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sexta-feira, novembro 30, 2012

Guerras Napoleónicas


Guerras Napoleónicas é a designação do conflito armado que se estendeu de 1803 a 1815, opondo a quase totalidade das nações da Europa a Napoleão Bonaparte, herdeiro da Revolução Francesa e ditador militar. Napoleão chegou ao poder como 1° Cônsul (1799) vindo a ser coroado Imperador da França, em 1804, sob o título de Napoleão I. A partir de 1807 conduziu o governo sem atender aos corpos legislativos e com características autoritárias, imperiais e expansionistas. As guerras, a princípio localizadas como conflitos entre soberanos, tornaram-se guerras nacionais a partir da resistência popular de Espanha e Portugal (Guerra Peninsular) aos invasores napoleónicos. Com o apoio da Grã-Bretanha, as nações europeias, derrotadas em sucessivas coligações, acabaram por se impor a Napoleão na Batalha de Waterloo (1815) e forçaram o Imperador francês ao exílio.

Antecedentes
(1789 - 1802)

Guerras Revolucionárias Francesas


Notícias dos acontecimentos da Revolução Francesa de 1789 foram recebidas com grande alarme pelas lideranças políticas nos países pela Europa, o que só piorou quando eles souberam da prisão e execução do Rei Luís XVI de França. A primeira tentativa de esmagar a recém, nascida República Francesa veio em 1793 quando o Império Austríaco, o Reino da Sardenha, o Reino de Nápoles, o Reino da Prússia, Espanha e o Reino da Grã-Bretanha formaram a chamada Primeira Coligação. Os franceses tomaram várias medidas, incluindo conscrições em massa (levée en masse), reformas militares e uma política de guerra total, que acabaram contribuindo para a vitória e sobrevivência da República. Ainda assim, o conflito interno persistiu e se tornou uma guerra civil aberta.


A Guerra da Primeira Coligação terminou quando o jovem General Napoleão Bonaparte derrotou os Austríacos na Itália e chegou às portas de Viena, impondo á Áustria o Tratado de Campoformio. Em 1797, apenas a Inglaterra continuava oficialmente em guerra contra a França. As guerras revolucionárias francesas foram uma série de grandes conflitos, entre 1792 e 1802, nos quais se enfrentaram, de um lado, a França Revolucionária e, de outro, amplas coligações formadas pelo Reino Unido, Prússia, Império Russo, Duas Sicílias, Espanha, Suécia, Países Baixos, Portugal, Reino da Sardenha e Reino de Nápoles, resultando numa vitória francesa decisiva, que garantiu a sobrevivência da República Francesa. De facto, os franceses massacraram as coligações dos países inimigos, numa grande demonstração de habilidade e genialidade militar. E, comandada pelo jovem e habilidoso General Napoleão Bonaparte, a França manteve-se sempre na ofensiva, empreendendo uma violenta reação à invasão aliada. As batalhas foram marcadas pelo fervor revolucionário francês e por inovações militares, as campanhas viram os exércitos revolucionários franceses derrotar coligações inimigas e expandir o controlo francês sobre os Países Baixos, a península Itálica e a Renânia. As guerras envolveram um grande número de soldados, em especial devido ao recurso à mobilização em massa. As guerras revolucionárias francesas costumam ser divididas entre a Primeira Coligação (1792 - 1797) e a Segunda Coligação (1798 - 1801), embora a França também estivesse em guerra com o Reino Unido continuamente entre 1793 a 1802. As hostilidades cessaram com o tratado de Amiens (1802).




Guerra Da Primeira Coligação
(1791 – 1792)


Na altura de 1791, as monarquias da Europa olhavam com preocupação os desdobramentos na França e consideravam a possibilidade de intervir, ou em apoio a Luís XVI ou para tirar partido do caos. A personagem principal, era o Sacro Imperador Romano Leopoldo II, irmão de Maria Antonieta, que via com preocupação a tendência revolucionária francesa ao radicalismo, embora ainda tivesse esperança de evitar uma guerra. Em 27 de agosto, Leopoldo e o Rei Frederico Guilherme II da Prússia, em consulta com nobres franceses emigrados, emitiram a Declaração de Pilnitz, que anunciava o interesse dos monarcas da Europa no bem-estar de Luís e sua família e ameaçava com vagas mais severas, consequências caso algo de mau lhes acontecesse. Os chefes revolucionários franceses viram a declaração como uma ameaça séria. Ademais das diferenças ideológicas entre a França e as potências monárquicas da Europa, havia contínuas controvérsias acerca do, status das propriedades Imperiais na Alsácia, e os franceses se preocupavam com a agitação no exterior dos nobres emigrados, especialmente nos Países Baixos Austríacos e nos Estados Germânicos menores. Por fim, a França declarou guerra primeiramente à Áustria, por meio de uma decisão da assembleia em 20 de abril de 1792 que se seguiu a uma longa lista de reclamações apresentadas pelo ministro do exterior Dumouriez. Este preparou a imediata invasão dos Países Baixos Austríacos, onde esperava que a população local se rebelasse contra o domínio dos Habsburgos. Entretanto, a revolução havia desorganizado o exército e as forças levantadas eram insuficientes para a invasão. Em seguida à declaração de guerra, houve uma deserção em massa de soldados franceses. Enquanto o governo revolucionário apressadamente levantava novas tropas e reorganizava as forças armadas, um exército aliado, composto basicamente por tropas prussianas, sob o Comando do Brunsvique-Luneburgo, reuniu-se próximo a Coblença, no Reno.



Em julho, Brunsvique invadiu a França, tomou com facilidade as fortalezas de Longwy e Verdun e emitiu uma proclamação em que declarava sua intenção de restaurar os plenos poderes do Rei francês e considerava como rebelde qualquer pessoa ou cidade que resistisse. Entretanto, em 20 de Setembro, em Valmy, as forças de Brunsvique chegaram a um impasse contra o General Dumouriez e o General François-Étienne Kellermann no qual se distinguiu a artilharia francesa, altamente profissional.



Embora a batalha terminasse indefinida, o resultado reforçou o moral francês. Ademais, os prussianos, ao avaliar que a campanha durava mais e custava mais caro do que o planejado, decidiram retirar-se do território francês. No dia seguinte, a monarquia foi formalmente abolida e a Primeira República, declarada. Entretanto, os franceses haviam sido bem-sucedidos em diversas outras frentes, ao ocupar a Saboia e Nice, enquanto o General Custine invadia a Alemanha e ocupava várias cidades ao longo do Reno, chegando até Frankfurt. Dumouriez passou à ofensiva na Bélgica e saiu vitorioso contra os austríacos em Jemappes em 6 de Novembro, de modo que ocupou a totalidade do país até o início do inverno.


(1793)


Em 21 de janeiro, o governo revolucionário executou Luís XVI em seguida a um julgamento. O fato uniu toda a Europa, inclusive a Espanha, Nápoles e os Países Baixos, contra a Revolução. Até mesmo o Reino Unido, de início simpático à assembleia francesa, já se juntara à Primeira Coligação contra a França. Levantaram-se exércitos contra a França em todas as suas fronteiras. Em resposta, a França declarou o recrutamento de centenas de milhares de homens, o que deu início à política francesa de usar a mobilização maciça e de manter-se na ofensiva para que estes grandes exércitos tomassem e usassem o material bélico capturado ao inimigo. A França sofreu sérios reveses de início, ao ser expulsa da Bélgica e ao ter que lidar com revoltas no oeste e no sul. Mas na altura do final do ano, os novos e gigantescos exércitos e uma política severa de repressão interna que incluía execuções em massa haviam logrado repelir as invasões e extinguir as revoltas. O ano terminou com as forças francesas à frente, mas próximas às fronteiras de antes do conflito.

(1794)

O ano de 1794, trouxe ainda mais vitórias para os exércitos revolucionários. Embora a invasão do Piemonte houvesse fracassado, forças francesas invadiram a Espanha através dos Pirenéus e tomaram São Sebastião, e os franceses saíram vitoriosos da batalha de Fleurus, o que lhes permitiu ocupar a totalidade da Bélgica e a Renânia.

(1795)


Após conquistar os Países Baixos num ataque-surpresa durante o inverno, a França estabeleceu ali a República Batava, um Estado-fantoche. A Prússia e a Espanha decidiram aceitar a paz e cederam, pelo tratado de Basileia, a margem esquerda do Reno à França. A paz representou o fim da fase de crise da Revolução. A França ficaria livre de invasões por muitos anos. O Reino Unido procurou reforçar os rebeldes na Vendeia, sem sucesso, e as tentativas de derrubar o governo em Paris foram frustradas pela guarnição militar chefiada por Napoleão Bonaparte, com a correspondente fundação do Diretório. Na frente renana, o General Pichegru, que negociava com os monarquistas exilados, traiu seu exército e forçou a evacuação de Mannheim e o fracasso do sítio de Mogúncia por Jourdan.

(1796)


Os franceses prepararam um grande avanço em três frentes, com Jourdan e Moreau no Reno e Bonaparte na península Itálica. Os três exércitos deveriam encontrar-se no Tirol e marchar contra Viena. Jourdan e Moreau adentraram rapidamente a Alemanha. Em setembro, Moreau atingira a Baviera e a divisa do Tirol, mas Jourdan foi derrotado pelo arquiduque Carlos, de modo que os dois exércitos franceses viram-se forçados a recuar para o outro lado do Reno. Por outro lado, Napoleão obteve sucesso total em sua ousada invasão da Itália. Ele dividiu os exércitos da Sardenha e da Áustria, de maneira a derrotá-los, impor a paz à Sardenha, tomar Milão e sitiar Mântua. Derrotou os sucessivos exércitos austríacos lançados contra as tropas francesas para tentar romper o sítio. A rebelião na Vendeia foi finalmente esmagada em 1796 por Lazare Hoche, mas este não logrou desembarcar suas tropas na tentativa de invasão da Irlanda.











(1797)

Napoleão finalmente capturou Mântua, com a rendição de 18 mil soldados austríacos. O Arquiduque Carlos da Áustria não logrou impedir Napoleão de invadir o Tirol e o governo austríaco propôs a paz em abril, simultaneamente a uma nova invasão francesa da Alemanha comandada pelos Generais Moreau e Hoche. Pelo tratado de Campoformio, assinado em outubro, a Áustria cedeu a Bélgica à França e reconheceu o controlo francês da Renânia e de boa parte da península Itálica. A antiga República de Veneza foi partilhada entre a Áustria e a França. O tratado pôs termo à Primeira Coligação, embora o Reino Unido permanecesse em guerra.

Napoleão No Egito



Com apenas o Reino Unido na guerra e vendo-se sem uma marinha forte o suficiente para combatê-lo diretamente, Napoleão planejou uma invasão do Egito em 1798, que satisfaria o seu desejo pessoal de glória e interesse do Diretório em tê-lo longe de Paris. O objetivo militar da expedição não é claro, mas pode ter sido ameaçar o controlo britânico sobre a Índia. Napoleão partiu de Toulon para Alexandria e, após tomar Malta, desembarcou em junho. Ao marchar na direção do Cairo, venceu a Batalha das Pirâmides. Entretanto, sua frota foi destruída por Horatio Nelson na Batalha do Nilo, o que o deixou isolado em território egípcio. Napoleão passou o restante do ano consolidando sua posição no Egito. O governo francês também aproveitou o conflito interno na Suíça para invadi-la e estabelecer ali a República Helvética, ademais de anexar Genebra. Tropas francesas depuseram o papa e fundaram uma república em Roma. Uma força expedicionária francesa foi de fato enviada para o Condado de Mayo para apoiar os rebeldes irlandeses durante sua rebelião contra a Inglaterra, no verão de 1798. Apesar dos sucessos iniciais, a força terrestre acabou sendo derrotada e a marinha francesa também foi vencida (batalha de Tory Island). Os franceses também estavam sob pressão nos Países Baixos do Sul e em Luxemburgo, onde a população local se rebelava contra a conscrição e a violência anti-religiosa (Guerra dos Camponeses). A França em 1798 também lutava uma guerra não declarada no mar contra os Estados Unidos, conhecida como a "Quase-guerra", que se resolveu em 1799.



Bonaparte retornou do Egito em 23 de agosto de 1799 e tomou controlo do governo a 9 de novembro do mesmo ano no Golpe de 18 de brumário, que derrubou o Diretório e formou o chamado Consulado, liderado por Napoleão. Sob sua liderança, o exército francês se rearmou e foi reorganizado. Uma força de reserva também foi mobilizada para futuras campanhas além do Reno e na Itália. Em todas as frentes, os franceses, sob a liderança de Napoleão, começaram a avançar e empurraram os austríacos para longe do seu território e também afastaram a ameaça da Rússia. Na Itália, Bonaparte derrotou os austríacos novamente nas batalhas de Marengo e Hohenlinden em 1800. Derrotada, a Áustria assina o Tratado de Lunéville (9 de fevereiro de 1801). Agora isolado, o Reino Unido foi forçado a assinar o Tratado de Amiens com a França.


Data De Início E Nomenclatura

Não há consenso sobre quando as guerras revolucionárias francesas terminaram e as guerras napoleónicas começaram. As datas para o começo do conflito são debatidas entre 9 de novembro de 1799, quando Napoleão tomou o poder no 18 de brumário, ou em 18 de maio de 1803, quando a Grã-Bretanha encerrou o período de paz que firmou com a França. Outra data debatida é 2 de dezembro de 1804, quando Bonaparte se coroou Imperador. Historiadores Britânicos se referem ao período quase contínuo de guerras de 1792 a 1815 como a "Grande Guerra Francesa", ou como a fase final da Segunda Guerra dos Cem anos, que teria ido de 1689 a 1815. Na França, as Guerras Napoleónicas são geralmente integradas com as Guerras Revolucionárias Francesas (Les guerres de la Révolution et de l'Empire).


Táticas De Napoleão

Napoleão foi, e ainda é, reconhecido por suas vitórias nos campos de batalha. Historiadores e analistas militares há muito tempo estudam seus feitos. Em 2008, Donald Sutherland escreveu: "A batalha ideal Napoleónica era manipular o inimigo a uma posição in favorável através de manobras e ardis, forçando ele a mandar suas principais forças e reservas para a batalha principal e depois realizar um ataque envolvente com as tropas não comprometidas ou reservas no flanco ou por trás. Tal ataque surpresa ou daria um duro golpe na moral inimiga ou o forçaria a quebrar suas linhas. Ainda assim, a própria impulsividade do inimigo começava o processo onde um pequeno exército francês poderia derrota-los um a um". Após 1807, Napoleão criou uma força de artilharia bem armada e altamente móvel. O imperador francês, ao invés de contar com sua infantaria para enfraquecer as linhas inimigas, ele agora usava artilharia pesada para enfraquecer o inimigo. Uma vez que a posição inimiga estava amaciada, a infantaria e a cavalaria avançavam em peso.

Guerra Da Segunda Coligação


Porém, em 1798, a Segunda Coalizão foi formada contra a França e era composta novamente pela Áustria, Reino Unido, Nápoles, o Império Otomano, os Estados Papais, Portugal, o Império Russo, a Suécia e alguns outros países. Durante a Guerra da Segunda Coligação, a República Francesa sofria com corrupção e divisões internas sob o governo do Diretório (cinco directeurs que detinham o poder executivo total). A economia francesa estava em frangalhos e não tinha mais os serviços de Lazare Carnot, o ministro da guerra que havia supervisionado as campanhas bem-sucedidas no exterior após uma reforma nas forças armadas na década de 1790. O general Bonaparte, principal arquiteto da vitória contra a primeira coligação, lançou uma incursão militar no Egito. Na Europa, a França sofria com derrotas e privações. O principal instigador e financiador da guerra era a Inglaterra, velha rival do país. A paz firmada ao fim de 1797 não durou muito tempo. De fato, logo em 1798, Reino Unido e Áustria se organizaram para formar uma nova aliança contra a França. Eles receberam apoio do Império Russo, que também se via ameaçado com as ideias da revolução.

(1799)



Na Europa, a Coligação lançou várias expedições militares contra a França, incluindo campanhas na Itália e Suíça, além de uma invasão anglo-russa dos Países Baixos. O General Russo, Alexander Suvorov, derrotou os franceses em vários confrontos no norte da Itália, os expulsando dos alpes. Contudo, não conseguiram muito sucesso na Holanda, com a derrota britânica na batalha de Castricum, enquanto os russos e austríacos foram esmagados na segunda batalha de Zurique. Esses reveses desestimularam a Rússia, que se retirou da Coligação. O General Napoleão Bonaparte lançou-se então numa invasão da Síria e do Egito, mas após o fracassado cerco de Acre, ele se retirou para o território egípcio, onde repeliu uma invasão anglo-turca. Enquanto isso, a França se afundava numa crise interna política. Napoleão decidiu então voltar a Paris, deixando o que sobrou de suas tropas para atrás. O general, ainda muito popular entre o povo por causa de suas vitórias na guerra, usou sua influência para dar um golpe de estado, fundando assim o chamado Consulado Francês, com ele próprio na figura de chefe de governo.

(1800)


Napoleão enviou então o General Moreau com suas tropas para a Alemanha, enquanto ele próprio reunia suas forças em Dijon e marchou para além da Suíça, onde atacou os exércitos austríacos na Itália. Bonaparte conquistou uma importante vitória na batalha de Marengo e reocupou o norte italiano. Moreau então invadiu a Baviera e derrotou a Áustria na batalha de Hohenlinden. Ele continuou até Viena e com isso o governo austríaco foi obrigado a aceitar os termos de paz franceses.



(1801)

Os austríacos e franceses negociaram então o tratado de Lunéville, que basicamente reiterava o antigo tratado de Campoformio. No Egito, os otomanos e britânicos forçaram a rendição das guarnições francesas remanescentes nas cidades do Cairo e Alexandria. Os ingleses prosseguiam então com a guerra no mar. Formando a chamada Coligação da Neutralidade Armada, que incluía a Prússia, Rússia, Dinamarca e Suécia, para permitir o comércio, apesar do bloqueio naval britânico na Europa. O Reino da Dinamarca e Noruega, ainda aliado da França, resistiu mas foram derrotados pelo Almirante Horatio Nelson na batalha de Copenhaga. Em dezembro de 1801, a França enviou uma expedição até Saint-Domingue para encerrar uma rebelião no Haiti, mas acabou fracassando.

