Ordem
que Sua Majestade foi servido
(para se observarem no quarto do príncipe
nosso senhor, neto do Rei, D. José)
Sua
Majestade Fidelíssima, referida, abaixo.
"Se
deve ponderar que nas cortes há sempre temerários, que pretendem abusar da
benignidade dos príncipes, principalmente nos princípios dos seus reinados,
tentando-lhes os ânimos com alguns actos de ousadia para verem se acham neles
tolerância"
As
ordens são para o neto do Rei, D. José, príncipe da Beira ao nascer, e príncipe
do Brasil, quando a mãe, a Rainha D. Maria I, subiu ao trono em 1777, interessantes,
porque mostram o tipo de educação se prestava às crianças de sangue real. Interessante,
também, é a informação que dá sobre aquilo que chama a provocação da Junta dos
Três Estados, onde pontificava a grande nobreza do reino, no início do Reinado
de D. José.
Frei Manuel do Cenáculo
INSTRUÇÕES
DADAS POR S. M. REI D. JOSÉ I
(Para
a educação de seu Augusto neto o Sereníssimo Príncipe D. José)
Tenho
resoluto que o meu príncipe sobre tudo muito amado e prezado neto seja servido
em quarto separado desde o dia de Nossa Senhora da Conceição em diante. Será
servido em cada semana por um dos gentis‑homens
da minha câmara, que tenho nomeado para este importante exercício, por um dos
moços da câmara da minha guarda‑roupa dos que
acabo também de nomear, por um reposteiro daqueles de meu particular serviço,
que ao mesmo tempo nomeei; e por um varredor dos que determinei para a limpeza
do referido quarto. A ele não subirão pessoas algumas, que não sejam reais, de
qualquer estado, e condição que possam ser, além das acima nomeadas sem
especial ordem minha. O que porém não se entenderá compreender os ministros que
têm assento, no meu real Conselho de Estado; o confessor do mesmo príncipe Frei
Manuel do Cenáculo; e o instrutor de ler, e escrever António Domingues do
Passo; os quais terão sempre entrada livre no sobredito quarto. Além dos
referidos será chamado o cabeleireiro Carlos de Sousa quando for necessário
para executar o que pertence ao seu ofício. Logo porém que houver feito o
serviço para que for chamado, será imediatamente despedido sem que se lhe
permita fazer mais dilação. A dignidade, a decência, e o costume das cortes
fazem necessário que as conversações com o príncipe sejam reduzidas somente aos
gentis‑homens da câmara, moços da guarda‑roupa, que o servem e aos ministros do meu Conselho
de Estado, sem que se possa permitir que os reposteiros, varredores,
cabeleireiros, ou quaisquer outras pessoas destas, e semelhantes foros tenham
com o mesmo príncipe a menor prática Antes pelo contrário deverão sair do
quarto, logo que houverem feito o serviço que necessário for. O que porém se
não entenderá com o reposteiro, que deve ficar em cada noite para executar
prontamente o que lhe for ordenado no serviço do príncipe; ou seja pelo
gentil-homem da câmara; ou pelo moço da guarda-roupa, que dormir no referido
quarto. A tenra idade, e a compleição do príncipe não permitem, que sua
atenção, e a memória sejam gravadas com todos os documentos religiosos, e
políticos que só em mais adiantados anos se farão oportunas. É contudo
necessário que o príncipe se costume desde logo a repartir as horas, para viver
com método, que em tão altas pessoas se faz indispensável. Sem que de repente
seja obrigado o mesmo príncipe a levantar-se cedo com desvelo prejudicial à sua
preciosa saúde; é preciso contudo que com cinco, dez, e quinze minutos de
antecipação em cada dois, três ou quatro dias, se vá reduzindo gradual, e
periodicamente ao estado de poder despertar sem prejuízo a horas competentes
para cumprir com as suas obrigações de cristão, de filho, e de príncipe: vindo
beijar as mãos de seus avós e pais pela parte do trânsito interior, de que o
camarista da semana deve ter uma chave, logo que acabar a oração de levantar da
