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terça-feira, abril 30, 2013

Batalhas e Combates-1800 I

Gibraltar
(25 de Março de 1800)



A 25 de Março de 1800 largou de Gibraltar com destino a Lisboa o cúter ‘Balão’, sob o comando do Capitão-tenente conde de Blosseville. Pouco depois de ter deixado o porto cruzou-se com um xaveco de corsários barbarescos, que ia de Cádis para Argel, com o qual combateu. O cúter português estava armado com 16 peças de artilharia e dispunha de 116 homens a bordo como guarnição, o xaveco argelino estava armado com 20 peças de artilharia e era guarnecida por 43 homens que estavam a bordo. Do combate propriamente dito não se conhecem detalhes, sabendo-se apenas que o xaveco foi tomado pelo ‘Balão’. O mesmo navio entrou no Tejo a 9 de Abril, possivelmente acompanhado do xaveco.

segunda-feira, abril 29, 2013

Batalhas e Combates-1800 II

Costa do Ceará
(13 de Junho de 1800)


Em meados de Maio (?) de 1800, largou de Belém do Pará, possivelmente com destino ao Recife, um comboio constituído por vários navios mercantes, sob a escolta do bergantim ‘Espadarte’, ao comando do Capitão-tenente Nicolau Wolf. A 29 à passagem pelo Maranhão, juntou-se-lhe o bergantim ‘Minerva’ de 10 peças de artilharia, de que era comandante o Primeiro-tenente Luis da Cunha Moreira. A 12 de Junho apareceu um corsário francês, provavelmente um navio de pequeno porte, que tentou atacar o comboio, sendo repelido pelos dois bergantins. A 13 apareceu outro corsário, desta vez uma fragata francesa de 40 peças de artilharia, Wolf colocou os bergantins entre os navios mercantes e o inimigo e ficou á espera, aguardando a investiga deste. Aproximando-se até curta distância dos navios portugueses o corsário tomou por alvo o ‘Minerva’, com o qual travou um renhido combate através de um duelo de artilharia que se prologou por mais de três horas. Apesar de o seu navio ser de muito menor força que o adversário, o tenente Cunha Moreira, não se rendeu e continuou a bater-se com inexcedível galhardia até se lhe acabarem as munições. Nessa altura o ‘Minerva’ se estava a afundar lentamente, com o casco arrombado em vários lugares, os mastros quebrados e o aparelho desfeito. Uma resistência como raramente se terá visto outra igual. Entretanto Wolf ao verificar que a fragata francesa estava empenhada a fundo no combate com o ´Minerva’ resolvera seguir em frente com o comboio, provavelmente na intenção de salvar os navios mercantes confiados à sua guarda, bem como o seu próprio navio. Terminado o combate com o ‘Minerva’, a fragata foi em perseguição do comboio, tendo conseguido capturar dois dos seus navios, por certo os mais ronceiros. Depois voltou atrás e recolheu os tripulantes do ‘Minerva’ que entretanto, já havia sido engolido pelas águas.

Mais tarde Nicolau Wolf foi julgado em Conselho de Guerra e condenado por não ter acorrido em socorro do outro bergantim. O combate do ‘Minerva foi um dos mais gloriosos da História da nossa Marinha durante o período da dinastia de Bragança   

domingo, abril 28, 2013

Batalhas e Combates-1800 III

Cabo Espartel
(2 de Julho de 1800)


A 1 de Julho de 1800 largaram de Vila Real de Santo António com destino a Tânger os caíques ‘Andorinha’ e ‘Leão’ a fim de irem buscar um iate mercante que ali se encontrava. O ‘Andorinha’ de que era comandante o Segundo-tenente José Joaquim de Caldeira, estava armada com 10 peças de artilharia e tinha uma guarnição de 38 homens. O ‘Leão’ de que era comandante o Segundo-tenente Joaquim de Oliveira Alves, teria possivelmente um armamento e uma guarnição idênticos. No dia seguinte, diante do Cabo Espartel os dois caíques foram interceptados por uma escuna e um místico franceses a primeira de 16 peças de artilharia e 140 homens a bordo e o segundo com 2 peças de artilharia e 50 homens como guarnição. ( O ‘Místico’ era um pequeno navio de origem espanhola parecido com os nossos caíques).

Depois de um combate que durou cerca de meia hora os dois navios portugueses renderam-se. As suas tripulações, feitas prisioneiras foram deixadas pelos franceses em Cádis, de onde, poucos dias depois, seguiram para vila Real de S. António. Não refere o cronista que tenha havido baixas para qualquer lados, o que parece indicar que o combate não terá sido travado com grande empenhamento.

Julgado em Conselho de Guerra o comandante mais antigo, José Joaquim Caldeira, foi condenado a prestar serviço durante um ano, debaixo de ordens de algum Chefe de Divisão para melhor se instruir na táctica. No entanto cinco meses mais tarde foi perdoado.  

sábado, abril 27, 2013

Batalhas e Combates-1801 I

Atlântico Sul
(18 de Maio de 1801)


A 9 de Novembro de 1799, na sequência de um golpe de estado que ficou conhecido pelo «18 Brunário», Napoleão Bonaparte tornou-se senhor dos destinos da França. A 29 de Janeiro de 1801 assinou com a Espanha, em Fontainebleau, um tratado secreto com vista à invasão e partilha de Portugal. A 27 de Fevereiro do mesmo ano a Espanha declarou-nos guerra. Provavelmente nos primeiros dias de Março largaram de Lisboa com destino ao Rio de Janeiro, navegando de conserva três navios mercantes. Eram eles o "Espik", de 26 peças e 114 homens de tripulação, de que era Capitão José Joaquim Vitório, o Brigue "Belizário" e a Galera "Flor do Rio". Ao romper do dia 18 de Maio de 1801 encontravam-se os ditos navios a navegar em coluna, pela ordem atrás indicada, ao rumo WSW, com vento moderado de SE, na posição 19º 55' S, 32º 57' W. Dissipadas as brumas matinais, foi avistado relativamente perto, na direcção do sul um navio, que mais tarde se veio a saber ser a fragata espanhola "La Paz" de 50 peças e com 400 homens de guarnição, que saira de Montevideu pouco dias antes com a missão de fazer guerra de corso ao largo da costa do Brasil. Ao dar pela presença dos três navios portugueses o comandante da fragata dirigiu-se logo ao seu encontro e, colocando-se pelo través de barlavento do "Belizário", e a curta distância dele intimou-os a amainar içando a bandeira espanhola firmada com um tiro de peça. Responderam os nossos içando também a bandeira e continuado a navegar como dantes o que levou a Fragata a abrir intenso fogo de artilharia e fuzilaria sobre o "Belizário" sem se deixar atemorizar pela força do adversário, o bravo Joaquim Vitório meteu à bolina e cortou a proa à fragata, mimoseando-a, à passagem, com uma salva da sua modesta artilharia. Feito isso, arribou e colocando-se a seu lado, por berlavento continuou a descarregar animosamente sobre ela os seus canhões. Quando viu o "Espik" orçar a "Flor do Rio" fez o mesmo e principiou também  a disparar, embora de longe, sobre a popa da fragata que assim ficou metida entre o fogo cruzado dos três navios portugueses, numa posição pouco confortável. Não obstante, talvez por compreender que a vantagem táctica de que os nossos dispunham não era suficiente para compensar a superioridade material do adversário, o Capitão do "Belizário", aproveitando o facto da fragata ter começado a orçar para se aproximar do "Espik", arribou e afastou-se dela rapidamente. vendo isso, a "Flor do Rio" fez o mesmo, deixando aquele sozinho a contas com o inimigo. Avisado do que se estava a passar Joaquim Vitório imediatamente fez sinal aos fugitivos para que voltassem ao combate. O Brigue ainda virou em roda e foi descarregar uma salva sobre a alheta da fragata. Mas logo tornou a afastar-se e reunindo-se à escuna seguiu com ela para o Rio de Janeiro, onde chegaram ambos a salvamento a 30 de Maio. Foi certamente uma atitude pouco honrosa mas que não pode deixar de ser considerada sensata, uma vez que permitiu aproveitar o sacrificio do "Espik" e salvar os dois navios. se o "Belizário" e a "Flor  do Rio" tivessem continuado a combater a seu lado é muito provável que todos os três tivessem acabado por ser capturados. Em tempo de guerra a obrigação do Capitão dos navios mercantes é levar a bom porto os seus navios e a carga que transportam e não dar combate aos navios de guerra inimigos. O que não quer dizer, obviamente, que não devam fazer todo o possivel para se defender dos seus ataques como fez o valoroso Capitão do "Espik". Apesar de abandonado Joaquim Vitório não desaminou e continuou a responder taco a taco ao fogo da Fragata, durante mais de três horas e meia, até se lhe acabarem as munições! Só então consentiu em arriar a bandeira. Em resultado deste combate épico o "Espik" ficou com o aparelho, a mastreação e as obras mortas muito danificados. Da sua corajosa e disciplinada tripulação de 114 homens, 35 morreram e 46 sofreram ferimentos mais ou menos graves. A Fragata espanhola ficou também muito avariada e teve 15 mortos e vários feridos.