(1802)

Em 1802, os britânicos e a liderança francesa acertaram o tratado de Amiens, encerrando a guerra. Um período de ténue paz se iniciou, mas não duraria muito, com as hostilidades retornando no ano seguinte. Este tratado é reconhecido pelos historiadores como o evento que encerrou as guerras revolucionárias francesas. A partir de 1804, com a coroação de Napoleão Bonaparte e o nascimento do Império Francês, os conflitos que se seguiram seriam ainda mais brutais e de grande intensidade e ficariam conhecidos como as Guerras Napoleónicas.


Pós-Guerra

A Primeira República Francesa, que começou à beira da derrota e da subversão, conseguiu, no decorrer do conflito, superar seus inimigos e produziu um novo exército, que levaria anos para ser sobrepujado. Reformas nas forças armadas garantiram subidas de patente por meritocracia, em detrimento de origem aristocrática (apesar da condição financeira ainda ser um pesado fator). Com a conquista da margem esquerda do Reno e a dominação assegurada nos Países Baixos, na Suíça e na Itália, a jovem república francesa expandiu-se para conquistar um dos maiores territórios já controlados pelo país em sua história (superado em poder, influência e extensão territorial na Europa apenas pelo país na era Napoleónica). Contudo, a paz de Amiens se provou frágil e em 1804 a guerra já havia sido retomada a todo o vapor, após uma nova Coligação erguer-se contra a França. Após a derrota da Áustria, a guerra continuou entre a França e a Inglaterra. Napoleão foi colocado no comando do Exército de Inglaterra, reunido em Dunquerque, tendo em vista a invasão das Ilhas Britânicas mas, atendendo ao facto de os Ingleses dominarem os mares, o que tornava improvável o sucesso da travessia do Canal da Mancha, Napoleão propôs ao Directório, em Fevereiro de 1798, o abandono deste projecto e a adopção de outro, uma expedição ao Egipto que, com sucesso, daria aos Franceses uma base para expulsar os Ingleses da Índia. Libertos dos encargos contra as forças da Primeira Coligação, os Franceses não suspenderam a sua expansão na Europa. Em Fevereiro de 1798, ocuparam Roma, capturaram o Papa e estabeleceram a República Romana. Em Abril desse mesmo ano, estabeleceram a República Helvética.

Factores Da Vitória Francesa


Os factores que conduzem a um determinado acontecimento histórico são sempre muito complexos e, dificilmente poderão ser exaustivamente enunciados. No entanto, vale a pena mencionar, de forma muito sumária, os factores que, no entender de Richard Ernest Dupuy e Trevor Nevitt Dupuy contribuíram para a vitória francesa. As grandes alterações sociais e políticas proporcionadas pela Revolução Francesa, que permitiram a concepção e execução da (levée en masse), que permitiu colocar uma população em armas, em defesa da República. O fervor revolucionário que inspirou e foi a verdadeira força anímica das fileiras francesas e que não pôde ser ultrapassado pelos exércitos conservadores profissionais, com melhor treino e uma disciplina muito superior. A revolução industrial, embora na sua fase inicial, já permitiu desviar muita mão-de-obra para os exércitos. A organização do exército, em grande parte obra de Lazare Carnot. O génio táctico e estratégico de Napoleão Bonaparte, revelado na sua Primeira Campanha de Itália.

Portugal Na Primeira Coligação


Em Portugal as notícias da Revolução Francesa foram acolhidas com alguma expectativa, mas não com repúdio. A situação só começou a alterar-se após os acontecimentos da fuga de Luís XVI e daí por adiante até à sua execução. Depois deste acontecimento, a guerra na Europa parecia inevitável e Portugal, entre o Atlântico e a Espanha, tinha que acautelar os seus interesses. Por um lado, tinha de assegurar a as linhas de comunicações do Império e, para isso, necessitava de se manter em bom relacionamento com a potência que dominava os mares, a Inglaterra. Por outro lado, necessitava da não hostilidade da Espanha para preservar a sua independência. O mais poderoso rival da Espanha nos seus objectivos comerciais era a Inglaterra. Pelo Tratado de Paris, de Fevereiro de 1763, a Espanha teve de fazer importantes concessões à Inglaterra e até a sua única conquista durante a Guerra dos Sete Anos, a colónia de Sacramento, teve de ser devolvida a Portugal. Por isso, Carlos III não resistiu a interferir na Guerra da Independência Americana e, em Abril de 1779, assinou um tratado secreto com a França. O tratado previa que, obtida a vitória, a Espanha recuperaria Gibraltar. Nesta guerra, a Espanha reconquistou a Florida, ocupou as posições britânicas nas Bahamas e expulsou os Ingleses de Belize. Na Europa, pôs cerco a Gibraltar mas não obteve sucesso pois não tinha capacidade para bloquear a posição pelo mar. No entanto, em Fevereiro de 1782, recuperou Minorca que se encontrava em mãos inglesas. Seria difícil encontrar interesses coincidentes entre a Espanha e a Inglaterra. A Portugal interessava manter a neutralidade e, simultaneamente, não se afastar daquelas duas potências que tinham como único objectivo comum conter a Revolução Francesa. Luís Pinto de Sousa Coutinho, ministro dos negócios estrangeiros português, propôs constituir uma tríplice aliança com a Grã-Bretanha e a Espanha. Desta forma evitava que Portugal ficasse isolado quando os interesses das três potências deixassem de coincidir. Colocado entre o Atlântico, onde se definia o papel da Grã-Bretanha, e o continente, onde a única fronteira era com a Espanha, dificilmente se verificaria a convergência de interesses. A solução encontrada foi a de obter acordos com a Espanha onde não obrigasse a uma discordância com a Grã-Bretanha. Mas uma unidade de acção com a Espanha envolvia ainda o risco de subalternização de Portugal relativamente à potência continental. A situação de Portugal era, assim, precária e podia tornar-se mais perigosa se a Espanha se colocasse ao lado da França. A execução de Luís XVI levou Carlos IV de Espanha a chamar o seu embaixador em Paris. Esta atitude valeu-lhe a declaração de guerra da Convenção (18 de Março de 1793). A Espanha entrou assim na Primeira Coligação. Desta forma, para Portugal, era preciso garantir a convergência com a Espanha não colocando nunca em perigo a aliança com a Grã-Bretanha. Portugal assinou separadamente, com aquelas potências tratados de assistência mútua. Assinou com a Espanha, em Madrid, a 15 de Julho de 1793, e com a Grã-Bretanha, em Londres, a 26 de Setembro desse mesmo ano. Portugal não se juntava à Coligação mas auxiliava estas duas potências beligerantes: Espanha e Grã-Bretanha, assumia assim o estatuto de potência auxiliar. Formalmente, mantinha a sua situação de neutralidade. De acordo com as regras da diplomacia da época, esta era uma atitude legítima que foi reconhecida pelas outras potências europeias. Foi neste âmbito que Portugal enviou para a Catalunha uma força com cerca de 5.000 homens, o "Exército Auxiliar à Coroa de Espanha" sob o comando do Marechal de Campo John Forbes Skellater.



Esta força iniciou a viagem por mar a 19 de Setembro de 1793 e iniciou o desembarque no porto de Rosas, na Catalunha, a 9 de Novembro. Tinha início, para as tropas portuguesas, a Campanha do Rossilhão.

Terceira Coligação



Após a dissolução da Segunda Coligação (1802), a negativa do Reino Unido em entregar a ilha de Malta aos Cavaleiros da Ordem de São João de Jerusalém iniciou novo conflito com os franceses. Em 1805, com a adesão da Áustria, de Nápoles, da Rússia e da Suécia ao conflito em apoio aos ingleses, originava-se a Terceira Coligação. A Espanha era então aliada da França. A ideia desta coligação era tentar deter as crescentes ambições do governante francês, Napoleão Bonaparte, que em Maio de 1804 recebera o título de imperador. Napoleão enfrentou os austríacos, que haviam invadido a Baviera, tendo vários Estados alemães apoiado a França na ocasião. As tropas francesas derrotaram as forças austríacas na batalha de Ulm, onde fizeram vinte e três mil prisioneiros, e iniciaram o avanço, ao longo do rio Danúbio, sobre Viena. As tropas russas, lideradas pelo General Mikhail Kutuzov e pelo Czar Alexandre I da Rússia, levaram reforços aos austríacos, mas foram vencidas na batalha de Austerlitz. A Áustria rendeu-se novamente, e assinou o Tratado de Presburgo (26 de dezembro de 1805). Em consequência, foi formada a Confederação do Reno, tendo Napoleão aproveitado a situação para nomear os seus irmãos, José I de Nápoles, e Luís I da Holanda. Enquanto isso, no mar, o Almirante Britânico Horatio Nelson derrotava as Armadas Francesas e Espanholas na Batalha de Trafalgar (21 de outubro de 1805). Como consequência, no ano seguinte (1806), Napoleão decretou o Bloqueio Continental, pelo qual os portos de toda a Europa seriam fechados ao comércio Britânico. A superioridade naval da Grã-Bretanha e a retirada da Família Real Portuguesa para o Brasil dificultaram, na prática, a aplicação desta medida, conduzindo ao fracasso dessa política económica europeia francesa.

Prelúdio



O Reino Unido não estava feliz com várias ações tomadas pela França após a assinatura do Tratado de Amiens. Napoleão Bonaparte havia anexado Piemonte e a Ilha de Elba, e se proclamou presidente da República Italiana, um Estado criado pela França. Os franceses também interferiam bastante nos assuntos comerciais britânicos, apesar dos acordos de paz. Paris também reclamava que a Grã-Bretanha ainda dava abrigo a certos indivíduos e não calava a imprensa anti França do país. A ilha de Malta havia sido capturada pelos britânicos durante a Guerra da Segunda Coligação e esse assunto foi tratado em um complexo acordo estipulado pelo 10º artigo do Tratado de Amiens onde a Ordem de São João foi restaurada com uma guarnição napolitana. Contudo, o enfraquecimento da Ordem através do confisco de seus bens na França e Espanha, além de outros atrasos, evitaram que os britânicos pudessem se retirar da ilha nos três meses estipulados pelo tratado. A República Helvética foi estabelecida pela França quando eles invadiram a Suíça em 1798. Os franceses retiraram suas tropas, mas violentas revoltas aconteceram contra o governo, que muitos suíços viam como centralizado demais. Alarmado, Bonaparte reocupou o país em 1802 e impôs um acordo de mediação. Esta ação causou ultraje na Grã-Bretanha, que protestou afirmando que este ato violava o Tratado de Lunéville. Embora as potências continentais não estivessem preparadas para agir, os britânicos decidiram enviar um agente para ajudar os suíços a obter suprimentos e deu ordens para as suas forças armadas não devolverem a Colônia do Cabo para a Holanda, como eles haviam prometido no Tratado de Amiens. Contudo, a resistência suíça acabou entrando em colapso antes de qualquer mudança significativa nas políticas internacionais e depois de um mês os ingleses decidiram revogar a ordem de não entregar a Colônia do Cabo. Ao mesmo tempo, a Rússia também entrou nas discussões sobre a ilha de Malta. Preocupada com a possibilidade de recomeço das hostilidades quando Bonaparte descobrisse que a Colônia do Cabo não havia sido retida, os britânicos começaram a deliberadamente procrastinar sua evacuação de Malta. Em janeiro de 1803, um artigo oficial do governo francês publicou um relatório de um agente comercial que dizia com quanta facilidade a França havia conquistado o Egito. Os britânicos usaram isso como motivo para exigir algum tipo de satisfação e segurança antes de evacuar Malta, que podia ser usado como rota para o Egito. A França negou qualquer intenção de tentar anexar o Egito e perguntou que tipo de garantias os ingleses precisavam, mas estes não responderam. Ainda não havia um interesse das partes em recomeçar as hostilidades, com o primeiro-ministro Henry Addington afirmando publicamente que a Grã-Bretanha estava em um profundo estado de paz. No começo de março de 1803, o governo de Addington recebeu a notícia de que a Colônia do Cabo havia sido reocupada pelo Exército Britânico, de acordo com as ordens dadas. No dia 8, novas ordens foram passadas aos militares para se prepararem para uma retaliação francesa, mas a propaganda estatal afirmou falsamente que isso era uma resposta as preparações que os franceses estavam fazendo e que negociações com Paris estavam sendo feitas. Napoleão reagiu repreendendo o embaixador britânico na frente de 200 espectadores a respeito das preparações militares não justificadas do seu país. O governo do primeiro-ministro inglês, Henry Addington, sabia que haveria uma investigação para saber se o motivo das recentes preparações militares era justificado ou não. Durante o mês de abril ele tentou, sem sucesso, procurar o apoio de William Pitt para se blindar de qualquer dano político. Nesse mesmo período, o governo britânico fez um ultimato á França, exigindo a retenção de Malta por pelo menos dez anos, a permanente aquisição da ilha de Lampedusa do Reino da Sicília e a evacuação da Holanda. Em retorno, eles reconheceriam as conquistas territoriais francesas na Itália, se Napoleão se retirasse da Suíça e recompensasse o Reino da Sardenha por suas perdas territoriais. A França ofereceu, em contra partida, colocar a ilha de Malta em mãos russas, para aliviar as preocupações britânicas, se retirar da Holanda, uma vez que a saída inglesa de Malta estivesse concluída, e formar uma convenção para dar satisfação ao Reino da Grã-Bretanha em outros temas. Porém os britânicos falsamente afirmaram que a Rússia nunca se ofereceu e o seu embaixador deixou Paris. Ainda tentando evitar uma guerra, Bonaparte tentou fazer um acordo secreto com os ingleses onde estes poderiam se manter em Malta se aos franceses fosse permitido ocupar a península de Otranto, em Nápoles. Porém todos os esforços foram infrutíferos e a Inglaterra oficialmente declarou guerra a França em 18 de maio de 1803.



Em 1804, Napoleão foi coroado Imperador dos Franceses. Sua ascensão não foi diretamente reconhecida por nenhuma potência europeia.

Guerra Entre O Reino Unido E A França
(1803 - 1814)

Motivações Britânicas


Os Britânicos terminaram sua paz fraca criada pelo tratado de Amiens quando declarou guerra a França em maio de 1803. O governo do Reino da Grã-Bretanha estava ficando cada vez mais irritado com Napoleão alterando a ordem política na Europa Ocidental, especialmente na Suíça, na Alemanha, na Itália e na Holanda. O académico Frederick Kagan diz que os britânicos estavam insultados e alarmados com o controlo de Napoleão sobre o território suíço. O líder francês falou que os ingleses não tinham nada a dizer a respeito dos acontecimentos na Europa continental e queria interromper a circulação de jornais ingleses que difamavam Napoleão. A Grã-Bretanha imaginava estar perdendo o controlo político e sua hegemonia, além da perda de mercados, e se preocupava que Napoleão iria tentar ameaçar suas colónias fora do continente europeu. O autor Frank McLynn afirma que a decisão britânica de ir a guerra contra a França em 1803 foi uma "mistura de motivações económicas e neurose nacional, uma ansiedade irracional sobre os motivos e intenções de Napoleão". Contudo, McLynn argumenta que, no longo prazo, a decisão de fazer guerra foi correta, pois as intenções de Napoleão eram hostis e iam de encontro aos interesses britânicos. Além disso, Bonaparte não estava preparado para a guerra naquele momento e era o melhor período para os britânicos irem a ofensiva. A Inglaterra então tomou conta de Malta, se recusando a acatar os termos do tratado de Amiens. O maior medo dos britânicos era que Napoleão estaria tomando o controlo da Europa, tornando o sistema internacional instável e excluindo a Grã-Bretanha do cenário político. Muitos académicos afirmam que a postura agressiva de Napoleão fez dele inimigo de muitos países e lhe custou aliados. Em 1808 os franceses já estavam em controlo de boa parte da Europa continental, mas o conflito constante com a Inglaterra levou a Guerra Peninsular e a Campanha da Rússia, onde muitos afirmam que foram erros de cálculo de Napoleão. Nunca houve uma tentativa séria de encerrar um conflito por meio de um acordo de paz. O pedido mais relevante foi feito por Charles James Fox, secretário de relações exteriores inglês, em 1806 e terminou em fracasso. Os britânicos queriam reter suas possessões coloniais no exterior e ainda manter Hanôver sob seu controle, e em retorno reconheceria as conquistas territoriais francesas. Os franceses aceitaram deixar aos ingleses Malta, Colónia do Cabo, Tobago e a Índia Francesa, mas queriam a Sicília em troca da restauração de Hanôver, uma condição que os britânicos recusaram. Ao contrário dos seus aliados nas Coligações, o Reino da Grã-Bretanha esteve sempre em guerra contra a França no curso das Guerras Napoleónicas. Protegidas por sua superioridade naval, os britânicos travaram poucas batalhas terrestres contra a França no curso da década, preferindo travar a sua guerra por procuração. O governo britânico gastou enormes quantidades de dinheiro para apoiar outros Estados europeus guerrearem contra Napoleão, chegando a pagar por exércitos inteiros. Foi dinheiro inglês, por exemplo, que manteve viva a rebelião espanhola na Guerra Peninsular (1808 - 1814), apoiando os guerrilheiros. Uma força Anglo-portuguesa, liderada por Arthur Wellesley, apoiada pelos espanhóis, realizaram uma campanha bem-sucedida por terra para expulsar os franceses da Espanha, dando a Inglaterra a oportunidade de invadir a França pelo sul. Em 1815, o exército britânico venceu as tropas de Napoleão em Waterloo. Além de algumas pequenas batalhas navais travadas em alguns cantos do império colonial britânico, as guerras napoleónicas tiveram um aspecto global bem menor se comparado com a Guerra dos Sete Anos (1756 - 1763), que foi o primeiro conflito a ser caracterizado como uma "guerra mundial".

