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sexta-feira, janeiro 23, 2015

Guerra Lusa-Holandesa - XVI-XVII (II)



Captura da Bahia
(1624)

A cidade de Salvador na Bahia, foi capturada na costa do Brasil pelos holandeses em 1624, como parte do plano de Groot Desseyn da 'Companhia Holandesa das Índias Ocidentais'. Contudo, as intenções holandesas foram relatadas aos espanhóis, mas nenhuma medida de retaliação foi tomada.



Jornada dos Vassalos
(1625)

Jornada dos Vassalos é a denominação dada à expedição de uma poderosa armada luso-espanhola, enviada em 1625 pela Corte de Espanha para reconquistar Salvador da Bahia, então Capital do Estado do Brasil, no contexto da primeira das invasões holandesas do Brasil. Constituiu-se na maior Armada até então enviada ao hemisfério sul, integrada por cinquenta e dois navios, transportando quase 14.000 homens, sob o comando de Dom Fadrique de Toledo Osório, Capitão Geral da Armada do Brasil.



Esses navios bloquearam o porto de Salvador, obtendo a rendição holandesa, e a sua retirada a 1 de Maio desse ano. Em 1624 a 'Companhia Holandesa das Índias Ocidentais' (WIC), criada em 1621, havia atacado a capital do Estado do Brasil, esperando com isso assenhorear-se da Região Nordeste e seu açúcar. Na ocasião. O Governador-geral, Diogo de Mendonça Furtado, foi capturado e o governo passou para as mãos de Johan van Dorth. A resistência reorganizou-se a partir do Arraial do rio Vermelho, contendo os invasores no perímetro urbano de Salvador. No ano seguinte (1625), alarmada com a ameaça da perda da lucrativa produção de açúcar e para pacificar os portugueses, cujo império se vinha reduzindo sob a Dinastia Filipina, a Coroa espanhola enviou uma poderosa armada combinada, sob o comando de Dom Fadrique de Toledo Osório, e para a parte portuguesa, do general das armadas da costa de Portugal Dom Manuel de Meneses. Em Portugal haviam sido preparadas expedições de socorro, que precederam a esquadra luso-espanhola. Salvador Correia de Sá e Benevides (1602-1688) seguira num comboio de 30 navios comandando a nau 'Nossa Senhora da Penha de França', com combatentes e mantimentos.



No Rio de Janeiro recebera do Governador, seu pai, a incumbência de recrutar homens na capitania de São Vicente antes de rumar à Bahia. Nesta expedição, arriscada diante do domínio neerlandês dos mares, recrutou cerca de 200 homens, embarcados em duas caravelas e três canoas de guerra, e rumou à Bahia. Na Bahia, tendo chegado poucos dias antes ao campo dos invasores, distinguiu-se na conquista da praça a 1 de Maio de 1625. Na vitória teve também um papel destacado a destreza dos índios arqueiros trazidos por Salvador de Sá dos aldeamentos de jesuítas das Capitanias do Rio de Janeiro e São Vicente. O enorme gasto da WIC com a fracassada invasão a Salvador foi recuperado quatro anos mais tarde, num audacioso acto de corso quando, no mar do Caribe, o Almirante Piet Heyn, a serviço da WIC, interceptou e saqueou a frota espanhola que transportava o carregamento anual de prata extraída nas colónias americanas, permitindo uma nova invasão, desta vez à Capitania de Pernambuco, que se estendeu de 1630 a 1654. A invasão neerlandesa de 1624-1625 a Salvador teve o testemunho de personalidades como o padre António Vieira.



Na Bahia desde os seis anos de idade, ingressara na Companhia de Jesus como noviço em Maio de 1623 e, em 1624, quando da invasão, refugiara-se no interior da capitania onde iniciou a vocação missionária. Estes confrontos terão influenciado a sua posição quanto à questão da Região Nordeste do Brasil. Frei Vicente do Salvador, aprisionado em Salvador pelos invasores até à sua retomada, terá ouvido a narração dos acontecimentos do próprio Salvador de Sá em 1625, deixando o seu testemunho na sua 'Historia do Brazil' (1627). Dom Manuel de Meneses, general da Armada de Portugal capitaneava a parte portuguesa (maioritária) da expedição. Escreveu a sua Relação da Restauração da Bahia em o anno de 1625, que apenas foi editada em 1859, por Francisco Adolfo de Varnhagen "a quem a fortuna deparara o original inédito em Madrid, e que depois de copiada e por elle conferida, foi enviada ao Instituto histórico do Brasil, e por este mandada publicar". A não publicação da relação duma vitória que na época deu ocasião a muitos grandes regozijos (lembremos o quadro de Juan Bautista Maíno: 'La recuperación de Bahía', e a peça de teatro de Lope de Vega: 'El Brasil restituído'), vitória contada por um dos seus mais importantes capitães, tem algo de estranho, a solução desse enigma encontra-se sem dúvida no que Carlos Ziller Camenietzki e Gianriccardo Grassia Pastore chamaram a 'Guerra de tintas'. A publicação da relação de Dom Manuel não foi autorizada, efectivamente esta vitória deu lugar a uma guerra textual entre portugueses e espanhóis. Lembremos que na época Portugal estava sob dominação espanhola, uma dominação não oficial já que Portugal e Espanha eram dois reinos com um só rei numa configuração denominada de 'União Pessoal'. Mas a dominação era efectiva e os fidalgos portugueses afastados dos lugares de comando essenciais manifestaram-se nessa ocasião, cada campo relevando o seu papel na vitória. Dom Manuel não escapava a essa contenda, a sua relação mostrando em várias reflexões a sua frustração e a dos portugueses, por exemplo no momento da redição da Cidade, onde foram os castelhanos autorizados a entrar em primeiro. O governo da Monarquia Católica percebeu o problema. Diante do andamento da guerra de tintas, o Conselho de Estado de Dom Felipe IV não se furtou a tomar medidas voltadas à contenção dos ânimos: "a multiplicação de relações, crónicas e histórias do feito de Salvador foi proibida".