cama: indo com a sua mãe à Russa, se couber no possível: e voltando
imediatamente para o quarto via recta; sem que nunca se perca de vista na ida,
e na volta, de sorte que seja divertido para conversações, que lhe tomem o
tempo desnecessariamente. As mais precisas conversações por ora dentro do
referido quarto são as que devem verter sobre as coisas mais necessárias, e
mais próprias da idade do príncipe. Observando-se com exacta vigilância o seu
comportamento com as pessoas, que forem obsequiá-lo: se lhe deve sugerir a
propósito: Primo a compostura do corpo, e figura, em que estará enquanto lhe
falarem, sem fazer gestos nem contorções contrárias à gravidade, e muito mais
ao carácter da sua grande pessoa: secundo que quando falar com as ditas pessoas
deve olhar para elas fixamente; sem por os olhos no chão, como envergonhado, ou
noviço; e sem distrair a vista com demora para outros objectos: tercio que se
deve propor sempre que falar aos vassalos a ideia, não só de lhes imprimir
respeito com aquela modéstia, e compostura de acções; mas também de lhes ganhar
o amor pela afabilidade, com que os receber: quarto que conseguem isto facilmente
os príncipes sem algum outro trabalho, que não seja ou o de uma ou duas
palavras obrigantes; ou ainda somente o de um certo arzinho, e afável, quando
lhe têm feito algum serviço, ou lhe dizem coisa digna de reconhecimento, que
não é impróprio nos príncipes; mas neles tão natural como o é a sua grandeza. Passando
às outras conversações mais interessantes, que o tempo irá sazonando cada dia
mais oportunamente. E sendo necessário que o príncipe não veja, nem ouça coisa
alguma que não seja ordenada a formar-lhe o espírito sobre as boas máximas, que
eu desejo, e espero em Deus que louvavelmente governem todas as acções de sua
vida. Advirto a este respeito o seguinte. É muito próprio dos anos em que o
príncipe se acha, gostar de ouvir contar histórias, e pedir que lhas contem
para se divertir. E neste mesmo sentido se lhe devem sugerir, e fazer gostar
com estilo de conto e com a suavidade de modo coisas tão importantes, e
necessárias como as que vão abaixo indicadas. Sendo da grandeza de Deus Nosso
Senhor, dar obras da sua omnipotência na criação do Mundo; e da Religião
Cristã, que professamos, as primeiras ideias, que se devem dar ao príncipe: Há
para lhe fazer ver e imprimir a excelente história do Velho e Novo Testamento
representado com figuras pelo insigne “Theargo Sacy”; porque cada figura é um
útil registo para a recreação das primeiras idades; e nelas se imprimirem assim
as úteis noções destes significados. Nenhuma prudência será porém demasiada a
respeito desta necessária aplicação para eleger, e praticar o virtuoso meio
entre as duas perigosas extremidades da irreligião, e do fanatismo: porque é
certo que uma e outra têm levado a par de si as ruínas dos reinos, e impérios. Porque
porém a referida prudência neste ponto pertence mais principalmente ao cuidado
do confessor; tudo o que resta fazer aos outros assistentes é desviar com
desteride o príncipe do que pode distrair-lhe o ânimo, e fazê-lo declinar, ou
para a incredulidade; ou para a incontinência: sem contudo se lhe abaterem os
espíritos e se lhe tirar o brio juvenil, o que se conseguirá permitindo-se-lhe
com dissimulação, e sem ela (conforme o caso pedir) tudo o que no s limites da
cristandade, e da nobreza costuma permitir-se aos príncipes pelos que são
prudentes. Não se devendo tão pouco criar um príncipe filósofo com aplicações
abstractas, e com discursos metafísicos. É igualmente indispensável que as
ditas conversações familiares que se tiverem no referido quarto, vertam sobre
coisas nobres, úteis, práticas, e tais como as que vão indicadas nos exemplos
seguintes.
Primeiro
exemplo.