Guerra económica



Em resposta ao bloqueio naval imposto pelos ingleses contra a costa francesa iniciado em maio de 1806, Napoleão firmou o Decreto de Berlim, em 21 de novembro do mesmo ano, que iniciou o Bloqueio Continental. O objetivo era isolar a Grã-Bretanha economicamente ao tentar encerrar o seu comércio com o continente. O Reino Unido manteve um exército de 220.000 soldados profissionais no auge das Guerras Napoleónicas, onde apenas metade estavam disponíveis para campanhas, com o resto sendo alocado na Irlanda e em outras possessões coloniais inglesas pelo mundo para garantir sua proteção e que estas próprias não tentassem se rebelar. Cerca de 2,5 milhões de homens serviram nos exércitos napoleónicos (incluindo milícias e guardas nacionais). Muitos destes soldados eram fornecidos pelos países satélites de Napoleão. O maior exército que ele conseguiu mobilizar para uma campanha foi de 685.000 homens para lutar na Rússia (1812), sendo que metade destas tropas, eram franceses. A marinha real britânica conseguiu impedir o comércio extracontinental francês (ao atacar navios franceses em alto-mar e até tomando pela força possessões coloniais francesas no exterior) mas não pode fazer muita coisa com as relações comerciais dentro do continente europeu. Além disso, a França tinha uma população bem maior que a do Reino Unido e também tinha uma agricultura muito maior. Contudo, a Grã-Bretanha tinha os maiores parques industriais da Europa e sua dominância militar nos oceanos garantiu que o país manteria sua riqueza através do comércio marítimo. Isso garantiu que a França não conseguiria manter a Europa sob seu controle pela paz, pois os países de lá sempre precisariam de bens e matérias primas encontradas fora do continente. Ainda assim, o governo francês acreditava que conseguiria enfraquecer a Inglaterra ao isola-la do continente e acabar com sua influência económica na região.

Financiando o conflito


Um fator importante para o sucesso britânico foi sua habilidade de mobilizar todos os recursos financeiros e industriais da nação para derrotar a França. O Reino da Grã-Bretanha tinha uma população de 16 milhões de pessoas, metade da população francesa (que era de um pouco mais de 30 milhões). Então, com uma população maior, é natural que a França tivesse um exército maior. Contudo, os britânicos compensavam isso ao subsidiar, através de empréstimos, as forças armadas de países como Áustria e Rússia, que tinham pelo menos 450.000 homens em armas em 1813. Pelos termos do tratado Anglo-Russo de 1803, os britânicos pagariam ₤1,5 milhões de libras por cada 100.000 soldados que a Rússia conseguisse mobilizar. Mais importante, a produção nacional britânica manteve-se forte e seu setor bem organizado de negócios canalizava a produção para as necessidades militares. O Reino Unido usou seu poder económico para expandir a marinha real, dobrando o seu número de fragatas e aumentando em 50% o seu inventário de navios de linha, enquanto aumentava o número de marinheiros de 15.000 para 133.000 em oito anos após o começo das guerras contra a França em 1793. Os franceses, enquanto isso, viram sua marinha ser reduzida pela metade. O Bloqueio Continental, que visava isolar a Inglaterra economicamente do restante do continente europeu, acabou fracassando devido a corrupção, contrabando e da dificuldade de impor tal bloqueio a todos os portos da região. No final, a economia britânica sofreu pouco. Os subsídios britânico a Rússia e a Áustria mantiveram estes países na guerra. O orçamento britânico em 1814 chegou a £66.000.000 de libras, incluindo £10 milhões para a marinha de guerra, £40 milhões para o exército, £10 milhões em empréstimos aos aliados e £38 milhões em juros da dívida nacional. De fato, a dívida pública subiu para £679 milhões, o dobro do PIB nacional na época. Fundos vinham de investidores privados e impostos sobre os cidadãos. Um imposto que viu um acentuado crescimento foi o de terras e sobre novas rendas. O custo total da guerra foi estipulado em £831 milhões de libras. Em contraste, o sistema financeiro francês era inadequado e Napoleão se viu forçado a adquirir fundos e requisições nas novas terras conquistadas.

Guerra Da Terceira Coligação
(1803)


Em 1803, o Reino Unido reuniu seus aliados pelo continente para formar a Terceira Coligação contra a França. Em resposta, Napoleão contemplou invadir a Grã-Bretanha, e reuniu um efetivo de 200.000 homens na cidade de Bolonha para a operação. Contudo, antes que ele pudesse autorizar uma invasão, ele precisava conquistar superioridade naval ou pelo menos afastar a esquadra britânica do Canal Inglês. Um complexo plano para distrair a marinha inglesa foi feito ao ameaçar as possessões coloniais britânicas nas Índias Ocidentais, mas fracassou quando a frota Franco-espanhola, sob comando do Almirante Villeneuve, foi forçada a recuar após a mal sucedida batalha de Cabo Finisterra, a 22 de julho de 1805. A marinha britânica então bloqueou Villeneuve em Cádiz, na costa de Andaluzia (sul da Espanha), até ele partir para Nápoles em 19 de outubro. Por fim, a esquadra combinada da marinha francesa foi derrotada na decisiva batalha de Trafalgar, em 21 de outubro de 1805. O comandante da frota britânica, o Almirante Horatio Nelson, morreu no combate.



Napoleão então não veria outra oportunidade de desafiar o poderio inglês no mar, nem ameaçaria mais uma invasão das ilhas britânicas. Ele então voltou sua atenção para os inimigos no continente, que naquela altura estavam se mobilizando contra ele. Em abril de 1805, a Rússia e o Reino Unido assinaram um tratado que visava remover a França da República Batava (atual Holanda) e da Confederação Suíça. A Áustria se juntou a aliança após a anexação da cidade de Génova pelos franceses e a proclamação de Napoleão como Rei da Itália em 17 de março de 1805. A Suécia, que já havia concordado em emprestar a região da Pomerânia sueca como base militar para que as tropas britânicas atacassem a França, se juntou a coalizão em 9 de agosto. Os austríacos foram os primeiros a partir para a ofensiva na guerra ao invadir a Baviera com um exército de 70.000 homens sob comando de Karl Mack von Leiberich. Napoleão então moveu seu exército, que estava estacionado na Bolonha, para confrontar os austríacos. Em Ulm (25 de setembro a 20 de outubro) Napoleão cercou as forças de Leiberich e forçou sua rendição, sofrendo pouquíssimas baixas no processo. Com o principal exército austríaco ao norte dos Alpes derrotado, os franceses marcharam sobre Viena. Então, afastado de suas linhas de suprimentos, Napoleão teve que enfrentar agora uma força austro-russa comandado pelo Marechal Mikhail Kutuzov, acompanhado pelo Imperador Russo Alexandre I em pessoa.



A 2 de dezembro, ele esmagou essa tropa, nas cercanias de Morávia, na Batalha de Austerlitz. Mesmo em menor número, Bonaparte infligiu cerca de 25.000 baixas ao inimigo, sofrendo apenas 7.000 dentre a sua própria tropa. Derrotada, a Áustria não teve escolha se não sair da Coligação e procurar a paz com a França. A 26 de dezembro de 1805 foi firmado o Tratado de Pressburg, que forçou os austríacos a ceder a região de Vêneto para o Reino de Itália (governado por Napoleão) e Tirol para a Baviera. Com a saída da Áustria da guerra, um impasse apareceu. Napoleão venceu diversas batalhas, mas o poderio completo do exército russo não havia sido testado, com o grosso de suas tropas ainda no seu território. Bonaparte agora tinha comando absoluto da França e havia expandido seu novo império ao conquistar a Bélgica, os Países Baixos, a Suíça, e boa parte da Alemanha ocidental e o norte da Itália. Seus apoiadores afirmam que Napoleão pretendia encerrar suas conquistas ali, mas sua mão foi forçada a continuar lutando e ganhar novos territórios para o país a fim garantir segurança nacional diante de países que se negavam a aceitar os seus feitos. O escritor Esdaille, contudo, discorda e afirma, ao fim da terceira coligação, as potências europeias estavam dispostas a aceitar Napoleão como ele era. O autor afirma: "Em 1806, tanto a Rússia quanto o Reino Unido possivelmente estava ansiosos para fazer paz e eles podiam até concordar com os termos apresentados e deixar intactas as conquistas de Napoleão. Já a Áustria e a Prússia queriam simplesmente serem deixadas em paz. Para firmar uma paz sólida, então, poderia até ser fácil. Mas (...) Napoleão não estava preparado para fazer concessões".

Guerra Da Quarta Coligação
(1806 - 1807)



A Quarta Coligação, foi a aliança formada pela Grã-Bretanha e pela Rússia e Suécia, contra a França de Napoleão Bonaparte, em 1806. A Prússia aderiu à Coligação, sendo as suas tropas derrotadas na batalha de Jena (14 de Outubro de 1806), tendo as forças francesas ocupado Berlim. Em seguida, Napoleão derrotou os exércitos russos na batalha de Friedlândia, (1807) obrigando o Czar Alexandre I da Rússia a assinar o Tratado de Tilsit. Uma ténue paz se seguiu na Europa, até a volta das hostilidades dois anos mais tarde. Alguns meses após o término da Terceira Coligação contra a França, iniciou-se a Guerra da Quarta Coligação (1806 - 1807) formada pelo Reino Unido, Prússia, Rússia, Saxónia e Suécia para, novamente, lutar contra Napoleão. Em julho de 1806, Bonaparte formou a Confederação do Reno que firmou uma aliança entre vários pequenos Estados no coração da Alemanha, na região da Renânia, e no oeste do país. Ele amalgamou muitos pequenos países em um conjunto de Ducados e Reinos para fazer a governança de países na Alemanha não prussiana mais fácil. Napoleão elevou os governantes dos dois maiores Reinos da Confederação, a Saxónia e a Baviera, para o status de Rei. Em agosto de 1806, o Rei Prussiano, Frederico Guilherme III, decidiu entrar em guerra contra a França, independente da ajuda das outras potências. O exército russo, principal aliado da Prússia, em particular, estava longe demais. A 8 de outubro de 1806, Napoleão avançou com suas tropas para o leste do Reno e sobre a Prússia. Napoleão pessoalmente derrotou um exército prussiano na Batalha de Jena (14 de outubro de 1806), enquanto o Marechal Louis Nicolas Davout também os derrotou na Batalha de Auerstedt no mesmo dia. No auge, cerca de 160.000 soldados franceses participavam da campanha contra a Prússia, usando sua mobilidade para derrotar o inimigo. Os prussianos conseguiram mobilizar até 250.000 soldados, sendo que eles sofreram 25.000 baixas, com 150.000 homens, feitos prisioneiros. Pelo menos 4.000 peças de artilharia e 100.000 mosquetes foram capturados. Em Jena, o combate não foi tão significativo. Mas em Auerstädt o grosso do exército prussiano foi destruído. Então, a 27 de outubro de 1806, Napoleão marchou sobre Berlim.



Lá ele visitou a tumba de Frederico, o Grande e ordenou que seus Marechais removessem seus chapéus quando entraram na tumba para reverencia-lo. No total, levou apenas 19 dias para Napoleão subjugar a Prússia e entrar em Berlim. O ponto decisivo da campanha foi sua vitória nas batalhas de Jena e Auerstädt. A Saxónia decidiu então se afastar dos prussianos e, junto com vários Estados menores alemães, se aliaram de vez a França. No próximo estágio da guerra, os franceses lutaram para forçar os russos para fora da Polónia. Os nacionalistas poloneses imediatamente se levantaram em favor da França. Soldados alemães também ajudaram as tropas de Napoleão, principalmente em cercos militares nas regiões da Silésia e Pomerânia, com assistência também de soldados holandeses e italianos. Napoleão então virou-se para o norte para confrontar o que sobrou das tropas russas e para capturar a capital nova da Prússia em Königsberg. Após uma vitória contestada em Eylau (7 - 8 de fevereiro de 1807), Bonaparte conseguiu forçar a rendição da cidade de Danzig após um curto cerco (24 de maio de 1807). Outra vitória contestada veio na Batalha de Heilsberg (10 de junho de 1807), onde forçou os russos a recuar novamente. Uma vitória mais definitiva veio na Batalha de Friedland (14 de junho de 1807), onde conseguiu derrotar o grosso do exército imperial russo. Após esta derrota, o Czar Alexandre I da Rússia decidiu procurar a paz com a França e firmou então o Tratado de Tilsit (7 de julho de 1807). Na Alemanha e na Polónia, novos estados satélites de Napoleão, como o Reino de Vestefália, o Ducado de Varsóvia e a República de Danzig, foram estabelecidos. Em setembro de 1807, o Marechal Guillaume Brune completou a ocupação da Pomerânia sueca, permitindo ao exército sueco, contudo, fugir com toda a sua munição. Impossibilitado de invadir a Inglaterra devido á superioridade naval desta, Napoleão impôs o Bloqueio Continental, proibindo os países do continente europeu de comercializar com o Reino Unido. Os Britânicos responderam lançando uma grande ofensiva naval contra o aliado mais fraco da França, a Dinamarca. Apesar de declaradamente neutros, os Dinamarqueses eram pressionados pelos franceses e russos para apoiar a frota de Napoleão. Londres não podia simplesmente ignorar a ameaça dinamarquesa. Em novembro de 1807, a Marinha Real Britânica bombardeou a cidade de Copenhaga, capturando a frota dinamarquesa, garantindo o fluxo de navios ingleses na região. A Dinamarca não lutou na guerra ao lado da França e agora com a perda de suas bases navais ficou ainda mais irrelevante no conflito. No Congresso de Erfurt (setembro - outubro de 1808), Napoleão e Alexandre I concordaram que a Rússia deveria forçar a Suécia a se unir ao Bloqueio Continental, o que levou a Guerra Finlandesa de 1808 - 1809 e a divisão do território sueco em duas partes no Golfo de Bótnia. A parte leste se tornou o Grão-Ducado da Finlândia, pertencente a Rússia.

Polónia



Em 1807, Napoleão fortaleceu sua base de poder na Europa oriental. A Polónia sempre fora dividida pelos seus três vizinhos, mas Bonaparte criou o chamado Ducado de Varsóvia, mas este Estado se tornou muito dependente da França. O Ducado incorporava territórios que outrora pertenciam a Áustria e Prússia. Sua população era de 4,3 milhões e em 1814 enviou 200.000 homens para lutar ao lado de Napoleão. Incluindo 90.000 que marcharam com ele até Moscovo (a maioria não retornou). Os russos fortemente se opuseram a ideia de uma Polónia soberana e independente, e isto foi um dos motivos que levou a França a invadir o Império Russo em 1812. O Ducado polonês foi dissolvido em 1815, após a queda de Napoleão. A Polónia só voltaria a ser um Estado independente em 1918. A influência de Napoleão no território polonês (assim como em outros territórios ocupados e vizinhos) foi imensa, incluindo a implementação do código napoleónico, a abolição da servidão, e a introdução das burocracias que firmaram a classe média local.

Guerra Da Quinta Coligação
(1809)



A Quinta Coligação foi a aliança formada pela Grã-Bretanha e pela Áustria, a Prússia e a Suécia (nações absolutistas), contra a França de Napoleão Bonaparte, em 1809. No ano de 1808, os exércitos de Napoleão, dominavam praticamente toda a Europa, excepto a Rússia e a Grã-Bretanha. Na Suécia ocupada, o Marechal francês Jean-Baptiste Bernadotte, foi eleito o novo herdeiro do trono. Na Espanha ocupada, entretanto, onde após ter destronado Carlos IV de Espanha,



