terça-feira, novembro 24, 2015

Dom Afonso I


O Conquistador, 1.º Rei de Portugal.


Fundador da monarquia portuguesa e um dos vultos mais, notáveis da nossa história e da história da Idade Média, era mais conhecido pelo nome patronímico de D. Afonso Henriques. Seu pai, o Duque da Borgonha D. Henrique, viera a Espanha auxiliar o Rei D. Afonso VI, de Leão, na guerra contra os infiéis, e D. Afonso, ficando vitorioso, concedeu-lhe em recompensa a mão de sua filha ilegítima, D. Teresa, e o governo das terras de Portugal. D. Henrique era ambicioso, e não tardou a conseguir o ficar independente da espécie de suserania, que pesava sobre ele.


D. Afonso Henriques nasceu em Viseu, em 1109 e até aos doze anos esteve entregue aos cuidados de seu aio, D. Egas Moniz, honrado e lealíssimo carácter que, tantas provas, lhe deu de dedicação e amor. Aos catorze anos foi armado cavaleiro na Catedral de Zamora. 


Por morte de seu pai tendo D. Afonso apenas três anos, D. Teresa ficara governando Portucale durante a sua menoridade. Sendo ambiciosa, esforçava-se por subtrair os seus estados à suserania de Leão, daqui resultaram grandes lutas, em que o espírito da independência, que sempre tinham manifestado os barões do sul do Minho, auxiliou poderosamente as suas vistas ambiciosas. D. Teresa, porém, deixou-se cativar pelo prestígio dum fidalgo galego, D. Fernão Peres, Conde de Trava, e os projectos de ambição tomaram um carácter mais pessoal. O Conde de Trava insinuou-se no espírito de D. Teresa, pretendendo desposá-la para assim desapossar o jovem Afonso Henriques dos estados que de direito lhe pertenciam. 

D. Afonso, apesar dos seus verdes anos, e que não vira nunca com bons olhos os amores de sua mãe, tornou-se chefe do movimento revolucionário, preparado pelos fidalgos, verdadeiros e leais portugueses, que exigiam a conservação da sua independência. D. Afonso VII, Rei de Leão, que sucedera a seu pai D. Afonso VI, não desistindo do intento de conservar a suserania sobre os estados de Portucale, aproveitou o ensejo, para o invadir em tom de guerra, cercando exactamente Guimarães. Esta invasão veio perturbar dalguma forma os dois partidos, o de D. Teresa e o de seu filho, e acirrar ainda mais os ânimos, o jovem príncipe português, vendo-se a braços com a guerra interna, não desejava envolver-se em conflitos externos, e por isso, querendo ver-se livre o mais breve possível do seu adversário, prometeu tudo quanto ele exigia, empenhando D. Egas Moniz a sua palavra em como a promessa seria cumprida. D. Teresa também acedeu às suas exigências, D. Afonso retirou-se tranquilamente para os seus estados. Então, tornou-se ainda mais encarniçada a guerra entre os dois partidos, e estando D. Teresa em Guimarães com o Conde de Trava, D. Afonso Henriques marchou contra eles seguido pela maior parte dos fidalgos portugueses. O Conde do Trava saiu-lhe ao caminho com o seu exército nos campos de S. Mamede, onde se deu renhida batalha, em que ficou vitorioso o jovem príncipe, sendo expulsos do Reino D. Teresa e o Conde de Trava. Esta batalha deu se em 1128. 


O entusiasmo levou então D. Afonso Henriques a esquecer a promessa feita pelo seu aio, mostrando-se resolvido a não a cumprir. D. Egas Moniz entendeu que era preciso uma vítima expiatória, para não manchar a aurora do novo Reino, e foi apresentar-se ao Rei de Leão, acompanhado de sua mulher e filhos, oferecendo-lhe a sua vida e a de todos os seus, para resgate da sua fé. D. Afonso VII impressionou-se muito com a grandeza desta dedicação e honradez, e despediu o cavaleiro, incólume e livre, dando-lhe provas do grande apreço que lhe merecia. Nas guerras com Leão e as lutas, tanto internas como externas, que teve de sustentar, dominado pelo pensamento de consolidar a independência de Portugal, adquiriu D. Afonso Henriques a firmeza e o heroísmo, que depois tão brilhantemente se haviam de afirmar e que tantos respeitos lhe conquistaram.

