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segunda-feira, outubro 05, 2015

Paços da Nobreza Portuguesa - Séc. XV - XIX

Lista de Paços e Palácios de Portugal


Região Norte


Distrito de Viana do Castelo

Monção

•        Palácio da Brejoeira


Viana do Castelo

•        Paço de Lanheses


Distrito de Braga

•          Casa dos Coimbrãs

•          Casa dos Macieis Aranhas

•          Casa Grande

•          Casa Rolão

•          Paço Episcopal Bracarense

•          Palacete do Vilhena Coutinho

•          Palácio do Raio

•          Paço dos Duques de Bragança

•          Paço de São Cipriano

•          Paço de Sezim

•          Palácio de Vila Flor


Distrito do Porto

•          Paço Episcopal do Porto

•          Palacete de Belomonte

•          Palacete dos Viscondes de Balsemão

•          Palácio de São João Novo

•          Palácio do Freixo

•          Palácio dos Carrancas

•          Palácio dos Terenas


Região Centro


Distrito de Viseu

•          Palácio de Reriz
                 (São Pedro do Sul)


Distrito de Aveiro

•          Palácio Real do Buçaco
                 (Luso, Mealhada)


Distrito de Coimbra

•          Palácio das Escolas

•          Quinta das Lágrimas

•          Palácio de Sub-Ripas

•          Castelo de Coimbra

•          Porta e Torre de Almedina

•          Torre de Anto


Distrito de Lisboa

Lisboa

•          Palácio dos Almadas

•          Solar dos Cancelos

•          Solar do Visconde de Almendra

•          Palácio Alvor

•          Palácio dos Condes da Calheta

•          Palácio Fronteira

•          Palácio da Independência ou Palácio dos Almadas

•          Palácio Ludovice

•          Palácio Real da Ajuda

•          Palácio das Necessidades

•          Palácio da Rosa

•          Palácio de Belém

•          Palácio de Sant'Anna

•          Palácio Valada-Azambuja

•          Palácio Verride / Palácio de Santa Catarina

•          Palácio de São Bento

•          Castelo de São Jorge


Loures

•          Palácio da Mitra
                 (Palácio dos Arcebispos, Santo Antão do Tojal)

•          Palácio de Valflores
                 (Santa Iria de Azóia)

Mafra

•          Palácio Real de Mafra


Sintra

•          Palácio de Monserrate

•          Palácio Real da Pena

•          Palácio Real de Sintra ou Palácio da Vila

•          Palácio da Regaleira ou Quinta da Regaleira

•          Palácio de Seteais

•          Palácio Real de Queluz


Distrito de Setúbal

Almada

•          Palacete António José Gomes
                 (Cova da Piedade)


Setúbal

•          Palácio da Bacalhoa
                 (Azeitão)


Região Sul


Distrito de Évora

Évora

•          Palácio dos Duques de Cadaval


Vila Viçosa

•          Paço Real de Vila Viçosa


Distrito de Faro

•          Palácio Episcopal de Faro


Madeira


Ilha da Madeira

•          Fortaleza-Palácio de São Lourenço

•          Solar dos Esmeraldos

•          Solar do Ribeirinho

•          Edifício dos Paços do Concelho do Funchal


Açores


Ilha de São Jorge

•          Solar dos Noronhas

•          Paço dos Noronhas


Ilha de São Miguel

•          Palácio de Sant'Ana


Ilha Terceira

•          Solar da Madre de Deus

•          Palácio Bettencourt

•          Villa Maria   

Palácio da Brejoeira



O Palácio da Brejoeira localiza-se na freguesia de Pinheiros, na vila e concelho de Monção, distrito de Viana do Castelo, em Portugal. A seis quilómetros a sul de Monção, inscreve-se em uma vasta propriedade rural, dividida entre 18 hectares de vinha, oito de bosque e três de jardim. Este sumptuoso palácio constitui-se num expoente das moradias fidalgas no país. Foi erguido nos primeiros anos do século XIX, tendo as obras se prolongado até 1834. Embora não haja provas evidentes sobre quem foi o autor de seu projecto, este tem sido atribuído a Carlos Amarante, à época, um dos mais importantes arquitetos em actividade no norte do país. Pertenceu inicialmente a Luís Pereira Velho de Moscoso, nascido em 1767. Não pertencendo à nobreza, Luís de Moscoso não podia construir um palácio com quatro torres e, para esse fim, pediu autorização ao Rei para construir a terceira torre. As obras prosseguiram sob a direção do seu segundo filho, Simão que nasceu em 1805 e faleceu em 1881). Em estilo neoclássico, apresenta planta em forma de "L". As suas quatro fachadas são limitadas por três torreões. No seu interior encontram-se faustosos salões com valiosas pinturas e frescos e distinta decoração, bem como uma capela e um teatro. Está rodeado de frondosa mata e encantadores jardins com magnólias e japoneiras.

Paço de Lanheses


O Paço de Lanheses, também referido como Quinta do Paço (por estar inserido dentro de uma quinta), é um solar classificado como Monumento de Interesse Público, que se localiza na freguesia de Lanheses, concelho e distrito de Viana do Castelo, em Portugal. Dentro duma linha tradicional e típica da região Norte de Portugal constitui uma grande casa senhorial, composta por dois corpos desiguais, de dois pisos, com capela adossada ao corpo maior. Terá sido erguida nos finais do século XVI e aumentada no século XVIII da qual mantém a traça dessa época e que está inserida numa extensa propriedade agrícola.



É igualmente apelidado de Paço dos Almadas por pertencer, desde o, inicio do século XIX, ao representante dos Almadas (Condes de Almada) assim como tinha sido antes de Solar dos Ricaldes por ter visto aqui nascer ou se nobilitar a família com esse nome associado ao apelido, ancestrais dos primeiros por linha feminina a partir dessa data. Dentro da sua mata e agradável jardim, na entrada, está o Pelourinho de Lanheses, que representava o direito de justiça que os senhores desta Casa, antigamente, tinham sobre este desaparecido concelho e antes Vila Nova de Lanheses. Consta e é de tradição familiar que esteve aqui, em 1580, Dom António ‘Prior do Crato’ quando andava fugido dos castelhanos e a tentar reunir forças aliadas.



Assim como que a do célebre salteador Zé do Telhado que terá pedido emprestada uma jóia aqui à senhora desta casa, Condessa de Almada, e a terá devolvido com mais uma pedra preciosa incrustada nela que tinha sido perdida há muito. A sua construção iniciou-se no século XVI tendo sido totalmente remodelado no início do século XVIII. A sua arquitectura é toda ela setecentista excepto uma porta e uma janela que são quinhentistas, pertencentes a um corpo mais antigo que ficou integrado no restante edifício. Há inclusivamente a provar o que aqui é dito não só as duas pedras d´armas aí apresentadas que nos transportam para essa época, mas, também a informação que, em 1723, foi pedido à diocese de Braga para transferir de sítio a antiga capela, aumentando-a e tornando pública. Isso terá sido concedido positivamente pois a nova, que está encostada à casa, no mesmo estilo do restante paço (‘palacium’), foi benzida em 1757. Segundo um testamento pode verificar-se novas obras em 1764 na cavalariça. O solar forma um enorme L virado para um amplo terreiro, circundado por dois muros que o encerra. Um deles baixo, mas, com um frondoso e apertado arbusto de buxo, que o eleva a todo o comprimento, e outro alto, com ameias chanfradas e merlões, cortado a meio por um grande portão com uma primeira elaborada pedra de armas, virada para o exterior. Dos lados, dois pináculos completam a decoração.



De cada lado do portal esse muro é rasgado por janelas gradeadas com ‘banquinhos namoradeiros’. A entrada faz-se pela ala virada a Norte e ao centro do edifício principal, por uma elegante escadaria de granito, ladeada por um elegante corrimão e tendo ao cimo um outro segundo brasão de armas, ladeado de trabalhados pináculos. Esta dá acesso a uma bonita varanda em U, para dentro, com uma galeria de colunas de pedra igual a toda a volta. Por baixo dela e nas duas paredes laterais encontram-se quatro, arcos de volta inteiros. É precisamente no interior de um deles, virado poente/nascente, que se encontra a referida entrada da antiga capela. De cada lado, dessas escadas de pedra, a água escorre de dois fontanários contemporâneos à restante construção e que ficam harmonicamente enquadradas. Esta propriedade tinha um outro a funcionar para a servir e para dar água gratuita aos viajantes e à população em geral, que vem de uma mina da família. Ainda se vêm vestígios dele, naquela que é hoje chamada a ‘carreira’ ou ‘alameda de árvores’ de acesso ao portão e que antes fazia parte da antiga estrada Ponte de Lima/Viana do Castelo, e do outro com o mesmo propósito de generosidade ao serviço público, por ter sido transferido mais tarde para a nova estrada nacional encostada ao muro exterior de toda a quinta.



Na ponta nascente do mesmo lado e de fora do referido muro ameado, encostada à casa, fica a tal capela, a mais significativa e importante que a primeira, e que é de invocação de Santo Cristo e São Sebastião. Na fachada da referida capela ostenta duas cartelas, estando a da esquerda inscrita com: "LOU/VADO. SE/IA. O. SANTI/SSIMO. SA/CRAMEN/TO" e a da direita com: "O. MA/RIA. CONC/EBIDA. SEM / PECCADO R/0GAI POR / NOS". Os ‘Almadas’, seus donos ou proprietários, descendem directamente dos primeiros fundadores deste solar [João Martins (Ricalde ou da Rica) e sua mulher Dona Ana da Rocha, filha do ‘chefe’ dos ‘Rochas de Meixedo’ comendatários do Mosteiro de São Salvador da Torre, proprietário do Couto de Lanheses.

Casa e Capela dos Coimbras


O conjunto da Capela e Casa dos Coimbras localiza-se na freguesia de São João do Souto, concelho de Braga, distrito de mesmo nome, em Portugal. O palacete dos Coimbras, erguido no século XVI como residência para eclesiásticos, foi adquirida por Dom João de Coimbra, provisor da Mitra de Braga.



Em 1525, Dom João de Coimbra determinou edificar uma capela privada, sob a invocação de ‘Nossa Senhora da Conceição’, que ficaria conhecida como ‘Capela dos Coimbras’. Teve traça de autoria dos mestres biscainhos, construtores do Palácio dos Biscainhos.



A casa dos Coimbras possui as janelas e algumas das portas do antigo palacete, tendo no entanto sido alterado o formato do edifício manuelino. A capela apresenta o formato de uma torre quadrangular, dividida em dois espaços distintos:



•          O galilé, com ornamentos manuelinos, da autoria de Filipe Odarte.


•          A parte interior, da autoria João de Ruão, possui o tradicional altar-mor e as armas de Dom João de Coimbra. A capela é coberta por uma abóbada de nervuras, e as paredes possuem imagens, em azulejos, alusivas ao Génesis.

Casa dos Maciéis Aranhas



O ‘Solar do Maciel e Aranha’, também referido como ‘Casa dos Maciéis Aranhas’ e ‘Casa do Gato Bravo’, localiza-se na praça Conde de Agrolongo, na freguesia de São João do Souto, cidade e concelho de Braga, distrito de mesmo nome, em Portugal. Com projecto do arquitecto Carlos Amarante, o edifício foi construído na segunda parte do século XVIII.



O solar apresenta planta em forma de ‘U’ dividida internamente em dois pisos, e com uma entrada entre as extensões laterais do edifício. Sobre esta entrada destaca-se a pedra de armas dos Maciéis Aranhas.

Casa Grande
(Braga)


A Casa dos Cunha Reis, também referida como ‘Casa Grande’, localiza-se na freguesia da Sé, cidade e concelho de Braga, distrito de mesmo nome. Foi erguida a partir do século XVIII no chamado "Campo das Hortas", constituindo-se numa das diversas marcas de poder que, ao longo dos séculos, os deões da Sé de Braga imprimiram à cidade. Foi seu impulsionador Dom António Alexandre da Cunha Reis da Mota Godinho que adquiriu esta propriedade, onde fez edificar o imóvel que hoje conhecemos e que foi considerado, à época, como uma das mais significativas construções da zona extramuros de Braga.


A sua família, ligada ao comércio do vinho, e os próprios cargos por si desempenhados (Deão do cabido da Sé, vigário capitular, governador temporal do arcebispado, cavaleiro da ‘Ordem de Cristo’, Senhor da Quinta da Vacaria), permitiram-lhe ostentar o seu poderio (económico, político e religioso) através da arquitectura. O brasão, patente no frontão triangular que remata o edifício é, no entanto, posterior, tendo aí sido colocado por seu irmão, Joaquim Jerónimo, herdeiro da casa por morte do deão, em 1834. Constitui-se em uma casa apalaçada (solar), dividida internamente em dois pavimentos.

Casa Rolão



A Casa Rolão localiza-se na Avenida Central, na freguesia de São José de São Lázaro, cidade e concelho de Braga, distrito de mesmo nome, em Portugal. Constitui-se em uma casa apalaçada, edificada entre 1758 e 1761 por iniciativa da família Rolão, que se dedicava ao fabrico de sedas, e projectada pelo arquitecto bracarense André Soares.

Paço Episcopal Bracarense



O Paço Episcopal Bracarense, também referido apenas como ‘Paço Arquiepiscopal’, localiza-se na freguesia da Sé, no centro histórico da cidade de Braga, no distrito de mesmo nome, em Portugal. Constitui-se no Palácio dos Arcebispos de Braga. Ao longo dos séculos, a adição de novos edifícios resultou num extraordinário conjunto urbano multi-arquitectónico.



O edifício mais antigo do conjunto está voltado para o Jardim de Santa Bárbara, sendo conhecido como ‘Paço Medieval de Braga’. Foi erguido em fins da Idade Média por iniciativa dos arcebispos Dom Gonçalo Pereira e Dom Fernando da Guerra, nos séculos XIV e XV. Constitui-se numa edificação sóbria com a aparência de uma fortificação, que se estaca pela solidez do aparelho regular de blocos graníticos, vãos de janelas em arco ogival, encimado por ameias.



Os edifícios com as fachadas voltadas para o Largo do Paço, são obra dos Arcebispos Dom Manuel de Sousa, Dom Agostinho de Jesus e Dom Rodrigo de Moura Teles. O conjunto pode dividir-se em três alas:

Ala Poente



Erguida por iniciativa, de Dom Agostinho de Jesus, entre 1587 a 1609, conforme o atesta o seu Brasão de Armas, inscrito no varandim virado para o Largo Dom João Peculiar (de onde este Arcebispo contemplava as procissões) e no centro da galeria sustentada por colunas. No brasão central do edifício pode ler-se a inscrição latina: "Dom Agostinho de Jesus, Arcebispo de Braga e Primaz das Espanhas".

Ala Nascente



É constituída por dois edifícios:

•             O do lado da rua do Souto foi erguido por iniciativa de D. Rodrigo de Moura Teles, conforme o atestam as suas armas. Tinha a função de Casa da Guarda.

•               O do lado interior deve-se a Dom Manuel de Sousa entre 1544 a 1549, e tinha a função de abrigar os vários cartórios e os arquivos eclesiásticos.


Posteriormente abrigou o Tribunal da Relação. Aí funcionou também, durante muitos anos, o Tribunal de Primeira Instância Civil. Tem sobre a porta de entrada, por baixo do Brasão dos Sousas, uma inscrição latina que se traduz por "Para ilustrar a cidade, e haver um tribunal permanente, onde se administre a justiça e não instável como dantes, Dom Manuel de Sousa, pai e senhor da cidade e grande sacerdote da Justiça mandou construir este célebre edifício".

Ala Norte



Foi edificado, também por Dom Rodrigo de Moura Teles. Por baixo do Brasão, de Armas deste Arcebispo, encontra-se a inscrição latina: "Ó domus antiqua quam dispari domino dominaris", ano de 1709. A expressão pode ser traduzida como "Ó casa antiga. Quanto é diferente o Senhor que te possui", frase proferida por Frei Bartolomeu dos Mártires quando ali chegou. Ainda acrescentou modestamente, recordando os seus antecessores: "Como é indigno o que hoje vem ocupar o vosso lugar", frase latina que se deve a Cícero. O edifício voltado, para a praça do Município, foi erguido por Dom José de Bragança no início do século XVIII, com Projecto da autoria do Arquiteto André Soares, em estilo Barroco.

Palacete dos Vilhenas Coutinhos



O Palacete, dos Vilhenas Coutinhos, localiza-se na Praça Conde de Agrolongo, em Braga. Nele funcionou durante muitos anos o tribunal de Braga, estando de momento em estado de abandono. O edifício pertencia à Família Costas Pereira e foi arrematado em praça pública pela quantia de nove mil e seiscentos reis pela Câmara de Braga, que o destinou, depois das remodelações necessárias à repartição da Justiça até então instalada no Largo do Paço, no edifício do Tribunal Eclesiástico, (Tribunal da Relação).

Palácio do Raio


O Palácio do Raio, também referido como ‘Casa do Mexicano’ localiza-se na freguesia de São José de São Lázaro, cidade e concelho de Braga, distrito de mesmo nome, em Portugal. É um dos mais notáveis edifícios de arquitectura civil da cidade, em estilo barroco joanino. Na fachada sobressai a exuberância da decoração, desde logo da porta central ricamente trabalhada e também das 11 janelas dividas pelos dois pisos.



Os ornatos são assimétricos, dando ao edifício uma dinâmica e um dramatismo que são comuns na obra do arquitecto André Soares. A obra teve depois uma segunda campanha, nos finais do século XIX, altura em que foram colocados os azulejos que dão o tom azul à fachada, bem como uma porta de vidros coloridos que separa o átrio da caixa de escadas. É desta altura também a pintura dos tectos e da caixa de escadas, atribuída a Pereira Júnior, um artista que trocou Lisboa por Braga, depois de ter pintado também parte da decoração do edifício da Câmara da capital.



Constitui-se em um palácio, erguido entre 1754 a 1755 por encomenda de João Duarte de Faria, poderoso comerciante de Braga, com Projecto do arquitecto bracarense André Soares. Foi erguido no século XVII e modificado ao longo dos séculos. No século XIX foi propriedade dos segundos Condes de Bertiandos e a filha destes, a segunda Viscondessa de Paço de Nespereira, foi casada com Dom João Lobo Machado Cardoso do Amaral e Meneses, 2º Visconde de Paço de Nespereira, antigo governador civil de Braga.



Este palácio aristocrático, com amplos salões com tectos luxuosos, e os jardins barrocos revelam o quotidiano da nobreza setecentista, assim como numerosas referências à vida dos outros habitantes do espaço: criados, escravos, capelães. O pavimento estriado do rés-do-chão, particularmente invulgar, permitia que as carruagens entrassem no edifício a fim de desembarcarem os passageiros e seguissem para as cavalariças. O jardim, formado por volta de 1750, é considerado um dos mais importantes jardins históricos do período barroco em Portugal. O espaço, de aproximadamente um hectare, está dividido no ‘terreiro’, ‘jardim formal’, ‘patamares do pomar e das hortas’ (‘parterres’), ‘recinto das muralhas’, ‘canavial’ e ‘largo do pombal’, estando enriquecido com diversas fontes e esculturas barrocas. O ‘jardim formal’ apresenta um traçado labiríntico de canteiros de buxo. A embelezá-lo, existem janelas e portões ornamentais, encimados por pináculos ou por meninos com charamelas, esculturas decorativas, painéis de azulejos polícromos, cinco fontes de repuxo, um pavilhão de jardim, um mirante e duas monumentais e paralelas casas de fresco (construídas por árvores vivas) de japoneiras oitocentistas com chafarizes no interior.



Dentre as várias árvores existentes, a mais notável é um majestoso tulipeiro da Virgínia (‘Liriodendron tulipifera’) plantado no século XVIII. No Reinado de Dom Luís I de Portugal, o jardim mereceu a honra de ser visitado pela Família Real a convite dos Condes de Bertiandos, Senhores do Palácio.

Paço dos Duques de Bragança
(Guimarães)



O Paço dos Duques de Bragança (tipicamente designado de apenas ‘Paço dos Duques’) foi construído no século XV, em Guimarães, por Dom Afonso, 1.º Duque de Bragança, e o estilo Borgonhês deste palácio reflecte os seus gostos, adquiridos nas viagens pela Europa, ainda que o aspecto actual tenha sido recriado, de forma polémica, durante o Estado Novo.



Foi erguido no século XV por iniciativa de Dom Afonso I de Bragança. Esteve desocupado quando os Duques se mudaram para o ‘Paço Ducal de Vila Viçosa’, período em que o edifício foi sendo pilhado, perdendo gradativamente a sua forma original que, atualmente permanece ignorada. Algumas salas no seu interior compõem um museu, onde se destacam tapetes persas, tapeçarias flamengas (com temática sobre as conquistas portuguesas no Norte de África) e pinturas, como o Cordeiro Pascal de Josefa de Óbidos ou o retracto de Dona Catarina de Bragança.



Em homenagem às proezas marítimas dos portugueses, o tecto da sala de banquetes reproduz o casco virado de uma caravela.

Paço de São Cipriano



O Paço de São Cipriano é um paço português datado do século XV, localizado na freguesia de Tabuadelo a curta distância da cidade de Guimarães. Ergue-se entre elegantes e ricos jardins, fazendo uma sóbria combinação entre uma arquitectura histórica e inquestionavelmente importante e a beleza da natureza. Como muitas casas antigas e solares da Região Entre Douro e Minho, o Paço de São Cipriano deverá ter as suas origens mais remotas nas vilas romanas. No dia 22 de Julho de 1415, como prova uma transcrição do documento mais antigo conhecido, a família Sottomayor tomou posse da casa. Na sua origem a Casa seria certamente pequena, como as da sua época, tendo crescido com o tempo, devido às obras que a mesma família empreendeu ao longo de séculos, mantendo uma parte primitiva que ainda actualmente existe. O que não aconteceu em muitas outras casas, sobretudo no século XVIII, em que a construção inicial foi substituída por outra de estilo erudito. Dessas épocas recuadas subsiste ainda hoje no conjunto arquitectónico valoroso, parte da ala do paço onde se insere a ‘Cozinha Velha’.



Durante o século XVIII, foi Senhor desta casa Domingos Gonçalves Cibrão, que viveu entre 1704 a 1798, que como grande administrador, aumentou consideravelmente as propriedades e empreendeu importantes obras de recuperação e alargamento no paço de São Cipriano, reedificando completamente a valiosa Capela de Santo António, marco histórico e cultural de renome na arquitectura portuguesa. Em finais do mesmo século, a ‘Família Cibrão’ ligou-se com a ‘Casa dos Santiagos’, por casamento da herdeira da primeira família com Dom João Santiago. Já no final do século XIX, o último morgado do paço, devido a problemas financeiros inesperados vendeu toda a propriedade, juntamente com o palácio, ao seu irmão, o Doutor João da Costa Santiago de Carvalho e Souza, o qual empreendeu ali grandes e arrojadas obras. Senhor da Quinta de São Cipriano e advogado de formação, João de Carvalho e Souza foi quem mais, alterações introduziu no edifício principal e nos espaços envolventes, conferindo ao conjunto o seu aspecto actual. Para além disso, tratou de conservar o rico espólio documental e artístico que o palácio detinha no seu interior.



Da casa-grande tirou acrescentos de má qualidade, fruto de adaptações parciais à moda de uma época má na arquitectura, e prolongou as duas alas laterais que lhe dão o característico estilo arquitectónico em «U» em que o torreão é o elemento principal, criando no seu interior um ambiente acolhedor e encantador. Neste conjunto enquadram-se diferentes estilos, marcas das gerações, que harmoniosamente conferem à Casa a sua "personalidade". João Carvalho e Souza tratou igualmente de modificar o jardim, já quase arruinado. Mandou também plantar um grande pomar e uma horta, nas traseiras do edifício. Tais elementos, ainda hoje ali permanecem, numa quinta que é descrita como uma ‘viagem no tempo’.

Paço de Sezim


A Casa de Sezim, também referida como ‘Casa Grande Paço de Sezim’, localiza-se na freguesia de Nespereira, concelho de Guimarães, distrito de Braga em Portugal. Conforme um pergaminho existente no arquivo da casa, o imóvel entrou para a família dos actuais proprietários em 1376 por doação que Maria Mendes Serrazinha fez a Afonso Martins, descendente de Dom João Freitas (companheiro de Dom Afonso Henriques), em atenção "às boas obras que dele recebeu e espera receber e por crença que lhe fez". A beleza da Casa, a harmonia das suas linhas, a monumentalidade da sua fachada e a colecção de papéis panorâmicos da primeira metade do século XIX que abriga nos seus salões, têm sido, nos últimos anos, motivo de curiosidade internacional. Sobre o portão de entrada pode-se ver um Brasão com as Armas dos Freitas do Amaral. O interior, com paredes revestidas a papel pintado de rara beleza do século XIX da autoria do pintor Auguste Roquemont, alberga alguns móveis do século XVII.

Palácio Vila Flor



O Palácio Vila Flor foi mandado construir por Tadeu Luís António Lopes de Carvalho de Fonseca e Camões no século XVIII. Mais tarde passa para a posse da Família Jordão, que completou a obra iniciada por Tadeu Luís.



É um edifício, marcante no desenrolar da história vimaranense. Em 1853, recebeu a Rainha Dona Maria II que, por decreto de 23 de Junho desse mesmo ano, elevou a então vila de Guimarães a cidade. Os Jardins de buxo do Palácio Vila Flor, com uma vista privilegiada sobre a cidade de Guimarães e os seus monumentos, como o Paço dos Duques de Bragança e o Castelo de Guimarães, foram o local de realização de importantes eventos, como os festejos comemorativos da aclamação do Rei Dom José I, em 1750.



Após a compra do Palácio pela Câmara Municipal de Guimarães, parte dos jardins serviram como horto municipal.

Paço Episcopal do Porto



Atribui-se com frequência a iniciativa da construção do Paço Episcopal do Porto ao Bispo Dom Freire João Rafael de Mendonça, que implicou a demolição total do antigo Paço e a encomenda deste novo projecto. No entanto, a construção da obra ir-se-ia prolongar durante vários anos e o Bispo não chegaria a vê-la completa. Ainda assim, muitos trechos do traçado original foram alterados e outros terminados à pressa em prejuízo do conjunto global, estrutura, clareza e unidade arquitectónica. Porém, é consensual a influência de Nicolau Nasoni no alçado da frontaria, projectando-se em duas fachadas facilmente reconhecidas, a de ocidente e a de sul. Deste bloco, de digna imponência, majestosa e elegante mas não pesada, rasgam-se dezenas de janelas barrocas. Perto da Sé Catedral, sobre penhascos colossais, a fachada principal ficou a mais baixa. Forem feitas várias obras de reconstrução do paço, tendo sido uma das mais importantes aquela efectuada pelo Bispo Dom Luís Pires, ao qual se deve o mérito de aumentar e organizar a importante biblioteca. A mais profunda remodelação seria durante a idade barroca, da iniciativa do Cabido da Sé.