A invasão de Pernambuco
(14 de Fevereiro de 1630)

Ocorreria a 14 de fevereiro de 1630, quando a esquadra holandesa comandada pelo Almirante Lonck, aportou em Pau Amarelo, ao Norte de Olinda, quase sem encontrar resistência, dirigindo-se para o sul, atacando Olinda e Recife, onde encontrou uma resistência heróica, mas pouco expressiva.



Começava uma guerra, que duraria cerca de 24 anos e teve efeitos memoráveis de heroísmo, de covardia, de traições, de corrupções e crueldade. Ela pode ser dividida em três fases, a da conquista (1630-1637), a da administração (1637-1642) e a da insurreição (1642-1654). No primeiro período os holandeses enfrentaram sérios problemas, apesar de sua superioridade bélica, pois encontraram pela frente um valoroso capitão, irmão do donatário de Pernambuco, Matias de Albuquerque. Weerdenburch, o comandante holandês, consolidou a ocupação do Recife e de Olinda e, em seguida, incendiou esta última para reduzir o território em que se concentrava e garantir o controlo do porto, de onde recebia alimentos e reforços. Em 1631, realizou o seu primeiro ataque a Itamaracá. Entre os oficiais que acompanharam Pater, estavam duas figuras de generais, von Schkoppe e Artichofsky. Entre os que cerraram fileiras no Arraial estavam Martim Soares Moreno, Luiz Barbalho, o índio António Felipe Camarão e o negro Henrique Dias. Em 1632, a situação mudou com a chegada de novos reforços holandeses e a deserção de Domingos Fernandes Calabar, um dos mais capazes capitães de Matias de Albuquerque. Calabar colaborou para os grandes sucessos que os flamengos passaram a ter na luta contra os portugueses. A resistência pernambucana começava a desmoronar e logo cairiam o Arraial do Bom Jesus e o Cabo de Santo Agostinho onde se situava o porto (Suape) por onde os portugueses se abasteciam desde a queda do Recife. 



Começaria, então, a grande retirada de Matias de Albuquerque, com seus soldados, parentes, amigos e liderados, para o sul, em direcção ao São Francisco, fugindo ao jugo holandês. Concluída a conquista, em 1636, iniciava-se, no ano seguinte, o período de administração holandesa, conduzida pelo príncipe João Maurício, conde de Nassau-Siegen, que perduraria por oito anos e daria um certo esplendor ao Recife e um pouco de paz à colónia. Inicialmente, procurou fazer-se respeitar pelos inimigos e pelos seus próprios comandados que viviam indisciplinados, fazendo tropelias e extorsões no território conquistado. Organizando-se militarmente, expulsou os luso-espano-brasileiros para o além São Francisco. Nassau considerou que o São Francisco, linha divisória entre Pernambuco, a Nova Lusitânia de Duarte Coelho e a Bahia, seria, por algum tempo, uma fronteira natural para a separação do Brasil holandês do hispânico. Nassau conseguiria estender o domínio holandês pelo Ceará e o Maranhão (ainda muito pouco povoado). 'A Companhia das Índias Ocidentais', com os seus monopólios e numerosos comerciantes, sobretudo judeus, desenvolveu as suas atividades mais no sector comercial, importando produtos da Europa e negros da África para serem vendidos aos senhores de engenho ou habitantes das cidades e exportando o açúcar e outros produtos da terra (tabaco, algodão, couro, etc.).



Como a maioria dos senhores de engenho não dispusesse de capitais à mão, os comerciantes fizeram grande abertura de crédito aos mesmos, levando-os muitas vezes à falência por não conseguirem pagar as dívidas, em vista dos juros elevados que eram cobrados. Esta relação entre credores e devedores, acentuaria o desejo de independência e fortaleceria a 'Restauração Pernambucana' depois da saída do conde de Nassau. Graves problemas surgiram, a partir de 1640, quando os portugueses conseguiram restaurar a dinastia portuguesa, desvinculando o reino da 'União Pessoal' com a Espanha e fazendo Rei de Portugal Dom João IV, duque de Bragança. Na guerra entre Espanha e Portugal os portugueses trataram de se aliar, na Europa, aos holandeses para enfrentar os espanhóis e, no Brasil, espanhóis e portugueses, que eram até então aliados, tornaram-se inimigos. Portugal, por sua vez, através de solicitações diplomáticas, procurou reaver terras conquistadas pela Holanda, mas Nassau, antes que o tratado entre os dois países fosse ratificado, tratou de expandir e consolidar suas conquistas. 'A Companhia das Índias Ocidentais', que era uma empresa comercial cujos accionistas estavam cada vez mais carentes de dividendos, preocupava-se com a queda de sua receita e pressionava a Nassau para que cobrasse as dívidas existentes em Pernambuco. Nassau, homem vivido e político experimentado, retardou o quanto pôde a cobrança, procurando agir de forma amena e a médio e longo prazo, sem executar os grandes devedores. Estes fatos e os incidentes ocorridos, levaram Nassau a solicitar a sua demissão.


Batalha Naval de Abrolhos
(12 de Setembro de 1631)


A Batalha Naval de Abrolhos travou-se no dia 12 de Setembro de 1631, nas proximidades do arquipélago dos Abrolhos, quando uma esquadra luso-espanhola, com 19 navios de guerra que comboiavam mais 35 embarcações sob o comando de António Oquendo, enfrentou a esquadra holandesa, com 18 embarcações de guerra e sob o comando de Adrien Hanspater. Após sete horas de confronto, os holandeses perderam 3 navios e o restante das embarcações dispersaram-se, resultando no recuo dos holandeses da cidade de Olinda, para unir forças na cidade de Recife. Quanto a esquadra de António Oquendo, esta cumpriu a sua missão, que era desembarcar reforços para o arraial do Bom Jesus e a capitania de Pernambuco.

Primeira Batalha de Salvador
(Março 1638)


A Primeira Batalha de Salvador foi um confronto militar entre as forças holandesas e portuguesas comandadas respectivamente por João Maurício de Nassau e Luís Barbalho Bezerra. A batalha resultou em uma grande vitória para os portugueses, que apesar de ter poucos homens, esmagou os holandeses.

Segunda Batalha de Salvador
(Maio 1638)

A Segunda Batalha de Salvador foi um conflito militar entre as forças holandesas e portuguesas, comandados por João Maurício, Príncipe de Nassau-Siegen e Luís Barbalho, respectivamente. O desfecho, foi semelhante ao da Primeira Batalha de Salvador, onde novamente a vitória foi de Portugal.

