sábado, novembro 21, 2015

Afonso II de Portugal



D. Afonso II (Coimbra, 23 de abril de 1185 - Coimbra, 25 de abril de 1223), apelidado de Afonso, o Gordo, foi o Rei de Portugal de 1211 até sua morte. Era filho do Rei Sancho I e sua esposa Rainha Dulce de Aragão.

Reinado.

Os primeiros anos do seu Reinado foram marcados por violentos conflitos internos (1211-1216) entre o Rei Afonso II e as suas irmãs as Infantas, Mafalda, Teresa e Santa Sancha de Portugal, a quem seu pai legara em testamento, sob o título de Rainhas, a posse de alguns Castelos no centro do país, o Castelo de Montemor-o-Velho, o Castelo de Seia e o Castelo de Alenquer, com as respectivas vilas, termos, alcaidarias e rendimentos, numa tentativa de centralizar o «Poder Régio». Este conflito foi resolvido com intervenção do Papa Inocêncio III. O Rei indemnizou as Infantas com muito dinheiro, a guarnição dos castelos foi confiada a Cavaleiros Templários, mas era o Rei que exercia as funções soberanas sobre as terras e não as Infantas como julgavam ter e que levou à guerra.

No seu Reinado foram criadas as primeiras «Leis Escritas» e pela primeira vez reunidas cortes com representantes do Clero e Nobreza, em 1211 na Cidade de Coimbra, na altura Capital do Reino. Foram realizadas inquirições em 1220, inquéritos feitos por funcionários régios com vista a determinar a situação jurídica das propriedades e em que se baseavam os privilégios e imunidades dos proprietários. As confirmações validavam as doações e privilégios concedidos nos anteriores Reinados, após analisados os documentos comprovativos ou por Mercê Real. Todo o seu Reinado foi um combate constante contra as classes privilegiadas, isto porque seu pai e avô deram grandes privilégios ao Clero e à Nobreza e Afonso II entendia que o «Poder Real» devia ser fortalecido.

O Reinado de D. Afonso II caracterizou um novo estilo de governação, contrário à tendência belicista dos seus antecessores. D. Afonso II não contestou as suas fronteiras com Galiza e Leão, nem procurou a expansão para Sul, não obstante no seu Reinado ter sido tomada aos Mouros as Cidades de Alcácer do Sal, Borba, Vila Viçosa, Veiros, em 1217, e, possivelmente também Monforte e Moura, mas por iniciativa de um grupo de nobres liderados pelo Bispo de Lisboa, preferindo sim consolidar a estrutura económica e social do país. O primeiro conjunto de leis portuguesas é de sua autoria e visam principalmente temas como a propriedade privada, direito civil e cunhagem de moeda. Foram ainda enviadas embaixadas a diversos países europeus, com o objectivo de estabelecer tratados comerciais. Apesar de, como já dissemos, não ter tido preocupações militares, enviou Tropas Portuguesas que, ao lado de Castelhanas, Aragonesas e Francesas, combateram bravamente na célebre «Batalha de Navas de Tolosa» na defesa da Península Ibérica contra os Muçulmanos.

Outras reformas de D. Afonso II tocaram na relação da Coroa Portuguesa com o Papa. Com vista à obtenção do reconhecimento da independência de Portugal, Afonso Henriques, seu avô, foi obrigado a legislar vários privilégios para a Igreja. Anos depois, estas medidas começaram a ser um peso para Portugal, que via a Igreja desenvolver-se como um estado dentro do estado. Com a existência de Portugal firmemente estabelecida, D. Afonso II procurou minar o poder Clerical dentro do país e aplicar parte das receitas das igrejas em propósitos de utilidade nacional. Esta atitude deu origem a um conflito diplomático entre o Papado e Portugal. Depois de ter sido excomungado pelo Papa Honório III, o Rei Afonso II prometeu rectificar os seus erros contra a Igreja, mas morreu em 1223 excomungado, sem fazer nenhum esforço sério para mudar a sua política.

