do Conde de
Sabugosa.
Novembro, 24 - Novo ataque das forças do Xerife de Marrocos
contra a praça de Mazagão.
Novembro, 21 – Sebastião José de Carvalho e Melo chega a
Lisboa vindo de Londres onde fora embaixador de Portugal.
Dezembro, 21 – Dom Francisco Xavier de Meneses, 4.º Conde
da Ericeira, fundador da 'Academia Portuguesa', que se transformou em 1720 na
'Academia de História Portuguesa', morre em Lisboa.
Ano de 1744
Manuel de Azevedo Fortes publica a 'Lógica Racional e
Geometria Analítica'.
Janeiro, 1 – Apresentação de cumprimentos ao Monarca pelo
corpo diplomático acreditado em Lisboa.
Janeiro, 4 - O Núncio Apostólico, Cardeal Oddi, recebe o
barrete cardinalício na igreja de 'Nossa Senhora do Loreto' em Lisboa.
Janeiro, 8 - Bênção da estátua de São João Nepomuceno,
colocada sobre a ponte de Alcântara por ordem da Rainha Dona Maria Ana de
Áustria.
Fevereiro, 14 - Nomeação de novos membros do Conselho da
Guerra:
Março, 15 - Morte de Dom José Pinheiro, Bispo de Meliapor.
Março, 24 - Carta Régia de nomeação de Dom Pedro Miguel de
Almeida e Portugal, Conde de Assumar, como Vice-rei da Índia.
Março, 26 - O Conde de Assumar é feito Marquês de Castelo Novo. A nomeação do Marquês de Castelo Novo, para Vice-rei da Índia. O preenchimento do cargo de Vice-rei continuava a ser ocupado, pela principal nobreza, porque nisso via vantagens honoríficas e pecuniárias, mau grado o destacamento para paragens tão longínquas. Porém desde a segunda nomeação do conde da Ericeira, que a preocupação do Rei e do Cardeal da Mota seu principal conselheiro, consistia em reduzir as despesas, que como se adivinha sempre torna menos interessante, este tipo de missões. Nomeadamente porque a redução do número de Companhias e a consequente redução de oficiais porque no dizer de Mota "a guerra regular na Índia, não necessita de tantos". Por consequência menos mercês que caberia também ao Vice-rei satisfazer e provavelmente prometidas, deixariam de poder ser satisfeitas. Talvez por isso quando D. Pedro de Almeida, foi notificado por carta da respectiva Secretaria de Estado, para o cargo de Vice-rei da Índia, não colheu grande satisfação da parte desse dignatário da corte, nessa altura conde de Assumar, declarando-se "inconsolável, pelo desarranjo em que deixa a sua casa". Tudo tentou em sua defesa, para se isentar dessa tarefa, relatando inclusivamente encargos com filhos e extensas e pesadas dívidas que deixava em sua casa. O Rei mostrou-se inflexível com a nomeação mas generoso com as mercês, aumentando a frota para três naus e concedendo tudo o que o conde achasse conveniente. Naturalmente que a aceitação do cargo não pode deixar de acontecer. Verbas reforçadas para ajudar a resolverem os problemas financeiros apresentados. Recrutamentos à força não foram suficientes para as prometidas 3 naus, ficando-se por apenas 2 naus. Finalmente com a atribuição do título de Marquês de Castelo Novo, se despediu do Rei, tendo lhe este dito que "só dele fiava a restauração daquele Estado".
Abril, 25 - O Rei Dom João V realiza a sua quarta viagem às
Caldas para tratamento. Regressou a 9 de Maio.
Maio, 11 - Lisboa - Nascimento de José Anastácio da Cunha,
oficial do Exército, homem de letras, matemático, etc.
Maio, 13 – Nascimento, em Aguiar da Beira, de Frei Joaquim
de Santa Rosa Viterbo, erudito, publicista, etc.
Junho, 2 – Chega a Lisboa o novo núncio apostólico, Lucas
Melchior Tempi, Arcebispo de Micasuedia.
Junho, 14 - Dom Pedro de Vilas Boas e Sampaio, Bispo de
Elvas morre.
Junho, 17 - O Cardeal Patriarca de Lisboa oferece um
banquete, em honra do núncio apostólico, recentemente elevado ao cardinalato e
prestes a deixar as suas funções diplomáticas.
Junho, 21 - Auto de fé em Lisboa, em que figuram 22 homens
e 11 mulheres, acusados de maçónicos. Primeira sentença contra maçons radicados no país. Como já disse o auto
de fé, era um dos espectáculos favoritos do rei, nem nos anos da sua doença
deixou de o fazer, porém dadas as dificuldades de locomoção, D. João V ia de
véspera para casa do inquisidor-geral o cardeal da Cunha ali pernoitando, tudo
se fazendo para que o povo não se apercebesse da sua debilidade física. Não
houve por este motivo notícia se teria assistido a este.
Julho, 11 - O Rei Dom João V volta, pela quinta vez, às
Caldas da Rainha por motivos de saúde, tendo sofrido três ataques.
Julho, 30 - O Rei Dom João V regressa a Lisboa.
Agosto, 15 - A Família Real visita a igreja de São Roque em
Lisboa.
A
construção da Capela de São João Baptista
A construção da capela de S. João Baptista, na Igreja de São Roque dos jesuítas, em Lisboa, esta intimamente relacionada com a doença do rei. Encomendada no ano anterior pelo rei ao representante português em Roma, Manuel Pereira de Sampaio, "para que se faça logo em desenho pelo melhor arquitecto". Dava-se alguma liberdade ao arquitecto, mas impunham-se condições quanto à magnificência da obra e ao mesmo tempo de indicava que os painéis seriam entregues ao pintor Agostino Masucci, ao mesmo tempo que se pedia a máxima brevidade, sem se explicarem as razões para tal pressa mas por certo relacionada com a doença do Rei. Começou a ser construída em 1743, desde a primeira hora sob a direcção do padre Carbone, a quem incumbiu a tarefa de coordenador deste projecto grandioso. Os arquitectos foram Nicola Salvi e Luigi Vanvitelli e a obra teve a particularidade de ser construída em Itália e posteriormente enviada para Lisboa. Em 1 de Setembro de 1747 chegaram a Lisboa os 3 navios que traziam diferentes objectos e materiais para a capela bem como operários especializados e que mais tarde viria a trabalhar em Mafra. As obras começaram em Novembro de 1747 e a pressa que se lhe deu, fizeram que em Dezembro estavam já prontos os alicerces, mas tendo só sido concluída em 1750, muito embora os dois quadros do mosaico Baptismo de Cristo e Vinda do Espírito Santo, só tenham sido colocado em 1752. Caracteriza-se por um neoclassicismo rocaille. Na sua composição entram materiais preciosos como os bronzes dourados e variadas espécies de mármores. Os anjos e os medalhões que embelezam o tecto são em mármore de Carrara. Os quadros laterais e o piso da capela são em mosaico. A Capela veio enriquecida por belíssimas peças de culto; paramentos, alfaias litúrgicas, pinturas, peças de ourivesaria, rendas e livros, que compõem o núcleo museológico agregado à própria Igreja, e que são um valiosíssimo repositório de arte e sonho.