Insurreição Pernambucana
(15 de Maio de 1645)


A 'Insurreição Pernambucana', também referida como 'Guerra da Luz Divina', registou-se no contexto da segunda das invasões holandesas do Brasil, culminando com a expulsão dos holandeses da região Nordeste do país tornando esta à coroa portuguesa. Em 15 de Maio de 1645, reunidos no Engenho de São João, 18 líderes insurrectos pernambucanos assinaram compromisso para lutar contra o domínio holandês na capitania. O movimento integrou forças lideradas por André Vidal de Negreiros, João Fernandes Vieira, Henrique Dias e Felipe Camarão, nas célebres Batalhas dos Guararapes, travadas entre 1648 e 1649, que determinaram a expulsão dos neerlandeses do Brasil. Até a chegada do administrador da 'Companhia Neerlandesa das Índias Orientais', Maurício de Nassau, aos territórios conquistados em 1637, os portugueses empreendiam a chamada 'Guerra Brasílica', um tipo de guerrilha que consistia em ataques rápidos e furtivos às forças neerlandesas, após os quais os atacantes desapareciam rapidamente nas matas. A partir de então essas emboscadas ficariam suspensas no território da capitania de Pernambuco, uma vez que Nassau implementou uma política de estabilização nos domínios conquistados.



Sob o seu governo, o nordeste brasileiro conheceu uma época de ouro: a 'Nova Holanda'. Ao pisar em solo americano, encontrou cerca de 7.000 almas vivendo nas piores condições de higiene e habitação. Mandou construir pontes, palácios, iniciou a urbanização do que hoje é conhecido como o bairro de Santo Antônio na capital pernambucana, incentivou as artes e as ciências, retractou a natureza do novo mundo através de seus dois artistas Frans Post e Albert Eckhout. Ao todo foram 46 estudiosos dos mais variados géneros. Com relação à exploração da metrópole para colonia, foi tolerante com os senhores de engenho, os quais deviam muito à WIC. Foi igualmente tolerante com o judaísmo e o catolicismo, deixando que se professassem todas as religiões livremente. Preferia não penhorar engenhos nem sufocar revoltas com crueldade. Enfim, procurava fazer a administração contrária ao que queriam os senhores da WIC. No contexto da Restauração portuguesa, o Estado do Brasil pronunciou-se em favor do Duque de Bragança (1640), assinando-se uma trégua de dez anos entre Portugal e os Países Baixos. No nordeste do Brasil, os engenhos de cana-de-açúcar viviam dificuldades num ano de pragas e seca, pressionados pela 'Companhia das Índias Ocidentais', que sem considerar o testamento político de Nassau, passou a cobrar a liquidação das dívidas aos inadimplentes. Essa conjuntura levou à eclosão da 'Insurreição Pernambucana', que culminou com a extinção do domínio neerlandês (holandês) no Brasil.

Batalha do Monte das Tabocas
(3 de Agosto de 1645)

A Batalha do Monte das Tabocas foi o primeiro embate da insurreição pernambucana e recuperação do território ultramarino do Império Português por Portugal, sendo travada entre as forças da 'Companhia da Índias Ocidentais' dos neerlandeses e a milícia luso-brasileira. O evento ocorreu no monte das Tabocas, na capitania de Pernambuco, em 3 de Agosto de 1645. Após a descoberta pelo Conselho da WIC dos planos da rebelião encabeçada por João Fernandes Vieira, António Cavalvanti, Francisco Berenguer de Andrade e vários outros senhores, os holandeses saíram do Recife para capturar os rebeldes e levá-los presos, e, para isso, tinham muitas correntes e grilhões de ferro. Após mais de 30 dias reunindo forças no interior, em clima cada vez mais tenso, chegando a um quase enfrentamento de espadas entre os dois governadores João Fernandes Vieira e Antônio Cavalvanti, havendo as tropas portuguesas mudado de local seis vezes, chegou a notícia da aproximação do inimigo comum, pelo que António Dias Cardoso aproveitou para mobilizar todos para a luta. Partiram do Engenho do Covas, onde acamparam por uns dias, para um local que Dias Cardoso conhecia melhor que ninguém, por dali ter retirado muito pau-brasil.


Segue um resumo baseado na descrição da batalha de Diogo Lopes Santiago, um escritor documentarista da guerra:

“À frente de 1.500 soldados práticos e escolhidos, armados com arcabuzes e mosquetes, além dos índios tapuias seus partidários, o coronel Henrique Hus chegou ao sítio do monte por volta do meio-dia, tão confiante da vitória que lhe faltou cuidados na batalha. Enquanto o inimigo atravessava o rio, trinta dos nossos dispararam suas armas e vieram recuando, subindo pela trilha que leva ao monte, ao longo da qual estavam montadas três emboscadas dentro de um tabocal (bambuzal gigante) de 50 pés de largura que margeia a subida. No sopé do monte, um capitão dos mercenários fez sinal de parada e ordenou uma grande carga de mosquete, como que prevendo haver perigo por trás daquela espessa mata. Seguiu-se a isso o som das caixas e gritos dos tapuias, mais parecendo que já tinham o pleito por vencido. Pela trilha, os soldados de Dias Cardoso iam disparando, provocando os holandeses, que correram enfurecidos a subida, tão determinados que suportaram as duas danosas cargas das primeiras emboscadas, recuando apenas na última por ser a maior e por temerem que a subida fosse toda de emboscadas. Reagruparam-se em três esquadrões na campina entre o rio e o sopé do monte, enquanto nossos tiros não cessavam de dentro dos matos, sem que eles pudessem ver a procedência, conhecendo apenas os danos. Inflamado de coragem para o combate, à frente de 400 homens, portando espada e uma rodela (pequeno escudo redondo) no braço, João Fernandes Vieira desceu ladeira para enfrentar o inimigo na campina quando Dias Cardoso saiu a impedi-lo, argumentando que sua morte ali seria a ruína da rebelião. No meio da tarde, os holandeses voltaram a subir, dessa vez invadindo o tabocal, onde sofreram tanta perda de gente que recuaram sem demora. Ao fim da tarde, percebendo que já nos faltava pólvora pois nossos disparos diminuíam, e como desesperados, conseguiram ganhar as emboscadas, parecendo-nos ali tudo estar perdido. Fernandes Vieira, ao ver que haviam destruído a barreira defensiva, desceu com os seus (trinta negros, alistados em troca da liberdade, com lanças de pontas tostadas, bem como o restante da gente, mestiços em sua maioria, com facões e velhas espadas) e avançaram com tamanha fúria sobre o inimigo, na luta corpo a corpo, que esse foi forçado a descer de volta à campina, a seu pesar, com mais presteza do que subira. Aproveitando-se da escuridão e da forte chuva que caía, o Coronel Hus ordenou a retirada, deixando muitas carroças de feridos pelo caminho. Ao amanhecer, contamos 370 inimigos mortos, fora os que foram atirados ao rio, enterrados, ou que morreram pelos matos. Ganhamos ali muitas boas armas de fogo e pólvora, pois as que tínhamos não passavam de 230, sendo muitas delas antigas e enferrujadas”.

