Azamor
é uma cidade na margem esquerda do rio Morbeia, a cerca de dez quilómetros de
Mazagão, na costa atlântica do norte do Marrocos. Embora dependente do rei de
Fez, constituía-se numa povoação comercial bastante dinâmica. Reputada pela excelência
de seu porto fluvial, em 1486, devido à instabilidade política regional, os
seus habitantes pediram a proteção do rei D. João II (1481-1495), de quem se
tornaram vassalos e tributários.
O tributo anual era de dez mil sáveis, peixe
abundante naquele rio, permitindo o estabelecimento de uma feitoria. Como
primeiro feitor foi escolhido o escudeiro Martim Reinel, que já lá se
encontrava em função da negociação do acordo, cujas funções exerceu até 1501. O
rei Manuel I de Portugal (1495-1521) confirmou os termos do contrato em 1497.
Mais tarde, surgindo desavenças em torno do mesmo, Rodrigues Bérrio, um armador
de Tavira que costumava ir pescar sáveis a Azamor, em 1508 deu conhecimento a
D. Manuel das grandes divisões entre os seus habitantes e do desejo que alguns
manifestavam em se tornar súbditos de Portugal.
Atendendo a esses motivos, foi
enviada uma pequena armada (50 navios e 2.500 homens) sob o comando de Dom João
de Menezes, para submeter a cidade, sem sucesso. Em 1513, a expulsão de alguns
portugueses que viviam na cidade, e consequentemente encerramento da feitoria
portuguesa por iniciativa de Muley Zião, deu ensejo a que, a 15 de agosto fosse
enviada do reino, uma nova armada (500 navios, 13 mil homens a pé, mais de 2
mil a cavalo, e gente de mar), sob o comando de D. Jaime, Duque de Bragança.
No
dia 1 de setembro seguinte, as forças portuguesas avançaram sobre a cidade, que
capitulou, sem resistência, dois dias depois, no dia 3 participou da expedição
o engenheiro militar Francisco Danzilho, que desenhou uma ou mais vistas da
cidade, que foram remetidas ao soberano. D. João de Menezes ficou por capitão
da praça, com três mil homens para a sua defesa. Entretanto, conforme informou
o soberano ainda no mesmo ano, esse quantitativo era insuficiente para a sua
defesa, uma vez que a cidade era praticamente do tamanho de Évora, e as suas
defesas eram muito fracas. Durante o ano seguinte (1514) ali atuaram os irmãos
Diogo e Francisco de Arruda, responsáveis pelo que é considerado como a sua
obra mais marcante no Norte d'África: dois baluartes curvilíneos, o de
"São Cristóvão", anexo, ao Palácio dos Capitães como uma torre de
menagem compacta; e o do "Raio", no extremo da fortaleza, decorado
por quarenta bandeiras e com espaço para mais de sessenta peças de artilharia
fazerem fogo, simultaneamente, em todas as direções. A Praça-forte de Azamor
foi abandonada em 1541, por determinação de D. João III (1521-1557), após a
queda da Fortaleza de Santa Cruz do Cabo de Gué (1541).
3
de setembro de 1513 - 1513 - D. Jaime I, Duque de Bragança
Jaime
I de Bragança (1479-20 de setembro de 1532) foi o quarto Duque de Bragança. Secundogénito
de Fernando II de Bragança, assistiu à decapitação do pai em Évora, ordenada
pelo rei João II de Portugal, arqui-rival da casa ducal e do contrapoder que
ela representava à centralização do Estado. Depois da execução de Fernando,
Jaime fugiu para Castela com o resto da família, e aí permaneceu toda a
adolescência até 1498. Nesse ano, o novo rei Manuel I de Portugal perdoou a
família e concedeu-lhe de novo os títulos, terras e bens confiscados a seu pai.
No entanto, Jaime decidiu partir acompanhado por um criado para Roma com o fim
de anular o seu casamento e de se tornar monge capucho. Manuel I enviou
mensageiros que o interceptaram em Calatayud e obrigaram a voltar para
Portugal.
Devido à importância da Casa Ducal de Bragança, em 1498, para não
existir o risco da coroa de Portugal cair em rei estrangeiro, a pedido das
cortes Jaime foi jurado Príncipe herdeiro de Portugal durante a viagem do rei
Manuel I a Castela, em virtude deste não ter então ainda filhos.
Desposou em
primeiras núpcias Leonor de Guzmán filha do Duque de Medina Sidónia em 1502, da
qual teve dois filhos. Uma vez que fora um casamento combinado por motivos
políticos, quando essa aliança deixou de lhe servir, engendrou um esquema para
se livrar da Duquesa, fazendo-a ser apanhada com um jovem escudeiro, e mandando
assassinar (ou assassinando ele mesmo) o jovem casal como vingança. Casou-se em
segundas núpcias com Joana de Mendonça, filha de Diogo de Mendonça, Alcaide-mór
de Mourão e sua mulher Brites Soares de Albergaria. Embora fosse dos mais altos
nobres da corte portuguesa, sobre ele recaíram as suspeitas do assassinato.
Para escapar aos foros da nobreza, o rei Manuel I ordenou-lhe que se redimisse
entregando-se à guerra.
Dessa forma, Jaime foi obrigado a custear pessoalmente
uma expedição de 25.000 cavaleiros e 19.000 infantes transportados em 400
embarcações destinada a tomar Azamor, em Marrocos, em setembro de 1513, que foi
facilmente conquistada pelos Portugueses. Foi ainda o responsável pela
construção do Paço Ducal de Vila Viçosa. Descendência do 1.º matrimónio: Teodósio
I de Bragança sucedeu-lhe no título. Isabel de Bragança, casou (1537) com Duarte,Duque de Guimarães (1515-1540). Descendência do 2.º matrimónio: Joana de
Bragança (1521-1588) casou com Bernardino de Cardenas, 3º Marqués de Elche. Constantino
de Bragança (1528-1575), vice-rei da Índia. Jaime de Bragança, clérigo. Fulgêncio
de Bragança, 11º Dom Prior da Colegiada de Guimarães. Teotónio de Bragança,
arcebispo de Évora. Eugénia de Bragança casa com D. Francisco de Melo, 2º Marquês
de Ferreira. Maria de Bragança. Vicência de Bragança.
1513
- 1514 - D. João de Menezes
D.
João de Meneses, (c. 1460 - Azamor 15 de maio de 1514). Militar português, 1º
capitão de Azamor & capitão de Arzila. D. João de Meneses, filho de D. João
de Menezes, 4º senhor de Cantanhede e de Leonor da Silva, chegou a levar os
seguintes títulos: Alcaide-mor do Cartaxo, Comendador de Mogadouro (Ordem de
Cristo) & Comendador de Aljezur, Camareiro-mor do príncipe D. João,
Governador da Casa do príncipe D. João, Guarda-mor de D. Afonso. Nos Anais de
Arzila, Bernardo Rodrigues conta-nos a fatalidade da morte de D. Afonso, filho
do rei D. João II, em terça-feira 13 de Julho de 1491 e como esse dia ficou
maldito para D. João de Meneses: "À
terça-feira Dom João de Meneses não avia de cometer cousa alguma polo que lhe
aconteceo na morte do principe Dom Afonso, como é notorio e sabido a todos os
deste reino. Dizem que estando no Algarve, em um lugar seu que se chama
Aljazur, em uma terça-feira, lhe dérão cartas d'el-rei Dom João o segundo e do
principe Dom Afonso seu filho, que fose à corte, e se fez prestes e partio a
outra terça-feira, e tardando oito dias no caminho chegou a Santarem, donde
el-rei e o principe estavão, outra terça-feira, e dahi a oito dias, outra terça-feira,
correndo a carreira em Alfange, levando o principe pela mão, caio do cavalo, da
qual queda logo morreo. Deste tão desestrado caso lhe ficou tão grand odio e
agouro que nunca a terça feira cometeo cousa alguma, posto que depois foi
capitão d'Arzila e d'Azamor e se lhe oferecêrão casos suficientes; e dizia Dom
João que em tal dia se pudesse escusar abrir as portas o faria."