Terminada a acção e reparadas as avarias mais importantes, a Fragata seguiu com o "Espik" para Montevideu, onde Joaquim Vitório e os seus marinheiros foram muito bem tratados pelos espanhóis em razão da forma galharda como se haviam batido apesar de serem apenas tripulantes de um simples navio mercante. Quando se soube em Lisboa a forma como José Joaquim Vitório se havia comportado no confronto com a Fragata espanhola, que além de permitir salvar dois preciosos navios mercantes tanto honrou o País, foi decidido integrá-lo directamente na Marinha de Guerra, ao que parece com o posto de Capitão de fragata. Durante o reinado de Dona Maria II acabaria por atingir o posto de Chefe de Divisão, que corresponde sensivelmente ao actual Contra-Almirante. Logo que o "Belizário" e a "Flor do Rio" chegaram ao Rio de Janeiro foram imediatamente mandados seguir para o estuário do Rio da Prata uma Nau de guerra e uma Fragata a fim de tentarem interceptar a Fragata espanhola com o "Espik" no seu regresso a Montevideu. Mas quando ali chegaram, já eles tinham passado. De qualquer forma a medida não foi de todo inútil, uma vez que foi capturado um Brigue espanhol. O bloqueio do Rio da Prata por navios de guerra portugueses durou três meses. Entretanto a guerra acabou.

sexta-feira, abril 26, 2013

Batalhas e Combates-1801 II

Atlântico Sul
(19 de Maio de 1801)



A Corveta "Andorinha", de 24 peças de artilharia e com 166 homens de guarnição, deve ter largado do Tejo para o Brasil por meados de Abril de 1801, sob o comando do Capitão de Fragata Ignacio da Costa Quintella. À chegada à Baía foi mandada seguir para o Rio de Janeiro. A 19 de Maio, ao romper do dia, achava-se a navegar, fora da vista da costa, na latitude de 16º 10' S e na longitude de 341º 10' a leste do meridiano de Lisboa, o que corresponde a 27º 55' W relativamente ao merediano de Greenwich. Pouco depois do nascer do sol os gajeiros anunciaram que se avistava um navio pela alheta. Conforme se veio a saber posteriormente, tratava-se da Fragata francesa "La Chiffonne" de 44 peças de artilharia e com 360 homens a bordo, dos quais 150 eram granadeiros, que largara de Nantes, sob o comando do Capitão Guyessé, a 12 de Abril, e se dirigia para a ilha Bourbon. Apesar de a "Andorinha" ir com todo o pano em cima cedo se tornou patente que o navio avistado lhe estava a ganhar terreno, dando mesmo a impressão de que a estava a perseguir. Pouco depois do meio-dia, desconfiando de que se tratasse de um inimigo e querendo tirar o caso a limpo, Costa Quintella virou por d'avante e meteu à orça a fim de identificar o seu seguidor e, ao mesmo tempo, tentar passar para barlavento dele. Cerca de meia hora decorrida os dois navios cruzaram-se, embora a uma distância ainda relativamente grande um do outro, passando a Corveta por sotavento da Fragata. Nesse instante Quintella mandou içar e firmar com um tiro de peça a bandeira portuguesa. Respondeu aquela içando a bandeira inglesa, igualmente firmada com um tiro. Mas, logo a seguir, arriou-a e em seu lugar içou a bandeira francesa acompanhada pelo disparo de uma bordada completa! Um simples gesto de intimidação, já que a distância era demasiadamente grande para que os seus tiros pudessem alcançar a "Andorinha". De qualquer forma as cartas estavam postas sobre a mesa. Uma vez que o navio francês era de força muito superior ao seu, a única coisa que Costa Quintella tinha a fazer era tentar escapar-lhe. Para isso continuou ainda durante algum tempo a bolinar o mais possivel para tentar ganhar barlavento ao seu adversário. Porém este, após ter-se cruzado com a nossa Corveta, metera também à bolina cerrada, embora com amuras opostas, e Quintella cedo compreendeu que não tinha a minima hipótese de passar para berlavento dele. Resolveu então arribar até ficar com o vento um pouco para ré do través, que era a mareação em que a Corveta andava mais. Respondeu o francês virando de imediato por d'avante e dando inicio a uma longa perseguição à "Andorinha" que se haveria de prolongar por perto de seis horas. Já ao fim da tarde, quando chegou ao alcance de tiro, a "Chiffonne" começou a disparar os seus canhões de caça sobre a Corveta, por vezes dava uma guinada para sotavento e disparava uma bombarda completa. Mas estes tiros, disparados a grande distância pouco ou nenhum efeito produziram. Quintella mandara levar os dois canhões de caça da proa para a popa e com eles ia respondendo ao fogo dos franceses. Mas de hora a hora a situação ia-se tornando mais crítica à medida que a "Chiffonne" se aproximava. Pelas seis e meia da tarde já se encontrava muito perto, pela alheta de sotavento da "Andorinha", começando a reduzir o pano na intenção evidente de se conservar nessa posição, fora do seu campo de tiro, e começar a descarregar sobre ela as suas baterias para o que lhe bastaria arribar um pouco no momento de fazer fogo. Sentindo-se num beco sem saida, Costa Quintella resolveu jogar tudo por tudo e ordenou uma redução drástica de pano, o que levou a Corveta a prolongar-se rapidamente com a Fragata, a curtissima distância dela. Principiou então um terrivel duelo de artilharia e mosquetaria, talvez a menos de cinquenta metros, já que Quintella diz no seu relatório que os tacos (buchas) de carregamento, após o disparo das peças, iam cair dentro do navio inimigo! Por duas vezes gritaram da "Chiffonne" para a "Andorinha", em espanhol que se rendesse, de ambas foi-lhe respondido pela boca dos canhões. Tentou então Guyessé, por duas vezes, aferrar a Corveta portuguesa, mas sem sucesso. Orçando sempre que o adversário começava a orçar e continuando a descarregar sobre ele os seus canhões carregados com carga dupla de metralha, Costa Quintella fez gorar ambas as tentativas. Por esta altura já os estragos sofridos pelos dois navios na mastreação e no aparelho eram cosideráveis.