No eixo, da composição, ergue-se, o conjunto portão-janela de honra. O Brasão de Armas, em pedra, sobrepõe-se ligeiramente ao friso do entablamento que decora a frontaria e acima do beirado eleva-se um frontão curvo e ornamentando, como coroamento do monumental eixo. O Brasão é flanqueado de larga decoração. Sobre as lojas, para as quais se abrem cinco portas almofadadas e sete janelas baixas e gradeadas, avistam-se as 24 janelas do andar nobre, 12 de cada lado, unidas verticalmente duas a duas, alternando-se os ornamentos: uns festivos e outros menos ornamentados, cada uma destas janelas abrem para varandins guarnecidos de ferro forjado e desenho delicado. O interior é composto por amplos salões, alguns exuberando excelentes peças de mobiliário, muitas salas, muitos quartos característicos da época anterior à sofrida expropriação.



No fundo do vestíbulo desenvolve-se a escadaria nobre, com decoração mural bem posterior à do início do projecto, embora surpreendentemente concordantes no seu conjunto, tectos, lanternim, patamares, corrimões, a entrada do andar nobre, um verdadeiro portal palaciano.

Palacete de Belomonte



O Palacete de Belomonte, (ou de Belmonte), também conhecido como, ‘Casa dos Pacheco Pereira’, é uma casa apalaçada localizada na cidade do Porto, em Portugal. O Palacete de Belomonte, localizado nos números 43 a 55 da rua do mesmo nome, é um exemplar bem representativo da arquitectura do Porto da primeira metade do século XVIII. A frontaria da casa está dividida em cinco partes, por pilares. O Brasão da Família Pacheco Pereira, que ornamentava a fachada, foi substituído pelo emblema da Companhia dos Caminhos-de-Ferro Através de África (também conhecido como Companhia de Ambaca) quando esta adquiriu o imóvel, em 1888.

Palacete dos Viscondes de Balsemão



O Palacete dos Viscondes de Balsemão é um edifício histórico localizado na Praça de Carlos Alberto, na freguesia da Vitória, na cidade do Porto, em Portugal. Mandada construir, em meados do século XVIII, pelo fidalgo Dom José Alvo Brandão, esta casa entra no património da Família Balsemão por casamento de Dona Maria Rosa Alvo com seu primo Dom Luís Máximo Alfredo Pinto de Sousa Coutinho, 2.º Visconde de Balsemão.

Palácio de São João Novo



O Palácio de São João Novo localiza-se na freguesia de Miragaia, na cidade e Distrito do Porto, em Portugal. Foi edificado em finais do século XVIII, para habitação de um funcionário público do Porto e, depois da morte do seu primeiro proprietário, foi habitado por algumas das mais ilustres famílias da cidade. De estilo barroco, há quem atribua o seu projecto a Nicolau Nasoni, mas tal não está provado. O fundo do edifício está quase encostado às Muralhas Fernandinas. Aquando a segunda invasão francesa em 1809 foi ocupado pelas forças invasoras, tendo servido como hospital militar às tropas liberais na altura do Cerco do Porto.

Palácio do Freixo



O Palácio do Freixo localiza-se na freguesia de Campanhã, cidade, concelho e distrito do Porto, em Portugal. É um dos exemplares mais representativos do barroco civil no país. A Quinta do Freixo, num terreno em declive junto ao rio Douro, perto da desembocadura do rio Tinto, existe desde o século XVII. O palácio foi erguido pelo cónego Dom Jerónimo de Távora e Noronha, senhor abastado de Entre Douro e Minho, herdeiro do deão da Sé do Porto, Dom João Freire.



Responsável pela vinda do arquitecto italiano Nicolau Nasoni para a cidade do Porto em 1725, escolheu-o para o projecto, executado em meados do século XVIII. A propriedade foi legada a seu irmão mais novo, Dom Vicente Távora e Noronha, ‘Cavaleiro da Ordem de Malta’. Um dos seus descendentes, Dom Jorge António Salter de Mendonça que nasceu em 1804 e faleceu em 1872, 2º Visconde de Azurara vendeu-a em 1850 a António Afonso Velado, rico comerciante do Porto, enriquecido no Brasil e que seria nobilitado em 1865 por Dom Luís I de Portugal como Barão e Visconde do Freixo. Velado aqui estabeleceu residência, redecorando o palácio a seu gosto e estabelecendo-lhe uma fábrica de sabão em anexo. Fez substituir as antigas pedras de Armas dos Távora pelo escudo partido de Afonso e Cunha.



O palácio foi erguido em estilo barroco, com influências portuguesas e traços pessoais de Nasoni. O acentuado declive do terreno não impediu Nasoni de tirar partido da riqueza cenográfica envolvente. Além de ter aproveitado este factor, também rodeou a casa com terraços dispostos em planos diferentes, constelados de jardins recheados de esculturas e fontanários. O edifício apresenta planta rectangular, enquadrada por quatro torreões salientes em cada ângulo, recobertos por telhados em pirâmide. Muros ondulantes e escadarias interiores e exteriores completam uma descrição genérica do edifício. O maior desafio residiu na disposição do palácio em quatro fachadas diferentes. Cada uma tem desenho distinto, sendo a que está voltada a leste a mais movimentada. Os frontões são decorados com grinaldas de flores, medalhões, máscaras, cachos de frutos e por uma pedra de armas. A balaustrada que corre sobre o andar nobre é ornamentada. São ainda vários os pináculos que se encontram ao longo da balaustrada das fachadas e nos torreões. Nasoni inspirou-se na escultura de elementos aquáticos típica do barroco, como algas, peixes, vieiras, líquenes e golfinhos (símbolo da família Távora e Noronha).



O interior do palácio é extremamente rico. Grande parte dos compartimentos tem frescos, assim como bem executados tectos de estuque, alguns de matiz oriental. A pintura ilusória com temas alegóricos é comum no interior do palácio, grande parte executada pelo próprio Nasoni. O jardim foi claramente desenhado segundo a tradição italiana, com esculturas e com uma vista magnífica sobre o rio.

Palácio dos Carrancas



O Palácio dos Carrancas localiza-se na freguesia de Miragaia, na cidade e Distrito do Porto, em Portugal. Atualmente alberga o Museu Nacional de Soares dos Reis. O palácio foi construído a partir de 1795, para habitação e fábrica dos Morais e Castro (família de prósperos negociantes, de alcunha Carrancas). O seu risco é, tradicionalmente, atribuído a Joaquim da Costa Lima Sampaio, que participou em obras como a ‘Feitoria Inglesa’ e o ‘Hospital de Santo António’, da autoria de John Carr.



Em 1861, o palácio foi adquirido, por Dom Pedro V de Portugal, para servir de alojamento aos soberanos em visita ao norte do país. Embora necessitado de obras de reparação e melhoramentos, o edifício não sofreu alterações significativas, exceptuando a extinção das instalações da fábrica. Exceptuando as visitas soberanas, o palácio encontrava-se praticamente vazio. O Palácio dos Carrancas, actual ‘Museu Nacional de Soares dos Reis’, começou a ser construído em 1795 como habitação e fábrica da família Moraes e Castro, proprietária da ‘Fábrica do Tirador de Ouro e Prata’ na Rua dos Carrancas. A designação do Palácio remonta exactamente à antiga localização desta abastada família de negócios portuense. 



O edifício é constituído por quatro zonas essenciais

1ª) A zona nobre de planta em "U", com três pisos e águas furtadas.

2ª) As, galerias de um único piso que prolongam o Palácio e são ligadas por uma outra transversal.

3ª) O pátio central fechado.

4ª) Um espaço nas traseiras, delimitado pelo muro paralelo à fachada.


Embora tenha sofrido, ao longo dos tempos, diferentes reutilizações, a traça original mantém-se não se afastando muito do projecto original, atribuído a Joaquim da Costa Lima Sampaio, o arquitecto do Porto que trabalhou na construção do ‘Hospital de Santo António’, da responsabilidade do inglês John Carr, e na ‘Feitoria Inglesa’, da autoria de John Whitehead, nomes incontornáveis da renovação arquitectónica de cariz neopalladiano na cidade do Porto ocorrida a partir do segundo quartel do século XVIII. A proximidade entre este edifício e o do ‘Hospital de Santo António’ é notória, principalmente, ao nível da composição de determinados alçados (fachada do Palácio dos Carrancas e secção do alçado nascente do Hospital). O Palácio dos Carrancas insere-se, então, na corrente neoclássica que marcaria a arquitectura civil portuense no final do século XVIII com a construção do ‘Hospital de Santo António’, avançando significativamente pelo século XIX em edifícios como a ‘Alfândega Nova’, entre outros.



Ao nível urbanístico, este Palácio, surge num período, de grandes alterações, com o plano renovador dos Almadas e mais concretamente de Francisco Almada e Mendonça, que sucedeu a João Almada na direcção da Junta das Obras Públicas No seu interior, destaca-se a decoração cuidada e expressamente encomendada pelos Moraes e Castro, nomeadamente os estuques da sala de jantar e o mobiliário da sala de música, inspirado nas criações de Robert Adams, e que são tradicionalmente atribuídos a Luís Chari. Sempre destacado no contexto palaciano do Porto, este edifício serviu de residência oficial ao Marechal Soult em 1809, de quartel-general ao Duque de Wellington, e de residência ao Marechal Beresford, entre outras personagens ligadas ao exército libertador aquando das Invasões Francesas.

Palácio dos Terenas


O Palácio dos Terenas, é uma importante casa senhorial, setecentista da cidade do Porto, em Portugal. Erguido no final do século XVIII pelos Marqueses de Terena, este palácio é um dos mais importantes da cidade do Porto.

Palácio de Reriz



O Palácio Reriz, situado na Praça da República (antigo Passeio da Rainha Dona Amélia) em São Pedro do Sul, foi mandado construir na primeira metade do século XVIII por Diogo Francisco de Almeida de Azevedo e Vasconcelos, Senhor da Quinta do Testamento em Reriz, passando a ser desde então a residência principal da família. Trata-se de um edifício de grande volume, de dimensões pouco comuns nos solares beirões, que se impõe pela sua sobriedade. A fachada principal apresenta no andar nobre quatro janelas rasgadas, de vão rectangular, dominadas por frontões quebrados e resguardadas por sacadas. A porta de entrada é encimada por um frontão quebrado, ondulante e de ramos sobrepostos, no meio do qual se exibe o brasão da família (escudo pleno de Almeida). A pedra de armas foi colocada muito depois da construção do palácio pelo 1.º Marquês de Reriz, tetraneto do fidalgo que mandou construir o palácio. A fachada lateral, virada para a Rua Direita (que durante algum tempo se chamou Rua Marquês de Reriz) tem nove janelas semelhantes às da fachada principal. As paredes exteriores do paço têm 1,20 metros de espessura, enquanto as interiores contam 90 cm. Era aqui que a Rainha Dona Amélia de Orleães se hospedava com a sua família e criadagem, aquando das suas temporadas nas Termas de São Pedro do Sul. A Rainha, e quase toda a aristocracia e alta-burguesia, frequentavam as termas, que, na altura, significavam um dos mais famosos pontos de encontro da alta sociedade portuguesa. Sendo que seria demasiado dispendioso construir ali um palácio em que pudesse residir, a Rainha hospedava-se no Palácio do Visconde de Reriz. Pelos seus préstimos o Visconde viu o seu título elevado a Conde e, depois, a Marquês.

Palácio Real do Buçaco


O Palácio Real localiza-se na Mata Nacional do Buçaco, freguesia do Luso, concelho da Mealhada. Considerado como o último legado dos reis de Portugal constitui-se em um conjunto arquitectónico, botânico e paisagístico único na Europa. O edifício foi projectado no último quartel do século XIX pelo arquitecto italiano Luigi Manini, cenógrafo do Teatro Nacional de São Carlos. Contou ainda com intervenções, em diferentes fases, dos arquitetos Nicola Bigaglia, Manuel Joaquim Norte Júnior e José Alexandre Soares. O edifício do atual hotel, em estilo neomanuelino, está decorado com painéis de azulejos, frescos e quadros alusivos à Epopeia dos 



Descobrimentos portugueses, todos eles assinados por alguns dos grandes mestres das artes. A estrutura exibe perfis da Torre de Belém lavrados em pedra de Ançã, motivos do claustro do Mosteiro dos Jerónimos, alguns arabescos e florescências do Convento de Cristo, alegando um gótico florido com episódios românticos em contraste com uma austera severidade monacal. Em seu interior destacam-se notáveis obras de arte de grandes mestres portugueses da época, desde a colecção de painéis de azulejos do mestre Jorge Colaço, evocando Os Lusíadas, os Autos de Gil Vicente e a Guerra Peninsular, graciosas esculturas de António Gonçalves e de Costa Mota, telas de João Vaz ilustrando versos da epopeia marítima de Luís Vaz de Camões, frescos de António Ramalho e pinturas de Carlos Reis.


O mobiliário inclui peças portuguesas, indo-portuguesas e chinesas, realçadas por faustosas tapeçarias. Destaque ainda para o tecto mourisco, o notável soalho executado com madeiras exóticas e a galeria real. Os jardins e parque envolvente, o Convento de Santa Cruz do Buçaco, o Deserto monacal, o Sacro monte simbolizando Jerusalém e a paixão de Cristo, com os seus passos da Via Sacra, a Cruz Alta, as inúmeras ermidas e capelas, constituem o mais vasto conjunto arquitectónico edificado pela Ordem dos Carmelitas Descalços; o Vale dos Fetos e seus lagos, a Fonte Fria com a cascata artificial, de forte influência italiana pela mão de Maria Pia, e os miradouros românticos, são outras, atracões. Complementarmente, o Museu Militar do Buçaco convida a uma incursão no historial da Guerra Peninsular, com destaque para a batalha do Buçaco na qual, em 1810, as tropas anglo-lusas lideradas pelo Duque de Wellington derrotaram o exército napoleónico.

Paço das Escolas



O Paço das Escolas é o conjunto arquitectónico que alberga o núcleo histórico da Universidade de Coimbra. Situado na freguesia de Sé Nova, cidade e concelho de Coimbra (Distrito de Coimbra), foi edificado ao longo de várias centenas de anos, tendo sido Paço Real desde o Reinado de Dom Afonso Henriques até ao século XVI.



No conjunto arquitectónico, heterogéneo que é hoje, a Universidade de Coimbra, destacam-se os históricos Pátio e Paço das Escolas. A construção original, a Alcáçova (palácio fortificado onde vivia o governador da cidade no período de domínio muçulmano), foi edificada sob as ordens de Almançor em finais do século X. A partir de 1131, o Paço Real da Alcáçova seria habitado por Dom Afonso Henriques, tornando-se no primeiro Paço Real do país. Foi aqui que nasceram praticamente todos os Reis da Primeira Dinastia.



A partir do Reinado, de Dom Dinis, o Paço é progressivamente, abandonado, até ao século XVI quando Reinava Dom Manuel I, quando é iniciada uma grande reforma dos edifícios. Em 1544, já no Reinado de Dom João III, seria aí instalada a totalidade das faculdades da Universidade de Coimbra.



Após aquisição a Dom Filipe I, em 1597 o antigo Paço da Alcáçova passou a pertencer à Universidade tomando finalmente a designação de Paço das Escolas. Destinada a solenizar a entrada do recinto universitário, a ‘Porta Férrea’ foi a primeira obra significativa posterior à aquisição do edifício. A construção deste conjunto data de 1634 e resultou da iniciativa de Dom Álvaro da Costa, então Reitor da Universidade.



Da autoria do arquitecto António Tavares, foi concebida como um arco triunfal de dupla face (seguindo a tradição da porta-forte militar), e apresenta as principais figuras da instituição da Universidade (Dom Dinis, que está na origem da sua fundação, e Dom João III, que a instalou definitivamente em Coimbra), encimados pela figura da Sapiência. Nos portais encontramos ainda representações das antigas faculdades (Teologia, Medicina, Leis e Cânones). Os grupos escultóricos são da autoria de Manuel de Sousa. Da autoria do arquitecto italiano António Cannevari, a Torre da Universidade foi edificada entre 1728 e 1733 em substituição da anterior, de João de Ruão em 1561.



O relógio da Torre tinha papel fulcral no quotidiano universitário, estando associado aos sinais sonoros emitidos pelos sinos, quatro no total, dos quais o mais conhecido ocupa a face voltada para o rio, sendo vulgarmente denominado cabra. A Torre foi recentemente alvo de uma intervenção que veio permitir aos visitantes a deslocação até ao seu topo, tornando-se num miradouro elevado com vista para a cidade de Coimbra.



Designa-se por ‘Via Latina’ a longa varanda, ritmada por elegante colunata neoclássica, localizada na fachada principal do antigo Paço Real, dominando o Pátio das Escolas. Foi construída no Reinado de Dom João V e a sua configuração atual remonta a 1773. O nome deriva da língua oficial do ensino na Universidade até à Reforma Pombalina de 1772, quando o Português substituiu o Latim como língua oficial. Um grande frontão domina o conjunto, destacando-se aí as armas nacionais e, no topo, a omnipresente figura da Sapiência. No seu interior, ao centro, pode apreciar-se o pórtico da autoria de Claude Laprade (1682-1738), datado de 1700-1702, ao qual foi adicionado o Busto do Rei Dom José I na reforma de 1773.




Também conhecida por Sala dos Capelos (nome dado à capa ornamental usada pelos Doutores da Universidade em ocasiões solenes), a Sala Grande dos Atos é onde se realizam as mais importantes cerimónias da vida académica. Das diversas cerimónias que aí têm lugar deve destacar-se a defesa de tese do Doutoramento. ‘Antiga Sala do Trono do Paço Real da Alcáçova’, nesta sala ocorreram importantes episódios da vida da nação portuguesa tendo sido aqui que, em 1383, se reuniram as Cortes para aclamar Rei de Portugal Dom João, Mestre de Avis. No século XVII a Sala Grande dos Atos foi definitivamente transformada pelo mestre construtor António Tavares (igualmente responsável por outras obras da Universidade). No início do século XVIII foi uma vez mais submetida a obras (na ocasião dirigidas por Gaspar Ferreira), tendo sido renovada a cobertura e reforçadas as paredes, fechando as janelas, varandas e portas manuelinas. Os painéis do tecto são da autoria de Jacinto Pereira da Costa, datando as obras gerais de pintura de meados do século XVII. Em empreitadas de menor vulto trabalharam Inácio da Fonseca e Luís Álvares.



As telas representando os Reis de Portugal (de Dom Afonso Henriques a Dom João IV), são da autoria do pintor dinamarquês radicado em Portugal Carlos Falch, as restantes são de diversos autores, entre os quais João Batista Ribeiro e Columbano. Esta sala era parte integrante do antigo Palácio Real, sendo este o local onde o monarca pernoitava. Seria depois a Sala do Exame Privado (o ‘Exame Privado’ era um ato solene e nocturno onde, à porta fechada, se fazia a prova de licenciatura). A configuração da ‘Sala do Exame Privado’ resulta da remodelação de 1701 (levada a cabo pelo mestre-de-obras da Universidade, José Cardoso). A decoração inclui um lambril de azulejos executados por Agostinho de Paiva, e um conjunto de pinturas retractando antigos reitores. A pintura do tecto foi obra de José Ferreira Araújo. A Sala das Armas (ou dos Archeiros) alberga as armas (alabardas) da extinta Guarda Real Académica, utilizadas nas cerimónias académicas solenes pelos Archeiros por ocasião dos Doutoramentos solenes e Honoris causa, Investidura do Reitor, Abertura Solene das Aulas. A Sala Amarela, contígua à dos Archeiros, tem as paredes forradas de seda amarela (uma alusão à Faculdade de Medicina), apresentando retractos de reitores desta Universidade. A construção de um pequeno oratório privativo do Paço Real remonta provavelmente ao séc. XII. A Capela de São Miguel, que o veio substituir, data do séc. XVI, tendo sido patrocinada por Dom Manuel I, cujo estilo decorativo está patente no Portal Manuelino lateral, nos janelões da nave central e no arco cruzeiro.


As obras, foram dirigidas, por Marcos Pires, e terminadas, por Diogo de Castilho. A capela foi alvo de remodelações posteriores. O retábulo principal, cuja marcenaria foi projectada em 1605 por Bernardo Coelho e executada pelo entalhador e escultor Simão da Mota, é em talha dourada, destacando-se pinturas maneiristas sobre a vida de Cristo atribuídas a Simão Rodrigues e Domingos Vieira Serrão; o retábulo é considerado uma obra-prima do maneirismo português. O órgão, em estilo barroco, foi construído em 1733 por Frei Manuel Gomes, permanece funcional. Os azulejos da nave e capela-mor, do tipo de tapete, foram fabricados em Lisboa e datam do século XVII, assim como a pintura do tecto, da autoria de Francisco Freire de Araújo, o altar é do séc. XVIII. Expoente do Barroco Português e uma das mais ricas bibliotecas europeias, a ‘Casa da Livraria’, mais tarde denominada ‘Biblioteca Joanina’, foi construída entre os anos de 1717 e 1728. Foi executada por Gaspar Ferreira desconhecendo-se, no entanto, a autoria do projecto. Para a sua decoração contribuíram mestres como Manuel da Silva, Simões Ribeiro e Vicente Nunes. Ficará conhecida como Biblioteca Joanina em honra e memória do Rei Dom João V (1707-1750), patrocinador da sua construção e cujo retracto de 1725, da autoria de Domenico Duprà, domina a última sala. Foi construída de modo a exaltar o monarca e a riqueza do Império Português, nomeadamente da provinda do Brasil, estando integralmente revestida por estantes forradas a folha de ouro e decoradas com motivos chineses. Recebeu os primeiros livros depois de 1750 e o seu acervo conta com cerca de 55.000 livros.



O edifício tem três pisos, localizando-se o espaço nobre da biblioteca (constituído por três salas comunicantes) no nível superior, com acesso directo pelo Pátio das Escolas através um portal nobre de estilo barroco, como um arco de triunfo, ladeado de colunas jónicas e encimado por um magnífico escudo real. O piso inferior albergou, em tempos, a Prisão Académica. As Escadas de Minerva foram edificadas em 1725 sob direção de Gaspar Ferreira, em função da construção da Biblioteca Joanina. Permanecem uma das entradas do Pátio e Paço das Escolas.

A Quinta das Lágrimas



A Quinta das Lágrimas localiza-se na margem esquerda do Mondego, na freguesia de Santa Clara, na cidade e concelho de Coimbra, no distrito de mesmo nome, em Portugal. Ocupa uma área de 18,3 hectares em torno de um palácio do século XIX requalificado em nossos dias como hotel de luxo. Nos seus jardins acumulam-se memórias desde o século XIV, tanto nos elementos construídos como nas árvores, nas lendas populares e na sua própria história. Neles se encontram as chamadas Fonte dos Amores e Fonte das Lágrimas. A quinta e as duas citadas fontes são célebres por terem sido cenário dos amores do Príncipe Dom Pedro (futuro Rei Dom Pedro I de Portugal) e da fidalga Dona Inês de Castro, tema de inúmeras obras de arte ao longo dos séculos.



A área da então denominada ‘Quinta do Pombal’ constituiu-se em couto de caça da Família Real Portuguesa desde pelo menos no século XIV. O documento mais antigo que refere a propriedade data de 1326, ano em que Santa Isabel de Aragão, Rainha de Portugal mandou fazer um canal para levar a água de duas nascentes para o ‘Convento de Santa Clara’. Ao sítio onde saía a água chamou-se ‘Fonte dos Amores’, por ter presenciado a paixão de Dom Pedro, neto da soberana, por Dona Inês de Castro, fidalga galega que servia de dama de companhia à esposa de Dom Pedro, Dona Constança. Esta fonte ainda tem um acesso, por um arco ogival gótico, datado do século XIV. A outra fonte da quinta, ligeiramente mais distante da primeira em relação ao convento, foi denominada por Luís de Camões em ‘Os Lusíadas’, como "Fonte das Lágrimas", referindo “que a mesma nascera das lágrimas vertidas por Inês ao ser assassinada a mando de Afonso IV de Portugal”. O sangue de Inês terá ficado preso às rochas do leito, ainda rubras após seis séculos e meio...

"As filhas do Mondego, a morte escura
Longo tempo chorando memoraram
E por memória eterna em fonte pura
As Lágrimas choradas transformaram
O nome lhe puseram que ainda dura
Dos amores de Inês que ali passaram
Vede que fresca fonte rega as flores
Que as Lágrimas são água e o nome amores"
Os Lusíadas, canto III.


Ao longo dos séculos, a quinta passou a ser propriedade da Universidade de Coimbra e de uma ordem religiosa. Em 1650 foi murada, fizeram-se os caminhos e taludes que suportam a terra e as árvores da mata, e construiu-se o grande tanque que recebe a água da Fonte das Lágrimas e a encaminhava, através de um canal, para alimentar as mós de um lagar de azeite. Em 1730 a quinta foi adquirida pela família Osório Cabral de Castro, que mandou construir um palácio.


Data desse período a atual designação de ‘Quinta das Lágrimas’. Em 1813, Arthur Wellesley, então ainda Visconde de Wellington, comandante das tropas luso-britânicas que defendiam o Reino das forças francesas de Napoleão Bonaparte, foi hóspede na quinta, a convite de seu ajudante-de-campo, António Maria Osório Cabral de Castro, seu então proprietário. Wellington plantou, na ocasião, duas sequóias (‘Sequoia sempervirens’) perto da ‘Fonte dos Amores’ e ergueu-se uma lápide com a célebre estrofe de ‘Os Lusíadas’ que situa a história de Pedro e Inês na Quinta.

Paço de Sobre-Ribas



O Palácio de Sobre-Ribas, popularmente referido como ‘Paço de Sub-Ripas’, localiza-se na freguesia de Almedina, concelho de Coimbra, distrito de Coimbra, em Portugal. Destaca-se por ser um raro e curioso exemplar de moradia manuelina no Distrito. A Casa de Sobre-Ribas foi construída, como o primitivo nome indica, na vertente escarpada de uma ribeira, "sobre a riba". A sua edificação aproveitou uma das torres da antiga cerca medieval da cidade, aproximadamente a meia altura da sua encosta mais extensa, voltada para o curso do rio Mondego. É constituído por dois corpos distintos:

A Casa de Cima, ou Casa do Arco, voltada a Leste da rua.

