CONQUISTA
DO TERRIÓRIO E CONSOLIDAÇÃO DA NACIONALIDADE
(1139-1367)
Situação
político-militar
Portugal
nasceu como estado independente numa época em que a Europa em pleno período
feudal, que se encontrava dividida em numerosas unidades politicas de reduzida
dimensões que frequentemente se guerreavam umas às outras. Aquilo que viriam a
ser mais tarde, a França, a Inglaterra, a Alemanha, a Itália, e a Espanha, era
então um mosaico de pequenos reinos e principados, em constante mutação incapazes
de exercer qualquer influência politica ou militar com carácter duradouro, para
além das suas fronteiras. Na Península Ibérica, embora com lentidão, perseguia,
o movimento de Reconquista.
As tomadas de Lisboa em 1147 e de Silves em 1189,
pelos Portugueses desencadeiam uma forte reação muçulmana. Os Cristãos são
derrotados na sangrenta Batalha de Alarcos em 1195 e os «Mouros» fazem
incursões até às proximidades de Leiria. Com o decorrer do tempo aqueles
recompõem-se e acabam por alcançar vitórias decisivos em Navas de Tolosa em
1212 e no Salado em 1340.
A partir daí a expulsão dos Muçulmanos de toda
Península Ibérica torna-se apenas uma questão de tempo. Desde o começo,
Portugal afirma a sua identidade nacional como sendo grosso modo, a zona
periférica da Península voltada para o Atlântico.
A sua posição geográfica é
particularmente importante, porque ao longo das suas costas passam as linhas de
transporte marítimo que unem a Europa do Norte com o Mediterrâneo ou, o que é o
mesmo, a Europa do Norte com a Europa do Sul. Numa época em que a capacidade
dos transporte terrestres era muito limitada e o comércio internacional se
fazer quase que exclusivamente por via marítimo, tal facto tinha naturalmente
numerosas vantagens, tanto de ordem militar, como de ordem económico e
cultural. É sobretudo graças ao auxílio que recebe das armadas de cruzados que
passam ao longo das suas costas que Portugal consegue levar a cabo grandes
empreendimentos militares, como foram as conquistas de Lisboa em 1147, Silves
em 1189 e Alcácer do Sal em 1217, que lhe permitem concluir a conquista do
território muito antes de Castela, que acantonada no interior da Península, só
podia contar com as suas próprias forças.
Durante o período que estamos
considerando têm lugar por diversas vezes curtas guerras com Castela. Mas são
guerras que não chegam a ameaçar a independência de qualquer dos países e que
cessam imediatamente logo que recrudesce a ameaça muçulmana. Nas grandes
batalhas do final da Reconquista, Portugueses e Castelhanas lutam lado a lado,
numa total fraternidade de armas.
Situação
económica
- Uma das maiores vantagens de Portugal sob o ponto de vista naval é que, as, suas, costas, desprovidas de ilhas, situadas a uma distância relativamente grande do canal da Mancha e do estreito de Gibraltar e batidas durante, o Inverno pelos temporais de sudoeste e durante o Verão pela nortada não eram terreno propício, para, actuação de corsários e piratas, flagelo da navegação desde os tempos remotos. A partir das conquistas de Lisboa em 1147 e de Sevilha em 1248, que empurram os piratas mouriscos para o interior, começaram a florescer na costa portuguesa as actividades marítimas, pesca, extracção de sal navegação de cabotagem, navegação de longo curso, etc. Cresce o número de vilas e povoações ribeirinhas, multiplicam-se os portos de mar, intensificam-se as trocas comerciais com o estrageiro. Do crescimento económico do litoral beneficiam também as zonas do interior, onde aumenta a produção de vinho, azeite, cortiça, couros e outros artigos destinados à exportação. No decurso do período que vai desde a fundação da nacionalidade em 1139 até ao fim do reinado de D. Pedro I em 1367.