Temendo o tiro certeiro dos nossos artilheiros e fuzileiros os tripulantes da "Chiffonne" abandonaram por duas vezes os seus postos de combate refugiando-se no interior. Felizmente para a "Andorinha" a curtissima distância a que estava travando o combate não permitia aos franceses darem a depressão necessária aos seus canhões para a afundarem, fazendo fogo para a zona do casco junto à linha de água. Não obstante, a diferença de forças era demasiado grande para que a luta pudesse durar muito mais tempo. E pelas oito, sendo já escuro, aconteceu o inevitável. Uma bordada da "Chiffonne" disparada contra a mastreação fez cair os mastaréus da gávea, velacho e joanetes, arrastando consigo as respectivas vergas e velas sobre o convés tornando impossivel a manobra do navio. Vendo-se à mercê do inimigo, Costa Quintella, depois de ter resistido durante uma hora e um quarto, entendeu que nada mais podia fazer e rendeu-se. Da nossa parte apesar da dureza do combate, registaram-se somente um morto e dois feridos, da parte dos fraceses constou que teria havido doze mortos e quarenta feridos, mas eles só confessaram três morto e onze feridos. No que toca a estragos materiais, ambos os navios sofreram avarias graves, sobretudo no aparelho e na mastreação. A "Chiffonne" ficou com quatro rombos no casco e um escaler feito em pedaços, perdeu um ferro e teve dois canhões desmontados. Consumada a rendição, os franceses entraram na "Andorinha" deitaram ao mar toda a sua artilharia e apoderaram-se do armamento portátil, das munições, dos instrumentos náuticos e de tudo o mais que pudesse ter algum valor, Guyessé felecitou Quintella pela forma como se tinha batido e afirmou-lhe que tanto ele como os seus homens tinham aprendido a respeitar a nação portuguesa. Depois propôs-lhe deixá-lo seguir livremente com a Corveta se comprometesse, bem como todos os seus oficiais, soldados e marinheiros, a não pegarem em armas contra a França até ao fim da guerra. Não tendo por onde escolher Costa Quintella aceitou o partido. Remediadas as suas avarias a "Chiffonne" seguiu viagem. Trataram os portugueses de pôr o seu navio em estado de navegar tapando os rombos do casco, armando guindolas, substituindo os cabos fixos e de laborar e envergando novas velas. Após quarenta e quatro horas de trabalho intenso a "Andorinha" tomou o rumo da Baía, onde chegou duas semanas depois, depenada e com as asas partidas, mas orgulhosa pela forma como se defendera do gavião que a atacara. Foi este outro dos combates mais gloriosos do periodo que estamos tratando, muito semelhante ao travado pelo Bergantim "Minerva" na costa do Ceará, no ano anterior. Qualquer deles atesta a elevada combatividade e competência dos comandantes e das guarnições dos navios de guerra portugueses da época. 

quinta-feira, abril 25, 2013

Batalhas e Combates-1801 III

Estreito de Gibraltar
(6 a 13 de Julho de 1801)


O exército espanhol que invadiu Portugal a 20 de Maio de 1801 pela fronteira do Alentejo orçava pelos quarenta mil homens, o exército português que se lhe opunha rondaria os trinta mil homens de primeira linha. Refira-se que por esta altura já os Ingleses tinham retirado a maior parte das tropas que haviam enviado para o nosso país em 1797, recusando-se a fornecer-nos novo auxilio. Felizmente para nós não havia da parte dos generais espanhóis grande entusiasmo de tão vil traição contra os seus antigos camaradas de armas na guerra do Russilhão ou porque já se tivessem apercebido de que em todo aquele negócio a Espanha estava sendo um mero joguete nas mãos dos franceses. Curiosamente também os generais portugueses não tomavam muito a peito a guerra por pensarem que ela só estava sendo feita para defender os intereses dos Ingleses. Este estado de espirito è bem ilustrado pelo seguinte trecho de uma carta escrita pelo Duque de Lafões comandante do exército português do Alentejo a Don Francisco Solano general do exército espanhol que se lhe opunha «Excelência (...) somos duas bestas que os outros picam, agitemos as campainhas, mas não nos façamos mal, que seria ridiculo!» Ao que parece Don Francisco Solano terá concordado com esta apreciação da situação, o que vem demonstrar , mais uma vez, que regra geral, os generais são muito menos belicistas que os politicos. O certo é que após a conquista de algumas vilas alentejanas entre as quais Olivença, o exército espanhol suspendeu o seu avanço.



Entretanto os ministros portugueses sentindo-se abandonados pela Inglaterra e aterrados pela perspectiva de um exército francês poder vir juntar-se ao espanhol aconselharam o Príncipe Regente a fazer a paz com a Espanha por qualquer preço. Por seu lado Manuel Godoy sentia à sua volta o ambiente hostil da maior parte da Nobreza espanhola, que não lhe perdoava ter levado o Rei a fazer guerra ao seu próprio genro e à sua própria filha sem qualquer razão para isso. E também ele receava a entrada em território espanhol de um exército francês destinado a colaborar na conquista de Portugal. Deste conjunto de circunstâncias resultou a abertura de negociações que conduziram à assinatura, em 6 de Junho de 1801, do célebre Tratado de Badajoz, mediante o qual Portugal se comprometeu a fechar os seus portos aos navios ingleses e a abri-los aos franceses, a pagar à França uma enorme indemnização, a recuar a fronteira do Brasil com a Guiana Francesa e a ceder à Espanha a titulo definitivo, a vila de Olivença e o seu termo. Em contrapartida, a Espanha acedeu a retirar as suas tropas do nosso território, a reconhecer a soberania portuguesa sobre o território das «Sete Missões» e a empenhar os seus bons oficios no sentido de convencer a França a ratificar o tratado. E assim terminou, dezasseis dias depois de ter começado a «Guerra das Laranjas» assim chamada pelo facto de nos primeiros dias da campanha Manuel Godoy ter enviado à Rainha dois ramos de laranjeira cortados em território português como prova de que a invasão estava correndo sobre rodas.



