Pesquisar neste blogue

terça-feira, outubro 28, 2014

Conflitos Luso-Turcos





Os conflitos Luso-Turcos, foram uma série de combates militares, entre a Armada Portuguesa e tropas do Império Otomano, integradas em outras forças militares ou por conta própria. Alguns desses conflitos foram pontuais, enquanto outros, arrastaram-se por vários anos, a maior parte ocorreram, no Oceano Índico, durante a consolidação do Império Português na Ásia. A 8 de Abril de 1481, a Bula ‘Cogimur iubente altissimo’ proclamava a cruzada contra os turcos. Só no reinado de Dom Manuel I, é que Portugal decidiu participar na cruzada, mandando El Rei, preparar uma esquadra que partiu para o Mediterrâneo sob o comando do Bispo de Évora, Dom Garcia de Meneses. No entanto, os portugueses não precisaram de combater, pois quando chegaram a Otranto esta tinha sido abandonada devido à notícia da morte súbita do Sultão, vítima da peste.

Batalha de Azamor


A batalha de Azamor teve lugar a 28 e 29 de Agosto de 1513 em Azamor, Marrocos, onde participaram portugueses contra marroquinos. Azamor, dependente do Rei de Fez, embora gozando de grande autonomia, prestava vassalagem ao Rei Dom João II de Portugal já desde 1486. As desavenças geradas entre o governador Moulay Zayam, que se recusou pagar o tributo e preparava um exército para se defender, ocasionaram o envio de Armada Portuguesa àquela cidade a 15 de Agosto de 1513, a mando do Rei Dom Manuel I. A 1 de Setembro, o exército português, liderado por Dom Jaime, Duque de Bragança, tomava a cidade sem resistência.

Assim descreve o feito Pedro de Mariz:

"AINDA, Que ElRey Dom Emanoel, tinha por tributaria a Cidade Azamor em Affrica, todavia desejava ser Senhor della: porque muitas vezes lhe negava o tributo, & se ajuntava com seus inimigos; polo, que determinou mandalla conquistar. E pera isso era o anno do Senhor mil,& quinhentos,& treze, mandou fazer huma poderosa armada, de mais de quatrocentas vellas, & dezoito mil homens de pé, de que três mil erão do Duque de Bragança Dom Gemes, que hia por General desta armada, que também levava quatrocentos, & cincoenta homens de cavallo, & cento acubertados, & todos seus criados, & vassallos: além destes hião mais de dous mil de cavallo, & duzentos acubertados, todos criados delRey affora a pionagem, que estes todos levávão. Partido o Duque com esta fermosa companhia, foy surgir duas léguas de Marzagão a 28 de Agosto (...). De Marzagão partio o exercito ao primeiro de Setembro, (...) A Azamor, & mandou logo dar o primeiro combate, com tanta ordem cometido, & com tanto fervor, & valentia; que os Mouros, ainda, que muitos, & bem armados, & fortalecidos, e muito versados em cavallarias; desconfiarão de se poderem defender. Principalmente quando virão morto de húa bombarda o Capitão-mor da Cidade; cuja vista os acabou de desenganar de todo, & sobrevindo a noite, se sahirão da Cidade com muita pressa (...). Ao outro dia, sendo o Duque avisado do que passou, deu logo graças a Deos publicamente, & com grande triumpho entrou na cidade, & muito mayor contentamento em o seu ânimo, por huma tão grande, & tão barata vitória, que lhe não custou nem hum só homem. E tanto assombrou esta conquista a todos aquelles bárbaros Mauritanos, que logo as Cidades Titer & Almedina, se despejarão, & os portuguezes, se entregàrão dellas; Nuno Fernandez de Attaide capitão de Çafim, se entregou de Almedina a cujos moradores fez logo tornar a ella, com promessas, & liberdades: & pera que não se pudesse levantar mais, mandou derribar dous lanços do muro, hum da parte de Azamor: outro da de Çafim (safi). E todas as mais cousas da Cidade novamente conquistada, ordenadas como convinha ao governo, & defenção della, se veyo o Duque de Bragança ao Reyno, deixando encomendada sua casa a seu primo Dom Francisco Portugal, que foy o primeiro Conde de Vimioso: & por Capitão-mor do exército Dom João de Menezes. E elRey Dom Emanoel mandou em o seu Reyno dar publica graças a Deos por aquellas obras de sua omnipotencia, tanto em seu louvor acabadas: & o mesmo mandou o papa Leão décimo fazer em Roma, tanto que o soube, com huma solene procissão, em que elle disse missa em Pontifical, & houve prégação em louvor dos portuguezes, & de suas heroicas obras pola exaltação a Fé, & augmento de sua Igreja."

Sabe-se que nela participou Fernão de Magalhães, o primeiro navegador a circum-navegar o globo terrestre. Aí perdeu o seu cavalo, magoando-se no joelho.

1538 a 1563


Em 1538 os turcos regressaram a Diu com uma armada quatro vezes mais poderosa do que a reunida em 1509, sendo novamente derrotados, fugindo para o Mar Vermelho. Neste período, surgiram imensos conflitos entre portugueses e turcos, todos eles em volta da rota das especiarias e do controle da pimenta. De todas essas batalhas, destaca-se a Campanha da Etiópia de 1541 a 1543, devido à importância da mesma na manutenção do Império Etíope e da religião cristã no território em que ficaram registadas para a história as batalhas de Baçente em 1542 e de Wayna Daga em 1543.

Batalha de Wayna Daga


A batalha de Wayna Daga ("altitude para o cultivo da vinha", em amárico) foi travada a 21 de Fevereiro de 1543, num lugar a leste do lago Tana, entre um exército de portugueses e etíopes e as forças somalis ao serviço do Império Otomano; faz parte dos Conflitos Luso-Turcos, em que os portugueses se envolveram, na sequência de uma Bula Papal de 8 de Abril de 1481, ‘Cogimur iubente altissimo’, que proclamava a “cruzada” contra os turcos. Esta expedição na Etiópia foi realizada a pedido do Imperador etíope Lebna Dengel, cujo país tinha sido invadido pelos somalis do Sultanato de Adal, em 1529. Entretanto, as praças portuguesas na Índia tinham também sido atacadas pelos otomanos, o que levou o governador Estêvão da Gama (filho de Vasco da Gama) a atacar os muçulmanos, primeiro em Suez, em 1540, depois em Baçente, em 1542, já em conjunto com os etíopes e comandados por Cristóvão da Gama, irmão do governador. O recontro incluía 8.000 tropas etíopes de infantaria e 500 de cavalaria, e ainda 70 mosqueteiros e 60 cavaleiros portugueses; este exército era comandado pelo imperador Galawdewos. Do lado otomano, alinharam 14.000 soldados somalis de infantaria e 1.200 de cavalaria, e ainda 200 mosqueteiros, comandados pelo imam Aḥmad ibn Ibrihim al-Ghazi, que foi morto na batalha.

Cerco de Diu



O cerco de Diu foi um conflito armado entre o Império Otomano e o Império Português ocorrido em 1538, durante o qual a frota imperial otomana tentou capturar a cidade indiana de Diu, à época na posse portuguesa. A batalha terminou com a vitória de Portugal. Hadım Suleiman Pasha, governador do Egipto Otomano, liderou várias campanhas navais no oceano Índico contra as forças portuguesas, numa tentativa de as expulsar para restabelecer as rotas comerciais com a Índia. Em 1509, teve lugar a batalha de Diu entre os portugueses e uma coligação naval da qual faziam parte o Sultanato de Guzarate, o Sultanato mameluco do Egipto e os Samorim de Calecute com o apoio do Império Otomano. Desde 1517 que os otomanos tentavam unir forças com Guzarate no sentido de expulsar os portugueses do mar Vermelho e da Índia. À época, Diu, a par de Surrate, era um dos principais pontos de abastecimento de especiarias para o Egipto otomano. No entanto, a intervenção portuguesa terminou com essa rota comercial ao controlar a navegação no mar Vermelho. Em 1530, a República de Veneza não conseguia obter especiarias através do Egipto. Os otomanos já tinham combatido os portugueses em Áden em 1530-1531, e enviado, uma frota para Diu em 1531 com o intuito de repelir um cerco português à cidade liderado por Nuno da Cunha, do qual as forças portuguesas se retiraram no mesmo ano. Pouco tempo depois, no entanto, o sultão de Guzarate Bahadur Xá, que estava sob ameaça do Império Mogol, assinou um acordo com os portugueses, que aproveitaram a oportunidade para construir uma fortaleza em Diu. As forças portuguesas capturaram ainda a fortaleza de Gogala noa arredores, e construíram a fortaleza de Diu. Uma vez desaparecida a ameaça mogol, Bahadur tentou negociar a retirada dos portugueses. No entanto, em 13 de fevereiro de 1537 o xá morreu por afogamento durante as negociações a bordo de um navio português em circunstâncias pouco claras e em que cada lado culpava o outro pela tragédia. Bahadur Xá tinha também apelado aos otomanos para expulsar os portugueses, o que esteve na origem da expedição de 1538. Hadım Suleiman, governador otomano do Egipto desde 1525, consegui-o obter a aprovação de Istambul para iniciar uma ofensiva contra as forças portuguesas. Foi preparada uma frota de 80 navios, entre os quais 17 galés e 2 galeões, e construído um canal entre o rio Nilo e a cidade de Suez entre 1531 e 1532. No entanto, verificaram-se atrasos devido ao cerco de Coron no Mediterrâneo e à Guerra Otomano-Safávida iniciada em 1532. Áden, no Iémen, foi capturada pelos otomanos em 1538 com o intuito de servir de base para incursões contra as possessões portuguesas na costa ocidental da Índia. O sultão de Áden, Amir bin Dawaud, um aliado dos portugueses, foi enforcado após ter sido convidado para subir a bordo dos navios otomanos e a cidade foi capturada sem recurso a cerco. A frota otomana, constituída por um total de 72 navios, deixou o porto de Áden em 19 de agosto de 1538 e chegou a Diu em 4 de setembro do mesmo ano. À data, foi a maior frota otomana alguma vez enviada para o oceano Índico. A frota otomana lançou o cerco a Diu com 130 canhões e iniciou o bombardeio da cidade. No entanto, pouco tempo depois circulavam as notícias de que estavam para chegar reforços navais significativos do lado português. Ao mesmo tempo, pensa-se que o novo governante de Guzarate não tenha providenciado apoio adequado durante o cerco. Após o fracasso do cerco, os otomanos retiraram para Áden, onde fortificaram a cidade com 100 peças de artilharia. Os otomanos também estabeleceram suseranias em Shihr e Zabid e reorganizaram os territórios do Iémen em províncias otomanas. Suleiman pretendia organizar uma segunda expedição contra os portugueses em Diu, embora tal nunca chegasse a acontecer. Em 1540, os portugueses lançaram em retaliação uma expedição ao mar vermelho, atacando as cidades de Suaquém e Kusayr, tendo também tentado capturar Suez com uma frota de 72 navios em 1541. Em 1546, os otomanos estabeleceram uma nova base naval em Baçorá, o que constituía uma ameaça para os portugueses em Ormuz.



Em 1554, os portugueses infligiram uma pesada derrota naval aos otomanos no golfo pérsico. Os conflitos posteriores entre otomanos e portugueses levariam à Expedição otomana a Achém em 1565.

António da Silveira



António da Silveira nasceu por volta de 1490 e faleceu em meados de 1531, capitão de Arzila, Comendador de Arguim (Ordem de Cristo), Copeiro-mor de ElRei Dom Manuel I de Portugal. António da Silveira, era filho de Jorge da Silveira, Alcaide-Mor de Castelo Rodrigo, e de Maria (ou Margarida) Furtado de Mendonça. Bernardo Rodrigues diz que era primo como irmão de Dom João Coutinho. Em realidade era primo de Isabel Henriques (filha de Dom Fernão Martins Mascarenhas, 1° senhor de Lavre e capitão de ginetes), mulher de Dom João Coutinho, casou com Dona Genebra de Brito (ou Jenebra) de quem têve um filho, Vasco da Silveira, que nasceu um dia depois da chegada dos pais a Arzila (morrerá em 1578, cativo em Fez, depois da Batalha de Alcácer Quibir, sendo conselheiro do Rei Dom Sebastião, e um dos quatro coronéis levando as forças portugueses na batalha: "Vasco da Silveira, aquelle valeroso fidalgo, a quem tanto contra sua vontade na batalha emprestou a morte tam pequeno espaço de vida."). António da Silveira era "fimático e sem cólera", "muito magnífico, nobre, prudente, sofrido e sua cavalaria era mais da que a um capitão é necessária". Antes de vir para Arzila, António da Silveira, foi comendador de Arguim. Seu filho Vasco, também o foi mais tarde. Dom João Coutinho, capitão de Arzila, tendo de partir para Portugal para tratar de seus negócios, pediu ao Rei Dom Manuel, "que lhe mandasse para ser capitão António da Silveira, parente da condessa sua mulher". Assim foi feito e "António da Silveira chegou à vila na véspera do Natal de 1524" com sua mulher grávida. No dia seguinte 25 de Dezembro, "dia de Natal, Dona Genebra teve o seu parto, para a qual ia preparada com parteira e ama". Dom João ficou presente até o 1° de Maio de 1525 para dar conselhos ao novo capitão. Quando Dom João partiu, alguns queixaram-se, mas "António da Silveira deu-se tal manha que, um de medo, outros de amor, de todos foi obedecido e folgaram de o servir". Logo nesse mesmo ano, depois de sua mulher e filho terem sido cativados pelos de Arzila, o "grande e muito afamado Diogo da Silveira", tornou-se cristão. Não se sabe seu primeiro nome, e seu nome cristão foi-lhe dado pelo seu padrinho, o capitão.