Capitão
de Arzila
(1495)
Pedro
de Mariz, nos seus Diálogos de Vária História diz dele: "foy hum dos mais estimados fidalgos, que em todos os Reynos de
Hespanha houve em muito tempo; levando muita ventagem em armas, & prudência
a muitos, que por estas qualidades, erão excellentes". Em Dezembro (ou
próximo dele) de 1495 "foy cousa
maravilhosa, que no mesmo dia em que [D. Manuel I] em a Villa de Montemór o
Novo ordenava estas cousas em favor de Affrica [mandando "prover em muita
abundância todos os lugares, que naquella costa possuíamos"], se alcançou
nella huma grande vitória; sendo Ministro della o capitão-mor, & Governador
de Arzilla, Dom João de Menezes, da casa de Cantanhede". Estando
ausente D. Vasco Coutinho, capitão oficial de Arzila, tinha-lhe substituído
nesse cargo, seu sobrinho Dom Rodrigo Coutinho (filho de D. Álvaro Gonçalves
Coutinho, 5º marechal de Portugal). Mas logo tinha sido desbaratado pelos "dous famosos Alcaides Barráxa (Mulei
Ali Ibn Rachid, alcaide de Xexuão), & Amadarim (Sidi Al-Mandri, alcaide de
Tetuão), izentos da obediencia delRey de Féz (Mohammed ach-Chaykh)." D. João entrou
então no Governo de Arzila, em lugar de Dom Rodrigo, e determinou, em primeiro
lugar reduzir os rebeldes pela força, à obediência. Pediu socorro a Lopo Vaz de
Azevedo, capitão de Tânger, que lhe enviou o adail Pedro Leitão, com cinquenta
cavaleiros escolhidos. D. João tinha ele saído de Arzila com cento e cinquenta
cavaleiros. Reuniram-se e marcharam durante a noite para não serem sentidos antes
de chegarem à primeira aldeia de rebeldes. Mas sucedeu que ao mesmo tempo, "Barráxa (Mulei Ali Ibn Rachid)
Almandarim (Sidi Al-Mandri II) com Musa e Acob, alcaides do rei de Fez",
que "andavão muy alterados por a
vitoria, (...) e andavão hora Senhores do campo, & vinhão [também] sobre as
Aldeas nossas tributarias com duas mil lanças, e oitocentos homens de pé."
Dom João não podia voltar, compreendendo que perseguido, se perderia sem
remédio, com sua reputação. Resolveu investi-los por surpresa. Dividiu a armada
em três exércitos. O primeiro confiado a Pedro Leitão, com os cavaleiros de
Tânger, querendo-lhes fazer honra como a hóspedes, com o maior perigo; o
segundo confiou-o a D. João de Meneses, (também chamado D. João da Cunha) de
alcunha o ladrão, seu sobrinho, filho do conde Dom Pedro de Meneses, com trinta
cavalos; e o resto reservou-o para ele mesmo. Animou os soldados com palavras
de fé, e avançaram. Os mouros, ao vê-los tão poucos, confiados no seu número,
não se organizaram e atacaram. Os de Tânger receberam-nos, com muito ânimo,
durante um bom tempo, antes de se retirarem pouco a pouco. Chegaram então os
cavaleiros de D. João ladrão, que atacando os mouros por outro lado, deram nova
confiança aos primeiros, que voltaram a suster o combate. Pareceu então a D.
João de Menezes, tempo oportuno para avançar "com o restante das forças, e
o fez com tanto valor e fortuna, que os mouros, depois de alguma resistencia,
começaram a ceder. Apertando-os o capitão (...) poz por fim em fuga, os mouros,
& lhe foy no alcance mais de duas léguas, matando quatrocentos, &
dezoito de cavallo, & cativando vinte, & oito; & hum rico, despojo
em que entravão oitenta, & cinco cavallos de preço, & todas as
bandeiras dos alcaides, que mandou a este Reyno."
Capitão
de Arzila
(09/01/1502-1506)
Em
9 de Janeiro de 1502, por ordem de D. Manuel I a capitania de Arzila foi
entregue de novo a D. João, em substituição do seu cunhado o conde de Borba D.
Vasco Coutinho, que se encontrava em Portugal. Esta substituição ficou a
dever-se ao aumento da conflitualidade com os mouros, e o filho de D. Vasco, D.
João Coutinho sendo ainda muito novo. Sabendo D. João de Meneses que o rei de
Fez, Mohammed ach-Chaykh, "& seu
irmão, andavão em campanha, com doze mil homens de cavallo, & muita pionagem;
& que muy furioso hia sobre Tânger: de que Dom Rodrigo [de Castro, capitão
de Tânger], não podia ser avisado senão por mar, & a pressa não dava lugar
a dilaçoens, mandou atar huma carta em que lhe dava esta conta, metida em cera,
ao pescosso de huma cadella de Tanger, que a caso estava àquella hora em
Arzilla; & à boca da noite a mandou pór fora, primeiro muy bem assoutada:
& ella se deu também com o negócio, que chegou a tempo, que Dom Rodrigo foy
avisado, & se aparelhou de maneira, que quando elRey chegou á Cidade, &
a cometeo com tamanho exército, sahio a elles Dom Rodrigo, & animosamente
os cometeu". Mas os mouros muito numerosos, não só resistiram mas
levaram o melhor e teve D. Rodrigo que se recolher, e "lhe matarão hum filho & oito cavalleiros, & a elle derão
húa lançada, que lhe pregarão o rosto com o pescoço (...), & ainda com tudo
isto não poderão fechar a porta, nem correr a tranca mais, que té o meyo, que
fez Ruy Martinz o derradeiro, que entrou. Partido de Tanger elRey de Féz,
Mohammed ach-Chaykh, foy com a mesma gente sobre Arzilla, onde Dom João de
Menezes acudio logo, & sahio ao campo, com quinze de cavallo, a ver o que
passava nelle, deixando os outros em a villa velha. E achando os corredores
d'elRey de Féz, se começou a retirar às lançadas, com as quaes apertarão tanto
com elle os Mouros, que lhe foy forçado voltar a elles; mas nesta volta não se
achando mais, que com quatro, com elles somente fez tanto em armas, que os
Mouros se espantavão, & não podião crer, o que seus olhos vião, & suas
carnes sentião: até que acudindo cincoenta dos que ficarão atrás, derão com
tanto esforço nos Mouros, que os levarão de vencida hum grande espasso,
matando, & ferindo nelles. (...) Começou a passar avante pelo meyo de todo
o exército dos inimigos. Mas lá vendose sem os seus, fez volta pera se
recolher, & nella lhe matarão alguns cavalleiros de nome, & lhe ferirão
quasi todos, & a elle cõ huma lança de arremesso, lhe passárão as armas: cõ
tudo, isto chegou aos que estavam na villa, com os quaes fez huma cõprida volta
aos Mouros, & os lançou fóra, da tranqueira cõ morte de muitos, e grande número
de cativos: e entre elles morreu hum famoso Alcaide (...). E entre estes
trabalhos hum mouro de cavallo deu muito que rir a muitos, que lamentar a si
só: porque deixando elle hum tão grande exercito já entrado nas tranqueiras de
Arzilla, & Dom João Capitão della com tão poucos, metido no meyo de tantos,
que todos lhe procurávão a morte: se apartou (...) & não vendo no campo
mais, que sinaes de morte, deu o negocio por concluido, & se meteo pelas
portas da villa muito cõfiado: onde logo foy desenganado, com a hõra que se
costuma aos cativos." Isto se passou segundo Pedro de Mariz em 1501; a
6 de Março segundo o Gabinete Historico, não se sabendo de que ano, e segundo
Rodrigues de Matos terá ocorrido em 6 de Março de 1503. "E porque em o porto da cidade de Larache, cinco léguas de
Arzilla, estavão certas galés, & gâleotas de Mouros, que pouco havia tinhão
tomado algumas naos nossas, que também tinhão naquelle porto, determinou Dom
João de Menezes não sofrer aquella injúria: & pera isto armou três
caravellas, & com outras tres, que andavão no estreito, as foy cometer
dentro no porto da cidade; & a força de armas, rendeo huma galé real do
Alcaide Almandarim (Sidi Al-Mandri), & a queimou (...) & todos os que
sahirão à defenção della forão desbaratados de maneira, que pode Dom João
trazer cinco galeotas, dous bargantins, & huma das nossas caravellas
somente, por não estarem as outras em parte convenientes a mais que a lhe porem
o fogo com que arderão. E porque quando a gente da cidade, acabou de se armar
pera acudir a isso, já Dom João de Menezes tinha concluido com a empresa, (...)
