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quinta-feira, julho 31, 2014

Batalhas e Combates-1750 II

Golfo de Cambaia
(Fins de 1750)


A 30 de Julho de 1750 faleceu Dom João V, a 7 de Setembro teve lugar a aclamação de Dom José I que a 11 de Agosto já havia nomeado ministro dos negócios estrangeiros e da Guerra o Marquês de Pombal. Por esta altura a esquadra portuguesa da Índia era constituida por duas Naus de guerra, três Fragatas, um Patacho, uma Pala, quatro Gálias, dezoito Galvetas e uma ou duas dezenas de Manchuas e outras embarcações. No mar o nosso principal inimigo continuava a ser o Angriá, embora existissem outros corsários, Melondim, Bounsuló, Sanganes, etc, que embora de menor importância, não  deixavam de nos causar preocupações. Em razão da grande quantidade de corsários que infestavam a costa ocidental da Índia toda a nossa navegação tinha de ser feita em comboios escoltados. Logo que era entrado o «Verão» e chegavam as Naus mercantes do Reino com gente e dinheiro fresco começavam a ser organizados os comboios para o Norte e para o Sul que geralmente largavam de Goa durante os meses de Outubro ou Novembro, qualquer deles escoltados em regra por duas Naus de guerra ou Fragatas caodjuvadas por alguns navios de menor porte. Normalmente os mesmos comboios regressavam a Goa em Dezembro a fim de permitir que parte dos passageiros e carga que traziam embarcassem nas Naus de torna-viagem que largavam para o Reino por todo o mês de Janeiro. A 13 de Novembro de 1750 largou de Goa o comboio do Norte, escoltado pela Fragata "N. S. do Vencimento", não sabemos de quantas peças, pelo Patacho "São Miguel" com 28 peças e por quatro Manchuas. Provavelmente terá escalado Bombaim, Damão, Surrate e Diu, como era habitual. A 4 de Dezembro, depois de reforçado com uma Pala que estava em Diu, deixou esta cidade rumo a Damão. Poucas horas após a largada foi avistada, cosida com a terra, uma Pala que logo se suspeitou ser de algum corsário. Deu-lhe imediatamente caça o "São Miguel". Procurando escapar-se, a Pala acabou por encalhar numa restinga de areia, ficando provavelmente adornada e sem possibilidade de se servir da artilharia. Pretendendo apoderar-se dela, o Capitão do Patacho Bernardo Carneiro de Alcáçova, encrregou dessa tarefa o escaler armado em guerra. Mas quando este se aproximou da Pala foi recebido com intenso fogo de mosquete que matou um e feriu sete dos seus tripulantes, obrigando-o a bater em retirada. No dia seguinte, ao amanhecer, foi feita uma segunda tentativa, provavelmente com o escaler melhor guarnecido. Após um curto duelo de mosquetaria os tripulantes da Pala lançaram-se à água e fugiram a nado para terra sem mesmo se terem lembrado de lhe pôr fogo. Constataram então os portugueses que não era possivel pô-la novamente a flutuar, pelo que se limitaram a tirar-lhe a artilharia e outro material que tinha a bordo e a queimá-la. Entretanto, é de supor que o comboio tenha continuado a sua marcha sob a protecção da Fragata e dos navios ligeiros. A 26 de Novembro o "São Miguel" regressou a Diu, possivelmente para desembarcar os feridos e o material da Pala.


quarta-feira, julho 30, 2014

Batalhas e Combates-1752 I

Costa Portuguesa
(17 de Setembro de 1752)


Por esta época, para os Argelinos, ser pirata era um oficio como outro qualquer e a pirataria era considerada uma actividade económica tão respeitável como o comércio ou a agricultura. Logo que terminava o inverno o bei de Argel punha a leilão o exclusivo de ir piratear para determinadas zonas. Terminado aquele, tratavam os arremantantes de arranjar capitães e marinheiros experimentados e de aparelhar os seus navios. A maior parte das vezes os que vinham para a nossa costa eram Xavecos ou embarcações ainda mais pequenas, que tinham a vantagem de poderem navegar cosidas com a terra e assim escapar à vigilância das Naus e Fragatas que patrulhavam mais ao largo. As principais vitimas dos piratas eram as embarcações de pescadores que aqueles atacavam na mira de aprisionarem os seus tripulantes, que posteriormente vendiam como escravos no mercado de Argel. Quando não conseguiam apanhar a jeito embarcações de pescadores os piratas desembarcavam e guiados por renegados que geralmente traziam consigo metiam-se pela terra dentro e iam aprisionar os camponeses que andavam descuidados nas suas lides. Como é natural, a intensa actividade dos piratas barbarescos e mouriscos na nossa costa trazia as comunidades de pescadores e as populações ribeirinhas em permanente sobressalto e levava-as a tomar todas as medidas ao seu alcance para se protegerem. Um exemplo muito curioso desas medidas eram as Muletas do Seixal, embarcações que se dedicavam à pesca do arrasto entre os cabos da Roca e Espichel e que tinham o costado protegido por uma cinta de ferro aguçados, como as coleiras dos cães da serra da Estrela, para evitar serem abordadas pelos navios dos piratas. Sendo as armas de fogo caras e dificeis de obter, as embarcações de pesca e os pequenos navios de cabotagem levavam geralmente a bordo alguns chuços e uma certa quantidade de pedras, que aliás, desde os tempos antigos sempre foram uma das armas mais utilizadas nos combates à abordagem.



A 17 de Setembro de 1752 um Iate pertencente a João Pereira Ramos, que vinha de Cádis com destino ao Porto, foi atacado por um Xaveco de Salé que por quatro vezes o tentou abordar. Defenderam-se os tripulantes do Iate à pedrada, conseguindo de todas as vezes repelir o inimigo, que acabou por retirar. É de presumir que os mouros também não dispusessem de armas de fogo. Esclareça-se que o «Iate» era um pequeno navio de dois mastros, prolongados com varas (chamadas «de combate»), uma ou mais velas de proa e duas velas latinas quadrangulares envergando em caranguejas. Muito utilizado nos finais do século XIX para recreio, deu origem a que o termo «Iate» passasse a ser sinónimo de «barco de recreio».


terça-feira, julho 29, 2014

Hospital Real de Todos os Santos - XVI-XVIII

Hospital Real de Todos os Santos


O Hospital Real de Todos os Santos, foi chamado também 'Hospital Grande', 'Hospital de Todos os Santos', 'Hospital Grande de Todos os Santos', ou 'Hospital Real', mas tinha ficado conhecido verdadeiramente por Hospital dos Pobres. Era o hospital mais importante de Lisboa (Portugal) durante os séculos XVI, XVII e XVIII. Tinha sido construído entre 1492 e 1504.


O Rei Dom João II, com a autorização papal de Sisto IV, mandou construir um hospital central para a cidade de Lisboa, numa tentativa de concentrar cuidados de saúde, assistência e caridade, à semelhança dos hospitais construídos em Coimbra em 1508, Évora em 1515 e em Braga (1520).


Hospital encontrava-se na zona da actual Praça da Figueira, estando a fachada e entrada principal, voltados para o Rossio. O edifício de três pisos tinha uma fachada principal, de cerca de 100 metros, com arcadas, e a meio encontrava-se a Igreja do hospital, à qual se acedia por uma escadaria monumental.


A entrada da Igreja, pelo que se pode ver das gravuras da época, era um magnífico exemplar do estilo Manuelino, estilo típico do Reinado de Dom Manuel I.


O hospital tinha três pisos. No piso inferior encontravam-se quarenta camas para ambos os sexos e vários anexos do hospital, como o refeitório, forno, cozinha, secretaria e farmácia. As crianças abandonadas (os expostos) e os doentes mentais encontravam-se neste piso. Os funcionários do hospital encontravam-se alojados no piso térreo, enquanto que no primeiro andar encontravam-se as enfermarias (S. Vicente, Santa Clara e S. Cosme), que tinham acesso ao altar-mor da Igreja do hospital, permitindo aos doentes acompanhar os ritos religiosos. O hospital tinha também um vasto logradouro, claustros e um cemitério privativo.


Os doentes eram separados em função do sexo e da patologia. Havia um serviço de urgência e uma secção privada para os doentes nobres. Para além das enfermarias, existiam também a casa das boubas; uma divisão isolada para os doentes com sífilis, que nessa altura era considerada como um castigo para os pecadores; e a casa dos doidos, onde eram tratadas as pessoas com perturbações mentais.