Setembro, 14 - Instruções para Sebastião José de Carvalho e Melo enquanto embaixador extraordinário e ministro plenipotenciário à corte de Viena de Áustria.
Setembro, 24 - Toma posse, como Vice-rei da Índia, Dom Pedro Miguel de Almeida e Portugal, Marquês de Castelo Novo. A nomeação do Marquês de Castelo Novo, para vice-rei da Índia. O preenchimento do cargo de vice-rei continuava a ser ocupado, pela principal nobreza, porque nisso via vantagens honoríficas e pecuniárias, mau grado o destacamento para paragens tão longínquas. Porém desde a segunda nomeação do conde da Ericeira, que a preocupação do Rei e do Cardeal da Mota seu principal conselheiro, consistia em reduzir as despesas, que como se adivinha sempre torna menos interessante, este tipo de missões. Nomeadamente porque a redução do número de Companhias e a consequente redução de oficiais porque no dizer de Mota "a guerra regular na Índia, não necessita de tantos". Por consequência menos mercês que caberia também ao vice-rei satisfazer e provavelmente prometidas, deixariam de poder ser satisfeitas. Talvez por isso quando D. Pedro de Almeida, foi notificado por carta da respectiva Secretaria de Estado, para o cargo de vice-rei da Índia, não colheu grande satisfação da parte desse dignatário da corte, nessa altura conde de Assumar, declarando-se "inconsolável, pelo desarranjo em que deixa a sua casa". Tudo tentou em sua defesa, para se isentar dessa tarefa, relatando inclusivamente encargos com filhos e extensas e pesadas dívidas que deixava em sua casa. O rei mostrou-se inflexível com a nomeação mas generoso com as mercês, aumentando a frota para três naus e concedendo tudo o que o conde achasse conveniente. Naturalmente que a aceitação do cargo não pode deixar de acontecer. Verbas reforçada, para ajudar a resolver os problemas financeiros apresentados. Recrutamentos à força não foram suficientes para as prometidas 3 naus, ficando-se por apenas 2 naus. Finalmente com a atribuição do título de Marquês de Castelo Novo, se despediu do Rei, tendo lhe este dito que "só dele fiava a restauração daquele Estado".
Outubro, 5 - O Rei Dom João V regressa às Caldas da Rainha pela sexta vez.
A Doença do Rei e a Ida às Caldas
De um modo geral pode dizer-se que D. João V foi uma pessoa saudável. Umas bexigas em criança, papeira já depois de casado e mais um ou outro problema menor era tudo o que a Gazeta de Lisboa, noticiara, acerca dos problemas da saúde do Rei. A partir de 1740 porém, a correspondência real com o cardeal da Mota, começa este a queixar-se da sua saúde, nomeadamente da cabeça e de problema de visão. Até que na tarde de 10 de Abril de 1742, "estando sua majestade a despachar lhe sobreveio um estupor que o privou dos sentidos e ficou leso da parte esquerda e com a boca à banda", segundo noticiou uma gazeta manuscrita. Por entre orações e devoções no convento da Madre de Deus, por parte da Rainha, sangramentos e recomendações do cardeal-patriarca as igrejas e conventos, ordenando preces públicas com o Santíssimo exposto, pelas melhoras de El-rei. Mais dum mês de procissões e preces diversas, não trouxeram ao Rei, qualquer tipo de melhoras, mas mantendo-se contudo o seu estado estacionário, que se deveu segundo se disse na época à sua boa robustez física sem a qual teria por certo passado à sepultura. A versão oficial, do estado do rei, contrariava a que corria na família a avaliar pela correspondência de D. Mariana Vitória com sua mãe a Rainha de Espanha, onde relatava que pelo menos momentaneamente D. João V não se encontrava em seu juízo perfeito e noutras ocasiões falando mais do que devia, sobretudo quando falava de episódios inconvenientes da sua vida. Resolve então partir para banhos nas Caldas, não sem antes ter retribuído com generosas quantias às entidades que por ele oraram, promoveram as procissões ou a colocação de imagens santas no Paço Real. As águas das Caldas eram aconselhadas para um grande número de maleitas desde convulsões a queixas de cabeça e estômago a esperança de todos é que também pudesse trazer melhorias à paralisia que afectava o Rei. Os preparativos da deslocação foram apressados, porque não se tratava só da deslocação do Rei, mas dum conjunto de pessoas que faziam parte da corte, incluindo os respectivos criados. A sua permanência nas Caldas nesta primeira fase duraria cerca dum mês, só regressando a Lisboa no dia 17 de Agosto.
Outubro, 4 - Dom Frei Lourenço de Santa Maria de Melo, assume o Arcebispado de Goa. Começa a funcionar o chafariz das Amoreiras, ligado à construção do 'Aqueduto das Águas Livres de Lisboa'.
Outubro, 5 - Tempestade em Ponta Delgada, em São Miguel,
nos Açores. Vila Franca e Povoação sofreram também muitos estragos, assim como
as ilhas do Faial e Santa Maria.
Outubro, 24 - O Senhor de Beauchamp entrega ao secretário
de Estado a sua credencial como encarregado de negócios da França.
Novembro, 8 - Criação da Capitania de Goiás, no Brasil.
Novembro, 25 - Félix de Avelar Brotero, botânico, nasce em
Santo Antão do Tojal.
Dezembro, 8 - Sebastião José de Carvalho e Melo, embaixador
de Portugal à Coroa da Áustria, sai de Lisboa em direcção a Viena.
Dezembro, 15 - Sagração, na Igreja de Santo António dos
Portugueses, da capela de São João Baptista pelo Papa Bento XIV.
