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terça-feira, julho 29, 2014

Batalhas e Combates-1752 II

Calicut
(11 de Dezembro de 1752)



A 19 de Abril de 1752 o já tão diminuido império português do Oriente sofria nova amputação, desta vez não pela acção dos inimigos mas pela força de um decreto do Marquês de Pombal que determinava a separação do Estado da Índia de Monçambique, Sofala, Rios de Sena e toda a restante costa compreendida entre o cabo Delgado e a baia de Lourenço Marques. tratava-se, aliás, de uma medida que desde há muito se impunha. Primeiro por Dom Manuel I, só fora posta em prática no reinado de Dom Sebastião, para logo ser ambandonada. Coube ao Marquês de Pombal, com a sua costumada energia e visão, impô-la definitivamente, o que muito contribuiu para o desenvolvimento económico e social de Monçambique e para evitar que viesse a ter a mesma sorte que Mombaça. Ao mesmo tempo libertava o Estado da Índia, a braços com as ameaças latentes dos Maratas, do Bounsuló e da Angriá, e com mal disfarçada inveja dos Ingleses, de mais uma preocupação. Em Novembro de 1752 largou de Goa o habitual comboio para o Sul sob escolta da Nau de guerra "N. S. da Misericórdia" ao comando do Capitão-de-mar-e-Guerra João de Melo Saraiva. A 7 de Dezembro chegou a Calicut, onde a "Misericórdia" depois de ter feito aguada, começou a embarcar madeira destinada ao arsenal de Goa. A 9 foram avistadas, vindas do norte, quatro Galvetas do Angriá que se aproximaram da Nau e, depois, de a terem reconhecido, se foram embora. A 11 da parte da tarde, navegando a favor da viração, apareceu a esquadra daquele na sua máxima força, três Gurabos, sete Palas e onze Galvetas. Compreendendo que o alvo de todo aquele aparato era o seu navio, Melo Saraiva mandou imediatamente suspender e fez-se ao mar, com a guarnição em postos de combate, rumo a WSW. Ao ser avisado da aproximação da esquadra do Angriá, o Samorim de Calicut dirigiu-se para a praia, para onde acorreu também a maior parte da população da cidade e dos estrangeiros que nela se encontravam a comerciar, ingleses, holandeses, franceses, dinamarqueses, alemães e italianos. Vendo a nossa Nau a afastar-se, lamentou-se o Samorim junto de um padre português que ali se encontrava que aquela fugisse deixando os numerosos navios mercantes que estavam no porto à mercê dos corsários. Como a dar-lhe resposta, nesse mesmo instante a "Misericórdia" virou de bordo e aproando a terra avançou resolutamente contra a esquadra do Angriá. Pouco depois tinha um temeroso duelo de artilharia entre a nau portuguesa e os vinte e um navios daquela. Felizmente, as condições de tempo eram-nos altamente favoráveis. Estando o vento a soprar com certa força e havendo vaga a "Misericórdia" podia manobrar à vontade, por forma a meter os inimigos dentro dos seus campos de tiro, e não corria o risco de ser abordada por eles. Além disso, os navios do Angriá, sendo muitos, embaraçavam-se uns aos outros e constituíam um alvo mais fácil para os nossos artilheiros. Acima de tudo o peso da bordada da Nau era muito superior à de qualquer dos navios inimigos. E mais uma vez se confirmou a regra de que no combate naval a qualidade é mais importante que a quatidade. Após cinco horas de fogo continuo a esquadra do Angriá, com muitos dos seus navios danificados, abandonou a luta e bateu em retirada para sul. Altaneiro a "Misericórdia" regrssou ao fundeadouro anterior. Em terra, o Samorim não se cansava de elogiar os Portugueses, o povo pasmava, os estrangeiros enfiados não sabiam que dizer. Era o nosso antigo prestígio que renascia por breves momentos na costa do Malabar!



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