O hospital foi concebido, inicialmente, para albergar 250 doentes. Já no século XVI o hospital tratava cerca de três mil doentes ao ano. Mesmo com os vários incêndios que deflagraram nos hospital, este foi sendo sucessivamente ampliado e em meados do século XVIII já existiam cerca de doze enfermarias.


O hospital era gerido por um provedor da confiança do Rei, até 1530, data em que a gerência passou para os padres da Congregação de S. João Evangelista. Só a partir de 1564 é que o estabelecimento passou para a responsabilidade da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.


O hospital foi destruído não só pelo terramoto de 1755, mas também pelo incêndio que se seguiu. Sobreviveram algumas partes do hospital, como se pode comprovar pelas escavações arqueológicas de 1960, na baixa. Os doentes do terramoto, devido à urgência surgida na catástrofe, em carácter provisório, foram alojados em tendas, no Rossio, palácios e conventos que não foram afectados pelo "tremor da terra". Entre eles, em destaque, muito perto de si, surge o Palácio dos Almadas. Houve um grande esforço para a reconstrução do hospital, ainda que a título provisório, para voltar a tratar dos doentes. O hospital, contudo, não foi reconstruído na sua totalidade, provavelmente por falta de verbas, numa altura de grande esforço financeiro. O hospital foi então transferido para o Colégio de Santo Antão, edifício confiscado a uma ordem jesuíta, em 1759. O novo hospital foi denominado de Hospital de São José, em honra ao Rei Dom José I.



Como não resistiu de Terramoto de 1755, que destruiu a Baixa de Lisboa, os seus serviços foram transferidos para o Hospital de São José.



Agora, no local do antigo hospital, existe a Praça da Figueira.

Batalhas e Combates-1752 II

Calicut
(11 de Dezembro de 1752)



A 19 de Abril de 1752 o já tão diminuido império português do Oriente sofria nova amputação, desta vez não pela acção dos inimigos mas pela força de um decreto do Marquês de Pombal que determinava a separação do Estado da Índia de Monçambique, Sofala, Rios de Sena e toda a restante costa compreendida entre o cabo Delgado e a baia de Lourenço Marques. tratava-se, aliás, de uma medida que desde há muito se impunha. Primeiro por Dom Manuel I, só fora posta em prática no reinado de Dom Sebastião, para logo ser ambandonada. Coube ao Marquês de Pombal, com a sua costumada energia e visão, impô-la definitivamente, o que muito contribuiu para o desenvolvimento económico e social de Monçambique e para evitar que viesse a ter a mesma sorte que Mombaça. Ao mesmo tempo libertava o Estado da Índia, a braços com as ameaças latentes dos Maratas, do Bounsuló e da Angriá, e com mal disfarçada inveja dos Ingleses, de mais uma preocupação. Em Novembro de 1752 largou de Goa o habitual comboio para o Sul sob escolta da Nau de guerra "N. S. da Misericórdia" ao comando do Capitão-de-mar-e-Guerra João de Melo Saraiva. A 7 de Dezembro chegou a Calicut, onde a "Misericórdia" depois de ter feito aguada, começou a embarcar madeira destinada ao arsenal de Goa. A 9 foram avistadas, vindas do norte, quatro Galvetas do Angriá que se aproximaram da Nau e, depois, de a terem reconhecido, se foram embora. A 11 da parte da tarde, navegando a favor da viração, apareceu a esquadra daquele na sua máxima força, três Gurabos, sete Palas e onze Galvetas. Compreendendo que o alvo de todo aquele aparato era o seu navio, Melo Saraiva mandou imediatamente suspender e fez-se ao mar, com a guarnição em postos de combate, rumo a WSW. Ao ser avisado da aproximação da esquadra do Angriá, o Samorim de Calicut dirigiu-se para a praia, para onde acorreu também a maior parte da população da cidade e dos estrangeiros que nela se encontravam a comerciar, ingleses, holandeses, franceses, dinamarqueses, alemães e italianos. Vendo a nossa Nau a afastar-se, lamentou-se o Samorim junto de um padre português que ali se encontrava que aquela fugisse deixando os numerosos navios mercantes que estavam no porto à mercê dos corsários. Como a dar-lhe resposta, nesse mesmo instante a "Misericórdia" virou de bordo e aproando a terra avançou resolutamente contra a esquadra do Angriá. Pouco depois tinha um temeroso duelo de artilharia entre a nau portuguesa e os vinte e um navios daquela. Felizmente, as condições de tempo eram-nos altamente favoráveis. Estando o vento a soprar com certa força e havendo vaga a "Misericórdia" podia manobrar à vontade, por forma a meter os inimigos dentro dos seus campos de tiro, e não corria o risco de ser abordada por eles. Além disso, os navios do Angriá, sendo muitos, embaraçavam-se uns aos outros e constituíam um alvo mais fácil para os nossos artilheiros. Acima de tudo o peso da bordada da Nau era muito superior à de qualquer dos navios inimigos. E mais uma vez se confirmou a regra de que no combate naval a qualidade é mais importante que a quatidade. Após cinco horas de fogo continuo a esquadra do Angriá, com muitos dos seus navios danificados, abandonou a luta e bateu em retirada para sul. Altaneiro a "Misericórdia" regrssou ao fundeadouro anterior. Em terra, o Samorim não se cansava de elogiar os Portugueses, o povo pasmava, os estrangeiros enfiados não sabiam que dizer. Era o nosso antigo prestígio que renascia por breves momentos na costa do Malabar!



segunda-feira, julho 28, 2014

Batalhas e Combates-1754

Berlengas
(Agosto de 1754?)


A 1 de Agosto de 1754 (?) largaram de Viana do Castelo com destino a Lisboa três Caravelas transportando passageiros e carga. Poucos dias depois, a norte das Berlengas, foram interceptadas por cinco navios, talvez xavecos, de piratas mouriscos. Principiaram estes por as atacar com artilharia e mosquetaria, mas como o vento estava a soprar com força, provavelmente do norte, e o mar era de vaga cavada, os seus tiros pouco efeito tiveram. Resolveram então os piratas lançar-se à abordagem. Porém, todas tentativas que fizeram nesse sentido falharam, não só por causa do estado do mar mas também à enérgica resistência oposta pelos tripulantes e passageiros das caravelas. Não obstante, ao fim de seis horas de duro combate, vendo estes vários companheiros mortos e muitos outros feridos, começaram a desanimar. Felizmente apareceu nessa altura, vinda de oeste, uma Nau de guerra que regressava de Pernambuco e que, ao ver a situação aflilitiva em que se encontravam as caravelas, não hesitou em ir em seu socorro. Começando a ser alvejados pela artilharia da Nau os piratas afastaram-se. mas ao fim da tarde o vento refrescou e a Nau foi arrastada para Sul, separando-se das caravelas. Voltaram à carga os piratas e durante toda a noite não deixaram de as massacrar com o fogo da sua artilharia e mosquetaria, que lhes provocou muitas avarias no aparelho e lhes matou e feriu muita gente. Com grande valentia os vianenses foram sempre ripostando, ao mesmo tempo que iam procurando aproximar-se do forte das Berlengas. Ao outro dia de manhã, tendo o vento caído e o mar abatido, pôde a Nau de Pernambuco voltar atrás e juntar-se novamente às caravelas. O fogo da sua artilharia, secundada pelo do forte, já então relativamente perto obrigou os piratas a retirar definitivamente. Nessa altura uma das caravelas bateu numa pedra e foi ao fundo sendo de presumir que tenha sido salva toda a gente que transportava. As outras duas é provável que tenham continuado a viagem para Lisboa na companhia da Nau de Pernambuco que a Providência tão oportunamente tinha enviado em seu auxilio.


domingo, julho 27, 2014

Batalhas e Combates-1762

Calicut
(Janeiro de 1762)


