Pesquisar neste blogue

quarta-feira, dezembro 10, 2014

Batalhas Navais-Índico-1509

Batalha de Diu
(3 de fevereiro de 1509)


A Batalha de Diu foi uma batalha naval que teve lugar a 3 de fevereiro de 1509, nas águas próximas a Diu, na Índia. Nela se confrontaram forças navais do Império Português e uma frota conjunta do Sultanato Burji do Egipto (de natureza mameluco), do Império Otomano, do Samorim de Calecute, e do Sultão de Guzerate. A batalha revestiu-se de um carácter de vingança pessoal para Dom Francisco de Almeida, que perdera o seu filho Dom Lourenço no desastre de Chaul, em 1508. O efeito psicológico desta batalha foi aniquilador, a vitória nesta batalha era muito importante, pois mostrava aos indianos que a marinha portuguesa não era só invencível para eles, indianos, mas também para os muçulmanos e venezianos.


Quando os portugueses chegaram à Índia, depararam-se de imediato com a oposição dos mercadores árabes. Os portugueses pretendiam efectuar o comércio de mercadorias desde a Índia para a Europa através da rota do cabo, o que levaria a que Portugal se transformasse num potentado comercial, desafiando assim o poder dos árabes no oceano Índico que eram quem controlava o comércio. Quando os portugueses chegaram à Índia em 1498, o comércio de especiarias naquela região era controlado por mercadores muçulmanos, na sua esmagadora maioria árabes, que transportavam as mercadorias entre a costa ocidental da Índia e o mar vermelho. Ali, caravanas dirigiam-se para as cidades de Alexandria ou Beirute, nos domínios do Sultão da dinastia dos mamelucos. A estas cidades do Sultão, chegavam por sua vez as galés de Veneza, a qual controlava grande parte do comércio no mediterrâneo, tendo os seus mercadores o quase monopólio do comércio das especiarias asiáticas na Europa. Com a chegada dos portugueses à Índia, abateu-se sobre os mamelucos do Egipto, os venezianos, os comerciantes árabes e também sobre os muçulmanos do subcontinente indiano um manto de desespero.


Só como exemplo, pode-se dizer, que se em 1498, Veneza com todo o seu poder económico não tinha tido dinheiro suficiente para comprar toda a pimenta e especiaria que havia nos portos do Mediterrâneo Ocidental, penas quatro anos depois, em 1502, os mercadores de Veneza conseguiram comprar apenas quatro fardos de pimenta. Em 1506, o comércio das especiarias tinha sido completamente interrompido, não chegando a Veneza um só grão de pimenta.


Na realidade, os portugueses tinham conseguido, de uma só vez, desafiar, e colocar em causa o poder económico de nações inteiras, que de uma forma ou de outra viam a sua prosperidade em risco com a chegada dos portugueses. A maior potência com capacidade para fazer qualquer coisa do ponto de vista militar, era o Sultão dos Mamelucos de Alexandria, Kansuh Al Ghuri. Este, é pressionado pelos comerciantes de Alexandria e de Beirute, e recebe os embaixadores dos reinos muçulmanos da Índia, com o Samorim de Calecut à cabeça, recebeu o Xeque de Áden, cidade-estado do Mar Vermelho e recebe também uma missão secreta que lhe foi enviada pelo Conselho dos Dez, autoridade máxima da República de Veneza, que é recebido em segredo, porque os venezianos, cristãos, não querem ser vistos no mundo ocidental como aliados dos muçulmanos. Mas o objectivo de todos eles, é simples: Expulsar os portugueses das águas do Oceano Índico, se necessário pela força.


O Sultão de Alexandria, manda ainda uma missão ao Papa em Roma, exigindo que este ordene a retirada dos portugueses, sob pena de mandar matar todos os cristãos residentes nos seus estados e de destruir o Santo Sepulcro. O Papa manda o emissário a Lisboa, mas o rei de Portugal, que já tinha sido informado em Outubro de 1504, tinha rapidamente preparado um plano de acção, de tal forma que quando o emissário chegou à capital portuguesa, em Junho de 1505, já uma esquadra de 22 navios e 1.500 soldados destinada a reforçar o poder português na Índia se tinha feito ao mar havia três meses.


