D. Afonso II (Coimbra,
23 de abril de 1185 - Coimbra, 25 de abril de 1223), apelidado de Afonso, o Gordo, foi o Rei de Portugal de 1211
até sua morte. Era filho do Rei Sancho I e sua esposa Rainha Dulce de Aragão.
Reinado.
Os primeiros anos
do seu Reinado foram marcados por violentos conflitos internos (1211-1216)
entre o Rei Afonso II e as suas irmãs as Infantas, Mafalda, Teresa e Santa
Sancha de Portugal, a quem seu pai legara em testamento, sob o título de Rainhas,
a posse de alguns Castelos no centro do país, o Castelo de Montemor-o-Velho, o
Castelo de Seia e o Castelo de Alenquer, com as respectivas vilas, termos,
alcaidarias e rendimentos, numa tentativa de centralizar o «Poder Régio». Este
conflito foi resolvido com intervenção do Papa Inocêncio III. O Rei indemnizou
as Infantas com muito dinheiro, a guarnição dos castelos foi confiada a Cavaleiros
Templários, mas era o Rei que exercia as funções soberanas sobre as terras e
não as Infantas como julgavam ter e que levou à guerra.
No seu Reinado
foram criadas as primeiras «Leis Escritas» e pela primeira vez reunidas cortes
com representantes do Clero e Nobreza, em 1211 na Cidade de Coimbra, na altura Capital
do Reino. Foram realizadas inquirições em 1220, inquéritos feitos por
funcionários régios com vista a determinar a situação jurídica das propriedades
e em que se baseavam os privilégios e imunidades dos proprietários. As
confirmações validavam as doações e privilégios concedidos nos anteriores Reinados,
após analisados os documentos comprovativos ou por Mercê Real. Todo o seu Reinado
foi um combate constante contra as classes privilegiadas, isto porque seu pai e
avô deram grandes privilégios ao Clero e à Nobreza e Afonso II entendia que o «Poder
Real» devia ser fortalecido.
O Reinado de D. Afonso
II caracterizou um novo estilo de governação, contrário à tendência belicista
dos seus antecessores. D. Afonso II não contestou as suas fronteiras com Galiza
e Leão, nem procurou a expansão para Sul, não obstante no seu Reinado ter sido
tomada aos Mouros as Cidades de Alcácer do Sal, Borba, Vila Viçosa, Veiros, em
1217, e, possivelmente também Monforte e Moura, mas por iniciativa de um grupo
de nobres liderados pelo Bispo de Lisboa, preferindo sim consolidar a estrutura
económica e social do país. O primeiro conjunto de leis portuguesas é de sua
autoria e visam principalmente temas como a propriedade privada, direito civil
e cunhagem de moeda. Foram ainda enviadas embaixadas a diversos países
europeus, com o objectivo de estabelecer tratados comerciais. Apesar de, como
já dissemos, não ter tido preocupações militares, enviou Tropas Portuguesas
que, ao lado de Castelhanas, Aragonesas e Francesas, combateram bravamente na
célebre «Batalha de Navas de Tolosa» na defesa da Península Ibérica contra os Muçulmanos.
Outras reformas de
D. Afonso II tocaram na relação da Coroa Portuguesa com o Papa. Com vista à
obtenção do reconhecimento da independência de Portugal, Afonso Henriques, seu
avô, foi obrigado a legislar vários privilégios para a Igreja. Anos depois,
estas medidas começaram a ser um peso para Portugal, que via a Igreja
desenvolver-se como um estado dentro do estado. Com a existência de Portugal
firmemente estabelecida, D. Afonso II procurou minar o poder Clerical dentro do
país e aplicar parte das receitas das igrejas em propósitos de utilidade
nacional. Esta atitude deu origem a um conflito diplomático entre o Papado e
Portugal. Depois de ter sido excomungado pelo Papa Honório III, o Rei Afonso II
prometeu rectificar os seus erros contra a Igreja, mas morreu em 1223
excomungado, sem fazer nenhum esforço sério para mudar a sua política.