Em resultado da desagregação do império mogor, que se acelarou a partir de 1707, a Índia ficou transformada numa manta de retalhos. No Norte continuou, por muitos anos a luta entre Mogores e Maratas, sem que estes últimos tenham conseguido realizar a sua própria unidade politica. O Sul encontrava-se dividido em numerosos estados independentes que se guerreavam com frequência sem que qualquer deles, conseguisse alcançar a supremacia. Uma enorme diversidade de etnias, liguas e religiões contribuia para agravar ainda mais o estado caótico em que se achava mergulhado o subcontinente. Por outro lado, o seu litoral encontrava-se cravejado de estabelecimentos europeus. Na costa ocidental, Goa, Damão e Diu estavam nas mãos dos Portugueses, Bombaim nas dos Ingleses e Mahé nas dos Franceses, em Vinguria e Cochim havia feitorias holandesas e em Surrate de Ingleses, Holandeses e Portugueses. Na costa oriental os Franceses encontravam-se instalados em Pondichery, Karikal e Chandernagor, os Ingleses em Madras e Calcutá, os Holandeses em Paleacate e os Dinamarqueses em Tranquebar, os Portugueses tinham feitorias em São Tomé e Porto Novo. De entre todos os Europeus foram os franceses os primeiros que se aperceberam do estado de debilidade politica em que se encontrava a Índia e que procuraram tirar partido disso. Sob a direcção de Dupleix, a partir de 1740, utilizando sobretudo a intriga politica, começaram a penetrar no interior da Índia, conseguindo colocar sob o seu controlo efectivo vastas regiões. Alarmaram-se os Ingleses e começaram a reagir utilizando os mesmos processos. Durante a Guerra de Sucessão da Áustria (1744-1748) tiveram lugar importantes confrontos na costa do Coromandel entre uns e outros. De início foram os Franceses quem levou a melhor, por fim preponderou a supremacia naval dos Ingleses. Feita a paz, a luta entre ambos continuou por intermédio dos príncipes indianos que uns e outros apoiavam. Em 1751 os Ingleses, sob o comando de Robert Clive, alcançaram uma importante vitória sobre o rajá de Bengala tornando-se praticamente senhores da região, em 1754 Dupllix, é destituido do cargo de governador de Pondichery. Com a sua retirada para França desvaneceu-se o sonho de um império francês na Índia. Tenazmente Clive continua a alargar o dominio e a influência dos Ingleses. Sentindo-se cada vez mais forte e mais apoiada pelo governo britânico, a Companhia Inglesa das Índias, em 1750, decidiu, de uma vez por todas acabar com o flangelo do Tulagi Angriá. Em Abril de 1751 uma esquadra inglesa, sob o comando do comodoro William James, atacou resolutamente Sverndruga, que capitulou ao fim de dois dias de bombardeamento. Os seus fortes foram desmantelados e todos os navios que estavam no porto foram queimados. Em Fevereiro de 1756 foi a vez de Vjayadruga. Atacada por terra e por mar por ingleses e Maratas viu os seus fortes igualmente arrasados e a esquadra reduzida a cinzas. O Tulagi Angriá para não ser capturado pelos Ingleses, entregou-se aos Maratas, que o conservaram preso até ao fim dos seus dias.



Desta forma se extinguiu uma famosa familia de corsários que durante mais de meio século pôs em cheque o dominio do mar que os Europeus vinham exercendo na costa ocidental da Índia. A partir de então a navegação naquela costa passou a fazer-se com relativa segurança, embora sujeita a ataques esporádicos de corsários maratas e de outras nações mas de menor poder que os Angriás. Durante os dez anos que decorrem entre 1752 e 1762, que saibamos, não foi atacado qualquer navio português importante na costa ocidental da Índia. Pelo contrário, em terra continuaram as lutas contra os Bounsulós, os Maratas e o rei de Sunda, entrecortadas por acordos de paz de fraca consistência. Durante o governo do conde de Alva (1754-1756), o único vice-rei da Índia que morreu em combate, perderam-se praticamente todas as «Novas Conquistas». Pondá e os distritos do Sul foram recuperados em 1758, Alorna e os distritos do Norte só viriam a sê-lo, a titulo definitivo em 1778. Virá a propósito dizer que em 1760 a cidade de Goa foi abandonada, sendo a capital do Estado da Índia transferida para Pangim. Desde então o termo «Goa» passou a designar o conjunto do território português ligado àquela cidade e não a cidade propriamente dita. O abandono de Goa deveu-se ao facto de os seus solos serem muito permeáveis, do que resultava a permanente inquinação da água dos poços e as consequentes epidemias de febre tifóide e outras doenças infecto-contagiosas que dizimavam a população. Já em 1684 havia sido decidido transferir a capital para Mormugão onde se chegaram a abrir algumas ruas e a erguer alguns edificios. Mas, dois anos depois, o projecto fora posto de parte por se ter chegado à conclusão que era demasiadamente dispendioso. A 2 de Janeiro de 1762 largou de Goa, sob o comando do Capitão-de-mar-e-guerra José Plácido de Matos, uma esquadra constituida pela Nau de guerra "N. S. das Necessidades" de 70 peças de artilharia, e pela Fragata "N. S. do Monte Alegre", de 40 peças, com a missão de escoltar a Nau de torna-viagem até a pôr fora de vista da costa e em seguida ir ao encontro do navio vindo de Macau, que por essa altura, já devia ter chegado ao cabo Comorim. Terminada sem incidentes a primeira parte da missão, Plácido de Matos foi navegando para sul à vista da costa até que ao chegar a Calicut encontrou là fundeado o navio de Macau juntamente com um outro navio português vindo possivelmente, da costa do Coromandel. Tinha a nossa esquadra acabado de iniciar com ambos a viagem de regresso a Goa quando foi acometida por uma esquadra marata composta por seis Palas e mais de vinte galvetas. Nesta altura o Estado Português da Índia achava-se em paz com os Maratas. Mas o Almirante da esquadra marata, que tinha arrematado por bom dinheiro o direito a fazer o corso na costa ocidental da Índia, deve ter pensado que «amigos, amigos ... negócios à parte!» E durante três dias e três noites conservou-se no rasto dos navios portugueses, atacando-os por diversas vezes com artilharia, na esperança de fazer desgarrar algum deles para depois o tomar à abordagem. Mas nada conseguiu. De todas as vezes que as suas palas ousaram aproximar-se da nossa esquadra foram duramente castigadas pela poderosa artilharia da "Necessidades" e da "Monte Alegre", sofrendo estragos e baixas. Ao findar a terceira noite de combate a esquadra marata abandonou a luta e desapareceu rumo ao Sul. A nossa esquadra, com os dois navios mercantes que levava à sua guarda, continuou a navegar para Norte, a caminho de Goa, onde chegou sem mais novidade. Para premiar Plácido de Matos pela vitória que alcançara o vice-rei concedeu-lhe um foro de fidalgo, que mais tarde, foi confirmado pelo Rei.




sábado, julho 26, 2014

Batalhas e Combates-1763 I

Costa Índia
(3 de Janeiro de 1763)


A 2 de Janeiro de 1763, largou de Goa com destino a Lisboa a fragata " N. S. da Caridade", de 44 peças de artilharia e com 240 homens de guarnição, de que era comandante o Capitão-de-mar-e-guerra Manuel Caetano Gomes da Silva. Transportava o navio sessenta passageiros e, como de costume, muito carga e bagagem que atulhavam a bateria e os pavimentos superiores. Na companhia da fragata largaram também dois Patachos Mercantes, qualquer deles de 20 peças e 80 homens de tripulação destinados a Moçambique. já referimos por esta altura a ameaça que representavam os temiveis corsários da familia Angriá havia-se desvanecido, mas nem por isso a navegação na costa ocidental da Índia se tornara mais segura. Alguns capitães dos antigos Corsários, aproveitando-se dos navios. das bases e das tripulações por eles deixados, continuavam a operar por conta própria à frente de poderosas esquadras com o beneplácito do rei dos maratas a quem pagavam elevadas somas. Consciente disso, Gomes da Silva preparou cuidadosamente o seu navio para a eventualidade de vir a ser atacado pelos maratas, levando prontas a fazer fogo duas peças a vante, duas a ré e duas a cada bordo e os caixotes e cestos que empachavam as restantes arrumados por forma a poderem ser rapidamente deitadas ao mar se o navio tivesse de entrar em combate. Tais precauções , como a seguir se verá não foram inúteis. Ao amanhecer do dia imediato ao da largada, já com a costa a mergulhar no horizonte, foi avistada pela amura de EB uma esquadra marata que ali se encontrava há vários dias à espera dos nossos navios. constituida por seis Palas, qualquer delas de 24 peças e 155 homens a bordo, e por treze Galvetas, cada uma armada com 7 peças e guarnecida com 60 homens. De pronto Gomes da Silva mandou aprontar para combate e largar todo pano a fim de ganhar tempo necessário para deitar parte da carga ao mar e pôr a artilharia a lestes. Porém, como a fragata ia muito carregada e o vento era fraco foi rapidamente alcançada pelos maratas que se aproximaram dela fazendo grande algazarra com o fito de amedrontarem a sua guarnição. Sereno, Gomes da Silva aguardou que os navios inimigos chegassem ao alcance de tiro para mandar ferrar as velas maiores a fim de evitar que fossem rotas ou incendiadas. Depois, guinando ora para um bordo ora para o outro, começou a disparar furiosamente os seus canhões, carregados com metralha, sobre os navios maratas. Talvez por pensarem que os dois Patachos Mercantes transportavam carga pobre aqueles não fizeram caso deles e concentraram todas as suas forças no ataque à fragata. E na ânsia de se chegarem a ela deixaram todo pano em cima. o resultado foi que as duas Palas que vinham à frente atingidas em cheio pelo fogo da "Caridade", ficaram logo imobilizadas, com as velas feitas em tiras e a maior parte dos cabos de manobra cortados. Não obstante, as outras continuaram a avançar destemidamente e rodearam a fragata, colocando-se uma pelo seu través de BB, outra pelo seu través de EB e as restantes duas por ambas as alhetas. Poucos instantes decorridos, as Palas que estavam a BB e EB da "Caridade" aferraram-na e meteram-lhe dentro cerca de trinta homens