elle se foy recolhendo vitorioso, sem perder mais, que hum homem. Ousadia, que
deu muito em que cuidar muitos dias aos Mouros: porque até quelle tempo nunca
tal acontecera naquelle porto, nem depois se sabe, que acontecesse. E elRey Dom
Emanoel estimou tanto este feito, que falava nelle muitas vezes por maravilha:
& acabou de entender, & confessar, que Dom João de Menezes, excedia a
todos os que por valerosos na guerra erão estimados no mundo. E isto foy a 24
de Julho, de 1504."
Capitão
de uma armada a Azamor
(1508)
Sucede-lhe
em Arzila D. Vasco Coutinho de volta da sua ida a Portugal, provavelmente "no fim de 1505, ou princípios de
1506". Em 1507 vai "com
três caravelas sondar as barras dos rios de Azamor, da Mámora, de Salé e
Larache, acompanhado do Duarte de Armaz «grande pintor que traçou e debuxou as
entradas dêstes rios e a situação da terra». Em 1508 é capitão de uma
armada a Azamor: "Neste (...) anno
de mil, & quinhentos, & oito, mandou el Rey Dom Emanoel húa armada a
Affrica, em que hião quatrocentos homens, de cavallo, & dous mil de pé,
& por Capitão da empresa Dom João de Menezes, (...); pera que conquistasse
a cidade de Azamor. E mandou elRey tão pouca gente a huma empresa tão grande,
contra o parecer dos mais experimentados; & enganado de alguns, que com
falsas apparencias, & demonstraçoens lho fizerão parecer assi conveniente:
principalmente o moveo muito hum Mouro, que havia sido Rey de Mequinez, &
andando desterrado, veyo a este Reyno, & se offereceo, que elle com todas
suas valias ajudaria á conquista, por ser morador em Azamor, & se faria seu
vassallo. Mas ainda que Dom João de Menezes chegou á cidade, & a esbombardeou,
& desembarcou em terra animosamente, & lhe deu hum combate rijo, &
bem pelejado, té pregarem as lanças nas portas dellas todavia era ella tão
populosa, & forte, & estava tão bem apercebída pera aquella conquista,
& tinha em sua defenção tantos mouros, que Dom João não pode mais fazer,
que depois de muitas mortes de parte a parte, recolherse a salvamento".
Participaram à empresa, Rodrigo de Melo, Conde de Tentúgal, e D. João Mascarenhas,
capitão de jinetes, e parece que também vieram D. João de Meneses, Conde de
Tarouca, e seu filho Dom Duarte que vinha de suceder a seu pai na capitania de
Tânger. O piloto mor era Bastião Rodrigues Berrio, de Tavira, que era, segundo
outra fonte (Bernardo Rodrigues), quem tinha vindo anunciar a oferta de Azamor.
"Mulei Zião, [era] senhor de
Mequinez, (...) Mulei Naçar, irmão del-rei de Féz, Mulei Mafamade (Mohammed
al-Burtuqâlî), o avia deitado fora dele [de Mequinez]." Por isso pediu
o auxílio ao rei Dom Manuel. Mas, entretanto "tendo muitos parentes em Azamor, o chamárão e o levantárão por
senhor e rei; e, por esta causa" não se quiz submeter. Quando a armada
chegou a vila estava fechada e preparada. E vendo-a tão pequena, os habitantes
zombavam de Bastião Rodrigues Berrio, dizendo: "Asi Berrio, com quatro caravelas, quereis, tomar Azamor?".
D. João parte então para Tânger e uma parte da Armada para Alcácer-Ceguer. Mas
em 15 de Outubro desse mesmo ano, o rei de Fez, Mulei Mafamade (Mohammed
al-Burtuqâlî), com seus alcaides cide Alé Barraxe (Mulei Ali Ibn Rachid,
alcaide de Xexuão) e Almendarim (Sidi Al-Mandri, alcaide de Tetuão), atacam
Arzila com uma poderosa armada, que consegue apoderar-se da vila, ficando
apenas o castelo às mãos dos portugueses. D. Vasco Coutinho seu capitão pede
ajuda, e a armada de D. João, com seus principais, e o capitão de Tânger, D.
Duarte, aparece dois dias mais tarde à meia-noite, mas só na quinta-feira 21 de
Outubro, é que conseguem desembarcar, os primeiros dias por o mar impedir os
barcos de se aproximar, e terça-feira devido a superstição de D. João de que é
feita menção no princípio do artigo. Depois com a ajuda também do Conde Pedro
Navarro, "com três mil, &
quinhentos soldados, com que então se achava acompanhado: com estes & com
os da companhia de Dom João, quiz elle dar batalha a elRey de Féz, & pera
isso começou, aparelhar, como quem sabia, que só a vista de semelhante ousadia,
havia de quebrar os corações aos Mouros. Mas elRey o não quiz esperar por estar
já desconfiado de tomar a villa, & polo muíto danno, que cada momento
recebia, & esperava receber se retirou."
(1513-1514)
"Ainda, que elRey Dom Emanoel,
tinha por tributária a Cidade Azamor em Affrica, todavia desejava ser Senhor
della: porque muitas vezes lhe negava o tributo, & se ajuntava com seus
inimigos; polo, que determinou mandalla conquistar. E pera isso era o anno do
Senhor mil, & quinhentos, & treze, mandou fazer huma poderosa armada
(...) com o Duque de Bragança Dom Gemes, (...) por General". A armada "foy
surgir duas léguas de Marzagão a 28 de Agosto (...). De Marzagão partio o
exercito ao primeiro de Setembro. (...) Em Azamor mandou logo dar o primeiro
combate" e durante a noite os seus moradores fugiram da Cidade. "Ao outro dia, sendo o Duque avisado do
que passou, deu logo graças a Deos publicamente, & com grande triumpho
entrou na cidade, & muito mayor contentamento em o seu ânimo, por huma tão
grande, & tão barata vitoria, que lhe não custou nem hum só homem. (...) E
todas as mais cousas da Cidade novamente conquistada, ordenadas como convinha
ao governo, & defenção della, se veyo o Duque de Bragança ao Reyno,
deixando (...) por Capitão-mor do exercito Dom João de Menezes. Passada esta
vitoria, logo o anno seguinte de 1514 soube Dom João de Menezes, que ainda
estava em Azamor, que os Reys de Féz, & Mequinez se aparelhavão pera virem
com todo seu poder sobre Azamor & pera começar a guerra, & cerco,
mandavão diante dous seus Alcaides famosos, com muitos, & bons cavalleiros,
& gente de guerra, que por todos erão quatro mil de cavallo, & grande
numero de pé [erão eles, segundo Bernardo Rodrigues o alcaide de Mequinez Mulei
Naçar, irmão do rei de Fez, Mulei Mafamade (Mohammed al-Burtuqâlî), e Latar,
alcaide de Tedola. E parecendo a Dom João de Menezes, que desbaratando estes Alcaides,
se escusaria o cerco, que os Reys lhe querião por: se ajuntou com Nuno
Fernandez de Attaide [Capitão de Safim] com as suas quatrocentas lanças, &
com o Mouro amigo Iheabenafut [(Ou Ta'Fouft), Bérbero , que se apresentava como
"aquele que é encarregado na cidade de Safim da execução das leis do
império"] com mil, & quinhentas lanças: & elle com oitocentos
homens de cavallo, & mil de pé [e também com Martim Afonso de Melo
Coutinho, capitão de Mazagão, o adail Fernão Caldeira de Arzila, & os
xeques ou cabildas Jacó Ben Gariba, Aubdá, & Algaravia] derão todos sobre
os Alcaides, que confiados em sua multidão, & fama, os receberão com muito
animo, & com o mesmo se começarão a defender como cavalleiros: mas os
nossos com tanto impeto, & fervor entrárão, & continuarão a batalha,
que forão os Alcaides desbaratados, ficando hum delles morto no campo, com mais
de dous mil, & seiscentos de cavallo: & o outro se salvou deixando a
lança, adarga, & cavallo, pera com mais dissimulação, & ligeireza o
poder fazer. Morrerão mais sete Xeques, pessoas entre elles de grande
authoridade; & da gente de pé hum grandíssimo número." Mas vendo
os inimigos desbaratados, muitos dos portugueses lançaram-se a persegui-los sem
ordem, até que muitos encontrando-se separados, foram mortos: assim aconteceu a
"muitos sobrinhos de D. João"
e particularmente a Dom Garcia, filho do Conde de Cantanhede, irmão de D. João,
e Aires Téllez, e 25 outros fidalgos, e mais de 40 homens. "Teve lugar esta batalha na sexta-feira santa 14 de Abril de 1514".