A Casa de Baixo ou Casa da Torre.

A Casa de Cima é a mais antiga e apresenta estilo manuelino, tendo sido edificada em 1514 por João Vaz. Foi estendida ao lado oposto, com ligação por arco passadiço em 1542-1547, em estilo renascentista. A fachada principal da Casa de Baixo é valorizada por um portal com uma rica decoração naturalista (torcidos, calabre com nós, corrente com anéis decrescentes) que se inscreve no manuelino naturalista de Marcos Pires, cujo expoente máximo é o portal manuelino da Capela de São Miguel da Universidade de Coimbra.


Para além da porta manuelina e janelas da mesma tipologia, as paredes dos edifícios encontram-se decoradas com dezenas de baixos-relevos renascentistas com bustos de guerreiros, fidalgos, damas, figuras míticas e bíblicas, procedentes da oficina do escultor João de Ruão, que se situava na rua do Colégio Novo. Destaca-se ainda, no interior da casa, o pátio à italiana.

Castelo de Coimbra


O Castelo de Coimbra localizava-se na cidade de mesmo nome, freguesia de Coimbra, concelho e distrito de Coimbra, em Portugal. Hoje desaparecido, erguia-se sobre uma colina, em posição dominante sobre a povoação, às margens do rio Mondego. Em seus muros iniciava-se a cerca da vila, franqueada, na zona baixa, pela Porta da Almedina. Embora não existam muitas informações acerca da primitiva ocupação humana de seu sítio, à época da Invasão romana da Península Ibérica era uma povoação expressiva, denominada Emínio. Com o advento do cristianismo, essa importância aumentou, vindo a tornar-se sede de Diocese, em lugar da antiga Conímbriga, de onde derivou a sua moderna designação. Ocupada pelos Muçulmanos a partir de 713, manteve-se como um próspero centro comercial entre a região Norte, cristã, e a Sul, islâmica. À semelhança de outros centros na península, no período, deve ter recebido os primeiros muros, tendo a recente pesquisa arqueológica já identificado testemunhos expressivos sobre essa ocupação. À época da Reconquista da península, Coimbra voltou, em 878, ao domínio cristão, para ser de novo submetida ao domínio Muçulmano, conquistada em 987 pelo califa Almançor. Foi reconquistada pelas forças de Fernando Magno em 1064, transformando-se em sede de condado governado pelo conde Sesnando Davides, a quem se atribui a sua primitiva defesa. No século seguinte, a povoação e seu castelo integraram os domínios do Condado Portucalense, aqui tendo residido o Conde Dom Henrique e sua esposa Dona Teresa, e aqui tendo nascido Dom Afonso Henriques, que a transformou na sede do Condado, substituindo Guimarães. Aqui resistiu a Condessa, com as forças locais, ao ataque muçulmano de 1117.


Planta do Castelo de Coimbra

Com o advento da nacionalidade, Coimbra tornou-se a primeira capital portuguesa, condição que conservou até 1255, quando a perdeu para Lisboa. Com relação ao Castelo de Coimbra e acerca da vila, é atribuído aos monarcas Dom Afonso Henriques (1112-1185) e Dom Sancho I (1185-1211), a responsabilidade pela ampliação e reforço destas defesas. O primeiro, pela Torre de Menagem, e o segundo pela chamada Torre de Hércules construída por volta de 1189. O Rei Dom Fernando (1367-1383) também teria disposto do mesmo modo. No contexto da crise de 1383-1385, em Agosto de 1385, dias antes da Batalha de Aljubarrota, parte das forças de Castela, vindas da Beira a caminho de Lisboa, de passagem por Coimbra, travaram combate com um grupo de moradores junta à Porta da Almedina, na parte baixa da povoação. Era Alcaide-mor do castelo o Nobre Dom Gonçalo Mendes de Vasconcelos, o qual, apoiando o Regente, mantinha o pendão português. Entretanto, na ocasião, o castelo não sofreu assédio e nem assalto.




O nobre tomou parte nas Cortes de Coimbra de 1385, vindo a ser um dos três fidalgos que compuseram o ‘Conselho Régio’ ali indicado. Entretanto, por haver sido pessoa de confiança da rainha Dona Leonor, o novo soberano retirou-lhe a Alcaidaria, utilizando-se de um estratagema:

"Ordenou El-Rei de se ir ao Porto, com intenção de cobrar alguns lugares dos que naquela comarca de Antre Douro e Minho tinham voz por el-rei de Castela. E antes que partisse de Coimbra, porque não tinha boa suspeita de Gonçalo Mendes de Vasconcelos, especialmente por ser dívido da rainha Dona Leonor, teve que era bem de lhe tomar o castelo e dá-lo a outrem de que fosse seguro. E falou com Vasco Martins de Melo, que, como o visse fora do castelo, que entrasse e o tomasse, e Vasco Martins assim o fez, da qual cousa, posto que muito desprouguese a Gonçalo Mendes, El-Rei o contentou de tal guisa em outras mercês, que foi de todo pacificado."
(Fernão Lopes. Crónica de Dom João I).


O castelo e as defesas da vila mantiveram-se relativamente bem conservadas até ao século XVI, quando começou a se fazer sentir a pressão do crescimento urbano sobre a cerca exterior. Deste modo, o velho castelo medieval tomou parte em nova questão de sucessão dinástica, desta vez apoiando o ‘Prior do Crato’, resistindo sem sucesso às tropas castelhanas sob o comando de Sancho d'Ávila. Conhece-se a planta do castelo à época pombalina, que permite avaliar que o progresso urbano já cobrava o seu tributo à época, sob a forma de diversas edificações adossadas aos seus muros. De acordo com uma carta do académico Manuel da Silva Real à Academia Real de História Portuguesa (5 de Abril de 1723), era de se lamentar o esburacamento das paredes e do solo da torre quinária, também chamada de ‘Torre de Hércules’, praticado por pesquisadores de tesouros, que uma tradição local à época afirmava terem ali sido deixados pelo herói mitológico da Grécia Antiga. Era Alcaide-mor do Castelo, à época, o Duque de Aveiro. Ao final do século XVIII, o castelo encontrava-se sem função e quase que totalmente em ruínas. Desse modo, projectou-se arrasá-lo para erguer, em seu lugar, um Observatório Astronómico para a Universidade de Coimbra em 1772, trabalhos de demolição iniciados em 29 de Março de 1773. As obras do observatório iniciaram-se no mês de Abril do mesmo ano, sendo suspensas, entretanto, em Setembro de 1775, quando pouco mais do que os alicerces do edifício haviam sido erguidos.



Por razões não completamente esclarecidas um novo observatório, de menores dimensões foi erguido no pátio da Universidade e inaugurado em 1799. No contexto da Guerra Peninsular, a cidade, sem condição de defesa, antiga ou moderna, foi ocupada pelas tropas francesas, inicialmente sob o comando de Jean-Andoche Junot, e posteriormente, sob o de André Massena. Os trabalhos de prospecção arqueológica recentemente iniciados no Pátio da Universidade de Coimbra, visam, sendo ampliados, responder as indagações maiores acerca das primitivas plantas defensivas, quer do período romano, quer do muçulmano, quer do medieval. Conhecemos parcialmente o castelo medieval pelas plantas pombalinas que chegaram até nós. Elas mostram uma estrutura de planta quadrangular irregular, no estilo românico, quando subsistia ainda a torre de menagem, de planta quadrada.

Planta do Castelo de Coimbra, 1772

A cidade medieval dividia-se entre a chamada Cidade Alta (ou Almedina), ocupada pelo clero e pela nobreza (e, a partir do século XVI, os estudantes da Universidade), e a Cidade Baixa, onde se concentrava o comércio e o artesanato. O perímetro amuralhado medieval, com planta aproximadamente oval, que presumimos bastante extenso, embora não tenhamos a certeza do seu traçado preciso, compreendia ambos os núcleos. Em seu ponto mais baixo, às margens do Mondego, era defendido pela Torre de Belcouce. Entre as torres que se conservaram, destaca-se a chamada Torre da Almedina, à atual rua Ferreira Borges. Nela se rasga a Porta da Almedina, originalmente guardada por dois cubelos, que posteriormente foram ligados por um arco de ferradura, modificado ao longo dos séculos até à atual conformação em arco de volta perfeita. Sob o Reinado de Dom Manuel I ou de seu sucessor, Dom João III, esta torre foi adaptada para Casa da Câmara, datando desta época o baixo-relevo da Virgem com o Menino, de autoria do escultor João de Ruão, no interior do arco. Por fim, da cerca medieval, subsiste ainda uma pequena porta em arco de ferradura, junto ao Museu Nacional de Machado de Castro e a chamada Torre do Anto. Após a deposição de Dom Sancho II (1209-1248) em 1245, sendo o governo do Reino confiado ao seu irmão, o Infante Dom Afonso, refugiou-se o primeiro em Toledo, no Reino de Castela. Reza a lenda que Martim de Freitas, alcaide do Castelo de Coimbra, Fiel a Dom Sancho II, a quem prestara menagem, recusou-se a entregar o castelo ao regente, mesmo suportando um longo cerco, iniciado em 1246.



Informado do falecimento do soberano naquela cidade castelhana (Janeiro de 1248), pediu e obteve um salvo-conduto e foi, por seus próprios meios, certificar-se da notícia. Lá chegando, aberto o caixão, depositou as chaves do castelo sobre o cadáver do seu senhor, retirando-as em seguida para então as entregar ao novo soberano, como seu legítimo senhor.

Porta e Torre de Almedina



A Porta e Torre de Almedina localizam-se na freguesia de Almedina, cidade e concelho de Coimbra, distrito de mesmo nome, em Portugal. Como o próprio nome indica, constituía-se na porta da almedina, entrada principal da cidade intramuros. É acedida a partir da porta da Barbacã, na rua Ferreira Borges, uma das principais artérias da baixa de Coimbra. Ambas integram o Núcleo da Cidade Muralhada.



Assente na parte mais baixa da cerca medieval, a sua edificação poderá remontar à época do Conde Sesnando Davides, que conquistou Coimbra em 1064, tendo sido ao longo dos séculos por diversas vezes reformada e remodelada. Esta porta era defendida, primitivamente, por dois cubelos avançados que, mais tarde, foram ligados por meio de um arco fundo, por sobre o qual foi levantado o forte torreão. O seu aspecto atual poderá ser resultante de uma reforma no início do século XVI, por determinação de Dom Manuel I de Portugal.



Internamente encontra-se decorada com um friso com os baixos-relevos da Virgem com o Menino, ladeada por duas pedras de armas. Esta era possivelmente uma das torres de maior imponência no perímetro da muralha, devido à sua importância estratégica, uma vez que se constituía no acesso de maior importância, civil e militar, à cidade. Neste trecho mais vulnerável da cerca, entre a Porta de Almedina e a Porta de Belcouce, foi necessário reforçar a defesa, erguendo-se uma segunda cintura muralhada (a Barbacã).



A sua porta, em arco quebrado, típica das fortificações do período manuelino, também chegou aos nossos dias, sendo confundida com a própria porta da Almedina que, na realidade, antecede. Atualmente serve de limite entre as freguesias de Almedina e São Bartolomeu.

Torre de Anto



A Torre de Anto, primitivamente denominada como Torre do Prior do Ameal, e atualmente como Casa do Artesanato ou Núcleo Museológico da Memória da Escrita, localiza-se na freguesia de Almedina, Concelho de Coimbra, Distrito de Coimbra, em Portugal. Trata-se de uma antiga torre, integrante da cerca medieval da cidade, aproximadamente a meio da maior de suas encostas, sobranceira ao rio Mondego. Como outras torres daquela cerca, perdida a sua função defensiva, foi transformada em unidade habitacional na primeira metade do século XVI. Data deste período a sua designação como ‘Torre do Prior do Ameal’, assim como a sua atual aparência, com alterações menores posteriores. Esta torre celebrizou-se por ter sido a residência do poeta António Pereira Nobre (1867-1900), quando estudante, no final do século XIX. Daí deriva o nome pelo qual é melhor conhecida hoje, conforme o verso, em uma placa epigráfica, na sua fachada:



"O poeta aqui viveu no oiro do seu Sonho
Por isso a Torre esguia o nome veio d'Anto
Legenda d'Alma Só e coração tristonho
Que poetas ungiram na graça do seu pranto"

Uma segunda placa epigráfica na mesma fachada esclarece ainda:

"Esta Torre de Anto foi assim chamada por António Nobre, o grande poeta do Só, que nela morou e a cantou nos seus versos. E habitou-a mais tarde Alberto d'Oliveira, ilustre escritor e diplomata, o grande amigo de António Nobre e da Coimbra amada."



O Paço de Sobre-Ribas, vizinho à Torre de Anto, também incorpora parte da antiga cerca da cidade. De pequenas dimensões, apresenta planta quadrangular, com quatro pavimentos interligados entre si por uma escada em caracol. A sua cobertura é em telhado de quatro águas.

Palácio dos Almadas



O Palácio dos Almadas ou antes Palácio Almada-Carvalhais (Provedores da Casa da Índia), para não fazer confusão com o Palácio Almada dos Condes de Almada, na mesma cidade mas noutro local, é um palácio localizado no Largo do Conde Barão, na freguesia da Misericórdia, em Lisboa.



Foi construído em meados do século XVI por Dom Rodrigo ou Rui Fernandes de Almada, cônsul de Portugal na Flandres, durante o Reinado de Dom Manuel I. O edifício possui uma planta de forma rectangular e as fachadas apresentam três pisos. Os 2 últimos pisos possuem janelas de sacada que deitariam sobre o rio. Para aceder ao interior passa-se por uma porta monumental que comunica com um túnel coberto por abóbada de arestas sobre pilastras. Existe um recinto interior que é elevado, acessível através de dois lances de escadas. O piso térreo possui elementos renascentistas.



No acesso aos pisos superiores podem observar-se vários vestígios de pintura mural da segunda metade do século XVIII. Os pisos superiores foram alterados por várias intervenções, as mais importantes pertencentes ao período barroco. O edifício sofreu algumas alterações após o terramoto de 1755.



A partir de finais do século XIX o monumento começa a degradar-se. O antigo jardim era acedido por uma rampa e por uma passagem forrada com azulejos do século XVI, foi transformado em garagem.

Solar dos Cancelos  


O Solar dos Cancelos ou ‘Quinta da Areeira’ é um antigo solar situado na freguesia do Poço do Canto, na aldeia dos Cancelos de Baixo. Está localizado na Rua dos Cancelos do Meio. É um solar de tipo barroco, edificado no século XVIII por ordem de Manuel de Seixas Moutinho. O edifício tem uma planta longitudinal, divide-se em dois pisos. A fachada principal é marcada pela abertura, a espaços regulares, de portas e janelas. No piso térreo dispõem-se seis portas, abrindo-se no andar nobre igual número de janelas, com moldura de volutas. Em destaque, o pano principal do frontispício, onde se insere o portal, encimado por janela de sacada precedida por varanda de balaústres e brasão de armas. Do lado direito foi edificada uma capela privativa da casa.

Solar do Visconde de Almendra


O Solar do Visconde de Almendra ou ‘Solar dos Viscondes do Banho’ é um palácio barroco que albergou, por muitos anos, os Viscondes do Banho e de Almendra, e até hoje pertence a parte herdeira da nobre família Morais Sarmento. O edifício palaciano, exemplo ditoso da arquitectura setecentista do interior português, localiza-se em Almendra, em Vila Nova de Foz Côa. Testemunho das vivências de muitas gerações de nobres ilustres, foi última habitante do solar Márcia Augusta de Castilho Falcão Mendonça de Morais Sarmento, filha mais nova do 3º Visconde do Banho. O palácio, edifício de dois pisos, conserva o seu austero estilo barroco que se revela nas janelas “rocaille”, com as típicas vieiras invertidas, e a marcante varanda com balaústres. O Brasão de Armas da ilustre família, enquadrado por um frontão curvilíneo, permanece em cima da varanda. Curiosamente, o Brasão nunca foi devidamente terminado de esculpir.

Palácio de Alvor-Pombal
(Museu Nacional de Arte Antiga)


O Museu Nacional de Arte Antiga é o mais importante museu de arte dos séculos XII a XIX em Portugal. As suas colecções (cerca de 40.000 espécies) incluem pintura, escultura, desenho e artes decorativas europeias e, também, colecções de arte asiática (Índia, China, Japão) e africanas (marfins afro-portugueses) representativas das relações que se estabeleceram entre a Europa e o Oriente na sequência das viagens dos descobrimentos (iniciadas no século XV e de que Portugal foi nação pioneira).



O museu encontra-se localizado num palácio dos finais do século XVII, mandado construir por Dom Francisco de Távora, primeiro Conde de Alvor. O Palácio é conhecido como ‘Palácio de Alvor-Pombal’ pois, em 1759, após o Processo dos Távoras, o edifício foi adquirido em leilão por Paulo de Carvalho e Mendonça, irmão de Marquês de Pombal que, por morte do primeiro, passou a ser proprietário do palácio. O palácio confinava a oeste com o Convento de Santo Alberto, primeiro mosteiro de freiras carmelitas descalças em Lisboa, cujo patrono era Santo Alberto, razão pela qual era também conhecido por Convento das Albertas.

Palácio dos Condes da Calheta


O Palácio dos Condes da Calheta corresponde hoje às casas e quintas pertencentes, em meados do século XVII, a D. João Gonçalves da Câmara, quarto conde da Calheta. No reinado de Dom José I, funcionaram no edifício as secretarias de Estado e o Arquivo Militar, tendo-se também processado neste palácio os interrogatórios dos implicados no atentado contra o rei em 1758.



É uma construção sóbria, típica dos séculos XVII-XVIII, desenvolvendo-se em dois andares constituídos por dois corpos desnivelados e irregulares em altura. A fachada sul, virada para o jardim, apresenta um corpo extremo assente sobre a ‘Calçada do Galvão’ a que se segue um maior, mas mais recuado, com uma varanda corrida de ferro no primeiro andar, à frente de cinco janelas.

Palácio dos Marqueses de Fronteira


O Palácio Fronteira, em Lisboa, foi construído entre 1671 ou 1672, como pavilhão de caça para Dom João de Mascarenhas, o primeiro marquês de Fronteira. Apesar de alguns prédios altos serem visíveis à distância, continua a ocupar um lugar tranquilo, à beira do Parque Florestal de Monsanto.



A casa e o jardim têm belos azulejos cujos temas vão desde as batalhas às macacarias. Embora o palácio ainda seja ocupado pelo 12.º Marquês de Fronteira (entre outros títulos), algumas das salas, como a biblioteca e o jardim podem ser visitados. A Sala das Batalhas tem belos painéis com cenas da ‘Guerra da Restauração’ e um pormenor de Dom João de Mascarenhas (2.º Conde da Torre entre outros títulos) que combate um General espanhol.



Foi a sua lealdade a Dom Pedro II, durante esse conflito, que o fez ganhar o título de Marquês de Fronteira. A Sala de Jantar está decorada com azulejos holandeses e com retractos da nobreza portuguesa. A ‘Sala de Juno’ ou ‘Sala Imperio’ está decorada com frescos e retractos da nobreza portuguesa, de artistas como Domingos António de Sequeira. A fachada da Capela, originalmente dos finais do século XVI e renovada no século XVIII, está adornada com pedras, conchas, vidros partidos e restos de porcelanas.



Diz-se que essas peças foram usadas na inauguração do palácio e partidas para que ninguém utilizasse as peças onde o futuro Rei Dom Pedro, se tinha servido. No terraço da capela há nichos de azulejos decorados com figuras que personificam as artes e figuras mitológicas. Nos jardins encontram-se painéis de azulejos representativos dos costumes campestres de cada uma das estações do ano.



De um dos lados do jardim principal existem azulejos que exibem cavaleiros antepassados da família, reflectindo-se nas águas de um grande tanque. Uma escadaria de cada lado deste, leva a uma galeria onde os nichos decorativos contêm bustos de Reis portugueses, com a excepção dos três Reis Filipes.


Palácio da Independência


O Palácio da Independência, é também conhecido por ‘Palácio Almada’ por ter pertencido, desde o século XV até à altura da sua compra pelo Estado Português, à Família Almada (detentora da representação do título Conde de Almada e Abranches). Há conhecimento de um pergaminho do século XV referente à sua compra, pelo Conde Dom Fernando de Almada e Avranches, Capitão-mor de Portugal, e sua mulher, ao fidalgo Dom Nuno de Barbudo, altura em que passou para a mão da referida família, passando a ser a sua ‘casa-mãe’ ou ‘solar’. Foi nesta sua casa que Dom Antão de Almada e os 40 conjurados planearam a última reunião que deu origem à ‘Restauração da Independência de Portugal’, no dia 1 de Dezembro de 1640, com o derrube do jugo filipino e com a aclamação a Rei de Portugal Dom João IV. Fica situado no Largo de São Domingos junto ao Largo do Rocio em Lisboa, era antigamente também chamado de ‘Palácio do Rocio’, ou de ‘Palácio de São Domingos’. Encontra-se inserido em pleno antigo centro histórico da cidade de Lisboa, no Largo de São Domingos e à entrada das ‘Portas de Santo Antão’, implantado num terreno com declive ascendente para Este que confronta a noroeste com a Praça do Rossio. Está encostado à Cerca Fernandina que ainda aí se conserva quando em 1509 esta propriedade foi aumentada nuns quintais a Norte. Apesar ser dos mais representativos exemplos arquitecturais seiscentistas em Portugal, resultante de intervenções manuelinas e maneiristas, ainda mantém vivo um estilo anterior, que provinha dos palácios árabes, com o pátio interior e jardim. É um dos raros palácios que conserva chaminés monumentais de raiz quinhentista, conforme apurado pelo estudo da planta de Lisboa feita por Júlio de Castilho atestando que já em 1572 as ostentava. Estas são enormes e de cones facetados, à semelhança das do ‘Palácio Nacional de Sintra’ e que são da mesma época. Em 1713, a Câmara de Lisboa recebeu o pedido de Lourenço de Almada para que lhe fosse cedido algum chão público para alinhar a frente deste palácio. Nesta altura é que terá surgido o grande edifício da frente, a frontaria do Palácio, que hoje vemos da rua, articulado em duas fachadas rigorosamente estruturadas, maior e mais de acordo com as exigências do século XVIII, com planta rectangular centralizada num pátio interior concebido para permitir a circulação de carruagens. Mesmo assim há em todo nele, um algum cuidado para manter a austeridade exigida numa família tradicional e porque ainda não é obra do ‘Barroco Rococó’. No exterior do imóvel surge, com uma ausência quase total de ornamentação, e animadas pela abertura de filas de janelas de sacada com moldura rectangular, concentradas num amplo portal, sobreposto por uma varanda de balaústres para a qual abre o janelão central do andar nobre, encimado pela pedra-de-armas com o Brazão dos Almada, em pleno. Assim como terão sido realizadas algumas decorações como a azulejaria joanina assinada por Gabriel del Barco. Dado que foi pouco afectado pelo Terramoto de 1755 foi o palácio aproveitado para recolher alguns doentes do ‘Hospital de Todos o Santos’, seu vizinho e em 1756, foi alugado para outros serviços públicos como o ‘Tribunal da Relação’, o ‘Senado Municipal’ e, até ao ano de 1774, com o seu ‘Arquivo Municipal de Lisboa’ então chamado Depósito Público. Em 1774 outro Dom Antão de Almada, descendente do referido primeiro, mestre-sala de Dom José I, regressado dos Açores voltou a habitar o palácio realizando obras de embelezamento do jardim e colocando uns painéis de azulejos alusivos à Restauração. Importa ainda referir que este Palácio tinha no seu interior um antigo poço, com mina de água de pequeno caudal, hoje tapado com um vidro.

Palácio Ludovice



O Palácio Ludovice é um palácio nobre situado no Miradouro de São Pedro de Alcântara, construído no séc. XVIII, foi a residência da família Ludovice, sendo projectado para acolher o Arquitecto João Frederico Ludovice.



O palácio surge com um tipo de arquitectura residencial, barroca. Trata-se de um edifício imponente, no topo do ‘Elevador da Glória’, com uma certa dinamização barroca e que, como é hábito na arquitectura de Ludovice, a ênfase é posta na fachada principal, e aqui, esta é sobretudo marcante no pano central e nos 3º e 4º piso. Surge, pois, uma varanda sinuosa no andar nobre, janelas de sacada com padieira decorada e encimada por frontões contra curvos e segmentares.