Ao mesmo tempo duas galvetas abordaram-na pela popa e lançaram-lhe dentro outros trinta. Momentos antes da abordagem Gomes da Silva tinha mandado largar o pano todo a fim de ganhar andamento e assim impedir que outros navios pudessem vir reforçar os que tinham aferrado. Seguidamente atirou-se de espada em punho contra os assaltantes, seguido por um punhado de soldados, e em menos de um quarto de hora matou-os a todos ou obrigou-os a saltar para a água. Depois, manobrando com grande pericia por forma a meter os navios dos maratas, um após outro. dentro dos campos de tiro das suas baterias, continuou a fustigá-los com um fogo vivissimo de artilharia e mosquetaria. Após duas horas de combate, encontrando-se a maior parte daqueles muito destroçados e cheios de mortos e feridos o seu Almirante viu-se forçado a dar a ordem para pôr termo à luta e bater em retirada. Mas a notável vitória alcançada pela "Caridade" não ficou barata. Trinta dos seus tripulantes foram mortos e a maior parte dos restantes ficaram feridos. O navio ficou com o aparelho, a mastreação e as obras mortas em misero estado. Viu-se por isso Gomes da Silva forçado a arribar à foz do Mandovi para desembarcar os mortos e os feridos graves e para reparar as avarias. Quanto aos dois Patachos Nercantes, ao que parece terão aproveitado a confusão do combate para seguirem a salvo para Moçambique. Graças à diligência com que Gomes da Silva dirigiu as reparações do seu navio pôde ainda tornar a fazer-se ao mar em tempo de aproveitar a monção, o que lhe permitiu chegar a Lisboa no verão desse ano. Como seria de esperar, a forma como se havia conduzido no combate com os maratas mereceu os maiores encómios da parte do Rei, do Marquês de Pombal e de toda a corte. Como prémio foi-lhe concedido um foro de fidalgo. Os restantes membros da guarnição da "Caridade" foram recompensados com uma gratificação equivalente a dois meses de soldo. 

sexta-feira, julho 25, 2014

Batalhas e Combates-1763 II

Costa do Norte
(Setembro? de 1763)



Povavelmente em Setembro de 1763 largou de Goa o comboio do Norte escoltado por uma esquadra de que era comandante o Capitão-de-mar-e-guerra Dom Lopo José de Almeida, constituida pelas Naus de Guerra "N. S. do Vencimento", de 58 peças de artilharia e a "N. S. da Conceição" de 70 peças de artilharia, pela Pala "São Pedro" de 26 peças de artilharia e por duas Manchuas. no trajecto de Bombaim para Damão, sendo noite as duas Naus talvez por falta de vento, atrasaram-se em relação ao comboio e separaram-se uma da outra, continuando aquele em frente , escoltado somente pela Pala e as Manchuas. Aproveitando-se dessa circunstância uma esquadra marata composta por quatro Palas e dez Galvetas, que o devia estar a seguir à distância, lançou-se imediatamente sobre ele. Seguiu-se um combate confuso, como todos os combates nocturnos em que a "São Pedro" e as duas Manchuas, à custa de prodigios de valor conseguiram evitar que qualquer dos navios mercantes que levavam à sua guarda fosse tomado. Logo que se começou a ouvir o troar dos canhões, as duas Naus que tinham ficado para trás, guiando-se por ele, fizeram todo o possivel para se aproximarem do comboio. Mas ao que parece só a "Vencimento" o terá conseguido fazer em tempo Útil. De qualquer modo, isso bastou. Logo que aquela chegou ao alcance de tiro r abriu fogo, provavelmente já com dia claro, os maratas puseram termo à luta e bateram em retirada.

quinta-feira, julho 24, 2014

Batalhas e Combates-1763 III

Melondim
(12 de Novembro de 1763)


Melondim era nesta época um pequeno reino situado no norte de Goa que se resumia à cidade do mesmo nome e às terras circunvizinhas. Tal como acontecia com outras cidades-estados da costa índiana, uma das suas actividades económicas mais importante era o corso. Dai que fossem frequentes os conflitos entre o seu rei e os portugueses. Nos primeiros dias de Novembro de 1763 soube-se em Goa que corsários com base em Melodim tinham capturado o navio de Moçambique, Imediatamente o Vice-Rei ordenou que uma esquadra constituida por duas Naus, uma Pala, qinze navios menores armados e mais de vinte embarcações armadas se dirigisse àqueta cidade sob o comando do Capitão de mar e guerra José Placido de Matos Saraiva e exigisse do rei a imediata restituição do navio com toda a fazenda que transportava e o pagamento de uma indemnização destinada a cobrir os gastos feitos com a esquadra. Se o rei de Molondim não estivesse pelos ajustes, Matos Saraiva em represália, deveria incendiar todos os navios que se encontrasssem no porto e assolar-lhe os arrabaldes. Tendo deixado a foz do Mandovi a 8 de Novembro a esquadra portuguesa fundeou diante de Melondim a 10, ao fim da tarde. O dia seguinte foi passado em negociações com o rei, procurando induzi-lo a aceitar as nossas exigências. Nada se tendo conseguido. a 12 ao romper do dia teve lugar o desembarque que deparou com fraca resistência. Enquanto os navios de alto bordo bombardeavam intensamente a fortaleza da cidade situada numa ilha, os navios mais pequenos queimavam cerca de cinquenta navios corsários e mercantes que estavam no porto, bem como um grande numero de embarcações de pesca. A mesma sorte tiveram doze aldeias circunvizinhas. Pelas cinco da tarde as tropas portuguesas reembarcaram, dando por terminada a acção de represália. Não nos diz o cronista se o navio de Monçambique, foi ou não recuperado, mas é de presumir que sim, uma vez que os portugueses, estiveram durante um dia inteiro senhores do porto de Melondim. A operação custou-nos dezanove mortos, e outros tantos feridos. A 16 de Novembro, a esquadra estava de regresso ao Mandovi. 

quarta-feira, julho 23, 2014

Batalhas e Combates-1764

Costa do Malabar
(Principios de 1764)


Em finais de Dezembro de 1763 passou ao largo de Goa uma esquadra marata levando consigo um Nau holandesa que poucos dias antes havia capturado junto à ilha Angediva. Ao saber disso o Vice-Rei mandou em sua perseguição a esquadra de Dom Lopo José de Almeida que no início do «Verão» fizera a escolta da cáfila do Norte e que, conforme já referimos era composta por duas Naus, uma Pala, e duas Manchuas. Poucas horas depois de os nossos navios terem deixado o Mandovi foram avistados os maratas. Mas o vento nessa altura caiu Dom Lopo hesitou sobre o que fazer  e aqueles acabaram por se escapar, regressando a nossa esquadra à base sem nada ter conseguido. A 6  de Janeiro de 1764 Dom Lopo voltou novamente a fazer-se ao mar, desta vez, ao que parece, para ir esperar nas proximidades do cabo Comorim os navios vindos de Macau, e da costa do Coromandel já no regresso, à passagem por Cochim soube que a esquadra marata tinha tomado ao largo de Calicut uma Nau dinamarquesa, com a qual estava-se dirigindo prara norte. Desejoso de se ressarcir do insucesso anterior lançou-se de imediato no seu encalço. Possivelmente, terá ordenado à Nau "Necessidades" com 70 peças de artilharia, e à Pala "São Pedro" de 26 peças, para se adiantarem e tentarem estabelecer contacto com os maratas enquanto ele, com a Nau "Vencimento" de 58 peças de artilharia e as Manchuas, assegurava a escolta dos navios mercantes que fora buscar.



