Costa do Norte
(26 a 28 de Novembro de 1741)
Qunado se soube em Lisboa que estava iminente um ataque de grande envergadura dos Maratas contra Boçaim foi organizada imediatamente uma grande esquadra de socorro à Índia. É certo que nesta altura o que nos restava do império do Oriente já não tinha qualquer valor económico sobretudo quando comparado ao Brasil, mas por razões de prestigio e um sentimento de responsabilidade para com as comunidades cristãs que já haviamos criado, não passava pela cabeça de nenhum governante português abandoná-lo. E como o Rei de Portugal era então o soberano mais rico da Europa, graças ao ouro, aos diamantes, ao açucar e ao tabaco que vinham do Brasil, não houve qualquer dificuldade em reunir o dinheiro, os navios e os homens necessários para organizar a esquadra de socorro à Índia, que ficou constituida por quatro Naus de guerra, e duas Fragatas transportando uma força de desembarque de dois mil homens. Para seu comandante foi escolhido o Coronel-de-Mar Luis de Abreu Prego.
Na Nau capitânia ia embarcado Dom Luís Xavier de Meneses, Conde da Ericeira e Marquês de Louriçal que ia pela segunda vez ocupar o cargo de Vice-Rei. Desde já se poderá criticar o número excessivo de soldados embarcados em cada um dos navios, o que mostra que após mais de duzentos anos de carreira da Índia os portugueses nada tinham aprendido. Como tantas vezes acontecera no passado, a viagem desta esquadra não foi fácil nem rápida. Tendo largado de Lisboa a 7 de Maio de 1740, logo os navios se separaram uns dos outros. Duas das Naus arribaram à Baia, onde uma delas se afundou, as outras duas arribaram à ilha de São Lourenço, as duas fragatas arribaram ao Rio de Janeiro. Por fim todos os cinco navios sobreviventes, cheios de enfermos, conseguiram reunir-se na ilha de Moçambique. Dali passaram à Índia, onde chegaram, novamente separados uns dos outros, durante os meses de Fevereiro a Junho de 1741. Dos dois mil soldados embarcados em Lisboa só restavam novecentos! Entretanto, em Goa, o Conde de Sandomil continuava a tentar remendar com a agulha e as linhas que dispunha a esburacada manta a que se achava reduzido o outrora tão orgulhoso império português do Oriente. Com os Bounsulós em Bardês, os Maratas em redor de Damão, em Pondá e no sul de Salcete, Chaul por um fio e o Tratado de Raya, suspenso, procorou o Conde, com a ajuda da mediação inglesa, reatar as negociações com os Maratas. Para tal enviou uma embaixada que conseguiu levar o «peshwa» a assinar connosco um novo Tratado, o que veio a contecer a 18 de Setembro de 1740. Conforme o estipulado neste Tratado em troca de Chaul os Maratas compremetiam-se a retirar definitivamente das terras de Damão, de Pondá, de Sanguém, de Cuncolim e Assolná, bem como a fazer pressão sobre o Bounsuló para que saísse de Bardês. Ao contrário do que acontecera com o Tratado de Raya, o de Poona foi integralmente cumprido pelos Maratas e pelos Portugueses. A evacuação de Chaul teve lugar durante os meses de Dezembro de 1740 e Janeiro de 1741, sendo a respectiva guarnição e a artilharia da praça levadas para Bombaim. Posteriormente a guarnição foi transportada para Goa, a artilharia foi vendida aos Ingleses, a quem estávamos a dever muito dinheiro.
Em resultado da acção do Conde de Sandomil, tão injustamente maltratado pela maioria dos nossos historiadores, quando o Marquês de Louriçal a 18 de Maio de 1741, tomou conta do governo da Índia, já estavam consumadas as perdas de toda a «Província do Norte» e de Chaul. Em contrapartida já havia sido recuperado o distrito de Salcete, acrescentados aos dominios de Goa os de Pondá e de Sanguém e afastado definitivamente a ameaça dos Maratas. Faltava apenas resolver o problema dos Bounsulós que à revelia de todos Tratados continuavam senhores da maior parte do distrito de Bardês. Terminada a «monção», o novo Vice-Rei, aproveitando os reforços que trouxera do Reino, lançou uma ofensiva de grande envergadura contra os Bounsulós, que os obrigou a retirar de Bardês e a assinar directamente connosco, a 11 de Outubro um Tratado de Paz em que reconheciam o nosso direito àquele distrito. E assim, ao terminar o ano de 1741, a Índia Portuguesa, embora diminuida, estava novamente em paz com todos os seus vizinhos à excepção do Sambagi Angriá. A 23 de Novembro desse ano largou de Goa com passageiros e carga para Damão e Diu a Nau de guerra "N. S. da Arrábida", de 64 peças de artilharia acompanhada por quatro Parenques Mercantes. A 26 de Novembro ao largo de Vijayadruga (Griem), foram os nossos navios atacados pela esquadra do Angriá na força de sete Palas e oito Galvetas. Mas desta vez a vitória pertenceu aos portugueses. Apesar da habitual determinação com que os maratas bombardearam a nossa Nau durante a tarde do dia 26, todo o dia 27 e a manhã de 28, não lhe conseguiram provocar estragos de monta. Manobrando habilmente o comandante da "Arrábida" o Capitão-de-mar-e-guerra António Brito da Silva, procurou manter sempre o seu navio entre o inimigo e os Parenques Mercantes que levava à sua guarda, dos quais apenas um foi capturado pelos maratas. Ao mesmo tempo não cessava de disparar os seus canhões de grosso calibre sobre as Palas e as Galvetas do Angriá. Uma das primeiras ficou com a popa arrombada, duas das segundas foram metidas no fundo. De um modo geral todos os navios maratas sofreram estragos consideráveis e um número elevado de mortos e feridos. Cerca das oito horas da manhã de 28 puseram aqueles fim ao combate e retiraram. Soube-se depois que por junto, tiveram dezoito mortos entre eles o comandante da esquadra, e cerca de ciquenta feridos. Da nossa parte não se registaram baixas.
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