João Frederico Ludovici. Johann Friedrich Ludwig conhecido em Portugal como João Frederico Ludovici nasceu no Castelo de Honhardt, Suábia, 19 de Março 1673 e faleceu em Lisboa, a 18 de Janeiro 1752, foi um arquitecto e ourives alemão. Natural da Suábia emigrou para a Itália, onde se converteu ao Catolicismo. Veio depois para Portugal, projectando entre outras obras o ‘Palácio Nacional de Mafra’ obras que durarão 13 anos de 1717 a 1730, ao serviço do Rei Dom João V. Naturalizou-se, mais tarde, cidadão português. Filho mais novo de Peter Ludwig e de sua esposa Elisabetha Rosina Engelhardt nasceu no Castelo de Honhardt. A juventude despreocupada que Johann pode viver no Castelo, no convívio com os seus numerosos irmãos, não foi duradoura: logo no ano de 1681 a família mudava-se para Schwabisch-Hall, onde seu pai adquirira uma casa na Travessa Langen. Como todos os seus irmãos, Johann frequentou o liceu de Hall, tendo-se matriculado a 6 de Junho de 1682. No ano de 1687, contando apenas 14 anos, de idade perdeu o pai, foi após tal desenlace que o seu tio e padrinho, Johann Wilhelm Engelhardt, entusiasta construtor e homem de sentido apurado e estético, ocupou-se da educação do jovem sobrinho, familiarizando-o com a arquitectura. É possível que a centelha artística, que existia em Johann, fosse congénita da parte de sua mãe, do ramo dos Engelhardt. Em 1689, Johann iniciou os seus estudos de ourivesaria com o Mestre Ourives N. A. Kienle de Jugeren, em Ulm, por um período de 4 anos, entre 1689 e 1693. Nesse ano assentou praça com 19 anos de idade, tomando parte na ‘Guerra do Eleitorado do Palatinado’, que rebentara em 1688, contra a França, tendo Johann feito campanha até ao fim da guerra em 1697, como oficial de Engenharia, após o que seguiu para Itália. Como militar, orientou trabalhos de engenharia em Ratisbona, assim como outros que realizou durante a guerra, talvez até relacionados com a fundição de metais, ligados à arma de artilharia, adquirindo assim vastos conhecimentos e experiência neste campo. Ao deixar o Exército em 1697, partiu para Itália, na companhia do Ourives Johann Adolf Gaap (da família de mestres ourives), tendo-se domiciliado em Roma, onde veio a desenvolver os seus conhecimentos artísticos, designadamente escultura e arquitectura, alterando o seu apelido para Ludovici. Em virtude da sua vasta erudição em diversas ciências, granjeou simpatia entre os Jesuítas, que, descobrindo o seu invulgar talento, tentaram com que ele ingressasse na Ordem. Lograram apenas a sua conversão ao Catolicismo, facto relacionado, sem dúvida, com o seu casamento em 1700, em Neapel, com a Católica Kiara Agnese Morelli, dona de rara formosura e dotes morais, filha do industrial de Calçado Francesco Morelli, e de sua mulher Anna Morelli. Em Itália, Johann, é convidado pelos Jesuítas para trabalhar na igreja de Gesú, na fundição e cinzelagem da imagem do ‘Santo Ignácio de Loyola’, da autoria de los Groos, bem como noutras alfaias. Em Roma o seu trabalho foi enaltecido pelos jesuítas, destacando-se de tantos outros artífices e colaboradores Romanos e Franceses, pelo género e qualidade de trabalho da sua especialidade. Depois de ter contraído núpcias com Kiara Agnese, Johann, faz uma visita à sua terra natal, Schwabisch-Hall, para ver seus familiares e apresentar sua esposa. Nessa altura questões familiares insuficientemente esclarecidas motivaram o rompimento de relações com sua mãe e irmãs, que compartilhavam os mesmos sentimentos. Atribuem à independência assumida por Johann, em relação ao facto da sua família de Schwabisch-Hall, ser Luterana e como tal, não aceitar o seu casamento Católico, enquanto outros conjecturam que tão desagradável incidente tenha sido ocasionado por questões de partilhas de herança paterna. Pois todas as propriedades e bens advinham do primeiro casamento de seu pai. E a sua segunda mulher, mãe do Johann apoderara-se de todos os bens deixando os herdeiros do primeiro casamento praticamente na miséria. Pois tanto Johann como seus irmãos filhos do segundo casamento praticamente não tinham direito a nada e Johann teria ficado indignado com a atitude de sua mãe, tanto assim que mais tarde ignora a parte que lhe coube em testamento. O que se sabe, porém, é que Johann diz à família que vai para a América e depois desta data nunca mais dá notícias suas, ou da sua família directa, aos seus familiares.



É ainda no final de 1700, que Johann chega com sua esposa a Lisboa, fixando residência na Rua dos Canos, junto ao colégio de Santo Antão. Ele tem um contrato para trabalhar com os Jesuítas, durante 7 anos, no ‘Sacrário de Santo Antão’, bem como noutras alfaias de igrejas da mesma Ordem. Neste contrato, Johann é obrigado a trabalhar em exclusividade para os Jesuítas. A um de Janeiro de 1701, nasceu em Lisboa o seu primeiro filho, João Pedro Ludovici, filho de Kiara Agnese Morelli, tendo a mãe falecido deste parto. A 13 de Setembro desse mesmo ano, é pronunciada uma sentença contra Ludovici, pelo não cumprimento do contrato de exclusividade para com os Jesuítas. É então, que o Rei Dom Pedro II intercede a seu favor, pagando as custas da sentença, orçadas em 1.012 Reis, e convence os Jesuítas a permitir que Ludovici pudesse fazer uma ou outra obra do seu mister para algumas ‘Igrejas do Padroado Real’, ou até do Paço. Este facto revela-nos que, em 1701, já Ludovici se encontrava a trabalhar para o Rei Dom Pedro II. Dos seus trabalhos em Ourivesaria a grande maioria não está identificado, pois na maior parte das vezes Ludovici apenas desenha as peças e estas são identificadas apenas pelos ourives executores, mas não os autores das mesmas. Mesmo as peças de ourivesaria que são atribuídas a Ludovici, não foram executadas pelo próprio e nelas consta a marca do executor. Das peças atribuídas a sua autoria, constam: O Sacrário de Prata da Igreja de Santo Antão, a Custódia para a Capela da Bemposta, o Frontal e a Banqueta de prata do Convento do Carmo, o conjunto das Peanhas da Sé de Coimbra, Alfaias para a Capela Real do Paço da Ribeira e muito provavelmente alfaias para a Igreja de São Vicente de Fora, Basílica de Mafra, a Custódia da Sé de Lisboa, Alfaias para a Capela de São João Baptista na Igreja de São Roque etc. Não nos podemos esquecer que desde 1701 a 1717 vão 16 anos de trabalho praticamente exclusivo à ourivesaria. O Rei Dom João V encarrega Ludovici de reestruturar o antigo ‘Paço da Ribeira’ e a sua antiga ‘Capela Manuelina’, transformando-a na ‘Igreja Patriarcal’. Em documentação da época, estes trabalhos são muito elogiados, e no que se refere à ‘Capela do Paço da Ribeira’, esta é descrita como uma das mais magníficas que se conhece na Europa, destacando os seus interiores e objectos de culto.


O Rei Dom Pedro II havia feito um voto de erigir um Convento no caso de ter descendência, mas nunca foi cumprido. O Rei Dom João V, com o mesmo problema de sucessão, resolve cumprir a promessa de seu pai, e ordena a construção de um ‘Templo em Mafra’, (O Novo Templo de Salomão). Por decreto de El-Rei Dom João V, de 26 de Setembro de 1711, este faz a promessa de construir um Convento e ordena a execução de vários riscos para o mesmo. A notícia de que entre os vários concorrentes ao projecto, se encontravam os arquitectos Italianos: Filipo Juvara e António Canevári, (1681-1764) é hoje posta em causa, não obstante, o monarca escolhe o projecto apresentado por Ludovici, não o faz por mero acaso, para além das possíveis influências que se tenham movido, prevaleceu o gosto do próprio Monarca, porquanto a proposta de Ludovici correspondia inteiramente aos objectivos que nortearam a execução do Convento.



Quanto à variação de planta, que o Convento sofreu, todas elas foram desenhadas por Ludovici, tendo como prova a planta do Palacete da ‘Quinta da Alfarrobeira’ concluído em 1727, de autoria de Ludovici, ser a miniatura da planta definitiva do ‘Convento de Mafra’. As obras do ‘Palácio Convento de Mafra’ iniciaram-se solenemente no dia 17 de Novembro de 1717, com o lançamento da primeira pedra, em luxuosa cerimónia. A direcção da obra ficou a cargo do Ludovici, tendo posteriormente este sido substituído, em 1730, pelo seu filho João Pedro Ludovici, também arquitecto da escola de Mafra, tendo fixado residência em Igreja Nova, na ‘Quinta de Santo António da Arrifana’, em Mafra. À parte do plano para Mafra, Ludovici fundou uma ‘Escola de Risco em Mafra’, onde se formaram vários arquitectos, que se distinguiram no reinado de Dom José I, contribuindo assim para o enaltecimento da grande obra de reconstrução da ‘Baixa de Lisboa’, da qual tanto beneficiou o Marquês de Pombal. Posteriormente à obra de Mafra, Ludovici faz vários riscos para outras obras, assim como, a reestruturação do ‘Paço da Ribeira’ e a sua ‘Capela Real’, mais conhecida por Patriarcal, o Altar-Mór da Sé de Évora, o Altar-Mór de São Vicente de Fora, o Altar-Mór da Igreja de São Domingos em Lisboa e o seu Pórtico, que pertenceu à Sé Patriarcal, destruída pelo terramoto de 1755 e adaptado a esta pelo arquitecto Carlos Mardel. Ludovici fez também a ‘Torre de Coimbra’ e o ‘Pórtico da Biblioteca da Universidade’, o ‘Pórtico da Igreja de Santa Cruz de Coimbra’, entre muitas outras obras de extremo relevo. Para si construiu em Benfica a ‘Quinta de Alfarrobeira’, cujas obras ficaram concluídas em 1727, e em cuja capela contraiu segundas núpcias, com Dona Anna Maria Verney em 1720.



Em Lisboa, ao cimo da ‘Calçada da Glória’, construiu um palácio de cinco pisos e janelas avarandadas, considerado como um dos mais belos de Lisboa antiga, cuja construção foi concluída em 1747. Actualmente, este belíssimo edifício corresponde ao ‘Solar do vinho do Porto’. Ludovici participou também na resolução da construção do Aqueduto das águas Livres, tendo solucionado o problema das canalizações. Estando já este construído, a água não chegava, ainda assim, a Lisboa, pois os seus construtores tanto engenheiros como arquitectos não conseguiam dar solução ao problema. É então Ludovici chamado por ordem Real e resolve o problema da canalização de modo a que a água chegue a Lisboa. Em 1718, já Ludovici, fazia parte da ‘Mesa da Confraria de São Lucas’, e no ano seguinte era seu colaborador Cláudio de Laprade (1682-1738) na decoração da procissão do ‘Corpo de Deus’, em Lisboa. O Rei Dom João V concedeu-lhe várias benesses, entre as quais, se destaca a nomeação como ‘Arquitecto das Obras de São Vicente de Fora’, em 1720 e a concessão do ‘Hábito da Ordem de Cristo’, em 1740. A 28 de Julho de 1720, viúvo de Kiara Agnese, contrai segundas núpcias com Dona Anna Maria Verney, irmã de Dom Luís António Verney. Deste casamento nascem sete filhos, sendo um deles, o futuro arquitecto José Joaquim Ludovici (1731-1803), autor do risco do ‘Convento do Espírito Santo’, o actual Chiado. A consagração suprema ser-lhe-ia dada porém, em 1750, pelo Rei Dom José I, que o nomeou ‘Arquitecto-Mór do Reino’, com a patente de Brigadeiro. No decreto de nomeação referem-se os serviços prestados “tanto no Reino como fora dele”, pelo que é de presumir que a sua acção se tenha estendido também ao Brasil. João Frederico Ludovici, coberto de prestigio e rodeado de grande consideração, faleceu em Lisboa a 18 de Janeiro de 1752, na Rua Larga de São Roque, onde residia então, e foi sepultado na Igreja de São Roque como consta na sua certidão de óbito, (numa cripta que existe na sacristia). O mesmo Johann Friedrich Ludwig, que se julgava, por parte da sua família Suábia, emigrado para a América, era considerado desaparecido na sua terra natal, em Schwabisch-Hall, uma vez que, após o ano de 1700, não houvera notícias suas. Depois do falecimento de sua mãe, Elisabetha Rosina, no ano de 1729, os consideráveis bens da mesma, e por virtude de um vasto testamento ainda hoje depositado no Arquivo de Schwabisch-Hall, foi distribuído em partes iguais, entre os filhos, ficando porém o quinhão de João Frederico Ludovici, de parte sob administração. Ao fim de 30 anos de ser dado como desaparecido, em 18 de Janeiro de 1734, por decisão do Conselho de Hall, é considerado como morto, e a sua parte distribuída pelos restantes irmãos. Em 1743, a sua última intervenção foi a ‘Capela de São João Baptista’ na Igreja de São Roque, segundo os riscos que enviou para Roma. João Frederico Ludovici altera os riscos de Luigi Vanvitelli, para a ‘Capela de São João Baptista’ em São Roque, enviando para Roma os desenhos com as alterações, uma vez que Vanvitelli se recusava a alterar o projecto inicial. O projecto definitivo é praticamente da autoria de Ludovici se forem comparados ao projecto inicial e as alterações impostas por Ludovici, segundo a correspondência entre Ludovice e Vanvitelli, publicada por Sousa Viterbo. “REGIUS ARCHITECTUS”. O Arquitecto-Ourives, João Federico Ludovici, um estrangeiro que fez de Portugal a sua Pátria. El-Rei Dom João V, acumulou de honras e encheu de riquezas o artista benemérito, que levantou Portugal na Arquitectura e Escultura, da prostração em que jazia, o arquitecto ourives João Federico Ludovici. Tratando-o já em 1718, com as obras da ‘Sé de Évora’, como “REGIUS ARCHITECTUS - IONNES FEDERICUS LUDOVISIUS”.



Também El-Rei Dom José I, remunerou Ludovice, em Dezembro de 1751, passando a transcrever:

"Tendo consideração à grande capacidade, inteligência, e préstimo, com que serviu de Arquitecto a El-Rei meu Senhor, e Pai pelo tempo de quarenta e três anos, João Federico Ludovice, debuxando plantas profis e ornatos e fazendo modelos para as principais obras que o mesmo Senhor mandou fazer, assim neste Reino como fora dele, não só com aprovação e louvor dos maiores Artífices da Europa, mas com tal acerto e esplendor, que executados mostram bem a magnificência e grandeza de quem mandou fabricar e instruindo as que fizeram nestes Reinos com tal direcção e actividade aos operários que à sua doutrina se deve o grande adiantamento, com que neles se acham presentemente as Artes e a continuar o mesmo exercício no seu serviço, que confio dele cumprirá muito à minha Real Satisfação. Porque a muitos Arquitectos civis, em que não concorreram as mesmas circunstâncias, nem serviram tanto nem com tanto préstimo, como o dito João Frederico Ludovice, se tem dado patentes de postos Militares, sem que houvessem servido militarmente, e ser de minha Real intenção ao honrar, e adiantar os homens, que se distinguem relevantemente nos empregos do meu Real serviço: Hei por bem fazer-lhe mercê de o nomear Arquitecto Mor deste Reinos, com a Patente e soldo de Brigadeiro de Infantaria que haverá na primeira Plana da Corte, e que todos os mais Arquitectos Civis lhe sejam subordinados, obedeçam e aguardem suas ordens no que tocar ao seu serviço, com declaração que falecendo o dito João Federico Ludovici, se extinguirá o dito cargo de Arquitecto Mor, sem que haja de servir de exemplo a outra Alguma pessoa. O Conselho Ultramarino o tendo assim entendido, e pela parte que lhe toca o fica executado, Lisboa, catorze de Setembro de Mil Setecentos e Cinquenta. Com a assinatura de Sua Majestade: El-Rei Dom José I"


El-Rei Dom João V, que desejava no íntimo do coração o adiantamento e esplendor das Artes, e que se esforçou para conseguir, sabia que em tais assuntos todo o esforço é inútil, se não vem o prémio moral e material estimular os artistas. Como Rei, a quem a posteridade concedeu com justiça os nomes de ‘Magnânimo e Protector das Artes’, a acumulou de honras e encheu de riquezas o Artista benemérito, que levantará Portugal na arquitectura e escultura da prostração vergonhosa em que jaziam, o Arquitecto Ourives, João Federico Ludovici. Também El-Rei Dom José I em Dezembro de 1750, apenas alguns meses depois de empunhar o ceptro, remunerou Ludovici, fazendo-o ‘Arquitecto-Mór do Reino’, com Patente, soldo e graduação de Brigadeiro de Infantaria na primeira Plana da Corte, e declarando no decreto que lhe fazia esta mercê ”pela grande capacidade com que servira por tempo de 43 anos ao Senhor Rei Dom João V, desenhando e fazendo modelos com tal acerto que, executados, deixam ver a magnificência de quem os mandará pôr em execução, e instruindo os operários empregados em tais obras com tanto zelo que à sua doutrina se deve o grande adiantamento em que se achavam as Artes n’estes Reinos“.



Esta nomeação feita ao artista octogenário já não era um prémio dos seus serviços. Tinha outra significação mais nobre e mais elevada. Era o galardão desinteressado concedido ao mérito. Era a coroação de louros com que o representante coroado de um povo agradecido cingia a fronte do artista insigne na sua despedida do mundo. Era em fim a luz da glória projectando esplendores sobre uma campa ainda vazia, e ao mesmo tempo, iluminando o caminho aos novos adeptos para o Templo das artes.



“Era homem de grande vontade e maior entendimento. Chegou a ser tão estimado pelo El-Rei Dom João V, que até lhe baptizou um filho e tratava-o por compadre.”

Palácio Nacional da Ajuda



O Palácio Nacional da Ajuda, ou Paço de Nossa Senhora da Ajuda, é um monumento nacional português, situado na freguesia da Ajuda, em Lisboa. Antigo Palácio Real é hoje em grande parte um museu, estando instalados no restante edifício a ‘Biblioteca Nacional da Ajuda’, o ‘Ministério da Cultura’, e o ‘Instituto dos Museus e da Conservação’. Em 1726, o Rei Dom João V que nasceu em 1689 e faleceu em 1750, adquire quatro quintas na zona de Belém. A primeira tinha já uma edificação que é hoje o Palácio de Belém a, segunda uma ermida do Oratório que foi depois expandido para o que é hoje o ‘Palácio das Necessidades’ e a terceira a ‘Quinta da Ajuda’ reservada para a edificação de uma residência real de Verão. Ali é rasgada a ‘Calçada da Ajuda’ e junto a Belém construído um cais, não chegando no entanto nenhum palácio a ser projectado. A utilização da quinta da Ajuda como ‘Paço Real’ deu-se no rescaldo do Terramoto de Lisboa a 1 de Novembro de 1755 já no Reinado do Rei Dom José I. O terramoto destruiu praticamente toda a cidade de Lisboa, incluindo a residência do Rei, o velho ‘Palácio da Ribeira’, mandado construído pelo El-Rei Dom Manuel I cujo complexo abraçava o ‘Terreiro do Paço’, junto ao Rio Tejo. O facto não criou apenas danos materiais, mas criou também uma fobia na população lisboeta sobrevivente que receava agora uma réplica ou até um segundo abalo telúrico. Embora a família Real e a Corte se encontrassem nesse dia em Belém, zona ocidental da cidade onde os efeitos do terramoto não se fizeram sentir com tanta intensidade, o Rei ficou em tal estado de perturbação com o acontecimento que se recusou a viver em edifícios de alvenaria. O Rei Dom José I mandou então erigir no alto da Ajuda, local de pouca actividade sísmica, um palácio de madeira e pano, a que se chamou ‘Real Barraca’ ou ‘Paço de Madeira’. A obra só se concluiria em 1761. Esta construção obedecia, no seu início, a dois princípios: resistência a sismos (graças aos seus materiais de construção) e inexistência de alvenaria.



O rés-do-chão, e o primeiro andar, obedeceram ao traçado, de Petrone, Mazone e Veríssimo Jorge. Os seus interiores foram decorados com o melhor e mais belo mobiliário e grandes e preciosas peças de tapeçaria, pintura e ourivesaria. A estrutura cresceu tanto que era maior em área do que o palácio existente hoje em dia. Ali esteve sediada a Corte durante cerca de três décadas numa luxuosa atmosfera da época áurea do ‘Despotismo Esclarecido’ suportado pelo que as remessas de ouro e brilhantes do Brasil ainda permitiam. Em 1768 o primeiro jardim botânico de Lisboa foi construído em redor do palácio por ordem do ministro Dom Sebastião José. Na Real Barraca viveria o Rei Dom José I até morrer, em 1777. À data da morte do Rei Dom José I, a sua filha e sucessora do trono de Portugal, Dona Maria I habitava, desde o seu casamento com o Rei seu tio Dom Pedro III, no Palácio de Queluz. A Real Barraca ficou durante poucos anos secundarizada embora fosse muitas vezes visitada pela Rainha e seus filhos.



Desde 10 de Fevereiro de 1792, por demência da Rainha, o Príncipe Dom João futuro Dom João VI passou, a dirigir os negócios públicos, efectuando despacho dos decretos em seu nome. A 15 de Julho de 1799, e até subir ao trono, assumiu o poder sob o título de ‘Príncipe Regente’ e passou a governar o Reino. Em 1794, e segundo os registos, por descuido de um criado com uma candeia, deflagra-se um enorme incêndio que destrói por completo a ‘Real Barraca’ e grande parte do seu valioso recheio (tapeçarias, pinturas, ourivesaria, mobiliário) é totalmente consumido pelo fogo. Salva-se a ‘Torre Paroquial’ graças à demolição durante o incêndio de um passadiço que a ligava à ‘Real Barraca’. Há algumas peças do recheio do Paço que resistiram ao incêndio expostas hoje em dia no Museu do Palácio Nacional da Ajuda. E curiosamente há registo de terem sido encontrados nos escombros restos de estrutura em alvenaria construída para suportar o segundo andar. É agora necessário construir um novo palácio em Lisboa (a capital do Império Português) digno de acolher a Família Real. Esta não era uma nova ideia, mesmo no tempo do Rei Dom João V e do velho ‘Paço da Ribeira’, esse projecto já existia. Muitos historiadores afirmam que se não fora o Terramoto, Dom José I teria muito provavelmente concluído um tal projecto em vez da estrutura provisória que acabara por arder.



O Príncipe Dom João aprova a construção de raiz de um novo palácio. A traça do plano é de Manuel Caetano de Sousa (que nasceu em 1742 e faleceu em 1802), que apresenta um projecto Barroco, sendo o lançamento da primeira pedra celebrado a 9 de Novembro de 1795. Note-se a peculiaridade da aprovação de um importantíssimo projecto de estilo Barroco no final do século XVIII. Ainda no início desta construção, chegaram a Portugal dois arquitectos vindos da escola de Bolonha e seguidores da nova corrente de inspiração neoclássica, que exerceram influência junto do Príncipe Dom João pondo este de parte o projecto Barroco. Estes dois arquitectos eram Francisco Xavier Fabri (que nasceu em 1761 e faleceu em 1817) e José da Costa e Silva (que nasceu em 1747 e faleceu em 1819) e foram encarregados em 1802, de modificar o anterior projecto. Foi José da Costa e Silva que defendeu o aproveitamento da estrutura já construída adaptando-a ao novo projecto. A construção do novo edifício é interrompida em várias ocasiões dados os recorrentes problemas, a nível nacional, de ordem financeira e política. Sublinham-se as Invasões Francesas que, em 1807, resultam na transferência da ‘Família Real e da Corte’ para o Brasil. É do Palácio da Ajuda que o Príncipe Dom João escreve aos seus súbditos antes de partir para o Brasil. Embora as Invasões não tenham sido o directo responsável (uma vez que os registos indicam que o enviado de Napoleão Bonaparte, o General Junot, deu ordem para que as obras no palácio não parassem) a construção simultânea de um Paço Real no Brasil, o Paço de São Cristóvão, e restantes obras importantes na colónia acabaram por desequilibrar os investimentos no Reino a favor do Brasil. Como tal, ao longo da primeira metade do século XIX, as obras prosseguem com lentidão, nelas trabalhando importantes artistas nacionais: Domingos Sequeira (1768-1837), Arcangelo Foschini (1771-1834), Cirilo Wolkmar Machado (1748-1823), Machado de Castro (1731-1822) e João José de Aguiar (1769-1834), que se dedicam à decoração dos tectos e fachadas.



Quando em 1821, o Rei Dom João VI de Portugal regressou do Brasil (na sequência da revolução liberal de 1820), o Palácio ainda não estava concluído. As instalações permitiam apenas a realização de cerimónias protocolares, tais como a investidura da ‘Ordem da Jarreteira’ a Dom João VI, em 1823. Foi por estas condições que o monarca foi viver para o ‘Palácio da Bemposta’, onde veio a falecer a 10 de Março de 1826. As alas, nascente e sul do Paço da Ajuda eram já habitáveis, e a decoração dos seus interiores foi orientada pela Marquesa de Alorna convidada para esse efeito. Depois da morte do Rei e ainda neste mesmo ano de 1826 vêm residir para o novo Paço Real a agora Infanta Regente Dona Isabel Maria e suas irmãs Dona Maria da Assunção e Dona Maria Francisca Benedita. Em 1828 Dom Miguel I é aqui aclamado Rei pelos Três Estados reunidos na sala das Cortes, hoje ‘Sala da Ceia’.

Palácio das Necessidades


O Palácio das Necessidades (anteriormente chamado Convento de São Filipe de Néri e Convento de Nossa Senhora das Necessidades) é um antigo convento e actual palácio que se localiza no Largo do Rilvas, freguesia da Estrela (Prazeres), em Lisboa.



Antigo convento da Congregação do Oratório, o conjunto foi iniciado no século XVIII por determinação do Rei Dom João V de Portugal, na sequência de um voto daquele monarca feito a Nossa Senhora das Necessidades, cuja ermida se erguia nesse local.



O palácio tornou-se, residência dos ‘Reis da Dinastia de Bragança’ a partir, de Dona Maria II de Portugal, excepção feita ao seu filho Dom Luís I de Portugal, que preferiu o Palácio Nacional da Ajuda.



As Necessidades foram o palco de alguns acontecimentos importantes da história portuguesa, como é exemplo, que foi no palácio que se reuniram as ‘Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa’ as quais aprovaram a primeira Constituição portuguesa.



Palácio da Rosa


O Palácio da Rosa é um solar oitocentista com traços quinhentistas, no Largo da Rosa, na chamada Mouraria, freguesia de Santa Maria Maior, anteriormente na freguesia do Socorro, em plena Lisboa. Em 16 de Dezembro de 1393 foi dada autorização pela câmara de Lisboa a Dom Afonso Anes Nogueira, Cavaleiro e Alcaide-mór e morador da dita cidade, filho do conhecido João das Leis e casado com Joana Vaz de Almada (filha de Vasco Lourenço de Almada), para derrubar uns ‘pardieiros’ e fechar as ruas junto à Igreja de São Lourenço, para fazer umas casas e um edifício, "por que a dita cidade seria mais honrada", naquele que mais tarde veio dar origem a este Palácio da Rosa. Destruído quase na totalidade pelo Terramoto, foi reedificado no Século XVIII.



Este que fazia parte do chamado morgado de São Lourenço e que entra, por casamento, a casa dos Marqueses de Ponte de Lima e mais tarde, também por casamento, entra para os bens dos Marqueses de Castelo Melhor, daí igualmente ter sido conhecido por "Palácio dos Marqueses de Ponte de Lima e dos Castelo-Melhor". Data Séc. XVI. Implantado na Mouraria, o Palácio da Rosa assenta sobre a casa nobre quinhentista que pertenceu a Luís de Brito Nogueira, senhor dos morgados de São Lourenço, em Lisboa, e de Santo Estevão, em Beja. Por casamento, o Palácio entra para a casa dos Viscondes de Vila Nova da Cerveira, e Marqueses de Ponte de Lima, título outorgado ao 14.º Visconde. Igualmente por casamento entra para os bens dos Marqueses de Castelo Melhor. Destruído quase na totalidade pelo Terramoto, foi reedificado no Séc. XVIII.