Ano de 1745
Jacobéus e Sigilistas
Frei Gaspar da Encarnação, o franciscano que nos últimos tempos de vida de D. João V e após a morte do valido cardeal da Mota, assume o papel não oficial de primeiro-ministro, sob a regência da Rainha D. Maria Ana que o detestava, tinha sido desde que fora em 1723, nomeado reformador dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, o principal protector duma corrente religiosa, nascida no interior dessa congregação. Chamados "Jacobéus" e condenavam a tendência devassa, que julgavam existir dentro da vida religiosa a quem chamavam "mundanos", por certo com muita razão. Estes defendiam entre outras coisas a legitimidade de violar o segredo de confissão, para denunciar cúmplices de pecados. Chamados de sigilistas atendendo a esta característica dos seus pontos de vista, foram os Jacobéus, veementemente condenados pelo então cardeal-patriarca D. Tomás de Almeida, primeiro nomeado por D. João V, e pelo inquisidor-mor D. Nuno da Cunha. Tratava-se dum combate aberto entre conservadores (inquisidores) e renovadores (Jacobéus) e na qual D. João V, já doente se não quis meter, deixando a resolução do conflito ao papa Bento XIV. A princípio o Papa começou por apoiar as teses da Inquisição, mas com o decorrer do conflito foi se equidistando, por vezes com bulas contraditórias que não fizeram mais do que prolongar o conflito. Frei Gaspar da Encarnação jacobéu, confrontava-se pois, para além dos já mencionados, com a maior parte dos jesuítas, naturalmente que não estava sozinho, alguns bispos mais ou menos abertamente apoiavam-no nas suas opções.
Início da construção do 'Palácio do Lavradio', no Campo de Santa Clara em Lisboa.
Fevereiro, 13 - Violento incêndio na zona da Ribeira das
Naus, em Lisboa, no local onde se vendia pólvora, junto à Mesa das Sete Casas.
Provocou vinte e oito mortos e oitenta e seis feridos, dos quais muitos
acabaram por morrer.
Fevereiro, 17 - Agostinho José da Costa Macedo, Professor
Régio de filosofia racional e bibliotecário da Biblioteca Pública nasce em
Lisboa.
Março, 18 - O estatuto do Colégio dos Reis de Vila Viçosa é
aprovado.
Março, 19 - A Família Real assiste à procissão da 'Ordem
Terceira da Penitência' que se realiza no Terreiro do Paço.
Abril, 22 - A diocese de São Paulo é criado.
Abril, 23 - A 'Vila de Nossa Senhora do Carmo' torna-se a
cidade de Mariana, em Minas Gerais, Brasil. Foi a primeira cidade das Américas
a ter um plano urbanístico, desenhado pelo Major José Fernandes Pinto de
Alboim. Dom António Caetano de Sousa entrega ao Rei Dom João V o 4.° tomo da
sua obra História Genealógica da Casa Real Portuguesa.
Abril, 24 - Dom João V propõe à Santa Sé a criação dos
Bispados de Tonkin e da Cochinchina.
Maio - A chegança, dança portuguesa de par solto, é
proibida.
Maio, 26 - Novo ataque marroquino a Mazagão, dirigido por
Ali Mansor, por ordem do novo Rei de Marrocos, Mulei Abdabla.
Junho, 25 - Dom Gabriel Ponce de Leon e Lencastre, Duque de
Aveiro, morre em Lisboa sem sucessão. Por este motivo abriu-se um litígio entre
Dom António de Lencastre Ponce de Leon, Duque de Banhos, e Dom José
Mascarenhas, Marquês de Gouveia, sobre a sucessão da Casa de Aveiro, que só
terminou em 26 de Maio de 1752.
Julho, 17 - Sebastião José de Carvalho e Melo chega a
Viena.
Agosto, 7 - Dom Rodrigo de Sousa Coutinho, estadista e
diplomata, nasce em Chaves.
Agosto, 25 - Fundação da Academia dos Aventureiros em
Santarém.
Setembro, 8 - António Álvares da Cunha, novo governador e
Capitão-general de Mazagão chega à praça.
Setembro, 9 – Bernardo Pereira de Barredo, regressado de
Mazagão, onde fora governador durante onze anos e meio, é recebido pelo Rei.
Setembro, 25 - Audiência Régia de despedida a Charles
Compton, embaixador da Grã-Bretanha em Lisboa.
Outubro, 4 - O Rei Dom João V regressa às Caldas da Rainha
para novo período de tratamento.
Outubro, 14 - Dom Frei João da Cruz, Bispo do Rio de
Janeiro, regressa a Lisboa, após ter renunciado.
Novembro, 5 - Dom Diogo Correia de Sá e Benevides, visconde
de Asseca, alcaide-mor do Rio de Janeiro, autor de diversos trabalhos
historiográficos, morre em Lisboa.
Novembro, 9 - Nomeação de Dom Marcos de Noronha como
governador de Pernambuco.
Novembro, 19 - Dom João Cosina é nomeado Bispo de Leiria.
Novembro, 21 - A Catedral do Maranhão é inaugurado.
Novembro, 27 - O Marquês de Boil, novo embaixador da
Áustria em Portugal é recebido pelo Rei.
Dezembro, 2 - O Almoxarifado e Contadoria de Lagos é
extinto.
Dezembro, 6 - Criação da diocese de Mariana, e da de São
Paulo, no Brasil.
Dezembro, 8 - Dom Frei Miguel de Bulhões é nomeado Bispo de
Malaca, mas não assumirá.
Dezembro, 9 - Nomeações Régias para cargos na magistratura
referenciado na Gazeta de Lisboa.
Dezembro, 13 - Sebastião José de Carvalho e Melo e Dona
Leonor Ernestina, Condessa de Daun assinam o contrato nupcial.
Dezembro, 15 - Dom Frei Manuel da Cruz, é nomeado Bispo de
Mariana, transferindo-se do Maranhão. Dom Frei Luís das Chagas é nomeado Bispo
de São Tomé. Dom Frei Francisco de São Tiago é confirmado Bispo do Maranhão.
Dom Frei António do Desterro é transferido da diocese de Angola para a do Rio
de Janeiro.
Dezembro, 18 - Sebastião José de Carvalho e Melo casa com
Dona Leonor Ernestina Daun.
Ano de 1746
Frei Manuel Monteiro publica Novo Método para se aprender a
Gramática latina, Luís António Verney o seu Verdadeiro Método de Estudar e
Pedro de Aucourt e Padilha as Memórias Históricas Geográficas e Políticas
Observadas de Paris a Lisboa.