Batalha de Casa Forte
(17 de Agosto de 1645)



A Batalha da Casa Forte foi o segundo grande embate da insurreição pernambucana, sendo travado entre as forças da 'Companhia da Índias Ocidentais' dos neerlandeses (o que restou após a Batalha do Monte das Tabocas) e a milícia luso-brasileira reforçada pelo terço de André Vidal de Negreiros, bem como pelos homens que vieram com Filipe Camarão e Henrique Dias. O evento ocorreu na casa forte de dona Ana Paes, na capitania de Pernambuco, em 17 de Agosto de 1645, após uma marcha forçada e uma travessia a nado do rio Capibaribe no alvorecer. Apenas a vanguarda luso-brasileira participou do início da batalha, apressando-se ante a ameaça de degola da população.

Segue um resumo da descrição da batalha por Diogo Lopes Santiago, um documentarista da guerra:

“Tanto que o governador João Fernandes Vieira chegou a avistar a casa forte, despediu seis soldados ligeiros, os quais toparam com duas sentinelas do inimigo que informaram como estavam dispostos dentro da casa. Mortas essas sentinela, foi marchando nossa gente com mais pressa até chegar à porteira do pasto do engenho, onde fomos descobertos, e tocou-se rebate. Estavam os oficiais almoçando dentro da casa, e os soldados se formando do lado de fora em dois esquadrões para saírem em diligência (degolar os moradores da várzea e Olinda), quando ouviram o rebate, iniciando a agressão com suas armas de fogo. Dias Cardoso organizara um esquadrão de capitães briosos para que, dadas duas cargas, arremetessem contra o inimigo à espada. Outros capitães deveriam acometer o inimigo por várias partes e ajudar onde mais fosse necessário. Mandou Vieira que o Camarão e o Henrique Dias (enviados da Bahia e atrasados para as Tabocas) tomassem os caminhos ao largo, o que fizeram bem, ainda que com pouca gente. Não tinham os nossos, acabado de dar a primeira carga quando chegou André Vidal de Negreiros a cavalo e com apenas alguns de seus soldados e capitães (enviados da Bahia sob o pretexto de ‘aquietar o povo de Pernambuco’), pois os demais ficaram pra trás na travessia do Capibaribe. Tanto que chegou se meteu logo no meio da pendência com grande valor e ânimo, ajudando contra os holandeses que, assim que sentiram nosso ferro, deram as costas e recolheram-se dentro da casa forte, passando a pelejar das janelas e varandas. Os tapuias, de uma casa térrea e muito comprida, entrincheirada de uma paliçada de madeira, faziam o mesmo. Cercados, sob fogo de nossos mosquetes reforçados, e vendo chegar cada vez mais dos nossos aos arredores, os holandeses pausaram os disparos, o que foi interpretado por nós como uma tratativa para rendição. O mestre de campo André Vidal mandou um tambor, um soldado chamado João Batista com uma bandeira branca. Os holandeses, vendo-se num breve alívio, saíram de súbito às janelas e varandas e deram nos nossos uma grande carga, matando o soldado que já chegava às escadas com sua bandeira branca de paz. Vendo isso, os nossos gritaram traição e que iriam matar a todos debaixo daquele engano. Ignorando a presença de reféns (esposas de alguns dos capitães das Tabocas sequestradas pelos holandeses após a derrota) entendeu-se que deveria ser incendiada a casa, pelo que logo começamos a colocar de uma lenha que havia perto e, para isso, tomamos as varandas. Iniciado o fogo e a fumaça, alguns soldados inimigos começaram a sair em desespero, mortos a seguir pelos nossos. Em certa altura, Henrique Hus mandou por uma bandeira branca na janela e, suspensos nossos disparos, veio à mesma com duas pistolas com as bocas viradas para a terra, tirando o chapéu, em sinal claro de rendição. Acudiram logo os nossos para apagar o fogo que já invadia a casa e trataram logo de condições, pelo que o governador João Fernandes Vieira não queria saber de nenhuma tendo em vista as mortes que aqueles inimigos já haviam causado e que iriam em breve voltar a causar. André Vidal de Negreiros, no entanto, foi de parecer que dessem bom quartel aos rendidos, com a vida e com bom tratamento. Henrique Hus aceitou e veio saindo da casa. Ele, os oficiais e os demais soldados vinham sem armas, porque os nossos os iam desarmando na saída. Estando-se a tratar sobre os índios tapuias (aliados dos holandeses), tendo sido eles o braço mais infame das covardias cometidas contra a população (agora, receando seu destino), começaram aqueles a atirar nos nossos, matando-nos um alferes e um soldado, e mal ferindo um capitão. Irritados, os governadores mandaram passar todos ao fio da espada ao que, vendo que não teriam quartel, decidiram vender as vidas, pondo-se em defesa que nada lhes aproveitou. Tanto que os rendidos se apresentaram diante de nossos governadores, João Fernandes Vieira disse ao governador das armas holandesas: ‘O que é isso Sr. Henrique Hus? Vossa mercê é o que dizia que me traria a ferros e me faria muitos vitupérios. Pois como está vossa mercê debaixo de meu poder e com a vida em minhas mãos?’. Ao que respondeu Henrique Hus: ‘ Pois vossa senhoria me venceu e me tem por prisioneiro, pode fazer o que for servido, e bem pode ir tomar posse do Recife porquanto eu tinha aqui comigo a melhor gente de guerra e ninguém sabe melhor que V.S.”

