Mazagão foi, entre
o início do século XVI e meados do século XVIII, uma possessão portuguesa em
Marrocos, no norte da África, tendo dado origem à atual cidade de El Jadida. Os
monumentos portugueses que chegaram até aos nossos dias são a cisterna, a
antiga fortificação com suas muralhas e baluartes (exemplo precoce da
arquitetura militar portuguesa do Renascimento), e a Igreja de Nossa Senhora
da Assunção, em estilo manuelino.
Esse conjunto oferece um exemplo excepcional
das influências recíprocas entre a cultura europeia e a marroquina. No início
do século XVI, os portugueses ali encontraram os restos de uma pequena torre
abandonada, primitivamente utilizada como posto de vigia, denominado "El
Brija" diminutivo de "Borj". Durante a construção da primeira
cidadela, os portugueses aproveitaram-na, denominando a nova estrutura de
"Castelo Real". A cidadela ao seu abrigo foi colocada primitivamente
sob a invocação de São Jorge. A origem da toponímia "Mazagão" é controversa.
João de Sousa afirma que o nome provem da expressão em língua árabe "El ma
Skhoun", com o sentido de "água quente", enquanto, que André
Privé supõe que a palavra é de origem portuguesa.
A versão mais plausível é que
o nome seja de origem berbere uma vez que se encontra registado pelo geógrafo
Muhammad Al-Idrisi, no século XI, o nome original pronunciado como
"Mazergan" com o significado de "amolar". Após a sua
destruição, em meados do século XVIII foi denominada de "Al
Mahdouma", ou seja "a demolida", e mais tarde reconstruída vindo
a ser denominada de "el Jadida" ("a nova"). O sítio de
"Mazagan" ou "Mazagão", considerada uma vila portuguesa em
terras marroquinas, encontra-se sob o domínio da Coroa portuguesa desde 1486,
embora os portugueses apenas nela se tenham instalado a partir de 1502 quando
ergueram uma torre e algumas instalações de campanha. Foi apenas em 1514 que a
Coroa portuguesa decidiu a fortificação permanente do local, tendo os irmãos
Diogo e Francisco de Arruda projetado e iniciado a construção de uma cidadela
de planta quadrada com torres nos vértices. Uma das torres erguia-se na localização
de al-Buraidja.
Em 1541, na sequência da queda da Fortaleza de Santa Cruz do
Cabo de Gué (atual Agadir), João III de Portugal determinou a evacuação da
Praça-forte de Safim e da Fortaleza de Azamor (1542), concentrando as forças
portuguesas em Mazagão, considerada como melhor protegida. Ali deu início a uma
extensa remodelação das suas defesas, com projeto a cargo de um grupo de
engenheiros e arquitetos em que se destacavam o português João Ribeiro, o
espanhol Juan Castillo e o italiano Benedetto da Ravenna (c. 1485-1556), engenheiro
de Carlos I de Espanha. Outros autores atribuem-lhe a traça a Diogo de
Torralva. Data deste período a configuração das muralhas que chegou até aos
nossos dias. O seu corpo principal foi erguido no espaço de um ano (1541-1542)
pelo engenheiro João de Castilho, sendo a primeira obra de fortificação
portuguesa integralmente abaluartada. À época da evacuação da Praça-forte de
Alcácer-Ceguer (1549) e da Praça-forte de Arzila (1550), as suas defesas
complementares ainda não haviam sido concluídas. Esta praça-forte foi o palco
do último grande feito de armas portuguesas no Marrocos, quando resistiu
vitoriosa e sem o auxílio do reino, ao cerco muçulmano de 1562. Na guarnição de
2.600 homens, sob o comando de Álvaro de Carvalho, destacou-se Rodrigo de
Souza, o "herói de Mazagão". Em 1561 Álvaro de Carvalho, na altura
capitão de Mazagão, volta a Portugal possivelmente para tratar de alguns
assuntos, e deixa na praça como capitão interino seu irmão Rui de Sousa de
Carvalho. Pouco mais tarde o Xarife Abdallah el-Ghalib, decide apoderar-se de
Mazagão, e aí envia seu filho Mulei Mohammed com uma armada de cerca de cento e
cinquenta mil homens, que põem o cerco a vila a partir de Fevereiro de 1562. Rui
de Sousa vendo a multidão, recusa a proposta do Xarife de abandonar a praça e
pede socorro à metrópole.
O cerco começa, as diferentes batalhas fazem muitos
mortos e feridos e a 24 de Março chega Álvaro à praça com uma armada. Em 24 de
Abril Rui de Sousa é gravemente ferido e queimado, mas continua a luta. Em 7 de
Maio os mouros levantam o cerco, onde morreram mais de vinte e cinco mil mouros
e cento e dezassete portugueses. Os sobreviventes portugueses terão sido à
volta de duzentos e sessenta. De Álvaro a Pedatura Lusitana diz o seguinte: «assistiu no grande cerco que lhe pós o
Xarife (...) no qual cerco mostrou muito valor e prudencia». Parece que
depois do cerco, nesse mesmo ano de 1562, Álvaro voltou para Portugal, deixando
seu irmão Rui de Sousa, governar, sendo este substituído pouco depois. Nesse
cerco esteve também presente Bernardim Ribeiro, "Fidalgo de valor que tinha servido valorosamente em todas as
ocasiões que houve em seu tempo, e como no cerco de Mazagão o queimassem os
Mouros ficou algum tanto disforme do rosto", e entrando com o jovem
rei D. Sebastião jovens fidalgos que o gozaram, continua dizendo D. Fernando
Alvares "que quando aquele fidalgo
era da idade dos que zombavam dele, era mais gentil-homem que cada um deles, e
que pois por serviço de Deus e de Sua Alteza, e defensão da fé chegara àquele
estado; não devia Sua Alteza consentir que em sua presença o afrontassem, quem
por ventura não se aventuraria a perder outro tanto.". Em 1769 a
ocupação de Mazagão, então a última das fortificações portuguesas em Marrocos,
chegou ao fim, após a assinatura de um Tratado de Paz com o sultão Mohammed III
de Marrocos (1757- 1790).
As forças portuguesas abandonaram a cidade pela Porta
do Mar no dia 10 de março, deixando minada a entrada principal, que explodiu
quando as forças marroquinas forçaram a entrada, o que provocou a destruição do
chamado "Baluarte do Governador" e de grande parte do terrapleno. O
abandono de Mazagão marcou o fim da presença portuguesa no Norte d'África. A
povoação permaneceu desabitada por quase meio século, vindo a ser denominada de
"al-Mahdouma" ("as ruínas"). O marquês de Pombal, ministro
de José I de Portugal, decidiu que a população de Mazagão seria transferida
para a Amazônia, no Brasil, outra região sob controlo português que necessitava
de garantia de soberania. Desse modo, foi fundada a vila de Nova Mazagão
(atualmente apenas Mazagão, no atual estado brasileiro do Amapá). A concepção
da fortificação de Mazagão pertence ao período do desenvolvimento da artilharia
moderna, à época do Renascimento. Apresenta planta no formato de estrela, com
muralhas na cota de 250 a 300 metros de altura. Ligeiramente inclinadas,
apresentam altura média de 8 metros, maciças, com uma espessura de 10 metros,
encimadas por um caminho de ronda de 2 metros de largura. Estas muralhas são
amparadas por quatro baluartes: o baluarte do Anjo, a este, o de São Sebastião,
a norte, o de Santo António, a oeste, e o do Espírito Santo, a sul.
Um quinto
baluarte, o do Governador, defendia o Portão de Armas, atualmente em ruínas
após ter sido explodido pelas forças portuguesas no momento da evacuação da
praça em 1769. Esta rasgava-se em arco duplo ao centro da muralha sul, separada
de terra por um fosso inundado, com 20 metros de largura e 3 de profundidade,
ultrapassado por uma ponte levadiça. A fortificação possuía outras duas
entradas: a chamada "Porta do Mar", que defendia um pequeno
ancoradouro protegido pela muralha Nordeste, e a porta do Touro. Constitui-se
em uma vasta sala subterrânea e abobadada integrante da fortificação erguida em
1514. Serviu possivelmente como salão de armas, antes de ser requalificada como
reservatório de água. Apresenta planta quadrada com de 34 metros de lado, constituindo
seis naves cujas abóbadas de nervuras repousam sobre 25 colunas e pilares. O
tramo central é rasgado por um amplo óculo por onde penetra a luz do dia, o que
produz, por reflexão sobre o espelho d'água da cisterna, um efeito magnífico.