A Colonização Açoriana do Brasil
A colonização do Brasil por força de imigração sistemática, teve o seu início pouco anos depois da descoberta de ouro, pois em 1532 uma expedição comandada por Martin Affonso de Souza, havia fundado uma primeira vila a que chamou São Vicente, que mais tarde se tornaria sede da próspera capitania. Desde essa altura numerosos portugueses foram se estabelecendo ao longo do litoral brasileiro desde a foz do Amazonas até o estuário do Rio da Prata. A emigração de casais açorianos para o Brasil começou no Século XVII, quando 50 famílias constituídas por 219 pessoas embarcaram, no dia 29 de março de 1677, no navio ‘Jesus, Maria e José’ na Horta, Ilha do Faial, com destino ao Grão Pará, atual Estado do Pará. A ideia era a fixação de famílias ao solo, para defender e povoar os actuais estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, pois a Coroa estava convencida que a melhor maneira de garantir a posse da terra era povoa-la. Em 31 de agosto de 1746, o Rei D. João V de Portugal comunicou aos habitantes das ilhas dos Açores que a Coroa oferecia uma série de vantagens aos casais ilhéus que decidissem emigrar para o litoral do sul do Brasil. As vantagens do convite eram evidentes:
- "Haverá um grande alívio nas ilhas
porque elas não mais verão padecer os seus moradores, uma vez que vão diminuir
os males da indigência em que todos vivem;"
- "Haverá um grande benefício para o
Brasil, já que os imigrantes irão cultivar terras ainda não exploradas."
O
edital acenava com uma série de mordomias, a partir do "transporte gratuito até os sítios que se lhes destinarem para as
suas habitações. e logo que chegarem aos sítios que haverão de habitar, se dará
a cada casal uma espingarda, duas enxadas, um machado, uma enxó, um martelo, um
facão, duas facas, duas tesouras, duas verrumas, uma serra com sua lima e
travadeira, dois alqueires (27,5 litros) de sementes, duas vacas e uma égua. No
primeiro ano se lhes dará a farinha, que se entende bastar para o sustento,
assim dos homens como das mulheres, mas não às crianças que não tiverem 7 anos
e, aos que tiverem até os 14, se lhes dará quarta e meia de alqueire para cada
mês. Se dará a cada casal um quarto de légua em quadra, para principiar as suas
culturas, sem que se lhes levem direitos nem salários algum por esta sesmaria.
E quando, pelo tempo adiante tiverem família com que possam cultivar mais
terra, a poderão pedir ao governador do distrito". Estabeleceu-se que
esses casais açorianos seriam colocados em Santa Catarina e nas suas
vizinhanças, "em que a fertilidade
da terra, abundância de gados e grande quantidade de peixes conduzem muito para
a comodidade e fartura desses novos habitantes". Em menos de um ano,
7.817 pessoas declararam o desejo de se transferirem para o outro lado do
Atlântico.
Rainha de Espanha Dona Maria Bárbara
Com a morte de Filipe V a filha de Dom João V, Dona Maria Bárbara de Bragança pelo seu casamento com o Infante Fernando de Bourbon, torna-se Rainha de Espanha. Tida como mulher de grande cultura, protectora das belas-artes, especialmente da música, teve como mestre Domenico Scarlatti, tendo rogado a seu pai quando do seu casamento, que deixasse Scarlatti partir para Madrid. Nomeado maestro de camera em 1746, da agora Rainha Maria Bárbara, ocupou esta posição até à sua morte, em 1757, formando com o, seu mestre uma das duplas mais profícuas da história da música ocidental, já que a rainha era exímia como intérprete do cravo. Domenico Scarlatti nasceu em Nápoles no ano de 1685 (ano em que também nasceram Häendel e Bach), e morreu em Madrid em 1757, consagrado como um dos maiores compositores para cravo do séc. XVIII, a par de Bach e Couperin. Scarlatti é um dos grandes, se não o maior virtuoso do período tardio do barroco. As sonatas que em Espanha viria a compor são testemunhos da grande capacidade de composição e execução de Scarlatti, e nelas inova de uma maneira nunca vista, introduzindo habilidades como mãos cruzadas, dando maior liberdade de composição e execução aos compositores vindouros. A sua música é extremamente inventiva, e as suas sonatas para cravo são densas experiências auditivas, devido à sua complexidade. Um testemunho de um recital por Scarlatti afirmou que dentro do cravo se encontravam mil diabos, tal era a chama que saía daquele génio.
Janeiro, 1 - Recepção à corte e ao Corpo Diplomático, por ocasião do ano novo.
Março, 9 - Carta Régia proibindo os estrangeiros de serem
cidadãos de Macau, pelo prejuízo que de tal resultaria para o comércio local.
Abril, 26 - Dom António Caetano de Sousa apresenta ao
monarca o volume V da sua obra História Genealógica da Casa Real Portuguesa.
Maio, 4 - Na Índia, a expedição comandada pelo Marquês de
Castelo Novo sai de Goa para atacar a fortaleza Marata de Alorna.
Maio, 5 - Conquista da fortaleza de Alorna, na Índia.
Criação em São Paulo de uma junta de Missões, para se ocupar das questões
relacionadas com os índios.
Junho, 9 - Com a morte de Dom Filipe V, no Palácio do Bom Retiro, Dom Fernando VI, seu filho, ascende ao trono de Espanha.
Junho, 25 - Nascimento da Infanta Dona Maria Francisca,
filha de Don José e de Dona Mariana Vitória.
Agosto, 31 - Por Resolução Régia as famílias dos Açores que
quisessem emigrar para o Brasil seriam transportadas gratuitamente por barco e
por terra para as terras que lhes fossem distribuídas.
Setembro, 7 - Fundação da 'Academia Tirões Bracarenses'.
Setembro, 26 - O Rei Dom João V visita pela décima vez o
'Hospital das Caldas da Rainha' para tratamento.
Setembro, 29 - Dom Tomás da Silva Teles, Visconde de Vila
Nova da Cerveira, embaixador de Portugal, chega a Madrid, para começar as
negociações sobre os limites do Brasil.
Outubro, 10 - A Família Real regressa a Lisboa vinda das
Caldas da Rainha.
Outubro, 11 - Audiência de apresentação do Duque de
Sottomayor, embaixador espanhol.
Outubro, 14 - Audiência de apresentação do Conde de
Chavigny, nomeado novamente embaixador de França em Lisboa, a Dom João V.