A 22 de Junho de 1801, portanto já depois de ter sido assinado o Tratado de Badajoz, largaram do Tejo com destino ao estreito de Gibraltar as Fragatas "Princesa Carlota", de 46 peças de artilharia, sob o comando do Capitão-de-mar-e-guerra Crawford Duncan e a Fragata "São João", de 40 peças sob o comando do Capitão de Fragata Manuel do Canto e Castro e Mascarenhas. De acordo com as ordens recebidas, uma vez chegado à costa do Algarve, deveria Duncan incorporar na sua força o Bergantim "Lebre", ali em serviço, e assegurar a protecção da nossa navegação na zona, escoltando-a até aos seus portos de destino e dando caça aos corsários barbarescos e mouriscos. Quando lhe parecesse oportuno deveria ainda ir com a "Carlota" a Gibraltar a fim de entregar as malas do correio que levava com destino àquela praça. Em principios de Julho dispôs-se Crawford Duncan a executar esta última tarefa e dirigiu-se para Gibraltar, deixando a "São João" e o "Lebre" na costa algarvia. Pela mesma altura encontravam-se também a caminho do estreito três Naus de guerra e uma Fragata francesas que tinham saido de Toulon, sob o comando do Almirante Linois, com destino a Cádis. À passagem por Algeciras foi este informado de que uma esquadra inglesa de sete Naus de guerra e uma Fragata que estava a bloquear Cádiz, sob o comando de Saumarez, vinha ao seu encontro. Não estando dispostos a bater-se com os ingleses numa situação de tão clara inferioridade, Linois resolveu arribar a Algeciras onde fundeou os seus navios debaixo dos canhões dos fortes espanhóis. No porto encontravam-se ainda sete Lanchas-canhoneiras espanholas que tomaram as disposisões necessárias para ajudarem a defender os navios franceses. A 6 de Julho, ao amanhecer, surgiu diante de Algeciras a esquadra de Saumarez, constituida apenas por seis Naus de guerra, já que a Nau de guerra "Superb" e a Fragata "Thames" haviam sido deixadas a vigiar Cádis. Sem hesitar, o Almirante inglês lançou-se de imediato ao ataque dos navios franceses, disposto a repetir a proeza de Nelson em Abukir. Mas as coisas não lhe correram de feição. Por um lado o vento era fraco, o que atrasou e dificultou a manobra dos navios ingleses, por outro lado, os franceses, logo que se aperceberam de que os ingleses os queriam atacar simultaneamente por ambos os bordos, picaram as amarras e deixaram-se descair para cima de terra inviabilizando aquela manobra. Em resultado do intenso canhoneio que se seguiu todos os navios intervenientes na luta sofreram grossas avarias. Cinco das sete lanchas-canhoneiras espanholas foram afundadas, duas Naus de guerra inglesas, a "Hannibal" e a Nau "Pompée", encalharam.



A Fragata portuguesa "Princesa Carlota" que ia, como se disse a caminho de Gibraltar, juntara-se á esquadra de Saumarez quando esta se dirigia para Algeciras. Como seria de esperar, não tomou parte no ataque aos navios franceses que se haviam refugiado naquele porto, o que seria inadmissivel depois de Portugal ter assinado um tratado de paz com a Espanha e estar à espera que o mesmo fosse ratificado pela França. Não obstante, quando lhe foi solicitado por Saumarez e pelo governador de Gibraltar que ajudasse a socorrer os navios ingleses encalhados, Duncan não se conteve e cedendo à força dos laços de sangue, deu ordem aos seus escaleres para que fossem juntar-se aos dos ingleses que estavam tentando puxar as duas Naus encalhadas para fora. Durante esta fase da batalha a "Carlota" foi repetidamente atingida pelos tiros dos fortes espanhóis e dos navios franceses, tendo sofrido avarias de certa importância na mastreação e no aparelho. Depois de muito trabalho os escaleres ingleses e portugueses conseguiram desencalhar a "Pompée" e levala a reboque para Gibraltar. A "Hannibal", que estava metida mais para dentro da baía, não teve a mesma sorte acabando por ter de se render. Com três dos quatro navios que lhe restavam também muito maltratados, Saumarez viu-se forçado a bater em retirada para Gibraltar a fim de os poder reparar. A 9 de Julho chegaram a Algeciras, idas de Cádis, cinco Naus de guerra e uma Fragata espanholas sob o comando do Almirante Moreno, e uma Nau de guerra, uma Fragata e um Bergantim franceses, sob o comando do Contra-almirante Dumannoir. A "Superb" e a "Thames", que estavam vigiando Cádis, vieram à sua frente e juntaram-se aos navios ingleses que estavam em Gibraltar a efectuar reparações de emergência. Em resultado destes movimentos ficaram os fronco-espanhóis dispondo em Algeciras de nove Naus de guerra, três Fragatas e um Bergantim, além de duas Lanchas-canhoneiras, contra as seis Naus de guerra e a Fragata que os ingleses tinham em Gibraltar. Quanto a Crawford Duncan, aquilo que lhe competia fazer era simplesmente entregar as malas do correio e regressar ao Algarve. Mas é evidente que lhe repugnava abandonar os seus compatriotas nas vésperas de uma batalha. É também natural que os oficiais e os marinheiros e soldados portugueses partilhassem de sentimentos semelhantes, pesando-lhes abandonar os seus antigos aliados em momento tão critico. Desse estado de espirito resultou ter-se Duncan oferecido para acompanhar a esquadra inglesa, embora prevenindo Saumarez de que não poderia tomar parte activa no combate uma vez que Portugal estava em paz com a Espanha e com a França. A 12 de Julho, quando a esquadra franco-espanhola deixou Algeciras com destino a Cádis e a inglesa de Saumarez se lançou em sua perseguição, lá ia a "Carlota" praticamente integrada nesta última! Sem dúvida uma leviandade por parte de Crawford Duncan, que antepôs o seu brio profissional e o apelo da sua própria nacionalidade às obrigações que tinha perante os interesses do país que lhe havia confiado o navio que comandava. Apesar da esmagadora superioridade numérica de que dispunha o Almirante Moreno não pensou em dar combate aos ingleses cuja melhor qualidade receava preocupando-se somente com levar todos os seus navios a salvamento até Cádis. Nesse dia o vento estava a soprar fresco de leste. Tendo a maior parte dos seus navios com o aparelho em nau estado em resultado do combate de Algeciras, Saumarez não conseguia ganhar terreno aos franco-espanhóis. Cerca das onze e meia da noite temendo que aqueles acabassem por se lhe escapar, ordenou à "Superb" e à "Thames" que a coberto da escuridão, fossem atacar os navios da retaguarda da esquadra inimiga a fim de retardar a marcha desta. Sem hesitar, Duncan foi com elas! Cerca das duas da madrugada, do dia 13 a "Superb" e a "Thames" começaram a distinguir vultos à sua frente, pelo meio dos quais se meteram fazendo fogo por ambos os bordos. Ao começarem a ser alvejados os navios espanhóis da cauda da formatura ripostaram imediatamente. Mas como não lhes era fácil, no escuro, distinguir os amigos dos inimigos dois deles envolveram-se num medonho duelo de artilharia entre si que culminou com o lançamento de grande quantidade de granadas incendiárias. Só quando o clarão dos incêndios iluminou a cena é que deram pelo terrivel engano em que tinham estado a laborar e cessaram fogo. Mas já era demasiado tarde! Continuando a arder furiosamente, as duas Naus espanholas uma após outra, acabaram por explodir e afundar-se. Neste meio tempo a "Superb" e a "Thames" estavam travando um combate encarniçado com a "Santo António", uma Nau de guerra espanhola que havia sido cedida aos franceses e que embora arvorando bandeira francesa, tinha uma guarnição mista de franceses e espanhóis. Pela sua parte a "Carlota" estaria combatendo com a Fragata francesa "Indienne". Possivelmente, tendo sido alvejada por esta ... respondera! O que se passou a seguir não é bem claro. Segundo os historiadores portugueses, vendo Crawford Duncan que a "Superb" se encontrava em dificuldades para dominar o seu adversário, ter-se-ia deixado descair para perto da "Santo António", começando a batê-la por uma alheta. Isso teria contribuído decisivamente para que um quarto de hora depois a Nau francesa se rendesse. Se na realidade assim foi, o procedimento de Duncan é imperdoável. Segundo os historiadores ingleses, terão sido a "Superb" e a "Thames" quem obrigaram a "Santo António" a render-se. Seguidamente a "Superb" teria ido em busca de novos alvos, deixando aquela à guarda da "Thames" e da "Carlota".