Governadores de
Mazagão
(Com o título de
Capitão-mor)
1514 - 1517 -
Martim Afonso de Melo Coutinho
Martim Afonso de
Melo Coutinho, ou apenas Martim Afonso de Melo (c. 1480 - antes de 1523),
fidalgo da Casa Real, membro do Conselho Régio, Capitão de Mazagão, capitão de uma
armada à China. Martim Afonso de Melo Coutinho era filho de Jorge de Melo, ‘o
Lágeo’, alcaide-mor de Redondo e Pavia, e de sua mulher D. Branca Coutinho. Era
irmão de Vasco Fernandes Coutinho, Manuel de Melo, comendador de Ferrados,
Diogo de Melo (que morreu nos mares da China em 1522), Maria de Melo, Antónia
de Vilhena, e Guiomar Coutinha, que casou com Rui Dias de Sousa, o Cid. Foi
camareiro-mor e guarda-mor do infante D. Duarte, e a partir de 1506 capitão e
anadel-mor dos besteiros a cavalo. Em 1514, tomou o hábito de Cristo. Esse
mesmo ano é nomeado primeiro capitão de Mazagão, que governa até 1517. Em 1514,
os reis de Fez, e Mequinez tencionavam tomar Azamor, aparelhando-se «pera virem com todo seu poder (...) e para
começar a guerra, & cerco, mandavão diante dous seus Alcaides famosos, com
muitos, & bons cavalleiros, & gente de guerra, que por todos erão
quatro mil de cavallo, & grande numero de pé». Sabendo disso João de
Meneses, capitão de Azamor, Martim Afonso de Melo Coutinho, e Nuno Fernandes de
Ataíde, capitão de Safim, depois de se terem concertado decidiram atacar
rapidamente os alcaides. D. João dispunha de 800 homens de cavalo e 1000 de pé,
Nuno Fernandes de Ataíde, 400 lanças, e Martim Afonso de Melo, de 50 cavalos.
Pediram também ajuda ao "mouro amigo" Iheabenafut com 1.500 lanças,
ao adail Fernão Caldeira, de Arzila, e a alguns outros. «Derão todos sobre os Alcaides, que confiados em sua multidão, &
fama, os receberão com muito ânimo,& com o mesmo se começarão a defender
como cavalleiros: mas os nossos com tanto impeto, & fervor entrárão, &
continuarão a batalha, que forão os Alcaides desbaratados, ficando hum delles
morto no campo, com mais de dous mil, & seiscentos de cavallo: & o
outro se salvou deixando a lança, adarga, & cavallo, pera com mais
dissimulação, & ligeireza o poder fazer. Morrerão mais sete Xeques, pessoas
entre elles de grande authoridade; & da gente de pé hum grandíssimo número.»
Em 1521 capitaneou uma nau da armada da Índia, cujo capitão-mor era seu
primo D. Duarte de Meneses, nomeado governador da Índia. Partiram de Lisboa em
5 de Abril. Uma vez chegado à Índia devia partir para a China numa armada em
que iam também seus irmãos Vasco Fernandes Coutinho, e Diogo de Melo, com Pedro
Homem, capitães de cada uma nau. Aí haveria de erguer uma fortaleza no Celeste
Império e estabelecer uma rota comercial entre Samatra e a China. Segunda
batalha de Tamão. Partindo de Malaca em 10 de Julho de 1522, Martim Afonso, vem
acostar em Agosto em Tamão (Tuen Mun), na costa chinesa, vila que tinha sido
ocupada pelos portugueses desde 1514, onde um ano antes Simão de Andrade tinha
sido derrotado pelos chineses, na sequência da embaixada falhada de Tomé Pires
ao emperador. Aí Martim Afonso quer construir uma fortaleza, mas as tropas
chinesas atacam-no, queimam uma nau e capturam outra. O irmão do Capitão-mor,
Diogo de Melo morre durante a batalha, a sua nau tendo sido destruída pala
artilharia chinesa. Martim Afonso nesta situação consegue voltar para Malaca
com o resto da Armada, tês naus, onde chega em Outubro. Dos portugueses foram
capturados 42 homens que serão mais tarde executados. Os canhões utilizados
pelos chineses nessa batalha eram cópias de canhões portugueses que tinham sido
levados à corte. Por isso os canhões chineses eram chamados "Feringis",
que é o nome que se dava em oriente aos europeus, e particularmente nesse
período de expansão, aos portugueses. Não é certo que Martim Afonso tenha
regressado a Portugal, porém a 21 de Abril de 1526 já se encontrava falecido. Martim
Afonso casou com Maria Henriques (filha de Francisco de Miranda Henriques,
Comendador de Elvas [4] ), com quem têve Jorge de Melo Coutinho, que foi
camareiro-mor, e Senhor da casa do seu pai, e D. Filipa de melo, mulher de
Jorge de Barros, feitor em Flandres.
1517 - 1520 -
Álvaro de Noronha
1520 - 1529 -
António Leite (1ª vez)
1529 - 1536 (?)
1536 (?) - 1537 (?)
Manuel de Sande
1537 (?) - António
Leite (2ª vez)
1537 - 1541/42 -
João Gomes
1541/42 - 1548 -
Luís de Loureiro
Luís de Loureiro,
por vezes Luís do Loureiro (Viseu?, Silgueiros?, c. 1490 - Tânger, 13 de Março
de 1553), ao qual vulgarmente se chama o Grande Luís de Loureiro foi um nobre
português. Exerceu os cargos de Adail-Mor do Reino de Portugal, Capitão de
Safim, de Santa Cruz do Cabo de Gué, novamente de Safim para a sua evacuação,
de Mazagão, de Arzila para a sua evacuação, e de Tânger, e foi um dos heróis
mais esclarecidos na Nação. Nascido no reinado de D. João II de Portugal, era
filho de Henrique de Loureiro, por vezes Henrique do Loureiro, o qual consta
duma Decisão de Phebo ser filho natural legitimado, que foi Senhor da Casa de
seu Pai e grande Cavaleiro em África, onde assistiu muito tempo e onde serviu
com valor, e foi Fidalgo da Casa Real de El-Rei D. Manuel I de Portugal, como consta
do Livro dos Registos da Câmara de Viseu, e de sua mulher Brites ou Catarina
Rodrigues Cardoso ou Cardosa, filha de Diogo Rodrigues Cardoso e irmã de Pedro
Rodrigues Cardoso, chamado o Surdo. O seu pai teve uma filha bastarda, ... de
Loureiro, mulher de Diogo Lopes, sem geração. Tendo o Capitão da praça-forte de
Safim, D. João de Faro, sido morto pelos Mouros, foi substituído por Rui Freire
que, entretanto, era muito jovem. Por essa razão, o Rei D. João III de Portugal
enviou para governar Safim como seu 11.º Capitão Luís de Loureiro, antes de
enviar outro Capitão, D. Garcia de Noronha. Luís de Loureiro apenas exerceu a
função por um mês, de Março a Maio ou de 28 de Maio, data em que chegou, até
Junho de 1534, defendendo-a do ataque dos Mouros. Nessa foi enviado para Santa
Cruz do Cabo de Gué, em substituição a D. Guterre de Monroy que o rei chamava
para Portugal. Começou a exercer o governo da Fortaleza de Santa Cruz do Cabo
de Gué como seu 13.º e penúltimo Capitão entre Junho e 3 de Novembro de 1534.