Só após a resolução
do conflito com a Igreja, logo nos primeiros meses de Reinado do seu sucessor o
Rei D. Sancho II, pôde finalmente D. Afonso II descansar em paz no Mosteiro de
Alcobaça, foi o primeiro monarca a fazer da Abadia Cisterciense o Panteão Real.
Diz-se que D.
Afonso II possa ter morrido de lepra (isso poderá ter justificado um dos seus
cognomes, o Gafo, bem como uma
célebre e depreciativa frase dita por alguns elementos do povo. Fora Gaffo, mas a enorme gordura que o Rei
possuía teria sido a sua causa de morte.
Descendência.
Com a sua mulher, a
Rainha D. Urraca de Castela (1186-1220)
D. Sancho II de
Portugal (1209-1248)
D. Afonso III de
Portugal (1212/17-1279)
D. Leonor, Infanta
de Portugal (1211-1231), casou com o Príncipe Valdemar III, o Jovem, filho do Rei
Valdemar II da Dinamarca
D. Fernando de
Portugal, Senhor de Serpa (1218-1246), Senhor de Serpa
Filhos naturais.
D. João Afonso (m.
9 de Outubro de 1234), enterrado no Mosteiro de Alcobaça
D. Pedro Afonso (n.
1210), que acompanhou seu irmão na conquista de Faro (1249)
Testamento do Rei
Afonso II.
O Testamento de
Afonso II é o testamento político do Rei Afonso II de Portugal, escrito em
Coimbra e datado de 27 de junho de 1214. É o mais antigo Documento Régio
escrito em «galego-português» em existência.
Chegou aos nossos
dias através de dois, manuscritos, um deles, enviado ao Arcebispo de Braga, está
atualmente na Torre do Tombo.
Apesar de
frequentemente ser celebrado como tal, o testamento do Rei Afonso II, redigido
em 27 de junho de 1214 (1252, Segundo a «Era Hispânica»), não é o primeiro
texto escrito em português (ou galaico-português). Existem, aliás, diversos Manuscritos
precedentes que já evidenciam muitas das características da língua romântica
como o "Pacto dos irmãos Pais"
(ca. 1175) e a Notícia do Torto (ca.
1214).
Não obstante, o
carácter Régio do Documento torna-o, segundo alguns autores, o ponto de
referência de maior importância para a datação da língua. Assim, no ano de 2014,
juntamente com o oitavo século do documento, foi também comemorado, um pouco
por toda a Lusofonia, o aniversário da língua portuguesa, uma celebração envolta
em grande controvérsia.
Texto.
Seguem-se dois
excertos do testamento com a grafia modernizada.
Em
o nome de Deus.
Eu,
rei Dom Afonso, pela graça de Deus, rei de Portugal, sendo são e salvo, temente
o dia de minha morte, a saúde de minha alma e a prol de minha mulher, rainha
Dona Urraca, e de meus filhos, e de meus vassalos e de todo meu reino, fiz
minha manda, por que depois minha morte, minha mulher, e meus filhos, e meu
reino, e meus vassalos e todas aquelas cousas que Deus me deu em poder estejam
em paz e em folgança.
Primeiramente,
mando que meu filho, infante Dom Sancho, que hei da rainha Dona Urraca, haja
meu reino inteiramente e em paz.
E
mandei fazer treze cartas como aquesta, tal uma como a outra, que por elas toda
minha manda seja cumprida; das quais tem uma o Arcebispo de Braga, a outra o
Arcebispo de Santiago, a terceira o Arcebispo de Toledo, a quarta o Bispo do
Porto, a quinta o de Lisboa, a sexta o de Coimbra, a sétima o de Évora, a
oitava o de Viseu, a nona o mestre do Templo, a décima o prior do Hospital, a
undécima o prior de Santa Cruz, a duodécima o abade de Alcobaça, a terça-décima
faço eu guardar em minha reposte.
E
foram feitas em Coimbra, quatro dias por andar de junho, Era MCCLII.