As Batalhas dos Guararapes
(1ª 19 de Abril de 1648, 2ª 19 de Fevereiro de 1649)


Alguns historiadores afirmam que a revolta contra os holandeses iniciou-se com a retirada de Nassau, na realidade, porém, ela foi iniciada antes em 1642, no Maranhão, quando proprietários da Baixada se organizaram, tomaram os postos militares aí existentes e fizeram cerco a São Luís. Em Pernambuco, a insurreição iniciou-se quando os holandeses, abandonando a linha política de Nassau, iniciaram a cobrança das dívidas que muitas vezes eram superiores ao valor dos bens dos devedores. João Fernandes Vieira era um dos grandes devedores. Às primeiras suspeitas e denúncias chegadas aos holandeses sobre o andamento de uma conspiração, João Fernandes Vieira afastou-se do Recife e escondeu-se nas matas à espera do momento em que poderia se definir, e o momento não demorou a chegar, quando o governo da Bahia começou a autorizar as tropas que estavam acantonadas lá a se dirigirem para o território holandês. Assim, vieram as tropas de Henrique Dias, seguidas das de Felipe Camarão e ainda as de Martim Soares Moreno, apesar de bastante idoso, e de André Vidal de Negreiros, paraíbano, filho de senhor de engenho. O governo holandês, surpreso, fez reclamações ao governador da Bahia, Antônio Teles da Silva, e este respondeu que não tinha autorizado o avanço de suas tropas e que Henrique Dias tinha-se deslocado sem sua autorização para a margem esquerda do São Francisco e que ele havia mandado Felipe Camarão intimá-lo a retornar. É claro que os holandeses não aceitaram a explicação e já em 1644, estava deflagrada a 'guerra da liberdade divina'. A primeira batalha, a mais expressiva, travou-se no Monte das Tabocas, próximo à Vitória de Santo Antão, onde os luso-brasileiros, a três de agosto de 1645, venceram o exército holandês, apesar da superioridade numérica.



Esta vitória trouxe grande ânimo aos pernambucanos que já a 17 do mesmo mês venceriam novamente os holandeses no engenho Casa Forte, de propriedade de Dona Ana Paes, cuja casa os holandeses haviam transformado em fortaleza. A guerra continuou favorável aos portugueses no interior e aos holandeses no litoral, onde uma esquadra comandada pelo Almirante Lichtharsdt, destruiu uma flotilha portuguesa em Tamandaré. Em 1646, chegaram reforços da Holanda e o governo do Recife resolveu atacar a ilha de Itaparica, na Bahia, visando fazer com que o governo-geral determinasse a volta de seus soldados a Salvador. Com o passar dos anos, a situação foi se definindo em favor dos luso-brasileiros que começaram a conquistar vilas, como Penedo e Porto Calvo. No ano seguinte, Itamaracá foi conquistada em quase toda a sua extensão, ficando os holandeses apenas com o controle do forte de Orange. Em 1647, finalmente, o rei de Portugal se definiu e enviou para Pernambuco Francisco Barreto de Menezes que assumiu o comando de todas as tropas insurrectas. Com um comando único e a condução da guerra nas mãos de um militar profissional e competente, a situação holandesa piorou. Segismundo von Schkoppe, comandante do Recife e profissional experimentado, compreendeu que teria que tomar atitudes mais agressivas, de vez que a capital estava atravessando uma situação muito difícil quanto à segurança e abastecimento. Em abril de 1648, von Schkoppe resolveu romper o cerco, fazendo um avanço para o sul em direcção a Muribeca, em plena área açucareira. Informado do deslocamento das tropas holandesas, Barreto de Menezes se dirigiu aos, Montes Guararapes onde, após renhida luta, fez os flamengos retrocederem derrotados para o Recife, impondo-lhes a derrota na primeira batalha dos Guararapes, a mais importante, certamente, da guerra holandesa. Estavam a 19 de abril de abril de 1648.

1ª Batalha dos Guararapes
(19 de Abril de 1848)


O Brasil foi alvo de várias tentativas estrangeiras de ser conquistada ao Reino de Portugal, durante o período colonial. A de maior duração é amplitude territorial foi conduzida por holandeses, que se iniciou em 1630 e teve fim em 1654, dominando nesse período boa parte do Nordeste. A reacção que levou à expulsão definitiva do invasor tomou impulso em 1645. Naquele ano, portugueses e brasileiros de todos os matizes e estratos sociais deram vida à 'Insurreição Pernambucana'. Na proclamação dirigida aos estrangeiros, pela primeira vez, a palavra pátria foi usada para referir-se ao torrão a ser liberado. O passo inicial do movimento rebelde foi organizar o seu braço militar, o 'Exército Patriota', integrado por índios, negros, brancos e mestiços de todas as classes. O momento culminante vivido por aquele povo em armas foi a 1ª Batalha dos Guararapes, ocorrida em 19 de abril de 1648, quando os patriotas, carentes de meios, mas plenos de determinação, derrotaram as tropas holandesas de ocupação, dotadas com os mais modernos instrumentos de guerra que havia na época.



A primeira batalha dos Guararapes, é um episódio da guerra contra a presença holandesa no nordeste brasileiro, que começou especialmente depois de 1640. A batalha ocorre num período em que sem intervenção directa da coroa portuguesa (porque Portugal se encontrava numa guerra perante a pressão da decadente mas ainda poderosa coroa das Espanhas), os portugueses do Brasil, pegam em armas para expulsar os holandeses dos territórios que eram parte da coroa portuguesa, e tomados à força pela Holanda a partir de 1630 e cujos domínios foram aumentando até que em Portugal ocorre a restauração da monarquia portuguesa. No início de 1648, uma poderosa força holandesa é enviada do Recife para sul em direcção à região da Bahia. Entretanto toma conhecimento de que o Recife foi cercado e marcha de volta para norte para tentar aliviar a pressão dos portugueses sobre a cidade. O exército holandês na sua marcha para norte, de volta ao ponto de partida, é constituída por cerca de 5.000 homens, e as forças portuguesas estão restringidas a apenas 2.200 homens.



