Pesquisar neste blogue

sábado, abril 27, 2013

Batalhas e Combates-1801 I

Atlântico Sul
(18 de Maio de 1801)


A 9 de Novembro de 1799, na sequência de um golpe de estado que ficou conhecido pelo «18 Brunário», Napoleão Bonaparte tornou-se senhor dos destinos da França. A 29 de Janeiro de 1801 assinou com a Espanha, em Fontainebleau, um tratado secreto com vista à invasão e partilha de Portugal. A 27 de Fevereiro do mesmo ano a Espanha declarou-nos guerra. Provavelmente nos primeiros dias de Março largaram de Lisboa com destino ao Rio de Janeiro, navegando de conserva três navios mercantes. Eram eles o "Espik", de 26 peças e 114 homens de tripulação, de que era Capitão José Joaquim Vitório, o Brigue "Belizário" e a Galera "Flor do Rio". Ao romper do dia 18 de Maio de 1801 encontravam-se os ditos navios a navegar em coluna, pela ordem atrás indicada, ao rumo WSW, com vento moderado de SE, na posição 19º 55' S, 32º 57' W. Dissipadas as brumas matinais, foi avistado relativamente perto, na direcção do sul um navio, que mais tarde se veio a saber ser a fragata espanhola "La Paz" de 50 peças e com 400 homens de guarnição, que saira de Montevideu pouco dias antes com a missão de fazer guerra de corso ao largo da costa do Brasil. Ao dar pela presença dos três navios portugueses o comandante da fragata dirigiu-se logo ao seu encontro e, colocando-se pelo través de barlavento do "Belizário", e a curta distância dele intimou-os a amainar içando a bandeira espanhola firmada com um tiro de peça. Responderam os nossos içando também a bandeira e continuado a navegar como dantes o que levou a Fragata a abrir intenso fogo de artilharia e fuzilaria sobre o "Belizário" sem se deixar atemorizar pela força do adversário, o bravo Joaquim Vitório meteu à bolina e cortou a proa à fragata, mimoseando-a, à passagem, com uma salva da sua modesta artilharia. Feito isso, arribou e colocando-se a seu lado, por berlavento continuou a descarregar animosamente sobre ela os seus canhões. Quando viu o "Espik" orçar a "Flor do Rio" fez o mesmo e principiou também  a disparar, embora de longe, sobre a popa da fragata que assim ficou metida entre o fogo cruzado dos três navios portugueses, numa posição pouco confortável. Não obstante, talvez por compreender que a vantagem táctica de que os nossos dispunham não era suficiente para compensar a superioridade material do adversário, o Capitão do "Belizário", aproveitando o facto da fragata ter começado a orçar para se aproximar do "Espik", arribou e afastou-se dela rapidamente. vendo isso, a "Flor do Rio" fez o mesmo, deixando aquele sozinho a contas com o inimigo. Avisado do que se estava a passar Joaquim Vitório imediatamente fez sinal aos fugitivos para que voltassem ao combate. O Brigue ainda virou em roda e foi descarregar uma salva sobre a alheta da fragata. Mas logo tornou a afastar-se e reunindo-se à escuna seguiu com ela para o Rio de Janeiro, onde chegaram ambos a salvamento a 30 de Maio. Foi certamente uma atitude pouco honrosa mas que não pode deixar de ser considerada sensata, uma vez que permitiu aproveitar o sacrificio do "Espik" e salvar os dois navios. se o "Belizário" e a "Flor  do Rio" tivessem continuado a combater a seu lado é muito provável que todos os três tivessem acabado por ser capturados. Em tempo de guerra a obrigação do Capitão dos navios mercantes é levar a bom porto os seus navios e a carga que transportam e não dar combate aos navios de guerra inimigos. O que não quer dizer, obviamente, que não devam fazer todo o possivel para se defender dos seus ataques como fez o valoroso Capitão do "Espik". Apesar de abandonado Joaquim Vitório não desaminou e continuou a responder taco a taco ao fogo da Fragata, durante mais de três horas e meia, até se lhe acabarem as munições! Só então consentiu em arriar a bandeira. Em resultado deste combate épico o "Espik" ficou com o aparelho, a mastreação e as obras mortas muito danificados. Da sua corajosa e disciplinada tripulação de 114 homens, 35 morreram e 46 sofreram ferimentos mais ou menos graves. A Fragata espanhola ficou também muito avariada e teve 15 mortos e vários feridos.



Terminada a acção e reparadas as avarias mais importantes, a Fragata seguiu com o "Espik" para Montevideu, onde Joaquim Vitório e os seus marinheiros foram muito bem tratados pelos espanhóis em razão da forma galharda como se haviam batido apesar de serem apenas tripulantes de um simples navio mercante. Quando se soube em Lisboa a forma como José Joaquim Vitório se havia comportado no confronto com a Fragata espanhola, que além de permitir salvar dois preciosos navios mercantes tanto honrou o País, foi decidido integrá-lo directamente na Marinha de Guerra, ao que parece com o posto de Capitão de fragata. Durante o reinado de Dona Maria II acabaria por atingir o posto de Chefe de Divisão, que corresponde sensivelmente ao actual Contra-Almirante. Logo que o "Belizário" e a "Flor do Rio" chegaram ao Rio de Janeiro foram imediatamente mandados seguir para o estuário do Rio da Prata uma Nau de guerra e uma Fragata a fim de tentarem interceptar a Fragata espanhola com o "Espik" no seu regresso a Montevideu. Mas quando ali chegaram, já eles tinham passado. De qualquer forma a medida não foi de todo inútil, uma vez que foi capturado um Brigue espanhol. O bloqueio do Rio da Prata por navios de guerra portugueses durou três meses. Entretanto a guerra acabou.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.