Napoleão nomeara seu irmão, José Bonaparte, como Rei da Espanha, tiveram início insurreições de cunho nacionalista. Os espanhóis, revoltados, expulsaram José Bonaparte de Madrid, vindo a eclodir a chamada Guerra da Independência Espanhola (1808 - 1814). Nesse contexto, constituída a Quinta Coligação, Napoleão derrotou os austríacos na batalha de Wagram (Julho de 1809) obrigando-os a assinar o Tratado de Schönbrunn. Ao mesmo tempo, divorciou-se de sua primeira mulher, Josefina de Beauharnais, e desposou Maria Luisa de Áustria, filha de Francisco I da Áustria, na esperança de evitar novas coligações da Áustria contra a França. Apesar de boa parte das terras hereditárias dos Habsburgos continuaram em suas mãos, a França formalmente anexou a província da Carinthia, a Carníola e alguns portos no mar Adriático, enquanto a Galícia foi dado aos poloneses e a cidade de Salzburgo, em Tirol, passou para os bávaros. Devido às perdas territoriais, a Áustria perdeu do, seu controle cerca de três milhões de pessoas, cerca de um quinto de sua população. Apesar da luta na Península Ibérica continuar, o continente europeu continuou em relativa paz até a França invadir a Rússia em 1812, dando início a Guerra da sexta Coligação. Com o controle de boa parte da Europa Ocidental, muitos historiadores afirmam que, ao fim da guerra da quinta coligação, o Império Napoleónico atingiu o auge do seu poder e influência, chegando a sua máxima extensão territorial no começo de 1812. A Quinta Coligação (1809) começou com uma aliança entre o Reino Unido e a Áustria contra a França, enquanto os ingleses instigavam a Guerra Peninsular com Portugal e a Espanha contra as tropas francesas de ocupação. Mais uma vez, os britânicos se tornaram a principal figura do conflito, tomando as maiores ações já que o principal teatro de operações contra Napoleão foi, inicialmente, no mar. A marinha do Reino Unido liderou uma série de operações bem-sucedidas contra os franceses nas suas colónias ultramarinas. Em terra, a guerra da Quinta Coligação viu menos movimentações militares que as anteriores. Uma delas foi a Expedição de Walcheren de 1809, que envolveu um esforço duplo do exército e marinha do Reino Unido para distrair as forças francesas no leste e aliviar a situação dos austríacos. Esta operação terminou em desastre quando o comandante, John Pitt, falhou em capturar seu objetivo, a base naval francesa na Antuérpia. Durante boa parte da guerra, as operações militares britânicas em terra (com exceção da península ibérica) viraram apenas ações isoladas executadas pela marinha real, que dominavam os mares após ter derrotado boa parte da oposição naval por parte da França e seus aliados, bloqueando seus portos e bases navais e outras fortificações costeiras. Estas ações isoladas visavam interromper o trafego naval (civil e militar) francês, atrapalhando suas linhas de comunicação e suprimentos. Quando os países da coalizão tentavam lançar expedições perto da costa, a marinha britânica os ajudava pelo mar ou desembarcava tropas e suprimentos para eles. A guerra económica continuava com o Bloqueio Continental imposto pela França contra o Reino Unido, proibindo o comércio da Europa com as ilhas britânicas. Devido a falta de suprimentos militares e má organização nos territórios controlados pela França, muitas brechas foram encontradas no bloqueio e muitos líderes em nações dominadas por Napoleão toleravam e até encorajavam o comércio contrabandista com os ingleses. Em termos de danos económicos a Grã-Bretanha, o bloqueio foi maioritariamente ineficiente. Na verdade, implementa-lo era mais dispendioso para a França. Assim, Napoleão rapidamente percebeu que países como a Espanha, Portugal e Rússia abertamente desrespeitavam seu bloqueio e invadi-los seria a única opção. Essas acabaram sendo decisões táticas erradas, pois o custo da ocupação do território espanhol e da ofensiva contra o Império Russo foram astronómicos e comprometeram um elevado número de vidas francesas e de aliados, o que acelerou a derrota de Napoleão. Ambos os lados lançaram dispendiosas campanhas militares para forçar os seus bloqueios. Os britânicos travaram um conflito contra os Estados Unidos na Guerra anglo-americana (1812 - 1815), enquanto os franceses travaram a Guerra Peninsular (1808 - 1814) para manter a Espanha sob controlo e impedir a comercialização da Península Ibérica com a Inglaterra. O conflito ibérico começou quando Napoleão invadiu Portugal pois estes se recusaram a tomar parte do Bloqueio Continental e continuaram a comercializar com o Reino Unido. Quando o governo espanhol falhou em manter o sistema continental, a ténue aliança entre a França e a Espanha acabou terminando. Tropas francesas avançaram e tomaram grandes porções do país, incluindo a capital Madrid, e instalaram um novo Rei no poder, o próprio irmão de Napoleão, José Bonaparte. Isso levou a revolta da população local e uma onda de nacionalismo tomou conta da nação. Os britânicos intervieram, apoiando o movimento de guerrilha espanhola contra a ocupação francesa. A Áustria, que estava em paz com a França, aproveitou-se do fato que os franceses estavam voltando sua atenção para a Espanha, decidiu reivindicar seu território perdido na Alemanha após sua derrota em Austerlitz (durante a guerra da terceira coligação). O Império Austríaco conseguiu avançar bem inicialmente, já que as tropas do Marechal Louis Berthier estavam espalhadas pela frente leste. Napoleão deixou cerca de 170.000 homens sob comando de Berthier para defender toda a Europa Oriental. Após ver seu exército sofrer diversas derrotas na Espanha, Napoleão decidiu pessoalmente tomar conta da situação e liderou a contra-ofensiva, conquistando algum sucesso. Ele retomou Madrid, derrotou o grosso do exército rebelde espanhol e forçou a retirada dos Britânicos da Península Ibérica (Batalha de Corunha, 16 de janeiro de 1809).



Mas quando Bonaparte partiu, uma campanha de guerrilha contra a ocupação francesa começou em larga escala, terminando em milhares de mortos e forçando Napoleão a deixar para atrás uma grande força (soldados que seriam úteis em outras frentes). Enquanto isso, o ataque austríaco no leste forçou Napoleão a desviar o olhar das forças britânicas devido a sua necessidade de partir para enfrentar a Áustria no coração da Alemanha. Os britânicos então enviaram Sir Arthur Wellesley com um novo exército para Portugal, garantindo que a luta na região não parasse. A guerra na Península Ibérica foi desastrosa para a França. Enquanto Napoleão comandava as tropas pessoalmente, a luta esteve bem. Mas quando ele deixou a Espanha, a situação voltou a descambar e o número de mortos se multiplicou. Bonaparte subestimou a quantidade de tropas que seria necessário para manter aquele país sob controlo. No final, o território Ibérico se tornou um beco sem saída, drenando dinheiro, recursos e soldados da França. O historiador David Gates chamou a Guerra Peninsular de a "Úlcera Ibérica". Uma vez afastado em definitivo do trono da França, Napoleão teria dito: "Aquela malfadada guerra me destruiu (...) Todas as circunstâncias dos meus desastres estão unidos por aquele fatal nó". Enquanto isso, os austríacos avançavam sobre o Ducado de Varsóvia (atual Polónia), mas acabaram sendo derrotados na Batalha de Raszyn em 19 de abril de 1809. O exército polonês, aliados dos franceses, tomaram então de volta a Galícia Ocidental, após conquistarem mais sucessos. De volta da campanha de Portugal e Espanha, Napoleão então tomou controlo das tropas no leste e levou seu exército para lançar uma contra-ofensiva ao Império Austríaco. Depois de algumas batalhas de intensidade baixa, os austríacos começam a recuar, abandonando a Baviera. Bonaparte então lançou-se sobre a Áustria. Tentando atravessar rapidamente o rio Danúbio ele enfrentou os austríacos na Batalha de Aspern-Essling (22 de maio de 1809). Os franceses não conquistaram seus objetivos e ambos os lados sofreram pesadas baixas. Mas o comandante austríaco, o Arquiduque Carlos, não se aproveitou do cenário favorável e permitiu que Napoleão se reagrupasse. Em julho, o exército imperial francês marchou em Viena novamente. Napoleão então infligiu uma grande derrota aos austríacos na Batalha de Wagram, no começo de julho de 1809. Foi nesta batalha que o Marechal francês Carlos Bernadotte foi privado do seu comando quando ele recuou, contrariando as ordens de Napoleão. Um tempo depois, Bernadotte aceitou a oferta de se tornar o príncipe herdeiro da Suécia.



Ele mais tarde se tornaria um dos maiores incentivadores dos suecos para se voltar contra os franceses. A Guerra da Quinta Coalizão terminou com a assinatura do Tratado de Schönbrunn (14 de outubro de 1809). No leste, apenas rebeldes, liderados por Andreas Hofer, na região alemão de Tirol, continuavam a lutar contra os exércitos franco-bávaros até novembro de 1809. Enquanto isso, a guerrilha na Península Ibérica continuava. Em 1811, o Império Francês de Napoleão chegou ao auge de sua extensão territorial. No leste, a Áustria e a Prússia, cansadas de lutar, tiveram de firmar a paz com Bonaparte novamente. No oeste, britânicos e portugueses permaneciam restritos em uma área ao redor de Lisboa (atrás das inexpugnáveis linhas de Torres Vedras) e resistindo no Cerco de Cádis. Na Espanha, a situação ainda não se acalmara, com os rebeldes lutando contra as tropas francesas por todo o território. Para tentar sedimentar a paz, Napoleão desposou Maria Luísa, uma arquiduquesa austríaca e filha do monarca Francisco I. Bonaparte esperava firmar uma boa aliança com a Áustria, ao mesmo tempo que segurava sua própria posição como imperador ao gerar um filho e herdeiro (algo que sua primeira esposa, Josefina, não conseguiu). Além do Império Francês, Napoleão controlava a Confederação Suíça, a Confederação do Reno, o Ducado de Varsóvia e o Reino da Itália. Outros territórios aliados a França eram:

O Reino Da Espanha
(Governado por José Bonaparte, irmão mais velho de Napoleão).

O Reino De Vestefália
(Governado por Jerónimo Bonaparte, irmão mais novo de Napoleão).

O Reino De Nápoles
(Governado por Joaquim Murat, marido da irmã de Napoleão, Carolina Bonaparte).

O Principado De Luca E Piombino
(Governado por Elisa Bonaparte, irmã de Napoleão, e seu marido Félix Baciocchi).

Guerras Subsidiárias

Os acontecimentos na Europa durante as Guerras Napoleónicas influenciaram conflitos militares e eventos que aconteceram fora do continente, como nas Américas e em outros lugares pelo mundo.

Sexta Coligação


A Sexta Coligação foi a união militar da Áustria, Prússia, Rússia, Suécia, Reino Unido e alguns estados alemães contra o Império Francês de Napoleão Bonaparte. A coligação conseguiu derrubá-lo do poder e forçá-lo ao exílio na Ilha de Elba. Em 1812, Napoleão invadiu a Rússia. Após uma importante vitória na Batalha de Borodino, ele conquistou Moscovo mas não conseguiu capturar o Imperador Alexandre I e nem subjugar o Império russo. Com a aproximação do inverno e com poucas provisões, ele ordenou uma retirada de volta a França, via Alemanha, contudo o exército francês foi duramente castigado pelo frio e pelos ataques russos à sua retaguarda enfraquecida. A Rússia então aliou-se à Sexta Coligação. A Suécia também aderiu a coligação, em resposta a invasão da Pomerânia sueca por tropas francesas. Em 1813, Napoleão partiu para ofensiva, derrotando as tropas aliadas em Lützen (maio) e em Bautzen. Bonaparte, que perdera boa parte do seu exército na Rússia, conseguiu reunir 250 mil homens (a maioria inexperientes). Os seus Estados satélites da Confederação do Reno forneceriam mais tropas, contudo os Aliados estavam mais preparados e em maior número. Guarnições do exército francês ainda estavam em grande número lutando na Espanha. Em agosto de 1813, Napoleão derrotou um exército com quase o dobro do tamanho do seu na Batalha de Dresden, contudo ele não conseguiu explorar este sucesso pois o Marechal Nicolas-Charles Oudinot foi derrotado pelos prussianos a caminho de Berlim. Napoleão então reagrupou-se na Saxónia, mas foi forçado a bater em retirada sobre o rio Reno, após ter sido derrotado pelos Aliados na Batalha de Leipzig, deixando livres os Estados alemães. Boa parte, dos países da Confederação do Reno voltaram-se contra os franceses logo em seguida. Os exércitos russos, austríacos e prussianos invadiram a França pelo norte e tomaram Paris em março de 1814.


Napoleão abdicou do trono e partiu para o exílio na ilha de Elba. Os membros da Sexta Coligação reuniram-se no Congresso de Viena para restaurar as monarquias absolutistas na Europa. No entanto, enquanto era discutido o novo mapa europeu, Bonaparte evadiu-se de seu local de exílio, regressando à França e constituindo um novo exército. Depois de vencer a batalha de Ligny e fracassar em Quatre-Bras, a 18 de junho de 1815 foi definitivamente vencido na batalha de Waterloo, que pôs fim às Guerras Napoleónicas.

Guerra De 1812


Ao mesmo tempo que acontecia a Guerra da Sexta Coligação, apesar de tecnicamente não ser considerada parte das Guerras Napoleónicas, aconteceu também a Guerra de 1812, com os Estados Unidos declarando guerra contra a Grã-Bretanha. Uma das principais causas do conflito entre essas nações foi a constante interferência Britânica em assuntos navais americanos, com embarcações dos Estados Unidos, atacadas pelos ingleses e seus marinheiros capturados sendo alistados á força na Marinha Real Britânica. Os franceses também interferiram (em um ponto os americanos cogitaram declarar guerra a França por isso). Esta guerra acabou terminando em um impasse militar e não houve mudanças territoriais. A paz entre o Reino Unido e os Estados Unidos foi formalmente acertada no Tratado de Gante de 1815. Naquela altura, Napoleão já estava no seu primeiro exílio em Elba. O efeito maior da Guerra de 1812 no contexto dos conflitos na Europa da época foi que os americanos conseguiram distrair a Marinha Inglesa o suficiente para dar uma pequena vantagem aos franceses. A compra da Luisiana em 1803, por sua vez, foi pacífica com Napoleão desistindo da ideia de construir um império colonial nas Américas. Ele então tomou a Luisiana dos espanhóis e vendeu a terra aos Estados Unidos por US$ 15 milhões de dólares, incluindo US$ 11 milhões em ouro.

Revoluções Na América Latina



Com a abdicação dos Reis Carlos IV e Fernando VII e a instalação de José Bonaparte como novo Rei da Espanha por Napoleão, guerras civis e revoluções nas Américas acabaram por acontecer. Entre 1808 e 1833, as colónias espanholas no continente latino-americano começaram, uma após a outra, a se separar do Império Espanhol. Enfraquecida pelas questões internas, a Espanha não teve como resistir por muito tempo.

A Invasão Francesa Da Rússia
(1812)


O Tratado de Tilsit de 1807 resultou na Guerra Anglo-Russa (1807 - 1812). O Imperador da Rússia, Alexandre I, declarou guerra ao Reino Unido após um ataque inglês contra a Dinamarca em setembro de 1807. Os ingleses apoiavam a frota sueca durante a Guerra Finlandesa e conseguiram vitórias contra os russos no Golfo da Finlândia em julho de 1808, e novamente em agosto de 1809. Contudo, o sucesso do exército russo em terra forçou a Suécia a assinar a paz, em 1809, e com a França, em 1810, juntando-se então ao Bloqueio Continental contra a Grã-Bretanha. Ainda assim, após 1810, as relações entre os franceses e os russos começou a se deteriorar. Em abril de 1812, o Reino Unido, a Rússia e a Suécia assinaram um pacto secreto contra Napoleão. Um dos assuntos centrais na ténue paz que se seguiu ao tratado de Tilsit foi a questão polonesa. Napoleão e Alexandre I divergiam sobre a forma como o país deveria ser, tornando-se uma nação semi-independente sob controlo de ambos. Como o autor Charles Esdaille notou, "havia a ideia implícita de que uma Polónia russa seria, é claro, uma guerra contra Napoleão". O historiador Paul Schroeder diz que a questão polonesa foi "a causa maior" da guerra de Napoleão contra a Rússia, mas ele completa afirmando que o fato do governo russo passar a se recusar a se unir ao Bloqueio Continental também foi um fator importante. Em 1812, no auge do seu poder e influência na Europa, Napoleão invadiu a Rússia com seu Grande Exército (o exército imperial), apoiado por milhares de soldados de Estados satélites e aliados. Sua força de invasão consistia de quase 650.000 homens (incluindo 270.000 franceses e os demais sendo de nações subservientes ao Império, como alemães, poloneses e italianos). Os exércitos napoleónicos cruzaram o rio Neman, em 24 de junho de 1812. A Rússia convocou então a "Grande Guerra Patriótica" para resistir a invasão estrangeira. Napoleão afirmou que o motivo central da guerra era pela Polónia. Assim, os poloneses, em apoio, forneceram 100.000 homens a Bonaparte. Apesar das expectativas polonesas, Napoleão não fez concessões para a Polónia, pois ele queria usar aquele território para futuras negociações com a Rússia. O Grande Exército de Napoleão foi avançando pela Rússia, enfrentando pouca resistência e travando batalhas de pequena intensidade. O primeiro grande confronto, a Batalha de Smolensk, ocorreu entre 16 e 18 de agosto, resultando em uma contestada vitória francesa. Durante esse período, o Marechal Nicolas Oudinot foi detido na Batalha de Polotsk por forças russas comandada pelo General Peter Wittgenstein. Isso impediu que os franceses chegassem a São Petersburgo. A principal coluna do exército francês, liderado por Napoleão, marchava até Moscovo. Os russos implementaram táticas de terra queimada, importunando o Grande Exército com a cavalaria leve cossaca.



O exército francês não conseguiu adaptar-se ao novo cenário adverso. Assim, logo nas primeiras semanas, os franceses começaram a sofrer pesadas baixas. Ao mesmo tempo, o exército russo recuou por pelo menos três meses. A tática de retirada era liderada pelo Marechal Michael Andreas Barclay de Tolly e o príncipe Mikhail Kutuzov, feito Comandante-em-chefe pelo Czar Alexandre I. A política de evitar combates e destruir o terreno, era interrompida por batalhas pequenas. Porém alguns confrontos de grande intensidade aconteceram, como a Batalha de Borodino, em 7 de setembro de 1812. A luta aconteceu nas cercanias de Moscovo e foi uma das mais sangrentas das Guerras Napoleónicas, envolvendo 250.000 homens e resultando em 70.000 baixas. Seu resultado foi, no quadro geral, indecisivo, mas deu uma leve vantagem a Napoleão. Bonaparte terminou controlando a região, mas não destruiu o exército russo e nem capturou seus líderes. Longe da França, Napoleão foi forçado a esticar suas linhas de suprimento e ele não tinha como receber reforços, fazendo com que cada perda fosse sentida. Já a Rússia, com uma população enorme, podia repor suas baixas rapidamente. Napoleão entrou em Moscovo a 14 de setembro de 1812, após uma nova retirada por parte do exército russo. A população de Moscovo já havia, em sua grande maioria, seguido o governo e abandonou a cidade. Então, o governador da cidade, Fyodor Rostopchin, ordenou que Moscovo fosse queimada. Alexandre I se recusava a capitular e qualquer proposta de paz feita pelos franceses era recusada. Em outubro, sem possibilidade clara de uma vitória, Napoleão começou a desastrosa retirada do seu exército da Rússia. Na Batalha de Maloyaroslavets, em outubro de 1812, os franceses tentaram chegar na cidade de Kaluga, onde poderiam encontrar comida e outros suprimentos. Mas o exército russo bloqueou o seu caminho. Napoleão foi forçado a se retirar pela mesma rota que o levou a Moscovo, indo pelas áreas destruídas nas estradas próximas a Smolensk. Nas semanas seguintes, o Grande Exército de Napoleão apanhou o meio do inverno russo, sofrendo com, além do frio, a falta de suprimentos e as constantes ações de guerrilha das milícias russas. Quando o que sobrou do exército de Napoleão que cruzou o rio Berezina em novembro de 1812, apenas 27.000 retornaram em boa ordem, com outros 380.000 sendo mortos ou dado como desaparecidos, além de outros 100.000 capturados. Bonaparte foi direto para Paris, para preparar a sua defesa contra os russos e a campanha se encerrou formalmente em 14 de dezembro, quando os últimos soldados franceses retornaram da Rússia. Os russos também sofreram, perdendo 210.000 homens, mas eles podiam repor essas baixas rapidamente, algo que os franceses não conseguiam.