Ficou de Almocadém de Arzila. Amelix era almocadém do Farrobo (Jebel Sidi Habib). Jovem tinha sido cativo e levado a Portugal, mas consegui fugir, juntou-se ao almocadém Arroax, e depois, desse ter sido morto pelos de Arzila, ficou ele a chefiar a quadrilha de 20 cavaleiros. Fazia muito dano, aos portugueses, matando mais de 100 cavaleiros, e Dom João Coutinho nunca o pode apanhar. Até que no dia de São Miguel de 1525 Amelix veio com alguns companheiros perto de Arzila, e desceu, com dois "primos seus", perto do rio para vêr se encontrava algum português. Só que encontrou "oito ou des dos nossos, e entre êles Dom Jorge de Noronha e Dom João de Sande. Fugir em tal caso não era covardia" mas assim não fez Amelix e "logo pôs a lança nos nossos e estes receberam-no nas suas e o derrubaram e mataram às lançadas", assim como a seus primos. Assim morreu "o mais afamado homem que em aquele tempo havia em toda a África e o que mais dano tinha feito em cristãos". "A sua cabeça foi trazida à vila que a recebeu com muito alegria (…) e o seu cavalo mandou António da Silveira a el-rei, mais pela fama do seu dono do que por ser formoso." Os seus companheiros foram perseguidos, já com a chegada do capitão, e sete foram mortos e um cativo. Dia do Corpo de Deus, 29 de Maio de 1526, os alcaides de Xexuão, Mulei Abrahem, e o de Alcácer cide Amete Laroz, seu cunhado, irmão da sua mulher Cite Olim, vieram pôr-se em cilada perto de Arzila com 1.500 de cavalo. Mulei Abrahem "mandou ainda a Alebenaix, almocadém do Farrobo, sucessor de Amelix (…), que se metesse com 22 de cavalo" para atrair as atalaias de Arzila perto do rio onde as esperavam. Assim foi feito, e as atalaias, mas também o almocadém de Arzila Diogo da Silveira e o adail João Moniz, seguiram-nos, pensando que "estaria só com a sua gente". Chegou o capitão António da Silveira, que vendo isso, ficou "muito contrariado" e "logo quis mandar dizer ao adail que não fosse atras de almogáveres e se recolhesse". Mas chegou outro homem dizendo “mouro tomado, mouro tomado!” o que fez que alguns 60 de cavalo também foram atrás de Alebenaix, apesar do capitão tentar de os impedir. Desses eram alguns fidalgos como Álvaro Pires de Távora (que aí foi morto), seu irmão Lourenço, Dom Jorge de Sande, e o próprio primo do capitão, Manuel da Silveira (filho de Francisco da Silveira, 2º senhor de Sarzedas). Os mouros saíram então da cilada e desbarataram os portugueses, e cativaram estes últimos fidalgos. Mesmo o capitão esteve em perigo, e mataram-lhe o cavalo. Logo depois o alcaide de Alcácer mandou um desafio a António da Silveira, querendo zombar dele. O capitão aceitou mas Mulei Abrahem repreendeu o alcaide, e em vez disso mandaram pêsames pela derrota, que era o que costumavam fazer. O rio de Larache (Rio Lucos) fazia uma fronteira muito difícil a passar pela gente de Arzila. Não tinha vau. António da Silveira decidiu construir uma almadia que podia levar doze homens que deviam atar duas cordas grossas com que de uma parte e outra puxassem a embarcação. Com isto fez passar 50 homens armados que deviam conduzir o gado que pastava na outra borda, não menos de 2.000 cabeças, a nado até à margem de cá. Mas aos gritos dos portugueses, o gado em vez de passar o rio fugiu para o interior, como, parece, lhe tinham ensinado. António da Silveira tentou então mais tarde outro meio, que foi mandar dois barcos de remos armados até Larache, que deviam passar de noite sem serem vistos e pelo rio acima até Xeimes e Alhaute que eram as aldeias dos mouros a que pertencia o gado, onde ele os esperava. Mas o barco foi visto, ouviu-se a artilharia de Larache, e o capitão mandou Artur Rodrigues com 20 homens a cavalo os encontrar, o que foi feito e os barcos vieram até ao capitão. Decidiu-se então que esses barcos tentariam de voltar para Arzila rio abaixo, mas os homens acabaram por desanimar e sair em terra, recuperando alguma artilharia e afundando os navios. Bernardo Rodrigues diz que em 1543, durante a capitania de Dom Manuel Mascarenhas, esse ardil teve êxito. No dia de Natal de 1528, o capitão mandou espias que vieram com a notícia que muitos mouros vinham correr a vila. Era o alcaide de Alcácer Talhar Laroz com 800 homens a cavalo, que vinha desafiá-lo, mas apenas queria tomar algumas atalaias e mostrar-lhe que não tinha medo dele. Mas António da Silveira quis dar-lhe batalha, mesmo com apenas 120 cavaleiros e outros tanto de pé. Convenceu sua gente e saíram ao encontro. O alcaide vendo isso fugiu, mas os portugueses conseguiram tomar-lhe 7 homens e "94 cavalos, 3 azémolas, mais de 80 adargas, outros tantos capuzes e 60 saias de malha"… e mataram-lhe 105 mouros. Também um Xeque foi cativo, pessoa importante, que se chamava Afam, que o capitão comprou por 200.000 reais. Mas como regressou a Portugal no ano seguinte, levando com ele o Xeque, que morreu pouco tempo depois, sem ter pago seu resgate, perdeu António da Silveira, dessa maneira o dinheiro que lhe custou. Em Abril de 1529 o Rei de Fez (Ahmed el Outassi), correu à vila, "quebrar o contentamento e soberba que mostravam os cristãos daquela fronteira". Mas o capitão tinha sido prevenido e os mouros não puderam fazer dano apesar de ter cingido a vila toda de mar a mar. Foi então para Tânger, mas António da Silveira consegui prevenir o capitão Dom Duarte de Meneses, o d'Évora e o Rei também não pode fazer dano algum aos portugueses. Então "para que aquela demonstração de força não fosse vã, el-rei vingou-se nas lavouras que os moradores da cidade tinham nos campos dos arredores, e na sua destruição se ocupou três ou quatro dias". Depois voltou a Arzila e fez o mesmo durante quatro dias, sem que os portugueses pudessem fazer alguma coisa para se defender. O capitão jurou de se vingar, e logo no mês de Maio fez destruir grande parte do milho dos campos de Mençara; e depois no mês de Junho foi até perto de Alcácer, em Algarafa, e meteu fogo às colheitas. O fogo foi tão alto, que com o vento, atravessou a ribeira Makzen, e foi ter aos campos de Alcácer. Por isso o ano seguinte, sendo já de novo capitão de Arzila o Conde Dom João Coutinho, "ele e Mulei Abrahem entraram em acordo que as sementeiras não fossem danificadas e nelas se não fizessem represálias". Chegou Dom João Coutinho a Arzila em 29 de Setembro de 1529 e "aos dez dias d'Outubro do dito ano de mil e quinhentos e vinte nove, se embarcou com muita saudade de toda a vila" António da Silveira. O ano seguinte, em Portugal, morreu seu refém Xeque Afam, como já foi dito, e ele mesmo pouco depois: "não tardou muito que este valeroso capitão faleceu, e tudo acaba."



Martim Afonso de Sousa


Martim Afonso de Sousa nasceu em Vila Viçosa, entre 1490/1500 e faleceu em Lisboa, a 21 de julho de 1571, foi um nobre e militar português. Jaz em São Francisco de Lisboa. Como Tomé de Sousa, descendia por linha bastarda do Rei Afonso III de Portugal. Era irmão mais novo de Pero Lopes de Sousa. Senhor de Prado e de Alcoentre, ainda parente do Conde de Castanheira, Dom António de Ataíde, tão influente sobre o Rei Dom João III de Portugal, Martim de Sousa foi Senhor de Prado, e Alcaide-mor de Bragança e mais tarde Governador da Índia e do Estado do Brasil. Serviu algum tempo o Duque de Bragança Dom Teodósio II mas “como era de um espírito elevado e queria esfera onde se dilatasse em coisas grandes, largou a Alcaidaria mor de Bragança e outras mercês que tinha do Duque, para servir ao Príncipe Dom João, filho do Rei Dom Manuel. Depois foi a Castela e esteve algum tempo em Salamanca; e voltando a Portugal, Dom João III, que já então reinava, o recebeu com muita estimação e honra porque Martim Afonso de Sousa foi um fidalgo em quem concorreram muitas partes, porque era valeroso, dotado de entendimento e talento grande”. Acompanhou a Rainha viúva Dona Leonor a Castela. Iniciou sua carreira de homem de mar e guerra ao serviço de Portugal em 1531 na armada que o Rei determinou mandar ao Brasil, nomeado desde fins 1530 em razão dos seguintes factores: por ser primo-irmão de Dom António de Ataíde, membro do Conselho Real, e ter forte influência junto ao Rei. Estudou Matemática, Cosmografia e Navegação. Havia vivido quatro anos na Espanha, onde se casou com Dona Ana Pimentel, dama da Rainha Católica, irmã de Dom Bernardino Pimentel, 1º Marquês de Tavara, filhos de Dom Pedro Pimentel, Senhor de Tavara, comendador de Castro-Torense na Ordem de Santiago, o qual morreu em 6 de fevereiro de 1504, e irmã de Dom Rodrigo Afonso Pimentel, 3º conde de Benavente. O casamento foi feito por Dom Pedro, que dotou a filha, com assistência do irmão, o Conde de Benavente, sendo o contrato de casamento firmado em Tordesilhas. Ana Pimentel, esposa de Martim Afonso de Sousa, foi procuradora relativamente aos negócios do Brasil, ao partir aquele para a Índia. Natural da Espanha, era dama de companhia da Rainha Dona Catarina. Foi ela quem, em 1534, providenciou para que se introduzisse o primeiro ”gado vacum” na capitania de São Vicente e quem, em 1544, revogou a ordem do esposo, que proibia a entrada de europeus no campo de Piratininga e, assim, abriu o caminho para o sertão, facilitando a expansão bandeirante. Lutou sob o comando do Imperador Carlos V contra os franceses. Embora a historiografia tradicional em História do Brasil encare sua expedição como a primeira expedição colonizadora, o Regimento a ele passado permite compreender que o principal objetivo de sua missão era colocar padrões de posse portugueses em toda a área da bacia do Rio da Prata, o que não alcançou em função de ter naufragado na região. Diz-se que sua nomeação como governador compreendia a missão de expulsar franceses, descobrir terras, explorar o rio da Prata e fundar núcleos de povoamento. Fundou em 22 de Janeiro de 1532 a primeira vila do Brasil, baptizando-a de ‘Vila de São Vicente’, uma homenagem a São Vicente Mártir e reafirmando o nome dado por Gaspar de Lemos, quando este chegou ao São Vicente, coincidentemente em 22 de janeiro de 1502. O nome da cidade se deve ao fato de 22 de janeiro ser dia de São Vicente Mártir.



