Costa portuguesa
(Setembro de 1469)
Nos finais do século XV era frequente a presença de corsários, sobretudo da Bretanha e da Andaluzia, ao largo da costa portuguesa, os quais, apesar de Portugal estar em paz com a França e com Castela, atacavam sem o menor escrúpulo a nossa navegação. Quando um navio português era capturado por um corsário, o Rei de Portugal, regra geral, apresentava um protesto diplomático junto do respectivo soberano e, simultaneamente, autorizava os comerciantes portugueses lesados a organizar armadas para apresar navios da nação do corsário e neles se ressarcirem das perdas que haviam sofrido. Porém, uma vez no mar, os nossos corsários não eram melhores do que os outros e não se coibiam de exeder os limites impostos pelas cartas de corso, capturando indistintamente todos os navios que passavam ao seu alcance. Era então a vez de os comerciantes bretões, andaluzes, venezianos ou ingleses se queixarem aos respectivos monarcas, os quais, ao mesmo tempo que protestavam junto da corte portuguesa, passavam cartas de corso aos seus corsários, autorizando-os a atacar os nossos navios. E, deste modo apesar das diversas cortes europeias manterem excelentes relações umas com as outras, o mar transformara-se numa verdadeira selva, em que todos eram inimigos de todos e onde a única lei que vigorava era a lei do mais forte. Em Junho de 1469 apareceu na costa portuguesa um corsário francês de nome Culam (ou Colombo), que se julga ser parente de Cristóvão Colombo. Aliás, é muito provável que o próprio Cristóvão Colombo, ainda muito novo, estivesse embarcado na armada desse seu parente.
Logo que Dom Afonso V teve conhecimento dos prejuízos que Colombo estava causando ao nosso comércio marítimo, mandou organizar uma armada para lhe dar caça. Mas encontrar um corsário astuto e experimentado no alto mar era, nesse tempo, a mesma coisa que procurar uma agulha num palheiro. E a armada regressou sem ter conseguido chegar ao contacto com ele. Porém, continuando a chegar notícias de novos apresamentos efectuados por Colombo, foi mandada aprontar uma segunda armada para o perseguir, que terá saído para o mar em fins de Setembro ou princípios de Outubro. Desta vez, a sorte bafejou os portugueses. A armada do corsário foi encontrada e desbaratada. Do combate propriamente dito pouco se conhece. Os navios de Colombo eram oito, provavelmente Naus. Os portugueses não se sabe quantos eram. Como nesse tempo ainda não se usava artilharia de grosso calibre a bordo, a luta deverá ter sido travada principalmente à arma branca no seguimento das abordagens. Ao certo, sabe-se que a Nau "Baldaia", da cidade do Porto, aferrou a Nau do próprio Colombo, de que acabou por se apoderar depois de uma renhida peleja. Ao verem a sua capitânia tomada é provável que os restantes navios do corsário se tenham rendido ou posto em fuga. Quanto a Colombo, parece que terá sido capturado e trazido para Lisboa.
O que é certo é que no ano seguinte (1470) volta para o mar, desta vez para fazer guerra de corso ao serviço do Rei de Portugal! De notar que na época, os vínculos de nacionalidade eram ainda relativamente frouxos. O que contava era sobretudo a menagem prestada pelo cavaleiro ao seu senhor. Não é portanto, de estranhar que de um ano para o outro o corsário Colombo se tenha transformado de inimigo em fiel aliado dos portugueses.
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