Enquanto os portugueses avançavam para a Índia a aliança estabelecida contra Portugal debatia-se com indecisões e planos de acção. A resposta da aliança é tardia e só em 1507, com as forças portuguesas já na Índia é que o Sultão se decide a preparar uma armada para combater os portugueses que entretanto tinham chegado ao Índico com mais homens e navios. Com o apoio de Veneza, que lhe fornece grandes quantidades de madeira e artesãos. Mas os cavaleiros da ilha de Rhodes (comandados por um português) interceptam parte da madeira destinada à construção de naus e galés, pelo que a esquadra será constituída apenas por seis grandes naus e seis galeras, onde seguiam 1.600 soldados, num total de 2.500 homens entre os quais venezianos e muitos marinheiros turcos, já que não havia uma grande tradição naval entre os mamelucos.


Os doze navios, da armada, do Sultão, fizeram-se ao mar, no final de 1507, e navegaram na direcção da cidade de Diu, com o propósito de se juntar à esquadra de Melik Yaz, comandante russo ao serviço do rei de Gujarat, que era constituída por quarenta galeras. No início de 1508, estas duas esquadras, constituídas por 52 navios surpreenderam uma força, comandada por Dom Lourenço de Almeida filho do Vice-Rei da Índia. Por questões de vento, apenas uma das naus portuguesas pode dar luta aos navios da aliança, pelo que o navio foi derrotado, tendo morrido 80% da sua tripulação, contando-se entre as vítimas o próprio filho do Vice-Rei. A batalha não passou de um recontro sem consequências pois nenhum navio de carga se perdeu, e as duas esquadras voltaram a reorganizar-se mas a morte do filho levou o Vice-Rei, Dom Francisco de Almeida a jurar vingança.


Com o combate em que morreu o próprio filho do Vice-Rei português, o prestigio da frota do Sultão e da frota do Gujarat, aumentaram muito e julgando ser possível a derrota dos portugueses, uma grande esquadra pequenas fustas foi enviada pelo Samorim de Calecut como reforço das forças que deveriam enfrentar os portugueses. Mas a resposta destes começou logo a ser planeada, e dela iria resultar na batalha de Diu. Dom Francisco de Almeida reuniu uma esquadra constituída por dezanove navios, com 1.900 homens zarpou da cidade de Cochim A 12 de Dezembro de 1508 com o objectivo de Combater a esquadra do Sultão do Egipto e dos seus aliados. Pelo caminho, e conforme planeado, no caso de não ser encontrada a esquadra inimiga, a esquadra portuguesa dirigiu-se à cidade inimiga de Dabul, a qual foi conquistada numa batalha que teve início a 29 de Dezembro, mesmo perante a presença de 6.000 homens e artilharia na fortaleza e da presença de quatro grandes navios do reino de Cambaia que foram no entanto destruídos pela artilharia das naus portuguesas. Após ter aportado a Chaul, ao aproximar-se do inevitável confronto, Dom Francisco de Almeida enviou uma carta a Diu para Meliqueaz, que dizia:

"Eu o visorei digo a ti honrado Meliqueaz, capitão de Diu, e te faço saber que vou com meus cavaleiros a essa tua cidade, lançar a gente que se aí acolheram, depois que em Chaul pelejaram com minha gente, e mataram um homem que se chamava meu filho; e venho com esperança em Deus do Céu tomar deles vingança e de quem os ajudar; e se a eles não achar não me fugirá essa tua cidade, que me tudo pagará, e tu, pela boa ajuda que foste fazer a Chaul; o que tudo te faço saber porque estejas bem apercebido para quando eu chegar, que vou de caminho, e fico nesta ilha de Bombaim, como te dirá este que te esta carta leva."