Segundo esta versão, a nossa Fragata não teria chegado a abrir fogo, embora, obviamente, tivesse interferido na contenda a favor dos Ingleses. Acerca deste ponto parece não poder existir qualquer dúvida. Um pouco depois das cinco o grosso da esquadra inglesa chegou ao contacto balístico com os navios mais atrasados da esquadra franco-espanhola, envolvendo-se com eles num combate confuso e sem consequências de maior. O vento caíra e os navios ingleses tinham dificuldade em manobrar. Um deles acabou mesmo por encalhar, sendo necessário enviar em seu auxilio os escaleres dos outros, que o ajudaram a pôr a nado. Ao romper do dia Moreno constatou com desgosto que tinha três Naus a menos, o que reforçou a sua intenção de evitar o combate e seguir o mais depressa possivel para Cádis. Não tendo possibilidade de o alcançar antes de atingir aquele porto, Saumarez regressou a Gibraltar, levando consigo a "Santo António". Crawford Duncan mais uma vez demonstrou falta de senso. Em vez de continuar viagem para o Algarve, voltou também para Gibraltar na companhia da esquadra inglesa a fim de reclamar a sua parte no prémio em dinheiro pela captura da "Santo António". de notar que esta sua atitude parece indicar que na realidade terá tomado parte activa no combate que conduziu à sua rendição. De qualquer forma, Saumarez não atendeu o seu pedido, a pretexto de que antes da batalha o havia informado de que não poderia tomar parte nela. Talvez porque tivesse avarias importantes que precisava de reparar Duncan conservou-se em Gibraltar até 14 de  Agosto, data em que recebeu ordem para regressar imediatamente a Lisboa. Assim fez, dando entrada no Tejo a 28 do mesmo mês, acompanhando oito navios mercantes carregados com trigo e que vinham de Marrocos. Pouco dias depois foi exonerado do comando da "Princesa Carlota", sendo de presumir que tenha sido mandado regressar a Inglaterra.



quarta-feira, abril 24, 2013

Batalhas e Combates-1802

Mediterrâneo
(8 de Maio de 1802)


Quem não gostou mesmo nada do Tratado de Badajoz foi Napoleão, que acusou Godoy de se ter precipitado fazendo a paz com Portugal antes de se ter sido ocupada, pelo menos a quarta parte do seu território , conforme havia sido previamente acordado. Também os Ingleses não ficaram satisfeitos, ao verem-se abandonados pelo último aliado que ainda tinham no continente e privados de utilizarem a base de Lisboa que era fundamental para assegurar a ligação entre as suas esquadras do Canal e do Mediterrâneo. E retaliaram ocupando a ilha da Madeira e os fortes da barra de Goa. Mas tanto a Inglaterra como a própria França já estavam fartas de uma guerra a que nenhuma delas via saida. a 1 de Outubro de 1801, tiveram início, em Londres, conversações preliminares para lhe pôr termo e a 27 de Março de 1802 foi finalmente assinado em Amiens o tratado de paz. De acordo com as cláusulas desse tratado, os beligerantes comprometeram-se a restituir todas as conquistas territoriais que tinham feito durante a guerra, à exepção da ilha Trindade e de Ceilão, que foram atribuidas a título definitivo à Inglaterra e de Olivença, cuja a anexação por parte da Espanha foi reconhecida internacionalmente. Os Ingleses comprometeram-se a retirar as suas tropas da Madeira e de Goa, mas só o fizeram em relação à primeira por, entretanto, ter recomeçado a guerra. A saída dos Ingleses de Goa só viria a ter lugar em 1815. No ano em que foi celebrada a paz de Amiens, em 1802, enviámos para o estreito de Gibraltar uma forte esquadra, que em Abril era constituida por uma Nau de guerra, duas Fragatas e dois Bergantins. A 8 de Maio encontrava-se cruzando o Mediterrâneo a Fragata "N. S. do Bom Despacho", mais conhecida pela "Cirne", de 36 peças de artilharia e com 300 homens de guarnição, de que era comandante o Capitão-de-mar-e-guerra Luis Seguin Deshon. Foi então que apareceu uma Fragata de 44 peças de artilharia, ostentando bandeira inglesa, que se aproximou da "Cirne" por berlavento, fazendo sinais de que desejava comunicar com ela. Confiados os portugueses deixaram-na chegar-se sem tomarem qualquer precaução. Subitamente a Fragata supostamente inglesa mas que na realidade era argelina, arribou em cheio sobre a nossa e aferrou-a, ao mesmo tempo que a sua guarnição se lançava à abordagem, fazendo uma algazarra medonha! Apanhados completamente de surpresa, os portugueses pouca resistência puderam oferecer. O comandante e alguns dos tripulantes foram mortos, os restantes oficiais, soldados e marinheiros foram feitos prisioneiros, sendo levados para Argel juntamente com o navio. Mais tarde a 6 de Julho de 1810, foi assinada uma trégua entre Portugal e o bei de Argel segundo a qual a troco do pagamento de uma grossa indemnização e da entrega de setenta e nove argelinos que estavam presos em Lisboa, aquele se compremeteu a libertar quinhentos e oitenta e um portugueses e trinta e quatro escravos que estavam cativos em Argel. A libertação foi feita em três grupos. tendo ficado concluida a 23 de Junho de 1812.

terça-feira, abril 23, 2013

Batalhas e Combates-1805

Costa de Moçambique
(1805)

Os Sacalaves eram um povo que se achava instalado no litoral a sul da baia de Lourenço Marques e que, em parte, se dedicava à pesca e à pirataria. Em 1805 foi o governador de Moçambique avisado de que os Sacalaves estavam a preparar uma expedição composta por cerca de seiscentas embarcações para atacar as ilhas Quirimbas, situadas entre Porto Amélia e o cabo Delgado, que por essa época eram um importante entreposto comercial. Não dispondo de navios de Guerra, tratou o governador de mandar armar a Goleta "Emboscada", que se encontrava em Moçambique e cuja guarnição, depois de reforçada ficou constituida por dois oficiais, quatro sargentos, trinta e cinco soldados e vinte e nove marinheiros. (As goletas eram navios de dois mastros, envergando em ambos velas latinas quadrangulares, portanto semelhantes aos Iates mas de maiores dimensões). A respeito da acção da "Emboscada", bateu-se com os Sacalaves com fortuna vária mas, devido ao mau tempo, teve que recolher-se sem obter resultados completos.


