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quinta-feira, agosto 27, 2015

Batalhas Navais-1369-1370

Bloqueio a Sevilha
(Verão de 1639-Outono de 1370)


Na sequência das lutas travadas entre Pedro, "o Cruel" e Henrique de Trastâmara pela posse do trono de castela e que terminaram pelo assassinato do primeiro, o Rei Dom Fernando de Portugal resolveu fazer valer os seus direitos àquela coroa pela força das armas. Nessa altura, a armada portuguesa era composta por trinta e duas Galés das quais quatro genovesas, o que lhe conferia nítida vantagem sobre a castelhana. A guerra começou com a invasão da Galiza pelo exército de Dom Fernando, apoiado por mar por uma armada de oito Galés e, possivelmente, algumas Naus. Porém, apesar de ter encontrado naquela província considerável apoio à sua causa, o nosso Rei viu-se forçado a embarcar na armada e a regressar a Portugal logo que o exército castelhano penetrou profundamente no nosso território. Afinal, não se chegou a travar qualquer batalha entre os dois exércitos por, entretanto, Henrique II ter sido obrigado a abandonar Portugal para ir acudir à sua fronteira andaluza ameaçada pelos Mouros. 


Procurando então tirar partido da superioridade naval que dispunha Dom Fernando enviou a sua armada para o Sul com a missão de assolar a costa Andaluza e bloquear Sevilha. Da armada faziam parte trinta Naus das quais certo número seriam da Galiza, guarnecidas por partidários de Dom Pedro e, portanto, de Dom Fernando. Depois de ter saqueado Cádis e algumas povoações de menor importância, a armada portuguesa dirigiu-se para a foz do Guadalquivir, onde terá capturado uma Nau carregada de azeite e uma Galé castelhana, à qual foi posto o nome de "Bem Ganhada", talvez porque só tenha sido tomada depois de uma vigorosa resistência. No entanto, as versões dos cronistas acerca deste episódio não são concordantes. As Galés portuguesas foram fundear dentro do rio, ao passo que as Naus se conservaram próximo de Sanlucar de Barrameda. Com este dispositivo ficaram cortadas as comunicações por mar com Sevilha, do que resultaram grandes prejuízos para esta cidade.


Prolongou-se o bloqueio por mais de um ano, sendo a nossa armada reabastecida a partir do Algarve e de Lisboa, onde, por vezes, iam alguns dos seus navios. Durante todo tempo que durou o bloqueio de Sevilha as guarnições dos navios portugueses sofreram grandes trabalhos e privações e, devido ao escorbuto provocado pela falta de alimentos frescos, e a outras doenças provocadas pela falta de higiene, tiveram muita gente doente e um número considerável de mortos. No Outono de 1370 o rei de Castela dirigiu-se a Sevilha, nomeou Almirante da armada castelhana o genovês Ambrósio Bocanegra e deu-lhe ordem para armar vinte Galés que havia na cidade e ir combater os Portugueses. No entanto, o aprontamento dessas Galés fez-se com muita dificuldade porque a maioria da sua palamenta, nomeadamente os remos tinha sido levada para a vila de Carmona que estava ainda nas mãos dos partidários de Dom Pedro. Por essa razão, as Galés castelhanas foram equipadas com pouco mais de metade dos remos da dotação normal. Em compensação, embarcaram mais gente de armas do que o habitual. Logo que teve a armada pronta, Ambrósio Bocanegra começou a descer o Guadalquivir acompanhado pelo próprio rei que, à frente do seu exército, marchava pela margem, pronto para fornecer gente de reforço às Galés logo que elas entrassem em combate com a armada portuguesa. Apercebendo-se das intenções do inimigo, o Almirante português Lançarote Pesanha, que nessa altura teria consigo apenas dezasseis Galés e cujas guarnições estavam muito desfalcadas e enfraquecidas pela doença e pelo cansaço, resolveu, acertadamente, ir juntar-se às Naus que estavam na foz do rio e sair para o mar, onde ficou à espera dos castelhanos.