Palácio Nacional de Belém



O ‘Palácio Nacional de Santa Maria de Belém’ (nome oficial) simplesmente conhecido por ‘Palácio de Belém’, em Lisboa. O Palácio foi construído em 1559 pelo fidalgo Dom Manuel de Portugal. Situa-se na zona sudoeste da cidade de Lisboa, em Belém. O palácio tinha jardins à beira do Tejo, quando o rio tinha a margem mais próxima do que na actualidade. No século XVIII, o Rei Dom João V que enriquecera os cofres públicos, com o ouro proveniente do Brasil, comprou-o ao Conde de Aveiras, tendo-o alterado radicalmente. Acrescentou-lhe uma escola de equitação (as cavalariças são hoje o esplêndido ‘Museu Nacional dos Coches’) e adaptou o interior para poder fazer as suas conquistas amorosas com discrição.



Aquando do Terramoto de 1755, o monarca Dom José I e a família encontravam-se a passar o dia feriado na zona de Belém e sobreviveram à devastação. Receando outro sismo, a família Real instalou-se em tendas nos terrenos do palácio, cujo interior foi usado como hospital. O Palácio entrou assim no património da ‘Casa Real’, que construiu nos seus anexos o seu ‘Picadeiro Régio’.

Palácio de Sant'Anna


O Palácio de Sant'Anna é um palácio do século XVIII e está localizado no centro de Lisboa, junto ao Campo de Sant'Ana, no cimo da Calçada de Sant'Ana, fazendo gaveto com a antiga Travessa onde se localizava o antigo Convento de Sant'Ana. No Palácio de Sant'Anna funcionou a ‘Embaixada do Império Austro-Húngaro’. O Conde de Mafra, no seu livro "Memórias do Conde de Mafra", refere que tendo ido almoçar ao Palácio de Sant'Anna a convite do Senhor Embaixador, ficou encantado com a beleza da Casa.

Palácio Valada-Azambuja


O Palácio Valada-Azambuja ou Palácio dos Condes de Azambuja, por lhes ter pertencido, situa-se no Largo do Calhariz, na freguesia de São Paulo, em Lisboa. Este palácio edificado no século XV, no sítio onde existia uma casa e quinta do Dom Álvaro Vaz de Almada antes, dele morrer na ‘Batalha de Alfarrobeira’ e transitar para a família dos Távoras em 1449, sofreu várias modificações ao longo de três séculos.



Foi totalmente reconstruído após a sua destruição aquando do Terramoto de 1755. Desde os finais do século XIX que sofreu diversas alterações, mantendo no entanto a sua fachada as características dum palácio setecentista. No átrio de entrada deste palácio de planta em forma de U, pode-se observar uma série de azulejos que recobrem ambas as paredes. Esses azulejos são datados do século XVII.

Palácio Verride


O Palácio de Verride ou ‘Palácio de Santa Catarina’ está situado no Bairro da Bica, freguesia de Santa Catarina, junto ao Miradouro de Santa Catarina, popularmente chamado de Adamastor, em Lisboa. Este palácio foi edificado no século XVIII. Aqui morou o Conde de Verride.

Palácio de São Bento


O Palácio de São Bento é um palácio de estilo neoclássico situado em Lisboa, sendo a sede do Parlamento de Portugal desde 1834. Foi construído em finais do século XVI como mosteiro beneditino (Mosteiro de São Bento da Saúde) por traça de Baltazar Álvares.



Com a extinção das ordens religiosas em Portugal passou a ser propriedade do Estado. No século XVII, foram construídas as criptas dos Marqueses de Castelo Rodrigo.

Castelo de São Jorge


O Castelo de São Jorge localiza-se na freguesia de Santa Maria Maior (Castelo), na cidade e concelho de Lisboa, em Portugal. O nome actual deriva da devoção do castelo a São Jorge, santo padroeiro dos cavaleiros e das cruzadas, feita por ordem de Dom João I no século XIV. Ao longo do tempo o castelo, assim como as diversas estruturas militares de Lisboa, foi sendo remodelado, ao ponto de na primeira metade do século XX estar já em avançado estado de ruína. Na década de 1940 foram empreendidas monumentais obras de reconstrução, levantando-se grande parte dos muros e alteando-se muitas das torres. Por esse motivo, ao contrário do que se poderia pensar à primeira vista, o ‘carácter medieval’ deste conjunto militar deve-se a esta campanha de reconstrução, e não à preservação do espaço do castelo desde a Idade Média até aos nossos dias.



Ergue-se em posição dominante sobre a mais alta colina do centro histórico, proporcionando aos visitantes uma das mais belas vistas sobre a cidade e o estuário do rio Tejo. A primitiva presença humana na área remonta à Idade do Ferro, e as pesquisas arqueológicas trouxeram à luz testemunhos desde, pelo menos, o século VI a.C., sucessivamente por Fenícios, Gregos e Cartaginenses. As informações históricas, entretanto, iniciam-se apenas no contexto da conquista da Hispânia pelas legiões romanas, quando era denominada Olisipo. Serviu, a partir de 139 a.C. como base das operações do Cônsul Décimo Júnio Bruto, contra os núcleos de Lusitanos dispersos após o assassinato de seu líder, Viriato, quando se admite que aqui teria, por esse motivo, existido algum tipo de estrutura defensiva. Posteriormente, em 60 a.C., tendo o então Caio Júlio César concluído a conquista definitiva da Lusitânia, concedeu à povoação o título de Felicidade Júlia (Felicitas Julia), permitindo aos seus habitantes o privilégio da cidadania romana. Diante das invasões do Império pelos bárbaros, às quais a península não ficou imune, a cidade foi conquista pelos Suevos sob o comando de Maldras, nos meados do século V, e, poucos anos mais tarde, pelos Visigodos sob o comando de Eurico, vindo a tornar-se definitivamente Visigoda sob o reinado de Leovigildo. Mais tarde, no século VIII, viria a cair sob o domínio muçulmano, passando a denominar-se Al-Ushbuna ou Lissabona.



As descrições dos seus geógrafos referem a existência da fortificação com as suas muralhas, as quais defendiam a ‘quasabah’ (alcáçova), o centro do poder político e militar da cidade. A chamada "Cerca Moura" foi edificada no período tardo-romano, tendo sido reconstruída e ampliada durante o período islâmico. No contexto da Reconquista cristã da península, a sua posse oscilou ao sabor das investidas cristãs, que a colimavam como alvo à margem do rio Tejo. Dessa forma, foi conquistada inicialmente por Afonso II das Astúrias, em contra-ofensiva em 796. Na ocasião a cidade foi saqueada e as forças cristãs, demasiado distantes de sua base na região de Entre-Douro-e-Minho, retiraram-se em seguida. Idêntico sucesso repetiu-se no reinado de Ordonho III de Leão, sob o comando deste soberano, tendo a cidade sofrido severos danos. Integrante dos domínios da taifa de Badajoz, no alvorecer do século XII, diante da ameaça representada pelas forças de Yusuf ibn Tashfin, que, oriundas do Norte de África, haviam passado à península visando a conquista e reunificação dos domínios Almorávidas, o governante de Badajoz, Mutawaquil, entregou-a, juntamente com Santarém e Sintra, na Primavera de 1093, ao Rei Afonso VI de Leão e Castela, visando uma aliança defensiva que não se sustentou. Envolvido com a defesa dos seus próprios territórios, o soberano cristão não foi capaz de assistir o governante mouro, cujos territórios vieram a cair, no ano seguinte, diante dos invasores. Desse modo, Lisboa, Santarém e Sintra permaneceriam domínios muçulmanos, agora sob os Almorávidas.



A fortificação, neste período, era constituída pela Alcáçova de planta aproximadamente quadrangular com cerca de 60 metros de lado, em posição dominante no alto da colina, defendida por muralhas com aproximadamente 20 metros de largura. Deste núcleo, cujo perímetro corresponde sensivelmente aos limites da actual freguesia do Castelo, a Leste e a Oeste desciam até ao rio os muros envolvendo a povoação, reforçados por torres e onde se rasgavam as portas.



No contexto da Reconquista cristã da península Ibérica, após a conquista de Santarém, as forças de Dom Afonso Henriques (1112-1185), com o auxílio de cruzados normandos, flamengos, alemães e ingleses que se dirigiam à Terra Santa, investiu contra esta fortificação muçulmana, que capitulou após um duro cerco de três meses (1147), como narrado no manuscrito ‘De expugnatione Lyxbonensi’, carta escrita por um cruzado inglês que tomou parte na conquista.



Uma lenda surgida mais tarde reza que o cavaleiro Martim Moniz, que se destacara durante o cerco, ao perceber uma das portas do castelo entreaberta, sacrificou a própria vida ao interpor o próprio corpo no vão, impedindo o seu encerramento pelos mouros e permitindo o acesso e a vitória dos companheiros. Como preito de gratidão, o castelo, agora cristão, foi colocado sob a invocação do mártir São Jorge, a quem muitos cruzados dedicavam devoção.



No dia da conquista, 25 de Outubro, comemora-se hoje o ‘Dia do Exército’, instituição que, no país, tem São Jorge como padroeiro. Poucas décadas mais tarde, entre 1179 e 1183, o castelo resistiu com sucesso às forças muçulmanas que assolaram a região entre Lisboa e Santarém. A partir do século XIII, alçando-se Lisboa a Capital do Reino em 1255, o castelo conheceu o seu apogeu, quando foi, além de ‘Paço Real’, o chamado ‘Paço da Alcáçova’, palácio de Bispos, albergue de nobres da Corte e fortificação militar. Os terramotos que afectaram a cidade em 1290, 1344 e 1356, causaram-lhe danos.



No plano militar, mobilizou-se diante do cerco castelhano de Fevereiro e Março de 1373, quando os arrabaldes da Capital chegaram a ser saqueados e incendiados. Nesse ano iniciou-se a muralha de Dom Fernando (1367-1383), concluída dois anos mais tarde e que se prolonga até à Baixa. Na 3.ª Guerra Fernandina os arrabaldes da cidade foram novamente alvo das investidas castelhanas, em Março de 1382, e mais tarde, no decurso da crise de 1383-1385, Lisboa seria duramente assediada pelas forças de Dom João I de Castela em 1384. Nas funções de Paço Real, foi palco da recepção a Vasco da Gama, após a descoberta do caminho marítimo para a Índia, no final do século XV, e da estreia, no século XVI, do Monólogo do Vaqueiro, de Gil Vicente, primeira peça de teatro português, comemorativa do nascimento de Dom João III em 1521. Juntamente com a cidade, o castelo voltou a sofrer com os terramotos de 1531, 1551, 1597 e 1699. A sua história como ‘Paço Real’ encerrou-se com a mudança do mesmo, ainda no século XVI para o ‘Paço da Ribeira’. A partir de então as suas dependências foram utilizadas como aquartelamento. À época da Dinastia Filipina foi novamente guarnecido, tendo sido utilizado como prisão.



No contexto da Restauração da Independência, o seu Alcaide, Martim Afonso Valente, honrando o juramento de fidelidade a quem tinha prestado menagem, apenas entregou a praça aos Restauradores após ter recebido instruções de Margarida de Sabóia, Duquesa de Mântua, até então Vice-Rainha de Portugal, que lhe ordenou a rendição em 1640. A mudança da residência real para a zona ribeirinha, a instalação de aquartelamentos e o terramoto de 1755 contribuíram para o declínio e a degradação do monumento. Foi sede da ‘Casa Pia’ de 1780 a 1807, quando foi utilizado como Quartel-General pelo General de Divisão Jean-Andoche Junot. Desse modo, descaracterizado e, em parte, interditado aos lisboetas, chegou ao século XX. O monumento oferece ainda os jardins e miradouros (com destaque para a Praça de Armas com a estátua de Dom Afonso Henriques), o castelejo, a cidadela e a esplanada, um espectáculo multimédia (Olisipónia), uma câmara escura (Torre de Ulisses, antiga Torre do Tombo), espaço de exposições, sala de reuniões/recepções (Casa do Governador) e loja temática aos seus visitantes.



A entrada no castelo é gratuita para os moradores do concelho de Lisboa. O castelo defende a antiga cidadela islâmica, o Alcazar, abrindo-se nos seus muros com ameias doze portões, sete dos quais para o lado da freguesia da Santa Cruz do Castelo. Para o exterior, um pano de muralha dá acesso a uma torre barbacã. Dezoito torres dão sustentação e reforço aos muros. Pelo Portão Sul, através da Rua de Santa Cruz do Castelo, acede-se à Praça de Armas.





Palácio da Mitra
(Santo Antão do Tojal)



O Palácio da Mitra, vulgarmente conhecido como Palácio dos Arcebispos é uma antiga residência de veraneio, primeiro dos Arcebispos, e depois, dos Patriarcas de Lisboa, situando-se na freguesia de Santo Antão do Tojal, em Loures. O primitivo palácio foi mandado construir pelo Arcebispo Dom Fernando de Vasconcelos, cerca de 1554 (sendo este arcebispo também o responsável pela construção da Igreja Matriz de Santo Antão do Tojal). Este palácio, por sua vez, veio substituir uma primitiva casa do século XIII e que pertencia à ‘Mitra de Lisboa’. No século XVIII, o primeiro patriarca de Lisboa, Dom Tomás de Almeida, mandou reconstruí-lo em estilo barroco, ao gosto da época. O arquitecto responsável pela actual traça foi o italiano Canaveri, que nele trabalhou até 1732. O edifício apresenta-se em forma de U, na fachada, de estilo italiano, encontram-se três mármores de Carrara, representando as estátuas de São Bruno de Colónia (o fundador da Cartuxa), a Rainha Santa Isabel e a Imaculada Conceição. No interior, a típica azulejaria portuguesa do século XVIII, em azul e branco, caracteriza-se pela riqueza temática e grande qualidade pictórica (representações das estações do ano, cenas campestres, venatórias ou de pesca, figuras mitológicas, nas cozinhas surgem representados temas culinários). Alguns dos azulejos foram mais tarde trasladados para o Paço Patriarcal de São Vicente de Fora e encontram-se hoje no Museu Nacional de Arte Antiga. O Palácio inclui ainda dois pombais, um aqueduto com dois quilómetros destinado a abastecer dois chafarizes, um dos quais monumental, tudo construções também do século XVIII.

Palácio de Valflores


O Palácio de Valflores localiza-se na freguesia de Santa Iria de Azóia, concelho de Loures, em Portugal. É um exemplar raro da arquitectura civil do século XVI. Trata-se de uma peça de arquitectura renascentista de influência italiana mandada construir por Jorge de Barros, feitor de Dom João III na Flandres. Funcionou como habitação até 1870, altura em que foi adquirido pela família inglesa Reynolds que nunca lhe deu o uso habitacional. Desenvolve-se em dois pisos, adaptando-se ao declive da encosta. No piso superior funciona a habitação. A planta é simétrica em relação à direcção Norte-Sul. A entrada faz-se, a partir de uma zona vestibular, hoje desaparecida, para um salão central de grandes dimensões, entre dois torreões, que outrora possuíra um revestimento de tecto de influência mudéjar hoje completamente perdido. Adossado, junto ao canto NW do palácio, encontra-se um pequeno volume abobadado correspondente a uma pequena capela privada. A estrutura desta abóbada, embora de dimensões menores, é semelhante à que o proprietário também mandou construir anexa à Igreja matriz de Santa Iria de Azóia. O elemento que se destaca neste piso é loggia que se abre a sul sobre o rio Tejo. Era constituída originalmente por uma colunata com dez arcos abatidos. Infelizmente encontra-se quase toda perdida devido a uma derrocada que teve lugar em 2001. O piso inferior corresponde a armazéns abobadados que replicam aproximadamente a estrutura do piso superior.



A Este do palácio existe um volume adossado correspondente à cozinha. Sob este existe um piso inferior, de cota aproximadamente 2m acima dos armazéns, também abobadado. O sistema estrutural é constituído por paredes autoportantes de alvenaria de pedra e cal, com aparelho rusticado nos cunhais. Estas apresentam múltiplas fissuras, quase todas repassadas. A origem destas não é certa. Originalmente poderão ter sido devidas a sismos. O piso inferior é abobadado. O enchimento do extradorso das abóbadas serve de base para os pavimentos. Estes são, hoje, de argamassa de cimento. As abóbadas, sob a loggia, apresentam fendas, perda de tijoleiras nas nervuras, perda integral de reboco e encontram-se deformadas, tendo sido alvo de escoramento em 2003. As restantes abóbadas aparentemente encontram-se sem grandes alterações da sua geometria tendo contudo perdido grande parte dos seus revestimentos de reboco e, em alguns casos apresentem alguma perda de tijoleiras nas nervuras. Das coberturas, com estrutura de madeira e telha cerâmica, já quase nada resta. O processo de degradação das coberturas ter-se-á acelerado a partir do final dos anos 70 do séc. passado. Ainda são visíveis os pigmentos dos acabamentos das paredes do piso superior.



Com a perda das coberturas e consequente molhagem cíclica, o estado de degradação do edifício acentuou-se exponencialmente levando a perdas de coesão que acabam por ter como consequência que este se encontra vulnerável a acções que, de outro modo não produziriam quaisquer efeitos, como por exemplo as vibrações produzidas pela passagem do trânsito pesado no IC2.


1537-) Este paço rural foi mandado edificar por Jorge de Barros, feitor de Dom João III na Flandres, pouco tempo depois de voltar a Portugal, em 1537. O paço foi construído com base na fortuna que acumulou como mercador, que valia na altura mais de 300 mil cruzados, sendo uma das maiores fortunas acumuladas na época. As suas ordens eram explícitas e o objectivo era construir um paço rural na tradição das moradias régias e nobres medievais com alguma influência renascentista.

Quinta-vale-de-flores-) Esta propriedade é mais tarde herdada por Dona Luísa de Barros, a filha de João de Barros, que casou com um nobre desaparecido na famosa Batalha de Alcácer Quibir. O palácio fica nas mãos da família durante as próximas 9 gerações. No século XIX segundo Braamcamp Freire, Dom Pedro Clímaco de Alcântara de Barros e Vasconcelos perde o paço devido às duas dívidas, ficando o palácio nas mãos de um brasileiro.

1870-) O paço rural assim como outras propriedades na freguesia são adquiridas pela família inglesa Reynolds, que passou a arrendar o palácio. Quinta-vale-de-flores.

1899-) Anselmo Braamcamp Freire reporta o palácio estar num estado de conservação aceitável.

Palácio Real de Mafra


O Palácio-Convento Nacional de Mafra localiza-se no concelho de Mafra, distrito de Lisboa, em Portugal. A cerca de 25 quilómetros de Lisboa, constitui-se em um palácio e mosteiro monumental em estilo barroco, na vertente alemã. Foi iniciado em 1717 por iniciativa de João V de Portugal, em virtude de uma promessa que fizera no caso de a Rainha Dona Maria Ana de Áustria lhe desse descendência. Destinado à Ordem de São Francisco, o Convento foi pensado inicialmente para 13 frades, mas o projecto foi sendo sucessivamente alargando para quarenta, oitenta e finalmente uma comunidade de trezentos religiosos, palácio real. A direcção da ‘Real Obra’ foi entregue a João Frederico Ludovice, ourives e, mais tarde, engenheiro militar alemão que estudara arquitectura em Itália.



Para os altares da Real Basílica, para as diversas capelas e áreas conventuais, como a portaria e o refeitório, Dom João V encomendou uma colecção de pintura religiosa que se conta entre as mais significativas do século XVIII. Avultam, neste assinalável conjunto, obras dos pintores italianos Masucci, Giaquinto, Trevisani ou Battoni e de portugueses bolseiros em Roma como Vieira Lusitano e Inácio de Oliveira Bernardes. A colecção de escultura compreende toda a estatuária da Basílica, encomenda joanina a grandes mestres italianos, entre os quais se contam Lironi, Monaldi, Bracci, Maini, Corsini, Rusconi e Ludovisi, constituindo a mais significativa colecção de escultura barroca italiana fora de Itália, a qual inclui ainda os seus estudos em terracota, bem como a produção da ‘Escola de Escultura de Mafra’, aqui criada no reinado de Dom José I sob a direcção do mestre italiano Alessandro Giusti, e por onde passaram importantes escultores como Machado de Castro.



Possui ainda uma importante colecção de paramentos de encomenda real em Itália e em França. Por vontade do Rei a cerimónia da sagração da Basílica será realizada no ano de 1730, a 22 de Outubro, data do seu 41º aniversário, que nesse ano caía a um domingo, dia destinado pelo ritual da Igreja para esse fim, embora as obras ainda estivessem bastante atrasadas.



Trezentos e vinte e oito frades arrábidos ingressaram então na comunidade de Mafra, vindos de diversos conventos na região mandados extinguir por ‘Decreto Real’. Já no reinado de Dom José I, foram os Franciscanos enviados para o Convento da Arrábida, em Setúbal e os Cónegos Regrantes de São Agostinho transferidos da Patriarcal para o ‘Convento de Mafra’, onde se instalaram em 1771. Data da permanência dos Agostinhos em Mafra, a encomenda das estantes da Biblioteca, em madeira entalhada em estilo ‘rocaille’, ao arquitecto Manuel Caetano de Sousa. No Reinado de Dona Maria I, em 1791, os Franciscanos regressam de novo a Mafra, mas apenas em número de duzentos. Há quem defenda que a obra se construiu por vias de uma promessa feita relativa a uma doença de que o rei padecia. O nascimento da princesa Dona Maria Bárbara determinou o cumprimento da promessa. Este palácio e convento barroco dominam a vila de Mafra. O trabalho começou a 17 de Novembro de 1717 com um modesto projecto para abrigar 109 frades franciscanos, mas o ouro do Brasil começou a entrar nos cofres portugueses. Dom João V e o seu arquitecto, Johann Friedrich Ludwig (Ludovice) (que estudara na Itália), iniciaram planos mais ambiciosos. Não se pouparam a despesas. A construção empregou 52 mil trabalhadores e o projecto final acabou por abrigar 330 frades no convento, um ‘Palácio Real’, umas das mais belas bibliotecas da Europa, decorada com mármores preciosos, madeiras exóticas e incontáveis obras de arte. A magnífica basílica foi consagrada no 41.º aniversário do Rei, em 22 de Outubro de 1730, calhado a um domingo, com festividades de nove dias. O palácio era popular para os membros da família real, que gostavam de caçar na tapada. Hoje em dia decorre aqui um projecto para a preservação dos lobos ibéricos. As melhores mobílias e obras de arte foram levadas para o Brasil, para onde partiu a família real quando das invasões francesas, em 1807. Durante os últimos Reinados da Dinastia de Bragança, o Palácio foi utilizado como residência de caça e dele saiu também em 5 de Outubro de 1910 o último Rei Dom Manuel II para a praia da Ericeira, onde o seu iate real o conduziu para o exílio. No palácio pode-se visitar a farmácia, com belos potes para medicamentos e alguns instrumentos cirúrgicos, o hospital, com dezasseis cubículos privados de onde os pacientes podiam ver e ouvir missa na capela adjacente, sem saírem das suas camas. No andar de cima, as sumptuosas salas do palácio estendem-se a todo o comprimento da fachada ocidental, com os aposentos do Rei numa extremidade e os da Rainha na outra, a 232 m de distância. Ao centro, a imponente fachada é valorizada pelas torres da basílica coberta com uma cúpula.



O interior é forrado a mármore e equipado com seis órgãos do princípio do século XIX, com um repertório exclusivo que não pode ser tocado em mais nenhum local do mundo. O átrio da basílica é decorado por belas esculturas da ‘Escola de Mafra’, criada por Dom José I em 1754, foram muitos os artistas portugueses e estrangeiros que aí estudaram sob a orientação do escultor italiano Alessandro Giusti. A sala de caça exibe troféus de caça e cabeças de javalis. O Palácio possui ainda dois carrilhões, mandados fabricar em Antuérpia e em Liège por Dom João V, com um total de 98 sinos que pesam mais de 200 toneladas e constituem um dos maiores carrilhões históricos do mundo. A grande maioria dos sinos dos carrilhões é datada de 1730.



Os sinos do carrilhão da torre Sul são obra do fundidor de Antuérpia Willelm Witlockx e apresentam muitos deles a inscrição "GUILHELMUS WITHLOCKX ME FECIT ANTUERPIA ANNO DOMINI MDCCXXX". Os sinos da torre Norte foram fundidos na cidade de Liège por Nicolas Levache, apresentando quase todos a legenda "NICOLAUS LEVACHE LEODIENSIS ME FECIT ANNO DOMINI MDCCXXX". O maior tesouro de Mafra é a sua biblioteca, com chão em mármore, estantes em estilo rococó e uma colecção de mais de 36.000 livros com encadernações em couro gravadas a ouro, graças à acção da Ordem Franciscana, incluindo uma segunda edição de Os Lusíadas de Luís de Camões. Abrange áreas de estudo tão diversa como a medicina, farmácia, história, geografia e viagens, filosofia e teologia, direito canónico e direito civil, matemática, história natural, sermonária e literatura. Situada ao fundo do segundo piso é a estrela do palácio, rivalizando em grandiosidade com a Biblioteca da Abadia de Melk, na Áustria.



Construída por Manuel Caetano de Sousa, tem 88 m de comprimento, 9.5 de largura e 13 de altura. O magnífico pavimento é revestido de mármore rosa, cinzento e branco. As estantes de madeira estilo rococó, situadas em duas filas laterais, separadas por um varandim contêm milhares de volumes encadernados em couro, testemunhando a extensão do conhecimento ocidental dos séculos XIV ao XIX. Entre eles muitas jóias bibliográficas, como incunábulos.



Estes volumes magníficos foram encadernados na oficina local, também por Manuel Caetano de Sousa. A biblioteca de Mafra é também conhecida por acolher morcegos, que ajudam a preservar as obras. Os morcegos saem de noite de caixas que estão por baixo das estantes e, numa noite, cada morcego alimenta-se de cerca de 500 insectos, o equivalente à metade do seu peso.