Apesar de pazes "quasy feitas de Dom Goterres", teve que combater
várias vezes "e sempre sahya com o milhor d'elles". Então celebrou a
paz com o Xarife Mohammed ech-Cheikh por seis anos. Ao cabo de quase cinco
anos, em 1538, Dom Guterre voltou para governar Santa Cruz, e três anos mais
tarde Luís de Loureiro foi novamente nomeado Capitão de Safim. Entre 1541 e
1542 voltou a ser 15.º Capitão de Safim, de cuja capitania foi o último titular
antes da sua evacuação, após o que foi nomeado Capitão-Mor de Mazagão. Em 1541
ou 1542 foi nomeado 8.º Capitão-Mor de Mazagão. Marrocos, nesse período,
conhecia o poder cada vez mais forte dos "Xarifes" Ahmed al-Araj e,
sobretudo, Mohammed ech-Cheikh, marcado pela intenção de reunificar o país, e
que no ano anterior havia obtido uma expressiva vitória sobre os cristãos,
apoderando-se da Fortaleza do Cabo de Gué (12 de Março de 1541). Em paz com
Portugal, orei de Fez Ahmed el Outassi que, embora sultão legítimo do país,
apenas reinava efectivamente sobre Fez e os seus arredores, não opunha grande
resistência aos seus inimigos de Marraquexe e do Suz. Os portugueses
compreendem que, se derem a oportunidade duma unificação do país, não terão
meios para atender às necessidades de todas as vilas e fortalezas que controlam
na região. Por esse motivo, em 1547 Luís de Loureiro, propôs a João III de
Portugal que se atacasse o Xerife pelo Suz, enquanto o rei de Fez preparava uma
armada contra ele. Com essa armada Ahmed el Outassi partiu de Fez em 25 de
Janeiro de 1548, mas retornou sem ter executado nenhuma ação. No ano seguinte
Fez foi tomada pelo Xerife Mohammed ech-Cheikh (29 ou 31 de Janeiro de 1549). Nesse
contexto, D. João III mandou fortalecer as suas praças no Marrocos, erguer o
forte do Seinal e, para "guarnecer convenientemente todos estes lugares
mandou vir ao reino Luís de Loureiro (…) muito experiente nas cousas d'África,
e no fim de Fevereiro enviou-o a Andaluzia a recrutar a gente de guerra
necessária". Permaneceu no cargo até 1548, sendo nomeado 18.º Capitão de
Arzila em 1549 ou 1550. Nesse mesmo ano D. Francisco Coutinho que então era
Capitão de Arzila, informou "el-rei [D. João III] que se dizia que os
filhos do Xerife com muitos alcaides se preparavam para virem sôbre os lugares
de África, principalmente sobre Alcácer e Arzila". Assim, o Rei ordenou
buscar o resto do socorro ao Algarve e à Andaluzia, por Luís de Loureiro, que
estava em Alcácer Ceguer. Mas isso era apenas uma manobra de diversão, uma vez
que a evacuação de Arzila já estava decidida em Conselho, uma vez que esta
praça não tinha porto seguro, e que o Rei Carlos I de Espanha mostrou
indiferença ao pedido de ajuda formulado pelo Rei de Portugal. As reais ordens
de Luís de Loureiro, que tinha a missão declarada de socorrer os lugares de
África, devia ajuntar no porto de Arzila 60 navios "que se julgaram
bastantes para a embarcação de todos os moradores da vila". O motivo do
segredo era que os "mouros o não soubessem (…) para não estorvar o
despejo". Devia Luís de Loureiro recolher nos navios todos os moradores,
"a artilharia, as munições; que se derrubasse a igreja de S. Bartolomeu e
o mosteiro de S. Francisco, os clérigos e objectos sagrados dela fossem levados
para a Sé de Tânger, e os frades dêle para o mosteiro de Tânger, da mesma
ordem", que se metesse fogo à vila, mas antes que se avaliasse os bens dos
moradores para os indemnizar. O capitão devia também partir. Mas houve
contratempos, e o "Rei de Beles" (Abû Hassûn `Alî, tio do antigo Rei
de Fez Ahmed el Outassi), propôs ao Rei ficar com Arzila, para lutar contra o
Xerife. Por isso foi apenas em 17 de Agosto de 1549 que o soberano determinou a
Luís de Loureiro fazer a evacuação, mas ele devia ficar, com os soldados, até
outro recado que lhe daria "logo que viesse resposta de el-rei de Beles
sôbre os fundamentos do seu pedido". A operação de evacuação foi concluída
a 28 de Agosto, permanecendo os soldados de prontidão, com Luís de Loureiro
como capitão. As negociações com Abû Hassûn `Alî não produziram fruto e,
finalmente, Luís de Loureiro "acabou de despejar Arzila em 24 de Agôsto de
1550, isto é no mesmo dia e mês em que, em 1471, D. Afonso V entrara na
vila". Acrescentou-lhe D. João III suas Armas por Carta de 26 de Julho de
1551/2, em atenção aos muitos serviços que lhe prestou, tanto na Corte como
fora dela e em África, na guerra contra os Infiéis, e principalmente no ano de
1534, quando foi por Capitão à Cidade de Safim, assim como no tempo em que
esteve por Capitão da Vila de Mazagão e em muitas outras ocasiões, nas quais
deu sempre provas do seu grande valor. O acrescentamento de armas concedido foi
ordenado desta forma: esquartelado, o primeiro de vermelho, com uma cidade de
prata, aberta, iluminada e lavrada de negro, ladeada à esquerda de uma escada
de ouro, lançada contra as suas ameias, a segunda e o terceiro de vermelho, com
cinco folhas de figueira de verde, nervadas e perfiladas de ouro, com os pés do
mesmo, postas em sautor (de Figueiredo, armas que os de Loureiro usaram por não
terem armas próprias, cujo timbre é um braço vestido de azul, com um ramo de
figueira de ouro na mão, folhado de cinco peças de verde, ou dois braços de
leão de vermelho, passados em aspa, e cada um com uma folha de figueira de
verde nas garras), e o quarto de ouro, com uma bandeira de verde, hasteada de
vermelho com ferro de prata, partido de vermelho, com uma bandeira de prata,
hasteada de ouro, com ferro de sua cor; timbre: meio Mouro de sua cor, com as
mãos atadas de ouro (o Alcaide de Azamor), sustido por dois braços de leão de
vermelho, passados em aspa, tendo cada um na mão uma folha do escudo. Em 1552
Luís de Loureiro foi nomeado 19.º Capitão da praça-forte de Tânger. Aí chegou a
19 de Novembro do dito ano, e três dias mais tarde o seu predecessor João
Álvares de Azevedo entregou-lhe o governo da cidade. Mas, a 13 de Março de
1553, foi «desbaratado e morto pelos mouros, fora da cidade».: Tinha enviado «o
almocadém João de Meneses com trinta de cavalo para favorecer os atalhadores
que tinha mandado fora a descobrir e assegurar o campo. Encontraram alguns
mouros e acometendo-os mataram um dos mais importantes. Parecendo-lhes que não
eram mais empenharam-se em seguilos contra a ordem que levavam. Têve o General
aviso e mandou tirar oito peças de artilharia para que a gente se retirasse.
Vendo que não obedeciam, saíu fora para favorecer os seus que via em perigo.
Chegou até a atalaia alta, onde se deteve (...). Vindo a noite retiraram-se e
as atalaias recolheram-se, sem esperar que o fizesse o General, como eram
obrigadas. Com isto os mouros, que eram muitos, tiveram tempo de melhorar a sua
situação (...). Vendo o General que já se tinham recolhido os atalhadores e a
gente que tinha mandado em seu favor, como o Adail, atacou os mouros, que eram
mais de cem de cavalo, e dispersou-os e pôz em fuga com grande dano. Não
obstante, no mesmo ponto desceram ou baixaram duas bandeiras com grande número
de gente. Como vinham de refresco e encontraram os nossos cansados e divididos,
acometeram-nos por toda a parte. Voltaram também e ajuntaram-se a eles os que
fugiam, e apesar do capitão fazer o que devia, foi vencido e morto com a maior
parte dos que tinha consigo que antes quizeram perder a vida com seu general,
que conserva-la com infamia e deshonra. Morreram cinquenta e nove (...).
Cristóvão Lobo e Sebastião Banha caíram cativos. O resto do pessoal retirou-se
com o sentimento que pedia tão grande perda, sendo a maior a da pessoa do
General Luís de Loureiro, que depois de têr governado com grande opinião de
valente e sensato, Alcácer, Arzila e Mazagão, e de têr alcansado dos mouros
muitas insignes vitórias, morreu entre eles, mais por desordem e desobediência
dos seus que pelo valor dos seus inimigos.» Foi Senhor do Morgado de Loureiro,
tendo sido o primeiro Morgado deste Apelido, para além de Senhor da Casa de
Loureiro, e doutro em Penalva, Fidalgo do Conselho de El-Rei D. João III de
Portugal e Fidalgo da sua Casa Real, Comendador de Vila de Rei e doutra
Comenda, a de São Tomé de Penela, na Ordem de Cristo, Adail-Mor do Reino,
vinculou ao seu Morgado de Loureiro as duas partes da Igreja de Silgueiros, por
Breve Apostólico do Papa Júlio III, tendo sido, por isso, Padroeiro da Abadia
de Silgueiros, e foi muito valoroso e rico. E El-Rei lhe deu 200.000 réis de
juro, os quais, por sua morte, anexou sua filha Isabel de Loureiro ao Senhorio
do Morgado de Santar ou Assentar. El-Rei D. João III de Portugal lhe escreveu
cartas de muita honra, que teve em seu poder o seu sucessor Nuno de Barros de
Loureiro. Escreveu a sua vida Lourenço Anastácio Mexia Galvão. Granjeou muita
fama no seu tempo, a prová-lo o poema D. Jaime de Tomás Ribeiro:
Que belo tempo foi
esse
Das bravas de
Mazagão!
Lhe tornou Pinto
Ribeiro
Com rosto mais
prazenteiro
Com mais elevada
voz.
Mas no tempo em que
vivemos
Teremos-lhe invejo
nós?
De quê? Do Garife
Hamet
Rei do Marrocos
guerreiro,
A quem Luís do
Loureiro
Susteve iras de pé?
Que lhe fez Luís
Loureiro
Que lhe rendeu o
seu valor
Em ser bravo
primeiro
Na tomada de
Azamor?
-Tomás Ribeiro, in
D. Jaime-
Desposou Guiomar
Machado ou Machada, filha de Jorge Machado, Fronteiro de Mazagão, a qual mulher
ele matou, dizem que sem razão, em Mazagão, entre 1542 e 1548 com a qual teve:
Henrique de
Loureiro, que mataram os Mouros em África, de 18 anos, sem geração.
Ambrósia de
Loureiro, por vezes Ambrósia do Loureiro, que foi desposada por Lopo Peixoto de
Melo, 5.º Senhor de Penafiel, Adail-Mor do Reino em sucessão a seu sogro,
primo-sobrinho-neto de Nicolau Coelho e primo-sobrinho-neto em 2.º grau de
Pedro Álvares Cabral, e, por este casamento, entrou na família dos Peixotos o
ofício de Adail-Mor, cuja única filha foi:
Joana de Melo, 6.ª
Senhora de Penafiel, casou com D. Álvaro de Castro, Adail-Mor do Reino em
sucessão a seu sogro, sem geração.