Novembro, 13 - O Cardeal Patriarca de Lisboa sagra
solenemente a Basílica Patriarcal de Lisboa.
Novembro, 23 - As forças militares comandadas pelo Marquês
de Castelo Novo, atacam a fortaleza Marata de Tiracol.
Dezembro, 3 - A praça de Rari rende-se ao Vice-Rei da
Índia, assim como a frota marata também se rende.
Dezembro, 26 - Recepção do Rei Dom João V ao Corpo
Diplomático.
Ano de 1747
Diogo Barbosa Machado pública o 3.º tomo da sua obra Memórias
para a História de Portugal, que compreendem o governo D'el Rei Dom Sebastião,
único do nome, desde o ano de 1554 até o de 1561,começada a publicar em 1737.
Começo de construção do Palácio de Queluz. A Capela de São João Baptista, na
igreja de São Roque em Lisboa, começa a ser montada. O Marquês de Valença
publica a sua Crítica à Famosa Tragédia de Cid, a primeira tragédia de Pierre
Corneille executada pela primeira vez em 1637. Dom José de Portugal publica os
'Elogios das Rainhas, Mulheres dos Cincos Reis de Portugal do Nome de João'.
Queluz, que tem sido não poucas vezes comparado com o Palácio de Versailles, difere do conjunto de Luis XIV (aliás um pouco anterior) no sentido de escala e de proporções que a sua traça revela, quiçá com uma distribuição de valores gráficos mais equilibrada, dentro de um neoclassicismo ainda muito apegado ao formulário rococó. Apenas a força e exuberância do Pavilhão concebido por Rotillion de fortes influências europeias francesas, austríacas - constitui nota mais avantajada e «evoluída» pois tudo o resto é bem português, nas escalas e no próprio espirito artístico.
Abril, 10 - Dom José Manuel da Câmara é elevado ao
cardinalato e mais tarde feito Patriarca de Lisboa.
Abril, 22 – Nova ida do Rei Dom João V para as Caldas da Rainha.
Abril, 22 - Dom António Guedes Pereira, Secretário de
Estado da Marinha e Negócios Ultramarinos morre em Lisboa. O Rei Don João V
parte de novo para as Caldas da Rainha, a sua 11.ª visita ao Hospital.
Abril, 23 - O Papa Bento XIV visita a Capela de São João
Baptista, armada antes de ser remetida para Lisboa.
Abril, 27 - Sagração da Igreja do palácio das Necessidades,
em Lisboa.
Abril, 25 - Inauguração em Viseu do convento de São Filipe
de Nery da Congregação do Oratório.
Abril, 26 - Quatro religiosos dominicanos portugueses, em
missionação na China são degolados.
Abril, 27 - Gomes Freire de Andrade, antigo Governador do
Rio de Janeiro, morre.
Abril, 30 - Notícias de Campo Maior informam ter passado por aquela praça
uma nuvem de gafanhotos, causando grandes danos à agricultura.
Maio - Iniciam-se obras de ampliação do Hospital das Caldas
da Rainha. Os planos foram desenhados e realizadas por Manuel da Maia.
Junho, 13 – Nascimento em Lisboa de António Caetano do
Amaral, historiador.
Julho, 6 - Criação da igreja Catedral de São Paulo, no
Brasil.
Agosto, 3 - Estabelece-se uma Academia, denominado
‘Congresso dos Ocultos’, no palácio do Marquês de Alegrete.
Agosto, 5 – Assinatura do Regimento que regulamenta o
transporte para o Brasil de casais das ilhas da Madeira e dos Açores.
Setembro, 26 - O Rei Dom João V parte de novo para as
Caldas, acompanhado pelo seu filho o príncipe Dom José.
Outubro, 4 - Morre em Lisboa o Cardeal João da Mota e
Silva, secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, conhecido por
"cardeal da Mota".
A Morte do Cardeal da Mota
Como já havia descrito a criação das secretarias de Estado em 1736, não passou dum expediente organizativo, encontrado na altura para uma melhor gestão dos assuntos correntes do Reino, em nada pusera em causa a importância política de D. João da Mota e Silva, conhecido como o Cardeal da Mota, um vimaranense nascido a 14 de Agosto de 1685 e que muito embora não ostentasse nenhuma secretaria, na prática o papel era o de Primeiro-Ministro. Recorde-se que aos secretários de Estado, apenas competia, além dos deveres de fidelidade e sigilo, responder ao que lhe fosse perguntado, sem nada querer decidir. A importância do cardeal da Mota, é bem maior ainda após o agravamento da doença do rei em 1742, a rainha é transitoriamente feita regente, com a assistência do príncipe herdeiro D. José, ao que parece contudo, quando também Mota adoeceu, o País ficou paralisado, pelo menos assim se queixava a princesa Mariana Vitória na correspondência que trocava com sua mãe. João da Mota e Silva, exerceu o cargo de cónego da Colegiada de São Tomé, tendo sido feito cardeal por Bento XIII no Consistório de 2 de Novembro de 1727, a pedido de João V. Foi eleito arcebispo de Braga em 1732, mas nunca obteve confirmação da Santa Sé. Faleceu em 4 de Outubro de 1747.
Novembro, 1 - Assinatura de uma Convenção Postal Luso-Espanhola, assinada por Fernando Pereira da Silva pela parte portuguesa.
Novembro, 21 - Nomeação de António Freire de Andrade
Encerrabodes para embaixador na Grã-Bretanha e de Manuel Freire de Andrade e
Castro para embaixador nos Estados Gerais.
Ano de 1748
É colocado um relógio numa das torres da Sé de Lisboa.
Francisco José Freire publica Método Breve e Fácil para Estudar a História
Portuguesa.
Janeiro, 31 - Providencial para acreditar o papel-moeda.
Fevereiro, 13 - Regulamentação dos socorros militares a
enviar ao Estado da India.
Março, 3 - Primeira audiência de Andrade Encerrabodas,
embaixador em Londres.
Março, 11 - Partida de Manuel Freire de Andrade e Castro
para a Holanda como embaixador.
Março, 20 - Realizam-se exercícios militares em Pedrouços
com forças das várias armas.
Abril, 16 - São descobertas em Torres Novas moedas romanas
do Reinado de Honório e Teodósio.
Maio, 3 - É criada a Capitania de Mato Grosso.
Junho, 22 - Colocação da primeira pedra do edifício do
'Real Colégio de São Paulo', em Coimbra.