segunda-feira, abril 22, 2013

Batalhas e Combates-1805 a 1810


Marinha de Guerra Portuguesa

Esquadra Portuguesa do Oriente Capitania de Macau

Governador
Capitão-General da cidade Lucas José de Alvarenga

Ajudante do Governador
Desembargador Miguel José de Arriaga Brum da Silveira


Combates no Mar da China
31 de Março de 1805 a 20 de Outubro de 1805

A pirataria aumentava cada vez mais, causando danos à navegação não só chinesa mas portuguesa. Macau vivia do seu comércio marítimo, perde-lo seria lavrar a sua sentença de morte. Portanto tinha que se defender dos piratas. A 31 de Março de 1805 o governador da Índia recomendou ao de Macau «Também não me parece conveniente que as  embarcações de guerra destinadas para a defesa da cidade e do seu comércio, se unam à Armada do Governo Sínico nem estendam a sua navegação a tão grande navegação e a tão grande distancia como praticaram antecedentemente de que resultou uma dela dar a Polpinão (Pulo Penang) e recear-se e aqui a respeito da outra a triste notícia de que tinha naufragado, advirto, portanto ao senado que evite novos compromissos com os Mandarins Chineses sobre a união das Esquadras, limitando-se ao serviço das nossas embarcações e à defesa de qualquer desembarque, que se intente nas nossas praias da cidade e das embarcações». Em 20 de Outubro de 1805 o Capitão-tenente João Inácio Lopes comandando o Brigue 'Princesa Carlota', alcançou una brilhante vitória contra 70 embarcações de piratas «obrigando-as pela sua presença de espírito e sangue frio imperturbável à mais vergonhosa fuga». Recebeu os louvores do Senado que foram bem merecidos, pois foi um combate de um só navio contra 70.

Ordem de Batalha da Flotilha Portuguesa

Comandante da Força
Capitão-tenente João Inácio Lopes
(1 navio de guerra – 1 Brigue – 14 peças de artilharia e 120 homens)

Princesa Carlota
Brigue
Comandante
Capitão-tenente João Inácio Lopes

Armamento - 14 peças de artilharia e 125 homens de guarnição


Combates no Mar da China do Sul

06 de Maio 1807

A pirataria infestava os mares da china do sul, estendendo-se às águas de Macau. Como vários barcos nossos se perderam, o Senado proibiu em 29 de Novembro de 1805, a compra de embarcações de dois mastros, sob uma multa de 400 taéis, visto não se poderem armar convenientemente. Em 1807 os piratas tiveram a ousadia de atacar navios mercantes à vista de Macau. Urgia dar-lhes uma boa lição. O Senado de Macau adquiriu três embarcações de guerra: a Fragata 'Ulisses' de 120 toneladas e 28 peças de artilharia, o Brigue 'Princesa Carlota' de 20 toneladas e 14 peças de artilharia e a Lorcha 'Leão Temível' com 5 peças de artilharia. Em Abril de 1807, a flotilha portuguesa saiu do porto de Macau, e a 6 de Maio de 1807, encontraram a frota dos piratas chineses formada por 50 juncos, após uma hora de combate a frota chinesa retirou excepto o navio-capitânea de 20 toneladas e com 300 homens de guarnição que se lançaram contra o Brigue do Primeiro-tenente Pereira Barreto. O combate foi renhido tendo a flotilha portuguesa alcançado uma vitória total.

Ordem de Batalha da Flotilha Portuguesa

Comandante da Flotilha
Primeiro-tenente Pereira Barreto
(3 navios de guerra - 1 fragata, 1 brigue e 1 lorcha - 41 peças de artilharia e 255 homens)

Ulisses
Fragata
Comandante
Capitão de Artilharia José Pinto Alcoforado de Azevedo e Sousa

Armamento - 28 peças de artilharia, 20 peças de 12 pl. 8 peças de 6 pl.