Graças a medidas tomadas por Martim Afonso, São Vicente se tornou Cellulla Mater da Nacionalidade (Primeira Cidade do Brasil), Berço da Democracia Americana, pois em 22 de agosto de 1532 foram feitas as primeiras eleições populares das Três Américas, instalando a primeira Câmara dos Vereadores no continente. Partiu de Lisboa ao dia três de dezembro de 1530 com quatro naus, tendo como imediato o irmão Pero Lopes de Sousa e transportando cerca de quatrocentas pessoas, como escreve Pedro Taques: "De Lisboa saiu o governador Martim Afonso de Sousa com armada de navios, gente, armas, apetrechos de guerra e nobres povoadores, tudo à sua custa: com ele veio também seu irmão Pedro Lopes de Sousa, a quem o mesmo rei tinha concedido oitenta léguas de costa para fundar sua capitania, e faleceu afogado no mar. Trouxe o dito Martim Afonso de Sousa além da muita nobreza, alguns fidalgos da casa real, como foram Luís de Góis e sua mulher Dona Catarina de Andrade e Aguilar, seus irmãos Pedro de Góis, que depois foi Capitão-mor de armada pelos anos de 1558, e Gabriel de Góis; Domingos Leitão, casado com Dona Cecília de Góis, filha do dito Luís de Góis; Jorge Pires, cavaleiro fidalgo; Rui Pinto, cavaleiro fidalgo casado com Dona Ana Pires Micel, Francisco Pinto, cavaleiro fidalgo, e todos eram irmãos de Dona Isabel Pinto, mulher de Nicolau de Azevedo, cavaleiro fidalgo e senhor da quinta do Rameçal em Penaguião, e filhos de Francisco Pinto, cavaleiro fidalgo, e de sua mulher Marta Teixeira, que ambos floresciam pelos anos de 1550, e quando em 18 de junho do dito ano venderam por escritura pública em Lisboa aos alemães Erasmo Esquert e Julião Visnat as terras que de seu filho Rui Pinto haviam herdado na vila de S. Vicente: tudo o referido se vê no liv. 1º dos registros das sesmarias, tít. 1555, já referido, págs. 42 e seguintes. Outro, muitos, homens trouxe desta qualidade com o mesmo foro e também com o foro de moços da Câmara, e todos ficaram povoando a vila de S. Vicente, como se vê melhor no mesmo livro 1º do registro das sesmarias per totum. Depois de percorrer todo o litoral até a foz do rio da Prata, onde sobreviveu a um naufrágio, como desdobramento de sua missão, retornou à região de São Vicente em vinte e um de janeiro de 1532 e, com ajuda de João Ramalho e Antônio Rodrigues, moradores da região que haviam feito amizade com os caciques Tibiriçá e Caiubi, fundou a primeira vila nos moldes portugueses no Brasil: a vila de São Vicente. Na região do planalto (o mesmo onde hoje se ergue a cidade de São Paulo) e ainda graças a João Ramalho, estabeleceu em Piratininga uma pequena aldeia de duração efémera. Em São Vicente, iniciou a cultura da cana-de-açúcar e ordenou a instalação do engenho dos Erasmos. Combateu corsários franceses no litoral e foi agraciado pela coroa portuguesa, sob o reinado de D. João III, como capitão-donatário de dois lotes de terras no Brasil: os dois lotes da capitania de São Vicente. Desde outubro de 1532, recebera comunicação do rei de que o imenso território seria dividido em extensas faixas de terras: as capitanias hereditárias. Na ocasião, foram-lhe doadas cem léguas na costa e recebeu autorização de retornar a Lisboa. A sua expedição trouxe para o Brasil, como ferreiro contratado por dois anos, para prover as necessidades de ferro da expedição e da colónia, o mestre Bartolomeu Fernandes, também conhecido como Bartolomeu Gonçalves e Bartolomeu Carrasco. Terminado o contrato, mestre Bartolomeu fixou-se em solo paulista, tornando-se proprietário do sítio dos Jeribás e instalando, nas margens do Jurubatuba, afluente do rio Pinheiros, na vila de Santo Amaro, a primeira forja no Brasil para produção de aço (fato mencionado pelo padre José de Anchieta, em 1554). Com quatro operários conseguiu-se produzir e forjar cem quilogramas de ferro em seis ou sete horas, consumindo quatrocentos e cinquenta quilogramas de carvão vegetal. Nomeado capitão-mor do Mar das Índias em 1533, foi encarregado de proteger as possessões de Portugal no Oriente. Defendeu a feitoria de Diu contra mouros e hindus, derrotou o Rajá de Calecute e combateu os corsários que saqueavam as embarcações portuguesas na região. Vitorioso, foi nomeado pelo Rei Dom João III Vice-Rei das Índias em 1542. Há controvérsia quanto ao fim de sua carreira. Alguns historiadores afirmam que ele retornou a Portugal em 1545 ou 1546, tornando-se um dos membros do Conselho de Estado. Outros sustentam que foi chamado de volta sob a acusação de desvio de dinheiro da Coroa e enriquecimento ilícito, mantendo-se afastado da vida pública até morrer. Na carta de 20 de novembro de 1530 de Dom João III, Rei de Portugal, confere-lhe jurisdição sobre os tripulantes da armada e sobre todos os habitantes da Colónia:

•        Carta de Grandes Poderes ao Capitão-Mor, e a quem ficasse em seu lugar.

•        Carta de Poder para o Capitão-Mor criar tabeliães e mais oficiais de justiça.

•        Carta para o Capitão-Mor dar terras de sesmaria.

Já em 1534 se encontrava em Portugal. O Rei Dom João III mandou-o servir na Índia com o posto de Capitão-Mor do mar Índico. Embarcou na Armada de cinco naus, que governava. Chegando à Índia, diz a “História Genealógica da Casa Real Portuguesa volume XIV página 241”: “o Governador Nuno da Cunha reflectiu que el Rei em Martim Afonso de Sousa lhe mandava não só o Capitão-mor do mar, mas companheiro, e sucessor no Governo. No fim deste ano, o Governador o meteu de posse, mandando-o sobre a praça de Damão, situada do Reino de Cambaia, com 40 velas, e 500 portugueses, que rendeu, sendo mortos quase todos os inimigos, e a Fortaleza foi arrasada. O Rei de Cambaia, temendo maiores perdas, querendo na amizade dos nossos evitá-la, pediu pazes ao Governador do Estado Nuno da Cunha, que foram juradas solenemente com a condição de dar a El Rei de Portugal para sempre Baçaim”. Foram duras condições de direitos a pagar, que se vieram a moderar quando se concedeu levantar-se a Fortaleza de Diu, conseguida por negociações por Martim Afonso de Sousa quando no ano de 1535 se achava em Chaul.



Em 1536 Martim Afonso foi mandado à costa do Malabar “e destruiu e assolou todos os lugares marítimos do Reino do Samorim, que estava com seus aliados todos os Príncipes de Repelim, que destruiu”. Estas e outras empresas lhe conseguiram o respeito e temor na Ásia e voltando para o Reino, sucedeu depois a morte do Vice-Rei Dom Garcia de Noronha, que foi a 3 de abril de 1540; e aberta a via de sucessão, se achou nomeado Martim Afonso de Sousa; e como havia voltado para o Reino, sucedeu Dom Estêvão da Gama no governo, que os seus parentes quiseram dilatar; porém o Conde da Castanheira, primo de Martim Afonso, o fez nomear para Governador da Índia, para onde partiu a 7 de abril de 1541 com quatro naus, levando consigo a São Francisco Xavier; (…) entrou em Goa a 6 de maio de 1542. (…) Em 1545 lhe sucedeu Dom João de Castro. Foi Senhor de Alcoentre, que comprou ao Marquês de Vila Real. Instituiu um morgado e foi donatário das capitanias de Santa Ana e São Vicente na costa do Brasil, e do Conselho do Rei Dom João III, comendador de Mascarenhas na Ordem de Cristo. Do casamento, Martim Afonso de Sousa e Ana Pimentel deixaram numerosos filhos:

1º) Pedro ou Pero Lopes de Sousa
(Senhor de Alcoentre e Alcaide-mor de Rio Maior).

2º) Lopo Rodrigues de Sousa
(Morto ao acompanhar o pai à Índia).

3º) Rodrigo Afonso de Sousa
(Que entrou na Ordem de S. Domingos e professou como Frei António de Sousa. Foi eleito  Prior de S. Domingos em Lisboa, Provincial no ano de 1550, Mestre da Ordem e pregador do rei D. Filipe II. Em 1580 passou a Roma, ao Capítulo Geral da Ordem. O papa Clemente VIII o nomeou Vigário Geral de toda a Ordem dos Pregadores em 1594. Foi nomeado Bispo de Viseu em 1595, tendo governado com prudência. Morreu em maio de 1597).

4º) Gonçalo Rodrigues de Sousa
(Morto sem sucessão).

Dona Inês Pimentel
(Casada com Dom António de Castro, 4.º Conde de Monsanto).

Dona Brites Pimentel
(Que morreu estando comprometida com Dom Luís de Ataíde, mais tarde 3.º Conde de Atouguia e Vice-Rei na Índia).

Fora do casamento teve Martim Afonso de Sousa:

Tristão de Sousa
(Que passou a Índia e foi Capitão de Maluco).

Isabel Lopes de Sousa
(Que casou em São Vicente com Estêvão Gomes da Costa. Este Estêvão Gomes da Costa era natural de Barcelos e passou ao Brasil em 1531 com a expedição de Martim Afonso de Sousa.

Cerco de Goa



Dom Luís de Ataíde, 3.º conde de Atouguia e primeiro e único marquês de Santarém, nasceu em 1517 e faleceu a 10 de março de 1580 em Goa. Filho segundo de Dom Afonso de Ataíde e de sua mulher Dona Maria de Magalhães, era bisneto do 2º Conde de Atouguia, Dom Martinho de Ataíde. Foi governador-geral da Índia Portuguesa e Vice-Rei da Índia Portuguesa (entre 1568 a 1571 e 1578 a 1581). Fez armas na África, segundo “Nobreza de Portugal”, tomo II, página 332, e, passando ao Oriente, participou da expedição de Dom Estêvão da Gama ao Mar Vermelho e foi armado cavaleiro por ele na igreja de Santa Catarina do Monte Sinai. Regressando ao Reino, foi enviado à corte do Imperador Carlos V e tomou parte em sua expedição contra os luteranos. Regressando, manteve-se estranho às lutas políticas que se seguiram à morte de Dom João III de Portugal a respeito da Regência. Quando Dom Sebastião tomou o governo, foi nomeado 10º Vice-Rei da India em março de 1568. Partiu a 7 de abril e chegou a Goa em 10 de setembro de 1568. Tratou logo de “introduzia a disciplina nos serviços e manter domínio do mar, para o que fez os maiores sacrifícios, a fim de organizar esquadras que protegessem o comércio e mantivessem rigor na tributação sobre a navegação dos locais. Fez sufocar a revolta de Baticala por uma frota sob o comando de Afonso Pereira de Lacerda. Encarregou Martim Afonso de Miranda da polícia da costa do Malabar, com 20 navios. Fez dar caça aos corsários, reprimir excessos dos malabares e atacar as forças do Samorim por D. Diogo de Meneses. Para garantir a segurança da navegação, conquistou em 1569 as praças de Onor e de Bracelor, cujos portos eram centro de piratas”. Conseguiu mudar os negócios da India, e os príncipes indígenas se aliaram para expulsar os portugueses. “Ao Hidalcão, que marchava sobre Goa, deveriam ficar pertencendo esta cidade, Onor e Bracelor; ao Nizam Melek, caberiam Chaul, Damão e Baçaim; Diu ficaria para o sultão de Cambaia,” mesmo em volto em outras campanhas. Cercado em Goa por numeroso exército do Hidalcão, Dom Luís de Ataíde conseguiu enviar socorro a Chaul e operar sortidas amiudadas. O Nizam Melek, depois de um grande ataque a Chaul em 29 de junho de 1571, levantou o cerco de Goa. Dom Luís demorou as negociações de paz, deixando a seu sucessor o trabalho de as concluir e voltou para Portugal em 6 de janeiro de 1572, terminado seu tempo de governo. Com o prestígio alcançado, chegou ao Tejo em 3 de julho do mesmo ano, entrou solenemente em Lisboa e foi conduzido debaixo do pálio da Sé à igreja de São Domingos, a direita do Rei. Como todos os fidalgos ajuizados, reprovou os projetos marroquinos do rei. Escusou-se, quando convidado a chefiar a expedição. Foi então de novo nomeado vice-rei da India, o 12.ª e para lá partiu em 16 de outubro de 1577 com três naus. O título de Conde de Atouguia, o 3.º, lhe foi concedido por carta de Dom Sebastião de Portugal em 4 de setembro de 1577. Marquês de Santarém foi um título criado em 1580 pelo rei Filipe I de Portugal (II de Espanha). Invernando em Moçambique, chegou a Goa em 31 de agosto de 1578, recebendo o governo de Dom Diogo de Meneses. Negociou a paz com o Hidalcão, que a havia rompido, assegurou domínio onde havia pontos de sedição e refreou os excessos da alçada eclesiástica, que provocavam a emigração dos indígenas. Faleceu pouco depois de ter recebido no Oriente notícias do desastre de Alcácer Quibir, da morte do cardeal-rei e do domínio filipino. Seu cadáver foi depositado na igreja dos Reis Magos em Goa, e trasladado mais tarde para o convento do Bom Jesus em Peniche, do qual era donatário. Aquando a ruína do convento, os seus restos mortais foram transferidos para a igreja de Nossa Senhora da Ajuda. Actualmente, o seu túmulo encontra-se na Igreja da Misericórdia de Peniche. Casou três vezes mas não teve geração masculina:

•        1 - Com Dona Joana de Távora Vilhena
(Filha de Luís Álvares de Távora, 13.º Senhor de Mogadouro, e de Dona Filipa de Vilhena)

•        2 - Com Dona Maria de Noronha
(Filha do 4.º Conde de Odemira)

•        3 - Com sua sobrinha Dons Isabel de Meneses
(Filha de Tristão da Cunha, comendador de S. Pedro de Torres Vedras, e de sua irmã Dona Helena de Ataíde. A viúva professou nas freiras descalças da Madre de Deus, em Lisboa).