Enquanto se entretinha em combates contra os leoneses, ficando quase sempre vencedor, soube que os muçulmanos haviam invadido os seus estados. Pela primeira vez se via obrigado a ocupar-se desses dominadores da península, os mouros haviam tomado Leiria, derrotado os cristãos em Tomar, e tinham chegado quase às portas de Coimbra. Esta circunstância obrigou o jovem príncipe a pedir pazes a seu primo, D. Afonso VII. Então fortificou a parte do sul do Reino, e partindo para o, Alentejo deu-se a célebre batalha de Ourique, em 1139, em que o seu valor e a sua extraordinária valentia se armaram dum modo heróico. Os nossos historiadores quiseram, que nesta batalha fosse D. Afonso aclamado Rei, pelos soldados entusiasmados. Mas as datas opõem-se, porque o combate de Ourique deu-se em julho de 1139, e há um documento de 1 de outubro desse ano, em que D. Afonso Henriques recebe ainda o tratamento de infante. O facto é que, desde o princípio do seu governo, os súbditos foram pouco a pouco habituando-se a tratá-lo como Rei, mas em 1140 é que principiaram a aparecer documentos repetidos, tratando-o como Rei de Portugal. A ambição de D. Afonso era a realeza, mas o seu primo, D. Afonso VII, não queria de forma alguma reconhece-lo como Rei. Em 1143, dirigiu-se então ao Papa Inocêncio II, declarou Portugal tributário da Santa Sé, com o censo anual de quatro onças de ouro, e reclamou para a nova monarquia, em troca, a protecção pontifícia. O Papa acedeu. Ainda assim D. Afonso VII, assinando depois em Samora a paz com seu primo, não lhe reconheceu a realeza, mas não protestou contra o título de Rei, que ele tomava na escritura, a que assistiu o legado do Papa, sancionando com a sua presença a aurora da nova monarquia. A coroa estava finalmente consolidada na fronte de D. Afonso Henriques. Tinham-lha oferecido nas pontas das espadas os seus valentes cavaleiros, colocaram a ele, audaciosamente, sobre a cabeça com as mãos vitoriosas, e inclinando-a levemente diante da tiara, assegurara-lhe a inviolabilidade, garantida pelos raios protectores do Vaticano.


D. Afonso I, vendo conquistada definitivamente a independência de Portugal, ambicionou aumentar o território, apertado em limites estreitíssimos. Cingido ao norte e a leste pelo Reino de Leão, ao ocidente pelo oceano, Portugal só podia ampliar-se para o sul à custa de renhidas batalhas e porfiada luta. Começou então uma série de conquistas, qual delas mais valentemente disputada aos mouros. Em 1147 é Santarém tomada por surpresa, durante vinte e dois anos de 1147 a 1163, houve, continuas invasões na província de Alcácer do Sal, a cidade é que sempre resistia, caindo afinal nas mãos dos portugueses em 1158. Desde essa data até 1169, a vida de D. Afonso Henriques foi uma série de combates em que sempre saia vencedor, à conquista de Lisboa, seguira-se a de Santarém, as vilas de Palmela, Almada e Sintra, caíram em poder do novo Rei, que em breve se tornou também senhor de todas as terras entre o Mondego e o Tejo. Beja foi tomada em 1162, Évora, Moura, Serpa e Sesimbra, em 1166. Continuou sempre combatendo, apesar de já muito adiantado em anos, tendo por companheiros esforçados homens destemidos como Martim Moniz, Geraldo sem pavor, Gonçalo Mendes da Maia, Fernando Gonçalves, Roberto Cruz, etc. O período das gloriosas façanhas militares do fundador da monarquia encerra-se epicamente com a heróica resistência de Santarém e Lisboa. Em 1184, contra a invasão do Emir Iussuf Abu Jacub, morto com uma lançada, quando atravessava o Tejo, por D. Sancho, filho de D. Afonso Henriques.

O grande conquistador casara em 1146 com D. Mafalda, filha de Amadeu II, Conde de Mariana e Sabóia. 



Dizem os historiadores que era de estatura atlética e porte majestoso. Fundou o convento de Santa Cruz de Coimbra, onde jaz sepultado, Santa Maria de Alcobaça, S. João Baptista de Tarouca, e S. Vicente de Fora em Lisboa. Fundou duas ordens militares. A da Ala, que já, não existe, e a de S. Bento de Avir. Introduziu em Portugal os cavaleiros de Rodes, e começou a ponte de Coimbra.

Ficha genealógica:

D. Afonso Henriques, nasceu possivelmente em Viseu, em 1109, e faleceu em Coimbra em 6 de dezembro de 1185, faleceu com 76 anos. Casou em 1145/1146 com D. Mafalda, que nasceu em data incerta, e morreu em Coimbra a 4 de novembro de 1157, ficando sepultada no Convento de Santa Cruz, filha de Amadeu II, Conde de Sabóia e Piemonte, e da Condessa Mafalda de Albon. Tiveram os seguintes filhos:

1. D. Henrique, nasceu a 5 de março de 1147 e morreu jovem.

2. D. Sancho, que herdou a coroa.

3. D. João, nasceu e morreu em data incerta.

4. D. Urraca, nasceu em Coimbra, por volta de 1150, e casou com D. Fernando II, Rei de Leão, por volta de 1165. Sendo repudiada em 1179, faleceu em ano incerto.

5. D. Mafalda, nasceu em Coimbra, em ano incerto. Noiva do Conde D. Raimundo de Berenguer, filho do Conde de Barcelona, em 1160. Faleceu pouco depois.

6. D. Teresa, nasceu em ano incerto. Casou com Filipe de Alsácia, Conde de Flandres, por volta de 1177. Faleceu depois de 1211, em Furnes.

7. D. Sancha, nasceu e faleceu em data incerta.

O monarca teve os seguintes filhos bastardos:

8. D. Fernando Afonso, referido em documentos de 1166 a 1172.

9. D. Pedro Afonso (n. e f. em data incerta), por muitos considerado também irmão do monarca, pois tomou parte na conquista de Santarém e esteve em Claraval antes de 1153.

10. D. Afonso, nasceu em ano incerto. Mestre da Ordem de S. João de Rodes, de 1203 a 1206. Faleceu em 1 de março de 1207.

11. D. Urraca, que nasceu e faleceu em data incerta.

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