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domingo, agosto 23, 2015

Batalhas Navais-1451

Marselha-Nice
(Dezembro de 1451)


No Outono de 1451, ordenou el-rei D. Afonso V a organização de uma imponente armada destinada a conduzir a Itália sua irmã, a princesa D. Leonor, que havia casado com o Imperador da Alemanha, Frederico III. Compunha-se a armada de duas grandes Naus de guerra, cinco mais pequenas e duas Caravelas, além de duas Naus de carga que fizeram a viagem separadamente. As guarnições dos navios da armada totalizavam cerca de três mil homens, entre soldados e marinheiros, além de numerosos fidalgos da mais alta linhagem. Para comandante da frota foi escolhido o Marquês de Valença, com o título de Capitão-general-de-mar-e-terra. Saiu a armada do Tejo a 12 de Novembro, depois de uma sumptuosa despedida, chegando a Ceuta a 22, onde se deteve durante uma semana para que os passageiros pudessem recuperar dos incómodos do enjoo. A 29, saiu de Ceuta, prosseguindo a sua viagem. Depois de ter passado o golfo de Leão, ventos contrários obrigaram-na a arribar a Marselha. Já nas proximidades deste porto, encontrando-se os navios bastante afastados uns dos outros, foi a armada atacada por três Naus e duas Galés de piratas, provavelmente desconhecedores da sua força. O Marquês de Valença mandou imediatamente içar os sinais convenientes para reunir os seus navios e, quando os piratas chegaram à distância de tiro de canhão, já tinha a sua armada toda junta. Seguiu-se um curto mas violento combate, que terminou pela derrota completa dos atacantes. Uma das suas Naus foi incendiada, outra afundada e a terceira capturada, ao mesmo tempo que as duas Galés se punham em fuga.


Entrando vitorioso em Marselha, a armada portuguesa foi muito bem recebida pelas autoridades locais, que não poderiam ter deixado de ficar satisfeitas com a derrota sofrida pelos piratas. A 12 de Dezembro, depois de reabastecidos de água e frescos, os navios portugueses fizeram-se de novo ao mar. Segundo os "Annaes da Marinha Portugueza" do Almirante Costa Quintella, o Marquês de Valença teria sido avisado em Marselha de que, num pequeno porto próximo de Nice, outros piratas estavam-se preparando para atacar a sua armada e que, para prevenir esse ataque, teria tomado a decisão de os ir combater. Esta versão parece-nos, no entanto, pouco verosímil, uma vez que, dada a sua força, a armada portuguesa nada teria a recear de um ataque dos piratas, não se justificando, consequentemente, qualquer acção preventiva contra eles, o que, aliás, obrigaria a desviar um pouco a armada do seu caminho. O que se nos afigura mais provável é que as autoridades de Marselha, em face do poder da nossa armada e da vitória que alcançara, tivessem pedido ao Marquês de Valença para ir destruir um ninho dos mesmos piratas que vencera, ou de outros, que sabiam existir num pequeno porto próximo de Nice e que o Marquês, por uma questão de prestígio do seu Rei, tivesse acedido. Fossem quais fossem as razões, o certo é que depois de sair de Marselha, a nossa armada, em vez de fazer rumo directo para Livorno, que era o seu destino, dirigiu-se ao tal porto onde estavam os piratas. Receando que à vista da sua armada os piratas se pusessem em fuga o Marquês de Valença, fez embarcar trezentos soldados numa das Caravelas e enviou-a à frente como isco. Chegada a Caravela ao local indicado, com os soldados bem escondidos nos pavimentos inferiores, fundeou a curta distância de terra, sendo imediatamente atacada por várias embarcações miúdas em que vinham mais de cem homens bem armados.


Nesse momento, subiram ao convés os soldados que estavam escondidos, travando-se uma furiosa peleja. Não foi fácil aos portugueses expulsar os inimigos da Caravela, já que os piratas, além de serem combatentes particularmente aguerridos e experimentados, estavam a ser constantemente reforçados por gente vinda de terra. Entretanto aproximara-se o grosso da armada, o que levou aqueles a porem-se em fuga. Mandou então o Marquês de Valença desembarcar um destacamento, que foi em sua perseguição mas que não os encontrou. É provável que esse destacamento, antes de regressar a bordo, tenha posto fogo às instalações e às embarcações dos piratas. Custou esta acção aos inimigos um número indeterminado de mortos e feridos que se presume elevado. Dos portugueses, nove morreram e dezasseis ficaram feridos. Quato a navios, parece que apenas se encontrava no porto, antes da chegada da Caravela, uma grande Nau mercante que os piratas haviam capturado algum tempo antes e que ficou nas mãos dos portugueses. É possivel que tenha sido enviada para Marselha. Depois deste segundo combate, a armada portuguesa continuou a sua viagem. Tendo passado à vista da Córsega, chegou a Livorno a 2 de Fevereiro de 1452, onde desembarcou a Imperatriz, que daí seguiu para a Alemanha por via terrestre.


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