Portugal transforma-se progressivamente de um pequeno condado rural
num estado predominantemente comercial e marítimo. Ao terminar o reinado de D.
Pedro I, porventura um, dos períodos mais felizes de toda a nossa história, floresciam
as indústrias relacionadas com as actividades marítimas, o comércio e, embora
em menor escala, a agricultura. Os cofres do rei e dos comerciantes estavam bem
recheados. Lisboa e o Porto, tinham-se transformado em grandes centros
populacionais e mercantis, o Tejo parecia uma floresta de mastros, já que, por
vezes chegavam a juntar nas suas águas mais de quatrocentos navios, entre
nacionais como estrangeiros.
Estrutura
social
Durante
este período, dominado pelas preocupações da guerra contra os Mouros tanto
dentro do território nacional como fora dele, a Nobreza adquire grande prestígio,
e poder, tanto politico como económico, uma vez que dela dependia
essencialmente o êxito das operações militares. A seu lado, conserva-se o
Clero, igualmente prestigiado e poderoso por ser o guardião dos valores morais
em que assentava a sociedade e a única classe social que possuía instrução. A
classe popular na sua maior parte vivia da agricultura. No entanto, à medida
que o País se vai se vai transformando de um condado predominantemente rural
num reino predominantemente marítimo e comercial, começam a surgir e a ganhar
força novos grupos sociais especialmente nas cidades de Lisboa e Porto, uma
burguesia de abastados, mercadores e artífices das indústrias de construção
naval e outros com elas relacionadas.
Ambiente
cultural
O
ambiente cultural deste período, em todas as suas manifestações, é dominado
pelos valores do Cristianismo. Não obstante à medida que se intensificam as
relações marítimas e comerciais com o exterior, especialmente com os países do
norte da Europa, começa a desenhar se um outro traço característico da cultura
e do carácter português, o cosmopolitismo.
Os Portugueses descobrem que possuem
uma propensão natural para conviver com os outros povos. Pelo facto de os
Portugueses viverem voltados para o mar e terem muito poucas relações com o
resto da Península, a língua portuguesa diferencia-se claramente da castelhana
a partir do reinado de D. Dinis.
Marinha
Durante
este período, os navios mais utilizados no comércio marítimo eram as naus e as
barcas.
A nau era um navio de dimensões relativamente grandes com três mastros,
envergando uma vela redonda tanto no traquete, como no grande e uma vela latina
no da mezena. A barca era um navio de dimensões bastante mais modestas,
geralmente com um único mastro envergando uma vela redonda. Como é evidente,
com este tipo de aparelho as naus e as barcas só podiam navegar com vento de
popa ou da alheta, o que as obrigava, muitas vezes, a permanecer largos meses
nos portos à espera de ventos favoráveis.
Quando necessário as naus e as barcas
podiam ser utilizadas como navios de guerra, bastando para isso meter-lhes
dentro, uns tantos homens de armas que atacavam os navios contrários com armas
de arremesso, flechas, dardos, pedras, lanças de fogo, etc. Para seguidamente,
se lançarem à abordagem.
No entanto, os verdadeiros navios de guerra deste
período eram as galés navios leves e finos capazes de desenvolver uma
velocidade relativamente elevada, tanto navegando a remos como à vela. Com uma
guarnição de 150 remadores, com cerca de 40 soldados, talvez com 5 marinheiros
e 5 oficiais. Mas, tal como acontecia com as naus e as barcas as galés, apesar
de envergarem nos seus mastros velas latinas, não conseguiam bolinar, devido ao
seu reduzido calado. Por isso, em combate, e durante a entrada e saída dos
portos arriavam as velas e passavam a fazer uso dos remos.