Princesa Carlota
Brigue
Comandante
Primeiro-tenente Pereira Barreto

Armamento - 12 peças de artilharia e 125 homens de guarnição

Leão
Lorcha
Comandante
Piloto José Gonçalves Carocha

Armamento - 5 peças de artilharia e 30 homens de guarnição

Marinha de Guerra Portuguesa

Boca do Tigre

15 de Fevereiro de 1809 a 21 de Janeiro de 1810

Combates da Esquadra Portuguesa de Macau no mar da China de 1809-1810, contra os piratas chineses comandados por Quan Apon Chay. Perdida no fim do mundo, esquecida pela Índia e ainda mais pela Metrópole, constantemente ameaçada pelas prepotências dos Chineses e dos Ingleses, a cidade de Macau teimava em sobreviver.  Em Setembro de 1808, apesar dos protestos do Governador e do Senado, os Ingleses insistiram em colocar nela uma guarnição sua, tal como haviam feito no Funchal e em Goa, para "... a defender de um eventual ataque dos Franceses". A verdade nua e crua é que a Companhia Inglesa das Índias estava aproveitando despudoradamente a guerra na Europa para deitar mão a todas as possessões que os Franceses, os Holandeses e os Portugueses ainda possuíam no Oriente. Afinal, a esperteza de nada lhe serviu, porque ao ser assinado o tratado de paz em 1815 foi obrigada a devolvê-las todas aos seus antigos donos. Mas não eram só os Ingleses que causavam preocupações aos Macaenses. Desde 1805 que um pirata chinês, chamado Quan Apon Chay, que aspirava a tornar-se imperador da China, andava assolando as costas deste país com uma armada de perto de setecentos navios, entre juncos, Lorchas e outros de menor porte. De início não se tinha atrevido a interferir com a navegação de Macau, possivelmente por recear a esquadra que ali tínhamos, composta por uma fragata e um brigue. Porém, quando aquela foi mandada seguir para a Índia, começou também a apresar os navios que iam para Macau ou de lá vinham. Era então governador e capitão-general da cidade Lucas José de Alvarenga, homem inteligente e enérgico, que resolveu pôr cobro a uma situação que a prolongar-se levaria inevitavelmente os Macaenses à ruína. Nesse sentido deu ordem ao desembargador Miguel José de Arriaga Brum da Silveira, pessoa com excepcionais capacidades de organização e profundo conhecedor do meio, para organizar uma esquadra capaz de ir dar combate à dos piratas. Meteu este mãos à obra e a breve trecho tinha prontos a fazerem-se ao mar, devidamente armados, guarnecidos e municiados, o brigue de guerra 'Princesa Carlota', de 16 peças e 100 homens de guarnição, o brigue de guerra 'Belisário', de 18 peças e 120 homens de guarnição, e a Lorcha 'Leão', de 5 peças e 30 homens de guarnição, esta última comandada pelo piloto José Gonçalves Carocha. Para comandante da força foi escolhido o capitão de artilharia José Pinto Alcoforado de Azevedo e Sousa. Encontrava-se no porto uma fragata inglesa, cujo comandante, instado pelo Governador, acedeu a colaborar connosco. A 15 de Fevereiro de 1809 os navios acima referidos deixaram Macau, continuando a fragata inglesa fundeada como se nada fosse com ela. Pouco depois entravam aqueles em contacto com cerca de duzentos navios do Quan Apon Chay que se encontravam nas proximidades. Teve então lugar um medonho combate entre os portugueses e os chineses, disparando os primeiros continuamente os seus canhões e as suas espingardas sobre o cardume de juncos e Lorchas que procuravam aproximar-se deles, enquanto os segundos se esforçavam por chegar à abordagem, o que, felizmente para nós, nunca conseguiram. Durou o combate, no qual se distinguiu particularmente a Lorcha de Gonçalves Carocha, desde manhã até ao pôr-do-sol, acabando os piratas por bater em retirada com muitos dos seus navios gravemente danificados e cheios de mortos e feridos. Esta vitória de "David contra Golias" levantou extraordinariamente o ânimo dos Macaenses e abalou a dos piratas. Na sequência dela o governo imperial enviou emissários a Macau para propor uma acção conjunta de Portugueses e Chineses destinada a acabar de uma vez por todas com o temível Quan Apon Chay. A 23 de Novembro de 1809 foi assinado entre as duas partes uma convenção, mediante a qual os Portugueses se comprometiam a aprontar uma esquadra de seis navios e os Chineses uma de sessenta, para, unidas, irem dar batalha à do pirata. Mais uma vez o infatigável desembargador Arriaga entrou em acção e lançando mão de todos os recursos da cidade conseguiu armar mais quatro navios mercantes que estavam no porto. Eram eles: o 'Inconquistável', de 26 peças e 160 homens de guarnição, cujo comando foi confiado a Alcoforado, também comandante da esquadra; o Indiana, de 24 peças e 120 homens de guarnição, do comando do alferes Anacieto José da Silva, a 'Conceição', de 18 peças e 130 homens de guarnição, do comando de Luís Carlos de Miranda, o 'São Miguel', de 16 peças e 100 homens de guarnição, do comando de Constantino José Lopes. Todos eles, assim como o 'Belisário', de que era comandante o alferes José Félix dos Remédios, eram navios de três mastros com mastaréus de gávea e de joanete, portanto equivalentes às corvetas de guerra. A Lorcha 'Leão', talvez por causa das avarias sofridas no primeiro combate, não foi utilizada, sendo o bravo Gonçalves Carocha nomeado comandante do brigue 'Carlota'. Em princípios de Novembro de 1809 largou a nossa esquadra com destino à Boca do Tigre a fim de se juntar à chinesa que pela mesma altura deveria ter saído de Cantão. Porém, poucas horas depois de ter deixado Macau, foi interceptada pela esquadra do Quan Apon Chay, com a qual travou um novo combate, que durou cerca de nove horas. Depois de terem tido quinze navios afundados a tiro de canhão e ficado com muitos outros destroçados, os piratas retiraram. Mas recompuseram-se rapidamente e a 11 de Novembro voltaram ao ataque, sendo novamente repelidos com pesadas perdas. Não tendo aparecido a esquadra chinesa de Cantão, a nossa recolheu a Macau. Nos primeiros dias de Janeiro de 1810 Alcoforado voltou a fazer-se ao mar, travando mais dois combates, nos dias 3 e 4, com a esquadra do Quan Apon Chay. Tal como acontecera nos encontros anteriores, preponderou a potência de fogo da nossa artilharia e mosquetaria, que não permitiu que os chineses concretizassem nenhuma das repetidas tentativas que fizeram para abordar os navios portugueses. Mas Quan Apon Chay não se deu por vencido e a 21 de Janeiro lançou-se em massa, com mais de trezentos navios, sobre a nossa esquadra, disposto a jogar tudo por tudo. O embate foi terrível! Manobrando habilmente os seus navios de forma a conservarem-se a barlavento e disparando incessantemente os seus canhões e os seus mosquetes, os portugueses conseguiram manter o inimigo à distância, ao mesmo tempo que lhe iam provocando grandes estragos e inúmeras baixas. A dada altura a 'Conceição' encalhou, ficando em risco de ser abordado e tomado. Foi em seu auxílio Gonçalves Carocha com a 'Carlota' e conseguiu desencalhá-lo, tirando-o da difícil situação em que se encontrava. Notou então Alcoforado que no centro da esquadra inimiga se encontrava um grande junco transformado em pagode onde deviam ser transportados os símbolos da religião dos piratas. Pensando que se o conseguisse afundar o moral destes ficaria consideravelmente abalado, concentrou sobre ele o fogo da artilharia do seu navio. Atingido repetidamente, o pagode começou a desmanchar-se, a meter água e, por fim, afundou-se. Conforme Alcoforado previra, ao verem-no desaparecer, os restantes navios do Quan Apon Chay, na sua maior parte já muito maltratados, deram a batalha por perdida e começaram a afastar-se dos nossos. Nestas circunstâncias viu-se aquele obrigado a refugiar-se no rio Hiang San, onde os portugueses não puderam entrar por terem maior calado, ficando fundeados à entrada da barra. Decorridas cerca de duas semanas Quan Apon Chay mandou dizer a Alcoforado que estava disposto a negociar. Que lhe mandasse um emissário. Não esteve este com meias medidas. Meteu-se sozinho numa embarcação e foi ele mesmo ao junco do pirata que se encontrava rodeado por toda a sua esquadra. Quan Apon Chay ficou estarrecido perante tanta coragem e ao mesmo tempo lisonjeado pela confiança que o nosso comandante depositava nele. E como também era um homem corajoso e honrado, declarou a Alcoforado que na realidade a sua intenção, quando propusera negociações, era distrair os portugueses para tentar furar o bloqueio, ainda que perdesse parte dos seus navios. Mas considerando a forma como se tinham batido e a demonstração de confiança que lhe tinham dado, mudara de ideias e estava agora disposto a entrar em negociações de paz com o Imperador da China. Para tal solicitou a mediação portuguesa e que o encarregado directo dela fosse o desembargador Arriaga. Tal era o prestígio de que este desfrutava entre os Chineses. Deslocou-se o desembargador ao rio Hiang San juntamente com os delegados do Imperador e a 21 de Fevereiro de 1810 firmou-se um tratado de paz, mediante o qual Quan Apon Chay se comprometia a entregar toda a sua esquadra e a reconhecer sem reticências a autoridade do Imperador. Em contrapartida, por sugestão de Arriaga, era aquele investido no cargo de almirante-mor da armada chinesa gozando de inúmeras regalias. Desta forma ficou salva a face de todos. Uma verdadeira obra-prima de diplomacia oriental. A 20 de Abril teve lugar a entrega formal das forças do Quan Apon Chay, num total de duzentos e oitenta navios, duas mil peças de artilharia e vinte e cinco a trinta mil homens. Os Portugueses nada quiseram para si, além dos navios que tinham capturado durante o último combate, o que, mais uma vez, assombrou os Chineses. Mais tarde Quan Apon Chay visitou Macau com uma esquadra de sessenta juncos festivamente embandeirados. Recebido com todas as honras no Leal Senado, disse, referindo-se a Gonçalves Carocha: - "Eis o homem que mais danos me causou; ele só e a sua Lorcha [durante o primeiro combate] inquietava toda a minha esquadra. Mas quem pode igualar os Portugueses".