Isabel de Loureiro,
segunda mulher de D. Luís da Cunha, 3.º Senhor de Santar ou Assentar, Barreiro,
Ovoa e Senhorim, sem geração.
Teve duma mulher
solteira, Brites de Escovar, dois filhos bastardos e uma filha bastarda:
Luís Anes ou Eanes
de Loureiro, que alguns fazem filho legítimo, a quem seu pai deixara o Morgado,
que mataram os Mouros numa escaramuça com 14 anos, sem geração.
Henrique de
Loureiro, que alguns fazem filho legítimo, que se meteu Frade da Ordem de São
Domingos e se chamou Frei Luís ou Diogo de Loureiro.
Genebra de
Loureiro, que alguns fazem filha legítima, também Religiosa, Freira na Conceição
de Lisboa.
Brites de Loureiro,
que alguns fazem filha legítima, Freira no Convento da Madre de Deus, em
Xabregas, nos arredores de Lisboa.
O seu Vínculo
passou à linha de Nuno de Barros de Loureiro.
1548 - 1551 -
Tristão de Ataíde
1551 - 1561 - Álvaro
de Carvalho (1ª vez)
Álvaro de Carvalho,
ou Álvaro Pires de Carvalho, Senhor do Morgado de Carvalho, foi capitão de
Alcácer-Ceguer e de Mazagão. Álvaro de Carvalho era filho primogénito de Pedro
Álvares de Carvalho, senhor do Morgado de Carvalho (e capitão de
Alcácer-Ceguer), e de D. Maria de Távora, filha de D. Martinho de Távora, que
também foi capitão de Alcácer-Ceguer. Álvaro foi capitão de Alcácer-Ceguer
durante 4 anos, de 1545 a 1549, sucedendo a seu pai. A Pedatura Lusitana
acrescenta que governou essa praça «até que elle (o rei D. João III) o mandou
sair quando se largou e foi o ultimo que ella teve, e dahi passou a Mazagão em
satisfação de Alcacer». Em certas listas encontram-se os nomes de Bernardim de
Carvalho, seu irmão, e de Rui Dias de Sousa como últimos capitães, mas Alcácer
foi abandonada entre fins de 1549 e 1550, se Bernardim e Rui Dias governaram em
1550 foi pouco tempo. Encontramos Álvaro de Carvalho como capitão de Mazagão em
substituição de Tristão de Ataíde, logo o ano de 1551. «Fez muitos serviços e
ElRei D. João III» nessa praça até 1561, ano em que possivelmente volta a
Portugal para tratar de alguns assuntos, e deixa na praça como capitão interino
seu irmão Rui de Sousa de Carvalho. Pouco mais tarde o Xarife Abdallah el-Ghalib,
decide apoderar-se de Mazagão, e aí envia seu filho Mulei Mohammed com uma
armada de cerca de cento e cinquenta mil homens, que põem o cerco a vila a
partir de fevereiro de 1562. Rui de Sousa vendo a multidão, recusa a proposta
do Xarife de abandonar a praça e pede socorro à metrópole. O cerco começa, as
diferentes batalhas fazem muitos mortos e feridos e a 24 de Março chega Álvaro
à praça com uma armada. Em 24 de Abril Rui de Sousa é gravemente ferido e
queimado, mas continua a luta. Em 7 de Maio os mouros levantam o cerco, onde
morreram mais de vinte e cinco mil mouros e cento e dezassete portugueses. Feridos
e queimados portugueses, que sobreviveram, foram duzentos e sessenta. De Álvaro
a Pedatura Lusitana diz o seguinte: "assistiu no grande cerco que lhe pôs
o Xarife (...) no qual cerco mostrou muito valor e prudencia». Parece que
depois do cerco, nesse mesmo ano de 1562, Álvaro voltou para Portugal, deixando
seu irmão Rui de Sousa, governar, sendo este substituído pouco depois. Álvaro
era filho e irmão de outros capitães de Marrocos. Seu pai governou Alcácer, seu
irmão Rui de Sousa, Mazagão e Tânger; um outro irmão, Bernardim de Carvalho,
Alcácer, Tânger e Mazagão. Não ficou por aí a "dinastia": casou
Álvaro com D. Maria de Gusmão sua prima filha de Diogo de Sepúlveda e de sua
mulher D. Constança de Távora da qual teve: Pedro Álvares que também foi
capitão de Mazagão (1572-1574), Gil Fernandes de Carvalho, que foi capitão de
Mazagão entre 1574-1577 e em 1586; Bernardim de Carvalho «que serviu bem na India
e lá o matou uma onça»; D. Joana de Gusmão mulher de D. Fernando Henrique de
Faro e D. Constança que morreu menina.
1561 - 1562 - Rui
de Sousa de Carvalho (1ª vez)
Rui de Sousa de
Carvalho, também referenciado como Rodrigo de Sousa, e o «Herói de Mazagão»
(1536? - 2 de Julho de1573), comendador de Santiago de Beja na Ordem de Cristo
concedida pelo Cardeal D. Henrique (em menoridade de D. Sebastião), foi Capitão
de Mazagão, e capitão de Tânger. Rui de Sousa de Carvalho, era filho de Pedro
Álvares de Carvalho, senhor do Morgado de Carvalho (e capitão de Alcácer
Ceguer), e de D. Maria de Távora, filha de D. Martinho de Távora, que também
foi capitão de Alcácer Ceguer. Rui de Carvalho foi capitão de Mazagão duas
vezes: Entre 1561 e 24 de Março de 1562, quando substituiu como capitão
interino a Álvaro de Carvalho, seu irmão; e tornou a fazê-lo ainda em 1562,
depois do cerco da vila. Rui de Carvalho estava de capitão interino quando os
mouros do Xarife vieram cercar Mazagão. Sabendo dessa vinda, tinha feito fortificar
a porta da vila e os baluartes. Em 28 de Fevereiro chegou o alcaide de Azamor
com muita gente, e no 1° de Março chegou o filho do Xarife (Abdallah
el-Ghalib), Mulei Mohammed, com suas tropas. Por isso o capitão mandou em navio
pedir socorro ao Reino. Em 3 de Março apareceram "postas mais de cinco mil
tendas, brancas e negras, desde o outeiro do Leão, a perto de uma légua, até às
taipas de El-Rei de Fez, além de outras de trás de Boa-fé, até à cidade de
Tite. O circuito das tendas era maior do que Lisboa na época.". Havia para
alojar cerca de cento e cinquenta mil homens. Em 7 de Março começa a batalha
depois de Rui de Sousa recusar a proposta de Mulei Muhammed, de se render,
prometendo-lhe de o deixar partir assim como a todos os portugueses. Em 24 de
Março chega à cidade seu Capitão, Álvaro de Carvalho com uma armada. Em 24 de
Abril, depois de dois mezes de cerco, Rui de Sousa de Carvalho, ficou ferido
depois da artilharia dos mouros têr derrubado parede dum baluarte: muito
queimado e desfigurado, nos olhos, rosto, mãos e pernas, incitava os que ali
estavam, dizendo: «á senhores soldados não digam que vosso Capitão não morre
pelejando com vocês». Vem daí o seu sobrenome de "herói de Mazagão". Em
30 de Abril, depois de mais um ataque dos mouros em que muitos portugueses
ficaram mortos, feridos, e queimados, mandou-se abrir a Porta do Mar e fez-se
que desembarcasse uma armada de perto de vinte navios, onde vinham quinhentos
soldados do rei, o capitão Francisco Henriques com duzentos e cinquenta soldados
e fidalgos, e outros de Agostinho Ferraz, que eram o socorro remetido de
Lisboa. Em 7 de Maio os mouros levantaram o cerco. Morreram mais de vinte e
cinco mil mouros e cento e dezassete portugueses. Feridos e queimados
portugueses, que sobreviveram, foram duzentos e sessenta, entre os quais Rui de
Sousa de Carvalho. Mesmo assim ferido, e o governador Álvaro de Carvalho, seu
irmão ausentando-se, ficou Rui como governador por pouco tempo, substituído
nesse mesmo ano por Francisco de Barros de Paiva. Volta a tomar o governo entre
1564 e 1572, data em que é chamado para governar Tânger. Seu sobrinho, Pedro
Álvares de Carvalho sucede-lhe em Mazagão. Diogo Barbosa Machado evoca a fama
que têve Rui de Sousa na época «com a memorável defensa da Praça de Mazagão [que]
havia imortalizado o seu nome (...). Para que a fama lhe continuasse as aclamações
devidas à heroicidade do seu peito, o nomeou em o anno de 1572 ElRey D.
Sebastião, Governador da Praça de Tangere, confiando que ao domínio da sua
Coroa sujeitaria toda Africa menos ardente que o espirito de tão grande Herói.»