Tanto nas galés como
nos navios de vela utilizados em operações de guerra havia uma distinção clara
entre o marinheiro e o soldado. Nas galés, havia uma terceira classe de
pessoas, os remadores. No tempo dos nossos primeiros reis foram utilizados
pescadores como remadores das galés. Cada vila ou aldeia de pescadores era
obrigada a fornecer um por cada vinte para o serviço das galés de el-rei quando
lhe era ordenado. Mais tarde, dada a extrema dureza de tal serviço, passaram a
ser apenas condenados e cativos para constituir as chusmas das galés. Convém
referir que as galés tinham, entre outras, duas limitações importantes, a
primeira é que, dada a sua configuração, aguentavam-se mal com vaga grossa, a
segunda é que, devido à grande quantidade de gente que transportavam, entre
soldados, marinheiros, e remadores (cerca de cento e cinquenta) e ao pequeno
espaço de que dispunham para levar água e mantimentos, o seu raio de acção era
muito limitado.
Por isso, sempre que o podiam fazer, abicavam à praia ao
anoitecer para cozinhar e dormir. Em viagens longas tinham de ser acompanhadas
por naus ou barcas que transportassem os mantimentos e a água. Quanto aos
processos de navegação, todos os navios desse tempo utilizavam
preferencialmente a navegação costeira, só recorrendo à navegação estimada em
travessias de curta duração fora de vista de terra. A determinação da latitude
a partir da observação da altura meridiana do sol ou da estrela polar já era
conhecida mas raramente utilizada, devido à falta de precisão dos instrumentos
da época e, por certo, à escassez de tábuas de efemérides astronómicas.
Até ao
reinado de D. Dinis Portugal não possuía propriamente uma marinha de guerra.
Para operações militares de grande envergadura que exigiam a cooperação de uma
armada, como foram as conquistas de Lisboa, Silves e Alcácer do Sal, os
primeiros reis recorreram ao concurso das frotas de cruzados que nas suas
viagens para a Terra Santa vinham, por vezes reabastecer-se e repousar nos
nossos portos.
Para defesa da navegação e das povoações ribeirinhas contra os
ataques dos corsários e piratas mouriscos recorriam aqueles reis ao expediente
de quando necessário, mandar armar a título temporário algumas galés que tinham
em Lisboa. Porém com o rápido crescimento das actividades marítimas, que se
acentua a partir do reinado de D. Dinis, tal solução deixou de servir. Resolveu
então este rei criar uma armada com carácter permanente, inicialmente
constituída por dez galés, para o que contratou o genovês Manuel Pessanha, ao
qual concedeu a par de outras mercês, o título de almirante. Para oficiais das
ditas galés, tanto de mar como de guerra, vieram também para Portugal duas
dezenas de genoveses que desempenhavam idênticos cargos na marinha de Génova,
ao tempo, uma das mais afamadas do Mediterrâneo.
A partir de então, passa a
andar no mar, sempre que as condições meteorológicas o permitem, uma esquadra
de guarda-costa geralmente constituída por quatro naus e três galés. Até ao
reinado de D. Fernando, apesar de vicissitudes de vária ordem a armada
portuguesa vai sempre crescendo em força e prestigio. Segue-se a descrição das
principais batalhas e combates navais ocorridos entre 1139 e 1250 que chegaram
ao nosso conhecimento.
Cabo
Espichel
(Julho
de 1180)
Depois
da conquista de Lisboa por D. Afonso Henriques, em 24 de Outubro de 1147,
começaram a aparecer com frequência ao largo da barra do Tejo corsários e mesmo
armadas mouras com o fito de apresar os navios de comércio que em número cada
vez maior passaram a frequentar aquelas paragens.
Em 1179, uma dessas armadas teria mesmo chegado a penetrar no estuário do Tejo, apresando vários navios que aí se encontravam, ao mesmo tempo que desembarcava grupos armados que durante alguns dias assolaram as duas margens destruindo hortas e pomares e fazendo numerosos cativos. Embora faltem os documentos históricos comprovativos, referem alguns cronistas que no ano de 1180, estando el-rei D. Afonso Henriques em Coimbra e tendo notícia de que ao largo da barra do Tejo andava novamente uma armada de galés mouras interceptando as comunicações marítimas, encarregou D. Fuas Roupinho, um dos mais afamados cavaleiros do seu tempo, de armar as galés que havia em Lisboa e sair a combatê-la.