A 2 de Fevereiro, os navios portugueses chegaram às águas de Diu. À esquadra do Sultão (comandada por Hussein Al Kürdï), e à do rei de Gujarat (comandada por Melik Yaz) somava-se já a esquadra de duzentas Fustas armadas com canhões enviada pelo Samorim de Calecute que se encontrava fundeada no refúgio concedido pelas águas baixas da baía que se forma entre o continente e a ilha de Diu. Embora com um grande número de navios e barcos armados de vários tipos, as forças que enfrentavam os portugueses sofriam de vários problemas. A esquadra que tinha vindo do Egipto, construída com o auxílio de Veneza estava reduzida a metade dos homens e na Índia não é fácil encontrar tripulações que aceitassem ir para o mar.


Ao mesmo tempo, tinham chegado notícias (que aliás se confirmaram) da chegada de uma grande força portuguesa ao sul da Índia, o que contribuiu para aumentar a desconfiança, o medo e o temor de uma expedição portuguesa com o intuito de vingar a morte do filho do Vice-Rei. O comando da totalidade das forças navais foi entregue a Hussein Al Kürdï, o comandante da força do sultão do Egipto, enquanto Melik Yaz se retira alegadamente por causa de problemas internos no Gujarat. À vista da esquadra de Dom Francisco de Almeida, que inicia o bloqueio de Diu à tarde, Hussein Al Kürdï manda atacar os navios portugueses com os navios mais pequenos a remos, das frotas de Diu e de Calecute, bem assim como com as galés vindas do Egipto e quatro dos principais navios da esquadra de Diu. No entanto, a ondulação impediu qualquer sucesso, pela dificuldade em fazer pontaria, o que levou os navios a remos indianos a voltar para trás, para as águas baixas, em frente da fortaleza da cidade.


Entretanto, a utilização dos navios, de Diu, pelo comandante egípcio, (Hussein Al Kürdï) desagradou a Malik Yaz, que voltou a Diu e deu ordens para que os seus navios voltassem para próximo da costa, onde deveriam ficar sob protecção da artilharia da fortaleza de Diu. No dia seguinte, os portugueses passaram à acção. Dos seus dezoito navios, quatro ficam na retaguarda. O Galeão Flor de la Mar com o comandante da esquadra, duas caravelas latinas, que pela sua mobilidade poderiam impedir a passagem de Fustas e Paraus juntamente com o mais pequeno navio, um Bergantim. Os restantes navios portugueses, atacam pelas 11:00 os navios das três esquadras que se encontram próximo da costa e sob alcance protector dos canhões da fortaleza de Diu. Embora alguns dos navios portugueses tivesse sido fortemente atingidas pela artilharia baseada em terra, eles conseguiram atingir as posições onde se tinha recolhido a esquadra inimiga. Mesmo considerando que alguns dos navios portugueses tinham maior calado e por isso maior dificuldade em passar no estreito e pouco profundo canal, a desorganização provocada pelo ataque inicial da artilharia dos navios portugueses, levou a que um dos principais navios da esquadra do Sultão do Egipto se afundasse rapidamente. Isto levou a aumentar ainda mais a desorganização e a falta de coesão entre as várias forças que defendiam Diu.


A situação era ainda mais complicada, porque não era possível utilizar a grande superioridade numérica das Fustas, armadas com artilharia, as quais não tinham espaço suficiente para fazer valer essa mesma superioridade numérica, ficando condicionados pelo espaço disponível, a atacar os portugueses em grupos pequenos, que iam sendo rechaçados pela artilharia dos navios portugueses. O comandante egípcio, fugiu do seu navio, quando a sua defesa se tornou insustentável e atravessou o canal até à costa norte, de onde escapou a cavalo em direcção à cidade de Cambaia.