O objectivo, é impedir que os holandeses cheguem ao Recife, interceptando-os a meio caminho, o que acontece numa região conhecida como Outeiros de Guararapes. As tropas portuguesas, divididas em terços (ou batalhões) comandados por Francisco Barreto, André Vidal e Henrique Dias, conseguem superiorizar-se através de tácticas de ataque furtivo, e beneficiando do conhecimento do terreno, e da sua utilização para ganhar vantagens tácticas. As forças portuguesas ocuparam posições elevadas, que os holandeses atacaram, embora com grande esforço, para seguidamente verificarem que também havia posições portuguesas a tomar outros pontos elevados estratégicos, que permitiam às forças portuguesas atingir os holandeses sem que estes conseguissem ripostar. De notar que a vitória portuguesa deveu-se não só à superioridade táctica dos seus comandantes, mas também ao facto de os holandeses terem entretanto vindo a perder pontos de apoio (fortes) na região, o que reduzia inevitavelmente a capacidade das suas tropas.



Pelo menos 500 holandeses morrem na refrega, pelo que a batalha foi determinante para o espirito dos portugueses e foi determinante para o futuro da presença holandesa no Brasil. Embora ainda tentassem no ano seguinte uma expedição semelhante, ela também não teve sucesso, tendo resultado numa derrota ainda mais esmagadora, que acabaria por selar o fim do período holandês no nordeste brasileiro. É de especial importância, além da resistência demonstrada pelas forças portuguesas (na sua esmagadora maioria constituídas por portugueses nascidos no Brasil) realçar a importância do apoio dos escravos e dos índios autóctones, cujo apoio foi conseguido, às custas do comportamento inamistoso dos funcionários da companhia holandesa das Índias para com os residentes na região.


Segue um resumo da descrição da 1ª batalha, segundo Diogo Lopes Santiago, um cronista da guerra:

“Tanto que nossa infantaria se escondeu nos mangues ao pé do último monte, António Dias Cardoso ordenou a 20 de seus melhores homens que fossem com 40 dos índios de Filipe Camarão procurar o inimigo, que marchava do Recife pelo caminho dos Guararapes. Na entrada dos montes, nossos 60 soldados atacaram a vanguarda holandesa e vieram se retirando sem dar costas ao inimigo, atraindo-o a uma passagem estreita entre os montes e o mangue, até poucos passos de onde estava o nosso exército. Do nosso lado houve certa confusão e opiniões de retirada frente àquele exército tão superior, mas os dois mestres de campo, João Fernandes Vieira e André Vidal de Negreiros, resolveram, conforme combinado, enfrentá-los ali, dando a primeira carga e investindo no inimigo à espada, mesmo que sob fogo dos mosquetes. Marchou André Vidal pela baixa com o Camarão à sua direita pelo mangue. Vieira avançou pelo alto com Henrique Diasà sua esquerda. Aguardaram os nossos duas espantosas cargas de mosquetaria e artilharia sem da nossa parte se dar nenhum tiro, indo ao encontro do inimigo já bem perto. Neste tempo, por toda parte, disparou nosso fogo de uma só vez, causando grande dano e desorganização nos esquadrões inimigos. Logo os nossos sacaram as espadas e atacaram com tanto ímpeto e violência que não puderam os lanceiros conter os nossos de infiltrarem-se, matarem e destroçarem por meia hora, até que lhes pusessem em fuga. Fugindo e descendo do monte, a seu pesar com mais presteza do que subira, os que escaparam de Dias e Vieira se juntaram aos que estavam em retirada pela campina pressionados por Vidal e Camarão. Ganhamos todos os canhões do inimigo e muita bagagem, motivo que levou muitos soldados ao saque e à euforia. Como esperado em exércitos como aquele holandês, ter gente de reserva para situações difíceis lhes valeu um contra-ataque fulminante pegando nossos soldados desorganizados, além de exaustos, que se puseram em fuga monte abaixo. A luta desesperada que seguiu daí pela defesa da passagem estreita (apelidada boqueirão) durou várias horas, com os oficiais (nossos e inimigos) no meio da acção. Acabamos por perder 4 das 6 peças da artilharia ganha. Por fim, o campo ficou nosso e o alto dos montes do inimigo. O general holandês, gravemente ferido no tornozelo, determinou a retirada durante a noite deixando dois canhões apontados para o boqueirão, disfarçando seu recuo para o Recife”.


2ª Batalha dos Guararapes
(19 de Fevereiro de 1649)


A 2ª Batalha dos Guararapes foi uma batalha travada entre o exército da Holanda e os defensores do Império Português no Morro dos Guararapes. Foi vencida pelos portugueses e destaca-se como episódio decisivo na Guerra da Restauração e particularmente na 'Insurreição Pernambucana', que culminou no término das Invasões holandesas do Brasil, no século XVII. A assinatura da capitulação deu-se em 1654, no Recife, de onde partiram os últimos navios holandeses em direcção à Europa.




Segue um resumo da descrição da batalha segundo Lopes Santiago, um cronista da guerra:

“Havendo aprestado as coisas necessárias, o exército holandês saiu do Recife em 18 de fevereiro de 1649, com cinco mil homens de guerra, todos soldados experientes, com que fazia mais forte o poder que o da batalha passada. Traziam também 200 índios, duas companhias de negros e 300 marinheiros que se dispuseram a enfrentar a luta na campanha; 6 canhões, 12 bandeiras, trombetas, caixas e clarins. Posto que não lustrosos com as golas e enfeites que da primeira vez traziam, vinham com longas lanças com as quais andaram treinando para defender a integridade dos esquadrões contra os ataques infiltrados de nossa infantaria. No tempo que chegou nosso exército ao primeiro monte já estava o inimigo formado em todos os outros e na baixa (boqueirão) onde havia ocorrido o principal da batalha anterior. Mandou Francisco Barreto de Meneses fazer alto e tomou conselho por onde haveriam de buscar a luta, se pela frente, se pela retaguarda ou se pelos lados. André Vidal de Negreiros e Francisco Figueiroa deram votos que fosse pela frente, mas João Fernandes Vieira, que vinha com o grosso da gente, deu parecer contrário: que se buscasse o inimigo pela retaguarda (como na 1ª batalha) uma vez que onde estavam não tinha água e deveriam acampar com algum conforto ao fim da tarde, deixando o holandês à espera. Concordou Francisco de Meneses com este último parecer e assim mandou, seguirem a um engenho ali perto onde repousaram e traçaram o plano do ataque, pelo que se concordou em iniciar a acção tão logo abandonasse o inimigo suas posições, para qualquer rumo que fosse. No dia 19, das 13:00 para as 14:00 (castigado pelo sol), tanto que foram os holandeses desocupando o alto dos montes para formarem um grande esquadrão na direcção do Recife, nosso exército iniciou a aproximação. João Fernandes Vieira com 800 de seus homens foi o primeiro a entrar na luta, bem no meio da área que chamavam boqueirão, onde o inimigo tinha 6 esquadrões e duas peças de artilharia. Após 25 min de cargas de fogo, João Fernandes tentou cortar a formação holandesa pelo alagado. Sem sucesso, de volta à posição inicial, pediu a todos que investissem à espada após uma última carga na cara do inimigo, e assim foi ganho o boqueirão à espada (apesar da brava resistência dos lanceiros holandeses), onde conquistamos 2 canhões de campanha. Nesta altura já estavam em luta todos os nossos vindo pelo alto e fraldas do último monte: Henrique Dias, Diogo Camarão, Francisco Figueiroa, André Vidal, Dias Cardoso e a cavalaria de Antônio Silva. Tomado o monte central e suas 4 peças de artilharia, bem como as tendas do comandante holandês Van den Brinck (que foi morto na ocasião), os luso-brasileiros pressionaram os inimigos até sua desintegração e fuga para Recife, sendo perseguidos por nossos cavaleiros exaustos; muitos fugiram para os matos, outros se entregaram implorando pelas vidas”.


Os três montes de Guararapes.  

O encaixe estreito dos relevos faz que os espaços planos entre estes se mostrem quase nulos, embora ricos, outrora, em árvores de porte avantajado, numa exuberância vegetal que se estendia pelas campinas em volta, interrompidas, aqui e ali, pelo verde mais escuro dos alagados, o verde dos mangues no litoral do Nordeste. De muitos séculos, a voz do povo os baptizou a cada um de maneira incerta, como de 'Barreiras', 'Oitizeiro' e 'Outeiro', o conjunto das elevações, este sim, de denominação indígena: Guararapes. Montes Guararapes. Sob o nome sonoro da língua dos índios que significa tambor. Os velhos montes viram o projecto da Holanda tropical iniciar-se por sobre o Pernambuco florescente de 1630, com o desembarque das forças do almirante Lonck na praia de Pau Amarelo, ao norte de Olinda, não se privando de saber também do incêndio dessa cidade pelo invasor no ano seguinte, com a transferência do empreendimento colonial para as areias do Recife. Os Montes souberam da queda do Arraial Velho em 1635, da chegada do conde Maurício de Nassau em 1637, do ânimo desse regente esclarecido em deitar pontes sobre os rios e entre as pessoas, além de erguer o burgo de Maurícia, menina dos seus olhos ainda juvenis, como souberam das façanhas dos nossos capitães-de-emboscada, a aprender com o índio as astúcias da guerrilha, da epopeia de Luís Barbalho, ao retirar seu exército por 400 léguas, desde o Rio Grande até a Bahia, da restauração do trono português em 1640 e da insurreição final dos luso-brasileiros em 1645, coroada essa etapa com as vitórias sucessivas de Tabocas, de Serinhaém, do Cabo, do Pontal, de Nazaré e da Casa Forte, num crescendo que prenunciava um ajuste de contas de dimensões nunca vista na chamada Guerra de Pernambuco, que viria com as duas batalhas dos Guararapes, em 1648 e 1649.



Com efeito, à época do início da chamada 'Guerra de Pernambuco', a população se constituía de cerca de 95.000 almas, sendo em números de 40.000 os homens livres, outro tanto de cativos, e 15.000, o de índios aldeados. Considerado o conjunto da região, com o acréscimo, portanto, das capitanias de Itamaracá, Paraíba, Rio Grande e Ceará, esse contingente se elevava para algo em torno dos 120.000 habitantes, dos quais, cerca de 20% poderiam ser mobilizados para a acção militar. Isto, potencialmente, bem entendido, de vez que se sabe que o exército oscilaria ao longo de toda a guerra em torno dos 3.000 homens. Com a morte do rei de Portugal, Cardeal Dom Henrique, em 1580, sem deixar descendentes, a Espanha conseguiu que a coroa portuguesa passasse para Felipe II. Como a Holanda iniciasse uma guerra de independência com a Espanha e como Portugal estivesse na dependência desta, naturalmente ele passou a ser também visado pelas ambições flamengas. Dispondo de capital, os holandeses passaram também a financiar a instalação de engenhos de açúcar no Brasil, permitindo que o número de fábricas tivesse um grande crescimento, ao mesmo tempo em que estimulavam a ampliação de outras culturas, como o algodão e o tabaco. Esse crescimento agrícola acarretou o crescimento do tráfico de escravos que era um dos negócios mais rendosos da época. Com o crescimento dos negócios, os holandeses, autorizados pelo governo português, passaram a fazer um comércio triangular: as suas embarcações viajavam até Lisboa carregadas de produtos industrializados, descarregavam e viajavam para as colónias portuguesas do Golfo de Guiné onde adquiriam escravos já aprisionados pelos régulos africanos e que eram trazidos para o Recife e vendidos aos senhores de engenho, daí retornavam à Holanda carregados de açúcar e de outros produtos da terra. Com a união de Portugal à Espanha, como a Holanda se encontrasse em guerra com esta, teve o seu comércio interrompido pelo governo espanhol causando-lhe grande prejuízo. Os holandeses, porém, estavam preparados para enfrentar as lutas que se seguiram e trataram de arregimentar mercenários na França e nos países da Europa Central e Setentrional, montando uma grande esquadra. Sendo comerciantes, os holandeses organizaram a 'Companhia das Índias Orientais' para actuar no Oriente. Em 1621, os flamengos organizaram a 'Companhia das Índias Ocidentais' para actuar na África e na América. A invasão holandesa foi feita com uma preparação segura, os flamengos mantinham contactos com habitantes de Pernambuco, sobretudo judeus e brabanteses que passavam informações detalhadas sobre as várias áreas, ou seja, a capacidade de produção, o estado das fortificações e dos efectivos militares. Um dos mais importantes informantes foi Verdonck.