D. João de Meneses governador de Tânger tendo partido para Portugal em Agosto
de 1572, foi substituído pouco tempo por Diogo Lopes da Franca eleito pelo
povo, como em outras ocasiões, até que Rui de Sousa de Carvalho, nomeado pelo
rei, chegue à cidade. «Acompanhado com quinhentos Cavaleiros, repartidos em
nove companhias, composta cada huma de cincoenta soldados de que erão Capitães
D. Fernando de Menezes, D. João de Azevedo, Pedro da Silva, irmão de Lourenço
da Silva, Regedor da Justiça, Pedro Moniz, filho de Febos Moniz, Francisco
Barreto de Lima, D. Francisco de Castello branco, irmão do Meirinho mór, D.
Gilianes da Costa, Diogo Lopes da Franca, Contador de Tangere, e o Adail Simão
Lopes de Mendonça, chegou Ruy de Sousa a Tangere, onde passado pouco tempo lhe
offereceo a fortuna hum conflito como preliminar obsequio à valentia do seu
braço.» Atacaram os alcaides de Alcácer Quibir, Arzila e Tetuão, com dois mil
cavalos em 21 de Setembro desse ano, «no campo chamado A decida. Prontamente
sahio Ruy de Sousa contra os inimigos, e travando-se hum formidável combate
pelo espaço de duas horas, não podendo os Mouros romper o nosso esquadrão, se
retirarão confusos, e destroçados.» Pouco tempo mais tarde partiu Rui de Sousa
para Portugal, «ou por falta de saúde ou por outro negócio importante», segundo
D. Fernando de Menezes, mas voltou rapidamente. Essa viagem foi feita
provavelmente para casar com D. Maria da Silveira, pois diz Diogo Barbosa
Machado que D. Sebastião (no qual «ardia intensamente o desejo de reduzir
Africa») escreveu a Rui de Sousa, «increpando-o de ser pouco activo na guerra
(...). De cuja inercia era causa o desposório, que celebrara com D. Maria da Silveira,
preferindo as delicias do tálamo aos perigos da campanha.» Pouco tempo depois
da sua volta a Tânger, «estimulado com esta repreensão (...) ao sahir de casa
acompanhado de trinta cavallos acudio ao rebate da tranqueira, chamada da Fome,
onde se encontrou com dous mil cavalos, capitaneados pelos Alcaides Cid
Albequerim Bentud de Arzila, e Cid-Azut Bentud de Alcácere, filhos de Cid Hamet
Bentud, que levavão quasi vencidos aos fronteiros António Pereira de Berredo,
que depois governou Tangere, e Tomé da Silva. Não esperou por mayor socorro Ruy
de Sousa.» Foi ao encontro, em que perderam a vida os capitães «Bento Rozeima,
e a liberdade D. Antonio da Cunha; ferido no rosto, e privado de hum olho D.
Antonio Pereira, e fora cativo D. Diogo de Menezes, se o não salvara João de
Ramos. No tempo que o conflito estava mais furioso na entrada da tranqueira,
(...) vieram [os inimigos] correndo pela parte onde estava sómente com a sua
Companhia Rui de Sousa de Carvalho, que era a tranqueira da Silveirinha, que
edificara em obséquio do apelido de sua esposa. Armado de generosos espiritos
não recusou entrar em tão desigual combate, onde depois de ter por largo tempo
disputado a Victória aos inimigos, cahio trespassado com cento e dez feridas
(...). Deste sanguinolento espectáculo era unica testemunha sua mulher, que
assustada, e solicita clamava de huma janela, que se socorresse aquelle
Cavaleiro, que tão heroicamente pelejava contra multidão tão imensa ignorando
que era seu marido» Quando depois os outros soldados conseguiram voltar à
cidade, «ignorando o lugar onde estivesse o Capitão mór, depois de feita a
diligencia, que pedia o seu cuidado, o acharão morto, e despojado dos vestidos,
causando-lhe o mayor espanto o numero de feridas, que recebeu seu corpo (...)
conservando nas mãos grande copia de cabelos arrancados das cabeças dos mouros.
Foy conduzido o cadaver para a Sé, onde se lhe deu honorifica sepultura. Sentio
com tanto excesso ElRey D. Sebastião a morte deste grande Capitão, que em final
do seu sentimento mandou fechar as janelas do Paço, e escreveo a D. Maria da Silveira
com tais expressões, que lhe diminuirão o pesar da falta de seu marido, fazendo
mercê da comenda de Beja, que vagara por elle, a seu filho Pedro Álvares de
Carvalho, que ainda era menino.» E quando D. Sebastião foi pela primeira vez a Tânger,
em 1574, «perguntou, em que parte jazia o Capitão Ruy de Sousa de Carvalho, e
sendo conduzido à Catedral de Tangere, lhe lançou água benta sobre a sepultura,
rezando-lhe hum responso, cujas cerimónias mandou ao Bispo que fizesse.» Quando
D. Filipe I de Portugal entrou em Lisboa, seu filho Pedro Álvares,
apresentou-lhe «a camisa de seu pai banhada em sangue, e rasgada em muitas
partes pelas lanças africanas». Disse-lhe então o rei: «Dios te haga tan buen
Cavallero como fue tu padre; e lhe lançou o hábito militar da Ordem de
Christo.» Além de Álvaro de Carvalho, Rui têve 4 outros irmãos, entre, eles
Bernardim de Carvalho que também governou Tânger. Casou duas vezes. A primeira
com Violante da Silva de Azevedo, de quem têve Joana de Melo, entre outros filhos;
a segunda com Maria da Silveira (em 1572), filha de Belchior Serrão, Secretario
da casa da India e desembargador dos agravos, de quem têve Pedro Álvares de
Carvalho e Margarida da Silveira.
1562 - Álvaro de
Carvalho (2ª vez)
1562 - Rui de Sousa
de Carvalho (2ª vez)
1562 - 1564 -
Francisco de Barros de Paiva
1564 - 1572 - Rui
de Sousa de Carvalho (3ª vez)
1572 - 1574 - Pedro
Álvares de Carvalho
Pedro Álvares de
Carvalho, Senhor do Morgado de Carvalho, foi capitão de Alcácer-Ceguer. Pedro
Álvares era filho de Álvaro de Carvalho, Senhor do Morgado de Carvalho (que
sendo capitão de Alcácer-Ceguer se achou com o duque D. Jaime na tomada de
Azamor), e de D. Catarina da Guerra filha bastarda de D. Pedro d'Eça
Alcaide-mor de Moura. Sucedeu-lhe no morgado de Carvalho e no foro de Canas de
Senhorim. Foi Capitão de Alcácer-Ceguer durante quatorze anos, de 1531 a 1545,
sucedendo-lhe seu filho Álvaro de Carvalho. Tinha ele mesmo sucedido a seu
irmão Francisco. Diz a Pedatura Lusitana que aí «fez muitos serviços a ElRei D.
João o III». Pedro Álvares de Carvalho casou com D. Maria de Távora, de quem
teve: Álvaro de Carvalho, que depois também foi capitão de Alcácer-Ceguer [1545
- 1549], e capitão de Mazagão [1551 – 1561 & 1562]; Bernardim, que depois
foi capitão de Alcácer-Ceguer [1549-1550], e de Tânger [1554-1564], Gil, André,
Rui de Sousa, Capitão de Mazagão [1561-1562] & [1567-1572], e de Tânger
[1572-1573] e Martim de Távora.