Guerra Da Sétima Coligação
(1815)



Ao fim da Guerra da Sexta Coligação a paz veio a Europa novamente, mas não por muito tempo ou da forma desejada. As potências que outrora lutaram juntas contra Napoleão começaram a bater-se pelos seus interesses, no Congresso de Viena a respeito do novo mapa do continente. Na França, o novo governo de Luís XVIII se tornava cada vez mais impopular. Percebendo a situação agora mais favorável, Napoleão Bonaparte planejou sua fuga da Ilha de Elba, que ficava a apenas dois ou três dias pelo mar da costa francesa. Com pequenos barcos e acompanhado de um pequeno destacamento de membros da sua Guarda Imperial, ele desembarcou em Golfe-Juan, na Costa Azul da França, em 28 de fevereiro de 1815. Tropas reais francesas foram enviadas para intercepta-lo mas estas mudaram de lado ao vê-lo e marcharam com Bonaparte até Paris. A notícia que Napoleão regressara ao poder na França, em fevereiro de 1815, varreu a Europa e logo uma nova Coligação anti Bonapartista (a sétima) foi formada, composta pelo Reino Unido, a Rússia, a Prússia, a Suécia, a Suíça, a Áustria, a Holanda e vários pequenos Estados alemães. A restauração de Napoleão foi curta (período conhecido como o Governo dos Cem Dias). As potências Europeias rapidamente reuniram um gigantesco exército de mais 700.000 homens inicialmente, com mais reforços a caminho. O imperador francês conseguiu apenas 280.000 soldados. Ele tentou convocar uma conscrição em massa, mas não foi muito bem-sucedido. Veteranos também foram chamados de volta ao serviço. Mesmo assim, a desvantagem numérica era demasiada grande. A Coligação pretendia unir suas tropas e marchar juntos com um poder avassalador e superar os franceses com seu grande número. Napoleão sabia que as suas chances, de vitória eram pequenas se enfrentasse de frente as forças unificadas da Coligação. Ele preferiu combate-los separadamente e derrota-los um a um, antes que pudessem combinar as suas forças. Bonaparte tomou 124.000 homens do Exército do Norte e atacou as tropas aliadas estacionadas na Bélgica. Ele pretendia investir sobre as tropas inglesas e separa-las dos prussianos, inutilizando seus exércitos. Seu ataque inicial pegou os seus inimigos de surpresa, forçando o recuo das tropas anglo-holandesas. Os prussianos haviam sido mais cautelosos, concentrando boa parte dos seus exércitos ao redor de Ligny (nas província de Namur). Eles então lutaram para tentar deter ou ao menos atrasar o avanço francês, com o objetivo de dar tempo para as demais tropas aliadas se reagruparem. A 16 de junho de 1815, prussianos e franceses se enfrentaram na Batalha de Ligny, vencida por Napoleão. No mesmo dia, a ala esquerda do exército imperial da França, comandada pelo Marechal Michel Ney, foi bem-sucedida em deter o avanço do Duque Wellington, comandante das tropas inglesas, que pretendia unir-se ao Marechal Blücher e os prussianos. Os britânicos, apoiados por holandeses e alemães, acabaram não resistindo ao avanço francês na Batalha de Quatre Bras. Ney não conseguiu cortar a retirada de Wellington, mas estes foram forçados a recuar, junto com os prussianos. Os ingleses montaram uma nova posição defensiva, no meio de uma escarpa, em terreno elevado, a alguns quilómetros da vila de Waterloo, na Bélgica. Napoleão levou então suas tropas para o coração da Bélgica, reunindo seus homens com os de Ney, para perseguir o exército britânico de Wellington. Ao mesmo tempo ele ordenou ao Marechal Emmanuel de Grouchy para atacar a ala direita do exército e detivesse os prussianos enquanto estes estavam se reagrupando. Após uma série de erros de cálculos, tanto Grouchy e Napoleão falharam em perceber que os prussianos já haviam conseguido se reorganizar e já estavam se reagrupando perto do vilarejo de Wavre, mais perto de Wellington do que o antecipado. O sucesso dos exércitos da Prússia em se reagrupar rapidamente foi na falha de Napoleão em não conseguir quebrar a sua retirada. Grouchy também não conseguiu persegui-los adequadamente. Assim, enquanto três corpos do exército prussiano marchavam rumo a Waterloo para apoiar os britânicos e seus aliados, a outra metade das tropas prussianas conseguiu segurar por um tempo as forças francesas do Marechal Grouchy antes de recuar (batalha de Wavre, 18-19 de junho de 1815). No final, os 17.000 prussianos (comandados pelo General Johann von Thielmann) mantiveram ocupados 33.000 franceses por tempo suficiente para que estes não chegassem a tempo a Waterloo para ter um papel importante. Napoleão poderia ter sido bem-sucedido se esses homens tivessem chegado antes e reforçado as suas linhas. Os franceses evitaram por um tempo avançar contra as posições britânicas em Waterloo, mas a 18 de junho de 1815 foi iniciada a batalha decisiva da Guerra da Sétima Coligação. As tropas imperiais francesas atacaram logo pela manhã, avançando lentamente pelo terreno ruim (havia chovido na região durante toda a noite anterior). Ao fim da tarde, apesar de terem feito alguns progressos, os franceses falharam em expulsar as forças de Wellington das regiões elevadas de Waterloo. Quando os reforços prussianos chegaram e atacaram o flanco direito francês, ficou claro então que a estratégia de Napoleão deu errado. Os franceses tiveram de bater em retirada em desordem. Agora unidas, as tropas da Coligação lançaram-se sobre a França. Bonaparte sabia que desta vez, o golpe proferido havia sido fatal. O Marechal Grouchy conseguiu recuar de forma organizada e levou seus soldados até Paris, onde o também Marechal Davout tinha reunido 117.000 soldados prontos para enfrentar os 116.000 homens sob comando de Blücher e Wellington. Davout acabou sendo derrotado na Batalha de Issy (na região de Île-de-France) e decidiu então negociar sua rendição com a liderança das tropas da Coligação. Três dias após o fracasso em Waterloo, Napoleão chegou a Paris. Ele ainda tinha esperanças de conseguir montar uma nova defesa e se segurar no poder. Contudo, a Assembleia Nacional, e até mesmo a população francesa em geral, já não lhe favorecia mais. Sem apoio político, Napoleão foi forçado a abdicar do trono uma segunda vez em 22 de junho de 1815. A 15 de julho se rendeu aos britânicos em Rochefort. Para evitar de cometer os mesmos erros do ano anterior, os Aliados desta vez exilaram Bonaparte na ilha de Santa Helena, a milhares de quilómetros de distância da Europa. O antigo imperador francês ficaria lá, solitário, até sua morte em 5 de maio de 1821. Na França, os Bourbon foram novamente restaurados no trono. As potências regionais então começaram o chamado "Concerto da Europa", para restabelecer o balanço do poder no continente e garantir a velha ordem. Enquanto isso, na Itália, a Joachim Murat, Marechal e Aliado de Napoleão, foi permitido que ele mantivesse o título de Rei de Nápoles. Percebendo porém que sua posição era precária ele partiu para lutar por seu trono na chamada Guerra Napolitana (março - maio de 1815). Murat esperava conquistar apoio de nacionalistas italianos que temiam o aumento da influência dos Habsburgos na península itálica. Murat fez então a Proclamação de Rimini incitando o povo italiano a guerra. Contudo, ele conseguiu pouco apoio popular e seu exército foi esmagado pelos austríacos na Batalha de Tolentino (2 - 3 de maio de 1815), forçando Murat a fugir. O ramo italiano da Casa de Bourbon foi recolocado no trono de Nápoles, com a ascensão de Fernando I em 20 de maio de 1815. Murat ainda fez outra tentativa de recuperar seu poder, mas foi preso e executado em outubro do mesmo ano. Este foi o último grande confronto instigado pelo legado direto de Napoleão na Europa.

Efeitos Políticos


As Guerras Napoleónicas trouxeram mudanças radicais a Europa, mas forças reaccionárias voltaram ao poder no continente e tentaram reverter o legado da Revolução Francesa e do reinado de Napoleão. Em poucos anos, o imperador francês conseguiu trazer quase toda a Europa ocidental ao seu controle. Contudo, as guerras constantes de quase duas décadas contra a França feita pelas maiores potências do continente acabaram por colocar o país no chão. Ao fim dos conflitos, a França já havia perdido boa parte do seu poder e influência na Europa continental. Já o Reino Unido emergiu como a principal e inquestionável maior força do continente, com sua marinha de guerra alcançando supremacia naval pelo globo até meados do século XX. Para muitos países europeus, ser subjugado pela França significou acesso a várias políticas liberais que ganharam notoriedade durante a Revolução Francesa, como democracia inclusiva, acesso ao devido processo legal nas cortes, abolição da servidão, redução do poder da Igreja Católica e exigência de alterações das monarquias para uma face mais constitucional e democrática. O clamor da emergente classe média, esta que cresceu através do comércio e da indústria, fez com que fosse difícil as classes dominantes restaurar as monarquias absolutistas. Assim, muitas nações conquistadas por Napoleão tiveram que manter várias reformas impostas a eles. Legados institucionais persistem até os dias actuais como os sistemas legais de códigos civis, baseados no chamado Código Napoleónico. Durante o período napoleónico, o sentimento de nacionalismo, um movimento relativamente novo, se tornou mais significativo pelo continente. Isso moldaria o futuro da Europa pelo próximo século. Esse sentimento acabou com alguns países e fez outros surgirem, redesenhando drasticamente o mapa político europeu no século posterior a era Napoleónica. Governos de feudos e aristocracias foram substituídos por ideologias nacionais baseadas em culturas em comum e origens. Mais importante, o reino de Bonaparte sobre a Europa plantou as sementes para as fundações das nações-estado da Alemanha e Itália, consolidando a identidade nacional dos povos, reinos e principados que formavam esses países, facilitando sua unificação. Ao fim das guerras, a Dinamarca teve que ceder a Noruega a Suécia, mas como os noruegueses haviam assinado sua própria constituição em 17 de maio de 1814, os suecos tiveram que lutar pelo direito de ter a Noruega. O resultado da união da Suécia com a Noruega deu mais independência aos noruegueses do que quando estava sob o jugo dinamarquês. A Noruega se tornaria uma nação completamente independente em 1905. Outro país criado foi o Reino Unido dos Países Baixos, feito com o propósito de ser um Estado tampão contra as pretensões da França. Esta nação foi dissolvida em duas quando a Bélgica se tornou independente em 1830. As guerras napoleónicas também influenciaram acontecimentos na América Latina, nas colónias da Espanha e Portugal. O conflito enfraqueceu a autoridade e poder militar espanhol, especialmente após a sua marinha ter sido destroçada na batalha de Trafalgar. Várias revoltas aconteceram na América espanhola como consequência da deterioração política na metrópole. Na América portuguesa, o Brasil experimentou pela primeira vez uma maior autonomia política após a transferência das cortes de Lisboa para o território brasileiro, que posteriormente recebeu o status de Reino Unido. Após a ocupação francesa de Portugal, as ramificações políticas se espalharam e levaram a chamada Revolução Liberal de 1820. Com o retorno da Corte real para Lisboa, o Brasil não aceitou retornar ao status de colónia, declarando sua independência em 7 de setembro de 1822. Após as guerras, foi instaurado o Congresso de Viena (1814 - 1815) para restaurar as velhas fronteiras e restabelecer governos que haviam sido depostos, tentando formar um novo equilíbrio de poder no continente. Este novo balanço garantiu umas décadas de paz pela Europa entre as nações (mas não internamente, com revoluções ainda acontecendo). Houve também mais integração política e económica, além de novas ondas migratórias. A instabilidade política instigou, principalmente, a imigração europeia para as Américas, especialmente para os Estados Unidos, que recebeu mais de 30 milhões de imigrantes europeus entre 1815 a 1914. Outro conceito que emergiu do Congresso de Viena foi a noção de uma Europa mais unificada. Após sua derrota, Napoleão se remoeu com o fato de que sua ideia de uma "Associação Europeia" pacífica e livre não aconteceu. Contudo, as guerras Napoleónicas de fato empurraram esta noção para a realidade, trazendo uma maior padronização entre os países em relação a formas de governo, moedas e sistemas legais. Mais ou menos um século e meio depois, contudo, a ideia de uma maior unificação no continente novamente ganhou força e em 1957 foi criada a União Europeia.

Legado Militar


As Guerras Napoleónicas tiveram um grande impacto militar. Antes de Napoleão, os países europeus tinham exércitos regulares relativamente pequenos, composto de soldados nacionais e mercenários. Os militares regulares, eram bons profissionais. Os exércitos dos Antigos Regimes podiam apenas colocar pequenas quantidades de tropas em campo de uma vez, com uma logística limitada. Assim, era difícil reunir exércitos maiores que 30.000 homens sob um único comando em uma batalha. Contudo, foi na segunda metade do século XVIII que os visionários militares começaram a reconhecer o potencial de todo um país em guerra: a chamada "nação em armas". A escala do tamanho dos conflitos na Europa aumentou consideravelmente no período das guerras revolucionárias francesas e no subsequente conflito na era Napoleónica. Antes disso, era incomum ver em batalha mais do que 30.000 soldados em cada lado. A inovação francesa de dividir o exército em corpos (permitindo a um único oficial comandar mais do que 30.000 homens de uma vez) e também viver da terra (o que permitia aos exércitos convocar mais homens sem ter que igualmente pedir por mais suprimentos através de reservas e cargas) permitiu a república francesa a conseguir reunir mais tropas em campo do que seus tradicionais oponentes. Napoleão subsequentemente assegurou que as divisões no exército fossem separadas de forma eficiente nos tempos em que a República operava como um único exército quando ficaram sob seu comando direto, como imperador, permitindo que ele reunisse um exército maior que os seus oponentes. Isso forçou seus adversários a reunir tropas cada vez maiores, inovando também, forçando as tradicionais nações europeias a iniciar conscrições em massa, que tiveram enormes consequências políticas. Na batalha de Marengo, a luta final que encerrou a Guerra da Segunda Coalizão, foi travada com pelo menos 60.000 homens em cada lado. Na batalha de Austerlitz, que encerrou a Terceira Coligação, envolveu mais de 160.000 soldados. Na batalha de Friedland, que levou a paz com a Rússia, em 1807, envolveu 150.000 homens. Esses tipos de batalhas, com um número tão grande de combatentes, eram raros em conflitos anteriores. Com as derrotas sofridas em terra para Napoleão, as potências europeias tiveram de se renovar e convocaram conscrições em massa para que eles pudessem superar o exército francês no campo. Já na batalha de Wagram de 1809, cerca de 300.000 soldados se digladiaram. Em Leipzig, pelo menos 500.000 homens lutaram no geral, sendo que 150.000 terminaram mortos ou feridos. Durante as guerras napoleónicas, pelo menos um milhão de soldados franceses foram mortos ou feridos (ou sofreram alguma invalidez), uma proporção maior para o país, se comparado com o tamanho da população, do que durante a Primeira Guerra Mundial. No geral, pelo menos 5.000.000 de soldados europeus foram mortos (incluindo por doenças). A França tinha a segunda maior população da Europa (atrás da Rússia) no fim do século XVIII com seus 27 milhões de habitantes (comparado com 12 milhões do Reino Unido e 30 a 40 milhões do Império Russo). Os estrategistas militares franceses então se aproveitaram do levée en masse (as conscrições em massa). Antes dos esforços de Napoleão, Lazare Carnot foi um dos líderes na reorganização dos exércitos franceses de 1793 a 1794. Neste período, a situação da França nas guerras revolucionárias havia melhorado, com os exércitos republicanos avançando em todas as frentes. O tamanho crescente dos exércitos europeus sinalizava uma mudança nítida na história militar do continente. Durante os conflitos nos séculos anteriores, como a Guerra dos Sete Anos (1756 - 1763), poucos países tinham exércitos superiores a 200.000 no total, com as nações não conseguindo reunir mais do que 30.000 soldados no campo. Em contraste, o exército francês recrutou, durante a década de 1790, cerca de 1,5 milhão de homens, apesar de não conseguir manter todos ao mesmo tempo no serviço ativo. Problemas com suprimentos e doenças impediam que exércitos grandes fossem postos em campo. Na verdade, a França não tinha condições financeiras de recrutar grandes quantidades de tropas. Nas guerras napoleónicas, cerca de 2,8 milhões de franceses lutaram no solo e outros 150.000 no mar. Assim, no geral, 3 milhões de cidadãos franceses serviram nas forças armadas nos vinte e três anos de guerra desde a fundação da República (em 1792) até a queda do Império (em 1815). O Reino Unido tinha 750.000 homens em armas entre 1792 e 1815, uma grande expansão considerando que eles tinham apenas 40.000 soldados regulares em 1793. O auge chegou em 1813, quando 250.000 soldados estavam no serviço ativo. No decorrer desta guerra, pelo menos 250.000 marinheiros serviram na Royal Navy (a marinha de guerra britânica). Em setembro de 1812, a Rússia tinha mais de 900.000 homens em sua infantaria. Entre 1799 e 1815, cerca de 2,1 milhão de homens serviram no exército. Outros 200.000 estavam na marinha. Na época, havia uma discrepância entre o tamanho dos exércitos no papel e a força que os países realmente podiam colocar em campo. Os russos, por exemplo, tinham uma tropa de 900.000 homens, mas dificilmente poderiam recrutar mais do que 250.000 para campanhas. Não há números consistentes para o tamanho dos exércitos dos outros beligerantes. No auge do conflito (na Sexta Coligação), os austríacos tinham pelo menos 576.000 nas forças armadas e praticamente nenhuma marinha. Porém, não conseguiam reunir mais do que 250.000 em campo. Depois da Grã-Bretanha, a Áustria foi o inimigo mais persistente da França no decorrer da guerra, com mais de um milhão de soldados servindo no exército durante o desenrolar do conflito. Seu maior exército operacional foi uma força homogénea e sólida reunida em 1813 quando conseguiram colocar 140.000 homens em campo durante campanhas na Alemanha e 90.000 na Itália e nos Balcãs. Contudo, a Áustria começou a sofrer enormemente devido a falta de pessoal. Assim, seus generais e oficiais começaram a adotar táticas mais conservadoras e não tomar tantos riscos, em uma tentativa de limitar suas perdas. A Prússia tinha um dos melhores exércitos da Europa. Contudo, eles não conseguiam mobilizar mais que 320.000 soldados em um determinado tempo. Entre 1813 e 1815, enquanto o grosso do seu exército (cerca de 100.000 homens) era de fato conhecido por sua determinação e competência, o resto não era uma força estável, composto por milicianos e voluntários de talentos variados. Ainda assim, a maioria destas tropas se saiam bem e mostravam bravura diante de situações adversas, mesmo que as vezes faltasse profissionalismo e bons equipamentos, se comparado aos soldados regulares. Durante as campanhas feitas em 1813, 130.000 homens estavam envolvidos nas operações militares, sendo 100.000 atuando na Alemanha e os outros 30.000 sendo usados para cercar as guarnições francesas perto das fronteiras. Já a Espanha não conseguia recrutar mais do que 200.000 soldados no exército, além de 50.000 homens que lutavam nas guerrilhas. Além disso, o Império Otomano (que se envolveu muito pouco neste conflito), a Itália, o Reino de Nápoles e o Ducado de Varsóvia não conseguiam reunir e organizar mais do que 100.000 homens em armas. Ainda assim, países pequenos pela Europa também podiam recrutar bons exércitos, mas apenas no papel pois na realidade havia falta de recursos e essas tropas eram, na maioria dos casos, de qualidade duvidosa. O tamanho e a qualidade das tropas das nações co-beligerantes, ainda que não muito significativo, eram bem-vindos por parte das potências continentais da Coligação. Durante a invasão da Rússia de 1812, o percentual de tropas de origem francesa que serviam no Grande Exército de Napoleão era de aproximadamente 50% dos 685.000 soldados recrutados. Os outros aliados do Império Francês forneceram os demais homens, como as nações da Confederação do Reno, a Polónia, os países que formavam a península itálica e a Espanha. Quando, entre 1813 e 1814, várias dessas nações mudaram de lado e passaram a apoiar a Coligação, eles providenciaram uma boa ajuda a Coligação, enquanto privavam Napoleão dos seus muito necessários buchas de canhão.