Assim o fez D. Fuas, que navegando para sul em demanda do estuário do Sado, onde constava achar-se fundeada a armada inimiga, a encontrou inesperadamente ao largo do cabo Espichel a 15 ou a 20 de Julho. Travou-se logo um furioso combate em que foram mortos muitos mouros, entre os quais o seu almirante, acabando por ser tomadas todas as galés inimigas, que foram em triunfo para Lisboa, facto que, naturalmente, deu lugar a grandes festejos por parte da população da cidade. Terá sido este o primeiro combate importante que os Portugueses travaram no mar e não será de estranhar que a vitória nele alcançada lhes tenha aguçado o apetite para novas façanhas do género.
Em 1179, uma dessas armadas teria mesmo chegado a penetrar no estuário do Tejo, apresando vários navios que aí se encontravam, ao mesmo tempo que desembarcava grupos armados que durante alguns dias assolaram as duas margens destruindo hortas e pomares e fazendo numerosos cativos. Embora faltem os documentos históricos comprovativos, referem alguns cronistas que no ano de 1180, estando el-rei D. Afonso Henriques em Coimbra e tendo notícia de que ao largo da barra do Tejo andava novamente uma armada de galés mouras interceptando as comunicações marítimas, encarregou D. Fuas Roupinho, um dos mais afamados cavaleiros do seu tempo, de armar as galés que havia em Lisboa e sair a combatê-la.
Assim o fez D. Fuas, que navegando para sul em demanda do estuário do Sado, onde constava achar-se fundeada a armada inimiga, a encontrou inesperadamente ao largo do cabo Espichel a 15 ou a 20 de Julho. Travou-se logo um furioso combate em que foram mortos muitos mouros, entre os quais o seu almirante, acabando por ser tomadas todas as galés inimigas, que foram em triunfo para Lisboa, facto que, naturalmente, deu lugar a grandes festejos por parte da população da cidade. Terá sido este o primeiro combate importante que os Portugueses travaram no mar e não será de estranhar que a vitória nele alcançada lhes tenha aguçado o apetite para novas façanhas do género.
Ceuta
(17
de Outubro de 1182)
Depois da vitória do cabo Espichel em 1180, a armada de D. Fuas Roupinho voltou a fazer-se ao mar, correndo as costas de Portugal e do Algarve e aventurando-se mesmo de entrar na baía de Ceuta, onde apresou grande número de embarcações que trouxe para Lisboa. E, embora não haja notícias disso, é muito provável que durante o ano seguinte também não tenha deixado de inquietar os mouros. Naturalmente que estes, perante tal situação, não poderiam ficar de braços cruzados. Não admira, portanto que tivessem começado a organizar uma poderosa armada destinada a pôr cobro às arremetidas da armada portuguesa.
E assim, a 17 de Outubro de 1182, quando D. Fuas Roupinho que andava assolando as costas do Algarve com uma armada de vinte e uma galés, se viu forçado a passar o estreito de Gibraltar para fugir do tempo, encontrou-se inesperadamente, ao largo de Ceuta, com uma armada moura de cinquenta e quatro galés que se estava preparando para ir em sua busca. Não teve D. Fuas Roupinho outra alternativa que não fosse a de aceitar o combate em condições tão desfavoráveis. Desta vez, como seria de esperar, dada a desigualdade numérica, a vitória coube aos mouros que mataram muitos portugueses entre eles, D. Fuas Roupinho, e apresaram onze galés. Embora não se conheçam pormenores da batalha, é de presumir que os mouros tenham ficado também bastante destroçados, uma vez que apesar da sua esmagadora superioridade numérica deixaram escapar cerca de metade das galés portuguesas.
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