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quarta-feira, agosto 19, 2015

Batalhas Navais-1476 II

Cabo de Santa Maria
(31 de Agosto? de 1476)


Em Agosto de 1476, encontrando-se o nosso Rei em Lagos prestes a partir para França em busca de auxílio, teve um encontro com o corsário genovês Colombo, "o velho", que, como já tivemos ocasião de referir, andara em tempos ao serviço de Portugal e que, semanas antes, ajudara os Portugueses a libertar Ceuta do cerco que lhe tinham posto os Mouros auxiliados pelos Castelhanos. Nesse encontro terá sido resolvido que a armada de Colombo continua-se ao nosso serviço, na guerra contra Castela, juntando-se à armada de Pêro de Ataíde, que nessa altura também se encontrava em Lagos. A armada do Corsário seria constituída possivelmente, por doze navios dos quais uma grande Nau que foi cedida por empréstimo a Pêro de Ataíde talvez por aquele não dispor de gente para a guarnecer convenientemente. A nossa armada, incluindo essa Nau, seria composta por três a cinco navios. Poucos dias depois, em fins de Agosto ou princípios de Setembro encontrando-se a armada combinada nas proximidades do cabo de Santa Maria, foram avistadas cinco Naus mercantes navegando em conserva das quais quatro eram genovesas e uma flamenga. Conforme depois se soube, vinham de Cádis e dirigiam-se para a Flandres. Inquiridos sobre a sua nacionalidade, disseram os das Naus quem eram, acrescentando que traziam um salvo-conduto do Rei de França, que era então aliado dos portugueses na guerra contra o Rei de Castela. Mas nesse tempo, conforme também já referimos, a lei que vigorava no mar era a lei da selva. Sentindo-se com mais força e pressentindo que as Naus vinham ricamente carregadas, Colombo, provavelmente com o acordo de Pêro de Ataíde, deu ordem para as atacar, com a desculpa de que uma delas levava a bandeira de Borgonha que andava em guerra com o Rei de França! Colombo aferrou uma das Naus genovesas, Pêro de Ataíde aferrou a outra, um navio do corsário e outro português aferraram a Nau flamenga, as duas restantes Naus genovesas, talvez por se encontrarem atrasadas, conseguiram evitar a abordagem e tomaram o rumo de Cádis, muito provavelmente perseguidas pelos navios portugueses e de Colombo que não estavam empenhadas em combate. O que é facto é que conseguiram chegar a salvamento àquele porto. Outros navios da armada combinada estariam tão sotaventados que não terão chegado a tomar parte no combate nem na perseguição.


Entretanto, as Naus que tinham sido aferradas travava-se uma luta feroz. Cada uma delas trazia cerca de quatrocentos homens, entre marinheiros e soldados, todos eles decididos e bem armados, que opuseram uma resistência tenaz aos assaltantes. Ao mesmo tempo que as flechas, os dardos, as lanças de fogo e as pedras cruzavam o ar, desenrolavam-se numerosos combates à arma branca no meio de uma algazarra infernal com que os combatentes procuravam animar-se uns aos outros e assustar os adversários. É provável que o vento estivesse a soprar com força, talvez do nordeste e que as Naus de berlavento tenham descaído para cima das que estavam na sua sombra a sotavento. O certo é que todas as Naus envolvidas em combate acabaram por ficar encostadas umas ás outras. A certa altura, provavelmente em resultado do lançamento de numerosas lanças de fogo, declarou-se um violento incêndio numa das Naus que os seus tripulantes não foram capazes de dominar. Puxado pelo vento, o fogo passou em poucos instantes de umas Naus para as outras, acabando por transformar todas elas num imenso braseiro. E todas as nove arderam até à linha de água! Em resultado do incêndio, os seus tripulantes tiveram que se atirar ao mar, tentando desesperadamente alcançar a costa a nado. Mas a distância a que ela se encontrava devia ser considerável. Por outro lado, os navios que tinham ido em perseguição das duas Naus que tinham fugido deviam estar bastante afastadas e além disso, a sotavento. Não tinham por isso qualquer possibilidade de socorrer os náufragos. É pois bastante provável que a maioria dos tripulantes das nove Naus tenha parecido afogada. Segundo os cronistas, teriam morrido cerca de oitocentos genoveses e savoneses, quinhentos franceses e quinhentos portugueses. Um dos que conseguiu chegar a terra, agarrado a um bocado de madeira segundo reza a tradição, foi Cristóvão Colombo, que fazia parte da guarnição da Nau de Colombo "o velho", seu parente, e que a partir de então ficou ao serviço do Rei de Portugal. Os verdadeiros vencedores da batalha foram os Castelhanos, que ficaram livres das depredações que lhes puderia ter causado a armada combinada de Colombo "o velho" e de Pêro de Ataíde.

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