segunda-feira, agosto 24, 2015

Batalhas Navais-1384 II

Lisboa
(27 de Agosto de 1384)


Depois da Batalha do Tejo, os navios portugueses encostaram-se o mais possivel à muralha de Lisboa, sendo provável que as Galés tenham ficado na zona da Ribeira e as Naus mais chegadas à zona de Alfama. Estariam possivelmente com as proas voltadas para o rio, amarradas com dois ferros, com viradores passados para terra, assentando no lodo na maré baixa e flutuando na maré alta. Em cada navio devia haver uma guarda de gente de armas relativamente reduzida. Observando os Castelhanos este dispositivo, pareceu-lhes que não seria dificil aproximarem-se de surpresa e lançar fogo aos nossos navios. Levada a proposta ao rei de Castela, este discordou. Considerava que aquelas Naus e Galés lhe pertenciam e queria-as intactas. Foi então decidido montar uma operação destinada a capturar as Galés portuguesas. No dia 27 de Agosto, um pouco antes da hora do preia-mar os Castelhanos lançaram um ataque de diversão do lado de terra, junto à porta de Santa Catarina, situada próximo da zona do actual Chiado. O fim deste ataque era atrair a esse ponto as principais forças de defesa da cidade afastando-as da zona da Ribeira. Imediatamente tocaram os sinos a rebate e as torres e muros encheram-se num abrir e fechar de olhos de gente de armas e de muitos populares. Enquanto as atenções estavam distraídas pelo que se passava junto à porta de Santa Catarina, as Galés castelhanas subiam discretamente o rio em coluna. De começo, ninguém se preocupou muito com isso, na suposição de que se tratasse de um simples exercício ou manobra de rotina, Mas, subitamete, as Galés inimigas guinaram, todas ao mesmo tempo, noventa graus para bombordo e, à voga arrancada, arremeteram contra as Galés portuguesas. Convém dizer que para esta operação as Galés de Castela vinham com menos remadores do que habitualmente para poderem dar lugar a um maior contingente de homens de armas. Logo que se aperceberam das intenções dos Castelhanos, as reduzidas guardas das nossas Galés aprontaram-se animosamente para lhes fazer frente. Felizmente, havia na Ribeira um certo número daqueles indivíduos que andam sempre pela borda de água, pescadores nas horas vagas, estivadores à espera de trabalho, vendilhões, vádios, simples mirones, etc. os quais, sentindo o perigo que corriam as Galés, gritaram aos que estavam nas muralhas para que lhes lançassem armas e, munidos de machados e lanças, foram-se meter nelas, prontos para colaborar na sua defesa! Logo que chegaram à distância conveniente, os besteiros castelhanos, lançaram uma chuva de virotões sobre os nossos que, todavia não foi suficiente para lhes abater o ânimo.


Quando, instantes depois as Galés de Castela aferraram as portuguesas e tentaram entrá-las, encontraram por toda a parte uma feroz resistência. Entretanto, na cidade, o Mestre de Avis  galopava a toda a brida para a Ribeira, acompanhado de muito povo, que, empunhando as armas mais diverças, corria em auxílio dos navios. Mas o caminho a percorrer era relativamente longo, porque só se encontrava aberta uma porta bastante afastada do local do combate. Foram momentos críticos em que tudo dependeu da coragem dos que estavam nas Galés. O facto é que conseguiram aguentar-se. E, a pouco a pouco, foram sendo reforçados pela onda de gente que vinha da cidade. os castelhanos que já tinham entrado em várias das nossas Galés começaram a ser inexoravelmente empurrados para as suas. O Mestre de Avis percorria a Ribeira, animando com a sua presença os defensores e encaminhando os magotes de gente que iam chegando para as Galés que se encontravam em maior dificuldade. Em dado momento tendo entrado pela água dentro, uma seta matou-lhe o cavalo que o arrastou na queda, sem que ninguém desse por isso. A muito custo conseguiu desenvencilhar-se dos estribos e pôr-se de pé, meio sufocado, com água a dar-lhe pelo pescoço! Já então as Galés castelhanas estavam tratando de cortar os cabos das fateixas com que tinham aferrado as portuguesas e começavam a retirar. Só que uma delas, por estar mais envolvida com uma das nossas, não se conseguiu safar. Ao mesmo tempo que o povo que estava na Ribeira puxava as duas Galés para terra, alando pelo virador da portuguesa, os que estavam nesta entraram na castelhana e depois de rija peleja tomaram-na. O combate tinha terminado. Singular combate este, em que a vitória dos portugueses se ficou devendo, acima de tudo, aos destemor e rapidez com que a arraia-miúda de Lisboa saiu a defender os seus navios!

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