Fazendo força de vela, ou seja, largando a maior quantidade de pano compativel com a intensidade do vento a "Necessidade" e a "São Pedro" dois dias depois ao fim da tarde, avistaram a esquadra marata composta por seis Palas e onze Galvetas, levando consigo a Nau dinamarquesa que provavelmente por ter ficado muito avariado durante a captura ia a reboque de uma Manchua. Cerca da meia-noite a "São Pedro", que se adiantara consideravelmente em relação à "Necessidades", avistou algumas das Palas maratas a curta distância, sobre as quais abriu fogo. E durante resto da noite prosseguiu o combate constituido por fugazes duelos de artilharia à queima-roupa em que os alvos ao fim de poucos minutos desapareciam engolidos pelas pelas trevas. Não obstante, ficaram os portugueses com a sensação de terem conseguido avariar gravemente várias Palas inimigas sem que por seu lado tenham sofrido danos ou baixas de monta. Pelas três ou quatro da manhã foram avistados pela proa os vultos de dois navios grandes. Colocando-se a berlavento, a "São Pedro" encetou com eles novo duelo de artilharia na suposição de que se tratava de navioas maratas Porém ao romper o dia Dom Cristovão Cárcomo Lobo, que era o capitão da nossa Pala, constantou com supresa que afinal esses dois navios eram ingleses! Irritadissimos por terem sido atacados, os Capitães destes, logo que se aperceberam de que o autor da agressão de que tinham sido vítimas era uma pequena pala portuguesa não quiseram perder tempo com explicações e lançaram-se sobre ele com a intenção de a aferrarem. Manobrando habilmente, Dom Cristovão conservou-se a berlavento, sustentando mais um duelo de artilharia, que durou duas horas. Por fim os ingleses, vendo que não tinham a menor possibilidade de aferrar a "São Pedro" e que o combate a tiro de canhão a nada conduzia, puseram termo à luta e continuaram a viagem para norte. Durante a noite, sem o saber, a nossa Pala tinha ultrapassado a esquadra marata, que se encontrava agora a curta distância pela popa, dividida em dois grupos, o primeiro junto a terra. três Palas, o segundo mais ao mar , as onze Galvetas rodeando a Nau dinamarquesa. Ainda mais para sul avistava-se a "Necessidades". Contando os navios inimigos, terão os tripulantes da "São Pedro", ficado convencidos de terem afundado três das Palas maratas durante os combates nocturnos que tinham travado com elas. No entanto pode ter acontecido que alguma ou algumas Palas em falta estivessem muito perto de terra e não se distinguissem. Da parte da tarde, vinda a viração, Dom Cristovão, sem esperar pela "Necessidades" que se encontrava muito sotaventeada, dirigiu-se para as Galvetas maratas. Estando o vento fresco e havendo ondulação, não se atreveram estas a travar combate com a "São Pedro" e, abandonando a presa, foram reunir-se às suas Palas que encontrando-se também a sotavento da nossa, nada puderam fazer. Pouco depois, levando em sua companhia a Nau dinamarquesa que entretanto deverá ter remediado as avarias que sofrera, Dom Cristóvão juntou-se à "Necessidades". Durante o resto do dia e a noite seguinte os navios maratas conservaram-se na proximidade dos nossos à espera de uma oportunidade para se reapossarem da Nau que tinham sido obrigados a abandonar. Porém ao outro dia de manhã, surgiu, vinda do sul a "Vencimento" com os navios mercantes que trazia à sua guarda. Perdendo por completo a esperança de poderem vir alcançar os seus designios, os maratas desapareceram. Á chegada a Goa souberam os portugueses que os dois navios ingleses com os quais a "São Pedro" havia combatido, tinham estado naquela cidade e apresentado ao Vice-Rei um enérgico protesto, ao qual este como seria de esperar, não daria provimento.

terça-feira, julho 22, 2014

Batalhas e Combates-1765

Costa do Canará
(Fevereiro de 1765?)


A 5 de Fevereiro de 1765 (?) largaram de Goa a Nau de torna-viagem "N. S. da Caridade e dois outros navios destinados a Moçambique escoltados pelas fragatas "N. S. da Arrábida", de 50 peças de artilharia e da "N. S. da Oliveira" de 40 peças. Devendo a "Caridade" ir primeiro a Cochim antes de seguir para o Reino, é de supor que se tenha dirigido para sul, navegando ao longo da costa, enquanto as fragatas se afastavam para o mar com os dois navios destinados a Moçambique até os porem fora da vista de terra. Encontrava-se a Nau por alturas de Baticala quando apareceram seis palas e treze galvetas maratas que a começaram a seguir e durante um dia e uma noite e mais uma manhã a atacaram por diversas vezes sem no entanto lhe terem conseguido causar danos ou baixas significativas. Provavelmente todos os ataques terão sido lançados pelo sector da popa para evitar o fogo da artilharia principal da "Caridade". Não obstante, é de presumir que os canhões de ré desta tenham acertado por diversas vezes nos navios maratas. O certo é que a meio do segundo dia de combate estes acharam por bem retirar 


segunda-feira, julho 21, 2014

Batalhas e Combates-1772

Costa da Índia
 (Março de 1772)



Em meados de Fevereiro de 1772 passou à vista de Goa, navegando para sul, uma poderosa Esquadra Marata constituida por três Gurabos, oito Palas e vinte Galvetas. Receando pela sorte do navio ou navios que por essa época costumavam vir de Macau o Governador Dom João José de Melo ordenou que segui-se imediatamente para Sul a Fragata "São Francisco Xavier" de 36 peças, de que era comandante o Capitão-de-mar-e-guerra Luis de Melo, ao qual prometeu que enviaria em seu auxilio a Fragata "Nossa Senhora da Penha de França" logo que regressasse do Norte, bem como a Pala "São Pedro" e o Patacho "São Miguel" logo terminassem a escolta de saída à Nau do Reino. A 28 de Fevereiro largou a "São Francisco Xavier". Era intenção do seu comandante ir a Calicut esperar pelos navios de Macau e aproveitar para carregar madeira destinada a Goa. Nesse ano de 1772 chegou apenas um navio de Macau pertencente ao comerciante Joaquim Modesto de Brito, que vinha embarcado nele. Possivelmente em principios de Fevereiro terá chegado a Calicut. Vendo o tempo a passar sem que aparecesse qualquer navio de guerra português para o comboiar  e sabendo que a costa andava infestada de corsários, Modesto de Brito pediu ao comandante de uma fragata inglesa que estava no porto e que ia para o Norte que o escoltasse até Goa. Anuio aquele a troco do pagamento de cem rupias, ficando assente que o Navio de Macau arvoraria a bandeira inglesa durante o trajecto. E lá vieram os dois navegando de conserva até Mangalor. Nessa altura surgiu a esquadra Marata que sem se impotar com a Fragata inglesa  nem atender ao facto de o navio de Modesto de Brito ter içado a bandeira inglesa, se pôs às bombardas a ele. Receando irritar os Maratas e temendo meter-se em sarilhos o comandante da Fragata para tentar salvar a façe, limitu-se a disparar alguns tiros de pólvora seca de que os maratas não fizeram caso e retomando a rota para Norte deixando Modesto de Brito à sua sorte. Momentos depois algumas das suas Galvetas aferravam o nosso navio e os seus tripulantes lançavam-se à abordagem. Defenderam-se os portugueses animosamente sobretudo um tal Domingos de Oliveira, que matou vários dos assaltantes antes de ser morto por eles. Mas a refrega foi curta. O navio foi tomado e os maratas, dando-se por satisfeitos com tão rica presa, iniciaram a viagem de regresso à base. A 17 de Março de 1772 largou de Goa aos portos da costa Canará uma cáfila constituida por um Navio Mercante, de que era Capitão Luis José e vários Parangues, sob a escolta da Fragata "Santa Ana" de 40 peças e de duas Chalupas. O comandante da Fragata era o Captitão-de-mar-e-guerra Francisco da Costa Ataíde. Dois dias mais tarde, encontrando-se o comboio a navegar com o terral ao largo da ilha Angediva, foi avistada pela proa a armada marata que vinha em sentido oposto, trazendo consigo o Navio de Macau que capturara em Mengalor e outras presas que fizera no Sul. É provável que por esta altura o estado Português da Índia estivesse oficialmente em paz com os Maratas, o que terá levado Costa de Ataíde a pensar que nada tinha a recear. Mas as suas previsões sairam errados. Os navios maratas aproximaram-se rapidamente do comboio e em jeito de provocação meteram-se pelo meio dele. É óbvio que por essa altura já Costa de Ataíde se devia ter apercebido de que os maratas tinham apresado o navio de Macau e que estavam procurando um protexto qualquer para atacar o comboio. mas perante a superioridade numérica do adversário hesitou em iniciar as hostilidades e continuou em frente, fazendo de conta que não dera por nada. Animados pela passividade dos portugueses, os maratas depois de se terem cruzado com o comboio, viraram de bordo e começaram a atacá-lo pela rectaguarda.