Desgostoso com esse desastre D. João retirou-se para Azamor, diz Bernardo
Rodrigues, "não saio mais de casa,
nem se ergueo de uma cama, até que faleceo, não querendo ver ninguém." Dom
Manuel "o mandou visitar com
palavras de excelente principe, mandando-lhe o titulo de conde D'Aljazur",
enviando-lhe segundo Pedro de Mariz "muitos
agradecimentos dos assinados serviços, que lhe fazia, & das famosas obras,
que em seu nome acabava, rogando-lhe muito, por seu amor quisesse ainda ficar
naquella nova cidade mais dous mezes; passados os quaes viria receber o
galardão de seus, serviços, que lhe satisfaria como merecia." Em
resposta a isso "fez um vilancete e
trovas, que andão no Cancioneiro português, que dizem: Tirai-vos lá desenganos
/ não venhais / a tempo que não prestais.” Tinha casado com Isabel de
Mendanha. Sem descendência.
Maio
de 1514 - Setembro de 1514 - João Soares
2
de setembro de 1514 - 1515 (?) - D. Pedro de Sousa Chichorro, Conde do Prado
O
título de Conde do Prado foi um título nobiliárquico de Portugal, atribuído por
D. João III a D. Pedro de Sousa (1468-1563), senhor da Vila do Prado e de
Beringel, a 22 de Novembro de 1525. Este pertencia à linhagem dos Sousas ditos
Chichorros, ou do Prado, descendentes ilegítimos de D. Afonso III, e tinha-se
notabilizado como capitão na praça portuguesa de Azamor, em Marrocos. Mais
tarde, o seu filho D. Francisco de Sousa foi Governador-geral do Brasil
(1592-1602); e a este foi prometido o título de Marquês das Minas quando foi
novamente escolhido pelo rei Filipe II de Portugal para um governo além-mar em
1608. No entanto, D. Francisco de Sousa morreria logo em 1611, e nunca chegou a
receber o título de marquês. Este foi apenas atribuído em 1670 ao seu neto
homónimo, militar durante a Guerra da Restauração (1640-1668) e embaixador à
Santa Sé em 1669, como recompensa pelos seus serviços. Posteriormente D.
Francisco de Sousa, o 1.º Marquês das Minas, herdou ainda o título de Conde do
Prado atribuído em 1525 ao seu quarto avô. A partir de então os dois títulos
reuniram-se na mesma Casa; e como se tornou costume nos séculos XVII e XVIII,
ao ser absorvido pelo marquesado, o título condal foi usado como um título de
cortesia pelos herdeiros parentes dos Marqueses das Minas em vida destes. O
filho do primeiro Marquês, D. António Luís de Sousa, o 2.º e dito Marquês das
Minas, foi o mais famoso membro da Casa, graças ao seu papel na Guerra de
Sucessão Espanhola (1701-1714). Como comandante supremo do exército aliado
anglo-luso-holandês que invadiu Espanha em 1706, logrou conquistar Salamanca e
Madrid nesse ano, mas perdeu a importante Batalha de Almansa no ano seguinte.
A
genealogia desta linhagem é sobejamente conhecida: são os Sousas ditos
Chichorros, ou do Prado, descendentes ilegítimos de D. Afonso III (com a
célebre Madragana), de quem o primeiro marquês era décimo neto. À época dos
primeiros marqueses, também por exemplo os Condes de Redondo eram de varonia
Sousa Chichorro. A Casa foi descrita por D. António Caetano de Sousa nas
Memorias Históricas e Genealógicas dos Grandes de Portugal (1755), e as suas
armas podem também ser vistas por exemplo no armorial Thesouro de Nobreza
(1675), na página intitulada "ARMAS
DOS DVQVES E MARQVEZES DE PORTVGAL".
Sousas
de Arronches e Sousas do Prado
A
velha linhagem portuguesa dos Sousas, das mais antigas de Portugal, com origens
que remontam ao Condado Portucalense, tomou o seu nome do pequeno rio que por
sua vez dera o nome às chamadas Terras de Sousa, no vale do Sousa. Nesta zona
fértil, situada no coração do jovem reino de Portugal de meados do século XII,
abundam ainda os monumentos românicos da era de D. Afonso Henriques, ou mesmo
anteriores à independência de Portugal, que constituem hoje a Rota do Românico
do Vale do Sousa. Entre estes contam-se a Igreja de São Vicente de Sousa, e o
Mosteiro de Paço de Sousa, fundado por Egas Moniz, o Aio, onde se encontra o
túmulo do aio do primeiro rei de Portugal. No primeiro século de Portugal foram
notáveis Gonçalo Mendes de Sousa, ‘o Bom’, que lutou ao lado do rei na Batalha
de Ourique em 1143, e o seu filho Mendo Gonçalves de Sousa, o Sousão,
mordomo-mor de D. Sancho I, que esteve com o rei na conquista de Silves em
1189. Isto era precisamente a época em que as velhas estruturas familiares
cognáticas da nobreza portuguesa davam lugar à linhagem nobre agnática, isto é,
organizadas segundo padrões de patrilinearidade. Como refere José Mattoso: [...] Este facto explica a formação tardia
das linhagens nas famílias portuguesas. Com efeito [...] nestas, portanto
tardiamente, se é que se revela a tendência para copiar os costumes da família
real e em particular a sucessão dinástica. As outras continuam a reconhecer
como ”família” a que se lhes une por meio das esposas, quer do mesmo nível
social, quer de nível mais alto: sinal importante de uma estrutura ainda
cognática. As linhagens da nobreza rural nortenha só começarão a distinguir-se
claramente umas das outras quando aparecerem as honras, os solares, e os nomes
de família, no fim do séc. XII e inícios do seguinte. D. Afonso III, no
terceiro quartel do século XIII, decidiu casar dois filhos bastardos seus,
meios-irmãos do seu sucessor D. Dinis, com duas filhas desta velha linhagem.