Só após a resolução do conflito com a Igreja, logo nos primeiros meses de Reinado do seu sucessor o Rei D. Sancho II, pôde finalmente D. Afonso II descansar em paz no Mosteiro de Alcobaça, foi o primeiro monarca a fazer da Abadia Cisterciense o Panteão Real.

Diz-se que D. Afonso II possa ter morrido de lepra (isso poderá ter justificado um dos seus cognomes, o Gafo, bem como uma célebre e depreciativa frase dita por alguns elementos do povo. Fora Gaffo, mas a enorme gordura que o Rei possuía teria sido a sua causa de morte.

Descendência.

Com a sua mulher, a Rainha D. Urraca de Castela (1186-1220)

D. Sancho II de Portugal (1209-1248)

D. Afonso III de Portugal (1212/17-1279)

D. Leonor, Infanta de Portugal (1211-1231), casou com o Príncipe Valdemar III, o Jovem, filho do Rei Valdemar II da Dinamarca

D. Fernando de Portugal, Senhor de Serpa (1218-1246), Senhor de Serpa

Filhos naturais.

D. João Afonso (m. 9 de Outubro de 1234), enterrado no Mosteiro de Alcobaça

D. Pedro Afonso (n. 1210), que acompanhou seu irmão na conquista de Faro (1249)

Testamento do Rei Afonso II.

O Testamento de Afonso II é o testamento político do Rei Afonso II de Portugal, escrito em Coimbra e datado de 27 de junho de 1214. É o mais antigo Documento Régio escrito em «galego-português» em existência.

Chegou aos nossos dias através de dois, manuscritos, um deles, enviado ao Arcebispo de Braga, está atualmente na Torre do Tombo.

Apesar de frequentemente ser celebrado como tal, o testamento do Rei Afonso II, redigido em 27 de junho de 1214 (1252, Segundo a «Era Hispânica»), não é o primeiro texto escrito em português (ou galaico-português). Existem, aliás, diversos Manuscritos precedentes que já evidenciam muitas das características da língua romântica como o "Pacto dos irmãos Pais" (ca. 1175) e a Notícia do Torto (ca. 1214).

Não obstante, o carácter Régio do Documento torna-o, segundo alguns autores, o ponto de referência de maior importância para a datação da língua. Assim, no ano de 2014, juntamente com o oitavo século do documento, foi também comemorado, um pouco por toda a Lusofonia, o aniversário da língua portuguesa, uma celebração envolta em grande controvérsia.
Texto.

Seguem-se dois excertos do testamento com a grafia modernizada.

Em o nome de Deus.

Eu, rei Dom Afonso, pela graça de Deus, rei de Portugal, sendo são e salvo, temente o dia de minha morte, a saúde de minha alma e a prol de minha mulher, rainha Dona Urraca, e de meus filhos, e de meus vassalos e de todo meu reino, fiz minha manda, por que depois minha morte, minha mulher, e meus filhos, e meu reino, e meus vassalos e todas aquelas cousas que Deus me deu em poder estejam em paz e em folgança.

Primeiramente, mando que meu filho, infante Dom Sancho, que hei da rainha Dona Urraca, haja meu reino inteiramente e em paz.

E mandei fazer treze cartas como aquesta, tal uma como a outra, que por elas toda minha manda seja cumprida; das quais tem uma o Arcebispo de Braga, a outra o Arcebispo de Santiago, a terceira o Arcebispo de Toledo, a quarta o Bispo do Porto, a quinta o de Lisboa, a sexta o de Coimbra, a sétima o de Évora, a oitava o de Viseu, a nona o mestre do Templo, a décima o prior do Hospital, a undécima o prior de Santa Cruz, a duodécima o abade de Alcobaça, a terça-décima faço eu guardar em minha reposte.