Batalhas no Mar da China

Flotilha de Macau
15 de Fevereiro de 1809
Comandante da Flotilha
Comandante
Capitão de Artilharia José Pinto Alcoforado de Azevedo e Sousa
(3 navios de guerra - 1 brigue, 1 navio armado e 1 lorcha - 39 peças de artilharia e 250 homens)

Belisário
Brigue
Comandante
Alferes José Félix dos Remédios

Armamento - 18 peças de artilharia e 120 homens de guarnição

Princesa Carlota
Brigue
Comandante
Capitão de Artilharia José Pinto Alcoforado de Azevedo e Sousa

Armamento - 16 peças de artilharia e 100 homens de guarnição

Leão
Lorcha
Comandante
Piloto José Gonçalves Carocha

Armamento - 5 peças de artilharia e 30 homens de guarnição

Flotilha de Macau
15 de Setembro de 1809
Comandante da Flotilha
Capitão de Artilharia José Pinto Alcoforado de Azevedo e Sousa
(3 navios de guerra - 2 brigues e 1 lorcha - 39 peças de artilharia e 250 homens)

Belisário
Brigue
Comandante
Primeiro-tenente Teutónio da Silva Braga

Armamento - 18 peças de artilharia e 120 homens de guarnição Princesa Carlota

Princesa Carlota
Brigue
Comandante
Capitão de Artilharia José Pinto Alcoforado de Azevedo e Sousa

Armamento - 16 peças de artilharia e 100 homens de guarnição

Leão
Lorcha
Comandante
Piloto José Gonçalves Carocha

Armamento - 5 peças de artilharia e 30 homens de guarnição

Esquadra de Macau
23 de Novembro de 1809

Na sequência da vitória de 15 de Fevereiro de 1809, o governo Imperial Chinês enviou emissários a Macau para propor uma acção conjunta de Portugueses e Chineses destinada a acabar de uma vez por todas com o temível Quan Apon Chay. A 23 de Novembro de 1809 foi assinado entre as duas partes uma convenção, mediante a qual os Portugueses se comprometiam a aprontar uma esquadra de seis navios e os Chineses uma de sessenta, para, unidas, irem dar batalha à esquadra do pirata. Em princípios de Novembro de 1809 largou a nossa esquadra com destino à Boca do Tigre a fim de se juntar à chinesa que pela mesma altura deveria ter saído de Cantão.

Comandante da Esquadra
Capitão de Artilharia José Pinto Alcoforado de Azevedo e Sousa
(6 navios de guerra - 1 fragata, 1 bergantim e 4 brigues - 120 peças de artilharia e 760 homens)

Inconquistável
Fragata
Comandante
Capitão de Artilharia José Pinto Alcoforado de Azevedo e Sousa

Armamento - 26 peças de artilharia e 160 homens de guarnição

Indiana
Bergantim
Comandante
Alferes Anacieto José da Silva

Armamento - 24 peças de artilharia e 120 homens de guarnição

Conceição
Brigue
Comandante
Piloto Luís Carlos de Miranda

Armamento - 18 peças de artilharia e 130 homens de guarnição

São Miguel
Brigue
Comandante
Piloto Constantino José Lopes

Armamento - 18 peças de artilharia e 130 homens de guarnição

Belisário
Brigue
Comandante
Alferes José Félix dos Remédios

Armamento - 18 peças de artilharia e 120 homens de guarnição

Princesa Carlota
Brigue
Comandante
Piloto José Gonçalves Carocha

Armamento - 16 peças de artilharia e 100 homens de guarnição

domingo, abril 21, 2013

Batalhas e Combates-1806

Estreito de Gibraltar
(Primavera e Verão de 1806)


A paz de Amiens em Março de 1802, foi sol de pouca dura A rivalidade e as desconfianças entre Franceses e Ingleses eram demasiadamente grandes para que as complicadas cláusulas do tratado pudessem ser plenamente cumpridas. A França protelou a retirada das suas tropas e a Inglaterra recusou-se a abandonar Malta, ao mesmo tempo que ia continuando a intervir arbitariamente com a navegação francesa. Os conflitos sucederam-se e em Maio de 1803 os dois paises estavam novamente em guerra um com o outro. De início a Espanha conseguiu conservar-se neutral, à custa do pagamento à França de um elevado subsidio anual. Mas, em finais de 1804, quando os ingleses capturaram uma frota ricamente carregada que vinha das Américas, viu-se obrigada a declarar-lhes guerra. Portugal para conservar a neutralidade, fez o mesmo que os Espanhóis tornou-se tributário da França mediante o pagamento anual de dezasseis milhões de libras. Não obstante, não punha quaisquer entraves a que as esquadras inglesas continuassem a utilizar o porto de Lisboa. Era uma politica de equilibrio na corda bamba, mas a verdade é que era a única possivel. A ideia de Napoleão era invadir a Inglaterra, tal como havia sonhado Filipe II. Para isso idealizou uma série de complicados movimentos das esquadras francesas e espanholas destinados a afastar temporariamente as esquadras inglesas do canal da Mancha e permitir a sua travessia por uma flotilha de barcaças transportando o exército francês. Mas todos estes planos caíram por terra quando a 21 de Outubro de 1805, Nelson aniquilou o grosso das esquadras da França e da Espanha na celebérrima batalha de Trafalgar. Desiludido de poder invadir a Inglaterra, Napoleão iniciou uma séria de fulgurantes campanhas terrestres que lhe permitiram derrotar sucessivamente a Áustria, a Rússia e a Prússia. E a 21 de Novembro de 1806 em paises da Europa de comerciarem com ela, na convicção de que isso provocaria a ruína económica e a obrigaria a submeter-se à sua vontade. Encontrando-se na completa dependência dos Ingleses, Portugal tentou esquivar-se ao cumprimento das ordens de Napoleão, o que levou este a decidir-se pela invasão do nosso país, a primeira e uma série de decisões fatais que conduziram à sua perdição. Na realidade, ao invadir Portugal, Napoleão não só perdeu estupidamente uma renda de dezasseis milhões de libras como também colocou o riquissimo comércio do Brasil nas mãos da Inglaterra e pôs à disposição desta um teatro de operações de mais fácil acesso por mar do que por terra, o que lhe iria permitir batê-lo no seu próprio jogo. A 18 de Outubro de 1807, um exército francês de trinta mil homens e um exército espanhol de sessenta mil cruzaram as nossas fronteiras. Entrando em pânico o governo português, a 20 de Novembro, fechou os portos portugueses aos navios ingleses e a 8 de Novembro mandou prender todos os súbditos ingleses residentes em Portugal e confiscar-lhes os seus bens. Mostrou-se mesmo disposto a declarar guerra à Inglaterra! Mas nada disso foi suficiente para suspender a marcha dos exércitos invasores perante os quais as nossas tropas tinham ordens para não oferecerem resistência. Em desespero de causa a familia real, a corte, e o governo embarcaram na esquadra e a 29 de Novembro retiraram para o Brasil. Durante o período que decorre entre a assinatura do tratado de Badajoz em 1801 e a primeira invasão francesa em 1807, Portugal viveu um período de paz durante o qual se registaram muito poucas  acções navais. Em principios de 1806 a nossa esquadra do Estreito era constituída por duas Naus de guerra, duas Fragatas e dois Bergantins, sob o comando do Chefe de Divisão Luis da Motta Feo, força considerável para a missão de que estava incubida. Durante a Primavera e o Verão mantiveram-se todos aqueles navios em constante actividade, escoltando os nossos comboios e patrulhando a zona do estreito de Gibraltar e as costas do Algarve, da Andaluzia e de Marrocos. Em resultado da sua acção foram capturados dois corsários argelinos e bloqueados outros dois, um em São Lucar de Barrameda e o outro em Arzila, que acabaram por desarmar.