Primeiro apoderaram-se da Chalupa que ia mais a ré; depois capturaram todos os parangues; por fim atacaram e tomaram a outra Chalupa e o navio de Luis José que pouca resistência ofereceram. Logo que começou o ataque ao comboio, Costa de Ataíde que ia à frente , virou de bordo com a "Santa Ana" e foi em seu socorro. Mas o vento devia ser fraco; o que atrasou a manobra da nossa Fragata e quando esta entrou e acção já todos os navios mercantes e as duas chalupas haviam sido tomadas. Viu-se então a "Santa Ana" rodeada pelos gurabos e palas dos maratas, com os quais travou um furioso duelo de artilharia que durou várias horas. Mas ao que parece nem o treino nem a disciplina da sua guarnição eram das melhores. Reinava a confusão na coberta e o carregamento e disparo das peças era feito de uma forma atabalhoada. Daí resultou que a dada altura, teve lugar uma explosão de pólvora que queimou vários oficiais e soldados e deu origem a um incêndio. entrando em pânico um certo número de soldados lançaram-se ao mar sendo uns tantos recolhidos pelos navios maratas e outros respescados pelos companheiros que tinham ficado a bordo. o incêndio foi debelado e o combate prosseguiu. Porém a breve trecho teve lugar uma segunda explosão de pólvora que deu origem a novo incêndio e a mais uns tantos mortos e feridos graves. Entre estes últimos encontrava-se o comandante, que teve de ser substituido pelo Capitáo-tenente josé francisco Marques Giraldes. Mais uma vez os marinheiros conseguiram dominar as chamas que lavravam na coberta e a "Santa Ana" pôde continuar a descarregar os seus canhões e os seus mosquetes sobre os navios maratas. Mas o defeituoso manejo da artilharia persistia. Pela terceira vez ocorreu uma explosão de pólvora que originou novo incêndio, mais mortes e  mais feridos. Amedrontados, alguns soldados procuraram refúgio no porão com o que o fogo da "Santa Ana" esmoreceu. Apercebendo-se da dificil situação em que se encontrava a Fragata os maratas decidiram lançar-se à abordagem mas que das três vezes que o tentaram foram repelidos com perdas. por fim vendo-se com dez homens à sua volta em estado de combater Marques Giraldes rendeu-se. Dando largas à sua satisfação  os maratas guarneceram a Fragata com gente sua transferiram os prisioneiros portugueses para os seus navios e retomaram a sua viagem para Norte. A 23 de Março chegou a Pangim uma embarcação vinda do Sul que informou que o navio de Macau havia sido tomado pela equadra marata e que esta em breve passaria a largo de Goa. Nessa altura encontrava-se fundeada na barra do Mandoi a Fragata "Nossa Senhora da Penha de França", de 44 peças, acabado de chegar do Norte. O Governador nomeou seu comandante o Capitão-de-mar-e-guerra José Plácido de Matos Saraiva e ordenou-lhe que se fizesse imediatamente ao mar a fim de tentar recuperar o navio de Macau. No dia seguinte, estando a Fragata a últimar o seu aprontamento, chegou outra embarcação com a notícia  de que a esquadra marata se havia tomado da Cáfila do Canará e estava a combater com a "Santa Ana" junto à ilha de Angediva. Foi então decidido que a "Penha de França" seguisse para lá levando munições e soldados para aquela. Pelas quatro da tarde do dia 25, indo Matos Saraiva a navegar para Sul com a vibração de NW, ao largo de Salcete, voi avistada muito ao longe pela amura de EB, a esquadra marata a navegar para Norte.



Ao nascer do Sol de 26 os tripulantes da "Penha de França", agora a navegar com o terreal, voltaram a avistar os navios maratas divididos em dois grupos; relativamente perto da Fragata encontravam-se algumas palas e as galvetas com o navio de Macau, o Navio de Luis José, as duas chalupas os parengues e outros pequenos navios de mercadores índianos que tambem haviam sido apresados; bastante mais ao mar e portanto pelas restantes Palas que possivelmente, teriam poucas munições e estariam com o aparelho em mau estado em resultado do combate que tinham travado com ela. Essa talvez, a razão porque os navios maratas iam a navegar separados uns dos outros. Logo que chegou junto do grupo que estava mais perto de si. Matos Saraiva mandou içar a bandeira vermelha, convidando o inimigo para o combate, e logo a seguir abriu fogo. Após três horas de vivo duelo de artilharia as palas e as galvetas maratas abandonaram as presas que tinham consigo e bateram em retirada para junto dos navios que estavam mais a sotavento e que por esse facto, não tinham podido acorrer em seu auxilio. Enquanto decorria o combate do "Penha de França" e as Palas e Galvetas maratas, surgiu, vinda do Sul a Fragata "São Francisco Xavier", que como já dissemos atrás tinha sido encarregada de ir a Calicut buscar o navio de Macau. Informada de que este havia sido apresado pela esquadra marata, apressara-se a voltar para trás para o tentar libertar. Aproximado-se a todo o pano do local do combate, a "São Francisco Xavier", ainda teve oportunidade de disparar de longe algumas salvas sobre os navios maratas. Aliás é de supor que a sua chegada tenha sido o factor decisivo que levou aqueles a abandonar a luta. Recuperadas todas as presas que os maratas nos haviam feito à exepção da "Santa Ana", os comandantes das duas Fragatas reuniram-se em conselho de guerra, tendo decidido regressar à foz do rio Mandovi a fim de lá deixar o navio de Macau e permitir que a "Penha de França" remediasse as importantes avarias que sofrera no aparelho e se reabastecesse de munições. As Chalupas. o navio de Luis Jusé, os pagueres e as embarcações indianas recolheram ao rio do Sal. É provável que no dia seguinte as duas fragatas acompanhadas pela Pala "São Pedro" e pelo Patacho "São Miguel", se tenham voltado a fazer ao mar a fim de tentarem recuperar também a "Santa Ana". mas não o conseguiram. Constatando que a armada ínimiga já havia entrado em Vijayadruga (Griem), que era uma das antigas bases dos Angriás, regressaram a Goa. Em Abril de 1776 o Vice-Rei por meio de negoçiações com os Maratas viria a conseguir que estes nos restituissem a "Santa Ana", que se consevou ao derviço aé 1804.


domingo, julho 20, 2014

Batalhas e Combates-1774

Costa do Norte
(Fevereiro de 1774)

A 6 de Fevereiro de 1774 largou de Goa a Fragata "Nossa Senhora da Conceição" de 40 peças de artilharia sob o comando do Capitão-de-mar-e-guerra Francisco Xavier Henriques. A sua missão consistia em comboiar uma Nau Mercante destinada, provavelmente a Bombaim, Damão, Surrate (?) e Diu. Ao que parece a Fragata, após ter deixado a Nau em Bombaim ou Damão, terá iniciado a viagem de regresso a Goa. Á passagem por Vijayadruga (Griem) foi atacada pela esquadra marata. Deste combate não se conhecem quaisquer pormenores, sendo de presumir que tenha sido constituido por um prolongado duelo de artilharia que terá deixado a nossa Fragata com avarias no aparelho e alguns navios maratas bastante mal tratados. Quando se soube em Goa por uma embarcação que vinha do Norte que a "Conceição", estava a ser atacada pela esquadra marata ao largo de Vijayadruga, foram logo enviados em seu auxilio a Fragata "São Francisco Xavier", de 36 peças, e o Patacho "São Miguel" de 26 peças. No entanto, quando estes a avistaram, já, ela tendo-se desenvencilhado do inimigo, pelos seus próprios meios, vinha a caminho de Goa.


sábado, julho 19, 2014

Batalhas e Combates-1776

Rio Grande do Sul
(19 de Fevereiro a 2 de Abril 1776)

A paz de "Aix-la Chapele" em 1748 que pusera termo à "Guerra de Sucesão da Áustria", tinha deixado em suspenso todas as questões que dividiam as grandes potências europeias. Dai que os pequenos conflitos se fossem sucedendo e as tensões aumentando, até que em 1756, deflagrou uma nova guerra generalizada que que ficou conhecida pela "Guerra dos Sete Anos".