Comandante da Frota de Portugal
Vice-Rei Dom Francisco de Almeida

Cinco Grandes Naus:

Frol de la mar



Vice-Rei Dom Francisco de Almeida
Capitão João da Nova

Belém



Capitão Jorge de Melo Pereira

Santo Espírito



Capitão Nuno Vaz Pereira

Taforea Grande



Capitão Pêro Barreto de Magalhães

Rei Grande



Capitão Francisco de Távora

Quatro Naus mais Pequenas:

Taforea Pequena 



Capitão Garcia de Sousa

Santo António



Capitão Martim Coelho

Rei Pequeno



Capitão Manuel Teles Barreto

Andorinho



Capitão Dom António de Noronha

Quatro Caravelas Redondas:


Capitão António do Campo

Capitão Pêro Cão

Capitão Filipe Rodrigues

Capitão Rui Soares

Duas Caravelas Latinas:



Capitão Álvaro Paçanha

Capitão Luís Preto

Duas Galés:



Capitão Paio Rodrigues de Sousa

Capitão Diogo Pires de Miranda

Um Bergantim:



Capitão Simão Martins

1.500 soldados Portugueses e 400 soldados malabares dos reinos de Cochim e Cananor, aliados de Portugal.


Comandante da Frota Aliada
Almirante Melik Yaz
(Russo almirante das forças navais do Rei de Gujarat)
Capitão-mor Hussein Al Kürdï
(Comandante da Esquadra do Sultão do Egipto)

Quatro Naus.


Duas Caravelas.


Quatro Galeotas.


Duas Galés.


Dos destroços da batalha constavam três bandeiras reais do Sultão Mameluco do Cairo, que foram transladadas para o Convento de Cristo, em Tomar, Portugal, sede espiritual dos Cavaleiros Templários, onde constam até aos dias de hoje. Dom Francisco de Almeida tinha entretanto sido substituído por Dom Afonso de Albuquerque, mas recusou-se a entregar o poder a este último, alegando motivos pouco razoáveis, para não voltar a Portugal sem vingar a morte do filho. Esta batalha assinalou o início do domínio europeu no oceano Índico, de maneira semelhante às batalhas de Lepanto (1571), do Nilo (1798), de Trafalgar (1805) e de Tsushima (1905) em termos de impacto. Como consequência, o poder dos Turcos Otomanos na Índia foi seriamente abalado, permitindo as que as forças Portuguesas, após esta batalha conquistassem rapidamente os portos e localidades costeiras às margens do Índico, como por exemplo Mombaça, Mascate, Ormuz, Goa, Colombo e Malaca. Embora várias outras esquadras (até maiores) tenham sido enviadas pelo Sultão do Egipto e pelos seus aliados turcos para o oceano Índico, a verdade é que quando isso aconteceu, o poder português já se tinha estabelecido de forma muito mais coesa. O domínio efectivo do Indico começou assim, em 1509 com a destruição das forças que ainda se opunham aos portugueses no mar. Com os portugueses a controlar o mar, os reinos das costas da Índia que dependiam fortemente do comércio marítimo, não tiveram outra hipótese que não a de aceitar a gestão e controlo português do comércio quer com a Europa, quer do comércio entre os vários reinos das costas do Índico e do comércio com o extremo oriente.



A vitória de Diu, levou a que muitos dos pequenos reinos da costa ocidental da Índia aceitassem o controlo português. Em 1512, três anos mais tarde, a própria cidade de Calecute, com a mudança do Samorim, aceitará a suserania portuguesa. Nas décadas seguintes, com a situação controlada por via diplomática, mas sempre segura com a ameaça velada dos portugueses de agir militarmente utilizando para isso os seus navios (cuja superioridade tinha sido provada) foi atingido o completo domínio do Oceano Índico, e quando o seu domínio foi contestado, os portugueses rapidamente destruíram as ameaças, garantindo assim o livre-trânsito para os seus navios de carga. O poder absoluto e incontestado dos portugueses no Índico, foi no entanto um toque de «Midas». Apenas 50 anos depois, o apertado controlo que o Estado impunha ao comércio, acabou por levar a um aumento da corrupção, que acabaria por ser, juntamente com a união dinástica das coroas ibéricas de 1580-1640, uma razão da queda do primeiro império oceânico da História. A batalha ocorrida nas águas próximas da cidade de Diu, marca o início do que os historiadores indianos chamam de Era «Vasco da Gama», um período de 500 anos de domínio das potências europeias na Ásia e que começou com esta batalha e que terminou em 1999, quando os portugueses saíram da cidade de Macau.



Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.