1574 - Bernardim de
Carvalho
Bernardim de
Carvalho, foi Comendador de Carrazedo da Ordem de Cristo, capitão de Alcácer
Ceguer, capitão de Tânger, e de Mazagão. Parece que foi durante muito pouco
tempo (1550) capitão dessa praça, que pouco depois foi abandonada... Com a
morte de Luís da Silva de Meneses, capitão de Tânger, em 29 de Abril de 1554, o
governo da praça ficou indeciso, entregando-se «as chaves das portas a Pedro
Garcia, capitão de Infantaria, que as têve, cinco dias com as aparências de
governo.» Mas ao cabo desses dias «o povo elegeu para Governador a Pedro
Álvares Correia, que servia de sargento Maior», mas este morreu ao cabo também
de cinco dias. Em seu lugar foi então eleito Diogo Lopes da Franca, «que
governou até que el-rei achou por bem de prover este cargo.» Veio então
Bernardim de Carvalho, «a quem a Rainha Dona Catarina, que então governava pela
menoridade del-rei Dom Sebastião, ordenou que acudisse a Tânger, onde os mouros
em pouco tempo le haviam morto três generais. Disse-lhe que de sua prudência
esperava o remédio daquela praça, e a emenda dos erros que outros tinham
cometido. Acrescentou que as forças eram bastantes para conservar e defender;
mas não para penetrar nas terras dos mouros, que eram muitos e se ajuntavam com
facilidade.» Bernardim aceitou, que governou com «moderação e prudência»,
aliviando o sentimento dos desastres passados. «Consta que correndo um dia aos
mouros, mandou dizer ao adail, por Jorge vieira o surdo, que retirasse a gente
e não se comprometesse sem nova ordem, e reconhecer melhor os intentos e forças
dos inimigos. Mas o mensageiro, pelo defeito que tinha percebeu o contrário, e
disse ao adail que arremetesse contra os mouros que em forma de meia-lua
vinham-nos cercar. Atacou-os com tão boa sorte que os poz em fuga sem
resistencia alguma. Vendo o General o empenho e que já não era tempo de remediar
à desordem, deu Santiago, e socorrendo sua gente que seguia os mouros, alcançou
sobre eles uma grande vitória.» Mas a sua prudência não impediu um desastre:
tendo vindo uma caravana, e Bernardim estando «impedido de uma perna, o
Alfaqueque disse aos alcaides que era ocasião de lhe fazer dano. Reuniram o
pessoal, correndo ao campo na ocasião que o General, por se encontrar já
melhorado, tinha ido vêr uma nau que estava no porto. Acudiram os soldados ao
rebate, sahindo, como então era costume, para guarnecer as trincheiras. Mas
como iam sem ordem e divididos, e os mouros tinham ganho os postos,
atacaram-nos e dispersaram-nos quase sem resistência. Morreram mais de
quinhentos soldados; apenas se salvou a cavalaria, e esta com dificuldade. Chegou
a notícia ao general, que não pôde fazer mais que senti-la e evitar que
doravante acontecesse semelhantes desordens», impedindo que em sua ausência não
se abrisse as portas. De seus feitos D. Fernando de Meneses, autor da Historia
de Tanger, não encontrou outras notícias. Diz ele que mesmo esta que nos
comunica descobriu-as com dificuldade, «pela malicia de alguns que as levaram e
fizeram desaparecer. Parecia-lhes sêr descrédito próprio a glória alheia e que
resultariam mais suas acções faltando-lhes a comparação de outras maiores, na
suposição que as escrevessem um dia». Governou dez anos e foi substituído por
Diogo Lopes da Franca, «pela segunda vez, e por eleição do povo, até que chegou
Lourenço Pires de Távora, que tomou possessão do governo no primeiro de Abril
de 1564.» Essas circunstâncias (que Fernando de Meneses não explica) deixam-nos
supor que Bernardim de Carvalho, ou ficou doente, ou teve por outra razão que
voltar a Portugal, estando por isso impedido de governar. Encontramo-lo mais
tarde capitão de Mazagão, em 1574, sucedendo a seu sobrinho Pedro Álvares de
Carvalho (Filho de Álvaro de Carvalho, senhor do Morgado de Carvalho, que
também foi muitos anos capitão de Mazagão), falecido. No mesmo ano, outro seu
sobrinho, Gil Fernandes de Carvalho, irmão de Pedro Álvares, substitui-o nessa
mesma praça. Casou com D. Violante de Mendonça, filha de Rui Lopes de Sousa, o
Traquinas, capitão de Diu, de quem teve: Diogo Lopes de Carvalho, que também
foi capitão de Mazagão (1586-1607), e que sucedeu ao morgado de Carvalho,
Álvaro «que morreu solteiro na Índia», Isabel de Mendonça, D. Maria de Távora
freira em S. Clara de Lisboa, D. Bernardina, na Esperança de Lisboa, Pedro
Álvares (?), e Rui Martins (?). Era irmão de Rui de Sousa de Carvalho, que mais
tarde também foi Governador de Tânger.
1574 - 1577 - Gil
Fernandes de Carvalho (1ª vez)
D. Frei Gil
Fernandes de Carvalho foi um nobre e militar português. Filho de Fernando ou
Fernão Gomes de Carvalho, Cavaleiro e Fidalgo da Casa Real, 1.º Senhor do
Morgado de Carvalho, Fidalgo partidário do Infante D. Afonso contra seu pai D.
Dinis I de Portugal, que morreu em 1324 num recontro em Santarém contra o Rei,
e de sua mulher Mor Rodrigues da Fonseca, que, como Mor Rodrigues, «m.er q foi
de Fernão Gomes de Carvalho», consta entre os infanções na lista de 1339 dos
Padroeiros do Mosteiro de Mancelos. 2.º Senhor do Morgado de Carvalho. Foi 7.º
Mestre da Ordem de Santiago antes de 1355. D. Fernando I de Portugal fez-lhe
mercê do Castelo de Mértola. Teve dois filhos sacrílegos de Maria do Bairro,
mulher solteira: Álvaro Gil de Carvalho, legitimado por D. Pedro I de Portugal
com todos os direitos e honras de Fidalgo, por Carta de 12 de Setembro de 1359,
como filho de Maria do Bairro, mulher solteira, e de D. Gil Fernandes de
Carvalho, Mestre da Ordem de Santiago, e ao qual D. Fernando I doou os direitos
reais de Castelo de Vide como seu 1.º Senhor, casado com Teresa Vasques
Botelho, com geração; a 19 de Janeiro de 1396 D. João I de Portugal doou a
Diogo Botelho, seu criado, para si e seus sucessores, todos os bens móveis e de
raiz que no reino tinha Teresa Vasques Botelho, filha de Martim Afonso Botelho
e mulher de Álvaro Gil de Carvalho, por ter passado a Castela. Gonçalo Gil de
Carvalho, legitimado por Carta Real de D. Fernando I, solteiro e sem geração.
1577 - 1578 -
Francisco de Figueiredo (interino)
1578 - Martim
Correia da Silva
1578 - 1581 - João
de Mendonça Furtado
1581 - 1582 - Pêro
de Mendonça Furtado
1582 - 1586 -
Francisco de Mendonça Furtado
1586 Gil - Gil Fernandes
de Carvalho (2ª vez)
1586 - 1607 - Diogo
Lopes de Carvalho
1607 - 1610 -
Manuel Mascarenhas
7 Set 1610 - 1615 -
Henrique Correia da Silva
Henrique Correia da
Silva foi o 19º Governador das Armas do Reino do Algarve, em Portugal. Em data
desconhecida, foi nomeado Governador do Algarve, posição já ocupada por seu
pai, Martim Correia da Silva. Notabilizou-se pelo seu papel na Restauração da
Independência, tendo proclamado D. João IV em Lagos e fortalecido a fronteira
com Espanha. Até essa altura vivia no palácio de Condeixa-a-Nova do seu cunhado
e companheiro d´armas em Alcácer Quibir, Lourenço Soares de Almada, pai do
conjurado D. Antão de Almada, e ambos foram dos poucos fidalgos que
acompanharam o corpo do rei D. Sebastião, desde Faro ao Mosteiro dos Jerónimos.
Era casado com D. Maria Violante de Castro, filha de D. Antão Soares de Almada.
Após a Restauração da Independência, tornou-se vedor da Fazenda. O seu nome foi
colocado numa rua da Freguesia de Santa Maria, no Concelho de Lagos.
1615 - 1619 - Jorge
Mascarenhas, marquês de Montalvão
Jorge de
Mascarenhas, 1º Conde de Castelo Novo e 1º marquês de Montalvão, foi um fidalgo
e administrador português. Foi governador de Mazagão (1615-1619), de Tânger
(1622-1624) e do Algarve. No contexto da Dinastia Filipina, tendo caído em
desgraça o conde da Torre (sucedido por uma Junta Governativa tríplice),
Mascarenhas foi nomeado por Filipe IV de Espanha como 1º vice-rei do Brasil
(1640). Este era um título honorífico, de carácter pessoal, e não somava autoridade.