De um lado encontravan-se a Inglaterra e a Prúsia, do outro lado, A França, a Áustria e a Rússia. de ìnicio a Espanha e Portugal conservaram-se neutros. Na realidade a "Guerra dos Sete Anos" era a sobreposição de duas guerras distintas; por um lado a guerra entre a Prúsia e a coligação formada pela França, a Áustria e a Rússia na qual estava em jogo o dominio da Europa Central; por outro lado, a guerra entre a Inglaterra e a França em que ambas disputavam o dominio dos mares e o controlo do comércio Ultramarino.



Em 1759 o Almirante inglês Boscawen atacou em Lagos Quatro Naus de guerra francesas que ali se tinham, refugiado, incendiando duas e tomando as outras duas, sem o menor respeito pela soberania portuguesa. Protestaram energicamente os franceses, o que levou o Marquês de Pombal a fazer o mesmo junto do governo inglês. Este, escudado na força do poder naval que dispunha, acedeu a enviar um embaixador a Lisboa e apresentar desculpas ao Rei Português, mas recousou-se  terminantemente a entregar os navios franceses ilegalmente apeendidos e muito menos a pagar qualquer indemnização pelos queimados. Ainda em 1759 a esquadra inglesa, sob o comando do Almirante Hawke destruiu o grosso da esquadra francesa na baía de Quiberon, o que deixou à merçê dos ingleses as possessões ultramarinas francesas. Já por essa altura se tinham aqueles apoderado de todos os estabelecimentos franceses na Índia. No ano seguinte completaram a conquista do Canadá. Encontrando-se num beco sem saida em relação à guerra com a Inglaterra a França procurou atrair a Espanha para o seu campo, o que veio a conseguir em 1762. Se isso tivesse tido lugar logo no inicio da guerra poderiam as esquadras francesa e espanhola juntas ter conseguido enfrentar com sucesso a inglesa. Mas agora que a esquadra francesa havia sido posta fora de combate a beligerância da espanha pouco ou nada podia ajudar a França. Logo que os Franceses e os Espanhóis se aliaram, através do chamado «Pacto de Famlia», intimaram os Portugueses a juntarem-se-lhes.



Sensatamente o Marquês de Pombal recusou, uma vez que entrar numa guerra contra a Inglaterra seria um autêntico suicidio para Portugal já que ficaria com as comunicações com o Brasil cortadas. Por essa altura o exército português encontrava-se num estado lastimoso. Pombal tratou à pressa de o reorganizar contratando para o efeito o conceituado General alemão, o Conde de Lippe.


Graças à acção deste e ao envio de um corpo de tropas inglesas para Portugal, foi possivel aos Portugueses deter nas fronteiras a invasão espanhola que teve inicio a 5 de Maio de 1762. Mas a guerra entre a Espanha e Portugal não se circunscreveu à peninsula Ibérica. Em 1750 havia sido celebrado entre os dois paises um tratado que ficou conhecido pelo nome "Tratado de Madrid", pelo qual foram fixados os limites do Brasil, até então regulados somente pelo "Tratado de Tordesilhas". Tendo em conta que a Espanha havia ocupado as Filipinas que por esse tratado cabiam a Portugal, os negociadores espanhóis concordaram em considerar como parte integrante do Brasil todo o imenso território situado a oeste do meridiano de Tordesilhas que havia sido desbravado pelos Bandeirantes Portugueses nas suas portentosas incursões á procura de escravos, de ouro e de diamantes. Em relação à Colónia de Sacramento, eterno pomo de discórdia entre as duas Coroas, ficou estipulado no "Tratado de Madrid" que ela passaria para a pose da Espanha a troco do território das «Sete Missões», situado na margem esquerda do rio Uruguai, que seria intregado no Brasil. Mas a execuação desta parte do tratado não foi pacifica.




Os jesuitas que dominavam no território das «Sete Missões», opuseram-se pela força das armas à sua tranferência para a soberania portuguesa e só à custa de uma dificil e demorada campanha militar foi possivel consumar a sua integração no Brasil. Por outro lado os habitantes da Colónia do Sacramento resistiram à sua entrega à espanha que não chegou a ser cosumada. De qualquer forma ao que parece, Pombal não via com bons olhos o "Tratado de Madrid", talvez por considerar, como a maior parte dos portugueses, que havia privado o Brasil de antingir a sua fronteira natural que era o Rio da Prata.



Em 1760 conseguiu negociar um novo tratado com os espanhóis o "Tratado de El Pardo", que no respeitante à fronteira sul do Brasil anulava o "Tratado de Madrid". A Colónia do Sacramento voltou para Portugal e as «Sete Missões» para a espanha o que não agradou mesmo nada aos Espanhóis de Buenos Aires! Por isso, não será de estranhar que em 1762, quando teve noticia de que a guerra entre a Espanha e Portugal estava iminente, o Governador do Rio da Prata se tenha apressado a organizar uma expedição de trinta e dois navios e cerca de cinco mil soldados, entre espanhóis e Índios com que a 2 de Setembro, foi pôr cerco, mais uma vez à Colónia de Sacramento. Receosa da nossa esquadra, a espanhola conservou-se fundeada à distância, o que permitu continuar a reabastecer a cidade por mar. Não obstante, esta acabou por render-se a 30 de Outubro. Os Espanhóis apoderaram-se de vinte e seis navios ingleses que estavam ali fundeados, capturaram oitenta e sete canhões e fizeram prisioneiros dois mil trezentos e ciquenta e cinco soldados portugueses. No dia seguinte ao da capitulação fundeou diante da Colónia do Sacramento uma esquadra anglo-lusa que largara de Lisboa com o objectivo de ocupar o Rio da Prata. Vendo a cidade nas mãos dos espanhóis o Almirante inglês decidiu atacá-la imediantamente antes que aqueles pudessem consolidar as suas posições. Mas a operação não resultou. Durante o bombardeamento preleminar levado a cabo pela esquadra anglo-lusa a Nau Capitãnea explodiu por acidente, com a morte da maior parte dos seus tripulantes, o que levou a cancelar o desembarque.



Mais dois meses decorreram com a nossa esquadra a bloquear estreitamente a Colónia de Sacramento sem que a esquadra espanhola, muito mais fraca tenha feito qualquer tentativa para intervir A 7 de Janeiro de 1763 os anglo-lusos retiraram para o Rio de Janeiro, desde esse ano capital do Brasil, a fim de se reabastecerem. Põde então o Governador do Rio da Prata proceder à ocupação de todo o território até ao Rio Grande do Sul. Entretanto a guerra tinha acabado. Em resultado do "Tratado de Paris" assinado em Fevereiro de 1763 a Prússia, apesar de ter estado à beira do aniquilamento, conseguiu sobreviver como grande potência;