Língua
galego-portuguesa
O galego-português
(também chamado de galaico-português, proto-galego-português, português antigo,
português arcaico, galego antigo, galego arcaico) foi a língua falada durante a
Idade Média nas regiões de Portugal e da Galiza, dela descendem as atuais línguas,
portuguesa e galega. Assim, o galego-português é o idioma ancestral comum às
línguas galaico-portuguesas.
A língua
considera-se formada no Século VIII, principalmente como desenvolvimento do
latim vulgar falado pelos conquistadores romanos a partir do Século II d.C. No
seu momento, foi língua culta fora dos Reinos da Galiza e de Portugal, nos Reinos
vizinhos de Leão e Castela. Assim, o Rei Castelhano Afonso X o Sábio escreveu as suas «Cantigas de
Santa Maria» em galego-português. A sua importância foi tal que é considerada a
segunda literatura mais importante durante a Idade Média europeia, só perdendo
para o occitano.
O documento da
lírica galego-portuguesa, mais antigo parece ser a cantiga satírica "Ora faz ost'o senhor de Navarra"
de João Soares de Paiva, datado de 1196 por alguns.
As recompilações
líricas medievais galego-portuguesas mais importantes são.
Cancioneiro da
Biblioteca Nacional (antigo Colocci-Brancuti)
O Cancioneiro da
Biblioteca Nacional (outrora chamado Cancioneiro Colocci-Brancuti) é uma colectânea
de lirismo trovadoresco galaico-português (cantigas de amigo, de amor e de
escárnio e maldizer).
História.
Foi compilado em
Itália por volta de 1525-1526 por iniciativa do humanista Angelo Colocci
(1467-1549). Ele numerou 1664 composições e anotou praticamente todo o códice. Séculos
mais tarde, o manuscrito encontrava-se nas mãos do conde Paolo Brancuti di Cagli,
de Ancona, que em 1888 o vendeu ao filólogo italiano Ernesto Monaci. Em 1924
foi adquirido pelo Estado Português e depositado na Biblioteca Nacional de
Lisboa, de onde colheu o nome pelo qual é hoje conhecido.
Características.
Este cancioneiro
reúne quase todo o material recolhido no Cancioneiro da Vaticana e muitos
outros. Das 1664 composições originais chegaram até nós apenas 1560. Entre os
trovadores presentes salientam-se os Reis D. Dinis de Portugal, e D. Sancho I
de Portugal, e nomes como os de Pedro Afonso, Conde de Barcelos, Paio Soares de
Taveirós, João Garcia de Guilhade, Airas Nunes, Martim Codax, e outros. Foi
redigido em seis diferentes tipos de letra, com predominância da itálica
chanceleresca e da letra bastarda cursiva.
Cancioneiro da
Vaticana
O Cancioneiro da
Biblioteca Vaticana é uma colectânea medieval de 1200 cantigas trovadorescas
(cantigas de amigo, de amor e de escárnio e maldizer) escritas em
galaico-português. Compilado em Itália no final do século XV ou começo do
século XVI, encontra-se depositado na Biblioteca do Vaticano, donde deriva o
nome por que é conhecido. Em 1847 o Visconde da Carreira financiou a primeira
edição que foi feita, impressa, desse manuscrito medieval, com enquadramento
histórico de D. Caetano Lopes de Moura, editado pela J.P. Ailaud em Paris, e
depois em, 1875 houve outra edição diplomática desse cancioneiro por Ernesto
Moraci. Este cancioneiro, como o Cancioneiro da Biblioteca Nacional em
Portugal, foi compilado depois do século XIII e abarca um espaço de tempo bem
maior. Compreende não apenas obras dos poetas do Rei D. Afonso III de Portugal
e anteriores, como ainda os contemporâneos do Rei D. Dinis de Portugal e seus
filhos.