Segundo explica o escritor brasileiro Vivaldo Coaracy em sua obra «O Rio de
Janeiro do século XVII», página 103, «só em 1714 foi o governo do Estado do
Brasil elevado à categoria de vice-reino. Antes disso, porém, por
circunstâncias especiais, excepcionalmente, tiveram dois governadores-gerais o
título de vice-reis: o marquês de Montalvão em 1640 e o conde de Óbidos em
1648.» Desembarcou em Salvador, na capitania da Bahia, a 16 de abril de 1640,
iniciando o seu governo a 26 de maio. Foi citado por Frei Caneca, no século
XIX, que dele referiu: "Que exemplo mais imitável que o do marquês de
Montalvão, na Bahia de Todos os Santos, que conhecendo, pela ação que perdeu
contra os holandeses, lhe faltava a arte militar, entregou a campanha ao conde
de Bagnoli, militando debaixo de suas ordens como soldado, alcançou a
vitória?". Com a chegada à Bahia, pela Carta Régia de 15 de fevereiro de
1641, da notícia da Restauração da Independência de Portugal, o Vice-Rei
reconheceu a autoridade de D. João IV (1640-1656) imediatamente, usando de
cautela para não suscitar a hostilidade das tropas castelhanas alojadas nas
fortalezas. Apenas quando o bispo, os funcionários, os mercadores e a população
foram avisados, tornou-se possível aclamar o novo rei na Câmara e proceder a
uma cerimónia religiosa na Sé. Montalvão «tratou de comunicar os acontecimentos
aos governadores das capitanias». Segundo Vivaldo Coaracy em sua obra «O Rio de
Janeiro no século XVII», página 103, achava-se Salvador Correia de Sá e
Benevides na igreja, assistindo à missa, quando lhe foi entregue a carta do
vice-rei. Filho de espanhola casado com espanhola, com rendas e benefícios de
grande vulto que herdara da mãe em Espanha e expectativas consideráveis que da
parte da mulher lhe sorririam em Castela e no Chile, o governador teria
hesitado... Procurou o conselho do abade de São Bento e do Provincial dos
Jesuítas, foi aconselhado «a reunir uma reunião na biblioteca do colégio dos
jesuítas os comandantes das forças da guarnição, os prelados das ordens religiosas,
o administrador eclesiástico e os oficiais da Câmara.» Foi o primeiro a
pronunciar-se o vereador mais velho e, em seguida a suas palavras, os presentes
acompanharam seu parecer e Salvador se apressou em erguer o primeiro viva a D. João
IV. Para exprimir o júbilo do Estado do Brasil, Montalvão enviou, a 26 de
fevereiro, uma caravela para Lisboa, com o seu filho D. Fernando Mascarenhas, e
os jesuítas António Vieira e Simão de Vasconcelos. Desembarcaram em Abril em
Peniche, mas o povo quis maltratá-los como agentes de Castela, dado que os dois
irmãos de Fernando haviam há pouco fugido para Castela. A missão seguiu para
Lisboa, mas havia o receio de que Montalvão se revoltasse com o apoio da
guarnição castelhana da Bahia. As intrigas locais levaram a que, em 15 de
agosto de 1641 o rei expedisse uma Carta Régia em que confirmava a patente de
Salvador Correia de Sá e Benevides como governador da capitania do Rio de
Janeiro, detendo e remetendo Montalvão para Lisboa, acusado de deslealdade pelo
jesuíta Francisco de Vilhena. Por uma ironia do destino, como comenta Vivaldo
Coaracy em «O Rio de Janeiro no século XVII», página 106, Salvador Correia de
Sá e Benevides, o governador do Rio de Janeiro que «hesitara em aceitar a
Restauração», conseguiu consolidar e manter a situação em que se achava»,
enquanto D. Jorge de Mascarenhas, que como vice-rei «se apressara em reconhecer
o novo regímen e a cujas sábias providências se devia a aclamação realizada na
Bahia, sem oposição das numerosas forças espanholas ali aquarteladas, era
deposto e remetido preso para Lisboa sob acusação de deslealdade, pelas
intrigas do jesuíta Francisco de Vilhena». O título de Marquês de Montalvão foi
criado por carta de Filipe III (IV de Espanha), rei de Portugal e Espanha,
datada de 29 de Agosto de 1639. A favor de D. Jorge Mascarenhas, 1º conde de
Castelo Novo (título outorgado pelo mesmo soberano em 1628). Ambos os títulos
foram concedidos de juro e herdade.
1619 - 1624 - Brás
Teles de Meneses
15 Mar 1624 - Jun
1627 - Gonçalo Coutinho
26 Jun 1627 - 7 Jun
1631 - Francisco de Almeida
Francisco de
Almeida (c. 1580 - depois de 1641), governador de Mazagão e de Ceuta. Francisco,
filho de António de Almeida, veador da Rainha D. Catarina, e Pajem do Infante
D. Luiz, e da sua segunda mulher Brites de Mendonça, foi 1° comendador de Santa
Maria de Mesquitela, de S. Salvador de Ribas de Basto e das Duas Igrejas. Foi
Almirante da Armada da Restauração da Bahia, dita Jornada dos Vassalos,
capitaneada por Fadrique de Toledo Osório, e Manuel de Meneses General da
Armada de Portugal, e que partiu de Lisboa em 22 de Novembro de 1624.
Tratava-se de recuperar a cidade de S. Salvador da Bahia, que os holandeses
tinham tomado em 8 de Maio de 1624. Bahia foi assim recuperada em 1° de Maio do
ano seguinte. De volta do Brasil, Francisco foi eleito governador de Mazagão,
que dirigiu 4 anos, de 26 de junho de 1627 até 7 de Junho de 1631. Em 1637 foi
eleito governador de Ceuta. Em 1640, depois da Restauração da Independência de
Portugal, continuou a governar até ceder a praça aos espanhóis em 1641. Casou
com Ângela de Melo, filha de André Pereira, Senhor de Carvalhais, e de Felipa
de Melo, e têve: Diogo de Almeida, que casou com D. Luisa Maria da Silva (filha
de Antão de Almada, 7.º conde de Avranches). António de Almeida. Filipa de Melo
de Almeida que casou com D. Luis (ou Lucas) de Portugal, comendador de
Fronteira.
7 Jun 1631 - 1635 -
João da Silva Telo de Meneses, conde de Aveiras
João da Silva Telo
e Meneses, 1.º Conde de Aveiras (cerca de 1600 — Moçambique, 1651) foi um nobre
e militar português. Em 1623, foi nomeado Governador de Mazagão. Em 1625,
esteve em Salvador, na Guerra da Restauração. Nomeado em 1640 como 25.º
Vice-rei da Índia, onde ficou até 1644. No regresso à Portugal, foi feito Regedor
das Justiças. Chegou a ser novamente nomeado Vice-rei da Índia, em 1651, mas
morreu a caminho, em Moçambique. Foi membro do Conselho de Estado e Guerra do
Rei Dom Filipe III, e do Rei Dom João IV. Era Comendador de Arouca na Ordem de
Cristo, e de Moguelas na Ordem de Santiago.
1635 - Mar 1640 -
Francisco de Mascarenhas, conde de Castelo Novo
Mar 1640 - Jun 1640
- Luísa Antónia de Velasco + Nuno da Cunha da Costa (em acto)
25 Jun 1640 - 1642
- Martim Correia da Silva (interino)
1642 - Novembro
1645 - Rui de Moura Teles
10 Novembro 1645 -
Maio 1648 - João Luís de Vasconcelos e Meneses
Maio 1648 - Jul
1648 - Junta: António Dinis Barbosa, Gonçalo Barreto, Gaspar Rodrigues
1648 - 1649 - Nuno
da Cunha da Costa (1ª vez)
1649 - Francisco de
Noronha (1ª vez)
1649 - 1650 - Nuno
da Cunha da Costa (2ª vez)
1650 - 1654
Francisco de Noronha (2ª vez)
29 Jan 1654 - 1658
- Alexandre de Sousa Freire
1658 - 1661 -
Francisco de Mendonça Furtado
1661 - 1667 -
Cristóvão de Melo
1667 - 27 Novembro
1671 - Martinho Mascarenhas, conde de Santa Cruz
Novembro 1671 -
1677 - Marco de Noronha
Fev 1677 - 1681 -
Cristóvão de Almada
Cristóvão de Almada
(1632-9 de agosto de 1713, em Lisboa) foi distinto fidalgo do século XVII,
gentil-homem da Real câmara de D. Pedro II de Portugal. Provedor da Casa da
Índia, cargo em que sucedeu a seu pai, Rui Fernandes de Almada, comendador de
S. Miguel de Rio de Moinhos, senhor das terras de Carvalhais e das vilas de
Ílhavo, Verde milho, Avelãs, Ferreiros e dos seus padroados. Conselheiro de
el-Rei, foi ainda governador e capitão-general de Mazagão, veador das casas das
rainhas D. Maria Francisca Isabel de Nemours e D. Maria Sofia de Neubourg, da
infanta D. Isabel, do príncipe herdeiro D. João e de seus irmãos. Fidalgo muito
cortesão e estimado na corte, versado nas cerimónias e etiquetas do paço, que
ninguém entendeu no seu tempo melhor do que ele, de sorte que era arquivo para
as dúvidas que ocorriam. Tão estimado de D. João V de Portugal que, na doença
de que veio a falecer, com 81 anos de idade, o monarca procurava amiúde
informações do seu estado. Primeiro casou com: D. Luísa de Eça Corte Real,
senhora do morgado dos Eça, de que era cabeça a quinta das Torres, em Azeitão. Casou
2ª vez com: D. Filipa de Melo, filha de D. Luís de Almada, senhor dos Lagares
d´El-Rei e de Pombalinho. Dos filhos do 2º casamento, sucedeu-lhe na casa e nos
morgados sua filha D. Maria Antónia de Almada, que casou com D. Bernardo de
Noronha, filho do 2º conde dos Arcos, a qual adquiriu em 1696 a quinta da
Má-partilha e outras propriedades que mais tarde vinculou, anexando-as ao
morgado dos Almadas da Boavista, em Lisboa.