E foram feitas em Coimbra, quatro dias por andar de junho, Era MCCLII.

Língua galego-portuguesa

O galego-português (também chamado de galaico-português, proto-galego-português, português antigo, português arcaico, galego antigo, galego arcaico) foi a língua falada durante a Idade Média nas regiões de Portugal e da Galiza, dela descendem as atuais línguas, portuguesa e galega. Assim, o galego-português é o idioma ancestral comum às línguas galaico-portuguesas.
A língua considera-se formada no Século VIII, principalmente como desenvolvimento do latim vulgar falado pelos conquistadores romanos a partir do Século II d.C. No seu momento, foi língua culta fora dos Reinos da Galiza e de Portugal, nos Reinos vizinhos de Leão e Castela. Assim, o Rei Castelhano Afonso X o Sábio escreveu as suas «Cantigas de Santa Maria» em galego-português. A sua importância foi tal que é considerada a segunda literatura mais importante durante a Idade Média europeia, só perdendo para o occitano.

O documento da lírica galego-portuguesa, mais antigo parece ser a cantiga satírica "Ora faz ost'o senhor de Navarra" de João Soares de Paiva, datado de 1196 por alguns.
As recompilações líricas medievais galego-portuguesas mais importantes são.
Cancioneiro da Biblioteca Nacional (antigo Colocci-Brancuti)
O Cancioneiro da Biblioteca Nacional (outrora chamado Cancioneiro Colocci-Brancuti) é uma colectânea de lirismo trovadoresco galaico-português (cantigas de amigo, de amor e de escárnio e maldizer).

História.

Foi compilado em Itália por volta de 1525-1526 por iniciativa do humanista Angelo Colocci (1467-1549). Ele numerou 1664 composições e anotou praticamente todo o códice. Séculos mais tarde, o manuscrito encontrava-se nas mãos do conde Paolo Brancuti di Cagli, de Ancona, que em 1888 o vendeu ao filólogo italiano Ernesto Monaci. Em 1924 foi adquirido pelo Estado Português e depositado na Biblioteca Nacional de Lisboa, de onde colheu o nome pelo qual é hoje conhecido.

Características.

Este cancioneiro reúne quase todo o material recolhido no Cancioneiro da Vaticana e muitos outros. Das 1664 composições originais chegaram até nós apenas 1560. Entre os trovadores presentes salientam-se os Reis D. Dinis de Portugal, e D. Sancho I de Portugal, e nomes como os de Pedro Afonso, Conde de Barcelos, Paio Soares de Taveirós, João Garcia de Guilhade, Airas Nunes, Martim Codax, e outros. Foi redigido em seis diferentes tipos de letra, com predominância da itálica chanceleresca e da letra bastarda cursiva.

Cancioneiro da Vaticana

O Cancioneiro da Biblioteca Vaticana é uma colectânea medieval de 1200 cantigas trovadorescas (cantigas de amigo, de amor e de escárnio e maldizer) escritas em galaico-português. Compilado em Itália no final do século XV ou começo do século XVI, encontra-se depositado na Biblioteca do Vaticano, donde deriva o nome por que é conhecido. Em 1847 o Visconde da Carreira financiou a primeira edição que foi feita, impressa, desse manuscrito medieval, com enquadramento histórico de D. Caetano Lopes de Moura, editado pela J.P. Ailaud em Paris, e depois em, 1875 houve outra edição diplomática desse cancioneiro por Ernesto Moraci. Este cancioneiro, como o Cancioneiro da Biblioteca Nacional em Portugal, foi compilado depois do século XIII e abarca um espaço de tempo bem maior. Compreende não apenas obras dos poetas do Rei D. Afonso III de Portugal e anteriores, como ainda os contemporâneos do Rei D. Dinis de Portugal e seus filhos.