Cancioneiro de
Berkeley
O "Cancioneiro
de Berkeley", anteriormente conhecido como Cancioneiro de um grande
d'Hespanha é uma antiga cópia não integral (ou descriptus) feita por volta de
1600 do Cancioneiro da Vaticana que se encontra na atualidade na Bancroft Library
em Berkeley (Califórnia). Foi estudado pela primeira vez em 1872 por Francisco
Adolfo de Varnhagen na sua obra Cancioneirinho de Trovas Antigas.
Cancioneiro da
Ajuda (anteriormente conhecido como Cancioneiro do Colégio dos Nobres).
O Cancioneiro da
Ajuda é uma Coleção de Poesias escritas em galego-português, datada do final do
século XIII, influenciadas pela lírica occitana. Recebe o seu nome por se
conservar na Biblioteca do Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa. É um códice de
pergaminho escrito por uma só pessoa em escrita gótica com miniaturas que ficou
incompleto, aparecem os textos poéticos, mas não se terminaram as miniaturas
nem se copiou a música, para a qual há um espaço reservado abaixo dos versos da
primeira estrofe de cada cantiga. Trata-se duma coletânea que possui 310
composições poéticas, todas cantigas de amor. As primeiras edições completas
datam de 1824 e 1849, embora a edição clássica é a realizada por Carolina
Michaëlis no ano 1904. Dos três cancioneiros conservados até hoje, este, é o
menos completo, porque apenas abrange composições anteriores à morte do Rei
Afonso X, excluindo, por exemplo a vasta produção do Rei D. Dinis, e porque o
seu colecionador exclui os géneros mais vulgares, isto é, as cantigas de amigo
e as de escarnio ou de maldizer. Mas tem a vantagem de seu manuscrito pertencer
à época da maioria dos poetas colaboradores, e é um documento valioso pela
grafia, pela decoração e pelas iluminaduras, que testemunham o carater cantado
e instrumental, embora tenha sido deixados em branco os espaços destinados à
notação musical, entre outros sinais de inacabamento.
Cantigas de Santa
Maria, do Rei Afonso X de Castela
As Cantigas de
Santa Maria são um conjunto de quatrocentas vinte e sete composições em
galego-português, que no século XIII era a língua fundamental da lírica culta
em Castela. Encontram-se repartidas em quatro manuscritos, um deles na
Biblioteca Nacional da Espanha (Codex To, por Toledo), dois no Escorial (Codex
E e T) e o quarto em Florença (Codex F).
Autoria.
Existem dúvidas
sobre a autoria direta do Rei Afonso X, o
Sábio, mas ninguém, dúvida da sua participação direta como compositor em
muitas delas. Walter Mettmann, autor duma edição crítica dos textos das
Cantigas, crê que muitas delas podem ser atribuídas ao poeta e trovador galego
Airas Nunes, e que o Rei D. Afonso X teria escrito oito ou dez delas.
Códices.
Das Cantigas de
Santa Maria há quatro códices conservados, procedentes, todos eles da própria
corte do Rei D. Afonso X de Castela. O Códice Toledano, que pertenceu à
Catedral de Toledo até 1869 e que agora se conserva na Biblioteca Nacional de
Madrid (ms. 10069), é a primeira coleção saída do escritório do Rei, após 1257.
Contém 128 composições com notação musical. São 160 folhas de pergaminho a duas
colunas, em letra francesa do Século XIII. Foram transcritas e reproduzidas em
1922 pelo musicólogo Julián Ribera. O segundo códice, o mais rico, conserva-se
na Biblioteca de El Escorial (códice J. b. 2), e contém 417 cantigas,
ilustradas com 40 iluminuras, e leva notação musical. São 361 folhas de
pergaminho escritas em duas colunas com letra francesa do século XIII. Também
se conserva no Escorial outro códice (J. b. 1) com 198 cantigas, notação
musical e 1275 iluminuras agrupadas em lâminas de seis quadros, que dão à obra
um grande valor iconográfico e pictórico. São 256 folhas de pergaminho escritas
em duas colunas com letra francesa do século XIII. O códice de Florença, conservado
na Biblioteca Nacional desta cidade, contém 104 cantigas, das quais duas não
aparecem nos outros códices e outras oferecem variantes de certo interesse.