Julho, 3 - Mercê a Inácio Barbosa Machado do lugar de
Desembargador da Relação do Porto.
Julho, 9 - Nasce em Lisboa Círilo Machado, pintor, escultor
e arquitecto.
Julho 28 - Abre-se ao culto a igreja dos Clérigos no Porto.
Agosto - Dom Frei Guilherme de São José resigna como Bispo
do Pará.
Agosto, 6 - Nomeação do Conde de Atouguia como Vice-rei do
Brasil, de Luís Correia de Sá como governador de Pernambuco, de Dom Antão Rolim
de Moura para governador de Mato Grosso, de Dom Marcos de Noronha para
governador de Goiás, de Luís Garcia de Bivar para governador da Colónia do
Sacramento, no actual Uruguai, do Conde de Lavradio para governador de Angola e
de António Rodrigues para São Tomé.
Setembro, 13 - Lei tornando obrigatória, no Maranhão, a
circulação de moeda provincial.
Setembro, 24 - Partida do Rei Dom João V de Lisboa para as
Caldas, a fim de se submeter ao tratamento de águas. A última das suas visitas
ao Hospital.
Outubro, 28 - Na China foram martirizados dois padres
jesuítas e cinco dominicanos.
Novembro, 9 - Por Carta Régia, o Marquês de Castelo Novo,
Vice-rei da Índia, é feito Marquês de Alorna.
Dezembro, 8 - Colocação da primeira pedra do novo convento
de São Francisco em Lisboa.
Dezembro, 11 - Édito de Dom João V sobre os privilégios dos
embaixadores estrangeiros e a proibição de se buscar asilo, nas respectivas
residências.
Dezembro, 16 - Incêndio na casa do impressor da
Universidade de Coimbra.
Dezembro, 23 - 'Motu-proprio' do Papa Bento XIV, concedendo
a Dom João V e seus sucessores o título e denominação de 'Fidelíssimo'.
A
Pragmática Contra o Luxo
Esta pragmática contra o luxo, em que se regula a moderação dos adornos, e se proíbe o luxo e excesso dos trajes, carruagens, moveis e lutos, o uso de espadas a pessoas de baixa condição, e outros diversos abusos, que necessitavam de reforma, tiveram, também, o objectivo de trazer a exclusividade do luxo para a Família Real e acentuar, por esta via, a distância política entre a casa real, a aristocracia e as restantes elites, reforçando, por conseguinte, os efeitos do poder espectáculo. Esta lei, interditava também as rendas de uso caseiro e pessoal, principalmente as de bilros, fabricadas em Vila do Conde e muito em voga na época, ou rendas doutros locais como Peniche, cascais ou Setúbal, impondo sanções muito pesadas (pecuniárias, prisão, até degredo...) a quem a não cumprisse. Os excessos que se estavam a cometer, já vinham desde os finais do Reinado de D. Pedro II, mas agravaram-se durante o Reinado de D. João V, pelo que se devem entender as pragmáticas, também como formas de controlo e disciplina, com o objectivo de servirem a distinção e a diferenciação social. Foi longo o processo que antecedeu a publicação desse documento, ao longo de 31 capítulos determinava-se o que se deveria praticar em relação aos vários itens, mas em todos os casos sempre uma ressalva que a lei não se estendia ás igrejas e ao culto divino. A lei também se aplicava às colónias, detalhando inclusivamente que os negros e mulatos, deviam usar, impedindo-os de trajar do mesmo modo que os brancos. Tudo era regulamentado, não só as roupas ou jóias como objectos de decoração, cristais e vidros, mesmo que imitações de pedras preciosas. Quanto ao mobiliário nada de dourados ou prateados, só admitidos em molduras ou espelhos. Sobriedade máximas nos veículos, nas carruagens e liteiras, nada de figuras ou máscaras, apenas as armas. Enfim um conjunto de detalhes muito vasto, porém com algo de positivos, não se permitir de um modo geral importações, obrigando-se a produção em território nacional, ou em caso específicos vindos da Índia. O que se disse atrás sobre o fundamento da pragmática, para marcar a diferença social, fundamenta-se no facto da proibição da cor vermelha nas librés, por ser essa a cor das librés da Casa real. Estavam associadas medidas de segurança, como a proibição do uso de carapuças ou capotes que não deixassem ver a cara. Foi grande a contestação possível como tentou explicar a Mesa do bem Comum do Comércio, na representação que enviou ao Rei, logo que a Pragmática foi publicada, apresentando a sua argumentação quanto aos prejuízos que a referida lei iria trazer ao País e não demoraria a comprovar-se. Quanto custou a fidelidade? O Reinado de D. João V, continua a ser uma época que gera grande controvérsia, uns apontados ao rei apenas o epíteto de gastador, realçando apenas a forma desbragada com que delapidou a colossal fortuna que em ouro e diamantes entrava regularmente em Portugal. Para outros, preferem não realçar este característica mas a sua extraordinária acção em prole das mais variadas artes, quer proporcionando enriquecimento de conhecimento no exterior, quer "importando", artesãos e mestres dos mais variados ofícios e artes, que aqui desenvolvessem trabalho, semeando conhecimento e "artes de bem-fazer". Em especial os historiadores brasileiros, na sua maioria preferem sempre focar as "extorsões", que foram feitas na sua pátria, por um Rei perdulário, referindo as enormes somas de dinheiro, que foram gastas por exemplo com o papado chegando a afirmar alguns que só pelo título de Fidelíssimo terão sido pagos 450 milhões de cruzados, verba que nem o nosso maldizente Oliveira Martins, atinge já que se fica por menos de metade. Realmente o papa Bento XIV, deu a D. João V (e aos seus descendentes) o título de “Fidelíssimo”, aceitando a exigência do Rei de ser tratado da mesma maneira que as três grandes monarquias católicas da Europa - a França, a Áustria e a Espanha - e honrou a Sé de Lisboa com o título de Patriarcal, que D. João V recebeu em 23 de Dezembro de 1748, o título comparável ao dos Reis franceses, o de Rei Cristianíssimo. De alguma forma, e muito embora muito dinheiro se tenha gasto, o certo é que as relações eram excelentes e se o Rei obteve da Santa Sé grandes privilégios, também nunca negou o seu apoio e auxílio ao papado, sempre que solicitado, coisa que como se viu, não teve inteira correspondência, por parte de outras coroas europeias bem mais poderosas.