Cancioneiro de Berkeley

O "Cancioneiro de Berkeley", anteriormente conhecido como Cancioneiro de um grande d'Hespanha é uma antiga cópia não integral (ou descriptus) feita por volta de 1600 do Cancioneiro da Vaticana que se encontra na atualidade na Bancroft Library em Berkeley (Califórnia). Foi estudado pela primeira vez em 1872 por Francisco Adolfo de Varnhagen na sua obra Cancioneirinho de Trovas Antigas.

Cancioneiro da Ajuda (anteriormente conhecido como Cancioneiro do Colégio dos Nobres).

O Cancioneiro da Ajuda é uma Coleção de Poesias escritas em galego-português, datada do final do século XIII, influenciadas pela lírica occitana. Recebe o seu nome por se conservar na Biblioteca do Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa. É um códice de pergaminho escrito por uma só pessoa em escrita gótica com miniaturas que ficou incompleto, aparecem os textos poéticos, mas não se terminaram as miniaturas nem se copiou a música, para a qual há um espaço reservado abaixo dos versos da primeira estrofe de cada cantiga. Trata-se duma coletânea que possui 310 composições poéticas, todas cantigas de amor. As primeiras edições completas datam de 1824 e 1849, embora a edição clássica é a realizada por Carolina Michaëlis no ano 1904. Dos três cancioneiros conservados até hoje, este, é o menos completo, porque apenas abrange composições anteriores à morte do Rei Afonso X, excluindo, por exemplo a vasta produção do Rei D. Dinis, e porque o seu colecionador exclui os géneros mais vulgares, isto é, as cantigas de amigo e as de escarnio ou de maldizer. Mas tem a vantagem de seu manuscrito pertencer à época da maioria dos poetas colaboradores, e é um documento valioso pela grafia, pela decoração e pelas iluminaduras, que testemunham o carater cantado e instrumental, embora tenha sido deixados em branco os espaços destinados à notação musical, entre outros sinais de inacabamento.

Cantigas de Santa Maria, do Rei Afonso X de Castela


As Cantigas de Santa Maria são um conjunto de quatrocentas vinte e sete composições em galego-português, que no século XIII era a língua fundamental da lírica culta em Castela. Encontram-se repartidas em quatro manuscritos, um deles na Biblioteca Nacional da Espanha (Codex To, por Toledo), dois no Escorial (Codex E e T) e o quarto em Florença (Codex F).
Autoria.

Existem dúvidas sobre a autoria direta do Rei Afonso X, o Sábio, mas ninguém, dúvida da sua participação direta como compositor em muitas delas. Walter Mettmann, autor duma edição crítica dos textos das Cantigas, crê que muitas delas podem ser atribuídas ao poeta e trovador galego Airas Nunes, e que o Rei D. Afonso X teria escrito oito ou dez delas.
Códices.

Das Cantigas de Santa Maria há quatro códices conservados, procedentes, todos eles da própria corte do Rei D. Afonso X de Castela. O Códice Toledano, que pertenceu à Catedral de Toledo até 1869 e que agora se conserva na Biblioteca Nacional de Madrid (ms. 10069), é a primeira coleção saída do escritório do Rei, após 1257. Contém 128 composições com notação musical. São 160 folhas de pergaminho a duas colunas, em letra francesa do Século XIII. Foram transcritas e reproduzidas em 1922 pelo musicólogo Julián Ribera. O segundo códice, o mais rico, conserva-se na Biblioteca de El Escorial (códice J. b. 2), e contém 417 cantigas, ilustradas com 40 iluminuras, e leva notação musical. São 361 folhas de pergaminho escritas em duas colunas com letra francesa do século XIII. Também se conserva no Escorial outro códice (J. b. 1) com 198 cantigas, notação musical e 1275 iluminuras agrupadas em lâminas de seis quadros, que dão à obra um grande valor iconográfico e pictórico. São 256 folhas de pergaminho escritas em duas colunas com letra francesa do século XIII. O códice de Florença, conservado na Biblioteca Nacional desta cidade, contém 104 cantigas, das quais duas não aparecem nos outros códices e outras oferecem variantes de certo interesse. Está incompleto, faltando estrofes, ficando por desenhar muitas vinhetas e com as linhas de notação musical em branco. São 131 folhas escritas com letra gótica do século XIII e geralmente em duas colunas.