Ambos estes bastardos régios passaram o apelido Sousa aos filhos; e assim
originaram os dois ramos dos Sousas de varonia real de Portugal: Os Sousas de
Arronches, descendentes de D. Afonso Dinis, assim chamados por terem detido,
entre outros, o senhorio da vila de Arronches. Mais tarde foram elevados a Marqueses
de Arronches. Estes Sousas mantiveram nas suas armas, esquarteladas de Portugal
modernas e Sousa, a heráldica original dos Sousas. Os Sousas Chichorros,
descendentes de Martim Afonso Chichorro, senhores de Vila de Prado, entre
outros lugares, e mais tarde Condes do Prado e Marqueses das Minas. Este Martim
Afonso teve um filho homónimo, e um neto, Vasco Martins de Sousa Chichorro, que
foi o primeiro Chichorro a usar o apelido Sousa. Este foi o primeiro senhor de
Mortágua; e o casamento em 1341 deste bisneto de D. Afonso III com D. Inês Dias
Manuel, bisneta por varonia de Fernando III de Leão e Castela, estaria na
origem das armas deste ramo dos Sousas, esquarteladas de Portugal antigas e
Leão.
Condes
do Prado
(1525)
O
1.º Conde do Prado foi D. Pedro de Sousa (1468-1563), senhor da Vila de Prado e
de Beringel, descendente dos Sousas Chichorros senhores de Mortágua. Terá,
juntamente com os seus irmãos, recebido o título de Dom em Fevereiro de 1498: a
praxe dos fidalgos da corte na época era de adoptar a forma longa do seu nome
(Rui→Rodrigo; Pero→Pedro, Fernão→Fernando, etc.) e omitir o patronímico ao
serem aceites na corte, e por essa altura o seu irmão mais velho João Rodrigues
de Sousa, embaixador em Castela na Primavera e Verão de 1494, passou a usar
simplesmente D. João de Sousa; e Pero de Sousa passou a usar D. Pedro de Sousa.
Este D. Pedro de Sousa casou três vezes, a primeira vez em 1487, e a segunda
vez, com D. Margarida de Brito, em 1498. Em data desconhecida entre 1508 e 1512
matou a mulher por adultério, sendo absolvido neste último ano por se ter
provado a culpa da mulher. O futuro conde passou ainda por Castela, onde
encontrou no paço do Conde de Benavente o criado que fora cúmplice do adultério
da mulher; tendo-o então atraído para a rua, matou-o. Este criado era um nobre
pagem do Duque de Bragança, que curiosamente também se viu envolvido nesta
altura num caso semelhante. Como se sabe, o Duque D. Jaime I foi condenado a
custear a expedição a Azamor em 1513 como pena por ter assassinado a sua
mulher, filha do Duque de Medina Sidónia. E o governo de justamente essa
praça-forte marroquina foi depois atribuído a D. Pedro de Sousa em 1514. Foi em
Azamor que D. Pedro de Sousa cometeu o feito maior da sua vida. Na Primavera
seguinte, em 1515, juntou-se a Nuno Fernandes de Ataíde, capitão de Safim; e
com uma força de seiscentos ginetes, lançaram-se os dois capitães numa
cavalgada pelo sertão marroquino dentro, onde, após uns duzentos quilómetros,
chegaram aos muros da própria Marraquexe. Após terem desbaratado uma força de
mouros às portas da cidade, voltaram os dois capitães às suas praças, sem mais
proveito que a glória. Foi esta a mais famosa de quantas entradas fizeram os
portugueses em Marrocos; e mais tarde foi então D. Pedro feito Conde do Prado a
22 de Novembro de 1525. Do primeiro conde conhecem-se, tal como do pai e do
irmão mencionado, trovas no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende. O seu filho
único (do primeiro matrimónio), D. Francisco de Sousa, sofria no entanto de
vários "vícios que não se
nomeiam"; foi preso por ordem régia, e embarcou numa nau para a Índia,
onde morreu em 1556 ainda em vida do pai. O 2.º Conde do Prado seria um bisneto
deste D. Francisco, D. Luís de Sousa, por carta de 12 de Junho de 1633.
Morrendo sem descendência em 1643, o título de Conde do Prado foi herdado por
seu sobrinho, também chamado D. Francisco de Sousa, já 1.º Marquês das Minas.
Titulares
D.
Pedro de Sousa (1468-1563), 1.º Conde do Prado.
D.
Luís de Sousa (1580-1643), 2.º Conde do Prado; trineto do anterior.
D.
Francisco de Sousa (1610-1674), 3.º Conde do Prado, embaixador à Santa Sé, e
logo 1.º Marquês das Minas; sobrinho do anterior.
D.
António Luís de Sousa (1644-1721), 4.º Conde do Prado e 2.º Marquês das Minas;
filho do anterior.
D.
Francisco de Sousa (1665-1687), 5.º Conde do Prado; filho do anterior.
D.
João de Sousa (1666-1722), 6.º Conde do Prado e 3.º Marquês das Minas; irmão do
anterior.
D.
António Caetano Luís de Sousa (1690-1757), 7.º Conde do Prado e 4.º Marquês das
Minas; filho do anterior.
D.
João de Sousa (1713-1745), filho do anterior. Casou em 1739 com uma filha do
4.º Conde de Sarzedas, e segunda vez em 1744 com uma filha do 4.º Marquês de
Alegrete. Não ostentou quaisquer títulos.
D.
Maria Francisca de Sousa (1745-1787), 8.ª Condessa do Prado e 5.ª Marquesa das
Minas; filha póstuma do anterior. Casou em 1760 com D. Lourenço de Lancastre e
Noronha, neto do 4.º Conde dos Arcos e 8.º Conde do Prado e 5.º Marquês das
Minas por casamento.
D.
Francisco Benedito de Sousa Lencastre e Noronha (1780-1796), 9.º Conde do Prado
e 6.º Marquês das Minas; filho dos anteriores. Recebeu os títulos em vida dos
pais em Dezembro de 1790.
D.
João Francisco de Sousa Lencastre (1782-1810), 10.º Conde do Prado e 7.º
Marquês das Minas; irmão do anterior. Governador do Reino 1808-1810.
D.
Joana Bernarda de Sousa Lencastre e Noronha (†1827), 11.ª Condessa do Prado e
8.ª Marquesa das Minas; irmã dos anteriores.
A
última marquesa morreu em Março de 1827, e nela se extinguiu toda a legítima
descendência do famoso 4.º Conde do Prado e 2.º Marquês das Minas.
Marqueses
das Minas
(1670)
O
título de Marquês das Minas foi como ficou dito prometido a D. Francisco de
Sousa em 1608, quando o monarca decidiu dividir o governo do Brasil em dois. D.
Francisco já fora governador-geral do território ultramarino em 1591-1598;
agora receberia o governo de três capitanias no sul do Brasil: a capitania de
São Vicente, a capitania do Espírito Santo, e a capitania do Rio de Janeiro,
com os mesmos poderes e prerrogativas que o governador na Bahia, e com uma
renda de trinta mil cruzados nelas. Como governador-geral tinha D. Francisco
anteriormente promovido expedições ao sertão em busca de ouro e prata; e tinha
mesmo descoberto alguns (muito modestos) jazigos de ouro em São Vicente. O
título "das Minas" não se
referia assim ao território que mais tarde seria a Capitania de São Paulo e
Minas de Ouro (que apenas seria criada em 1709), mas sim a estas minas, e às
que se esperava que o governador encontrasse no território de que fora
encarregado. Largou de Lisboa rumo ao Brasil em Janeiro de 1709, mas morreria
em São Paulo em Junho de 1611, sem ter recebido o título. O título foi assim
outorgado ao seu neto homónimo, depois deste se ter destacado na Guerra da
Restauração, e principalmente como embaixador ao Papa Clemente IX em 1669. Como
a Espanha à época era vista como a principal potência Católica, e como Roma
considerava que esta tinha legitimamente herdado o trono de Portugal em 1580,
os papas nunca reconheceram a aclamação de D. João IV e a posterior restauração
da independência de Portugal em 1640. Apenas após a paz com Espanha em 1668
aceitou Roma um embaixador português; e a embaixada do futuro Marquês das
Minas, para ver Portugal reconhecido pelo Papado, foi assim a missão
diplomática portuguesa mais importante à Santa Sé até a do Marquês de Fontes em
1718. O filho do primeiro marquês foi o grande chefe militar português durante
a Guerra de Sucessão Espanhola (1701-1714), que chegou a conquistar Salamanca e
Madrid em 1706, mas perdeu a decisiva Batalha de Almansa o ano seguinte. Aquando
da transferência da corte portuguesa para o Brasil em 1808, o jovem 7.º Marquês
das Minas, já doente, foi nomeado governador do reino (isto é, membro da junta
governativa na ausência de D. João VI) a 20 de Setembro desse ano. Apesar do
seu estado enfermo, logo teve desavenças com o general inglês Beresford sobre a
melhor política a realizar, levando-o a queixar-se para a corte no Rio de
Janeiro, e finalmente a pedir a sua demissão, que foi admitida a 23 de Maio de
1810. Gravemente doente, faleceu a 28 de Dezembro o último varão descendente do
2.º Marquês das Minas.