A linha feminina faria recair o título em Dom João Gonçalves de Ataíde, fidalgo da Casa real, neto de Simão Gonçalves da Câmara, capitão donatário da ilha da Madeira, e de sua 2a mulher Dona Isabel da Silva, filha de Dom João de Ataíde, Conde de Atouguia. Passou-se assim: quando morreu, sucedeu na Casa (mas não no título) seu irmão Dom Álvaro Gonçalves de Ataíde, já velho. Era comendador de Santa Maria de Escalhão, casado com sua sobrinha Dona Isabel da Silva, filha de seu primo Luís Gonçalves de Ataíde, senhor das Ilhas Desertas, e de sua irmã Dona Violante da Silva, sem sucessão. O filho destes, Luís Gonçalves de Ataíde, capitão de Ceuta, senhor das Ilhas Desertas, e comendador de Adaúfe na Ordem de Cristo, casou com Dona Violante da Silva, filha de Francisco Carneiro, secretário do Rei Dom João III de Portugal, capitão donatário da Ilha do Príncipe, e de Dona Mécia da Silveira. O 4º Conde de Atouguia será o filho deste casal, João Gonçalves de Ataíde.

Ksar el Kebir


Ksar el-Kebir, norte de Marrocos. A expedição militar para conquistar o Reino de Marrocos enfrentou circunstâncias avassaladoras. O Rei de Portugal tinha arriscado tudo (um exército, uma dinastia e um império) no seu próprio destino. Dom Sebastião, Rei de Portugal, então com vinte e quatro anos, levantou-se cedo na manhã do dia 4 de Agosto de 1578. Sob a tenda acetinada estava inquieto enquanto o vestiam com a sua armadura, por cima da qual foi colocada a túnica de pele para o proteger do calor intenso do sol. Lá fora, o ruído do campo, alto e indistinto aumentava pois o exército também se preparava para a batalha. Nas colinas sobranceiras, o exército marroquino também se agitava. Para Dom Sebastião a luta que se iria seguir foi o fruto do seu trabalho e a culminação de meses da atribulação pessoal. A vitória ansiada, caso acontecesse, iria cobri-lo de honra tal como ele tinha imaginado durante toda a sua jovem vida. Dom Sebastião nasceu em Lisboa no dia 20 de Julho de 1554 durante o reino do seu avô, o Rei João III. Desde o início, a vida de Sebastião teve sempre contornos pouco auspiciosos. A morte do seu pai, dezoito dias antes do seu nascimento, deixou-o como o único herdeiro da Casa de Avis. Os seus súbditos olhavam a criança cândida de cabelo de ouro como a salvação do trono, que de outra forma passaria para a eterna Némesis de Portugal: Espanha. Filipe II, Rei da Espanha, era sobrinho do Rei Dom João III e por isso um potencial pretendente ao trono português. Quando Dom João III morreu em 1557, o tio-avô de Dom Sebastião, o Cardeal Henrique foi nomeado regente até ao ano de 1568, altura em que o jovem então com catorze anos de idade, subiu ao trono como Sebastião I. O império português que ele herdou foi uma vasta rede de fortes costeiros que mantinham abertas as rotas para os entrepostos comerciais que se estendiam desde o oceano Índico passando por África, Sumatra, Sudeste da Ásia, China, Japão e Brasil. A sua expansão sugeria uma vitalidade que era enganadora. Portugal era um império comercial, e o seu poder dependia da sua frota. Pobre demograficamente (estimado em 1 milhão de almas em 1580, numa altura em que a França continha 16 milhões, a Itália 13 milhões, e a Espanha 8 milhões), Portugal não podia colonizar as suas posses. O império assentava em pontos fortes costeiros, cuja segurança era largamente dependente de alianças com clãs-chave e tribos do interior. Além disso, enquanto o império ganhou muito, a sua prosperidade beneficiou poucos. A estrutura social feudal perdurou, com o ‘Rei como poder absoluto da terra’. As limitações do poder português foram evidentes na sua luta com Marrocos. Portugal, que tinha expulsado os mouros em 1249, lançou a primeira cruzada ibérica por terras do Norte de África com captura de Ceuta em 1415. Enquanto a razão central foi proteger o litoral marroquino contra a ameaça constante de corsários, o encorajamento Papal e a descoberta de ouro no Magrebe incentivaram o esforço. Em 1513, os portugueses tinham capturado todos os principais portos marroquinos na costa Atlântica, de Tânger a Agadir. Espanha, juntou-se à caça em 1494, tomando Melila e outras cidades marítimas ao longo da costa Mediterrânea de Marrocos. Nessa altura Marrocos atravessava mais um período de tumulto inter-dinástico. Os sultões Wattasi reinantes, governando uma monarquia que tinha encolhido até pouco mais da cidade de Fez e seus arredores, preferiram chegar a acordo com os invasores. As rivalidades tribais e poderosas ordens de Sufi mantiveram o país fragmentado e cada lado tinha as suas questões práticas: os Cristãos enriqueciam-se pelo mar e os muçulmanos pelo comércio das caravanas trans-saarianas. Era um equilíbrio de poder delicado. Quando em 1508 Portugal começou a interferir com as caravanas comerciais o equilíbrio desfez-se, fornecendo ímpeto à unidade dos muçulmanos. No sul, nas montanhas do Alto Atlas, estalou uma revolta que cresceu à medida que as tribos se foram unindo sob a liderança do Sheik Mohammed, membro do clã Beni Saad. Os Sádidas, como vieram a ser denominados, estabeleceram a sua capital em Marraquexe em 1525. Em 1549 já tinham deposto os Wattasi e unido Marrocos. Nos poucos anos que se seguiram os Sádidas virariam a maré contra os portugueses, culminando com a recaptura de Agadir em 1541. A breve trecho os portugueses evacuariam a maior parte das suas possessões no litoral de Marrocos, mantendo apenas Mazagão, Tânger e Ceuta.



Dom Sebastião cresceu na amargura que se seguiu à vitória Sádidas, e os seus anos de formação moldaram-no para a Cruzada. A educação Jesuíta e intermináveis horas dedicadas ao galante manejo de armas, deixaram a sua marca no jovem descrito como “impulsivo, excitável e quimérico”. O jovem Rei imaginava-se a si próprio como um grande guerreiro Cristão. Marrocos, um velho campo de batalhas, viria a ser como o farol desse destino. Fraco e fragmentado naquele tempo, o país permanecia independente apesar das preocupações dos seus mais poderosos vizinhos. Os estados Ibéricos estavam empenhados em impérios nas Américas e nas Índias, os Otomanos estavam presos em lutas desgastantes no Mediterrâneo Oriental, nos Balcãs e na Pérsia. Estas circunstâncias permitiram a elevação dos Sádidas, mantendo estes a sua autonomia jogando as facções umas contra as outras. Uma crise dinástica prolongada serviu de catalisador à intervenção estrangeira em Marrocos bem como à campanha que iria culminar na planície de Ksar el-Kebir. Esta iria começar quando o governante Saadida, Al-Ghalib, nomeou o seu filho, Moulay Mohammed, como herdeiro do trono em vez do seu próprio irmão mais velho, como era exigido pela tradição. O sultão nomeado tentou de seguida liquidar os seus três irmãos. Evadindo-se àqueles que poderiam vir a ser os seus assassinos, os irmãos escaparam para a Argélia procurando abrigo nas terras Otomanas. A crise foi de certo modo empatada, visto os pretendentes terem cortejado primeiro, o apoio dos Espanhóis e só de seguida o Otomano. Finalmente, em 1575, o demandante sobrevivente mais velho, Abdelmalek, regressou do exílio com um exército Turco e conquistou Fez. Molay Mohammed, que nessa altura já havia sucedido ao seu pai como sultão, fugiu para as montanhas do Atlas. Abdelmalek é uma figura que merece destaque embora tenho sido de certa forma esquecida. Ele saiu demasiado novo para ser recordado pelo seu reino e nenhuma imagem sua sobreviveu. Aquilo que sabemos dele sugere um líder de raras qualidades. Com quinze anos na altura em que fugiu para a Argélia, passou os seus dezoito anos seguintes no exílio. Esse tempo não foi desperdiçado. Abdelmalek, viajou pelo Mediterrâneo, aprendendo a linguagem e os costumes dos povos com quem contactou.



Falava fluentemente Italiano, Espanhol e Turco. As suas visitas pelas terras Otomanas ensinaram-lhe a apreciar o exército Turco bem como as armas de fogo, artilharia e técnicas modernas de combate. Durante vários períodos serviu na marinha Otomana, o último dos quais em 1571 quando, na Batalha do Lepanto, foi feito prisioneiro. Durante o seu curto período como cativo em Orão, Abdelmalek iniciou conversações com potências estrangeiras para tentar obter suporte para reclamar o reino que era seu por direito. Apesar de infrutíferos, esses esforços diplomáticos de Abdelmalek impressionaram todos aqueles com quem contactou, tanto Cristãos como Muçulmanos. Finalmente reclamando o seu trono, o novo sultão teria pouco tempo para consolidar o seu poder. A aparição do exército Otomano em Marrocos provocou grandes preocupações nas cortes de Madrid e Lisboa. Para Dom Sebastião esta era a sua longa e ansiada oportunidade. Imediatamente propôs ao seu tio, Dom Filipe II, de Espanha uma expedição conjunta para auxiliar o Moulay Mohammed. O Rei de Espanha, sempre circunspecto, e vendo em Abdelmalek um sultão “diferente dos outros”, preferiu observar À medida que a situação evoluía. A prudência de Filipe não era sem fundamento. Embora Abdelmalek admirasse os Turcos, estava bem ciente das suas ambições e da ameaça que eles simbolizavam. Alguns anos antes, agentes Otomanos haviam assassinado o seu pai, o Sultão Mohammed ech-Cheikh, quando este não se mostrou manobrável. Havia apenas requerido a sua ajuda militar como último recurso, e tinha prometido bastante por ela (500,000 onças de ouro, o porto da cidade de Larache como importante base atlântica para os corsários Argelinos, e assinado uma aliança contra Espanha). Contudo, o novo sultão Saadida, não tinha qualquer intenção de se tornar num vassalo Otomano. Logo após a sua vitória, Abdelmalek, pagou aos seus Janíçaros mandando-os educadamente de volta à Argélia. Larache, não permaneceria apenas Marroquina, como também Abdelmalek em breve iniciaria aberturas com Espanha para negociar uma aliança defensiva contra os seus patrocinadores Otomanos. Infelizmente, a incapacidade de capturar o seu rival desfez a maior parte dos seus esforços diplomáticos. Enquanto os seus esforços aplacaram Madrid, que estava ansiosa para voltar as suas atenções para a revolta na Holanda, Dom Sebastião não seria tão facilmente satisfeito. Ele continuaria a procurar pretextos para uma campanha militar. Tal foi fornecido pelo Moulay Mohammed, que nos meses subsequentes à sua derrota desenvolveu uma campanha efectiva de guerrilha contra o seu tio. Quando a junção das tribos à sua causa falhou, o sultão deposto solicitou o apoio de Portugal. Em Novembro de 1577 ambos forjam uma aliança. Uma vez mais Dom Sebastião recorre a Espanha a solicitar o seu apoio, que finalmente embora relutante, Filipe concorda em fornecer.