Dezembro, 24 - Assume o Bispado de Mariana Dom Frei Manuel da Cruz, antes titular da diocese do Maranhão.
Dezembro, 26 - Beija-mão Real à corte, nobreza e corpo
diplomático.
Ano de 1749
Janeiro, 12 - O Conde de Lavradio toma posse do Governo de
Angola.
Fevereiro, 9 - Chega à diocese do Pará o novo Bispo, Dom
Miguel de Bulhões.
Março, 28 - Morre em Lisboa Manuel de Azevedo Fortes,
'Engenheiro-mor do Reino' e autor de escritos vários, sendo o introdutor em
Portugal da filosofia de Locke.
Abril, 19 - Alvará proibindo a exportação de trapo, para
protecção da fábrica de papel da Lousã.
Maio, 26 - Dom João da Bemposta é reconhecido por Dom João
V como filho natural do Infante Dom Francisco. Casará com a Marquesa de
Abrantes.
Junho, 1 - Grandes festas assinalam em Campo Maior a
comemoração do seu patrono, São João Baptista.
Junho, 14 - Parte de Belém do Pará uma expedição que atinge
o Mato Grosso.
Julho, 1 - Intensa vaga de calor assola a região de Santarém.
Julho, 3 - Arrematação do contrato para o envio de 4 mil
colonos açorianos, com destino à Ilha de Santa Catarina, no Brasil.
Agosto, 30 - Sebastião José de Carvalho e Melo realiza a sua
audiência de despedida, em Viena.
Setembro,11 - Joaquim Fidalgo da Silveira é nomeado
embaixador em Haia, nos Estados Gerais.
Outubro, 6 - O Rei Dom João V regressado a Lisboa, vindo
das Caldas da Rainha.
Outubro, 9 - Dom Luís da Cunha, embaixador de Portugal,
morre em Paris.
Novembro - Dom Marcos de Noronha assume o governo da
capitania de Goiás no Brasil.
Novembro, 27 - Nomeação de Frei António da Madre de Deus
Galvão para o Bispado de São Paulo.
Dezembro, 17 - Dom Luís de Meneses e Ataíde, 10.º Conde de
Atouguia, assume o governo do Brasil, enquanto Vice-rei.
Ano de 1750
Janeiro, 7 - Alvará aumentando os ordenados dos Ministros.
Janeiro, 13 - É assinado o Tratado entre o Rei Dom João V e o Rei Fernando VI de Espanha sobre os limites da América do Sul, em que Portugal cede a Colónia do Sacramento e recebe o território das Sete Missões.
Janeiro, 20 - O Rei Dom João V ratifica o 'Tratado de Madrid' de 14 de Janeiro.
O Tratado de Madrid
A assinatura deste tratado, também designado como dos Limites é assinada entre D. João V e Fernando VI por parte da Espanha sobre os limites das possessões portuguesas e espanholas na América do Sul. O diploma consagrou o princípio do direito privado romano do uti possidetis, ita possideatis (quem possui de fato, deve possuir de direito), delineando os contornos aproximados do Brasil de hoje. Aquele tratado assinado a 13 de Janeiro de 1750, consta de duas partes uma de estruturação geográfica dos territórios dos dois países e outra da defesa recíproca contra ataques inimigos. Em termos gerais pode dizer-se que este Tratado ao revogar o velho Tratado de Tordesilhas, acaba por traçar aquilo que é hoje o Brasil. Com efeito, antes do Tratado de Madrid, o meridiano de Tordesilhas excluía a região onde é hoje o território gaúcho, que era posse espanhola. Assim o Rio Grande Sul, o território das Sete missões e outras áreas no interior do continente, ficam em definitivo pertença portuguesa e a colónia de Sacramento é cedida à Espanha. As negociações tinham começado 4 anos antes mas apesar de Tomás da Silva Teles (Visconde de Vila Nova de Cerveira) ter representado Portugal, foi Alexandre de Gusmão o redactor do Tratado.
Fevereiro, 21 - Alvará concedendo ao Correio-mor o direito de nomear Meirinho para as suas diligências, tendo as detenções efectuadas apenas recurso para o monarca.
Março, 21 - Dom Frei Francisco de Santa Rosa Viterbo, Bispo de Naquim, morre na China.
Maio, 6 (Os oratorianos) Os padres da Congregação de São Filipe Neri, tomam posse do 'Real Hospício das Necessidades em Lisboa'.
Maio, 19 - Dom Marco António de Azevedo Coutinho, secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra e diplomata, morre em Lisboa.
Junho, 1 - Andrade Encerrabodas, embaixador em Londres é transferido para Roma.
Junho, 12 - Lei isentando os moradores do Algarve e Ilhas do dízimo de alfândega sobre o trigo, centeio, cevada, farinha, legumes e carnes, que enviassem para Lisboa.
Junho, 18 - Dom Joaquim Fidalgo da Silveira, Alcaide-mor de Melgaço, parte para Londres para ocupar o posto de embaixador.
Julho, 31 - Inicio do Reinado de Dom José I que durou 27 anos. Em 31 de Julho de 1750 morreu o monarca, e subindo ao trono seu filho Dom José, a Rainha viúva, que se tornara muito amiga da mulher de Sebastião de Carvalho, que fora nomeada sua dama de honor, instou com o novo soberano para que nomeasse o antigo embaixador secretário de Estado dos negócios da guerra e estrangeiros. Assim se fez logo no dia 3 de Agosto, sendo ao mesmo tempo nomeado secretário de Estado da marinha o ultramar Diogo de Mendonça Corte-Real, filho do antigo e célebre ministro de Dom João V. Com Pedro da Mota, secretário de estado, que o Rei Dom José encontrou em exercício, ficou o ministério completo. Fontes conhecidas na altura indicavam em Maio desse ano que Carvalho e Melo não seria, secretário, mesmo atendendo ao trabalho que havia desenvolvido em Londres, como "embaixador" e as boas recomendações de Dom Luís da Cunha. A morte de Azevedo Coutinho, secretário dos Negócios Estrangeiros, em 6 de Maio, vem tornar premente a substituição por "alguém". Recaiu a escolha em Carvalho e Melo, pela influência da sua segunda mulher, junto da Rainha-mãe ambas austríacas de nascimento e curiosamente como se verá, por influência dos jesuítas.
Agosto, 3 - Nomeação de Diogo Corte Real (filho) e Sebastião José Carvalho e Melo para as secretarias da Marinha e Negócios Estrangeiros.