Inovações

Os estágios iniciais da Revolução Industrial foram muito ligados às crescentes necessidades militares para produzir armamentos e outros suprimentos para tropas cada vez mais crescentes em números. O Reino Unido se tornou o maior produtor de armas do continente. Esta produção de arsenal foi usado para suprir as forças da Coligação no decorrer dos conflitos. A França era a segunda maior produtora de armamentos, equipando suas tropas e das nações da Confederação do Reno e seus aliados. O próprio Napoleão mostrou tendências inovadoras para o uso da mobilidade de suas forças para enfrentar problemas como, principalmente, desvantagens numéricas nos campos de batalha, como ele mostrou nas suas campanhas contra tropas austro-russas em 1805, especialmente na Batalha de Austerlitz. O exército francês reorganizou o papel da artilharia, formando grupos móveis e independentes, ao invés das arcaicas formações militares. Outras áreas que afetaram a arte da guerra, melhorias na comunicação entre os comandos e suas tropas. Uso de aeronaves de vigilância quando os franceses usaram balões de ar para espiar em posições de tropas da Coligação e guiar a artilharia, sendo usado pela primeira vez na Batalha de Fleurus, de junho de 1794.

Guerra Total


Historiadores discutem como as Guerras Napoleónicas se tornaram guerras totais. A maioria dos académicos aponta que o aumento de tamanho e intensidade do conflito vem de duas fontes. A primeira era o choque ideológico entre as ideias revolucionárias/igualitários e o sistema conservador/hierárquico. A segunda é o aumento do nacionalismo na França, Alemanha, Espanha e em outros países que fez deste conflito a "guerra do povo" ao invés de confrontos entre monarcas. O historiador David Bell argumenta que mais importante que ideologia ou nacionalismo, foi a transformação intelectual na cultura da guerra, que veio do Iluminismo. Um fator, ele diz, é que a guerra já não era mais um evento rotineiro, mas sim uma experiência transformadora para a sociedade. Em segundo lugar, os militares emergiram em seu próprio direito como uma esfera separada da sociedade, se distanciando do ordinário mundo civil. A Revolução Francesa fez de cada cidadão parte da máquina de guerra nacional, desde um soldado conscrito, até uma peça vital do maquinário apoiando a luta de casa, dando suprimentos ao exército (trabalhando nas indústrias e fazendas). Assim, segundo Bell, surgiu a ideia de "militarismo", a crença de que os membros das forças armadas têm um papel moralmente superior ao de um civil em tempos de crise. O exército se tornou a essência da alma da nação. Como o próprio Napoleão uma vez proclamou, "é o soldado que fundou a República e é o soldado que a mantém". A França estava aparentemente exaurida após a fracassada invasão da Rússia, com Napoleão perdendo mais da metade do seu exército. Vendo nisso uma oportunidade, a Prússia, a Suécia, a Áustria e vários Estados alemães decidiram reiniciar as hostilidades e declaram guerra á França. O imperador francês afirmou que ergueria um novo exército, tão grande quanto aquele que havia levado à Rússia. Bonaparte rapidamente recrutou entre 30.000 e 130.000 homens de nações do leste que ainda eram leais a ele. Conscrições também começaram na França e depois de alguns meses, ele já tinha 400.000 soldados (a maioria com pouca experiência em combate). Os franceses eventualmente fizeram avanços na Europa oriental, infligindo aos aliados 40.000 baixas nas batalhas de Lützen (2 de maio de 1813) e Bautzen (20 - 21 de maio de 1813). Estas batalhas envolveram mais de 250.000 soldados, fazendo desta, uma das maiores fases das guerras. O ministro de relações exteriores da Áustria, Klemens von Metternich, propôs, em novembro de 1813, uma oferta de paz a Napoleão. Seria permitido a Napoleão reter o título de Imperador da França, mas o país teria que restaurar suas "fronteiras naturais", abrindo mão das suas possessões na Itália, Alemanha e Holanda. Napoleão ainda tinha esperanças de vencer a guerra e rejeitou os termos apresentados. Em 1814, contudo, os franceses estavam recuando em todas as frentes. Os aliados da Coligação agora avançavam rumo ao norte da França e ameaçavam flanquear a cidade de Paris (a capital do império). Napoleão teria então aceitado as propostas de Metternich para paz, mas já era tarde demais e os aliados rejeitaram qualquer termo de paz que não fosse sua abdicação. Enquanto isso, na Guerra Peninsular, Arthur Wellesley lançou novamente os exércitos anglo-portugueses em ofensivas pela Espanha após o ano novo de 1812, cercando e capturando as cidades fortificadas de Cidade Rodrigo e Badajoz. Em julho, forças francesas foram derrotadas na importante Batalha de Salamanca. Enquanto os franceses tentavam se reagrupar, os aliados entraram em Madrid e depois avançaram sobre a cidade de Burgos, antes de ter que recuar de volta a Portugal após os franceses ameaçarem um grande contra-ataque. Uma consequência da campanha em Salamanca, a França teve que encerrar seu longo cerco a Cádis e recuar das províncias Andaluzia e Astúrias. Em um movimento estratégico, Wellesley planejou mover sua base de suprimentos principal de Lisboa até a cidade de Santander. Tropas anglo-portuguesas, apoiadas por rebeldes espanhóis, avançaram então pelo norte da Espanha e tomaram o estratégico município de Burgos. Em 21 de junho, na Batalha de Vitória, tropas inglesas, portuguesas e espanholas venceram as forças de José Bonaparte, encerrando de vez o poder francês na Espanha. Os franceses então recuaram para fora de praticamente toda a Península Ibérica, indo além da região de Pireneus. Os beligerantes declararam então um armistício a 4 de junho de 1813 (que continuou até 13 de agosto) onde ambos os lados usaram o período para recuperar suas perdas e se reorganizar. Neste meio tempo, a Áustria se comprometeu a se unir em sua totalidade a Coligação contra a França (mesmo com a filha do imperador Francisco I sendo a esposa de Napoleão). Os austríacos mobilizaram dois grandes exércitos, adicionando 300.000 homens as forças da Coligação na Alemanha. No total, os Aliados mobilizaram 800.000 soldados no teatro de operações alemão. Napoleão reuniu as tropas imperiais, recrutando soldados de todas as regiões subordinadas a ele, chegando a 650 mil homens (porém apenas 250 mil estavam sob seu controle direto, com outros 120 mil liderados por Nicolas Charles Oudinot e 30 mil com Louis Davout). A maioria de suas tropas não francesas vinha dos Estados alemães da Confederação do Reno, especialmente da Saxónia e da Baviera. Além disso, ao sul, na Itália, havia Joaquim Murat no comando dos exércitos de Nápoles e Eugénio de Beauharnais, Rei da Itália, que comandavam mais de 100 mil homens. Na Espanha havia mais 150 mil a 200 mil tropas francesas fatigadas, que recuavam da luta na Península Ibérica e com 100 mil tropas inglesas, espanholas e portuguesas no seu encalço. No geral, as forças aliadas tinham mais que o dobro de tropas do que os franceses. Após os Estados alemães desertarem Napoleão, viu a sua desvantagem numérica, passou a ser superior a 4 para 1. Após o fim do curto armistício de junho-agosto de 1813, Napoleão retomou a iniciativa e partiu para a ofensiva, derrotando uma força russa, austríaca e prussiana na Batalha de Dresden (Agosto de 1813). A vitória foi importante, com os franceses vencendo uma luta contra um inimigo numericamente superior e sofrendo poucas baixas no processo. Contudo, a segunda parte da ofensiva, que estava nas mãos dos seus Marechais, acabou fracassando e assim Bonaparte não conseguiu capitalizar em cima desta vitória. Napoleão recuou para além do rio Elba e posicionou-se ao redor da cidade de Leipzig, no leste da Alemanha, para proteger sua principal rota de suprimentos. As forças da Coligação convergiram sobre ele, com as tropas prussianas vindo de Wartenburg, e os russos e austríacos vindos de Dresden (que havia sido reconquistada após a vitória aliada sobre os Generais de Napoleão na Batalha de Kulm), além de reforços vindos do norte constituído maioritariamente por militares Suecos. Na subsequente Batalha das Nações, travada no norte da Saxónia (entre 16 e 19 de outubro de 1813), 191.000 soldados franceses lutaram contra mais de 430.000 soldados da Coligação. O combate foi violento, com quase 100.000 homens perecendo (somando as baixas de ambos os lados). Os franceses acabaram sendo superados pelo absurdo número de tropas dos aliados e Napoleão foi forçado a recuar até a fronteira franco-alemã. Uma série de batalhas de média e pequena intensidade foram travadas (incluindo a Batalha de Arcis-sur-Aube, lutada em solo francês), mas a desvantagem numérica era demasiada grande e Napoleão não conseguiu montar uma defesa coesa. Após a sua derrota em Leipzig, os Estados alemães da Confederação do Reno (outrora seus aliados) se voltaram contra ele e passaram a apoiar a Coligação. Seu último aliado significativo era o Reino da Dinamarca e Noruega, mas estes estavam isolados e preferiram fazer a paz com as demais potências europeias, firmando o Tratado de Kiel de janeiro de 1814. Ao fim de março de 1814, após uma curta batalha, tropas da Coligação marcharam em Paris. Antes disso, Napoleão travou, no nordeste da França, a chamada Campanha dos Seis Dias, onde tentou desesperadamente deter o avanço aliado sobre a capital do seu império. Apesar de ter conquistado algumas vitórias estratégicas, ele não cumpriu seu objetivo maior de salvar Paris. Naquele momento, ele detinha pelo menos 70.000 homens, contra mais de 500.000 soldados da Coligação que invadiam a França pelo leste. Nesse meio tempo, pelo Tratado de Chaumont (9 de março de 1814), as potências europeias da Coligação se comprometeram a continuar lutando até que Napoleão estivesse derrotado totalmente. Mesmo com a derrota iminente, a queda de Paris e o colapso do seu exército, Napoleão estava determinado a continuar lutando. Ele continuou a convocar o povo francês a lutar e chamou suas tropas e conscritos a se apresentar, mas o retorno foi pouco. Seus Marechais também não tinham intenção de seguir com a guerra, reconhecendo que a situação havia chegado a um ponto sem retorno. Finalmente, a 6 de abril de 1814, Napoleão abdicou do trono. Contudo, ainda havia combates de pequena intensidade acontecendo na Itália, Espanha e Holanda durante a primavera daquele ano. As potências aliadas da Coligação decidiram exilar Napoleão na ilha de Elba, garantindo a ele soberania sobre o lugar mas sob vigilância marítima da esquadra inglesa (que patrulhava a região) do Mediterrâneo. Foi decidido também restaurar os Bourbons no trono francês, colocando no poder Luís XVIII. Tudo foi formalizado pela assinatura do Tratado de Fontainebleau, em 11 de abril de 1814. Representantes das principais potências europeias então se reuniram no Congresso de Viena e começaram a trabalhar no processo de reconstrução do mapa político da Europa.

Campanha Do Rossilhão


A Campanha do Rossilhão (7 de Março de 1793 - 22 de Julho de 1795), também denominada Guerra dos Pirenéus ou Guerra da Convenção, foi uma campanha militar em que Portugal participou ao lado da Espanha e do Reino Unido contra a França revolucionária que, na altura, atravessava a fase da Convenção. O Príncipe Regente D. João de Portugal enviou uma divisão reforçada, denominada Exército Auxiliar à Coroa de Espanha, composta por 5.400 homens sob o Comando do Tenente-General Britânico John Forbes.

Enquadramento

A Campanha do Rossilhão foi na realidade a frente ao longo dos Pirenéus, com centro no Rossilhão, de um conflito bem mais vasto, a Guerra da Primeira Coligação, ele próprio o prelúdio das Guerras Revolucionárias Francesas. Naquele conflito, os Reinos de Espanha e Portugal, com o apoio Britânico, declaram guerra à França revolucionária. A causa imediata da guerra foi a execução de Luís XVI de França e da sua esposa, a Rainha Maria Antonieta, pelos revolucionários franceses. Aquela execução levou a que a Espanha declarasse guerra à França a 17 de Abril de 1793, já que os actos do governo revolucionário francês foram vistos como uma ameaça directa ao seu próprio sistema monárquico. Essa opinião, partilhada pelas potências europeias que se congregaram na Primeira Coligação, levou ao desencadear de um ataque generalizado à França, no qual a Campanha do Rossilhão se insere. Portugal decidiu não participar directamente, optando por apoiar a Espanha no seu esforço de guerra. Enviou então, com o apoio britânico, uma divisão reforçada, denominada Exército Auxiliar à Coroa de Espanha, composta por 5.400 homens sob o comando do Tenente-General Britânico Forbes Skellater. Entre os oficiais portugueses enviados destacaram-se Gomes Freire de Andrade, António Teixeira Rebelo, João Correia de Sá e Manuel Inácio Pamplona Corte Real.

As Operações

O exército espanhol, ao qual o contingente português foi agregado, era comandado pelo General Antonio Ricardos Carrillo de Albornoz, mais conhecido por General Antonio Ricardos, invadiu a França e ocupou o Rossilhão em Abril 1793. Forças espanholas e portuguesas também participaram na tomada de Toulon em 1793. Depois de uma campanha fulgurante, o General Antonio Ricardos voltou a Madrid para solicitar reforços, mas faleceu de pneumonia durante a sua permanência naquela cidade. Sem o seu comandante, as forças espanholas e portuguesas colapsaram frente ao avanço, das forças francesas comandadas pelo General Jacques François Dugommier, que rapidamente recapturaram todo o território perdido e atravessaram os Pirenéus, invadindo território espanhol. As forças francesas ocuparam St. Elmo, Collioure, Port-Vendres, Bellegarde e San Sebastian. O General Dugommier foi morto em combate durante o assalto a San Sebastian.

Conclusão

A Campanha do Rossilhão terminou com o Tratado de Basileia, assinado a 22 de Julho de 1795 na cidade suíça de Basileia entre representantes da Espanha e da França. Naquele Tratado, parte da Paz de Basileia, não houve lugar à participação de representantes portugueses, pelo que a posição de Portugal não foi considerada. Em consequência, a França manteve-se de jure em estado de guerra contra Portugal até às invasões napoleónicas. A Campanha do Rossilhão traduziu-se numa vitória para os franceses, que recuperaram todo o seu território, viram a República Francesa reconhecida pela Espanha e ainda receberam da Espanha o território que aquele reino mantinha na ilha Hispaniola.

Guerra das Laranjas

A Guerra das Laranjas é o nome atribuído ao conflito que opôs Portugal à Espanha e à França em 1801. Este conflito insere-se na guerra entre a França e a Inglaterra que, nesta época, se materializou na chamada Guerra da Segunda Coligação. As ações militares da Guerra das Laranjas desenrolaram-se na Europa e na América do Sul. Portugal foi invadido por forças espanholas a 20 de maio de 1801. Foi uma guerra de curta duração que terminou a 6 de junho desse ano com perda de território (Olivença) por parte de Portugal. No Brasil, a guerra ficou conhecida como Guerra de 1801 e permitiu a expansão das fronteiras no Rio Grande do Sul. A paz entre as potências beligerantes foi estabelecida nos termos do Tratado de Badajoz, assinado entre Portugal e a Espanha, e do Tratado de Madrid, assinado entre Portugal e a França.