Titulares
D.
Francisco de Sousa (1610-1674), 1.º Marquês das Minas e 3.º Conde do Prado.
D.
António Luís de Sousa (1644-1721), 2.º Marquês das Minas e 4.º Conde do Prado.
D.
Francisco de Sousa, 5.º Conde do Prado; filho do anterior. Não deixou
descendência.
D.
João de Sousa (1666-1722), 3.º Marquês das Minas e 6.º Conde do Prado; filho do
anterior marquês.
D.
António Caetano Luís de Sousa (1690-1757), 4.º Marquês das Minas e 7.º Conde do
Prado.
D.
João de Sousa (1713-1745), filho do anterior. Casou em 1739 com uma filha do
4.º Conde de Sarzedas, e segunda vez em 1744 com uma filha do 4.º Marquês de
Alegrete. Não ostentou quaisquer títulos.
D.
Maria Francisca de Sousa (1745-1787), 5.ª Marquesa das Minas e 8.ª Condessa do
Prado; filha póstuma do anterior. Casou em 1760 com D. Lourenço de Lancastre e
Noronha, neto do 4.º Conde dos Arcos e 8.º Conde do Prado e 5.º Marquês das
Minas por casamento.
D.
Francisco Benedito de Sousa Lencastre e Noronha (1780-1796), 6.º Marquês das
Minas e 9.º Conde do Prado.
D.
João Francisco de Sousa Lencastre (1782-1810), 7.º Marquês das Minas e 10.º
Conde do Prado, e Governador do Reino 1808-1810; irmão do anterior.
D.
Joana Bernarda de Sousa Lencastre e Noronha (1827), 11.ª condessa do Prado;
irmã do anterior.
Com
a morte da última marquesa em Março de 1827, extinguiu-se toda a legítima
descendência do famoso 2.º Marquês das Minas, como acima ficou dito.
1515
- 1516 - Lopo Barriga
Lopo
Barriga (Sertã, c. 1458 - d. 22 de Julho de 1527 a. 3 de Janeiro de 1534) foi
um cavaleiro português do século XVI, que se notabilizou pelas suas proezas em
Marrocos. Filho entre outros de Pedro Álvares Barriga, Cavaleiro do reinado de
D. Afonso V de Portugal, e de sua mulher Constança de Brito. Sucedeu na Casa
paterna e foi Cavaleiro e Comendador da Ordem de Cristo. Casou primeira vez com
[...] Coelho, da qual teve dois filhos e uma filha: Pedro Barriga (c. 1481 - ?)
que, a 25 de Agosto de 1526, houve mandado do Conde Prior Mordomo-Mor, para
pagar a Pedro Barriga, Escudeiro da Casa Real, a sua moradia do tempo que
esteve na Corte e não lhe foi apontado, a 18 de Julho de 1527, houve Alvará de
D. João III de Portugal para se levar em conta a Diogo Nunes, Almoxarife da
Ilha de São Miguel, 8 arrobas de azeite, 5 vacas e outras coisas mais que
entregou a Pedro Barriga, Feitor da Armada, que foi às ilhas por ordem de
Garcia de Sá, Capitão da mesma, e foi, ainda, Guarda-Mor de Lisboa, solteiro e
sem geração. João Fernandes Barriga (c. 1482 - ?), que deve ser o João Barriga,
criado de Martim Vaz Mascarenhas, Fidalgo da Casa Real e Comendador de
Aljustrel, que, a 9 de Março de 1513, foi nomeado Escrivão da Vedoria das éguas
de Évora, casado com Beatriz Barbosa, da qual teve uma filha, Francisca
Barbosa, nascida cerca de 1502, casada com Henrique de Caldas de Sousa, filho
de Diogo de Caldas de Sousa e de sua mulher Isabel Rodrigues Ferreira, com
geração. Joana Coelho, falecida solteira e sem geração. A 18 de Agosto de 1508,
houve Alvará para se pagar a Lopo Barriga 5.000 reais de mercê. Serviu em
África no tempo de D. Manuel I de Portugal. O monarca deu-lhe em 1510 umas
casas em Safim. Quando Nuno Fernandes de Ataíde foi nomeado Capitão e
Governador de Safim em 1510, ao aceitar o cargo, nomeou Lopo Barriga seu Adail,
ou seja, Comandante das Tropas da Praça, com o qual partilhou as inúmeras
aventuras que viveu. Ele e o célebre Adail Lopo Barriga eram o terror dos
Mouros. Ficaram célebres as suas numerosíssimas "entradas". Em 1513, tomou a Praça de Amazor com um
punhado de homens. Em seguida, apoderou-se, com igual valor, da Fortaleza de
Agabala, sendo o primeiro a galgar-lhe os muros. Foi, porém, infeliz no ataque
ao Castelo de Alguel. Avançava com um pequeno troço de Cavaleiros, quando se
preparava para o tomar, quando um numeroso Esquadrão de Mouros os cercou e o
aprisionou com os seus homens. Lopo Barriga, porém, para fugir, matou o Mouro
que o segurava, tomou depois a sua lança, montou a cavalo e conseguiu escapar e
pôr-se a salvo. A 7 de Abril de 1515, sendo Adail de Safim e Cavaleiro da sua
Casa, pelos seus serviços nas partes de África, foi nobilitado (tirado do conto
plebeu) pelo mesmo D. Manuel I, o qual concedeu-lhe Brasão de Armas e o fez
Fidalgo de Cota de Armas Novas, que parece ter usado com um acrescentamento, pelos
estremados serviços que prestou nas terras de além. As Armas concedidas a Lopo
Barriga, conforme lhe atribuem alguns Heraldistas, são: em campo de vermelho,
com um castelo de prata, aberto e iluminado com as portas e frestas de negro,
assente sobre pena talhada num rochedo de sua cor, cercado ou cerceado de água,
em ponta, e na torre do meio uma bandeira de prata, carregada da Cruz da Ordem
de Cristo, hasteada de ouro e movente da fresta; timbre: o castelo do escudo. Entre
1515 e 1516 foi 5.º Capitão de Azamor. Dão-lhe, também, por mulher D. Joana de
Eça, nascida cerca de 1490, filha sacrílega de D. Cristóvão de Eça, Clérigo,
nascido cerca de 1454, filho de D. Garcia de Eça e de sua primeira mulher Joana
Soares de Albergaria, com a qual se casou segunda vez quando chegou de novo ao
Reino, cerca de 1515, e da qual teve três filhas: Beatriz de Eça, que faleceu solteira
e sem geração. Francisca de Vilhena, que faleceu solteira e sem geração. Beatriz
de Vilhena, que faleceu solteira e sem geração. Mais tarde, porém, voltou a ser
aprisionado, e levaram-no para o cativeiro. A sua fama de guerreiro intrépido e
feroz consolidou-se depois de ter caído em poder dos Mouros e de, mesmo algemado,
matar um deles. Conta-se que vinham Mouros de longe para o verem, que um lhe
agarrou na barba, e que Lopo Barriga, apesar de algemado, alcançou um pau e o
prostrou sem vida. Lopo Barriga torna-se famoso pelos feitos heróicos que lhe
são atribuídos, fama que aumentaria ainda mais após ser feito prisioneiro. "O adail de Safim tinha tal fama de
bravura que havia mouros que faziam viagens de propósito para o ver enquanto
este esteve cativo, e quando se lançava alguma maldição a alguém sublinhava-se
com a frase «lançadas de Lopo Barriga te trespassem»!". Finalmente, D.