Palácio de Monserrate


O Palácio de Monserrate é um palácio inserido no ‘Parque de Monserrate’ situado em São Martinho, Sintra, distrito de Lisboa, Portugal. O palácio foi projectado pelo arquitecto James Knowles e construído em 1858, por ordem de Sir Francis Cook, Visconde de Monserrate, enquanto a elaboração dos jardins foi entregue ao pintor William Stockdale, ao botânico William Nevill, e a James Burt, mestre jardineiro. Este palácio que foi a residência de Verão da família Cook foi construído sobre as ruínas da mansão neogótica edificada pelo comerciante inglês Gerard de Visme, que possuiu a concessão da importação do pau-brasil em Portugal e foi o responsável pelo primeiro ‘Palácio de Monserrate’.



O Marechal William Beckford alugou a propriedade em 1793, realizando obras no palácio, começando a criar um jardim paisagístico. É um exemplar sugestivo do Romantismo português, ao lado de outros palácios na região, como o ‘Palácio da Pena’. Nos jardins deste Palácio podem ver-se vários exemplares botânicos.


•          O Palácio de Monserrate foi visitado por Lord Byron, poeta anglo-escocês e figura do movimento ‘Romântico Europeu’. Visitou a quinta em 1809 e cantou a sua beleza no poema "Childe Harold's Pilgrimage".

Palácio Real da Pena


O ‘Palácio Nacional da Pena’, popularmente referido apenas por ‘Palácio da Pena’ ou ‘Castelo da Pena’, localiza-se na vila de Sintra, freguesia de São Pedro de Penaferrim, concelho de Sintra. Representa uma das principais expressões do ‘Romantismo Arquitectónico’ do século XIX no mundo, constituindo-se no primeiro palácio nesse estilo na Europa, erguido cerca de 30 anos antes do Castelo de Neuschwanstein, na Baviera.



A primitiva ocupação, do topo escarpado da serra de Sintra, onde se localiza o atual palácio ocorreu com a construção de uma pequena capela sob a invocação de ‘Nossa Senhora da Pena’, durante o Reinado de Dom João II de Portugal. No século XVI, Dom Manuel I de Portugal no cumprimento de uma promessa, ordenou a sua reconstrução de raiz. Doou-a à ‘Ordem de São Jerónimo’, determinando a construção de um convento de madeira, e substituindo-o, pouco mais tarde, por um edifício de cantaria, com acomodações para 18 monges. No século XVIII a queda de um raio destruiu parte da torre, capela e sacristia, danos que foram agravados em decorrência do terramoto de 1755, que deixou o convento em ruínas. Apenas a zona do altar-mor, na capela, com um retábulo em mármore e alabastro atribuído a Nicolau de Chanterene, permaneceu intacta.


No século XIX a paisagem da serra de Sintra e as ruínas do antigo convento maravilharam o Rei-Consorte Dom Fernando II de Portugal. Em 1838 este decidiu adquirir o velho convento, a cerca envolvente, o Castelo dos Mouros e quintas e matas circundantes. No tocante à área do antigo convento, promoveu-lhe diversas obras de restauro, com o intuito de fazer do edifício a sua futura residência de Verão. O novo projecto foi encomendado ao mineralogista germânico Barão von Eschwege, arquitecto amador. Homem viajado, Eschwege, que nascera em Hessen, deveria conhecer, pelo menos em forma de projecto, as obras que Frederico Guilherme IV da Prússia empreendera com o concurso de Schinkel nos Castelos do Reno, tendo passado em viagem de estudo por Berlim, Inglaterra e França, pela Argélia e por Espanha (Córdova, Sevilha e Granada). Em Sintra, os trabalhos decorreram rapidamente e a obra estaria quase concluída em 1847, segundo o projecto do alemão, mas com intervenções decisivas ao nível dos detalhes decorativos e simbólicos do Rei-Consorte. Muitos dos detalhes, nos planos construtivo e decorativo, ficaram a dever-se ao temperamento romântico do próprio monarca que, a par de arcos ogivais, torres de sugestão medieval e elementos de inspiração árabe, desenhou e fez reproduzir, na fachada norte do Palácio, uma imitação do Capítulo do Convento de Cristo em Tomar.


Quase todo o Palácio assenta em enormes rochedos, e a mistura de estilos que ostenta (neogótico, neomanuelino, neo-islâmico, neo-renascentista, com outras sugestões artísticas como a indiana) é verdadeiramente intencional, na medida em que a mentalidade romântica do século XIX dedicava um fascínio invulgar ao exotismo.

Estruturalmente o Palácio da Pena divide-se em quatro áreas principais:


•          A couraça e muralhas envolventes (que serviram para consolidar a implantação da construção), com duas portas, uma das quais provida de ponte levadiça.


•          O corpo, restaurado na íntegra, do Convento antigo, ligeiramente em ângulo, no topo da colina, completamente ameado e com a Torre do Relógio.


•          O Pátio dos Arcos frente à capela, com a sua parede de arcos mouriscos.



•          A zona palaciana propriamente dita com o seu baluarte cilíndrico de grande porte, com um interior decorado em estilo ‘cathédrale’, segundo preceitos em voga e motivando intervenções decorativas importantes ao nível do mobiliário e ornamentação em geral.

Durante a construção, apesar de se manter a estrutura básica, foram feitas alterações em quase todos os vãos, ao mesmo tempo que a pequena torre cilíndrica que se encostava à maior passou para a retaguarda do edifício. O arco do corpo, ladeado por duas torres, recebeu uma profusa decoração em relevo a imitar corais.


Sobre ela, uma janela, a "bow window", recebeu na sua base, também em relevo, uma figura de um ser híbrido, meio-peixe, meio-homem, saindo de uma concha com a cabeça coberta por cabelos que se transformam num tronco de videira cujos ramos são sustentados pela enigmática personagem, relembrando propositadamente o homem barbado da janela da sala do coro do ‘Convento de Cristo’ em Tomar, transformado aqui num ser monstruoso de carácter quase demoníaco. Este conjunto, conhecido por ‘pórtico do Tritão’, foi projectado pelo próprio Dom Fernando, que o desenhou como um "Pórtico alegórico da criação do mundo", e parece condensar, em termos simbólicos, a "teoria dos quatro elementos"Reforçando esta relação, com Tomar, a janela existente no lado oposto deste corpo, copia com alguma liberdade, o célebre vão manuelino da autoria de Diogo de Arruda, ‘achatando-a’. Nicolau Pires foi a Tomar desenhá-la para o príncipe, que reformulou o conjunto. O conjunto das diversas guaritas, o desnivelamento dos sucessivos terraços, o revestimento parietal com azulejos neo-hispano-árabes, oitocentistas, são elementos significativos. A adaptação da janela do Convento de Cristo, do lado do Pátio dos Arcos e a notável figura do Tritão, simbolizando, segundo alguns autores, a alegoria da ‘Criação do Mundo’, são pormenores fundamentais na interpretação deste Palácio. A planta do edifício é bastante irregular e está condicionada por uma construção ali preexistente (a Capela de Nossa Senhora da Pena) e ainda pela topografia. O resultado é um núcleo sensivelmente quadrangular, organizado à volta de claustro e um outro alongado. As fachadas são divididas por bocéis ou torçais e fenestradas, mais ou menos regularmente, e por vãos quadrangulares, rectangulares e de arco pleno. As torres e os baluartes possuem anéis superiores sobre cachorrada ou arcatura, formando caminhos de ronda, mirantes ou terraços. Já as torres quadradas têm nos cunhais guaritas circulares com coberturas cónicas. A fachada principal está revestida com azulejos de padrão policromo e dispõe de uma varanda ao nível do terceiro piso. No núcleo quadrangular, destacam-se várias arcadas interrompidas sobre murete. Uma escada em U conduz ao claustro, de dois pisos, com arcada de arcos plenos no primeiro e abatidos no segundo. À volta destes dispõem-se algumas das principais salas. Na ala norte encontra-se a capela, forrada a azulejos padrão, com a nave separada da capela-mor por teia em pau-santo. O desenho do parque foi influenciado pelos jardins românticos da Alemanha.



Todas as torres (exceptuando a do Relógio) receberam cúpulas. Os motivos de inspiração foram essencialmente colhidos em fontes mouriscas e mudéjares de origem espanhola e em quase todas as obras manuelinas da ‘Grande Estremadura’, entre as quais se encontram: a Torre de Belém (justificando as guaritas com cúpulas gomiadas e os renques de ameias), os Jerónimos (os vãos, a ornamentação de cordas entrançadas e frisos), o Convento de Cristo (a "bow window", a própria expressão quase caricatural) e o Palácio da Vila (os frisos de relevos góticos nas cornijas, e a própria realização orgânica do complexo). As rosas com cruzes inscritas demonstram a secreta genealogia do príncipe, que devia remontar miticamente à ‘Fraternidade Rosa-cruz’ do século XVII, da qual o príncipe foi Grão-mestre e, ainda mais tarde, à ‘Ordem de Cristo’, herdeira dos ‘Templários em Portugal’. A concepção dos interiores deste Palácio para adaptação à residência de verão da família real valorizou os trabalhos em estuque, pinturas murais em "trompe-l'oeil" e diversos revestimentos em azulejo do século XIX, integrando as inúmeras colecções reais em ambientes onde o gosto pelo bricabraque e pelo coleccionismo são bem evidentes.

Destacam-se ainda:

A Sala dos Veados, ampla e cilíndrica, com uma larga coluna como eixo, exibe atualmente a exposição "Vitrais e Vidros: um gosto de Dom Fernando II".

A Sala de Saxe, onde predomina a porcelana de Saxe.

O Salão Nobre, onde estuques, lustres, móveis e pedaços de vitrais variam do século XIV ao século XIX, e onde se misturam elementos maçónicos e rosas crucianas.

O Gabinete do Rei Dom Carlos, antiga ‘Sala do Capítulo do Mosteiro Jerónimo’ e ‘Sala de Chá’ no tempo de Dom Fernando II, foi adaptado a gabinete pelo Rei Dom Carlos.

O Terraço da Rainha, de onde melhor se pode observar a arquitectura do Palácio, o Relógio de Sol com um canhão que disparava ao meio-dia.

O Claustro Manuelino, parte original do antigo mosteiro do século XVI revestido de azulejos hispano-árabes construídos por volta de 1520.

A Capela, parte original do antigo mosteiro dos frades Jerónimos.

Os Aposentos de Dom Manuel II, onde se identifica o grande baixo-relevo em madeira de carvalho quinhentista, de autor desconhecido, ilustrando a ‘Tomada de Arzila’, adquirido por Dom Fernando em Roma.

A Sala de Fumo, também conhecida como ‘Sala Indiana’, apresenta valiosas obras de arte, como o lustre neo-rococó em vidro (século XIX) e o baixo-relevo "Cólera Morbus", de autoria de Vítor Bastos. O nome de Sala Indiana deriva da sua decoração, composta por mobiliário de Teca, de fabrico Indiano aqui colocado por iniciativa do Arquitecto Raul Lino, em 1940.

A Sala de Visitas, anteriormente conhecida como ‘Sala Árabe’, apresenta uma decoração datada de 1854 da autoria de Paulo Pizzi. A pintura desta sala representa uma arquitectura islâmica sob uma abóbada vegetalista. A perspectiva cria a ilusão de um espaço mais amplo para lá dos limites da sala.

As Salas de Passagem com porcelanas de Wenceslau Cifka, pertencentes às colecções do Rei Dom Fernando II.



O chalé foi mandado construir entre 1864 e 1869, por Fernando II e sua segunda esposa, Elise Hensler, Condessa de Edla, numa área de oito hectares a oeste do ‘Parque da Pena’. Concebido como um refúgio de lazer, foi edificado segundo o modelo dos Chalés Alpinos, então em voga na Europa, e atendendo às origens da própria Condessa. Inscreve-se em um jardim onde se destaca uma área com pedras graníticas de grandes dimensões. Em pedra e cal, o revestimento exterior simula madeira, um ‘fingimento’ comum no final do século XIX. Para reconstrução do rendilhado de cortiça que reveste o exterior (beirais decorativos, cunhais, molduras de portas e janelas), foram empregadas duas toneladas de cortiça virgem. Para a recuperação do jardim, foram utilizadas colecções de camélias, rododendros e azálias. Para valorização do conjunto de blocos de granito, foram abertos caminhos e instalados bancos. O Palácio e o Parque foram idealizados e concretizados como um todo. Do Palácio, avista-se um manto de arvoredo que ocupa mais de 200 hectares e constitui o ‘Parque da Pena’. Este tem diversos percursos e passeios, com inúmeras construções de jardins, pontes, grutas, bancos de jardim, pérgulas e fontes. Nele existem pequenas casas onde se alojavam guardas e elementos da criadagem, estufas e viveiros com camélias, rododendros, rosas, decepas invulgares e raras, e obras de arte como a estátua do guerreiro, de Ernesto Rusconi, que se avista do Palácio. Os lagos próximos à saída para o Castelo dos Mouros são igualmente pitorescos e aprazíveis, envolvidos por um imenso tubo de fetos arbóreos.

Século XII - construção da Capela de Nossa Senhora da Pena (pena, penha, penedo).

1503 – Dom Manuel I de Portugal doa o Mosteiro de Nossa Senhora da Pena à Ordem de São Jerónimo.

1755 - O grande terramoto de 1755 causa severos danos ao Mosteiro que, a partir de então conhece um período de decadência.

Palácio Real de Sintra


O Palácio Nacional de Sintra, também conhecido como ‘Palácio da Vila’, localiza-se na freguesia de São Martinho, na vila de Sintra. Foi um dos Palácios Reais. De implantação urbana, a sua construção iniciou-se no século XV, com traça de autor desconhecido. Apresenta características de arquitectura medieval, gótica, manuelina, renascentista e romântica. É considerado um exemplo de arquitectura orgânica, de conjunto de corpos aparentemente separados, mas que fazem parte de um todo articulado entre si, através de pátios, escadas, corredores e galerias.



O Palácio foi utilizado pela ‘Família Real Portuguesa’ praticamente até ao final da Monarquia, em 1910. Remonta a um primitivo palácio que terá sido doado pelo Rei Dom João I de Portugal ao Conde de Seia, em 1383, voltando para a posse Real pouco depois. O palácio foi reedificado no século XV, a partir de 1489, quando lhe foi iniciada uma campanha de obras que visaram aligeirar a massa da construção e enriquecer a decoração interior, aplicando-se-lhe azulejos andaluzes. Entre 1505 e 1520 ergueu-se a chamada ala manuelina e, em 1508, teve início a construção da ‘Sala dos Brasões’.




Durante o Reinado de Dom João III edificou-se o espaço entre as, alas joanina e manuelina. No século XVII, sob a orientação do Conde de Soure, procedeu-se a obras de alteração e ampliação e, entre 1683 e 1706, sob o Reinado de Dom Pedro II, renovaram-se as pinturas dos tectos de alguns compartimentos. Em 1755 foram realizadas importantes obras de restauro, no seguimento dos danos causados pelo terramoto, e edificada a ala que vai do Jardim da Preta ao Pátio dos Tanquinhos. De planta complexa, organiza-se em ‘V’ e apresenta volumetria escalonada, constituída sobretudo por paralelepípedos, sendo a cobertura efectuada por múltiplos telhados diferenciados a quatro águas. Aspecto característico deste palácio, rapidamente identificado pelos turistas, é o par de altas chaminés cónicas. O alçado principal está organizado em três corpos, sendo o central mais elevado e recuado relativamente aos extremos. Existe ainda, no piso térreo uma arcaria com quatro arcos quebrados, encimada por cinco janelas maineladas e emolduramento calcário. As outras frentes do edifício apresentam uma complexa articulação de corpos salientes e reentrantes, destacando-se o volume cúbico da ‘Sala dos Brasões’. Os compartimentos internos reflectem-se em núcleos organizados em torno de pátios.



Destacam-se os seguintes: a ‘Sala dos Archeiros’, a ‘Sala Moura’ (ou dos Árabes), a ‘Sala das Pegas’, a ‘Sala dos Cisnes’ e a ‘Sala dos Brasões’ (que ostenta a representação das armas de 72 famílias nobres portuguesas e dos oito filhos de Dom Manuel I), a ‘Sala das Sereias’ e a ‘Sala da Audiência’. A capela, de planta rectangular e nave única, tem os muros revestidos por pintura ornamental e tecto de madeira. Na cozinha, são visíveis arranques octogonais das monumentais chaminés. Alguns compartimentos da chamada ala manuelina ostentam emolduramentos de vãos e lareiras em calcário, caracterizadas por decoração em relevo.

Palácio da Regaleira



O Palácio da Regaleira é o edifício principal e o nome mais comum da ‘Quinta da Regaleira’. Também é designado ‘Palácio do Monteiro dos Milhões’ denominação, esta associada à alcunha do seu primeiro proprietário, António Augusto Carvalho Monteiro (a alcunha popular que os muradores de Sintra lhe davam era o ‘caga milhões). Carvalho Monteiro, pelo traço do arquitecto italiano Luigi Manini, dá à quinta de 4 hectares, o palácio, rodeado de luxuriantes jardins, lagos, grutas e construções enigmáticas, lugares estes que ocultam significados alquímicos, como os evocados pela Maçonaria, Templários e Rosa-cruz. Modela o espaço em traçados mistos, que evocam a arquitectura românica, gótica, renascentista e manuelina. Localizada em pleno Centro Histórico de Sintra e bem perto do Palácio de Seteais, a quinta beneficia do microclima da serra de Sintra, que muito contribui para os luxuriantes jardins e os nevoeiros constantes que adensam a sua aura de mistério. A documentação histórica relativa à ‘Quinta da Regaleira’ é escassa para os tempos anteriores à sua compra por Carvalho Monteiro. Sabe-se que, em 1697, José Leite era o proprietário de uma vasta propriedade nos arredores da vila de Sintra, que hoje integra a Quinta. Francisco Albertino Guimarães de Castro comprou a propriedade (conhecida como Quinta da Torre ou do Castro em 1715), em hasta pública, canalizou a água da serra a fim de alimentar uma fonte aí existente. Em 1830, na posse de Manuel Bernardo, a Quinta toma a actual designação. Em 1840, a Quinta da Regaleira é adquirida pela filha de uma negociante do Porto, de apelido Allen, que mais tarde foi agraciada com o título de Baronesa da Regaleira. Data deste período a construção de uma casa de campo que é visível em algumas representações iconográficas de finais do século XIX. Carvalho Monteiro tinha o desejo de construir um espaço grandioso, em que vivesse rodeado de todos os símbolos que espelhassem os seus interesses e ideologias.



Conservador, monárquico e cristão gnóstico, Carvalho Monteiro quis ressuscitar o passado mais glorioso de Portugal, daí a predominância do estilo neomanuelino com a sua ligação aos descobrimentos. Esta evocação do passado passa também pela arte gótica e alguns elementos clássicos. A diversidade da quinta da Regaleira é enriquecida com simbolismo de temas esotéricos relacionados com a alquimia, Maçonaria, Templários e Rosa-cruz. O bosque ou mata que ocupa a maioria do espaço da Quinta, não está disposta ao acaso. Começando mais ordenada e cuidada na parte mais baixa da quinta, mas, sendo progressivamente mais selvagem até chegarmos ao topo. Esta disposição reflecte a crença no primitivismo de Carvalho Monteiro. O Patamar dos Deuses é composto por 9 estátuas dos deuses greco-romanos. A mitologia clássica foi uma das inspirações de Carvalho Monteiro para os jardins da Regaleira. 



Uma galeria subterrânea com uma escadaria em espiral, sustentada por colunas esculpidas, por onde se desce até ao fundo do poço. A escadaria é constituída por nove patamares separados por lanços de 15 degraus cada um, invocando referências à ‘Divina Comédia de Dante’ e que podem representar os 9 círculos do inferno, do paraíso, ou do purgatório. Segundo os conceituados ocultistas Albert Pike, René Guénon e Manly Palmer Hall é na obra 'A Divina Comédia' que se encontra pela primeira vez exposta a ‘Ordem Rosa cruz’. No fundo do poço está embutida em mármore, uma rosa-dos-ventos (estrela de oito pontas: 4 maiores ou cardeais, 4 menores ou colaterais) sobre uma cruz templária, que é o emblema heráldico de Carvalho Monteiro e, simultaneamente, indicativo da Ordem Rosa-cruz. O poço diz-se iniciático porque se acredita que era usado em rituais de iniciação à maçonaria e a explicação do simbolismo dos mesmos nove patamares diz-se que poderá ser encontrada na obra ‘Conceito Rosa cruz do Cosmos’. A simbologia do local está relacionada com a crença que a terra é o útero materno de onde provém a vida, mas também a sepultura para onde voltará. Muitos ritos de iniciação aludem a aspectos do nascimento e morte ligados à terra, ou renascimento. A existência de 23 nichos localizados por debaixo dos degraus do poço iniciático representava um dos muitos mistérios da referida construção. O professor Gabriel Fernández Calvo, quando visitava o poço acompanhado de outros professores, observou que os 23 nichos não estão colocados por acaso, pois encontram-se agrupados em três conjuntos de 17, 1 e 5 nichos separados entre si à medida que se desce ao fundo do poço. Esta organização não é aleatória e provavelmente se refere ao ano 1715 em que Francisco Albertino Guimarães de Castro comprou a propriedade (conhecida como ‘Quinta da Torre ou do Castro’) em hasta pública. O poço está ligado por várias galerias ou túneis a outros pontos da quinta, a ‘Entrada dos Guardiães’, o ‘Lago da Cascata’ e o ‘Poço Imperfeito’.



Estes túneis, outrora habitados por morcegos afastados pelos muitos turistas que visitam o local, estão cobertos com pedra importada da orla marítima da região de Peniche, pedra que dá a sugestão de um mundo submerso. A ‘Capela da Santíssima Trindade’ com uma magnífica fachada que aposta no revivalismo gótico e manuelino. Nela estão representados Santa Teresa d'Ávila e Santo António. No meio, a encimar a entrada está representado o Mistério da Anunciação (o anjo Gabriel desce à terra para dizer a Maria que ela vai ter um filho do Senhor) e Deus Pai entronizado. No interior, no altar-mor vê-se Jesus depois de ressuscitar a coroar uma mulher que pode ser Maria ou Madalena (de uma maneira mais contraditória). Do lado direito Santa Teresa e Santo António repetem-se, desta vez em painéis de mosaico. Do lado oposto um vitral com a representação do milagre de Nossa Senhora da Nazaré a Dom Fuas Roupinho. No chão estão representados a ‘Esfera Armilar’ ou ‘Globo Celeste’ e a ‘Cruz da Ordem de Cristo’, rodeados de pentagramas (estrelas de cinco pontas). A Torre da Regaleira, foi construída para dar a quem a sobe a ilusão de se encontrar no eixo do mundo. O edifício principal da quinta é marcado pela presença de uma torre octogonal. Toda a exuberante decoração esteve a cargo do escultor José da Fonseca.

Palácio de Seteais



O Palácio de Seteais, elegante palácio cor-de-rosa, foi construído no século XVIII para o cônsul holandês, Daniel Gildemeester, numa porção de terra cedida pelo Marquês de Pombal. Localizado em Sintra, ergue-se este palácio no meio de um terreno acidentado, de onde se pode avistar o mar e o alto da Serra de Sintra. De arquitectura neoclássica, insere-se no conjunto de palácios reformados pela burguesia. Destaca-se a entrada, com frontões triangulares, janelas de guilhotina e uma escada de dois braços que se desenvolve para o interior no sentido da fachada secundária. Pode-se também constatar a adaptação do palácio à irregularidade do terreno, que tem um enquadramento com o ‘Palácio da Pena’. No conjunto, existem dois corpos de planta composta (a ala esquerda, com planta em U, que se desenvolve à volta do pátio interior, e a ala direita, com planta rectangular).



As fachadas principais são simétricas, de dois registos. As salas da ala esquerda são pintadas com frisos de flores e grinaldas, salientando-se a ‘Sala Pillement’, com cenas figurativas da autoria de Jean Baptiste Pillement, e a ‘Sala da Convenção’, com alusões marítimas mitológicas. Realce ainda para a escadaria ampla, de dois braços e três lanços, dando acesso ao andar inferior.

Palácio Real de Queluz


O ‘Palácio Nacional de Queluz’ é um palácio do século XVIII localizado na cidade de Queluz no concelho de Sintra. Um dos últimos grandes edifícios em estilo rococó erguidos na Europa, o palácio foi construído como um recanto de verão para Dom Pedro de Bragança, que viria a ser mais tarde marido e Rei Consorte de sua sobrinha, a Rainha Dona Maria I de Portugal. Serviu como um discreto lugar de encarceramento para a Rainha Maria I enquanto sua loucura continuou a piorar após a morte de Dom Pedro em 1786. Após o incêndio que atingiu o ‘Palácio da Ajuda’ em 1794, o Palácio de Queluz tornou-se a residência oficial do príncipe regente português, o futuro Dom João VI, e de sua família. Permaneceu assim até á retirada da família Real para o Brasil em 1807, devido à invasão francesa a Portugal. A construção do Palácio iniciou-se em 1747, tendo como arquitecto Mateus Vicente de Oliveira. Apesar de ser muito menor, é chamado frequentemente de ‘o Versalhes português’. A partir de 1826, o palácio lentamente deixou de ser o predilecto pelos soberanos portugueses. Uma das alas do Palácio de Queluz, o ‘Pavilhão de Dona Maria’, construído entre 1785 e 1792 pelo arquitecto Manuel Caetano de Sousa, é hoje um quarto de hóspedes exclusivo para chefes de Estado estrangeiros em visita a Portugal.



Deve-se a Dom Pedro III a iniciativa da construção, do século XVII, em que trabalharam os arquitectos portugueses Mateus Vicente de Oliveira e Manuel Caetano de Sousa, e o arquitecto-escultor francês João Baptista Robillon. As obras começaram em 1755. No teatro real deste palácio interveio o arquitecto I. de Oliveira Benevides, vindo essa sala a ser inaugurada em 17 de Dezembro de 1778 (1.º aniversário da coroação da Rainha). Destaca-se, para além do valor arquitectónico e patrimonial, a beleza dos jardins e larga extensão de mata que o cerca. Foi residência sazonal Real. Os traços arquitectónicos salientam os estilos, barroco, rococó e neoclássico. A planta apresenta-se complexa, pois corresponde à aglutinação de vários núcleos e a fases distintas de construção. Porém, pode-se dizer que o palácio se organiza genericamente em L, enquadrando os jardins por meio de várias salas. Do lado externo, o palácio abre dois braços curvos. No lado dos jardins, é visível a articulação das várias fachadas de aparato, nomeadamente a que enquadra o ‘Jardim de Neptuno’ ou ‘Jardim Grande’. No piso térreo merece destaque o corpo central de dois andares, firmado por portas e janelas de sacada. A fachada de cerimónia virada ao ‘Jardim dos Azereiros’ ou ‘Jardim de Malta’ é constituída por três corpos.