Fontes.

A coleção de cantigas afonsinas, derivam primariamente de fontes escritas. As mais importantes são as coleções latinas de milagres da Virgem, embora se possam seguir os rastos de uma ou duas fontes em língua romance. Quanto às fontes da literatura oral, se tem de levar em conta os contos de milagres do folclore espanhol e alemão, pois esta era a origem da mãe do Rei Afonso X, D. Beatriz da Suábia, neta do Imperador Frederico I, e até mesmo as experiências pessoais do Rei. Estes exemplos do próprio autor têm o seu paralelo nos exempla dos sermões populares dos predicadores, que relatavam casos supostamente autobiográficos para aumentar o interesse narrativo.

Classificação.


As Cantigas de Santa Maria podem se dividir em dois grupos. O primeiro, as "Cantigas de Nossa Senhora", nas quais o tema é formado por louvores à Virgem e é um verdadeiro compêndio de histórias, milagres, e relatos relacionados à Virgem, quer pela sua intervenção direta, quer pelos amores místicos que a sua figura gera nas almas piedosas. O segundo, mais reduzido (pois são as cantigas cujo número de ordem é múltiplo de dez), são as cantigas de loor (louvor), poemas mais sérios, profundos, quase místicos, nos quais, em lugar de cantar os milagres da Virgem, reflete sobre ela, como numa oração. Estas adotam a forma de hinos sagrados como os quais se interpretavam na liturgia, mas que serviram ao mesmo tempo de treinamento literário e musical nas cortes palacianas e festas profanas, e que daí eram transmitidas pelos jograis.

Transcendência.

Do ponto de vista da história da música, é considerada como a coleção de música cortesã monódica mais importante do século XIII. O Rei D. Afonso X herdou de seu pai o Rei D. Fernando III a sua Capela Musical, a qual reunia intérpretes e compositores de várias culturas e que fizeram parte da corte afonsina, bem como a sua Escola de Tradutores ou Scriptorium Régio. Deles aparece rodeado em algumas das ilustrações dos manuscritos das cantigas. As melodias estão tomadas da monódia gregoriana, da lírica popular e das canções dos trovadores, e adotam na sua maioria a forma de rondó, com um refrão musical que se repete depois das glosas. Os códices da Biblioteca do Escorial estão enfeitados com profusão de iluminuras, nas quase apreciam os instrumentos do século XIII, organistrum, saltério, alaúde, viola de arco, rabeca, cítara, harpa, trompa, trombeta, castanholas, cornamusas, dulzainas e muitos outros. Também se pode observar o modo de execução destes instrumentos.
Documentos mais antigos em galego-português.

Embora os Documentos escritos em latim no noroeste da Península Ibérica, como é exemplo a "Carta de Fundação da Igreja de Lardosa" (882), anunciem já formas da língua vulgar falada na região, o galego-português surge apenas entre os anos de 1170 e 1255, sobretudo em documentos de menor importância com palavras ou frases em romance inseridas num latim de pouca qualidade (com a notável exceção do Testamento de Afonso II). Este conjunto de escassos documentos recebe o nome de "Produção Primitiva"

"Doação à Igreja de Souselo" 870 d.C. O mais antigo texto latino-português [carece de fontes]. Cópia do séc. XI escrita em letra visigótica de transição [carece de fontes].

"Carta de Fundação da Igreja de Lardosa" 882 d.C. O mais antigo documento original latino-português. Escrita em letra visigótica cursiva.