1681 - 1687 -
Bernardim de Sousa de Távora Tavares
1687 - 1691 -
Manuel de Sousa de Castro
1691 - 1692 -
Domingos de Matos
1692 - 1695 - João
de Saldanha de Albuquerque
1695 - 1698 - Luís
de Saldanha da Gama
1698 - 9 de Outubro
de 1702 - Sancho de Faro e Sousa, conde de Vimieiro
D. Sancho de Faro e
Sousa, Conde do Vimieiro, (Lisboa, 1659-Bahia, 1719) foi um administrador
colonial português, foi vice-rei do Brasil. Casado em Lisboa em 1703 com Teresa
de Mendoza y Manuel de Castilla (1688-1740 num convento em Lisboa, onde está
sepultada). Filhos: Diogo de Faro e Sousa (Lisboa 1705-1741 Estremoz, onde está
sepultado). Conde de Vimieiro. Casou em Lisboa em 1729 com Maria Josefa de
Menezes e Breyner (Lisboa 1712-1739 Elvas, onde está sepultada) Luís (nascido
em Viana do Minho 1706) principal da Santa Igreja de Lisboa Francisco (Lisboa
1709-1721 Estremoz, onde está sepultado) Fernando (Lisboa 1711-1713 Vimieiro,
onde está sepultado) Pedro (Vila Alcoentre 1712-1716 Lisboa) João (1715-?),
sacerdote José (Lisboa 1717-1718) Francisca (Viana do Minho 1707-?), freira Mecia
(Vimieiro 1714-1730), freira.
9 de Outubro de
1702 - Setembro de 1705 - Manuel de Sousa Tavares de Távora
1 de Outubro de
1705 - 27 de Julho de 1713 - Francisco de Melo e Castro
27 de Julho de 1713
- 1719 - Manuel Rolim de Moura
1719 - 1724 -
Duarte Sodré Pereira
1724 - António José
de Miranda Henriques
1724 - 1734 - João
Jacques de Magalhães
1734 - 4 de Agosto
de 1745 - Bernardo Pereira de Berredo e Castro
Bernardo Pereira de
Berredo e Castro foi um historiador e administrador português. Pertenceu ao
Conselho de Sua Majestade. Foi governador do Estado do Maranhão, de 1718 a
1722, e da Praça-forte de Mazagão, no Marrocos, de 1734 a 1745.
Agosto de 1745 -
1752 - António Álvares da Cunha
Dom António Álvares
da Cunha, primeiro Conde da Cunha, (Lisboa, 1700-Lisboa, 1791) foi um fidalgo e
administrador português, durante o reinado de D. José, 25.o rei de Portugal
(1750-1777). D. António era neto do homónimo António Álvares da Cunha, Senhor
de Tábua, 17.o senhor de Tábua, cujo senhorio fora dado aos Cunhas ainda no
século XII; e como refere Braamcamp Freire, "...em cuja
casa êle permaneceu durante sete séculos. Em nenhuma linhagem portuguesa, me
parece, se manteve durante tam largo período o senhorio de uma terra, ainda com
a notável circunstância dêle ter passado sempre em linha varonil, sem
bastardia, até D. José Maria Vasques Álvares da Cunha, 4.o conde da
Cunha..." D. António era ainda sobrinho do grande diplomata D. Luís da
Cunha, embaixador a Londres, Madrid, Paris, etc. Foi capitão-de-mar-e-guerra da
Armada Real, governador e capitão general de Mazagão em Marrocos (1745-1752),
governador de Angola (1753-1758) e vice-rei do Brasil (1763-1767). Como
recompensa pelos serviços do seu tio, assim como pelos seus serviços pessoais,
foi agraciado com o título de Conde da Cunha em 1760. Aquando da transferência
do governo colonial do Brasil de Salvador (Bahia) para o Rio de Janeiro, foi o
primeiro vice-rei do Brasil a ter sede no Rio de Janeiro. Durante o governo de
Bernardo Pereira de Berredo e Castro (1734-1745), a praça de Mazagão, última
praça portuguesa em Marrocos, fora durante mente assediada pelos marroquinos,
tendo sofrido sete assédios nos últimos sete anos desse governo, em Janeiro de
1738, Outubro de 1738, Janeiro de 1739, Setembro de 1741, Janeiro de 1743,
Novembro de 1743, e por fim Maio de 1745. Assim, ao tomar D. António posse do
governo da praça em Agosto de 1745, tudo indicava que poderia esperar
frequentes assédios por parte dos marroquinos, o que de certo modo indica a
confiança que o monarca nele depositava. No entanto, nada disto veio a acontecer.
Apenas mais tarde foram os ataques resumidos, o que levaria ao abandono da
praça em 1769 e à subsequente fundação da vila homónima no Brasil em 1770,
povoada com colonos vindos da Mazagão marroquina. Quando D. António, após sete
anos de governo em Mazagão, foi promovido a governador de Angola em 1754, nem
um único ataque marroquino tinha tido que repelir. De Marrocos, D. António
passou a Angola. Logo ao chegar à África Austral em 1754, o novo governador
anunciou à majestade que iria realizar um velho plano idealizado por seu tio em
1725: o de descobrir um caminho terrestre que pudesse ligar Angola a
Moçambique. Para esse efeito o governador financiou de seu próprio bolso uma
expedição a Cassanje, onde o seu comandante, Manuel Correia Leitão, um natural
de Luanda, se deveria informar sobre os caminhos em terras incógnitas mais a
Leste. A expedição foi realizada de 1754 a 1756, quando Correia Leitão
regressou a Luanda. Infelizmente, os seus resultados mostraram-se
decepcionantes, ainda que o chefe da expedição tenha deixado um
interessantíssimo relato. Como governador de Angola, D. António Álvares da
Cunha estudou ainda pessoalmente o problema de abastecimento de água de Luanda,
e da canalização das águas do Rio Bengo e do Cuanza. Iniciou ainda o restauro
da fortaleza de São Pedro da Barra de Luanda, que devido a obras posteriores
apenas se concluiu durante o governo de D. José Gonçalo da Câmara (1779-1782). O
título de Conde da Cunha foi-lhe dado de juro e herdade por D. José por carta
de 14 de Março de 1760, ”tendo consideração aos notáveis e distintos serviços
que D. Luis da Cunha me fez, por espaço de sessenta e dous annos sucessivos
[...] nos empregos de enviado extraordinário na corte de Londres, de embaixador
extraordinário e plenipotenciário no congresso de Utreque, e de embaixador nas
cortes de Londres, Haia, Madrid e Paris [...] contemplando ao mesmo tempo os
serviços pessoais com que o dito D. Antonio se tem distinguido [...] nos
empregos de governador e capitão general da praça de Mazagão e do reino de
Angola...” Como vice-rei do Brasil, o Conde da Cunha melhorou as fortificações
então existentes na cidade do Rio de Janeiro. No entanto, a sua iniciativa mais
importante foi a fundação, a 29 de Dezembro de 1763, do Arsenal de Marinha do
Rio de Janeiro, ainda hoje o principal centro de manutenção da Marinha do
Brasil. O conde fundou ainda o Arsenal de Guerra, na mesma cidade. Em frente ao
Arsenal de Marinha ergue-se hoje uma herma em sua homenagem, obra do escultor
Luís Pais Leme. O Conde da Cunha foi também responsável, no Brasil, por um
importante apoio ao Hospital dos Lázaros, um dos mais antigos da cidade do Rio
de Janeiro, que se dedicava a cuidar de vítimas de lepra, com capacidade para
52 enfermos na altura. A 19 de Dezembro de 1763, dez dias antes de fundar
Arsenal da Marinha, o vice-rei escreveu uma longa carta a Francisco Xavier de
Mendonça Furtado, Secretário de Estado da Marinha e do Ultramar (1760-1769) e
irmão do todo-poderoso ministro do rei, o futuro Marquês de Pombal. Nessa
carta, recomendou associar um mosteiro confiscado aos Jesuítas após a expulsão
dos Jesuítas em 1759 ao hospital, dado que o edifício poderia acomodar
bastantes enfermos, com possibilidade de separar os doentes do sexo masculino
dos do sexo feminino. Na longa carta, o Conde da Cunha fez notar, entre muitas
outras considerações, que o velho mosteiro jesuíta se encontrava desabitado,
que estava já equipado com uma capela para os defuntos, e que tinha acesso a
água potável do Rio Maracanã para cuidar dos enfermos. O vice-rei recomendou
ainda, para financiar a expansão do hospital com este novo edifício, um modesto
imposto, que acreditava que os habitantes da cidade pagariam de bom grado para
poder ver menos enfermos nas ruas. A 31 de Janeiro de 1765 recebeu então o
vice-rei um aviso régio que aprovava todas as suas sugestões.
A, 31 de Janeiro de
1766, exactamente um ano mais tarde, terminaram então as obras de adaptação do
antigo mosteiro jesuíta a hospital, com lugar para mais 55 enfermos para além
de empregados e escravos. O Hospital dos Lázaros via assim, em menos de três
anos, a sua capacidade ser duplicada. Deve-se ainda ao Conde da Cunha o ter-se
acabado com a grande vala utilizada como esgoto no Rio de Janeiro, na antiga
rua da Vala, hoje rua Uruguaiana. Conta-se que terminou o seu governo pobre, e
que teria que ter pedido dinheiro emprestado para regressar a Portugal.
1752 - 1757 - José
Leite de Sousa
1757 - Setembro de
1763 - José Joaquim Vasques da Cunha
Setembro de 1763 -
11 de Março de 1769 - Dinis Gregório de Melo e Castro Mendonça
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