No rio Jamor, que passa nos jardins do palácio, foi construído o ‘Canal dos Azulejos’, com cerca de 130 metros de comprimento. Quando as comportas do canal eram fechadas, criava-se um plano de água onde era possível passear de barco entre paredes azulejadas, com representações de portos, palácios e outros temas. A chamada ‘Quinta de Queluz’ que anteriormente pertenceu ao Marquês de Castelo Rodrigo, passou para posse Real em 1654 e foi incorporada na ‘Casa do Infantado’. O palácio começou a ser construído em 1747. Daí até finais do século XVIII o edifício ganhou os contornos que apresenta hoje, nomeadamente com o marcado revestimento azulejar e a construção de sumptuosos jardins, a cargo de um arquitecto holandês. No jardim chegou a existir uma pequena praça de touros, que viria a desaparecer. A primeira fase de construção do jardim terminou em 1786. A água para os lagos e repuxos dos jardins da zona sudoeste era fornecida por dois aquedutos: o aqueduto da ‘Ponte Pedrinha’, proveniente da mina do Pendão no vale do rio Jamor, e o aqueduto da ‘Gargantada’, proveniente da mina da ‘Gargantada’ no vale da ribeira de Carenque. A zona noroeste era alimentada por água proveniente da bacia da ribeira das Forcadas. Em 1794, o palácio tornou-se oficialmente residência oficial da ‘Família Real Portuguesa’. Nele nasceu Dom Pedro IV de Portugal (ou Dom Pedro I do Brasil), em 12 de Outubro de 1798. Quando da partida dos Reis para o Brasil, em 1807, grande parte do recheio do palácio foi despojado. Em 24 de Setembro de 1834, já como Rei de Portugal, Dom Pedro IV viria a falecer no mesmo quarto em que nascera.


O desnível entre os jardins e o parque perde relevo perante a sequência de terraços e galeria porticada por pares de colunas toscanas, rematada por uma monumental escadaria. No interior, a organização dos compartimentos processa-se em linha. A decoração de algumas salas é digna de realce, sendo constituída por pintura a fresco (Sala das Açafatas), revestimento a espelhos, estuque e talha dourada (Toucador da Rainha, Sala do Trono), parqué de madeiras exóticas (Sala Dom Quixote) ou azulejos (Corredor das Mangas). Os jardins são ornamentados por estátuas.

Quinta da Bacalhoa


A Quinta da Bacalhoa é uma antiga propriedade da ‘Casa Real Portuguesa’. A quinta com o famoso ‘Palácio da Bacalhoa’ (também conhecido como Palácio dos Albuquerque) situa-se em Azeitão, mais precisamente na pequena aldeia de ‘Vila Fresca de Azeitão’.



É considerada a mais formosa quinta da primeira metade do século XVI, ainda existente em Portugal. No século XV pertenceu, como quinta de recreio, a João, Infante de Portugal, filho do Rei Dom João I. Herdou-a sua filha Dona Brites, casada com o segundo Duque de Viseu e mãe do Rei Dom Manuel I. Ainda existentes os edifícios, os muros com torreões de cúpulas aos gomos e também o grande tanque foram beneficiações mandadas construir por Dona Brites. Esta quinta viria a ser vendida em 1528 a Dom Brás de Albuquerque, filho primogénito de Dom Afonso de Albuquerque.



O novo proprietário, além de ter enriquecido as construções com belos azulejos, mandou construir uma harmoniosa “casa de prazer”, junto ao tanque, e dois robustos pavilhões, juntos aos muros laterais. Nos finais do século XVI, esta quinta fazia parte de morgadio pertencente a Dom Jerónimo Teles Barreto (descendente de Afonso de Albuquerque). Este morgadio (em que estava incluída a Quinta da Bacalhoa) viria a ser herdado por sua irmã, Dona Maria Mendonça de Albuquerque, casada com Dom Jerónimo Manuel (da Casa da Atalaia) conhecido pela alcunha de “Bacalhau”.



É muito provável que o nome de “Bacalhoa”, pelo qual veio a ficar conhecida a antiga ‘Quinta de Vila Fresca’, em Azeitão, tenha tido origem no facto de a mulher de Dom Jerónimo Manuel também ser designada da mesma forma sarcástica. Esta quinta ficou consagrada entre os tesouros artísticos de Portugal. Tendo, naturalmente, sofrido algumas modificações, no decurso dos seus cinco séculos de existência, conserva ainda as abóbadas ogivais dos seus tempos mais remotos, o palácio com janelas ao estilo renascentista, os cubelos representativos da ‘Via Sacra’ e elementos cerâmicos decorativos, do século XVI.



Nos azulejos encontra-se a data de 1565, e a assinatura do ceramista, Francisco de Matos. Medalhões de faiança de origem flamenga emolduram bustos de significação histórica.

Palácio dos Duques de Cadaval
(Évora)


O Palácio dos Duques de Cadaval é um palácio situado na acrópole de Évora. Este palácio, pertencente desde a sua fundação à ‘Casa Cadaval’, é constituído pela casa senhorial e pela Igreja dos Lóios, apresentando uma admirável combinação dos estilos mudéjar, gótico e manuelino. O Ducado do Cadaval foi criado no dia 26 de Abril de 1648, dia do nascimento do Infante Dom Pedro, futuro Dom Pedro II, Rei de Portugal, pelo Rei Dom João IV.


O título foi criado a favor de Dom Nuno Álvares Pereira de Melo (1638-1727), filho de Dom Francisco de Melo, um dos sustentáculos da Restauração da Independência de 1640, de quem herdaria os títulos de ‘Conde de Tentúgal e Marquês de Ferreira’. A fusão destas Casas tornou Dom Nuno um dos mais poderosos nobres do reino, para o que muito contribuiu a luta desta família pela causa da Independência, tanto durante a crise de sucessão de 1580, como na Restauração da Independência em 1640. Os Duques de Cadaval constituem uma ramificação da Casa de Bragança, a mais poderosa de Portugal e da qual saiu a Quarta Dinastia. Entre os privilégios da ‘Casa de Cadaval’, contava-se a autoridade senhorial de poder nomear ou confirmar as vereações municipais, podendo nomear os ouvidores, escrivães, inquiridores, contadores e outros cargos nas terras sob sua jurisdição.



O primitivo palácio surgiu, no século XIV, junto à Torre de Évora, onde o Fidalgo Martim Afonso de Mello, servidor do ‘Mestre de Avis’ e descendente da Coroa portuguesa, mandou erguer o ‘Palácio da Torre das Cinco Quinas’, nome pelo qual também é conhecido. A construção desse palácio assentou, em parte, sobre as muralhas romano-visigodas do antigo Castelo de Évora, incorporando vestígios de ambos na sua estrutura, visíveis através dos contornos militares fortificados do edifício, bem como da imponente torre da fachada principal, vestígio do castelo. Nas traseiras do Palácio, pode admirar-se a extraordinária ‘Torre das Cinco Quinas’, a famosa torre pentagonal que lhe deu o nome.



Além dos amplos jardins exteriores e das inúmeras salas e salões que constituem o edifício, este acolhe ainda as Salas de exposição da Casa Cadaval, onde está depositada uma colecção de códices iluminados, esculturas, pinturas e armaria, com peças datadas entre o século XV e o século XVIII. Nesse palácio, residiram temporariamente vários monarcas portugueses, nomeadamente Dom João II, Dom João IV e Dom João V. Também neste palácio esteve prisioneiro Dom Fernando II, 3º Duque de Bragança, acusado de conspiração contra o Rei Dom João II e decapitado na ‘Praça do Giraldo’, a praça principal da capital alentejana, em 1483.

Paço Ducal de Vila Viçosa


O Paço Ducal de Vila Viçosa é importante monumento situado no Terreiro do Paço da vila alentejana do distrito de Évora. Foi durante séculos a sede da sereníssima Casa de Bragança, uma importante família nobre fundada no século XV, que se tornou na Casa Reinante em Portugal, quando em 1 de Dezembro de 1640 o 8º Duque de Bragança foi aclamado Rei de Portugal (Dom João IV). Vila Viçosa tornou-se sede do importante Ducado de Bragança quando Dom Fernando (1403-1461) sucedeu a seu pai, tornando-se o 2º Duque de Bragança, em 1461. Na verdade, o 2º Duque de Bragança recebera de seu avô, o Condestável do Reino, Dom Nuno Álvares Pereira, o título de Conde de Arraiolos, pelo que quando chegou a Duque, não quis trocar as planuras alentejanas pelo ‘Paço Ducal de Guimarães’. Assim se estabeleceram os Bragança em Vila Viçosa, no primitivo Paço do Castelo.



Porém, o seu filho, também Dom Fernando, (3º Duque de Bragança), veio a ser executado em 1483, por ordem de Dom João II, acusado de traição, tendo a família sido exilada para Castela, de onde só regressaram em 1496, após a morte do Rei. Uma vez reabilitado o Ducado, o 4º Duque, Dom Jaime, não quis habitar o Paço do Castelo, por estar ligado à memória do seu pai, mandando construir um palácio novo, no sítio chamado do Reguengo, assim começou a ser erguido o que é hoje o magnífico Palácio Ducal de Vila Viçosa. As obras, comandadas por Dom Jaime, iniciaram-se em 1501, sendo dessa época o claustro e a zona da capela, bem como as actuais salas da Armaria. Porém nova tragédia atingiria a ilustre família, quando Dom Jaime, suspeitando (injustamente) da fidelidade de sua jovem mulher, a Duquesa Dona Leonor de Gusmão, a mandou degolar.



Entretanto a Casa de Bragança crescia em poder e em riqueza, fruto dos laços de parentesco com a ‘Casa Real’ e com os feitos do Duque Dom Jaime, que em 1513 comandou a vitoriosa expedição a Azamor. O 5º Duque, Dom Teodósio I, nomeado Condestável do Reino, em 1535, conseguiu negociar o casamento da sua irmã Dona Isabel com o Infante Dom Duarte (irmão do Rei Dom João III). Aproveitando a necessidade de ampliar o Palácio para as faustosas festas do matrimónio Real, em 1537, o Duque mandou construir a imponente fachada do palácio, revestida a mármore, ao gosto italiano, que hoje podemos admirar. O Palácio conheceu ainda várias obras e melhoramentos até 1640, data em que o Duque de Bragança foi feito Rei, levando grande parte do seu notável recheio para o ‘Palácio da Ribeira’, em Lisboa.



Doravante, o ‘Palácio de Vila Viçosa’ seria apenas uma residência de caça e recreio para a família dos seus proprietários, agora senhores do trono de Portugal. Dom João IV manteve porém a independência da ‘Casa de Bragança’ relativamente à Coroa, destinando-a para morgadio do herdeiro do trono. No século XVIII, Dom João V fez ainda alguns melhoramentos (capela, cozinha e pavilhão dos quartos novos), na sequência das suas visitas a ‘Vila Viçosa’, nomeadamente para a chamada troca das princesas (casamento do príncipe Dom José com uma Infanta de Espanha e do Príncipe das Astúrias com a Infanta Dona Maria Bárbara), ocorrida na fronteira do Caia, em 1729.



Também Dona Maria I fez ainda alguns melhoramentos, acrescentando o corpo das Salas de Jantar e dos Vidros. Finalmente, no final do século XIX, o velho Paço seria ainda objecto de algumas obras, fruto da predilecção que os Reis Dom Carlos e Dona Amélia tinham por ele. Dom Carlos apreciava muito o Palácio calipolense, aqui passando largas temporadas, quando promovia com os seus amigos (raramente trouxe convidados oficiais a Vila Viçosa) grandes caçados na extensa Tapada Ducal. O Palácio apresenta uma grande colecção de obras de arte (pintura, mobiliário, escultura, etc..), sendo particularmente nobres as salas do primeiro piso, de que são exemplos as ‘Salas da Medusa’, dos Duques (com retractos de todos os Duques até ao século XVIII no tecto) e de Hércules, muitas delas enobrecidas com belíssimos fogões de sala de mármore esculpido. Permanecem particularmente vivas no palácio as memórias dos dois últimos reinados (fruto da especial predilecção que por ele tiveram os soberanos), como se pode observar nos aposentos régios e nos inúmeros exemplares da obra artística do Rei Dom Carlos (aguarelas e pastel). A cozinha apresenta uma das maiores colecções de baterias de cozinha, em cobre. São ainda de realçar a Biblioteca (com exemplares bastante preciosos) e a armaria. Nas antigas cocheiras está instalada uma secção do ‘Museu Nacional dos Coches’, onde entre outras carruagens, se pode admirar o landau que transportava a Família Real no dia do regicídio.

Paço Episcopal de Faro


O Paço Episcopal, ou Palácio Episcopal, é um edifício ‘notável’ de Faro, que serve de sede à Diocese do Algarve. Situado na Vila Adentro, no Largo da Sé, o Paço Episcopal construído entre os séculos XVI e XVII (1581-1585), período em que ocorreu a transferência da sede do Episcopado de Silves para Faro, encontra-se junto ao Seminário e à Igreja da Sé, e constitui um dos edifícios mais representativos da arquitectura chã no Algarve. É um edifício de dois pisos reconstruído e ampliado após o terramoto de 1755. Destaca-se a sua traça, os telhados de quatro águas e o portal. No interior, o átrio e a escadaria são decorados com azulejos do século XVIII. Salientam-se artisticamente a azulejaria rocaille (do vestíbulo, escadarias e outras 3 divisões), a biblioteca com estantes pintadas em chinoiserie, assim como o acervo de pintura (com obras de Marcello Leopardi).

Fortaleza-Palácio de São Lourenço



A Fortaleza-Palácio de São Lourenço localiza-se no centro histórico da cidade do Funchal, na Região Autónoma da Madeira. Serve de residência oficial ao Representante da República. Constitui-se num conjunto monumental originalmente com a dupla função de fortificação e paço, considerado como o melhor e mais imponente exemplar de arquitectura civil e militar da ilha da Madeira. Compreende a ‘Fortaleza de São Lourenço’, iniciada na primeira metade do século XVI e concluída à época da ‘Dinastia Filipina’, e o Palácio propriamente dito, incluindo os salões do pavimento nobre que datam do último quartel do século XVIII e os jardins interiores. O chamado ‘Baluarte Velho’ do Funchal localizava-se no centro histórico da cidade do Funchal, na ilha da Madeira. Constituiu-se na primeira estrutura de fortificação do arquipélago e foi sucedida, na segunda metade do século XVI, pela Fortaleza-Palácio de São Lourenço. A fortificação das ilhas atlânticas portuguesas foi tardia, se comparada com a do Norte de África, e obedeceu às alterações do cenário geoestratégico no Atlântico Norte no século XVI, com o ingresso de novos atores além das ‘Coroas de Portugal e da Espanha’. Desde o início da colonização da Madeira, as sedes das duas principais capitanias (Funchal e Machico), constituíram-se em importantes centros de comércio e navegação, predominando a primeira pela excelência do seu porto.



Por essa razão, o segundo capitão do donatário do Funchal, João Gonçalves da Câmara (1467-1501), sucessor do primeiro donatário, seu pai (1450-1467), João Gonçalves da Câmara, ciente dos riscos e prejuízos incorridos em alto mar pelas embarcações portuguesas, e temendo qualquer assalto à povoação florescente, solicitou à Infanta Dona Beatriz, tutora de seu filho Dom Diogo e administradora do mestrado da ‘Ordem de Cristo’, que se fizesse uma fortaleza para defesa do porto. A Infanta, entretanto, pretextando as muitas despesas havidas, foi adiando a obra. Posteriormente, o 5º Duque de Viseu (futuro Dom Manuel I de Portugal), em 21 de junho de 1493 determinou que se fizesse "çerca e muros nesta villa do Funchall (...) antre a Ribeyra De Sam Francisco E De Santa Luçia E que chegue Junto cõ ho mar E que Deve ser de Gramdeza ao menos tamanha como Setuvall", prometendo que, depois desta concluída, se passaria a erguer idêntica fortificação na vila de Machico. Entretanto, o donatário renovou, em 1494, o pedido de autorização para a edificação de uma cerca, muros e um baluarte com uma torre junto à sua residência, no local então denominado como ‘Altinho das Fontes’, junto ao mar, onde brotavam as chamadas “Fontes de João Diniz”. Apenas em 1513, à época do terceiro Capitão-donatário, Simão Gonçalves da Câmara, o ‘Magnífico’ (1501-1530), é que se iniciaram os trabalhos de fortificação, com as obras do "mestre das obras reais", João de Cáceres.



Embora uma historiografia tradicional admita que essas obras tiveram início imediato (o que supostamente seria corroborado pela existência de um monumental brasão de armas em cantaria regional de grande dimensão, aposto sobre o torreão da atual Fortaleza). Palácio de São Lourenço a Sudeste (possivelmente posterior, uma vez que Dom João III também utilizou as mesmas armas), a sua conclusão só viria a ocorrer no Reinado de Dom João III de Portugal (1521-1557). Em 1528, uma embarcação de Biscaia atacou duas outras que carregavam açúcar no porto do Funchal. Diante desse fato, a Câmara solicitou ao soberano que fizesse erguer uma fortificação, queixando-se de que nada havia para a defesa do porto. Em resposta, no ano seguinte (1529), o soberano indicou que se deveria escolher o sítio nos limites da cidade, ou na praia de ‘Santa Catarina’ ou no extremo oposto, no cabo do ‘Calhau’, e que o seu custo deveria ser suportado pelo imposto sobre as carnes e os couros, até então empregue em melhoramentos na cidade do Funchal. A construção era definida em linhas como como "…um baluarte com torre", sendo a última erguida onde o capitão achasse melhor. Nesse mesmo ano, remeteu de Lisboa um conjunto de peças de artilharia de grosso calibre, para a defesa do porto enquanto a fortificação era erguida o que, no entanto, não ocorreu de imediato, também não tendo sendo remetidos os competentes artilheiros para manejá-las. As obras, a cargo do mestre de pedraria Estevão Gomes, estariam concluídas em fins de 1540 e inícios de 1541, abrangendo o período do quarto Capitão-donatário, João Gonçalves da Câmara (1530-1536) e do quinto, Simão Gonçalves da Câmara (1536-1580).



No mesmo período foi nomeado um condestável para a fortificação. Com o aumento no movimento do porto, entretanto, em duas décadas essa defesa mostrava-se insuficiente, conforme o demonstrou o assalto ao Funchal pelo corsário francês Pierre Bertrand de Montluc (3 de Outubro de 1566). O desembarque registou-se na praia Formosa, tendo o cronista Gaspar Frutuoso registado:

" (…) Francisco Gonçalves de Câmara com mais trezentos homens da terra e das naus estavam recolhidos à Fortaleza, e muitas mulheres honradas da cidade com eles. (…)."

E referindo a posição dos atacantes numa casa fronteira à muralha Norte:

" (…) e porque daqui varejassem bem o cubelo e as mais partes do forte, tiveram lugar de subirem muitos franceses sobre o muro, que não era mais alto que doze palmos por aquela parte d'além da porta do baluarte, o qual é a banda do Norte: e como foram dentro ou em cima do andar do muro, puderam bem atirar de arcabuzadas aos que estavam com as peças de artilharia guardando a entrada da Fortaleza (…)."

Esse episódio deu lugar a uma revisão do plano defensivo das ilhas atlânticas, sendo nomeado como novo ‘Mestre das Obras Reais na Madeira’, o arquitecto militar Mateus Fernandes (III), descendente de Mateus Fernandes, arquitecto do ‘Mosteiro da Batalha’. Este profissional recebeu da Provedoria das ‘Obras de Lisboa’, já no início de 1567, diversas indicações e, em março, a visita de um grupo de arquitetos italianos (Pompeo Arditi e Tommaso Benedetto), que lhe trouxeram o primeiro "Regimento das Fortificações para o Funchal", renovado posteriormente em 1572.



O antigo baluarte seria também reavaliado e acrescentado nos anos seguintes. A fortificação constava de uma torre de planta semioval, ostentando as ‘Armas Reais’, articulada com uma muralha que corria sobre o chamado "Altinho das Fontes" de João Dinis, que envolvia as casas do capitão. Ao lado das fontes de João Dinis, erguia-se um torreão-cisterna que, flanqueando a muralha, protegia a aguada das embarcações e da população na praia do Funchal. Estava artilhada com um potente conjunto de peças de bronze pelo lado voltado para o mar, remetidas de Lisboa ainda em 1529. Pelo lado de terra, a defesa constituía-se apenas de um muro de terra apiloada que, de acordo com o cronista Gaspar Frutuoso, não tinha mais do que doze palmos de terra.


Na sequência do saque do Funchal de 1566, o novo mestre das Obras Reais na Madeira, Mateus Fernandes (III), procedeu a ampliação do antigo baluarte. Uma planta do Funchal (Mateus Fernandes, c. 1570) figura a fortaleza, no interior da qual se encontravam as Casas do Capitão, defendida por uma muralha de planta rectangular, a Sudeste do qual se erguia o torreão manuelino e, a Noroeste, um outro torreão junto ao qual teriam entrado os corsários franceses, em 1566. Em 1572 o projecto defensivo foi modificado, sendo aumentado para três baluartes. Determinou-se ainda a demolição das casas que lhe eram impedimento, e que se cortassem os balcões da frontaria do Calhau, onde haviam de construir-se os muros da cidade rasgados por cinco portas (duas ao sul voltadas para o mar, uma a este e duas a oeste), correndo as muralhas entre as ribeiras de João Gomes e de São Francisco (atual ribeira de São João), a entestarem nos morros da Pena e do Pico dos Frias. Acredita-se que cerca de 1580 estariam concluídos o baluarte Sudoeste, quadrangular, bem como dois baluartes pentagonais a Norte, em posição dominante, cobrindo a cidade. A fortificação é assim descrita, à época:

"Adiante logo da Alfândega [a] um tiro de besta está a Fortaleza velha, que é a principal, situada sobre uma rocha, e tem pela banda do mar seis grandes e formosos canos d'água que dela sai, e nela nasce na mesma rocha sobre que e fundada; e de maneira nenhuma se pode tomar nem tolher pela banda de terra de nenhuns inimigos: a qual Fortaleza tem pela banda do mar dois cubelos, como torres, mui fortes, que guardam o mesmo mar, e artilharia, de que estão bem providos; e pela banda da terra outros dois, que guardam toda a cidade por cima, por estarem mais altos que ela; na qual parte tem também um muro mui alto e forte, com uma fortíssima porta de alçapão. E, assim como tem dentro água, não lhe faltam atafonas, fornos e celeiros para recolher os mantimentos, e ricos aposentos, onde o capitão pousa, adornados com seu jardim e frescura." (Gaspar Frutuoso. Saudades da Terra.)



À época da Dinastia Filipina (1580-1640), a administração do arquipélago da Madeira passa a ser exercida por ‘Governadores Gerais’, o primeiro dos quais foi o desembargador João Leitão. A Fortaleza Velha passou a sediar a força castelhana permanente que guarneceu a ilha, passando o seu paço a abrigar o ‘Governador Militar’, Dom Agostinho de Herrera, Conde de Lanzarote, substituído em 1582 pelo Capitão Juan de Aranda. As obras da fortaleza foram concluídas neste período, sob a direção do mestre-de-obras Reais, Jerónimo Jorge, compreendendo a edificação do baluarte central Norte, semi-pentagonal, no início do século XVII, guarnecendo o Portão de Armas, sob a invocação de São Lourenço. Posteriormente, a imagem (com a data de 1636 (1639?) na sua base) seria colocada num nicho sobre o Portão de Armas, passando a fortaleza a denominar-se "de São Lourenço" e o baluarte "do Castanheiro", dada a árvore que veio a crescer na sua esplanada.


O seu perfil castrense foi suavizado com a construção do ‘Palácio do Governador’ militar da ilha, edifício dotada de uma extensa fachada, objecto de extensa remodelação nos séculos subsequentes. Data de meados do século XVII a sua melhor representação iconográfica: o desenho "Fortaleza de S. Lourenço onde está o presídio do Governador na Ilha da Madeira", de autoria de Bartolomeu João, na carta corográfica "Descrição da Ilha da Madeira, Cidade do Funchal, Villas, Lugares, Ribeiras, Portos e Enceadas, e mais Secretos…". Nele é possível identificar os baluartes Norte e Noroeste da fortaleza, e uma área assinalada por três aberturas para o interior do baluarte Norte, então a descoberto, atualmente integrada no corpo Norte do palácio (a Sala Vasco da Gama).


Após a Restauração da independência Portuguesa em 1 de Dezembro de 1640, cuja notícia só foi conhecida oficialmente na Madeira em Janeiro de 1641, sendo formalizada pela aclamação e reconhecimento de Dom João IV (1640-1656) foi extinto o presídio castelhano sediado na ‘Fortaleza de São Lourenço’, dispersando-se a sua guarnição. Dom Luís de Miranda Henriques, nomeado por Margarida de Sabóia, Duquesa de Mântua a 22 de Maio de 1640, manteve-se como Governador durante o ano de 1641. O Palácio seguiu sendo utilizado como residência dos Governadores e Capitães-generais, e, com o advento do Governo Constitucional em 1834, dos Governadores civis a partir de 1835. Um incêndio em 1699 destruiu parcialmente a ‘Residência do Governador’, o que conduziu a uma nova intervenção na área residencial da fortaleza. Acredita-se que date desta época o crescimento do corpo Sul em mais um pavimento, que veio a ser absorvido pela edificação dos salões do andar nobre, de elevado pé-direito, ao final do século XVIII. Foi nesta fase construtiva que a função residencial passou a predominar sobre a função defensiva do conjunto, particularmente com a campanha de obras sob o governo de Dom Diogo Pereira Forjaz Coutinho, quando foram edificados os três salões principais, atualmente designados como ‘Sala dos Capitães-Donatários’, ‘Salão Nobre’ ou de ‘Baile’ e ‘Sala Vermelha’, e posteriormente, a ‘Sala Verde’ e a galeria que a delimita pelo lado Norte, sobre o jardim interior.



