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quinta-feira, julho 03, 2014

Batalhas e Combates-1799 I

Caminha
(27 de Janeiro de 1799)

     

A 29 de Dezembro de 1798 largou do Tejo a corveta ‘Andorinha’ de 24 peças, ao comando do Capitão-de-Fragata Crawford Duncan, a fim de comboiar três navios que se dirigiam ao Brasil. Tendo-os largado a cerca de duzentas milhas da costa, dirigiu-se depois para o Porto, provavelmente para, conforme as ordens que havia recebido, ir buscar navios que lá se encontravam. Mas, segundo parece, terá apanhado vento fortes de leste que a obrigaram a prologar o bordo até às mediações de Vigo. Quando avistou terra deve ter virado e começado a navegar para Sul. Por acaso encontrava-se nessa altura em Vigo uma corveta francesa, também de 24 peças, cujo comandante, ao saber da presença da ‘Andorinha’ ao largo, saiu imediatamente a dar-lhe caça, possivelmente na presunção de que um navio francês teria de ser necessariamente superior a um português do mesmo tipo.

Ao amanhecer do dia 27 de Janeiro de 1799 encontrava-se a nossa corveta ao largo de Caminha, a navegar para sul com pouco pano. O vento seria moderado de Leste e o mar de pequena vaga. Pelas sete horas gritara o gajeiro que se avistava, um navio pela popa. Era a corveta francesa que saíra de Vigo e que vinha a perseguir a ‘Andorinha’ com todo pano em cima. Como o navio se estava a aproximar rapidamente, o Capitão-de-Fragata Crawford Duncan, não alterou o rumo e deixou ficar o pano como estava. Dali a pouco já o francês se encontrava relativamente perto. Com arreganho desfraldou a tricolor e disparou um tiro de peça. Responderam-lhe os portugueses da mesma forma, ao mesmo tempo que corriam a ocupar os seus postos de combate. Não estando disposto a combater a sotavento, como bom oficial inglês que era, o Capitão-de-Fragata Crawford Duncan, virou por d’avante e dirigiu-se para o inimigo a contrabordo, colocando-se a curta distância e a barlavento dele. Nesse instante ambos os navios colheram as velas e, ficando praticamente imobilizados, começaram a disparar furiosamente, um sobre o outro, os seus canhões e os seus mosquetes. Mas, pelos vistos, os artilheiros e os soldados portugueses eram mais destros ou tiveram mais sorte que os seus congéneres franceses. Ao fim de uma hora de intenso tiroteio, tendo o casco arrombado em vários lugares, a mastreação e o aparelho muito danificado e tendo sofrido numerosas baixas, a corveta francesa arriou a bandeira e rendeu-se. A guarnição da ‘Andorinha’ pôs-se aos vivas e do outro lado os franceses tiraram os chapéus e cumprimentaram Até um verdadeiro combate entre cavalheiros, Então o Capitão-de-Fragata Crawford Duncan, virou em roda, passando pela popa da corveta francesa, enquanto a guarnição dava início à faina de arriar o escaler que lhe havia de ir meter dentro a tripulação de presa. Foi nessa altura que aconteceu o imprevisto. Quando o Capitão-de-Fragata Crawford Duncan, deu ordem para marear as velas por forma a colocar a ‘Andorinha’ paralelamente ao outro navio, não foi possível fazê-lo pelo facto de alguns cabos de manobra das vergas terem sido cortados pela metralha durante o combate. Dai que a corveta tivesse continuado a guinar, acabando por ficar aproada ao inimigo com o pano «sobre» isto é, com as velas a receberem vento pela face contrária àquela por onde o deviam receber.

     

Apercebendo-se da situação difícil em que se encontravam os portugueses e aproveitando-se da circunstância de terem o seu navio fora dos campos de tiro dos canhões da ‘Andorinha’, os franceses largaram rapidamente todo o pano e puseram-se em fuga puxando tudo a orça, procedimento que embora revele espírito combativo e desembaraçam não pode deixar de ser considerado desonroso, uma vez que se tinham voluntariamente rendido após terem sido vencidos em luta leal. Logo que o Capitão-de-Fragata Crawford Duncan, conseguiu dominar a situação lançou-se em perseguição do seu pouco escrupuloso adversário. Mas ele já ia longe, com todo o pano em cima e deitando ao mar todos os objectos não essenciais que tinha a bordo a fim de tornar o navio mais leve e assim aumentar a sua velocidade. Cerca do meio-dia, vendo o Capitão-de-Fragata Crawford Duncan, que por mais esforços que fizesse não lhe conseguia ganhar terreno, abandonou a caça e, talvez porque o vento tivesse rodado para SE e estivesse com falta de água, resolveu arribar a Vigo, onde entro a 29 de Janeiro. Ai se conservou até 25 de Fevereiro, reparando as avarias, tratando dos feridos e reabastecendo-se. Nessa data largou com destino a Viana e Porto, dando escolta a dezassete navios mercantes que para lá se dirigiam. A 12 de Março estava de volta ao Tejo, provavelmente em sua companhia diversos navios dos portos do Norte. O Capitão-de-Fragata Crawford Duncan, e todos os oficiais da ‘Andorinha’ foram promovidos por distinção ao posto imediato; os restantes membros da guarnição receberam prémios pecuniários consoante a sua graduação.

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