Está incompleto, faltando estrofes, ficando por desenhar muitas vinhetas e com
as linhas de notação musical em branco. São 131 folhas escritas com letra
gótica do século XIII e geralmente em duas colunas.
Fontes.
A coleção de
cantigas afonsinas, derivam primariamente de fontes escritas. As mais
importantes são as coleções latinas de milagres da Virgem, embora se possam
seguir os rastos de uma ou duas fontes em língua romance. Quanto às fontes da
literatura oral, se tem de levar em conta os contos de milagres do folclore
espanhol e alemão, pois esta era a origem da mãe do Rei Afonso X, D. Beatriz da
Suábia, neta do Imperador Frederico I, e até mesmo as experiências pessoais do Rei.
Estes exemplos do próprio autor têm o seu paralelo nos exempla dos sermões
populares dos predicadores, que relatavam casos supostamente autobiográficos
para aumentar o interesse narrativo.
Classificação.
As Cantigas de
Santa Maria podem se dividir em dois grupos. O primeiro, as "Cantigas de
Nossa Senhora", nas quais o tema é formado por louvores à Virgem e é um
verdadeiro compêndio de histórias, milagres, e relatos relacionados à Virgem,
quer pela sua intervenção direta, quer pelos amores místicos que a sua figura
gera nas almas piedosas. O segundo, mais reduzido (pois são as cantigas cujo
número de ordem é múltiplo de dez), são as cantigas de loor (louvor), poemas
mais sérios, profundos, quase místicos, nos quais, em lugar de cantar os
milagres da Virgem, reflete sobre ela, como numa oração. Estas adotam a forma
de hinos sagrados como os quais se interpretavam na liturgia, mas que serviram
ao mesmo tempo de treinamento literário e musical nas cortes palacianas e
festas profanas, e que daí eram transmitidas pelos jograis.
Transcendência.
Do ponto de vista
da história da música, é considerada como a coleção de música cortesã monódica
mais importante do século XIII. O Rei D. Afonso X herdou de seu pai o Rei D. Fernando
III a sua Capela Musical, a qual reunia intérpretes e compositores de várias
culturas e que fizeram parte da corte afonsina, bem como a sua Escola de Tradutores
ou Scriptorium Régio. Deles aparece rodeado em algumas das ilustrações dos
manuscritos das cantigas. As melodias estão tomadas da monódia gregoriana, da
lírica popular e das canções dos trovadores, e adotam na sua maioria a forma de
rondó, com um refrão musical que se repete depois das glosas. Os códices da
Biblioteca do Escorial estão enfeitados com profusão de iluminuras, nas quase
apreciam os instrumentos do século XIII, organistrum, saltério, alaúde, viola
de arco, rabeca, cítara, harpa, trompa, trombeta, castanholas, cornamusas,
dulzainas e muitos outros. Também se pode observar o modo de execução destes
instrumentos.
Documentos mais
antigos em galego-português.
Embora os Documentos
escritos em latim no noroeste da Península Ibérica, como é exemplo a "Carta de Fundação da Igreja de
Lardosa" (882), anunciem já formas da língua vulgar falada na região,
o galego-português surge apenas entre os anos de 1170 e 1255, sobretudo em
documentos de menor importância com palavras ou frases em romance inseridas num
latim de pouca qualidade (com a notável exceção do Testamento de Afonso II).
Este conjunto de escassos documentos recebe o nome de "Produção Primitiva"
"Doação à
Igreja de Souselo" 870 d.C. O mais antigo texto latino-português [carece de
fontes]. Cópia do séc. XI escrita em letra visigótica de transição [carece de
fontes].
"Carta de
Fundação da Igreja de Lardosa" 882 d.C. O mais antigo documento original
latino-português. Escrita em letra visigótica cursiva.
"A Notícia de
fiadores" 1175. Possivelmente o mais antigo documento escrito em galego-português.