Espanha iria contribuir com 50 galés e 5.000 soldados. Dom Sebastião foi também autorizado a recrutar tropas adicionais e comprar armamento nos domínios dos Habsburgos na Europa. Filipe, contudo, não estava muito convicto da ideia. Nos meses que se seguiram tentou demover o seu obstinado sobrinho de tal demanda. Chegou a informar Don Sebastião da oferta de Abdelmalek para um pacto anti Otomano, apontando para o facto de se poder persuadir o sultão Marroquino a fazer concessões territoriais, e nesse caso nenhuma expedição seria necessária. Dom Sebastião respondeu que “preferiria ter Larache pela força que Fez pela negociação”. Os agentes Espanhóis enviados a Marrocos foram na volta dirigidos a Lisboa reportando ao rei as dificuldades da empresa. Os nobres Portugueses também tentaram demover o seu rei. Duplamente conscientes dos problemas do passado, uma vez que não existia qualquer herdeiro e das ambições de Filipe, eles imploraram ao rei que confiasse a expedição a um subordinado. Os seus esforços foram em vão. O herói caprichoso entregou-se ao seu destino. Como o embaixador Espanhol em Lisboa, Don Juan de Silva escreveu numa carta a Filipe, “Nada pode ser feito. O rapaz (Sebastião) amua”. Filipe observou secamente, “Bem, se ele tiver sucesso teremos um belo sobrinho, se falhar, um belo reino”. A expedição tomou forma persistentemente durante mais de um ano, tempo durante o qual Dom Sebastião laborou para a reunir e financiar. Enquanto os registos variam sobre o tamanho do exército recrutado, a maioria contabiliza forças Portuguesas e Aliadas em aproximadamente 17.000 homens. Era uma verdadeira manta de retalhos, embora tal fosse comum nos exércitos da época. O seu núcleo era composto pela força de elite de 1.500 ‘Aventuros’, um género de voluntários cavalheirescos que serviam a expensas próprias, fazendo a guerra pela glória e pela paixão pelo ensino das artes bélicas. Da nata da nobreza das terras de Dom Sebastião vieram 1.100 ‘Encubertados’, o equivalente à cavalaria pesada. Outros 8.000 soldados de infantaria foram recrutados por todo Portugal e 5.800 tropas estrangeiras, vieram da Alemanha e Castela. A completar esta amálgama estavam 600 soldados Italianos, financiados pelo Papado para uma invasão à Irlanda e divergidos do caminho pelo seu líder, um Inglês de nome Thomas Stukley. As lanças, espadas e adagas eram as armas predominantes. Havia poucos arcabuzes, devido em parte ao elevado custo das armas de fogo. A Artilharia consistia em 36 peças de vários calibres. O exército foi reunido em Lisboa entre o inverno e primavera de 1578. Os preparativos caóticos não fizeram nada para melhorar a coesão entre as forças. Os Italianos, debilmente abastecidos e vexados pelo seu apuro, efectuaram uma série de incursões pelo campo para pilhar comida. Os Alemães chegaram por mar vindos da Antuérpia, com muitos deles doentes. As tropas de infantaria Portuguesas, na sua maioria recrutadas das classes sociais mais baixas, muitos sob coacção, mostravam pouca tendência para lutar. Os de Castela, por outro lado, lutavam com toda a gente. A violência entre os vários contingentes tornou-se tão séria que Dom Sebastião foi forçado a ameaçar os beligerantes com a pena capital. O exército necessitava de treino para se ornar numa força de combate. E disso viria a ter muito pouco. A 15 de Maio, um dia após a chegada dos Alemães, Dom Sebastião declarou abruptamente que os preparativos estavam completos. Mais umas quantas semanas de “completa desordem e confusão”, foram no entanto necessárias antes que o impaciente rei se pudesse fazer ao mar. A 24 de Junho de 1578, a frota Portuguesa ainda em falta de cerca de um quarto das suas forças e a maioria da sua bagagem, dirigiu-se para África. Mas contudo, nem toda a gente ia mal preparada. Enquanto as fileiras rasas e brigantes falavam de fome e apreensão, os 1.100 carros contendo a bagagem dos nobres falavam de circunstâncias bem diferentes e de grandes expectativas. Dos preparativos da nobreza um contemporâneo escreveu “ Em vez de afiarem as espadas, bordam as roupas. Em vez de corpetes vestem-se com jaquetas adornadas a seda e ouro. Carregam-se com doces e finas comidas em vez de biscoitos e água. Competem para conseguirem taças de prata e incontáveis tendas, forradas a seda e cetim. Olham com admiração para o Duque de Barcelos (um menino de doze anos, que substituía o seu pai que estava doente), cujo séquito consistia em nada menos que 22 pavilhões. Em resumo, cada homem estava equipado como um rei.” Tal pompa requeria imensa ajuda, por isso um segundo exército acompanhava as tropas - “ carroceiros, com uma infinidade de pajens, lacaios, servos, escravos, condutores de mulas e criadas para servir, bem como uma larga multidão de mulheres de prazer.” O Núncio Papal e dois bispos estavam à mão bem como dúzias de padres para converter a terra à Cristandade. Até o poeta real estava entre os exploradores desta campanha triunfal. Ao todo, este segundo exército englobava pelo menos 9.000 pessoas. Para os privilegiados, assim como para o rei, isto não era uma guerra. Era uma aventura. Talvez nada seja tão esclarecedor acerca da natureza caótica destes preparativos como a inexistência total de um plano táctico. Desde a partida, o seu único elemento era a tomada de Larache, presumivelmente para servir de base a futuras operações ou de alavanca negocial para regatear possessões aos Sádidas. Para além disto, mais nenhuns detalhes eram conhecidos. A 6 de Julho, numa carta enviada ao seu rei, Don Juan de Silva, que tinha acompanhado a expedição escreveu, “É uma imensa miséria ver o rei partir, sem um único homem que saiba o que iremos fazer, pelo qual ficamos totalmente dependentes de um milagre. Que Deus o conceda!”. Ainda a expedição mal tinha partido e já um sentimento de pessimismo profundo se abatia sobre as tropas. A disciplina era frouxa desde o começo. A frota teve uma partida apressada após o que se dirigiu para África com escalas em Lagos e Cádis. Aí Dom Sebastião passou dez dias ingenuamente À espera que o prometido contingente Espanhol se materializasse (Filipe entretanto já tinha avisado o sobrinho que as dificuldades na Holanda tornavam impossível para ele honrar o seu compromisso). As tropas por sua vez tinham outras preocupações (nomeadamente gozar a hospitalidade local. A folia Portuguesa deixou pouca energia para a segurança e durante várias noites a frota ancorada passou sem ninguém de vigia) algo reveladoras para um agrupamento de 600 velas. Finalmente, os oficiais sentiram-se obrigados a enviar pequenas barcaças para guardar a embarcação real. Partindo de Cádis a 7 de Julho, a frota aportou em Tanger no dia seguinte. Aí o Moulay Mohammed e os seus seguidores se lhes juntaram. Em 11 de Julho, os Portugueses embarcaram o sultão deposto bem como a sua família rumaram para Arzila. Arzila, um pequeno forte costeiro Mourisco a 30 quilómetros a norte de Larache, tinha sido recentemente entregue aos Portugueses por traição do Alcaide local. Aqui foram reabastecidos de água doce e aguardaram pelo remanescente da frota bem como pela bagagem que ainda vinha a caminho. Após passarem dois dias nos navios, a 14 de Julho o desembarque começou. Como a cidadela era demasiado pequena para alojar as tropas, resolveram acampar no exterior das muralhas. Mais doze dias haveriam de se passar antes dos últimos navios chegarem, tempo durante o qual se consumiriam boa parte dos preciosos mantimentos. Desta primeira parte da expedição, Dom Juan de Silva escreveu a Filipe, “Temos andado a queimar tempo há já dezoito dias porque sua Majestade não quis aguardar mais três ou quatro dias em Lisboa e assim levantar âncora com a totalidade da frota; se tivesse zarpado com todos os homens, passados quatro dias estaríamos em Larache.” Os preparativos de Abdelmalek, foram pelo contrário bastante ordeiros. Muito antes de os Portugueses desfraldarem as velas, já ele tinha iniciado a revitalização do exército Saadida, introduzindo métodos militares Turcos, incluindo a equipagem de muitas das suas tropas com armas de fogo e o seu exército com artilharia Europeia bem como de renegados para a manejar. Informado pelos espiões dos preparativos Portugueses, o sultão rapidamente determinou como haveria de os defrontar. De forma a aumentar o seu exército de regulares, Abdelmalek emitiu uma oulema que enviou às tribos convocando-as para a jihad. Ordenou ao seu irmão mais novo, Moulay Ahmed, governador de Fez para que este assediasse os Portugueses onde quer que estes desembarcassem e para que rumasse a sudoeste para que juntassem ambas as forças próximo de Ksar el-Kebir. A 3 de Julho, enquanto os Portugueses celebravam em Cádis, Abdelmalek começou a deslocar-se para norte a partir de Marraquexe com um exército de 14.000 cavaleiros, 2.000 arcabuzeiros e 26 canhões. De Fez, o exército do Molay Ahmed com 22.000 cavaleiros e outros 5.500 arcabuzeiros prepararam-se para se lhes juntar. Em Arzila, os dias letárgicos de verão foram passando, com pouca energia a ser empregue em algo que não fosse festejar, rezar e às quezílias do costume. Duas mil tendas pejavam a planície à volta da cidadela, com nada mais do que as sentinelas como protecção. Dom Sebastião desdenhou que se tomassem mais medidas. A conduta do exército chegou ao ponto de tocar a comédia. Numa noite, um, sentinela Italiano disparou sobre Tomas Stukley quando este inspeccionava o perímetro. No pânico que se seguiu, milhares de soldados correram para a praia em direcção aos batéis que haviam deixado no porto. Don Juan de Silva escreveu, “Havia uma extrema confusão, nenhum homem sabia o que tinha de fazer ou para onde deveria ir, de tal modo que, se tivesse aparecido algum inimigo, teria provocado um terrível massacre sem que com isso sofresse qualquer baixa”. Numa outra ocasião 2.500 cavaleiros Marroquinos efectuaram um raide ao acampamento. Embora os escaramuçadores se tivessem retirado sem fazer grande dano, o caso quase se tornou num grande desastre quando Dom Sebastião chegando tardiamente ao acontecimento, se lançou numa perseguição a cavalo ao inimigo com apenas um companheiro a seu lado. Movidos pelo pânico, os nobres Portugueses partiram no rasto do Rei acabando todos exaustos e de mão a abanar já longe de Arzila. Com as pessoas e a bagagem por fim alojados, no dia 25 de Julho, Dom Sebastião convocou de forma abrupta o ‘Concelho de Guerra’. Nele propôs alterar o plano táctico. Em vez de continuarem com a frota até a sul da Larache, ele agora propunha que se dividissem as forças, enviando o seu almirante, Don Diego de Sousa bem como a frota para Larache, enquanto ele próprio comandaria o exército por terra num movimento flanqueador alargado pelo interior. Aí tomariam a cidadela de Ksar el-Kebir e assim que o fizessem deixariam Larache indefesa a um assalto por terra e por mar. O exército marcharia então para Larache sem oposição. Uma mostra de força pelo interior, continuou ele, oferecia ainda outras vantagens. Poderia mostrar que os Portugueses não se limitariam a tomar uma cidade costeira, o que por sua vez poderia levar à adesão de mais Marroquinos para a causa do Moulay Mohammed. À medida que as dúzias de bajuladores e favoritos reais congratularam o rei, os poucos homens com experiência militar e conhecimento do país ficaram num silêncio petrificador. Cautelosamente, um por um, foram levantando a voz contra o plano do rei. Eles apontavam que desse modo a sua principal arma, o apoio da frota, lhes seria negado, que o exército era demasiado pobre em cavalaria face à do inimigo, que a bagagem e os não-combatentes lhes iriam reduzir a mobilidade e que a marcha seria efectuada sob um terreno inóspito e sob um calor abrasador. Todos os seus apelos e argumentos caíram em orelhas moucas reais. A visão de Dom Sebastião apelava para uma batalha terrestre decisiva, e a vitória era um desfecho há muito, antecipado. E assim o rei dispensou os seus adversários, pois tinha outros obstáculos com que se preocupar. Ele acreditava que as forças Marroquinas não eram em maior número que as suas próprias. E assim continuaria nesta crença, ignorando nos dias seguintes três relatórios de ‘inteligência’ obtidos de viajantes vindos do sul (todos eles confirmando que o exército de Abdelmalek era composto por 50.000 a 70.000, que aguardavam pacientemente ao longo da sua linha de avanço previsível). Dom Sebastião propôs o dia 29 de Julho como a data para a partida. Desconhecido da desordem Portuguesa, enquanto hesitavam em Arzila, é que aos seus destinos estavam no horizonte. Logo após a partida de Marraquexe com o seu exército, Abdelmalek ficou gravemente doente. Circulavam rumores dizendo que tinha sido envenenado. Embora houvesse quem dissesse que teria consumido leite inquinado. Fosse qual fosse a causa, o sultão tanto se debruçou a vomitar que ficou tão fraco que teve de ser transportado durante a maior parte do tempo numa liteira. Apesar do seu sofrimento, Abdelmalek fez ainda um derradeiro esforço diplomático, enquanto se preparava para o pior. A 22 de Julho, escreveu uma carta a Dom Sebastião perguntando, “...que razões vos motivarão a demandar contra nós uma guerra tão injusta, especialmente quando Deus todo, Poderoso parece abominar tais atitudes quando tomadas sem sentido?”. Após relembrar o Rei Português da sua aliança com o Sultão Turco, Abdelmalek rematou com uma oferta de treze léguas de terreno desde a costa para o interior, para que assim construíssem os fortes que precisassem e na área circundante pudessem cultivar tudo o que fosse necessário...”. Ofereceu ainda a Dom Sebastião uma cidade costeira à sua escolha”. Dom Sebastião recusou esta oferta tomando-a como um sinal de fraqueza. Esses dias desperdiçados em Arzila, delapidaram não só grandemente as provisões como também a moral das forças Cristãs. Esta, estava de facto a atingir o seu nadir na véspera da marcha que se seguiu. Na sua última carta para Filipe, Don Juan de Silva escreveu,” Não consigo descrever a Vossa Majestade as dificuldades que nos assolam. Mas temos que considerar quão poucos somos para uma aventura como esta; os soldados são absolutamente inexperientes, indisciplinados, fracamente comandados e sem nenhum líder para além do Rei, que, pela sua excessiva temeridade retirou ao exército qualquer coragem que este tivesse substituindo-a por medo. Finalmente, nem um só oficial se aventura a contradizer o Rei sendo que todos estão certos de que este os está a conduzir para uma morte certa.” O exército Português abandonou finalmente Arzila, numa marcha desengonçada e barulhenta no dia 29 de Julho. Ficaram esmorecidos quase de imediato. O imenso comboio de bagagem vacilava ao longo do terreno rochoso e ondulante. Cada ribeiro seco transformou-se num grande obstáculo. Homens vestidos com lã e armadura pesada, coziam com as temperaturas de 40ºC. Mesmo os nobres e o seu Rei, transportados nas suas carruagens decoradas, deverão ter sentido o desconforto geral. O mais urgente era a falta de provisões. Como era esperado que a marcha para Larache durasse apenas seis dias, a rações foram atribuídas em conformidade com essa duração, ficando a maioria das provisões nos navios da frota. Cada soldado recebeu 9 arratéis de biscoito, 1 libra e meia de queijo e 3 quartilhos de vinho (nas unidades de hoje a ração diária era equivalente a 690 gr de pão, 115 gr de queijo e ¼ de litro de vinho) – uma quantidade manifestamente insuficiente para os rigores da marcha. Muitos dos soldado consumiram metade das suas rações no primeiro dia de marcha. Na noite de 30 de Julho a situação já era tão séria que Dom Sebastião convocou o ‘Concelho de Guerra’ para determinar o que deveria ser feito. Muito para espanto de todos, o Rei aceitou relutantemente a recomendação do Concelho para que se, regressa-se a Arzila. Uma marcha de uns escassos dez quilómetros foi suficiente para deter a poderosa invasão de Dom Sebastião. De um modo semelhante, o destino interveio. O destacamento de cavalaria enviado para avisar a frota do regresso do exército, encontrou o porto vazio. Don Diego de Sousa executou fielmente as ordens do Rei de navegar para Larache. Em lugar da sua frota os Portugueses encontraram o capitão espanhol Francisco Aldaña com um contingente de 500 Castelhanos que tinham acabado de chegar para se juntarem à expedição. O poder de combate extra que traziam foi largamente ofuscado pelo problema de abastecimentos que representavam. O seu impacto mais mediato foi contudo o efeito de restauro da moral Real. Juntando-se ao exército nessa noite, a aparição deste reforço e a partida da frota, foram suficientes para induzir Dom Sebastião a manter o rumo. O exército continuaria a marcha para Ksar el-Kebir. Abdelmalek com o Moulay Ahmed e um exército de 50.000 soldados aguardavam-nos em Suk el-Kamis a 10 quilómetros a sul de Ksar el-Kebir. O estado do Sultão piorou incessantemente deixando-o completamente prostrado na cama, embora continuasse a comandar o exército. Abdelmalek ainda procurava evitar uma grande confrontação, mas procurava assegurar o seu sucesso em caso de tal chegar a acontecer. Nesse sentido, os Marroquinos puseram em prática uma táctica de “terra queimada”, tapando poços, bloqueando fontes, esvaziando celeiros e destruindo tudo o que pudesse ter utilidade para os invasores. Esta táctica rapidamente atingiu os objectivos. Após mais dois dias de marcha, a 2 de Agosto, o exército Português estava à beira de atingir o limite da sua resistência. Nessa noite, outro ‘Concelho de Guerra’ resultou noutra alteração de planos. Foi decidido que se deveria virar para oeste, antes de Ksar el-Kebir, atravessar o rio Loukkos no baixio de Mechara en-Nedjma, e daí seguir o rio para Larache. Foi um erro terrível. Dadas as circunstâncias de grande fragilidade do exército, uma marcha imediata para Larache teria sido a única decisão plausível. Contudo, descendo do terreno elevado e atravessando o rio Loukkos, abdicaram da protecção relativa que estes factores proporcionavam e expuseram os Portugueses a ataques. Em acréscimo, para chegarem ao rio Loukkos, teriam de atravessar um dos seus afluentes, o Makhazen (que chegava a ter 50 metros de largura, dotado de margens íngremes e com águas de maré traiçoeiras). A sul do Loukkos, as linhas de retirada dos Portugueses estariam cortadas não apenas por um, mas por dois grandes obstáculos. No dia seguinte, a 3 de Agosto, os Portugueses chegaram ao rio Makhazen. Encontrando a ponte que tencionavam usar ocupada pelo inimigo, foram atravessar o rio num baixio cinco quilómetros a jusante. Dom Sebastião ordenou que se montasse acampamento a sul do local onde tinham atravessado rio num vasto e descampado beco-sem-saída que era a confluência entre os rios Makhazen e Loukkos. O Rei seleccionou o terreno por o achar adequado a “lindíssimas cargas de cavalaria e altos feitos de armas”. As suas tropas estavam dificilmente capazes de alguma dessas coisas. O exército tinha percorrido menos de 40 quilómetros desde a partida de Arzila, e o seu percurso tinha ficado pejado de pertences, quer supérfluos quer essenciais (bagagens, armaduras e até muitos dos canhões foram sendo deixados para trás). Mesmo quando assentaram acampamento, a artilharia que ainda restava ficou retida na margem norte do rio. As águas do Makhazen subiram enquanto atravessavam e o baixio mais próximo do Loukkos distava 5 quilómetros. Quando Abdelmalek soube que Dom Sebastião tinha abandonado a sua posição estratégica por um campo em planície aberta ficou espantado. “Então os Portugueses estão verdadeiramente perdidos!” terá exclamado.