"A Notícia de fiadores" 1175. Possivelmente o mais antigo documento escrito em galego-português. Pequena lista de nomes que termina com uma frase que apresenta sintaxe e morfologia portuguesas. "Istos fiadores atan. V. Annos que se partia de isto male que li avem.".

"Pacto dos irmãos Pais" c. 1175. Possivelmente o mais antigo documento escrito em galego-português. É apenas datável criticamente.

"Ora faz host'o senhor de Navarra" c. 1196. O mais antigo texto lírico escrito em galego-português que é possível datar. Presente nos Cancioneiro da Biblioteca Nacional e da Vaticana.

"Testamento de Afonso II" 1214. O mais antigo, Documento Régio em galego-português. Frequentemente celebrado como o primeiro Documento escrito em português.

"Notícia de Torto" 1214-1216. O mais antigo Documento Notarial Particular escrito em galego-português. Longa narrativa dos agravos que Lourenço Fernandes da Cunha sofreu às mãos de outros senhores.

"Foro do bõ burgo de Castro Caldelas" 1228. O mais antigo Documento em galego-português escrito na Galiza. Outorgado por Afonso IX em abril de 1228 ao município de Alhariz na Galiza.

Todos os documentos referidos estão conservados no Arquivo Nacional da Torre do Tombo em Lisboa, com excepção do testemunho toledano do testamento régio de 1214, conservado no Arquivo da Sé de Toledo e do "Foro do bõ burgo de Castro Caldelas" no Arquivo dos Duques de Alba.

O polémico título de documento mais antigo em galego-português é disputado na atualidade pela "Notícia de Fiadores" (1175) e pelo "Pacto dos irmãos Pais" (possivelmente anterior a 1175).

O galego-português, comum à Galiza e a Portugal, teve séculos de existência plena como língua nativa de uma comunidade linguística do noroeste peninsular, mas as derrotas que os nobres galegos sofreram no final do século XIV e princípios do século XV, provocaram a assimilação da nobreza galega e a dominação castelhana, levando ao desaparecimento público, oficial, literário e religioso do galego como língua de cultura até o final do século XIX. São os chamados "Séculos Escuros". O português, por seu lado desenvolveu-se livremente na sua deriva própria, pelo facto de Portugal ter sido o único território peninsular que ficou fora do domínio político do Reino de Leão e Castela e do domínio linguístico do castelhano.

Tradição oral na cultura galego-portuguesa.

O património cultural imaterial galego-português está presente nas tradições orais populares e é hoje um património em perigo de extinção, o que levou à sua candidatura conjunta pelos governos de Portugal e de Espanha à "Masterpiece of Oral and Intangible Heritage of Humanity" em 2005. O folclore galego-português é rico em tradições orais, estas incluem as “cantigas ao desafio” ou “regueifas”, mitos e lendas, cantigas, ditados e lengalengas, além dos falares que retêm uma semelhança ao nível morfológico e sintáctico, no léxico e na fonética. A tradição oral está ligada a diversas actividades tradicionais que se transmitem oralmente, como as celebrações das festas populares tais como o entrudo, o magusto, as festas da coca, o São João, as festas marítimas, romarias, música e danças populares. Nos ofícios, como as actividades piscatórias, a agricultura e o artesanato, além de serem actividades que são transmitidas de geração em geração de forma verbal, cada actividade usa de um vocabulário específico. Também nos costumes, nos falares, nos bailes, nos rituais, na medicina tradicional e na farmacêutica popular, nas artes culinárias, nas superstições e crendices, existe todo um conhecimento que é transmitido oralmente.

Controvérsia.


Galego-português é um termo envolvido numa controvérsia, na qual participam os círculos académicos oficiais galegos e os grupos reintegracionistas galegos, que designam aos primeiros como isolacionistas. Os reintegracionistas defendem a existência, ainda na atualidade, de uma única língua românica que na península Ibérica recebe os nomes de galego ou português.


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