Antecedentes

Portugal tinha participado na Campanha do Rossilhão enviando uma força militar em apoio do exército espanhol. Quando a Espanha e a França puseram fim às hostilidades e assinaram o Tratado de Basileia, em 22 de julho de 1795, sem conhecimento do governo português, Portugal ficou numa posição difícil. Ficou em estado de guerra com a França de quem a Espanha se tornara aliada. A França apresentou as suas condições, para obter a paz, Portugal devia abandonar a sua aliança com a Inglaterra. Isto significava para Portugal fazer parte de uma liga ofensiva e defensiva que a Espanha e a França tinham estabelecido contra a Inglaterra. Mas eram feitas mais exigências, proibir os navios ingleses de entrarem nos portos portugueses, estabelecer facilidades comerciais ao comércio francês tanto em Portugal como no Brasil, pagar uma indemnização de guerra à França e regulamentar as fronteiras entre as Guianas. Neste último caso, o que a França pretendia era ampliar a Guiana Francesa à custa do Norte do Brasil. A corte de Lisboa tomou conhecimento, supõe-se que por intermédio do embaixador na corte de Turim, Rodrigo de Sousa Coutinho, de notícias sobre um possível acordo secreto entre a França e a Espanha para a conquista de Portugal. A hostilidade entre a França e Portugal era sentida no mar, uma esquadra francesa, entre o Cabo da Roca e a Berlenga, afundou doze navios portugueses e apresou outro, carregado com produtos vindos do Brasil. Verificaram-se muitas outras ações deste tipo. O facto de o governo português não ter assumido uma posição clara como aliado da Inglaterra na guerra contra a França levava aquela potência marítima a evitar envolver-se nestes assuntos. Ao governo português, que pretendia preservar as suas colónias, convinha manter a ligação com a Inglaterra que detinha a capacidade de dominar as rotas marítimas. Se Portugal se aliasse à França, as suas colónias seriam de imediato atacadas pelos ingleses e o estaria mais desprotegido perante as ambições territoriais de Espanha. Portugal procurou manter uma situação de neutralidade para a qual não dispunha de recursos. Logo em 1797, os Espanhóis começaram a concentrar tropas junto à fronteira. Com esta medida, pretendiam pressionar Portugal a ceder às exigências francesas. Em 1800 já se conheciam os nomes dos comandantes das unidades espanholas que iriam invadir Portugal, já tinham sido constituídos depósitos de víveres e já tinham sido instalados hospitais de campanha na Estremadura e na Galiza. O General Berthier esteve presente em alguns dos locais de concentração de tropas. Perante esta ameaça, foi enviado ao General Ralph John Abercromby, em Gibraltar, um pedido de apoio de 12.000 homens. No dia 8 de novembro de 1800 chegaram a Lisboa, vindos de Gibraltar, 1.500 militares britânicos e, no dia 14, chegaram mais 722. Em Espanha, uma epidemia que surgiu em vários pontos da Andaluzia obrigou a desviar para ali cerca de 12.000 homens para isolar a região. Isto reduziu significativamente o potencial do exército espanhol da Estremadura. A Espanha e a França eram aliadas nos termos do Tratado de Santo Ildefonso assinado em 18 de agosto de 1796. A 1 de outubro de 1800, aquelas potências celebraram o segundo Tratado de Santo Ildefonso em que eram citadas questões relativas a Itália e à entrega da Luisiana à França. No seu artigo 7º reafirmava-se a adesão ao estabelecido no Tratado de 1796. No dia 29 de janeiro de 1801, em Madrid, foi assinado um acordo entre a França e a Espanha, ratificado a 1 de fevereiro. De acordo com esse documento, estava prevista a invasão de Portugal no caso de este País não aceitar as seguintes condições.



Abandono Da Aliança Com A Inglaterra.

Encerramento dos portos portugueses aos navios britânicos e abertura aos navios espanhóis e franceses.

Ocupar uma ou mais províncias portuguesas, com um quarto da população do Reino, a fim de constituírem penhor da restituição pela Inglaterra de Maó (na ilha de Minorca) e Malta.

Pagar uma indemnização à Espanha e outra à França como compensação por alegados prejuízos causados.

Proceder a uma revisão das fronteiras.

No dia 6 de fevereiro, D. José Maria de Sousa Botelho partiu de Lisboa para Madrid a fim de conferenciar com as autoridades espanholas e francesas e tentar evitar a guerra. No entanto, nesse mesmo dia, o embaixador espanhol em Lisboa entregou a Luís Pinto de Sousa Coutinho um ofício da corte espanhola com um ultimato, ou o governo português respondia favoravelmente no prazo de 15 dias à exigência de abandonar a aliança com a Inglaterra ou o embaixador espanhol deixaria Lisboa e seria declarada a guerra. As conversações arrastaram-se até final de fevereiro mas sem obterem o resultado que o governo português desejava. No dia 27 de fevereiro de 1801, Carlos IV de Espanha assinou a declaração de guerra a Portugal. Após a notificação do corpo diplomático, a declaração de guerra foi proclamada em Madrid no dia 2 de março. Só dez dias depois do início da invasão é que foi publicada em Portugal. Portugal, perante as duas alternativas possíveis (manter a aliança com a Inglaterra e conservar os territórios ultramarinos mas sujeitar-se à guerra com a França e a Espanha ou romper a aliança com a Inglaterra e evitar a invasão mas perder, no mínimo, o acesso ao ultramar), foi empurrado para a primeira das hipóteses. A Espanha, por seu lado, não podia retardar mais a invasão pois a alternativa era ver as tropas francesas adquirirem posições preponderantes no seu território com a finalidade de serem elas a efetuarem a invasão de Portugal. A neutralidade era impossível na conjetura da época. Mais tarde, a respeito destes acontecimentos, Talleyrand afirmava que Portugal se encontrava entre duas ameaças e, destas, as esquadras inglesas não eram certamente a menor delas.

A Guerra Na Europa-As Forças Espanholas.


Os Espanhóis utilizaram três exércitos que foram posicionados junto à fronteira portuguesa em três regiões: Galiza, Estremadura e Andaluzia. Os exércitos posicionados na Galiza e na Andaluzia eram constituídos, cada um, apenas por uma divisão. O exército posicionado na Estremadura era o mais numeroso, constituído por cinco divisões e sob o comando de Manuel de Godoy. Embora tenha havido ações militares noutros pontos da fronteira, foi este o exército (o da Estremadura) que invadiu Portugal e, por isso, é este que importa ver mais em pormenor.
A divisão de Vanguarda, sob comando do Marechal-de-campo Francisco Maria Solano Ortiz de Rosas, dispunha de 13.200 homens.

1ª Divisão
Comando do Tenente-General Diego de Godoy, com 7.200 homens.

2ª Divisão
Comando do Tenente-General Ignácio Lancaster, com 9.600 homens.

3ª Divisão
Comando do Tenente-General Marquês de Castelar, com 12.000 homens.

4ª Divisão,
Comando do Tenente-General Francisco Xavier de Negrete, com 4.761 homens.

As Forças Portuguesas.

As derrotas sofridas pelas forças francesas no Norte de Itália, em 1799, convenceram o governo português que os Franceses teriam de aceitar os termos da paz impostos pelos aliados da Segunda Coligação e, em 1800, para reduzir as despesas, mandou desmobilizar parte do Exército. Perante esta atitude, os Britânicos retiram de Portugal as tropas que aqui se encontravam a pedido do governo português. Só em fevereiro de 1801, perante a inevitabilidade da guerra, foi dada ordem de mobilização. Comandava o Exército Português o 2º Duque de Lafões. Só em 21 de fevereiro de 1801, o Duque de Lafões deu ordens para o recrutamento de 2.000 homens em Lisboa o que era manifestamente insuficiente para completar unidades muito desfalcadas. Para comandar as tropas daquela província (Alentejo) tinha sido nomeado o Marechal de Campo Gomes Freire de Andrade. Entretanto foram feitas alterações no dispositivo português. Foi constituído um só exército com as tropas de Entre-Douro-e-Minho e de Trás-os-Montes e outro com as tropas do Alentejo e Beira. No primeiro caso, foi nomeado comandante o Marquês Louis François Carlet de La Rozière, emigrado francês enviado pelos Britânicos para servir no Exército Português, e Gomes Freire de Andrade foi nomeado seu Quartel-mestre. No segundo caso, o do chamado Exército de Entre Douro e Guadiana, foi nomeado seu comandante o Tenente-general John Forbes Skelater que partiu para o Alentejo no dia 7 de março e chegou a Estremoz a 21 desse mês, recebendo ali o comando do referido exército. O seu Quartel-mestre general era o Marechal-de-campo João Jacob de Mestral e o Ajudante geral era o Coronel D. Miguel Pereira Forjaz.

O Exército de Entre Douro e Guadiana
Comando do Tenente-general João Dordaz e Queirós, com 12.138 homens. Parte deste efetivo encontrava-se a guarnecer as praças de Almeida (3.000), Monsanto (800) e outros pontos da fronteira (800). Cerca de 1.000 homens encontravam-se doentes. A missão desta Divisão era defender a linha Castelo Branco, Trancoso e Belmonte para impedir o avanço de tropas invasoras em direção a Lisboa a partir da Beira.

A Região do Alentejo.

A Divisão do Tenente-General D. António Soares de Noronha
Tinha o quartel-general em Monforte e era constituída quatro batalhões de infantaria, seis esquadrões de cavalaria e três bocas-de-fogo de artilharia.

A Divisão do Tenente-General Conde de São Lourenço
Tinha o quartel-general em Portalegre e era formada por quatro batalhões de fuzileiros, dois batalhões de granadeiros, dois batalhões de caçadores e três bocas-de-fogo de artilharia.

A Divisão do Tenente-General Marquês de Angeja
Tinha o quartel-general em Alter do Chão e era formada por quatro batalhões de infantaria, seis esquadrões de cavalaria e três bocas-de-fogo de artilharia. Existia também uma Divisão na região do Algarve, região de que era Capitão-general D. Francisco de Melo da Cunha de Mendonça e Meneses.

Praças do Alentejo.

Praça de Campo Maior
Cujo governador era o Tenente-coronel do Real Corpo de Engenheiros Matias José Dias Azedo, ficou com uma guarnição formada pelo Regimento de Infantaria de Campo Maior, pelo Regimento de Milícias de Portalegre e dois esquadrões do Regimento de Cavalaria de Olivença. A população civil juntou-se aos militares na defesa da praça.

Praça de Juromenha
Que tinha como governador o Tenente-coronel Veríssimo António da Gama Lobo, uma companhia de caçadores do Regimento de Infantaria de Vieira Teles, uma companhia do Regimento de Infantaria de Castelo de Vide, cinco companhias do regimento de Milícias do Crato e um destacamento de artilharia. Em Castelo de Vide mantiveram-se oito companhias do Regimento de Infantaria de Castelo de Vide.

No Marvão
A praça ficou sob o comando do Coronel José Joaquim Salazar Eça Jordão e a sua guarnição era de apenas 150 homens pertencentes a uma companhia do Regimento de Infantaria de Castelo de Vide e cinco companhias do Regimento de Milícias do Crato.

Praça de Olivença
Tendo como governador o Marechal-de-campo Jules César Auguste Hèrcules de Chermont, tinha como guarnição um batalhão do Regimento de Milícias de Vila Viçosa.

Praça de Estremoz
Encontrava-se um batalhão do Regimento de Milícias de Ourique.

Praças de Castelo de Vide, Serpa, Moura, Mourão e Arronches
Dispunham de governador e do respetivo estado-maior mas não de artilharia e essa falta impedia-as de organizar uma defesa minimamente eficaz.

Um ofício datado de 24 de março de 1801, dirigido por Francisco de Borja Garção Stockler, secretário militar do Duque de Lafões, ao Tenente-general John Forbes of Skellater, dá-nos uma ideia do estado em que se encontravam muitas das praças portuguesas.

«Ill.mo e Ex.mo sr.
O senhor Marechal General junto à Real pessoa, informando que a praça de Mértola se acha sem portas, e com algumas ruínas muito notáveis nas suas muralhas, e considerando por outra parte quanto importa que a sobredita praça seja guarnecida com um destacamento proporcionado à importância daquele ponto, ordena que v. ex.ª mande examinar por um oficial engenheiro o estado da referida fortaleza, e que desde logo requeira ao general Fernando da Costa de Ataíde e Teive as precisas ordens para o seu pronto reparo, do qual cuidará sem detença.
Deus guarde a v. ex.ª, etc.»

Além destas forças, encontrava-se em Lisboa um corpo de tropas sob o comando do General Simon Frazer que era composto por dragões ingleses e três regimentos de emigrados franceses. Estes regimentos eram denominados Loyal Emigrant, Castries e Mortemar e tinham entre 750 e 800 homens cada um. Esta força saiu de Lisboa a 18 ou 19 de maio em direção ao Alentejo.

As Ações Militares.

Divisão de Vanguarda espanhola dirigiu-se para Elvas e atingiu as imediações da praça no dia 20 de maio. De Elvas saiu uma força portuguesa numa sortida sem eficácia. Após uma breve troca de tiros, aquela força retirou-se para o interior das muralhas. O governador de Elvas, D. Francisco Xavier de Noronha, recusou render-se aos Espanhóis. A praça de Elvas, guarnecida com uma força de cerca de 9.000 homens, tinha excelentes muralhas, abundante artilharia e abastecimentos que lhes permitiriam resistir a um cerco prolongado. A praça não foi atacada pelos Espanhóis que se limitaram a bloqueá-la. Desta forma, a força portuguesa que ali se encontrava ficou retida no seu interior, não tendo intervenção nas restantes operações militares. As, 1ª e 2ª Divisões espanholas também entraram em Portugal pela região de Elvas mas todas as forças espanholas que por ali circularam não foram ameaçadas pela guarnição da praça, apesar de esta ser numerosa. No dia 5 de junho as tropas portuguesas executaram uma nova surtida, houve troca de tiros de artilharia, mas não houve qualquer desenvolvimento da situação. Deixando bloqueada a praça de Elvas, a 2ª Divisão e a Divisão de Vanguarda espanholas dirigiram-se para Arronches onde, a 20 de maio, entraram em combate com as forças portuguesas. A praça de Arronches dispunha de uma guarnição de 1.369 homens e era seu governador D. José Cárcome Lobo. A praça tinha as muralhas muito danificadas desde a Guerra da Restauração (1640 – 1668) e não possuía recursos para enfrentar as forças espanholas pelo que D. José Cárcome Lobo tinha recebido ordens para não oferecer resistência e retirar em direção a Alegrete. A vigilância das forças portuguesas falhou completamente pois a aproximação das tropas espanholas surpreendeu a guarnição da praça. As tropas portuguesas encontravam-se fora das muralhas quando se aproximaram as tropas espanholas. Estas desferiram um ataque violento e a derrota dos portugueses foi rápida. Só não houve um desastre completo porque Bernardim Freire de Andrade encontrava-se em Mosteiros e enviou um corpo de tropas para proteger a retirada da guarnição de Arronches. Os Espanhóis aprisionaram 244 militares incluindo cinco oficiais. O número de mortos e feridos de ambos os lados não é conhecido com exatidão pois nas fontes disponíveis os números variam entre as duas dezenas e as três centenas. Depois destes acontecimentos, as tropas sob comando de Bernardim Freire de Andrade retiraram em direção a Portalegre. Apesar da incompetência demonstrada por D. José Cárcome Lobo, este foi muito elogiado pelo Duque de Lafões. A 3ª Divisão espanhola avançou no dia 20 de maio para Olivença. Esta praça tinha como governador Júlio César Augusto de Chermont, um francês ao serviço de Portugal. A guarnição da praça resumia-se a cerca de 200 milicianos e à população. Existiam 36 bocas-de-fogo de artilharia mas só algumas estavam montadas. A 3ª Divisão espanhola acampou em Valverde de Leganés e foi enviada uma força de 4.000 homens a Olivença. A pouca distância da praça foi enviado um mensageiro a intimar o governador a render-se. Perante as ameaças do parlamentário espanhol, Chermont entregou Olivença sem qualquer resistência. Foram negociados os termos da rendição segundo os quais a guarnição saiu livre sendo-lhes cedidos meios para transportar bagagens e atravessar o Guadiana. O governador e todo o seu estado-maior ficaram livres sob o compromisso de não voltarem a pegar em armas durante esta guerra. Os habitantes foram livres de ficar e manter os seus privilégios ou vender os seus bens e abandonar a praça. Após ter chegado a Lisboa, Charmont foi preso no castelo de S. Jorge. Ainda no dia 20 de maio, cerca de 3.000 homens da 3ª Divisão, sob comando do General Juan Carrafa, avançou para Juromenha. Esta praça tinha como governador o Tenente-coronel Veríssimo António da Gama Lobo. A aproximação das tropas espanholas foi feita por uma ponte que estava ao alcance da artilharia da praça mas, inexplicavelmente, esta não foi utilizada. Foram disparados alguns tiros de artilharia e de espingarda quando o inimigo se encontrava fora do alcance das armas. Os espanhóis enviaram um emissário e foram discutidos os termos da rendição. A guarnição portuguesa saiu da praça e desfilou armada perante as forças espanholas como era habitual fazer quando os termos da guarnição eram negociados. No final do desfile entregavam as armas mas, tanto oficiais como soldados, foram autorizados a conservar o restante equipamento. Depois as tropas podiam ser encaminhadas para a povoação mais próxima que melhor tivesse condições para os acolher. Isto era feito sob o compromisso de não voltarem a pegar em armas nessa guerra. Os espanhóis ficaram na posse da artilharia, armas ligeiras, munições e abastecimentos existentes na praça. O inventário destes recursos foi feito na presença de um comissário português que ficou com um duplicado do documento. Gama Lobo foi julgado em conselho de guerra e condenado à morte mas, por decreto de 23 de janeiro de 1802, a sentença foi comutada. Foi enviado em prisão perpétua para o Forte de São Filipe de Benguela. A 4ª Divisão espanhola teve a missão de cercar Campo Maior no início da invasão. A guarnição de Campo Maior andaria por volta dos 2.000 homens, dos quais 500 eram habitantes que colaboraram na defesa e 300 pertenciam ao Regimento de Milícias de Portalegre. A praça estava guarnecida com 100 bocas-de-fogo de artilharia: 70 peças de diversos calibres, 16 obuses e 14 morteiros. O governador da praça era o Tenente-coronel do Real Corpo de Engenheiros Matias José Dias Azedo. As primeiras forças espanholas a serem avistadas eram da 2ª Divisão, de onde foi enviado um emissário a intimar a rendição que foi prontamente recusada pelo governador. Na resposta enviada ao comandante espanhol, no dia 22 de maio, Dia Azedo afirmava: «Tendo eu a honra de dirigir uma guarnição pronta a derramar o seu sangue pela glória do seu príncipe e pelos sagrados direitos da legítima defesa da sua pátria, não posso de modo algum abrir mão dos deveres da honra, e deixar de aproveitar a constante resolução de todos os fiéis oficiais portugueses que se acham dentro deste recinto … ». Pelas 14H00 do dia 21 apareceram as forças da 4ª Divisão que começaram a formar em linha de batalha. O comando do Exército português em Portalegre ponderou, enviar socorros a Campo Maior mas a empresa mostrou-se inviável e Godoy, ao ter conhecimento dessas intenções, mandou reforçar a 4ª Divisão com tropas da 3ª Divisão. O bombardeamento de Campo Maior começou no dia 23 de maio. Da praça portuguesa responderam com as bocas-de-fogo instaladas. O fogo prosseguiu de ambos os lados até ao dia 6 de junho. Até aí havia esperança que uma força fosse enviada para os socorrer. No entanto, a capacidade de fogo da praça estava muito reduzida pois apenas três bocas-de-fogo de artilharia continuavam a disparar. As muralhas estavam já muito danificadas e a fadiga dos defensores era grande. No dia 6 foi convocado um conselho de guerra que deliberou aceitar uma rendição em termos honrosos. No dia 7 foi assinada a capitulação de Campo Maior saindo os defensores com todas as honras militares, levando armas e bagagens. Seguiram por Estremoz e por Avis até se reunirem com o grosso do exército, no dia 14 de junho, junto ao Tejo. Os acontecimentos mostraram a impossibilidade de manter uma linha de defesa ao longo da fronteira. Na noite de 29 de maio, em Portalegre, reuniu-se um conselho de guerra presidido pelo Duque de Lafões. Neste conselho foi decidido retirar em direção ao rio Tejo. A retirada começou no dia 30 de maio. Posições que ofereciam boas condições de defesa foram abandonadas. Também se deixou às mãos do invasor os abastecimentos e as munições que tinham sido reunidos em Portalegre, Castelo de Vide e Alegrete, assim como os trens de hospitais, bagagens e alguma artilharia. Numa reunião realizada durante o percurso, em Alpalhão, foi decidido concentrar o Exército na região de Gavião e, a partir daí, procurar manter o Alentejo em mãos portuguesas. No dia 1 de junho, as tropas espanholas marcharam de Arronches para Portalegre. Não foi encontrada resistência no caminho nem em Portalegre. No dia seguinte algumas forças marcharam até Castelo de Vide onde apreenderam grande quantidade de abastecimentos, munições e armamento. No Marvão foi oferecida resistência e os espanhóis desistiram de tomar a praça. As forças portuguesas em retirada chegaram à região de Gavião no dia 31 de maio. A infantaria portuguesa formou uma linha de defesa a sul de Gavião e as unidades de emigrados formaram uma segunda linha. Não foram enviadas forças para vigiarem os itinerários de aproximação pelo que o comando português desconhecia a posição das forças espanholas. A 3 de junho, o Duque de Lafões enviou uma força de 600 homens de infantaria e 70 de cavalaria a Gáfete, a Tolosa, a Flor da Rosa e a Crato com a missão de recolher os abastecimentos ali colocados. Para comandar esta força foi nomeado o Brigadeiro Bernardim Freire de Andrade que, por se encontrar doente, foi substituído por D. José Cárcome Lobo. Em Flor da Rosa, pelas 14:00, aproximou-se uma força espanhola com cerca de 2.500 cavaleiros e três batalhões de infantaria. D. José Cárcome Lobo dispôs-se a defender as suas posições. A força atacante espanhola era nitidamente mais forte e os portugueses retiraram em direção a Aldeia da Mata onde reorganizaram uma posição defensiva. Ao fim de duas horas de combate esgotaram-se as munições e as forças portuguesas acabaram por se render. A Guerra das Laranjas não decorreu exclusivamente no Alentejo. Houve ações militares em Trás-os-Montes e no Algarve. A norte, no dia 8 de junho pelas 20:00, um destacamento português sob o comando do marechal-de-campo Gomes Freire de Andrade, com 1.787 homens de infantaria e duas peças de artilharia ligeira (calibre 3), saiu do seu acampamento na Veiga de Chaves e dirigiu-se em direção a Monterrei. Houve alguns combates de pouca importância mas a operação de ataque a Monterrei não chegou a ser efetuada devido à falta de preparação e indisciplina das tropas. Gomes Freire deu ordem de retirada das suas forças na tarde do dia 9. Nesse dia à noite, ao serem ouvidos alguns disparos ao longe, gerou-se a confusão nas tropas portuguesas, de tal forma que julgaram estar perante um grande ataque espanhol. Alguns militares fugiram para Chaves onde lançaram o pânico com as suas descrições fantasiosas dos acontecimentos. A situação foi esclarecida por Gomes Freire. Houve mais algumas escaramuças sem quaisquer resultados significativos. No Algarve também ocorreram alguns incidentes. Os portugueses tinham ocupado posições na margem direita (ocidental) do rio Guadiana. As forças espanholas, do outro lado do rio fizeram fogo frequentemente, tanto com artilharia como com mosquetes, sobre as tropas portuguesas que localizavam. No dia 8 de junho, as forças espanholas tentaram atravessar o rio. As tropas portuguesas opuseram-se e, ao fim de quatro horas de troca de tiros, os espanhóis desistiram do seu objetivo.