Pode
introduzir-se por conversação na presença do príncipe uma disputa sobre a
reputação. Perguntando um que coisa ela seja e respondendo outro: que é o calor
natural que vivifica os corpos das monarquias: que por isso foi sempre a mais
preciosa, e quando se chegar na Crónica de el-rei D. João II ao facto da
execução feita na pessoa do Senhor Duque de Bragança Dom Fenando, se deve
estabelecer que a dita execução foi de uma necessidade indispensável. E isto se
deve provar logo in continente tendo-se pronta a história de el-rei Dom Manuel
pelo bispo Jerónimo Osório, referindo-se o que ele escreveu judiciosissimamente
no princípio do livro 1° sobre o referido facto. Com este assunto se deve
ponderar que nas cortes há sempre temerários, que pretendem abusar da
benignidade dos príncipes, principalmente nos princípios dos seus reinados,
tentando-lhes os ânimos com alguns actos de ousadia para verem se acham neles
tolerância, que habilite para maiores indulgências os mesmos temerários: que
assim sucedeu com El-Rei nosso Senhor nos primeiros tempos do seu governo: com
os tribunais, e pessoas de maior graduação: que a Junta dos Três Estados fez
diferentes consultas insultantes contra as secretarias de estado, que na
realidade constitui o gabinete de El-Rei para lhe deprimir a autoridade: que o
Conselho do Ultramar fez outras consultas de igual temeridade para destruir o
respeito das leis tomando por pretexto a de três de Dezembro de 1750, que
aboliu a capitação: que os mesmos sediciosos e temerários fins se deram nas
audiências, e fora delas diferentes papéis infames, e dois dos mais falsos, e
negras calúnias contra o Marquês de Pombal desde que viram, que Sua Majestade o
honrava com a sua real confiança: que qualquer daquelas três maquinações, que
sortisse os malignos efeitos, a que foi ordenada seria bastante para arruinar a
monarquia: que porém porque foram repelidas pela inalterável constância, e
invicto espírito de Sua Majestade estabeleceu assim a sua autoridade régia;
desarmou as temeridades; e tem reedificado a sua monarquia desde a universal
ruina até ao ponto do respeito; e da glória, em que hoje se acha: que no meio
de todas aquelas facções, e temeridades apareceu o monstro da horrorosa
conjuração de três de Setembro de 1758, formada pela união dos principais
responsáveis de perturbação, entre os que haviam maquinado as sobreditas
temeridades sediciosas, desde que viram que não podiam impunemente praticar os
abomináveis vícios, com que no interregno da enfermidade do senhor Rei Dom João
V haviam oprimido, despojado, e apeado estes reinos, que lembrando-se porém Sua
Majestade do exemplo do senhor Rei Dom João V, e do que sobre ele ponderou o
mesmo senhor Osório: e compreendendo que nenhuma podia ser tão grande que o de
permitir que fizessem os seguintes vassalos nem ainda os menores resíduos dos
autores de tantos, e tão perniciosos insultos; e de que este era entre todos o
maior dos perigos, que se lhe representava em uma tão crítica conjuntura, e
fazendo a todos superior o seu real, etéreo espírito: mandou por uma grande
parte castigar os réus de 1° classe da nobreza com ferro, e com fogo na manhã
de treze de Janeiro do ano seguinte de 1759; e mandou pela outra parte
extinguir, com a perseguição, e total expulsão dos seus reinos e domínios os
jesuítas malvados conselheiros, e condutores de todas as sobreditas
malignidades: que assim se assegurou Sua Majestade sobre o seu trono; assim
preservou o reino e a felicidade da sua monarquia, e dos vassalos que Deus lhe
confiou; assim fez a autoridade régia superior a todos os atrevimentos dos
espíritos corrompidos. E assim tem feito, sem ser perturbado, os numerosos
estabelecimentos; que hoje fazem Portugal invejado dos outros reinos da Europa,
e que, conservando-o em paz alguns anos, o farão de sorte poderoso, que
renovando os tempos dos ditos senhores Reis Dom João II, e Dom Manuel, o desejem
todas as outras potências por amigo, e por aliado, e não se atreverão a
empreender coisa alguma contra os seus legítimos interesses de reputação, ou de
domínio, e comércio: que o contrário de tudo isto estamos actualmente vendo em