Avaliando que tudo estava a seu favor, o Sultão moveu as suas tropas para norte para bloquear a aproximação ao baixio de Mechara en-Nedjma. Nessa noite, os Portugueses reunirão em mais um sinistro ‘Concelho de Guerra’. A situação difícil em que o exército se encontrava era aparente até para Dom Sebastião. Os Marroquinos, acampavam agora totalmente visíveis, mostrando-se muito superiores em número. O avanço estava barrado, a retirada era precária e as tropas mal se aguentavam fisicamente. Muitos tinham comido pouco ou nada nos últimos dias. A discussão foi, por uma vez, franca. A decisão restringiu-se a saber se se deveria iniciar a batalha ou não. Muitos aconselharam a defesa, entrincheirar-se com o rio a proteger o flanco, baseando-se na infantaria e nas lanças para deter a cavalaria superior do inimigo. Mesmo assim ouve outros, o Capitão Aldaña acima de tudo, que argumentaram que o exército não tinha condições para aguentar um cerco e deveria forçar uma saída. Pressionaram o Rei para atacar de madrugada, tentando apanhar o inimigo desprevenido. Finalmente o Moulay Mohammed falou. Aconselhou o rei a adiar o ataque para mais tarde durante o dia. Espiões tinham reportado que o seu tio estava à beira da morte e a morte de sultão em tal ocasião poderia minar a moral do exército Saadida. Caso falhasse este golpe de sorte, um ataque tardio ofereceria a possibilidade de uma retirada nocturna caso viesse a ser necessária. Dom Sebastião, nunca inclinado a receber conselhos, não seria desta que os receberia, ainda por cima considerando de quem vinham. O Rei ordenou um ataque ao raiar da aurora. Enquanto os Portugueses boleavam ao longo do Makhazen, o Sultão dispôs as suas forças em forma de quarto crescente à sua frente. O terreno no vale de Loukkos favorecia de facto o uso dos cavalos, como Dom Sebastião tinha realçado. A formação em crescente, que o Sultão tinha aprendido com os Turcos, oferecia aos Marroquinos a possibilidade de flanquear e envolver os Cristãos, antes que estes pudessem lançar um ataque frontal. Dispostos na frente da zona central da formação Muçulmana estavam os 34 canhões do Sultão, instalados em suportes e camuflados com ramos de árvores. Atrás das peças, organizada em três linhas estava a infantaria. As melhores tropas ocupavam as primeiras duas linhas, 3.000 Andaluzes seguidos de igual número de renegados de sangue principalmente Europeu e finalmente 5.000 soldados Mouros e Árabes incluindo 3.000 arcabuzeiros montados. A restante cavalaria, chegando a 25.000 unidades, comandada pelo Moulay Ahmed, foi mantida de reserva atrás da infantaria, pronta a atacar em qualquer direcção. Com as tropas em posição, nessa tarde o Sultão levantou-se do seu leito para falar ao seu exército. Era a primeira ocasião em que o viam em três semanas. Numa magnífica montada branca, Abdelmalek foi transportado sob o toldo real de cetim e ouro, rodeado pela sua guarda pessoal de 200 homens e precedido por dúzias de trombeteiro e tocadores de tambor. Antes deles, cavaleiros transportavam cinco estandartes verdes sagrados do Islão. Toda a cerimónia amplificava a emoção intensa das circunstâncias. Quanto Abdelmalek se aproximou, as suas tropas souberam que estavam perante um homem moribundo. Enquanto as vestes esplêndidas do sultão ocultavam a faixas que o prendiam à cela, nada podia camuflar a pálida e ressequida face. “Oponham-se a eles (aos Portugueses) com o vosso valor”, exortou ele com voz firme, “pois vós lutais na mais nobre das causas: a qual previne a mágoa às vossas famílias, mantém a liberdade, conserva a vida, adquire a honra e vivendo ou morrendo conforme vier a acontecer, conduz ao paraíso!” A noite calma, apenas interrompida pelo relinchar ocasional dos cavalos, irrompeu num coro: “Allah Akbar! Yahya l-Malik! Yahya Islam!” A manhã de 4 de Agosto de 1578 encontrou ambos os lados sem pressa para lutar. Os Marroquinos aguardaram enquanto os Portugueses rebocavam a artilharia remanescente através do rio Makhazen e instalavam as suas forças. Quando por fim Dom Sebastião emergiu da sua tenda, o sol já ia alto num céu sem nuvens. O rei montou o cavalo preto que os pajens haviam mantido em prontidão desde madrugada. Anunciou que daria ordem para atacar, acrescentando que o exército apenas deveria responder à sua própria voz de comando. A seguir Dom Sebastião juntou-se aos nobres. Os bispos de Coimbra e do Porto conduziram uma bênção solene, onde foi agradecida a Deus a vitória que se deveria seguir. Entre as fileiras, dúzias de padres circulavam entre os veteranos pensativos e os assustados recrutas, oferecendo um apelo mais fraterno. Às dez horas da manhã, as tropas Portuguesas iniciaram o avanço em direcção ao Loukkos e ao exército Marroquino que os aguardava. Obrigados a terem de defender os não combatentes, e parcos em cavalaria, o exército Português organizou-se para o ataque numa disposição de um vasto quadrado. A pouca artilharia disponível (talvez tão pouca quanto seis peças!) foi instalada na frente onde poderia vir a ter algum efeito na carga inicial. A seguir encontrava-se a guarda avançada, consistindo nas poucas tropas fiáveis (os regimentos Italianos e Castelhanos à esquerda, os Aventuros ao centro e os Alemães à direita). Apesar da formação em quadrado depender fortemente do apoio mútuo entre lanceiros e arcabuzeiros, a defesa nesta altura crítica eram quase totalmente compostas apenas por lanceiros. Os pequenos grupos de arcabuzeiros defendiam os flancos de cada regimento. A cavalaria foi instalada na frente de ambos os flancos, ficando o maior contingente de cerca de 1.000 cavaleiros à esquerda sob comando de Dom Sebastião. À direita Dom Duarte de Meneses e o Duque de Aveiro comandavam os seus destacamentos de 500 cavaleiros cada, conjuntamente com uma terceira força de 600 Cavaleiros Mouros e 200 arcabuzeiros sob comando do Moulay Mohammed. O corpo principal compunha-se por cinco regimentos que formavam os lados esquerdo, direito e retaguarda do quadrado. Cada um destes flancos era defendido por um regimento de infantaria Portuguesa. Os soldados estavam escudados de cargas de cavalaria por duas longas linhas formadas pelas carroças e carros atrelados, reforçados por alguns arcabuzeiros formados em coluna em ambos os lados do quadrado. A retaguarda consistia em três regimentos, dois compostos principalmente por Aventuros inexperientes a flanquear um regimento central de arcabuzeiros. No interior do quadrado agitavam-se os não combatentes responsáveis pelo comboio de bagagem (uma horda caótica de homens, bestas e atrelados que deve ter coberto vários hectares). Os 500 castelhanos desarmados estavam algures entre eles. Metade da força e a maioria dos arcabuzeiros foram destinados a funções puramente defensivas. O exército não podia poupar nenhuma reserva. Uma hora de marcha ansiosa colocou os exércitos ao alcance e às 11 horas da manhã a batalha começou com uma salva da artilharia Marroquina. A cavalaria Mourisca apareceu de súbito das pregas do terreno, circundando os Portugueses. Estes tinham marchado para o coração do quarto crescente inimigo. Sem se perturbar, Dom Sebastião deu ordem de ataque à guarda avançada. Haveria de ser a última ordem que deu ao exército. Gritos de “Avis e Cristo” e “Bismillah” encheram o ar à medida que as infantarias Cristã e Moura surgiam através da sua artilharia em direcção uma à outra. A reputação impetuosa dos Aventuros não falhou ao seu exército, enquanto estes carregavam sobre os Andaluzes com gosto. Os arcabuzeiros Muçulmanos descarregaram, esburacando as fileiras, mas a lentidão da recarga permitiu as Portugueses cerrar fileiras. Os lanceiros então entraram em acção desalojando os Muçulmanos das suas posições gerando o caos no centro da sua formação. Por momentos a vitória pareceu estar ao alcance. Então, Pedro de Lopes, o sargento-mor dos Aventuros, emitiu o comando fatal, “Parem, Parem, Voltem para trás!”. A carga da guarda avançada tinha aberto um espaço grande entre este regimento e o corpo principal, a partir do qual a cavalaria inimiga se estava a infiltrar. Receando ver-se cercado e isolado do restante contingente, Lopes deu a ordem de paragem mesmo quando os seus homens estavam prestes a tomar a artilharia inimiga. Os contingentes Italiano, Castelhano e Germânico que se dirigiam ao centro, também hesitaram e depois pararam. Num instante, o momento do ataque, e com ele a vantagem conferida pelos lanceiros, estava perdido. Os renegados e as reservas Mouras preencheram as baixas das fileiras Andaluzas restantes. A guarda avançada Cristã, cercada e grandemente ultrapassada em números, cedeu terreno e a sua artilharia foi tomada. Ao ver a situação gravosa em que se encontrava a guarda avançada, o Duque de Aveiro lançou um ataque arrojado contra a direita Marroquina. Conduzindo os contingentes de Dom Duarte de Meneses e do Moulay Mohammed, o Duque lançou uma tal carga de cavalaria que levou uma grande quantidade de cavaleiros inimigos a sumirem do campo de batalha. Muitos destes não pararam até chegarem a Fez (a mais de 100 km de distância). Reagrupando os seus homens o Duque levou-os pessoalmente a atacar o flanco esquerdo do exército principal inimigo que na altura se encontrava exposto. A infantaria Moura, que ainda estava a reagrupar da carga inicial, foi lançada para a desordem e dois dos cinco estandartes do Sultão caíram para os Portugueses. “Acreditem em mim”, escreveu o médico judeu de Abdelmalek, “pensávamos que tudo estava perdido”. No entanto, mais uma vez o momento foi perdido. Os ataques Cristãos eram descoordenados e acima de tudo, não havia reservas para explorar os sucessos. A cavalaria do Duque de Aveiro foi-se dispersando e antes que pudesse reagrupar a cavalaria Moura de reserva contra-atacou. Os cavaleiros Portugueses que não foram rodeados e subjugados foram perseguidos erraticamente até às suas próprias linhas, tropeçando e semeando o caos entre a infantaria germânica já de si exausta. O mesmo se passou com o flanco esquerdo. À medida que a cavalaria do Duque de Aveiro era repelida, os seus camaradas do flanco esquerdo atacaram a cavalaria Moura que estava à sua frente. Mais uma vez o sucesso inicial foi deitado por terra após não conseguirem reagrupar a tempo de se defenderem do contra-ataque levado a cabo pelas reservas Mouras. Também neste caso foram perseguidos até às suas próprias fileiras, tendo desta vez atropelado os regimentos Italiano e Castelhano. Com esta acção a cavalaria Portuguesa foi efectivamente destruída. A iniciativa passou então completamente para o lado Marroquino. O exemplo dado por Dom Sebastião, mais do que o comando, teria de fornecer a margem necessária para a vitória. Nesse dia, estava determinado a provar que a coragem física não era um dos seus muitos defeitos. Na periferia da batalha, o rei deixou o grupo de cavalaria do flanco esquerdo para se juntar à luta que estava a ser levada a cabo pela guarda avançada. A partir desse momento, o seu exército ficou sem direcção, à medida que os seus comandantes abdicavam para a luta. Se ele pouco fez para assegurar o sucesso do exército, quando a maré virou, Dom Sebastião lutou como um leão para o tentar salvar da aniquilação. O jovem Rei lutou com uma coragem fanática, acudindo aqui e além, organizando reforços e conduzindo cargas de cavalaria numa tentativa fútil de manter o quadrado coeso. Mesmo ferido num braço e tendo já três das suas montadas sido atingidas, Dom Sebastião estava implacável. Foi dito que nesse dia ele terá morto tantos inimigos como qualquer outro soldado da frente. A cavalaria Mourisca tinha por essa altura cercado, toda a formação Cristã, começando a penetrar as linhas de carroças atacando os desafortunados Portugueses. Alguns lutaram pela própria vida, outros fugiram para se esconderem entre os não combatentes. Muitos largaram as armas e imploraram por misericórdia, apenas para se verem trespassados pelas cimitarras. O pânico instalou-se quando o quadrado de comprimiu para o próprio centro, Não havia, sitio para sair nem para homens nem para as bestas. Uma testemunha ocular escreveu, “Este exército que ocupava uma área com 3 milhas de diâmetro, foi num instante consumido pela espada, e tanto se apertou pelo medo, que caberia num pequeno quarto.” Mesmo assim, nesta hora de desespero, brilhou ainda um súbito vislumbre de esperança. Um nobre lutando pelo caminho para se juntar ao seu rei, gritou, “Coragem, Coragem! O sultão está morto!”. O que era verdade. Abdelmalek, na sua fúria por ver as suas tropas rechaçadas pela carga do Duque de Aveiro, esforçou-se para sair do leito numa tentativa de estancar a maré. O último esforço do Sultão esvaiu-se, quando este era montado no seu cavalo, desfalecendo para os braços dos seus ajudantes. Trinta, minutos depois o Sultão estava morto. Felizmente, para os Marroquinos, o Sultão tinha antecipado esta possibilidade. De acordo com instruções dadas anteriormente, o reino e o comando passou integralmente para o Moulay Ahmed. A morte do Sultão deveria ser mantida em segredo até ao fim da batalha. Mesmo assim, as novas da morte de Abdelmalek chegaram aos ouvidos de ambos os exércitos, embora demasiado tarde para influenciar o desfecho da batalha. O exército Português, atacado fortemente por todos os lados começou a desintegrar-se. “Nem um de nós irá passar de hoje” vaticinou o Capitão Aldaña. Com a falta da guarda avançada os flancos foram esmagados, lutaram de forma galante mas com as forças a falharem. Por esta altura, já estavam a lutar há horas e sem se vislumbrar nenhuma paragem. A maioria das lanças havia sido perdida ou quebrada e as poucas armas de fogo eram insuficientes para manter o inimigo à distância. Os números dos Muçulmanos já haviam feito mudar a maré do ataque e agora a sua superioridade numérica fazia-se sentir cruelmente. Os seus arcabuzeiros montados investiam em vagas sucessivas, aproximando-se até quase dispararem à queima-roupa após o que se retiravam para recarregar. Os Italianos e Castelhanos, estocavam os seus atormentadores com adagas, matando centenas, mas mesmo assim o Muçulmanos continuavam a vir. O corpo principal, agora uma massa amorfa de homens, bestas e carga, dizimada por fogo incessante de ambos os lados, estava paralisado com medo. 