Conflito na América do Sul

A Expansão do Rio Grande do Sul


No Rio Grande do Sul o governo local tinha uma política expansionista, fundando povoações ao longo da região de fronteira, que além de povoar a região, propiciava um aporte de soldados. Em janeiro de 1800, foram criadas, com imigrantes açorianos, as povoações de Caçapava do Sul e Canguçu. A notícia da declaração de guerra foi recebida na capital do Rio Grande do Sul em 15 de junho de 1801, quando chegou uma embarcação vinda da Bahia, retransmitindo uma informação dada pela corveta portuguesa Andorinha, que tinha lá aportado pouco antes. A informação foi confirmada no dia 22, por outra embarcação vinda de Pernambuco. Não tendo ainda recebido ordens do vice-rei, as forças militares, divididas em dois corpos, dirigiram-se para a fronteira, uma para Rio Pardo, outra para Rio Grande, com o objetivo de conquistar os territórios que levasse as fronteiras aos "limites naturais" do Sul do Brasil, os rios Uruguai e da Prata. Como não havia uma declaração de guerra conhecida e oficial entre os dois reinos, foram organizadas pequenas tropas de milicianos, sem uniforme, mas armados pelo governo, que realizaram os primeiros ataques. O primeiro a se apresentar foi Manuel dos Santos Pedroso com uma tropa de aproximadamente 30 homens, conquistou o fortim espanhol de São Martinho. José Francisco Borges do Canto, conhecido contrabandista procurando uma amnistia, apresentou-se com 15 homens. Encarregado inicialmente de apoiar a Manuel Pedroso, conseguiu apoio de índios Guarani e buscou o combate com os espanhóis em São Miguel das Missões, que cercada se rendeu em poucos dias, tendo a sua guarnição espanhola sido libertada. Em seguida renderam-se as povoações de São João e Santo Ângelo. O passo seguinte foi conquistar São Lourenço, São Luís e São Nicolau, que já estavam sendo abandonadas pela população local. O comandante espanhol foi preso tentando mobilizar uma tropa perto de São Luís e foi conduzido de volta a São Miguel. Uma comissão de índios de São Borja, a última missão não conquistada, trouxe cativo o administrador espanhol e prometeu fidelidade aos portugueses. Ao sul tropas do capitão de milícias Simão Soares da Silva e do tenente José Antunes da Porciúncula atacaram a região do Taim, conquistaram o forte de Chuí. Já uma tropa do coronel Patrício José Correia da Câmara, liderada pelo tenente António Alves, atacou e rendeu as tropas espanholas que abandonavam o forte de Cerro Largo. Todos os outros fortins da região foram sucessivamente abandonados pelos espanhóis e ocupados por destacamentos portugueses sem mais confrontos, sendo o mais importante espólio o forte de Santa Tecla, em Bagé. O Rio Grande do Sul ao final tinha expandido o seu território em um terço.

A Expansão do Mato Grosso


Provavelmente ambos portugueses e espanhóis ficaram sabendo da guerra ao mesmo tempo, em meados de julho ou princípios de agosto de 1801. Os espanhóis decidiram então atacar o Brasil no ponto que consideravam, o mais vulnerável nas defesas portuguesas, o forte Coimbra, atual Mato Grosso do Sul. Uma expedição comandada por D. Lázaro de la Ribera y Espinoza, composta por mais de 500 homens foi enviada para atacar o forte, comandado pelo tenente-coronel Ricardo Franco de Almeida Serra, que tinha uma pequena guarnição militar de cerca de 40 militares, acompanhados de 60 civis. A expedição chegou ao forte em 16 de setembro de 1801, sendo recebida a tiro de canhão. No dia seguinte, os espanhóis tentaram um desembarque na ponta superior do forte, mas a artilharia portuguesa rechaçou as milícias paraguaias. Em 19 de setembro atacaram pelo outro lado infrutiferamente, no dia seguinte apresaram alguns mantimentos, mas sem grandes consequências para os defensores. No dia 24 de setembro, com as suas forças reorganizadas, os espanhóis tentaram um último esforço, novamente sem sucesso, retirando-se no dia seguinte. Enquanto os espanhóis atacavam o Forte Coimbra, o governador Caetano Pinto de Miranda Montenegro, futuro visconde e marquês de Vila Real da Praia Grande, decidiu contra-atacar. Enviou uma pequena força pelo vale do rio Mondego, comandada pelo tenente Francisco Rodrigues Prado, comandante do forte Miranda, que tomou e arrasou o forte São Jorge, na margem sul do rio Apa, o que permitiu fixar a fronteira definitivamente nesse rio. Um território que o Paraguai independente pretendeu na Guerra da Tríplice Aliança.

Os Tratados de Badajoz e de Madrid


Luís Pinto de Sousa Coutinho, nomeado plenipotenciário, dirigiu-se a Estremoz onde chegou no dia 21 de maio – o segundo dia da invasão. Dali enviou uma mensagem a Manuel Godoy a informar que desejava entrar em Elvas no dia seguinte. Godoy demorou a dar a resposta pois era do seu interesse que quaisquer conversações para a paz ficassem para mais tarde, quando as suas tropas tivessem penetrado mais no território português, o que diminuiria o poder negocial dos Portugueses. Por fim, foi passado um salvo-conduto que permitiu a Sousa Coutinho chegar a Elvas no dia 27 de maio. Ali foi convidado a dirigir-se a Badajoz onde, a 28 de maio, iniciou as conversações com Godoy e Luciano Bonaparte. As negociações decorreram entre 28 de maio e 8 de junho, data em que foram assinados os tratados com a Espanha e com a França. Estas negociações decorreram simultaneamente com as operações militares. Enquanto Sousa Coutinho esteve em Badajoz, um sistema de mensageiros manteve-o em contacto com o Príncipe Regente de Portugal, futuro D. João VI, que ia enviando propostas de acordo com o andamento das negociações. A notícia da rendição de Campo Maior chegou a Badajoz na noite do dia 6 e esse facto diminuiu ainda mais o poder negocial português. Os dois tratados, com a Espanha e com a França, foram assinados no dia 8 mas ambos levaram a data de 6 de junho. Assim, com o acordo de Godoy e de Luciano Bonaparte, não foram introduzidas exigências que constavam das instruções enviadas por Napoleão Bonaparte e que, certamente, impossibilitavam a assinatura dos acordos dadas as exigências territoriais que o Primeiro Cônsul impunha. De qualquer forma, estes tratados ainda teriam de ser ratificados pelos respetivos governos mas, pelo menos, as operações militares foram interrompidas. O tratado assinado com a Espanha, aquele que é normalmente designado como Tratado de Badajoz foi aprovado e ratificado pelo Príncipe Regente a 14 de junho de 1801 e por Carlos IV de Espanha a 5 de julho. Napoleão Bonaparte não ratificou o tratado. As suas exigências incluíam a entrega dos navios portugueses que tinham participado nas operações navais no Mediterrâneo, contra a França e a ocupação de parte do território português. Para pressionar, a fim de obter o que pretendia, entraram mais tropas francesas em Espanha. Estas somavam já cerca de 30.000 homens. Tudo apontava para o reinício das hostilidades. O Duque de Lafões foi substituído pelo Marechal Carlos Alexandre, Conde de Goltz, e renovaram-se os pedidos de auxílio à Inglaterra. Apesar da pressão francesa, a Espanha manteve-se fiel ao tratado assinado e Carlos IV fez saber a Napoleão que não colaboraria numa nova guerra contra Portugal. Foram reiniciadas as negociações com a França numa nova ronda realizada em Madrid. Como representantes de ambos os governos estavam Luciano Bonaparte e Cipriano Ribeiro Freire. As negociações tiveram início a 2 de setembro e terminaram no dia 29 desse mês com a assinatura do Tratado de Madrid. Enquanto decorriam as conversações que conduziram à assinatura do Tratado de Madrid, a França negociava também com a Inglaterra as condições de paz entre as duas potências. Se a assinatura de um tratado entre a França e a Inglaterra ocorresse antes da assinatura de um tratado entre a França e Portugal, este país poderia obter condições mais vantajosas pois não estaria sujeito a alinhar ao lado de uma ou de outra potência. Convinha a Portugal que as conversações se arrastassem o mais possível para que as condições impostas fossem menos pesadas. Para os Franceses a situação colocava-se ao contrário. Quantas mais vantagens obtivessem num tratado com Portugal, mais teriam para negociar com a Inglaterra. Assim, na noite de 27 de setembro, Luciano Bonaparte ameaçou com uma invasão imediata de Portugal caso não se chegasse rapidamente a acordo. Dessa forma, o tratado foi assinado dois dias depois. No dia 1 de outubro foi assinado entre a França e a Inglaterra o acordo preliminar da Paz de Amiens.

Consequências Territoriais dos Tratados

De acordo com o Artigo III do Tratado de Badajoz, a Espanha «conservará em qualidade de conquista para a unir perpetuamente aos seus domínios e vassalos a Praça de Olivença, seu território e povos desde o Guadiana; de sorte que este rio seja o limite dos respetivos Reinos, naquela parte que unicamente toca ao sobredito território de Olivença.». A fronteira entre Portugal e Espanha, na região do Alentejo, ficou assim traçada de acordo com o tratado assinado em 1801.

De acordo com o Artigo IV do Tratado de Madrid, «os limites entre as duas Guianas Portuguesa e Francesa serão determinados no futuro pelo rio Carapanatuba …». Este mesmo artigo estabelecia providências relativas aos «Índios» e aos «cidadãos ou súbditos» de ambas as potências, que residiam naquelas regiões.

Legião Portuguesa
(napoleónica)

A Legião Portuguesa, também referida como Legião Lusitana, foi um corpo de tropas portuguesas integrado no Grande Armée de Napoleão Bonaparte.

História

No contexto da Guerra Peninsular, a criação do corpo deveu-se a uma ordem directa de Napoleão ao General de Divisão Jean-Andoche Junot, datada de 12 de Novembro de 1807, tendo-se materializado em Fevereiro de 1808 com as melhores unidades do, entretanto debandado, Exército Português. A Legião Portuguesa partiu para Salamanca em Abril de 1808 e depois de um longo périplo pela Espanha e França participou nas campanhas da Alemanha, Áustria e Rússia, tendo participado nas batalhas de Wagram, Smolensk, Vitebsk e Borodino (Moscovo) e sofrendo pesadas baixas. Altamente apreciadas por Napoleão, as tropas da Legião eram referidas por este enquanto "Infantaria Negra". Foi extinta a 5 de maio de 1814, tendo regressado a Portugal apenas cerca de um milhar dos mais de 30.000 soldados que partiram, sem contar com os 24.000 que foram abandonando o exército francês e voltando a Portugal para se juntarem à resistência durante a travessia de Espanha. Assim é uma unidade de 9.000 homens que é integrada no Exército Imperial de Napoleão. Recentemente foram descobertos alguns restos mortais de soldados portugueses no campo da batalha de Lubino os quais foram sepultados num cemitério em Smolensk.

Organização

A Legião Portuguesa Formava uma Divisão Composta.

5 Regimentos de Infantaria.

3 Regimentos de Cavalaria.

1 Regimento de Artilharia.

Comandantes da legião

Pedro José de Almeida Portugal.

Gomes Freire de Andrade, segundo comandante.

Manuel Inácio Martins Pamplona, chefe de estado-maior general.

D. José Carcome Lobo, comandante da 1.ª Divisão.

João de Brito Mouzinho, comandante da 2.ª Divisão.

Para subchefes do estado-maior.

Marino Miguel Franzini, mas "desertou" em Espanha, regressando a Portugal.

Manuel de Castro Pereira de Mesquita.

Entre os ajudantes de campo do general comandante estava.

Carlos Frederico Lecor, que conseguiu evadir-se para Inglaterra, onde foi o principal organizador da Leal Legião Lusitana.

Eram coronéis de cavalaria.

Marquês de Loulé.

Roberto Inácio Ferreira de Aguiar.

Álvaro Xavier de Póvoas, que não saiu de Lisboa porque o seu regimento não chegou a organizar-se.

Da infantaria eram Coronéis.

Saldanha e Albuquerque.

Marquês de Ponte de Lima.

Francisco António Freire Pego.

Conde de São Miguel.

José de Vasconcelos e Sá.

Francisco Ferrari.

Caçadores a cavalo, comandado.

D. João de Melo

Um batalhão de caçadores a pé, comandado.

Francisco Cláudio Blanc.

Para a campanha de 1809, foi criada a 13ª Meia-Brigada de Élite fazendo parte do II Corpo de Oudinot sob o comando do General de Brigada D. José Carcome Lobo.

3 Batalhões de Infantaria, criados por elementos de diversos regimentos de infantaria da Legião.

1 Regimento Provisional de Caçadores a Cavalo sob o comando do Coronel Roberto Inácio Ferreira de Aguiar.

Em 1811, a Legião Portuguesa é Reorganizada.

3 Regimentos de Infantaria.

1 Regimento de Caçadores a Cavalo.

1 Batalhão de Depósito.

Em 1813, após sofrer pesadas baixas, os restos da Legião são reorganizados.

1 Batalhão de Guerra.

1 Batalhão de Depósito.

Batalhas notáveis

Batalha de Wagram

Batalha de Smolensk
(1812)

Vitebsk

Batalha de Borodino
(Moscovo)

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