França, onde os parlamentos conhecendo a debilidade [riscado no textos
expressiva bondade de ânimo de El-Rei Cristianíssimo: indo ganhando terreno
pouco a pouco à sua autoridade régia; e indo passando das usurpações menores da
mesma autoridade até à maiores; chegaram enfim ao ponto de absoluta, em que
hoje se acham, não só disputando frente, a frente com o mesmo monarca, mas
declarando a pública oposição das suas leis, com que as estão combatendo até ao
ponto de ameaçarem muito próxima uma guerra civil naquela monarquia; que por
este mesmo modo se acabou a de Inglaterra com a Casa Stuart, sem diferença
alguma pela minia tolerância dos bons príncipes daquela real casa até a
expulsarem do trono, e fazerem assentar sobre ele no ano de 1688 outra família
estranha, qual essa de Hanôver. E que tudo referido vem a resultar que em
matéria de autoridade ao Rei, e às suas leis nem se deve admitir providência de
matéria, nem corra tão pequena que se não deva advertir, e obviar primeiro,
enquanto é possível, com procedimentos ou indirectos, ou proporcionados na
gravidade aos casos ocorrentes; e nas ousadias públicas, e maiores com os mais
graves castigos, aplicados eficaz, e inflexivelmente; porque a causa pública,
que assim o requer indispensavelmente; deve prevalecer a todas, e qualquer
contemplação, ou comiseração, particulares, sendo aliás boa, e santa economia
sacrificar estas poucas vítimas à justiça para salvar o trono, e o comum dos
povos dos estragos da sedição, e da iniquidade: e mostrando aliás a História
por uma sucessiva série de factos, que os homens, cujos corações foram uma vez
corrompidos com o veneno da soberba temerária, da intriga sediciosa, e da
facção, nunca jamais tiveram emenda, e nunca jamais deixaram de fazer mal senão
enquanto foram impossibilitados a podê-lo fazer. Recatada menina dos olhos dos
maiores monarcas do mundo, porque viam que a reputação pode muito mais que os
exércitos para a conservação das monarquias e porque sem ela não pode príncipe
algum subsistir sobre o trono, do que se tirará ao mesmo tempo um eficaz motivo
para desviar suavemente o príncipe de qualquer distracção, a que o possa
inclinar a vontade, ponderando ele o zelo que deve ter do seu bom nome.
Segundo
exemplo.
Em
outra semelhante conversação se pode propor, se é possível que um reino
desarmado possa ter segurança para se conservar somente pela razão do direito,
com que lhe assistem os tratados públicos, ou os títulos hereditários? E
resolvendo qualquer dos circunstantes, que é impossível que um tal reino se
possa conservar: e se deve meter à história desta monarquia, excitando-lhe a
curiosidade de a examinar, e reduzindo-a em substância às quatro épocas que
naturalmente oferecem os fastos portugueses. Na primeira das ditas épocas, se
devem substanciar os exércitos, as guerras e as batalhas dos primeiros monarcas
destes reinos, com que não só os defenderam dos mouros, e vizinhos, mas
obrigaram uns, e outros a saírem do nosso continente: extraindo-se estas noções
da colecção das crónicas compiladas pelo licenciado Duarte Nunes de Leão. Na
segunda época, se devem resumir os gloriosos progressos das poderosas armadas
dos senhores reis D. João II e D. Manuel; extraídas das admiráveis décadas do
insigne João de Barros; e da vida do Infante D. Henrique estampada no ano de
1753. Na terceira época se devem substanciar os factos de duzentos anos, em que
os intitulados jesuítas aniquilaram as armas e a milícia: mostrando que pela
falta delas, foi Portugal sujeito a Castela, e perdeu com a liberdade a glória,
a honra e a fama que tinha adquirido enquanto foi armado: provando-se tudo isto
com o outro compêndio extraído da primeira parte de Dedução Cronológica e
Analítica. Na quarta, e última época se deve ponderar a restauração da glória e
nome português, da sua navegação e do reflorente comércio nestes últimos
dezoito anos, depois que as tropas, a marinha, as praças e as fortalezas do
reino se puseram no respeitável estado, em que hoje se acham: extraindo-se para
assim o mostrar a substância da divisão XV da dita Dedução.
