(Junho de 1455)
No tempo do Infante Dom Henrique, largavam todos os anos de Lagos numerosas Caravelas que se dirigiam às costas recém-descobertas da Mauritânia e do Senegal, a fim de capturar escravos e comerciar com os indígenas. Numa primeira fase, a captura de escravos e comerciar com os indígenas. Na primeira fase, a captura de escravos era mais importante do que o comércio, numa segunda fase, a partir do momento em que se iniciou o tráfico do ouro do Sudão em quantidades apreciáveis (cerca de 1460), este tornou-se mais importante do que a captura de escravos. Como seria de esperar, durante aquela primeira fase, em que as povoações do litoral eram assaltadas pelo pessoal desembarcado das Caravelas, houve numerosos combates entre os Portugueses e os naturais. É um desses combates, cujas características permitem classificá-lo como um combate naval, que passamos a relatar, subretudo porque é típico da actividade marítima da época.
No ano de 1455, saiu de Lagos uma pequena Caravela cujo Capitão era Vicente Dias e que levava como passageiro o veneziano Luís Cadamosto, a quem se deve a descrição do ocorrido na viagem. Teria essa Caravela 45 tonéis, o que é o mesmo que dizer que teria capacidade para levar 45 tonéis de 40 a 50 almudes no porão, debaixo do convés. De notar que já nessa época as Caravelas portuguesas eram armadas com peças de artilharia para se defenderem dos ataques dos corsários e dos indígenas. Estando a Caravela de Vicente Dias fundeada no rio Senegal, juntaram-se-lhes duas outras que tinham saído de Lagos algum tempo depois dela. E, todas juntas, continuaram a viagem para sul, até chegarem ao rio Gãmbia, no qual entraram e começaram a subir. Nessa altura foram atacadas por quinze grandes Almadias, em que iam cerca de 150 negros armados com lanças, escudos, arcos e flechas. Trataram logo as Caravelas de se aprontar para combate colocando paveses na borda, isto é, escudos ou pranchas de madeira, e reforçando os toldos, a fim de proteger as guarnições contra os arremessos das flechas envenenadas dos atacantes. As Almadias rodearam uma das caravelas que ia mais adiantada e, depois de alguns minutos de observação, começaram a atacá-la com flechas. Responderam os da Caravela disparando a artilharia, o que, obviamente, causou grande assombro nos atacantes.
Mas, pelos vistos, não os atemorizou, pois que continuaram a aproximar-se e lançar flechas. Já mais perto, começaram também a sofrer o tiro das bestas, além dos disparos dos canhões. Entretanto, as outras duas Caravelas aproximaram-se e juntaram o seu fogo ao da companheira que estava sendo atacada. Tendo já numerosos mortos e feridos, as Almadias cessaram os seus ataques e afastaram-se para fora do alcance dos canhões. Tentaram então os portugueses chegar à fala com os negros para os convencer a negociar, mas nada conseguiram. Mais tarde, tendo o vento refrescado, procuraram as Caravelas ir fundear mais perto deles. Mas logo que se aperceberam desse movimento, as Almadias meteram-se pelos meandros do rio e desapareceram.
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