João III de Portugal providencia o seu resgate. A 5 de Maio de 1526 houve Carta
do Rei D. João III para o Almoxarife de Safim dar 1.400 onças de prata para o
resgate de Lopo Barriga. A 22 de Julho de 1527 houve conhecimento de Abrão
Bezemedo, em que recebeu do Feitor de Safim João Peres 1.400 onças de prata
para o resgate de Lopo Barriga. Veio, então, para Portugal. Foi Alcaide e
Provedor dos Defuntos de Baçaim em Lisboa.
A
3 de Janeiro de 1534 se fez o seu Inventário em Safim, promovido por sua
terceira mulher Catarina Álvares, da qual deixou geração que seguiu o apelido.
1516
- Nuno Gato
30
de dezembro de 1517 - 1521 - D. Álvaro de Noronha (1ª vez)
1521
- 1523 - Gonçalo Mendes Sacoto
Gonçalo
Mendes Sacoto ou Gonçalo Mendes Caçoto foi militar e poeta, viveu na corte
durante os reinados de D. João II e D. Manuel I. Destacou-se depois em várias
batalhas no Norte de África, vindo a ocupar os cargos de alcaide-mor de Safim,
adail-mor de Portugal, capitão de Azamor, e capitão de Tânger.
Capitão
de Azamor
(1521-1523)
Em
1522 Gonçalo era capitão de Azamor. Francisco de Andrade, na sua Crónica do rei
D. João III, diz que "Gonçalo Mendes
Caçoto sendo avisado que Alemimero mouro principal da enxouvia, e tão poderoso
nella que de sua casa tinha mil de cavallo, e ajuntava cinco mil cada vez que
queria", tinha partido ajuntar-se com o rei de Fez, para algum
intento, "determinou de ir dar nelle
antes que concruisse o concerto, (...) para o que hum sabado primeyro dia de
Novembro (1 de novembro de 1522) sahio da cidade com duzentos de cavallo, em
que entravão vinte, que lhe mandara António Leite capitão de Mazagão (Marrocos)
com seu cunhado António das Neves, e cem besteyros, e espingardeiros, e o mouro
Acoo com cincoenta de cavallo, e mil de pé todos de pazes, e muytos camellos
carregados de mantimentos, e ha terça-feira seguinte foy amanhecer com toda
essa gente duas legoas para cá de Çalé, donde foy correr aos mouros em tempo
que o Alemimero não estava aly, por ser ido a falar cos embaixadores del Rey de
Fez, porem estavão muytos dos Xeques da sua companhia, nos quais inda que achou
boa resistencia, não bastou para depois de huma bem travada peleja deixarem de
ser todos mortos, e cativas suas molheres, e filhos: os principais destes
Xeques, e que o erão de toda a enxouvia, se chamavão locef ben Mafamede,
Barahoo, Aly ben Narbian, locef ben Buciba el-Gueila, Mafamede ben Abuu, Azuz
ben Mafamede ben Maleque, Hamede ben Maleque Barahoo, e da outra gente que
morreo se não foube o número: foy aquy tambêm cativa a molher do Alemimero mãe
dos seus filhos, que erão dous, e ficarão ambos feridos, e as molheres e filhos
delles tambêm forão cativas, com passante de outras seiscentas pessoas, e
deixarão de ser muytas mais, porque se acolherão a huma ribeyra fragosa, que
estaua daly muyto perto. A presa deste dia foy de muyta sustancia, porque os
camellos sómente forão estimados em dous mil, e as cabeças do gado miudo em
vinte mil afora hum muyto fermoso despojo de capelhares, marlotas, camisas de
zarza gitania, muytas estribeiras ricas, cabeçadas de prata, e grande cantidade
d'alcatifas, e de trigo, e cevada, que o capitão fez carregar pondo a bandeyra
no meyo da algella, com que se deteve mais de coatro oras em recolher o campo
(...). Quando o capitão partio da cidade tomou o caminho do sertão (...), e ha
coarta feira feguinte (5 de novembro de 1522) encontrou huma coadrilha de almogáveres
de pé, que erão de Çalé, e deixavão salteado na barra d'Azamor hum barco de
Castella em que matarão nove homens, e levavão três cativos: os nossos em os
vendo arremeterão logo a elles, (...) e matarão os nossos sete e cativarão
cinco, a que o capitão, por serem grandes almocadens, e terem feito muyto mal
por aquella terra, mandou tambêm dar a morte inda que era contra as leis da boa
guerra, por lho assy pidirem todos os que hiao com elle, (...) para se verem
livres dos males que delles recebiao. Ao outro dia passando por Anafé fe
apartou com alguns de cavallo e foy dar vista ha cidade, e dentro nella achou
onze mouros de que tomou os sete, e os coatro se esconderao de maneyra, que os
não pode achar. Com toda esta presa caminharão os nossos cinco dias até se
recolherem em Azamor, sem em todo elle tempo acharem quem lhe defendesse o
caminho, nem verem mais gente de guerra que o mesmo Alemimero que com os doze
de cavallo acudio ao rebate, e esteve ha fala com a nossa gente. E neste feito,
que foy assaz bem pelejado, não ouve da nossa parte mais dano, que dous
cavallos, que os mouros matarão, e coatro homens feridos, que em pouco tempo
forao sãos."
Capitão
de Tânger
(1535-1536)
Diz
D. Fernando de Menezes, na sua História de Tânger: "Com a ordem del Rei; D. Álvaro de Abranches deixou o governo a
Gonçalo Mendes Sacoto, adail mor do Reino, em 26 de Setembro de 1533. Aquella
mesma noite, estando para sahir Dom Álvaro, houve um rebate, por os mouros
terem subido o muro, servindo-se de uma escadeira colocada junto à porta da
Traíção. Acudiu muita gente, em particular D. Jorge de Abranches, filho de Dom
Álvaro, que, atacando os mouros, que erão só dois, resultou com uma lançada, e
Domingues Gonçalves com duas punhaladas. Os mouros, levando um negro, voltaram
para baixo, sem mais dano que deixar a escada. Em 11 de Outubro do ano
seguinte, Gonçalo Mendes, ajuntou-se com D. João Coutinho, que aínda governava
Arzila, em Portalfreije, que fica a igual distancia de uma e outra cidade, (…) também
em 13 de outubro de 1535, sabe-se que veio D. João Coutinho a Tânger, onde
ficou também o dia seguinte, voltando para Arzila ao anoitecer. Do tempo que
governou Gonçalo Mendes Sacoto, não encontramos outros feitos de referir.
Conserva-se seu nome num bosque de corcho, que chamam de sacoto, e fica entre a
Serra de Benamagras e o rio de Porto-Largo. Não seria isto sem causa; antes nos
parece devia haver para elle algum assinalado motivo, que, com outros muitos,
ficou igualmente esquecido. Sucedeu-lhe D. Duarte de Meneses, que o 4 de
Outubro de 1536 tomou possessão do governo". Gonçalo casou com Joana
de Sousa, filha de Jorge de Sousa, comendador de Melres e teve uma filha,
Catarina Sacoto.