Pequena lista de nomes que termina com uma frase que apresenta sintaxe e
morfologia portuguesas. "Istos
fiadores atan. V. Annos que se partia de isto male que li avem.".
"Pacto dos
irmãos Pais" c. 1175. Possivelmente o mais antigo documento escrito em
galego-português. É apenas datável criticamente.
"Ora faz
host'o senhor de Navarra" c. 1196. O mais antigo texto lírico escrito em
galego-português que é possível datar. Presente nos Cancioneiro da Biblioteca
Nacional e da Vaticana.
"Testamento de
Afonso II" 1214. O mais antigo, Documento Régio em galego-português. Frequentemente
celebrado como o primeiro Documento escrito em português.
"Notícia de
Torto" 1214-1216. O mais antigo Documento Notarial Particular escrito em galego-português.
Longa narrativa dos agravos que Lourenço Fernandes da Cunha sofreu às mãos de
outros senhores.
"Foro do bõ
burgo de Castro Caldelas" 1228. O mais antigo Documento em galego-português
escrito na Galiza. Outorgado por Afonso IX em abril de 1228 ao município de
Alhariz na Galiza.
Todos os documentos
referidos estão conservados no Arquivo Nacional da Torre do Tombo em Lisboa,
com excepção do testemunho toledano do testamento régio de 1214, conservado no
Arquivo da Sé de Toledo e do "Foro do bõ burgo de Castro Caldelas" no
Arquivo dos Duques de Alba.
O polémico título
de documento mais antigo em galego-português é disputado na atualidade pela
"Notícia de Fiadores" (1175) e pelo "Pacto dos irmãos Pais"
(possivelmente anterior a 1175).
O galego-português,
comum à Galiza e a Portugal, teve séculos de existência plena como língua nativa
de uma comunidade linguística do noroeste peninsular, mas as derrotas que os
nobres galegos sofreram no final do século XIV e princípios do século XV,
provocaram a assimilação da nobreza galega e a dominação castelhana, levando ao
desaparecimento público, oficial, literário e religioso do galego como língua
de cultura até o final do século XIX. São os chamados "Séculos
Escuros". O português, por seu lado desenvolveu-se livremente na sua
deriva própria, pelo facto de Portugal ter sido o único território peninsular
que ficou fora do domínio político do Reino de Leão e Castela e do domínio
linguístico do castelhano.
Tradição oral na
cultura galego-portuguesa.
O património
cultural imaterial galego-português está presente nas tradições orais populares
e é hoje um património em perigo de extinção, o que levou à sua candidatura
conjunta pelos governos de Portugal e de Espanha à "Masterpiece of Oral and Intangible Heritage of Humanity"
em 2005. O folclore galego-português é rico em tradições orais, estas incluem
as “cantigas ao desafio” ou “regueifas”, mitos e lendas, cantigas, ditados e
lengalengas, além dos falares que retêm uma semelhança ao nível morfológico e
sintáctico, no léxico e na fonética. A tradição oral está ligada a diversas
actividades tradicionais que se transmitem oralmente, como as celebrações das
festas populares tais como o entrudo, o magusto, as festas da coca, o São João,
as festas marítimas, romarias, música e danças populares. Nos ofícios, como as
actividades piscatórias, a agricultura e o artesanato, além de serem
actividades que são transmitidas de geração em geração de forma verbal, cada
actividade usa de um vocabulário específico. Também nos costumes, nos falares,
nos bailes, nos rituais, na medicina tradicional e na farmacêutica popular, nas
artes culinárias, nas superstições e crendices, existe todo um conhecimento que
é transmitido oralmente.
Controvérsia.
Galego-português é
um termo envolvido numa controvérsia, na qual participam os círculos académicos
oficiais galegos e os grupos reintegracionistas galegos, que designam aos
primeiros como isolacionistas. Os reintegracionistas defendem a existência,
ainda na atualidade, de uma única língua românica que na península Ibérica
recebe os nomes de galego ou português.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.