A França perdeu definitivamente o Canadà e todos os outros territórios que possuia na América do Norte, á exepção da cidade de Nova Orleães: os estabelecimentos que possuia na Índia foram-lhe restituidos, mas com a condição de não ter neles tropas nem levantar fortificações, o que os deixava à merçê dos Ingleses; a espanha viu-se obrigada a ceder Minorca e a Florida aos Ingleses e a devolver a Portugal a Colónia de Sacramento para reaver Havana e as Filipinas. Mas conservou na sua posse o Rio Grande do Sul que havia ocupado e acerca do qual o tratado não era suficientemente explicito. O grande vencedor da guerra dos Sete Anos foi a Inglaterra, que, graças ao dominio dos mares de que desfrutava, se tornou senhora da América do Norte e da Índia e passou a ditar a sua lei em todos os lugares que estavam ao alcance dos canhões das suas esquadras. No que toca à América do Sul, na sequência do "Tratado de Paris", reacenderam-se as antigas disputas entre os Portugueses e os Espanhóis de Buenos Aires. Entendiam os primeiros que a devolução da Colónia do Sacramento a Portugal, estipulada pelo tratado, implicava o reconhecimento táctico do Rio da Prata como fronteira meridional do Brasil e consequentemente, a obrigação por parte dos Espanhóis de abandonarem todas as posições que detinham a norte do referido rio incluindo naturalmente o Rio Grande do Sul. Entendiam aqueles que o tratado só os obrigava à entregua da cidade do Sacramento o que efectivamente fizeram e nada mais. E continuarão instalados em Monteviseu no Rio Grande do Sul e em toda a região compeendida entre ambos. O que mais preocupava os Portugueses era a permanência dos espanhóis no Rio Grande do Sul, região muito rica em gado que era considerado um elemento muito importante para a economia brasileira. Goradas todas as tentativas que fez por via dilomática para obter a sua restituição o Marquês de Pombal manda recorrer à força e, em Setembro de 1774, enviou para o Rio de Janeiro sob o comando do Almirante inglês Macdoual, uma esquadra destinada a expulsar os espanhóis do Sul do Brasil. Com os navios que se lhe juntaram no Rio ficou a dita Esquadra contituída por Quatro Naus de guerra e oito Fragatas, além de um certo número de navios mais pequenos. No entanto, não foi desde logo empreendida qualquer operação de vulto contra os Espanhóis. Pombal queria primeiro ter a certeza de que os Inleses o apoiariam, condição que só  se viria a verificar nos começos de 1775, quando se tornou patente que o apoio dado pela França e Pela Espanha à rebelião das colónias inglesas da América do Norte as levaria a curto prazo a entrar em guerra aberta com a Ingaterra. E logo seguiram ordens para o Rio de Janeiro para dar ínicio à campanha com vista à recuperação do Rio Grande do Sul. Em consequência dessas ordens foram enviados importantes reforços para aquela região sob o comando do General Bohm. As tropas portuguesas apoiadas em quatro fortes encontravam-se entrincheiradas na margem oriental de lagoa dos Patos, as tropas espanholas apoiada em sete fortes, encontravam-se entrincheiradas na margem oposta.



No fundeadouro de Patrão-Mor, fora do alcance da artilharia dos fortes espanhóis, encontrava-se uma  Divisão portuguesa constituída por três Fragatas e meia dúzia de embarcações menores, sob o comando do Capitão-do-mar-e-guerra George Hardcastle. Pela sua parte os espanhóis dispunham de uma força naval, fundeada sob a protecção dos seus fortes, constituída por duas Corvetas, três Bergantins, duas Sumacas e uma Setia. Uma vez que a barra da lagoa dos Patos tem muita pouca água não era possivel franqueá-la com navios de grande calado. por isso para poder operar na zona, viu-se Macdoual foçado a organizar uma flotilha constituida exclusivamente por navios ligeiros. duas Fragatinas, duas corvetas, três Sumacas, uma Chalupa e duas embarcações menores, com o qual escoltada por uma Nau de guerrra, largou da ilha de Santa Catarina a 6 de Fevereiro de 1776. A 14 de Fevereiro chegou à barra da lagoa, ficando a Nau fundeada a cerca de duas milhas da costa e os navios ligeiros perto dela. Seguiram-se cinco dias de negociações com os espanhóis no sentido de os levar a reconhecer os nossos direitos à região e a retirarem pacificamente para Monevideu. Permanecendo aqueles irredutiveis, Macdoual decidiu-se a usar a força e, a 19 de Fevereiro, tendo passado para a Chalupa "Expedição" empreendeu o forçamento da barra. A ideia de manobra consistia em penetrar com a esquadra na lagoa dos Patos, destruir os navios de guerra espanhóis que lá se encontravam e seguidamente, cobrir a passagem do exército português da margem oriental para a margem ocidental. Conseguido isso, os fortes espanhóis seriam sucessivamente atacados, de norte para sul por terra e por mar. Pelas onze horas, provavelmente com vento bonançoso de SE os nove navios portuguses encabeçados pela "Expedição", avançaram em coluna para a barra. De início os fortes espanhóis conservararm-se silenciosos possivelmente com a intenção de deixarem para os portugueses o ónus de terem sido eles a romperem as hostilidades. Porém, pelas três da tarde ao constatar que todos os nossos navios já se encontravam no interior da lagoa dos Patos e estavam claramente a manobrar para ir atacar os seus, abriram fogo juntamente com estes, teve então um vivissimo duelo de artilharia que durou cerca de três horas no qual também tomaram parte os navios portugueses que se encontravam em Patrão-Mor sob o comando de Hardcastle, e que entretanto tinham vindo ao encontro dos de Macdoual. No entanto, apesar da superioridade de que dispunham em meios navais, os portugueses não conseguiram anular a vantagem de que dispunham os espanhóis em matéria de fortificações . Mais uma vez no duelo navio-fortaleza preponderou o segundo. A Chalupa "Expedição" foi metida ao fundo, vendo-se Macdoual obrigado a transferir-se para uma embarcação, donde continuou com grande ànimo a dirigir o combate e a incitar os seus. Uma das Sumacas encalhou e teve de ser abandonada pela respectiva guarnição. Nessa mesma noite foi incendiada pelos portugueses. Os restantes navios todos eles mais ou menos avariados não tiveram outra alternativa senão recolher ao fundeadouro de Patrão-Mor, com os que de lá tinham vindo a fim de se refazerem. Felizmente o número de baixas foi relativamente reduzido tendo em conta a duração e a intensidade do combate: 12 mortos e 30 feridos, pouco dos quais com gravidade. Pela sua parte os espanhóis tiveram 13 mortos e 25 feridos graves, além de numerosos feridos ligeiros. Quanto aos seus navios é de supor que tenham sofrido estragos semelhantes aos sofrido pelo nossos. Terminada a acção Macdoual voltou à Nau de guerra que se encontrava fundeada ao largo, e regressou ao Rio de Janeiro, ficando os navios que tinham forçado a entrada da lagoa dos Patos sob o comando de Hardcastle. E logo começaram, com grande diligência e entusiasmo os preparativos para novo ataque às posições espanholas. Para esta segunda tentativa foi decidido utilizar somente os navios mais fortes ou seja, as cinco Fragatas e as duas Corvetas que foram cuidadosiamente reparadas dos estragos sofridos no combate anterior e reforçadas com artilharia tirada dos fortes e com marinheiros da Chalupa e da Sumaca que se haviam perdido. Ao mesmo tempo, foi concluida a construção de treze grandes jangadas destinadas a juntamente com as embarcações disponíveis, transportar para a outra margem os 5.000 homens do exército de Bohm.


A passagem teve lugar durante a noite de 31 de Março, para 1 de Abril colhendo os espanhóis de supresa. Os seus dois fortes mais a norte junto dos quais abicaram as jangadas, foram tomados, após terem oferecido fraca resistência, ainda durante a noite. Ao romper do dia, mesmo antes de terem inçado a bandeira portuguesa, começaram a bombardear os navios espanhóis. Pouco depois os comandantes de uma corveta e uma Sumaca espanholas que estavam mais próximas decidiram abandoná-las e pôr-lhes fogo. Vendo isso e que a esquadra portuguesa, muito mais forte que a sua se estava aproximando, os restantes cinco navios espanhóis, tentaram sair para o mar arrostando com o fogo dos navios e dos fortes portugueses. Mas a sorte não os ajudou. A Setia, uma Corveta e um Bergantim encalharam, tendo de ser abandonados pelas respectivas guarnições, que nem sequer tiveram posssibilidade de lhes deitar fogo. Mais tarde foram desfeitos pela rebentação. Dos três que conseguiram sair para o mar, uma Sumaca acaberia por dar à costa algumas semanas mais tarde, sendo a sua guarnição capturada pelos portugueses. Dos oito navios espanhóis que se encontravam na lagoa dos Patos somente dois Bergantins coseguiram chegar a Buenos Aires. Pelas cinco da tarde de 1 de Abril o General Bohm intimou os restantes fortes a renderem-se, não obtendo resposta. Durante a noite de 1 para 2 de Abril foram abandonados pelas respectivas guarnições que retiraram por terra para sul. Ao que parece os portugueses não se aperceberam deste movimento, a menos que o tenham deliberadamente facilitado, de acordo com o são principio  de que "a inimigo que retira, ponte de prata!". Ao romper do dia 2 de Abril de 1776 a Bandeira Portuguesa foi solenemente hasteada na vila de São Pedro do Rio Grande do Sul, pondo termo a treze anos de ocupação espanhola.