Malaca
(Janeiro de
1513)
Corria o mês
de Janeiro de 1513 quando apareceu inesperadamente diante de Malaca uma enorme
armada de Javos constituída por dois juncos de grandes dimensões, cerca de
cinquenta juncos mais pequenos e uma centena de lancharas e calaluzes (pequenos
navios de remo semelhantes às fustas) em que iam embarcados para cima de dez
mil homens. O comandante desta armada era Pateonuz, Senhor de Japará, uma
cidade da costa norte da Ilha de Java, que desde há muito ambicionava tornar-se
Senhor de Malaca. Sabendo que nesta cidade, depois de ter sido conquistada
pelos Portugueses, havia menos de quatrocentos homens, entre soldados,
marinheiros e mercadores, logo tratara de reunir uma grande armada com que
contava realizar o seu sonho. Nessa altura estavam em Malaca dez naus, duas
caravelas, duas galés, dois juncos de mercadores malaios e duas dezenas de
lancharas do bendará de Malaca. Para reforçar as naus foram retirados da
fortaleza vários canhões e cerca de cento e oitenta soldados, ficando aquela
apenas com vinte quase todos doentes. O aprontamento dos navios demorou toda a
noite. Ao outro dia de manhã a armada portuguesa fez-se ao mar, sob o comando
do Capitão-Mor Fernão Peres de Andrade, navegando ao encontro da armada de
Pateonuz que, durante a noite, tinha descaído para sul. Nessa época a maioria
dos capitães portugueses ainda não se habituara a combater em formatura.
Avistado o inimigo, a única preocupação de cada um era ser o primeiro a chegar
ao contacto. Neste caso essa honra coube a Jorge Botelho, cuja nau era o navio
mais rápido da armada. E logo se meteu pelo meio dos inimigos disparando
furiosamente a artilharia e a espingardaria por ambos os bordos. Os outros
seguiram-lhe o exemplo.
Os juncos
malaios, copiados dos chineses, eram excelentes navios que em robustez e
manobrabilidade em nada ficavam a dever aos navios europeus, antes pelo
contrário. O seu ponto fraco era que praticamente não dispunham de artilharia,
limitando-se ao lançamento de flechas antes da abordagem. Pelo contrário, as
naus portuguesas, além dos canhões de médio calibre que disparavam através das
portinholas do costado, dispunham de "berços", peças de pequeno
calibre, de elevada cadência de tiro, montadas na amurada, de numerosas
espingardas, de lanças de fogo e de panelas de pólvora (espécie de bombas
incendiárias) que os marinheiros lançavam das vergas para dentro dos navios
inimigos a fim de os incendiar. Durou esta primeira fase da batalha o dia
inteiro com os navios javos a tentarem repetidamente abordar os navios
portugueses e estes a repelir as tentativas de abordagem com o disparo
incessante dos seus canhões e das suas espingardas e com o lançamento de grande
quantidade de artifícios de fogo sobre os que se aproximavam mais. Embora
nenhum dos navios javos tenha sido afundado a maior parte ficaram muito
destroçados e cheios de mortos e feridos. Vinda a noite, a armada portuguesa
fundeou em frente de Malaca e a de Pateonuz mais a sul.
Considerando
que os portugueses não tinham conseguido afundar nenhum dos navios javos e que
numa segunda batalha a pólvora se lhes podia vir a faltar e serem tomados à
abordagem, o capitão de Malaca ordenou a Fernão Peres de Andrade que devolvesse
os soldados à fortaleza, que metesse os navios de remo num rio a sul da cidade
e que com as naus e as caravelas seguisse para a Índia a fim de pedir socorros
ao Vice-Rei. Mas Fernão Peres e os seus capitães não estiveram pelos ajustes.
Ignoraram a ordem e, na manhã do dia seguinte, foram atacar a armada de
Pateonuz que, alarmado com os estragos e baixas que os seus navios tinham
sofrido estava em franca retirada para Java. E teve lugar uma segunda fase da
batalha que se desenrolou nos moldes da primeira com a diferença de que os
navios portugueses se aproximaram mais dos contrários atacando-os, com o fogo
da artilharia a curtíssima distância e o lançamento de panelas de pólvora. Um
após outro os navios javos iam sendo afundados a tiro de canhão ou incendiados.
Começaram então as naus portuguesas a abordar os juncos mais avariados que iam
ficando para trás, tomando grande número deles que depois de saqueados, eram
queimados. Por fim só restava o junco de Pateonuz com outros cinco amarrados a
ele e um junco grande também amarrado a outro mais pequeno. O segundo grupo foi
tomado à abordagem nessa mesma tarde após um combate terrível. O primeiro grupo
foi obrigado a desfazer-se durante a noite devido ao mau tempo que se levantou.
Na manhã seguinte os cinco juncos mais pequenos que o compunham foram queimados
ou metidos no fundo pela artilharia da nau do incansável Capitão Jorge Botelho.
Só o grande
junco de Pateonuz conseguiu escapar! Esta foi uma das maiores batalhas travadas
pela Marinha Portuguesa embora com consequências de ordem estratégica
relativamente limitadas.
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