Agosto, 10 - Grande incêndio do Hospital de Todos os Santos. Havia apenas bem poucos dias que estava no poder, quando rebentou o terrível incêndio do Hospital de Todos os Santos, a 10 de Agosto do 1750, que serviu logo para manifestarem a energia e desembaraço de Sebastião de Carvalho. Hospital Real de Todos os Santos, ocupava toda a actual área da praça D. João I (Praça da Figueira), tendo por limites o Convento de S. Domingos a norte, a rua da Betesga a sul, rua do Borratem a nascente e a praça do Rossio a poente. O incêndio destruiu-lhe 11 enfermarias e quase todas as áreas adjacentes.
Setembro, 7 - Aclamação de Dom José I como Rei de Portugal. Como era norma, o acto de aclamação decorreu no Terreiro do Paço construindo-se uma enorme varanda no Paço da Ribeira, onde se colocaram os lugares para cada uma, das Eminências convidadas e no centro um dossel com a cadeira régia. Após grande cortejo que o Rei encabeçava seguido dos moços de câmara e restante pessoal de sua proximidade, depois os Grandes e títulos, com os oficiais da Casa Real ao meio. Os secretários de Estado, Corte-Real e Carvalho e Melo, o Duque de Lafões, regedor de Justiça, atrás o Infante D. Pedro, em funções de Condestável do Reino. Enfim um cortejo que exprimia hierarquias entre os nobres, o clero, os inquisidores numa palavra o poder nas sua totalidade. Após o que se seguiu o juramento real, com as palavras habituais e as promessas de governar bem, que se esperava essencialmente consistisse em ministrar a justiça, fazendo respeitar os privilégios de cada um, ou seja manter as coisas nos seus lugares. Depois competia ao povo aclamar, de preferência dando mostras de grande alvoroço e alegria, como gostavam de referir os cronistas nesse tempo. Destacou-se desse acto a ausência da nobreza da província, quase exclusivamente se apresentavam neste acontecimento apenas a residente em Lisboa, sendo certo que o acto era deliberado já com antecedentes doutros acontecimentos no tempo de seu Pai. Em seguida a relevância dada ao secretário de Estado Corte-Real e não de Carvalho e Melo, também na altura já secretário de Estado, mas pelos visto ainda de menor qualidade. As mercês e distinções foram profusamente distribuídas pelos referidos Grandes e para Damas da corte ao serviço da Rainha, foram igualmente nomeadas muitas senhoras. O novo Reinado principiou, assim, sob o signo da liberalidade régia. Terminaria de forma bem diversa como depois se verá.
A Frouxidão do Príncipe do Brasil
Os últimos anos da vida de D. João V, corresponderam a um período de verdadeiro marasmo nacional, que correspondeu à doença do Rei e à regência da Rainha, num período que coincide com a morte em 1747 do seu principal valido o Cardeal da Mota. Deve pois referenciar-se esse período entre 1747 e 1750, como um tempo em que a doença de D. João V o afastou da governação ao mesmo tempo, que as lutas entre as principais facções dentro da corte se intensificavam, com a ascensão da influência de Frei Gaspar da Encarnação, uma vez desaparecido o Cardeal da Mota. Descendente dos Condes de Santa Cruz, franciscano, a intimidade com D. João V, acontecia já de há muitos anos, pois foi à sua guarda que ficaram os já aqui referidos filhos bastardos de El-rei, conhecidos como os meninos da Palhavã, talvez esta a razão da antipatia que a Rainha D. Maria Ana lhe votava. O outro pólo congregador de influência na Corte por esta altura era Alexandre de Gusmão, Secretário particular do Rei desde 1730 até á sua morte. Brasileiro, teve naturalmente grande importâncias nas decisões tomadas sobre aquela importante parte do reino. Homem de grande cultura, frequentou a Sorbonne, e foi embaixador em Roma. Foi pois em torno destes dois homens que se moveram todas as influências, muito embora se possa em verdade dizer que o franciscano Gaspar da Encarnação, (nascido Gaspar Moscoso e Silva), havia ganho a Gusmão nesse computo de jogo do poder. Claro que os derrotados, murmuravam contra o príncipe do Brasil, D. José, por não por cobro por frouxidão aos desmandos de Frei Gaspar.
Uma Princesa Descontente
Ao contrário do que acontecia, noutras cortes, ou mesmo na tradição monárquica portuguesa, o príncipe D. José e sua esposa não tiveram casa separada, viveram sempre junto do Rei Dom João V e da Rainha. Atendendo a que só aos 36 anos Dom José herdou a coroa portuguesa por morte de seu pai, viveu muita da sua vida de adulto e já casado sem a independência que o casal deveria ter e que causou alguma tensão, conforme se pode extrair da inúmera correspondência trocada pela jovem princesa com a sua família. O estilo austero e maçador da corte portuguesa, foi diversas vezes relatado para Madrid, naturalmente que ao princípio mais ténue, mas cada vez mais frequente à medida que o tempo ia passando, como é natural. Aconteciam alguns eventos musicais, de que a corte em geral gostava, em especial a jovem princesa, mas a quantidade não era suficiente, por certo bem menor do que a que havia na corte espanhola, pois durante todo o Reinado de Dom João V só se terão representado 6 óperas todas cómicas, apenas durante o Carnaval. Assistiu por certo à representação da primeira ópera de António José da Silva O Judeu que foi “Vida do Grande D. Quixote de la Mancha e do gordo Sancho Pança”, que se representou no Teatro do Bairro Alto em Lisboa em Outubro de 1733. D. Mariana Vitória era uma apaixonada pelo canto e terá ‘contagiado’ o príncipe, o que se irá reflectir no seu futuro Reinado, nomeadamente entre 1750 e 1755. Ela sempre referia o seu contentamento por esses espectáculos, referindo que era o "nosso único entretenimento". Quanta tristeza deixava transparecer nas suas cartas, por não poder assistir em Madrid, às exibições do cantor castrado Farinello, o mais famoso na altura. A progressiva atracção da Rainha Dona Maria Ana de Áustria pela religião, foi tornando a vida na corte cada vez mais austera, contribuirá para o avolumar do descontentamento da princesa, pelo regime tirânico instituído pela Rainha, levando a jovem princesa que chega a dizer a seu pai "se não fosse a ternura que tenho pelo meu príncipe pedir-vos-ia que me tirassem de uma tão grande escravatura" assim se referia ela ao ambiente que se vivia na corte.
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