A retaguarda foi completamente dissolvida. Uma tentativa de reforço liderada por Dom Sebastião À frente de 500 soldados chegou tarde de mais para restaurar a situação. A batalha tornou-se então numa matança, a partir da qual poucos tiveram oportunidade de escapar. Moulay Mohammed foi dos poucos a conseguir fazê-lo. Nunca entusiasmado com o plano de Dom Sebastião, foi rápido a descomprometer-se quando viu a situação a deteriorar-se. Após a cavalaria inimiga ter suplantado o efectivo do Duque de Aveiro e o seu próprio, o Molay Mohammed conjuntamente com uma mão cheia de seguidores mais próximos tentaram salvar-se fugindo para trás na direcção do Makhazen, presumivelmente pelo mesmo baixio que os Portugueses tinham utilizado no dia anterior. Contudo, as águas de maré estavam altas por volta do meio-dia e o Sultão deposto não sabia nadar. Derrubado do cavalo durante a travessia, ter-se-á afogado nas correntes repentinas. O fim estava próximo. Um por um, os magotes de homens que antes eram regimentos sucumbiram à matança incessante. Os Aventuros, depois os Italianos e a seguir os Castelhanos foram sendo subjugados. Algures entre a milícia sobrevivia um punhado de Alemães e um pequeno grupo que restava das tropas do Duque de Aveiro, incluindo o Duque, Dom Sebastião e Dom Duarte de Meneses. Os nobres imploraram ao rei que se salvasse. “Que recursos nos restam?” um, terá perguntado. “O céu, caso o tenhamos merecido através dos nossos feitos!” o rei respondeu, e carregou uma vez mais sobre o frenesim. Em minutos estava morto. O golpe de misericórdia veio cruelmente e de um quadrante inesperado. Um enxame de irregulares Árabes que se haviam mantido na periferia da batalha, impacientes para se juntarem À pilhagem que por essa altura esta a começar, interveio apressando o fim. Caíram sobre os exaustos e ensanguentados sobreviventes e com os seus toscos instrumentos os atingiram e foram derrubando. Entre os últimos a cair estavam o Duque de Aveiro e Thomas Stukley. Eram 5 horas da tarde quando a batalha terminou. Para os milhares de não-combatentes, o horror estava apenas a começar. A ‘Batalha dos Três Reis’, conforme descrita pelos cronistas Europeus para os monarcas caídos, não requeria quaisquer floreados dramáticos para os Portugueses. Numa única tarde a fina flor da nação tinha sido eliminada. Entre os cerca de 8.000 mortos estava a elite militar de Portugal. Praticamente nenhuma família nobre em Portugal ficou intocada pela tragédia. Das 26.000 almas, menos de 100 lograram escapar à carnificina e terão conseguido chegar a Ceuta ou a Tanger. Era um custo humano devastador que poderia ter sido bem pior caso os Marroquinos tivessem adoptado o método Turco de lidar com os prisioneiros. Em vez disso seguiram a sua antiga tradição económica de negociarem os prisioneiros mediante resgate. Muitos dos 18.000 prisioneiros entre os quais Dom Juan de Silva e o Duque de Barcelos viriam a ser repatriados. As baixas Marroquinas foram contabilizadas como sendo provavelmente na ordem dos 5.000 mortos e muitos mais feridos. Nenhuma das suas perdas seria contudo mais trágica do que a de Abdelmalek, cuja morte heróica aos 35 anos privou as suas gentes de uma liderança capaz que há muito ansiavam. Para Portugal as consequências da derrota foram imediatas e com um vasto alcance. Não só a sua era de poder terminou abruptamente, como a sua própria existência como país ficou periclitante. Um escritor contemporâneo escreveu de Lisboa, “Não consigais imaginar quão grandes foram as lamentações, o desespero e o luto, não apenas nesta cidade como em todas as terras. Os homens andam como que atordoados. O carpir das mulheres era tão alto que podia ser comparado com o que foi ouvido após a tomada da Antuérpia. É uma horrível situação terem perdido num só dia o Rei, os seus maridos os seus filhos... Mas aquilo que é verdadeiramente terrível é que este reino cairá agora sob o jugo Espanhol, que de tudo será o mais difícil de suportar.” Estas palavras foram proféticas. A coroa passou para o já idoso Cardeal Dom Henrique, que faleceu em 1580 sem deixar herdeiro. O infeliz país, despojado das riquezas, sem liderança e sem exército, estava à mercê de Espanha. Nesse ano, o Rei Dom Filipe II de Espanha proclamou o seu intento, o qual o Duque de Alba e o exército Espanhol trataram de obrigar. A coroa passou assim para Espanha num casamento tumultuoso que haveria durar até 1640. Tal como Dom Quixote e os seus moinhos, Dom Sebastião haveria de alcançar a imortalidade de forma improvável, para quem sofreu uma derrota. Do interior do território Português ocupado surgiu uma forma de culto messiânico a que se poderá chamar “Sebastianismo” entre aqueles que preferiam acreditar que o rei não havia morrido e que um dia iria regressar para libertar o país da Espanha. Enquanto as rebeliões inspiradas pela ideia falharam, a lenda continuou. Ainda hoje, o ‘Sebastianismo’ sobrevive como ideal nostálgico para algo inatingível. Para Marrocos, a ideia da vitória foi mais duradoura do que o seu resultado. Problemas de sucessão e rivalidades tribais impediram os Sádidas de traduzirem este sucesso para uma dinastia duradoura. Moulay Ahmed, que ficou para a história como “El Mansour” (o Vitorioso) seria o último dos sultões Sádidas. Nos séculos que se seguiram, a luta de Marrocos contra o domínio estrangeiro haveria de continuar. Enquanto a luta nem sempre foi sucedida, foi a partir deste ensaio que os Marroquinos forjaram a sua identidade nacional.



Este anexo é composto por uma lista de militares portugueses falecidos na Batalha de Alcácer-Quibir no dia 4 de Agosto de 1578, que no total foram mais de 9.000 homens.