Terceiro
exemplo.
Em
outras das sobreditas conversações se deve reflectir sobre a indispensável
necessidade que os príncipes têm de se aplicarem ao estudo da Geometria: porque
só com a ciência dela podem discorrer, e obrar sobre os princípios certos, e
demonstrados: podem conhecer, e reprovar os sofismas, com que muitos homens por
lisonja: por interesse próprio; e por falso zelo intentam enganá-los:
fazendo-se compreender sobre isto ao príncipe, que por falta de conhecimento
desta utilíssima arte deixavam muitos monarcas precipitar as suas reais
pessoas, e os seus reinos nas maiores ruínas: e bastando para assim convencer a
infaustíssima guerra, com que os denominados jesuítas levaram à África o infelicíssimo
rei D. Sebastião para deixar como deixou, sepultadas naquelas infames terras
com a sua real pessoa a honra, a fama, o cabedal, e a liberdade destes reinos,
e seus domínios.
Quarto
exemplo.
Em
outras iguais conversações se pode tratar entre os circunstantes da geografia
da Europa e da corografia dos diferentes reinos e estados que nela se contêm:
questionando-se a situação de alguns dos ditos reinos; de sorte que o príncipe
seja encaminhado a decidir a dúvida, que de propósito se deve conservar
indecisa; e seja persuadido a demonstrar no globo a posição do país duvidado;
visto que já se acha iniciado nas divisões da esfera: e que por isso lhe servem
de divertimento a aplicação, e conhecimento das terras contidas no dito globo. À
imitação dos referidos exemplos se devem ir acrescentando outras oportunas
conversações, e conferências sobre matérias próprias da instrução dos
príncipes. Não deve porém esta praticar-se (enquanto couber no possível) por
modo de um estudo forçado e coactivo, que lhe faça criar aversão às lições que
há-de receber. Muito pelo contrário se lhe irão estas introduzindo pelo
referido modo de conversação, e conferência, porque este modo não só é o mais
suave e agradável, mas também o que mais se aproveita.
As
primeiras três horas próximas e seguintes ao jantar devem ser reservadas para
os divertimentos do príncipe: proporcionando-se-lhe estas de sorte que se lhe
façam gratas sem serem perigosas, ou menos decentes. A sua vivacidade natural,
e o hábito em que se acha de altercar razões, e sustentar porfias com as
criadas dos quartos, onde até agora assistiu, podem fazer com que o mesmo
príncipe em algumas ocasiões pretenda obstinar-se contra o que lhe é proposto
em benefício seu. E nestes casos será preciso: Primo, dizer-lhe que repare em
que tudo o que se lhe propõe são ordens minhas; as quais nem os criados que o
servem podem deixar de executar, nem ele deixar de obedecer: Secundo que faça
reflexão em que uma desobediência às ordens do seu avô, e de seu rei é coisa
tão feia, e imprópria de um tão grande príncipe, que em qualquer vassalo
ordinário causa horror, e escândalo. Tercio quando isto não baste ainda se lhe
deve ponderar com ar de sentimento que ser teimoso, e inflexível é vício de um
ânimo baixo, e humilde, e não qualidade de um príncipe que deve ser o exemplar
de todas as virtudes: Quarto, que por isso tenho dado ordem de se me participar
o que suceder, quando ele príncipe se achar em tão inesperado caso: e com
efeito ordeno, que assim se observe nos casos ocorrentes; antes que o príncipe
possa contrair um hábito de inflexibilidade.
Palácio
de Nossa Senhora da Ajuda em 7 de Dezembro de 1768.
REI
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