O conjunto passou, por essa razão, a ser mais frequentemente denominado como ‘Palácio’ do que como ‘Fortaleza’. Entre o final do século XVIII e o início do século XIX, a nova ala edificada no prolongamento do andar nobre sacrificou o baluarte Sudoeste, sobre o qual foi erguida uma nova dependência, atualmente denominada como ‘Sala do Baluarte’. Datará da mesma época a formação do jardim interior, que contava com um tanque de água. Ambos encontram-se figurados em levantamento de Paulo Dias de Almeida ("Fort.ª de S. Lour.º Rezid.ª dos Governadores", 1805). O mesmo autor, em obra posterior, registra: "Esta fortaleza só serve para residência dos governadores, não tem artilharia alguma e a bateria do mar é muito acanhada." ("Descrição da Ilha da Madeira…",1817)


No contexto da Guerra Peninsular registaram-se as ocupações britânicas da Madeira:

A primeira, pelas forças do Coronel William Henry Clinton, de 23 de Julho de 1801 a 27 de Janeiro de 1802, sem interferência directa na administração civil.

A segunda, entre 1807 e 1808, tendo, a 24 de Dezembro de 1807 o ‘Estado-Maior do Tenente-Governador William Carr Beresford’ se instalado no Palácio de São Lourenço, então residência do Governador Pedro Fagundes Bacelar d'Antas e Menezes onde, como em todas as fortalezas da ilha, foi hasteada a ‘Bandeira do Reino Unido’, sendo posteriormente publicada uma proclamação em que a população foi levada a reconhecer Jorge III do Reino Unido como seu legítimo soberano.


Esta situação manteve-se até à assinatura do ‘Tratado de Restituição da Madeira’ (Londres, 16 de Março de 1808), cuja cópia chegou à Madeira em finais de Abril. O Palácio de São Lourenço foi então devolvido à administração civil, tendo Beresford seguido para Lisboa em Agosto do mesmo ano. Uma guarnição britânica permaneceu estacionada no arquipélago até Setembro de 1814, quando da assinatura do Tratado de Paz entre a Grã-Bretanha e a França naquele ano. Quando da gestão do Governador e Capitão-General Sebastião Xavier Botelho foram introduzidas diversas alterações na estrutura do Palácio, a mais relevante das quais o deslocamento da escadaria exterior de acesso ao andar nobre, até então situada a Sudoeste do pátio interior e dando para a capela ali existente, para o centro desse pátio, no mesmo local onde hoje se encontra a escadaria.



A ele se deve ainda a encomenda, ao pintor Joaquim Leonardo da Rocha, primeiro professor da ‘Aula de Desenho e Pintura do Funchal’, do retracto de Dom João VI datado de 1819. A separação dos poderes no arquipélago determinou, no Palácio-Fortaleza, em 1836, a separação entre o ‘Quartel do Governador das Armas’, a Leste, e o ‘Palácio’, residência oficial do ‘Governador Civil’, a Oeste, compreendendo as Salas Nobres, os gabinetes, a área residencial, os jardins e os baluartes Sudoeste, Nordeste e Norte. Essa divisão, no essencial, corresponde na actualidade, ao ‘Comando Operacional da Zona Militar da Madeira’ e à residência oficial do ‘Ministro da República’. Das alterações introduzidas no conjunto no período, destacam-se o desaparecimento da Capela datada do início do século XVII, bem como o arranjo dos jardins do Palácio durante a gestão de José Silvestre Ribeiro:

"O Snr. J. S. Ribeiro tem cuidado do Palácio da Fortaleza de S. Lourenço, como se fosse propriedade sua; e eis aí está esse grandioso edifício, eis aí estão os seus jardins, não só bem conservados mas até melhorados consideravelmente. Brevíssima Resenha de Alguns Serviços que ao ‘Distrito do Funchal’ tem Prestado o Conselheiro José Silvestre Ribeiro".

Parte do perímetro defensivo da ‘Fortaleza de São Lourenço’ foi desmantelada, destino que partilhou com a maioria das defesas da ilha, perdida a sua importância estratégica. De 1635 data a edificação da sua capela, baptizada com o nome do santo padroeiro, São Lourenço. No entanto, deste templo subsiste apenas uma inscrição gravada na cantaria e que alude à sua fundação. Com efeito, as profundas obras de remodelação e adaptação realizadas nos séculos XVIII e XIX alteraram a fachada palaciana e demoliram a capela seiscentista. O torreão Noroeste manteve-se após a construção do baluarte Noroeste à época filipina, encontrando-se figurado com quatro pavimentos pelo mestre das obras reais, Bartolomeu João, que sucedeu a seu pai, Jerónimo Jorge em 1618. Os três pavimentos superiores foram demolidos no século XVIII. Pela sua volumetria e extensão impõe-se a fachada do Palácio de São Lourenço, ritmada pelas suas numerosas janelas e varandas.


A porta principal é obra de aparato, sendo sobrepujada por uma escultura alusiva ao santo padroeiro. O interior palaciano é majestoso e foi também objecto de remodelações nos séculos XVIII e XIX. Das numerosas dependências são de mencionar, pela sua rica ornamentação galante, as denominadas salas do ‘Dossel’ ‘Boule’, ‘Império’ ou ainda a sala ‘Luís XVI’. Grande dignidade artística apresenta um retracto de João VI de Portugal, obra realizada em 1819 pelo pintor Joaquim Leonardo da Rocha. O Palácio de São Lourenço é ainda defendido pelos seus poderosos baluartes filipinos, formados por amplas muralhas com esplanadas e canhoneiras protectoras. Na parte leste subsiste um torreão circular manuelino marcado pelo brasão de armas deste monarca, obra provavelmente realizada pelo mestre João de Cáceres (engenheiro militar real e responsável pelas defesas do Funchal a partir de 1513). Marcado pelas armas espanholas da dinastia filipina, o baluarte Norte é um imponente testemunho da renovação e melhoria das modernas defesas de São Lourenço.

Solar dos Esmeraldos


O Solar dos Esmeraldos é um solar localizado na Lombada, freguesia e concelho da Ponta do Sol.


Este edifício foi mandado construir em 1494, pelo abastado comerciante flamengo João Esmeraldo que aforou as terras da Lombada da Ponta do Sol para a cultura da cana-de-açúcar. Ao longo dos tempos sofreu obras de beneficiação, mantendo no entanto o seu estilo inicial.

Solar do Ribeirinho


O Solar do Ribeirinho é um grupo de vestígios arqueológicos do século XVII em Machico, na Madeira. Actualmente integra o Núcleo Museológico de Machico (Solar do Ribeirinho). Os vestígios consistem num piso de cavalariça e num poço-cisterna, postos a descoberto no Verão de 1998. O poço-cisterna, de forma cilíndrica, tem aproximadamente 6,5m de profundidade e 1,10 m de diâmetro interno. Foi construído com pedra basáltica. A boca tem um revestimento de argamassa, aproveitando alguns blocos de cantaria vermelha. As sondagens arqueológicas permitiram identificar a primitiva cavalariça do solar, com partes de paredes de pedra aparelhada assente em calcetamento de calhau rolado.



Os trabalhos arqueológicos forneceram também um numeroso conjunto de espólio arqueológico dos séculos XVI, a XIX, destacando-se a cerâmica (faianças portuguesas dos séculos XVI a XVIII; cerâmica vidrada, cerâmica comum e várias dezenas de fragmentos de formas de açúcar), os fragmentos de azulejos do século XVII, um brasão do século XVII, entre outros objectos (moedas, botões em osso, tachas, ferraduras de cavalo, etc). Mais recentemente, escavações puseram à vista um conjunto de estruturas hidráulicas, destinadas ao regadio de campos de cana-de-açúcar nos arredores do solar.

Paços do Concelho do Funchal



O actual edifício da Câmara Municipal do Funchal (CMF) localiza-se na Rua dos Ferreiros, junto à Praça do Município, na cidade do Funchal, Região Autónoma da Madeira. Este edifício foi mandado construir em 1758, pelo Conde de Carvalhal para fins de residência.



Em 1883 foi comprado pela Câmara para servir como os Paços do Concelho, tendo sido alvo de adaptações e alterações.

Solar dos Noronhas


O Solar dos Noronhas é um solar português localizado na freguesia da Ribeira Seca ao concelho da Calheta, ilha de São Jorge, arquipélago dos Açores.


  
O Solar dos Noronhas apresenta-se como uma imponente construção que cuja fundação data do Século XVIII, mais precisamente de 1781.



É este solar dotado de uma ermida anexa, a ‘Ermida de Nossa Senhora dos Milagres’, que foi edificada na mesma época, é um dos expoentes máximos do barroco na arquitectura civil da ilha de São Jorge.



Trata-se de um solar urbano que apresenta uma grande desenvoltura arquitectural e é pertença de uma das mais abastadas e influentes famílias da ilha de São Jorge do século XVIII.

Paço dos Noronhas



O Paço dos Noronhas é um solar medieval situado na aldeia de Reriz, no concelho de Castro Daire. Constituído por um único piso, um piso térreo, cuja altura imponente levou à construção de umas escadas de mármore, a planta do edifício é quadrangular, com as esquinas arredondadas.



Apresenta-se como um edifício simples, e o único adorno que leva são as suas inúmeras janelas (mais de vinte) e o brasão de armas, colocado sobre as portas da entrada. O edifício anexa também um vasto jardim particular e uma horta. O seu nome deve-se ao sobrenome da família ali residente, cortesãos que se estabeleceram em Reriz. O paço é também conhecido como ‘Solar das Verdes Janelas’, derivado do facto de as janelas e as portas do edifício serem da cor verde.

Palácio de Sant'Ana


O Palácio de Sant'Ana localiza-se na freguesia de São Sebastião, no concelho de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, nos Açores. Remonta ao século XIX, e apresenta uma arquitectura tardo-barroca.






Solar da Madre de Deus


O Solar da Madre de Deus localiza-se nos limites do centro histórico da cidade e Concelho de Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira, nos Açores. É exemplo de uma casa solarenga do século XVII, típica das cidades portuárias portuguesas das ilhas e do ultramar. Compõe-se de um misto de residência urbana e cabeça de uma grande propriedade rural que se estendia ao Norte da casa.



O solar manteve-se na posse da família até à sua venda ao Estado, após o grande terramoto de 1980.



Foi erguido por determinação do então Morgado e Capitão-mor de Angra, Dom João de Bettencourt de Vasconcelos, acredita-se que no segundo quartel do século XVII, aproveitando-se uma pequena casa cuja fachada ficava virada a Leste, da qual subsistiu a parede que separa a actual sala de jantar do corpo principal do edifício.



João de Bettencourt de Vasconcelos, juntamente com o seu cunhado, o Capitão-mor Francisco de Ornelas da Câmara, presidiu ao ‘Conselho de Guerra’ que se constituiu em Angra para ordenar o cerco da ‘Fortaleza de São João Baptista’ em 1641, sendo lícito presumir que o comando das operações se fizesse a partir desta casa, vizinha à qual se abriu uma das diversas trincheiras para defesa dos sitiantes.



A ermida do solar é dedicada à invocação de Nossa Senhora da Madre de Deus, denominada Ermida de Nossa Senhora da Madre de Deus tendo sido erguida em 1727 por iniciativa de Vital de Bettencourt de Vasconcelos, bisneto do capitão-mor João de Bettencourt. No ano seguinte, a 15 de Junho, o Bispo de Angra, Dom Manuel Alvares da Costa, passou o alvará para se iniciar o culto, visto ter "os paramentos necessários, campanário e porta para a rua". Este último pormenor significa que a ermida tinha o estatuto de pública, ou seja, a sua porta deveria estar sempre aberta a quem quisesse assistir aos ofícios.



O antigo portão de acesso ao pátio, o chafariz e o belo empedrado na rampa à entrada da casa ostentam datas relativas a obras ou alterações que os antigos senhores da casa levaram a efeito. Sobre o portão destaca-se a pedra de armas dos, Bettencourt.

Palácio Bettencourt


O Palácio Bettencourt localiza-se na freguesia da Sé, no centro histórico da cidade e Concelho de Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira, nos Açores. Trata-se de uma antiga edificação solarenga de fins do século XVII e inícios do XVIII, que durante este último século e possivelmente no seguinte, sofreu algumas alterações. Aqui residiu, entre 1820 e 1821, Francisco António de Araújo e Azevedo, sétimo Capitão-general dos Açores e último do Regime Absolutista. Foi substituído no cargo em 1820 por Francisco de Borja Garção Stockler, mas permaneceu na ilha por aqui ter família, vindo a ser assassinado, a 3 de abril de 1821, por ter liderado o levante liberal na Fortaleza de São João Baptista. Atualmente alberga a Biblioteca Pública e Arquivo de Angra do Heroísmo (com mais de meio milhão de diferentes títulos e cerca de dois milhões de manuscritos) e o Depósito Legal dos Açores, onde é conservado um exemplar de qualquer publicação editada em Portugal. O conjunto é marcado por uma sóbria decoração em estilo barroco, ao gosto da época da construção. Em sua fachada principal destaca-se o rico portal lavrado em cantaria de pedra da região, flanqueado por duas colunas salomónicas e encimado por capitéis compósitos e arquitrave e uma ampla cartela de pedra que emoldura a pedra de armas dos, Bettencourt. O edifício ergue-se em dois pavimentos, o rés-do-chão e o andar nobre, sendo integrado ainda por uma torre de planta quadrangular voltada ao Sul, dividida internamente em três pavimentos. Os trabalhos de restauração privilegiaram as cantarias das fachadas, designadamente as das janelas do primeiro pavimento, de altas molduras e elegante recorte.



Também são dignos de nota as estruturas em ferros das sacadas, reintegradas no estilo da construção à época. Para o espaçoso átrio do rés-do-chão abrem-se, à direita e à esquerda, as portas das salas de leitura, a primeira das quais destinada a leitura geral e consulta de publicações periódicas, e a que fica do lado oposto, para consulta de manuscritos e espécies pertencentes à ‘Secção de Reservados’. Esta possui o respectivo mobiliário e estantes em madeiras do Brasil, ao gosto das antigas livrarias do século XVII, em que toda a área aproveitável das paredes era inteiramente recoberta de estantes ou armaretes. Os tectos do átrio e das duas salas de leitura são de cedro e ricas madeiras africanas, ostentando os dois últimos os brasões da cidade de Angra e da família Bettencourt, armas estas que se observam igualmente nos reposteiros das citadas salas.



Ao fundo da ‘Sala de Leitura Geral’ encontram-se duas belas estantes torneadas, provenientes da antiga ‘Biblioteca Municipal’, as quais pertenceram ao poeta Almeida Garrett. Esta sala comunica com os depósitos da ala Oeste, dos quais os dois primeiros se encontram repletos de espécimes bibliográficos e o último preenchido com espécimes documentais.

Villa Maria




A Villa Maria localiza-se junto à orla costeira, anexa à Baía de Villa Maria, no concelho de Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira, nos Açores. Trata-se de uma propriedade da família Noronha, que foi residência de José Pimentel Homem de Noronha, casado com Maria Adelaide Barcelos Machado de Bettencourt, filha Francisco de Paula de Barcelos Machado de Bettencourt vogal da ‘Comissão Distrital de Junta Geral do Distrito de Angra do Heroísmo’, senhor e herdeiro da casa vincular e morgadio que os seus antepassados tinham instituído na ilha Terceira e foi baptizado na Igreja da Sé, freguesia da Sé, concelho de Angra do Heroísmo. Pessoa que esteve desde sempre ligado à aristocracia da ilha Terceira e que foi um grande latifundiário na mesma ilha com terras principalmente na zona dos ‘Cinco Picos’, incluindo a área geográfica onde se situa a Lagoa do Ginjal. Nas suas terras, no cimo de uma elevação, ao norte da planície da Achada mandou construir a Ermida de Santo Antão, que ficou concluída em 1897 que manteve à sua custa.



Era dedicada a Santo Antão o protector dos animais e a Santo Isidro. O José Pimentel Homem de Noronha foi pai de Alberto de Barcelos e Noronha casado com uma da mulheres mais ricas da ilha de São Jorge, Ambrosina Beatriz da Silveira Noronha, e governador civil do Distrito de Angra do Heroísmo, no período de 1893 a 1895 e padrinho de batismo do Régulo de Fumó, Roberto Frederico Zichacha, filho Ngungunhane, último monarca da Dinastia Jamine e último imperador do Império de Gaza, no território que actualmente é Moçambique. Do casamento acima referido viriam a nascer quatro filhos, sendo que somente dois chegaram á idade adulta, Carlos Alberto da Silveira Moniz do Canto e Noronha e José Orlando Moniz do Canto e Noronha. Esta propriedade antes de ter sido a residência de José Pimentel foi a residência de seu pai o morgado João Inácio de Bettencourt Noronha. Quinta de Santa Luzia, cuja data da primitiva construção recua a 1602 e esta propriedade que ocupava principalmente no Verão, dada a sua situação junto à costa. Será da sua autoria a idealização do solar atualmente existente, e quem adquiriu os terrenos de uma propriedade datada da casa de 1502, que depois de adaptada daria origem à atualmente existente. A propriedade inicia assim a sua história como tendo pertencido a um arcediago da cúria do Bispado da Diocese Angra do Heroísmo, até ser adquirida pelo referido João Inácio Bettencourt de Noronha. Nela destaca-se o solar, que possui cinco séculos de história em sua parte mais antiga. São testemunhos deste período não apenas uma antiga iconografia onde se encontram figuradas a propriedade e a casa originais, mas também uma antiga epigrafia com a data de 1502, recuperada durante trabalhos de manutenção sobre a porta da atual adega que, à época, poderia ter assinalado a entrada principal. O solar foi ampliado por volta de 1700, com o adquirir da propriedade ao seu antigo proprietário por João Inácio Noronha, descendente dos membros da família Noronha, família essa que chegou aos Açores na pessoa de Dona Luísa de Noronha, filha de Pedro Ponce de Leão e de Dona Helena de Noronha, no século XVI e casada com Heitor Homem da Costa, fidalgo da ‘Casa Real’, cavaleiro da ‘Ordem de Cristo’ e senhor de uma tença anual de 20.000 Reis, por mercê de Filipe II de Espanha datada de 1589, e herdeiro da casa e morgadio de seus pais e avós, e da de seu tio, João Homem da Costa. O seu bisavô foi Heitor Anes Homem, pai do 1º capitão donatário da vila da Praia, e fundador da vila de Angra, actual cidade de Angra do Heroísmo, Álvaro Martins Homem. Esta propriedade é acedida a partir da via pública por um portão de ferro forjado, percorrendo-se um caminho com cerca de 81 metros. A fachada principal, voltada a Sul, para o mar, é rasgada por uma portada ao centro e por quatorze janelas, em cantaria de pedra metamórfica. A primitiva edificação apresentava dois pavimentos. O piso superior, primitivamente dividido em quartos, constitui-se atualmente num salão, transformado em sala de jantar iluminado naturalmente por quatro janelas voltadas para o mar, e, na parte traseira, por mais duas, abertas para a propriedade, rodeadas por cantarias de rocha metamórfica de cor cinza. A sala de jantar comunica-se com o exterior por uma porta, que abre para um terraço com varanda, onde é aproveitado o eirado de uma cisterna cuja construção também data de 1502 e onde, ainda hoje, é aprovisionada a água para os dias de Verão, sendo que em cima da cisterna existe um poço de acesso ao interior da cisterna, por onde a água pode ser tirada por uma corda e um balde. O sobrado é sustentado por traves e barrotes de madeira de cedro, que pousam sobre as cantarias das paredes laterais e numa arcada em estilo românico, que definem, no pavimento inferior, uma adega de duas divisões que se prolonga por debaixo da parte da casa erguida no Século XVIII.



Na casa do Século XVIII, a porta central dá acesso a um saguão que abre para os dois lados do andar de baixo, tendo ao centro uma escadaria de acesso ao andar nobre. Estas escadas são ladeadas por colunas de pedra trabalhada onde se mistura o Estilo românico com o Rococó na parte superior de cada uma das referidas colunas. Os azulejos do chão do saguão, tão antigos como a casa são uma mostra da antiga azulejaria portuguesa, sendo que a cor dos desenhos dos mesmos varia entre o branco, o preto e o vermelho tijolo. As portas laterais, são rodeadas por cantarias trabalhadas num arco leve ao princípio que depois se vai fechando até ser rematado numa ogiva que o estilo faz lembrar o árabe. As restantes portas apresentam uma cantaria simples e dão acesso às laterais da casa, antigas áreas de serviço e a uma despensa e arrecadação onde se guardavam os produtos agrícolas da quinta. No cimo das escadas encontra-se uma abertura em círculo onde se abrem 3 portas. A central, em vidro engastado em pinho resinoso, dá acesso a um corredor central ondulado que permite uma distribuição pelas divisões. As outras duas portas, abrem-se cada uma para uma sala, dando acesso às laterais da casa. Por uma questão de ordem, começando pelo nascente, acede-se pela parte de 1502 á sala de jantar, á adega e á cisterna. A adega ocupa todo o rés-do-chão da casa de 500 e está dividida em dois compartimentos: O primeiro, onde em tempos idos existiam os lagares e se fazia o tratamento das uvas para se fazerem os vinhos que foram afamados, destacando-se os vinhos brancos, moscatéis, e alguns tintos. Mais recentemente foi aqui produzida aguardente de nêspera que era vendida no mercado local. Esta é detentora de 2 lagares onde as uvas esmagadas eram deixadas a adquirir cor e a fermentar, criando o vinho mosto. Ainda se encontram nas paredes os vãos e os nichos dos mecanismos das prensas de uvas. Nesta adega, e passando por uma porta rodeada de cantarias, passa-se, subindo alguns degraus de pedra para outra sala onde o vinho era guardado em tonéis, alguns com mais de 960 litros de capacidade e de que ainda existem alguns exemplares. O vinho era aqui guardado em câmara escura e a uma temperatura constante onde envelhecia até adquirir a idade e o corpo necessário para ser engarrafado e de novo guardado em garrafeiras até que finalmente chegasse a altura de ser comercializado. É de mencionar que as uvas com que este vinho era feito eram produzidas na ‘Quinta de Villa Maria’, na Fajã de São João e na Urzelina, estas duas últimas localidades, da ilha de São Jorge, onde os donos tinham propriedades, sendo que no caso da Urzelina algumas se localizavam no sítio dos Casteletes, local onde se encontra a Ermida do Senhor Jesus da Boa Morte. Esta parte da adega é encastrada na casa de 500, ficando por debaixo dela e lateral à segunda parte da casa construída por volta de 1700, funcionando como uma cave para os vinhos repousarem. Na sala de jantar em que foi transformado o andar superior da casa de 500, quando foi edificada a casa de 1700, é possível encontrar uma mobília com vários estilos onde se destacam os armários de madeira, e a mesa central na sala. Trata-se de uma sala ampla onde as janelas são encastradas em madeiras. O tecto desta sala exibe um lustro com data desconhecida que pende de um florão num tecto branco. Passando da sala de jantar à cozinha que também faz parte de casa de 1502, encontra-se uma divisão, praticamente toda em pedra, com saída para a rua e para a quinta. Esta é dotada de um forno de lenha onde nos velhos tempos se secava o milho e se cozinhava. Os armários contemporâneos da construção de 1700, encontram-se embutidos na parede, e elevam-se quase a três metros e guardam os utensílios que nesta divisão se usam.



A chaminé de mãos postas dá saída aos fumos e separa a parte da cozinha propriamente dita do resto da cozinha por uma arcada em pedra. Junto à chaminé, e para dar água, não só ao lava louça de 1502, mas aos restantes usos da cozinha, encontra-se embutido na parede um tanque que retêm a água da chuva. Este tanque era dotado por um sistema de transporte de água, que quando cheio, levava a água excedentária para a cisterna por um sistema de calhas, que seguia via chaminé, por cima da pedra mestra do tecto da dispensa até à referida cisterna, a cerca de 20 metros de distância. Á despensa, igualmente em pedra e que fornece esta cozinha, tem-se acesso por uma porta em arco, quase camuflada entre um canto da cozinha e o armário. A capela é acedida por duas portas em ogiva a partir do corredor central e é dedicada a Nossa Senhora das Vitórias, estando devidamente registada e autorizada pela diocese de Angra do Heroísmo desde o Século XVIII, cerca de 1700. Esta capela guarda os paramentos necessários à sua actividade. Aqui já se rezaram missas e se fez casamentos. É aqui de destacar a imagem de Nossa Senhora das Vitórias esculpida em madeira e datando do século XVIII, o livro de missa escrito em latim e outros paramentos utilizados nos ofícios religiosos. A referida imagem de Nossa Senhora das Vitórias, encontra-se num altar de madeira, ornamentado a toda a volta por madeira de flandres, trabalhada com motivos florais, destacando-se as flores e as folhas, por entre ramos entrelaçados. A madeira não é policromada ou de talha dourada, pelo que mantem a sua cor.



A janela destaca-se pelos seus três vidros policromados, em azul, vermelho e verde, que recortando-se em redor das cantarias procuram dar uma ideia de vitral. O salão nobre, a maior sala da casa é iluminado por um total de 5 janelas, duas que se abrem a sul e ao mar e 3 que se abrem a poente e às terras de cultivo, aqui destaca-se a mobília composta por vários estilos e o lustro. Na rua, e por cima da porta da entrada é de destacar o florão de pedra que dá à entrada um toque muito próprio e a janela da capela, por cima da porta de entrada, em pedra trabalhada. Esta propriedade e os seus donos estão profundamente ligados à Ilha de São Jorge, onde eram proprietários de terras, nomeadamente no concelho da Calheta (Açores), no antigo concelho do Topo, e no concelho das Velas, neste caso, na localidade de Urzelina, onde era produzido o conhecido vinho da Casta Terrantez. Também possuíam propriedades na Ilha Terceira, onde terão chegado, no século XVI, na pessoa de Dona Luísa de Noronha, filha de Pedro Ponce de Leão e de Dona Helena de Noronha, e que foi desposada por Heitor Homem da Costa, fidalgo da Casa Real, cavaleiro da ‘Ordem de Cristo’ e senhor de uma tença anual de 20.000 reis, por mercê de Filipe II de Espanha datada de 1589, e herdeiro da casa e morgado de seus pais e avós, e da de seu tio, João Homem da Costa. O seu bisavô foi Heitor Anes Homem, pai do 1º capitão donatário da vila da Praia, e fundador da vila de Angra, actual cidade de Angra do Heroísmo, Álvaro Martins Homem. A área agrícola que rodeava esta casa, foi em tempos idos de uma extensão apreciável, estendendo-se desde a orla marítima a sul, até á localidade de São Carlos, a norte. Dada a sua localização junto ao mar é possível observar aqui um apreciável número de espécies ao longo de todo o ano.


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