1523
- 1524 - D. Álvaro de Noronha (2ª vez)
Junho
de 1525 - 1529 - Jorge Viegas
D. Álvaro de Abranches (c. 1480 - 3 de julho de 1563). Foi poeta, um militar, navegador, e poeta português. Era do conselho de D. Manuel I de Portugal e seu mestre-sala, comendador da Ordem de Cristo e de Santiago de Beja, capitão de Tanger e de Azamor, e faz parte do Cancioneiro Geral. Filho de João de Abranches que por sua vez era neto do D. Álvaro Vaz de Almada (Conde de Abranches). "Durante o tempo do seu serviço na corte compôs várias poesias transcritas no Cancioneiro Geral". Com o seu casamento em princípios de 1513 com D. Joana de Melo, (chamada também D. Joana Pereira, ou da Cunha), recebeu o ofício de mestre de sala de D. Manuel, sucedendo assim a seu sogro, Jorge de Melo, ''o bochechas'' que o renunciou para ele. Com este ofício "serviu D. Manuel até quási ao fim do seu reinado, pois só em 1521 lhe comprou o ofício por setecentos mil reais para o dar a Henrique de Melo". Quando houve o cerco de Arzila em Outubro de 1508 muitos fidalgos foram defender essa cidade. Foi também D. Álvaro, que ainda era muito novo, como se pode vêr na seguinte passagem dos Annais de Arzila de Bernardo Rodrigues: Dom Francisco de Portugal que também estava là, querendo fazer uma surtida e "tomar umas casas, que estávão em Benagorfate (...), e vendo Dom Alvaro d'Abranches (...), todos a pé, dise contra Dom francisco: Senhor nehum dos que aqui estão é mais mancebo, nem mais rijo que eu, nem ha de alcançar o mouro se fujir diante de mim, e, polo contrairo, não se ha de salvar milhor, polo que peço a vosa mercê licença pera ir com Pero de Meneses (pero de Meneses, era mourisco que ia à frente). Dom francisco lh'o agradeceu e lh'a deu." A surtida não se passando bem, tendo-se apoderado de alguns mouros, mas outros os seguiram: Afonso da Silva, escudeiro do pai de Dom francisco, "foi pasado de uma lança de arremeso (...) não lhe valendo couraças, nem as laminas d'aço de que erão fortificadas, que a mortal lança não lançase o ferro da outra parte. Fazendo Dom francisco alguma detença, em tanto que a alma saia do trabalhado corpo, foi Dom francisco atordoado de uma grande pedrada que, dando-lhe no capacete, lh'o levou da cabeça, e caindo-lhe aos pés lhe pisou os dedos, de maneira que não se podia afirmar no pé; e arrimado a Dom Alvaro d'Abranches, que mais mancebo e rijo que todos era, e deixando o corpo de Afonso da Silva despojado somente de capacete e adarga" recolheu-se. Aí perdeu "quatro ou cinco homens, sem causa, entrando dous fidalgos que polo acompanhar e servir, fórão com ele". Este feito, o mesmo D. Alvaro contou a Bernardo Rodrigues: "Tudo isto que tenho contado desta entrada, (...) posto que de alguma cousa e parte eu era lembrado, me contou Dom Alvaro d'Abranches, estas oitavas do Salvador do mundo de mil e quinhentos sesenta anos (...). O qual Dom alvaro achei com tanto acordo e lembrança, nomeando o caminho e lugares e portos que pasárão, que eu por aquela terra andei trinta anos e ha dez que dela me lançárão, não sou tão acordado como o ele é, avendo passado cincoenta e um anos que de lá veio."
Capitão
de Tânger
"Depois passou a África como
capitão de Tânger no impedimento de D. Duarte de Meneses" Os anais de Arzila contam a anedota seguinte: Depois
do assassinato de um homem e outras brigas, em Arzila, por homens que depois
passaram a Tânger, "onde ouvérão
outro desmancho, (...) o de Tanjere foi aver brigas com Dom Vasco Coutinho,
parente do conde de Redondo, D. João Coutinho, dos quais Dom Vasco se não
queixava tanto como de Dom Álvaro de Abranches, capitão de Tanjere, e, porque
Dom Álvaro se quis desculpar ao conde, se virão, o qual com estas palavras
respondeo a Dom Álvaro, dizendo mal dos homens: «Senhor Dom Álvaro, a culpa
está às vezes mais nos capitães que em quem os serve. Meu pai, o conde [de
Borba], foi capitão de Arzila trinta anos e deu muitos mouros, jinetes,
capuzes, capelares; tão bem teve valia com os reis, que por ele deitarão
hábitos e fizérão mercês a muitos homens, e, contudo, não avia quem dele disese
bem e lhe desejávão tirar a besta. Eu tenho tudo ao contrario, que não valho,
nem poso dar uma capa velha, nem el-rei por mim fez mercê a nenhuma pesoa,
ainda que lh'o bem mereço, e não há homem em Arzila, nem em Tanjere, que não
venda e ponha seus filhos por mim em cativeiro, e isto bem, que já que lhe não
poso dar o que merecem, dou-lhe palavras, que são dizer bem deles, e do que o
faço uma vez sempre mais o faço e não digo mal. Esta obrigação tendes vós e esa
deveis ao de quem dizeis uma vez bem'». Diz D. Fernando de Menezes, na sua
História de Tânger: "Com a ordem del
Rei; D. Álvaro de Abranches deixou o governo a Gonçalo Mendes Sacoto, adail mor
do Reino, em 26 de Setembro de 1533. Aquella mesma noite, estando para sahir
Dom Álvaro, houve um rebate, por os mouros terem subido o muro, servindo-se de
uma escadeira colocada junto à porta da Traíção. Acudiu muita gente, em
particular D. Jorge de Abranches, filho de Dom Álvaro, que, atacando os mouros,
que erão só dois, resultou com uma lançada, e Domingues Gonçalves com duas
punhaladas. Os mouros, levando um negro, voltaram para baixo, sem mais dano que
deixar a escada."
Capitão
de Azamor
"Finalmente foi nomeado, por alvará
de 24 de Abril de 1534, capitão de Azamor d'onde regressou em fins de 1537,
acusado de tam graves delitos que por eles recolheu preso ao castelo de Lisboa,
d'onde só saiu perdoado em 1546, vindo a falecer a 3 de Julho de 1563,
sobrevivendo-lhe sua mulher ainda alguns anos."
Filho
de: D. João de Abranches que por sua vez era filho do D. Álvaro Vaz de Almada
(conde de Abranches). D. Mécia da Cunha, filha de D. Vasco da Cunha e de sua
mulher D. Maria Rodrigues de Azevedo, Dama da Rainha D. Leonor.
Casou
com: D. Joana da Cunha, filha de Jorge de Melo, o Bochechas, mestre-sala de D.
Manuel I e de sua mulher D. Isabel Pereira.
Teve:
D. João de Abranches, 6.º senhor do Morgado dos Almada, comendador de Bobadela,
de Gondar de Vila de Rei e de Beja, Capitão de Diu, morreu na Batalha de
Alcácer Quibir. Casado 1.º com D. Isabel de Lima, sem geração; casado 2.º vez
com D. Antónia da Silva, filha de Lopo de Sousa Ribeiro, comendador de Pombal e
de sua mulher D. Joana Couceiro de Alvim. Com geração. D. Pedro de Abranches,
mestre-sala de D. João III, embaixador a Carlos V, comendador de Ansiães,
casado com D. Brites de Noronha, filha herdeira de Pedro Pantoja, comendador de
Santiago do Cacém, alcaide-mor e comendador de Tavira, chefe dos Pantoja, e de
sua mulher D. Margarida de Mendonça. Com geração.
1537
- 1541 - António Leite (2ª vez)
1541
- 30 de outubro de 1541 - D. Fernando de Noronha.
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