Mas, nestas condições, o combate não convinha ao Almirante Bocanegra, que, além de ter a capacidade de manobra das suas Galés muito reduzidas por falta de remadores, não desejava combater com as Galés e as Naus portuguesas juntas, que, depois de reunidas, eram em número muito superior ao das suas Galés. Gorada a hipótese de uma batalha em condições favoráveis à armada de Castela, o Rei e Bocanegra conceberam um novo plano. Equipou este o melhor que pôde sete Galés e com elas, numa das noites seguintes, saiu sorrateiramente do Guadalquivir e dirigiu-se para a Biscaia. Parece que o Almirante Pesanha não se apercebeu deste movimento e, quando constatou que as Galés e o exército castelhano tinham regressado a Sevilha, retomou o seu anterior dispositivo de bloqueio com as Galés dentro do rio e as naus junto à foz. O Almirante Bocanegra chegou sem novidades à Biscaia, que era então a região marítima por excelència do Reino de Castela, e aí armou um número elevado de Naus, que juntou às suas Galés ficando assim a dispor de uma poderosa armada com a qual se apressou a regressar ao Guadalquivir. No seu caminho para Sul, a armada castelhana encontrou nas imediações do cabo Espichel uma Nau portuguesa que apresou, após um breve combate. Levava essa Nau uma avultada quantia em dinheiro destinada ao pagamento dos soldos da nossa armada. Quando a armada castelhana, regressada da Biscaia, chegou à vista de sanlucar de Barrameda, as Naus da armada portuguesa que estavam fundeadas na foz do Guadalquivir deixaram-na entrar sem fazerem qualquer tentativa para a deter, Parece que a razão disso terá sido o facto de entre as Naus da nossa armada se encontrarem várias da Galiza, tripuladas por partidários de Dom Pedro que não quiseram terçar armas com as da Biscaia, suas vizinhas.


Poderá também ter acontecido, muito simplesmente, que o vento não desse para as nossas Naus irem ao encontro da armada castelhana. O certo é que esta entrou à vontade no Guadalquivir e engarrafou as nossas Galés que lá se se encontravam. Com grande presença de espírito, o Almirante Pessanha esperou pela noite e mandou  pôr fogo a dois pequenos navios carregados de azeite que apresara pouco antes e que depois largou ao sabor da corrente em direcção à armada castelhana regressada da Biscaia. Os navios desta que se sentiram mais ameaçados picaram apressadamente as amarras e afastaram-se, criando uma brecha por onde passaram não só os improvisados brulotes mas também todas as Galés portuguesas, navegando na sua esteira, que deste modo, conseguiram juntar-se às suas Naus. Provavelmente no dia imediato o Almirante Ambrósio Bocanegra, tendo juntado a si as treze Galés que deixara em sevilha, saiu para o mar disposto a travar batalha com a armada portuguesa, mas o nosso Almirante não esperou por ele. Em face da superioridade inimiga, da falta de vontade de combater das Naus da Galiza e, sobretudo, por ter as tripulações muito desfalcadas e depauperadas optou, quanto a nós sensatamente por bater em retirada para Lisboa, onde deve ter chegado em fins de 1370. É possivel que três Galés e duas das nossas Naus se tenham atrasado e tenham sido capturadas pelos castelhanos. Pelo menos, é esta a versão dos cronistas espanhóis. Os portugueses são omissos a este respeito.


Durante o Inverno de 1371, os navios que compunham a nossa armada permaneceram desarmados com as Galés em seco nas tercenas. Em Março desse mesmo ano foi assinado o Tratado de Alcoutim que pôs termo à guerra. O demorado bloqueio de Sevilha, se bem que tenha constituído uma demonstração inequívoca do poder naval português, desgastou consideravelmente a nossa armada sem ter acarretado em contrapartida quaisquer benefícios de ordem estratégica.

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