El Rei Dom Sebastião de Portugal “O Desejado”. Dom Afonso de Noronha, conde de Odemira. Dom Afonso de Portugal, 2.º conde de Vimioso. Afonso Serrão, cunhado de Rui de Sousa. Agostinho Pereira. Aires de Miranda. Dom Aires da Silva, bispo do Porto. Alexandre de Melo, filho de Garcia de Melo. Alexandre Moreira. Dom Álvaro de Castro, "O Romanisco". Álvaro Coutinho. Dom Álvaro de Melo, sobrinho do Conde de Tentúgal. Álvaro Pais Sotomaior. Álvaro Pires de Távora, filho de Rui Lourenço de Távora, da Pesqueira. Ambrósio da Costa, cunhado de Miguel de Moura. André de Albuquerque. André Gonçalves, alcaide-mor de Sintra. André Pires, filho de Álvaro Pires. António de Carvalho, de Setúbal. Dom António da Costa, filho de Dom Gil Eanes da Costa. António Jaques. António Lobo, alcaide-mor de Monsaraz, e um filho do mesmo nome. Dom António de Meneses, filho de Dom Pedro de Meneses, Senhor de Cantanhede. António de Moura, filho de Álvaro Gonçalves de Moura. Dom António de Noronha. António Pires de Andrade, filho de Álvaro Pires de Andrade. António de Sousa, filho de André Salema. António de Sousa, filho de Diogo Lopes de Sousa. Dom António de Vasconcelos. António Velho Tinoco.      Bartolomeu da Silva. Bernardo de Melo. Brás de Lucena, filho de Sebastião de Lucena. Cristóvão de Alcáçova, filho de Pedro de Alcáçova Carneiro. Cristóvão de Brito. Cristóvão de Távora, filho de Bernardim de Távora.     Cristóvão de Távora, filho de Lourenço Pires de Távora. Dom Diogo de Castelo Branco, irmão de Dom Martinho de Castelo Branco. Dom Diogo de Castro, da Casa do Torrão. Diogo da Fonseca Coutinho.      Diogo Lopes da Franca.    Diogo Lopes de Lima. Diogo de Melo, filho de Garcia de Melo. Dom Diogo de Meneses, filho de Dom Fernando de Meneses, da casa dos Condes de Viana. Dom Diogo de Meneses, irmão de Dom Pedro de Meneses, da Casa de Cantanhede. Diogo Serrão, cunhado de Rui de Sousa. Duarte Dias de Meneses. Duarte de Melo. Dom Duarte de Meneses, filho de Dom Garcia de Meneses. Duarte de Miranda. Fr. Estêvão Pinheiro. Estêvão Soares de Melo. Dom Fernando Mascarenhas. Fernão Barreto, filho de Belchior Barreto. Fernão Martins Mascarenhas. Fernão Rodrigues de Brito. Fernão de Sousa. Francisco Barreto, filho de Nuno Rodrigues Barreto. Francisco Casado de Carvalho. Dom Francisco Coutinho. Francisco Domingues de Beja, filho de Rodrigo Afonso de Beja. Francisco Henriques. Francisco de Melo, filho de Simão de Melo. Dom Francisco de Meneses, filho de Dom Fernando de Meneses. Dom Francisco Manuel, filho de Dom João Manuel. Dom Francisco de Moura, filho de Dom Luiz de Moura. Dom Francisco Pereira. Francisco Sodré. Francisco de Távora, Coronel do terço do Algarve. Dom Francisco de Villaverde, filho de Dom Pedro de Villaverde. Garcia Afonso de Beja, filho de Rodrigo Afonso de Beja.   Garcia de Melo, filho de Simão de Melo. Dom Garcia de Meneses, da casa dos Condes de Viana. Gaspar da Costa, físico-mor do Reino. Gaspar Nunes. Dom Gaspar de Teive. Gomes Freire de Andrade de Bobadela. Gomes de Sotomaior. Dom Gonçalo de Castelo Branco, filho de Dom Afonso de Castelo Branco. Gonçalo Nunes Barreto, alcaide-mor de Loulé, filho de Nuno Rodrigues Barreto. Gregório Sanches de Noronha. Gregório Sernache, do Porto. Henrique Correia da Silva, filho de Ambrósio Correia. Henrique de Figueiredo. Henrique Henriques de Miranda, alcaide-mor de Chaves. Dom Henrique de Meneses, “o Roxo”, filho de Dom Diogo de Meneses, da Casa do Louriçal. Dom Henrique de Meneses, filho de Dom Francisco de Meneses, da Casa de Tarouca. Dom Henrique Moniz, sobrinho de Dom António Moniz. Dom Henrique Telo de Meneses, irmão de Dom Jorge Telo de Meneses, pagem do guião. Dom Jaime de Bragança, irmão do Duque de Bragança. Dom João, Jerónimo de Freitas. Dom Jerónimo de Saldanha, filho de Dom Luis de Saldanha. Jerónimo Teles, filho de Fernão Teles, de Santarém. Dom João de Abrantes. Dom João de Almeida, filho de Dom Duarte de Almeida. João Álvares da Cunha. João Brandão de Almeida. João de Carvalho Patalim. Dom João de Castelo Branco, filho de Dom Simão de Castelo Branco. Dom João Roiz de Castelo Branco, filho de Dom Martim Vaz de Castelo Branco. João da Cunha, Comendador de Malta. João da Gama. João Gomes Cabral. Dom João Henriques. Dom João Manuel. Dom João Mascarenhas, filho de Dom Vasco Mascarenhas. João Mendes Morgado de Oliveira. João de Mendonça Furtado, antigo Governador da Índia. Dom João de Meneses, filho de Dom Manuel de Meneses, da Casa do Lounçal. Dom João de Meneses, filho de Dom Pedro de Meneses, Senhor de Cantanhede. Dom João Pereira, filho de Dom Francisco Pereira. Dom João de Portugal, filho de Dom Francisco de Portugal. Dom João de Portugal, filho de Dom Manuel de Portugal. João Quaresma, filho de Manuel Quaresma Barreto. Dom João de Sá, filho de Dom Duarte de Sá. João da Silva, filho de Lopo Furtado de Mendonça. João da Silva, filho de Lourenço da Silva, Regedor da Justiça. João da Silveira, de Beja. João da Silveira, de Évora. Dom João da Silveira, filho do Conde da Sortelha. Jorge da Costa. Dom Jorge de Faro, primo do Conde de Odemira. Dom Jorge de Lencastre, Duque de Aveiro, e seu primo do mesmo nome. Dom Jorge de Lencastre, primo do Duque de Aveiro e com o mesmo nome que este. Dom Jorge de Melo, de Portalegre. Dom Jorge de Melo Coutinho, de Santarém. Jorge de Melo da Cunha. Jorge da Silva, tio de Lourenço da Silva. Dom Jorge da Silva da Gama, filho de Dom Duarte da Gama. Leonel de Lima, filho de Jorge de Lima. Dom Lopo de Alarcão. Lopo Mendes de Barros. Lopo de Sousa. Lopo Vaz de Sequeira. Lourenço Amado. Lourenço Guedes. Lourenço de Lima, filho de Jorge de Lima. Dom Lourenço de Noronha, filho do Conde de Linhares. Lourenço da Silva, Regedor da Justiça. Lourenço de Sousa, filho de André Salema. Lucas de Andrade. Luís de Alcáçova, filho de Pedro de Alcáçova Carneiro. Dom Luís de Almeida, irmão do Arcebispo de Lisboa. Dom Jorge de Almeida. Luís Alvares de Távora, Senhor do Mogadouro. Luís de Castilho. Dom Luís de Castro, filho de Dom Álvaro de Castro. Dom Luís Coutinho, Conde do Redondo. Dom Luís Coutinho, cunhado de Dom Miguel de Noronha. Dom Luís de Meneses, filho de Dom Aleixo de Meneses. Dom Luís de Noronha, alcaide-mor de Monforte. Manuel Correia Baharem. Manuel Correia Barreto. Manuel Côrte-Real. Manuel Fradique. Dom Manuel de Lacerda, alcaide-mor de Sousel. Manuel de Mendonça Cação, filho de João de Mendonça Cação. Dom Manuel de Meneses, Bispo de Coimbra. Manuel de Miranda. Dom Manuel de Noronha, filho de Dom Gomes de Noronha. Dom Manuel de Portugal, filho do Conde de Vimioso. Manuel Quaresma Barreto. Manuel Rolim. Manuel de Sousa, aposentador mor. Manuel de Sousa, filho de André de Sousa. Manuel Teles, filho de Fernão Teles, de Santarém. Martim Afonso de Sousa, filho de Pedro Lopes de Sousa. Martim Gonçalves. Martim Gonçalves da Câmara, filho de Luiz Gonçalves de Ataíde. Martim de Melo Soares. Martim de Távora. Dom Martinho de Castelo Branco, Senhor de Vila Nova de Portimão. Mateus de Brito, filho de Lourenço de Brito. Dom Matias de Noronha. Miguel de Abreu, irmão de Lopo de Abreu. Miguel Cabral. Dom Miguel de Meneses, filho de Dom Manuel de Meneses, da Casa do Louriçal. Nuno Freire de Andrade, filho de Gomes Freire de Andrade, de Bobadela. Dom Nuno Manuel. Pedro Alvares de Carvalho, irmão de Francisco Casa do de Carvalho. Pedro de Carvalho Patalim, filho de João de Carvalho Patalim. Dom Pedro de Castro, alcaide-mor de Melgaço. Dom Pedro da Cunha. Pedro Lopes de Sousa, filho de Martim Afonso de Sousa, governador da Índia. Pedro Lopes Godinho, filho de Sebastião Lopes Godinho, de César. Dom Pedro Mascarenhas, irmão de Dom João Mascarenhas. Pedro de Mesquita, bailio de Leça. Pedro Moniz, filho de Bernardo Moniz. Dom Pedro de Noronha, filho do Conde de Linhares. Dom Pedro da Silva, de Elvas. Dom Pedro de Villaverde. Dom Rodrigo de Castro, da Casa do Torrão. Rodrigo de Castro, sobrinho de Dom Rodrigo de Castro da Casa do Torrão e com o mesmo nome deste. Dom Rodrigo de Melo, filho do Conde de Tentúgal. Dom Rodrigo Lobo, Barão de Alvito. Rui de Figueiredo. Salvador de Brito, alcaide-mor de Alter do Chão. Dom Sancho de Faria. Dom Sancho de Noronha. Sebastião Gonçalves Pita. Sebastião de Sá, irmão de Francisco de Sá de Meneses. Sebastião da Silva, filho de Fernão da Silva. Dom Simão de Meneses, filho de Dom Diogo de Meneses, da Casa do Louriçal. Dom Simão de Meneses, filho de Dom Rodrigo de Meneses, da mesma casa. Simão da Veiga. Tomé da Silva. Vasco Coutinho. Dom Vasco da Gama, 3.º conde da Vidigueira.

Batalha do Cabo Rachado

A 'Batalha do Cabo Rachado deu-se em 18 de Agosto de 1606 no estreito de Malaca entre uma armada portuguesa comandada pelo Vice-Rei da Índia, Dom Martim Afonso de Castro, e uma armada holandesa comandada por Cornelis Matelieff de Jonge, tendo-se saldado numa vitória táctica portuguesa, já que os navios da VOC retiraram com baixas superiores às portuguesas. Contudo a vitória não foi convenientemente explorada pelo Vice-Rei o que mais tarde levou à sua derrota.

Batalha de Suvali

A Batalha de Suvali ocorreu a 29-30 de Novembro de 1612, na costa de Suvali, numa aldeia perto da cidade de Surrate, Guzarate, Índia. Nesta batalha confrontaram-se quatro galeões da ‘Companhia Britânica das Índias Orientais’, o ‘Red Dragon’, o ‘Hosiander’, o ‘James’ e o ‘Solomon’ sob o comando do Capitão-Mor Thomas Best, contra quatro naus e 26 barcas Portuguesas (barcos a remo sem armamento) desconhece-se quem era o Capitão das forças portuguesas. Os Ingleses saíram vitoriosos desta pequena batalha que marca o início do fim do monopólio Português na Índia e o começo da ascensão da presença da ‘Companhia Britânica das Índias Orientais na Índia’. Impacto sobre os Mongóis. Este evento impressionou suficientemente o Sardar (governador) de Gujarat, que relatou ao Imperador. Em seguida, o Imperador foi mais favorável para com os ingleses do que com os portugueses. Outro factor que pode ter influenciado foi a de que os portugueses foram muito anti Islão, e muitas vezes perseguindo os navios com peregrinos a Meca-vinculados ao longo da costa oeste da Índia.

Batalha de Goa


A Batalha de Goa foi uma batalha naval travada em 1638 no Estado Português da Índia Goa, entre as forças portuguesas comandadas pelo Vice-Rei do Estado Português da Índia, Dom Pedro da Silva e o Governador da Índia, António Teles de Meneses, contra a armada holandesa comandada por Admiral Adam Westerwolt. As tropas holandesas foram enviadas para bloquear Goa, mas gravemente, foram derrotadas pela armada portuguesa.

Oitava Guerra Otomano-Veneziana

A oitava Guerra Otomano-Veneziana foi travada entre a República de Veneza e o Império Otomano entre 1714 e 1718. Foi o último conflito entre as duas potências e também entre Portugal e os Turcos, terminando com uma vitória otomana e com a perda da posse da maior possessão de Veneza na península grega, o Peloponeso (Moreia), tendo participado ao lado da República de Veneza, Portugal os Estados Pontifícios e a Ordem de Malta. Após a conquista da Moreia, pelos turcos, estes avançaram por terra, cercando Corfu. Perante esta ameaça, Dom João V, Rei de Portugal, encarregou o Conde de Rio Grande, o Almirante Lopo Furtado de Mendonça, de comandar a esquadra portuguesa, ao encontro da força turca sitiada ao largo do cabo de Matapan, culminando numa histórica vitória. A Participação de Portugal foi decisiva para o desfecho da guerra com a sua vitoriosa participação na batalha naval de Matapan travada a 19 de Julho de 1717.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.