A 'Batalha dos Guararapes', na sequência da 'Guerra da Restauração' após a 'Restauração da Independência de Portugal de 1640', foi uma batalha travada em dois confrontos entre o exército da Holanda e os defensores Portugueses no Morro dos Guararapes. Por ter sido vencida pelos portugueses destaca-se como episódio marcante na ‘Insurreição Pernambucana’, que culminou no término das Invasões holandesas do Brasil, no século XVII. A assinatura da capitulação deu-se em 1654, no Recife, de onde partiram os últimos navios holandeses em direcção à Europa.

António Dias Cardoso


António Dias Cardoso nasceu na cidade do Porto, no início do século XVII e faleceu no Recife, em 1670, militar português, foi um dos principais líderes da Insurreição Pernambucana, movimento responsável pela expulsão dos neerlandeses do Nordeste do Brasil. Conhecedor das técnicas de combate dos indígenas, comandou um pequeno efectivo que venceu a batalha dos Montes das Tabocas contra uma tropa muito maior liderada directamente por Maurício de Nassau e posteriormente também em menor número venceu em Casa Forte a tropa neerlandesa comandada pelo Tenente-coronel Hendrick Van Hans, Comandante-Geral holandês no Nordeste do Brasil. Foi apelidado de 'mestre das emboscadas'. São insuficientes os registros históricos sobre este personagem, que se acredita tenha nascido na cidade Portuguesa do Porto, no início do século XVII. Veio ainda criança, com a família, para o Brasil. Quando das Invasões holandesas do Brasil, António Dias actuou como soldado em Salvador, na Capitania da Bahia, durante a Invasão de 1624-1625. À época teve sucesso em conter o invasor no perímetro de Salvador, graças ao emprego das tácticas de guerrilha indígena, praticando emboscadas, que voltaria a empregar anos mais tarde, em Pernambuco. Nessa época, alcançou a patente de Alferes (1635), e a de Capitão, após o cerco neerlandês de 1638 a Salvador. Dois anos mais tarde, em 1640, pediu a sua reforma, que alcançou. Apesar de estar reformado, o reconhecimento de seu valor, conhecimento e experiência militar se traduziram numa convocação para voltar à luta, no contexto da reacção luso-brasileira contra os invasores. Em meados de 1645, Cardoso liderou uma força de 1.200 pernambucanos, mazombos insurrectos, numa emboscada em que derrotaram 1.900 neerlandeses. Esse sucesso lhe valeu o apelido de 'mestre das emboscadas'. Findo o conflito em 1654, em 1655 recebeu da Coroa Portuguesa a honra de Cavaleiro da Ordem de Cristo e o comando do Terço de João Fernandes Vieira, do qual havia sido ajudante à época da 1ª batalha dos Guararapes. Em 1656, foi nomeado Mestre-de-Campo, encerrando definitivamente a sua carreira militar. No ano seguinte, em 1657, assumiu o governo da Capitania da Paraíba. Faleceu no Recife em 1670, ainda comandando o Terço de João Fernandes Vieira. Entre os seus muitos feitos militares, destacam-se a participação na defesa de Salvador, e na Batalha do Monte das Tabocas, na batalha de Casa Forte e nas dos Guararapes, no litoral de Pernambuco, nas proximidades de Recife. Das inúmeras missões de guerra irregular que desempenhou, provavelmente a mais importante foi a de ter percorrido sigilosamente a Capitania da Bahia e a de Pernambuco. Incumbido da tarefa por André Vidal de Negreiros, viajou pelas Capitanias simulando ser um desertor. A sua real missão, entretanto, era a de "organizar um pequeno exército e prestar informações acerca do inimigo, ao longo do percurso de 160 léguas". O grupo de mazombos, mestiços, negros, brancos e índios que comandou e instruiu ficou conhecido, após as batalhas dos Guararapes, como o 'Exército Patriota'. Essa união do povo brasileiro, quando ainda não se tinha esse conceito, com o objetivo comum de defender a terra, marcou a história do país. Em 1645, liderou uma pequena tropa de mazombos com pouco armamento e treinamento, emboscando três vezes as tropas de João Maurício de Nassau que, subindo o monte, tentavam atacar a sua posição. O contra-ataque de Cardoso, descendo o monte, conseguiu repelir os holandeses. Liderou a linha de frente, derrotando as tropas do Coronel Van Hans, Comandante-Geral holandês no Nordeste do Brasil. Foi Subcomandante do maior e melhor treinado dos quatro Terços, tendo-lhe sido passada a investida da principal frente de batalha por João Fernandes Vieira, que era civil. Comandou 550 homens bem armados, a chamada Tropa Especial, desbaratando toda a ala direita dos holandeses, na 2ª batalha dos Guararapes. António Dias Cardoso defendeu, ao lado de sua Companhia e de Luiz Barbalho Bezerra, a cidade de Salvador, nas trincheiras do bastião de Santo António, cercada pelos melhores soldados de Maurício de Nassau. Também participou activamente nas duas batalhas dos Guararapes quando na primeira foi subcomandante do maior dos quatro terços do 'Exército Patriota', tendo-lhe sido passada a investida da principal frente de batalha por João Fernandes Vieira, na segunda batalha comandou a chamada 'Tropa Especial do Exército Patriota', desbaratando toda a ala direita dos holandeses. Nesta campanha começou no posto de soldado, durante a invasão de 1624 a 1625 teve sucesso ao lado de sua companhia em conter o invasor no perímetro de Salvador que estava cercada pelos melhores soldados de Maurício de Nassau, por seus feitos durante a campanha chegou rapidamente ao posto de capitão, onde foi para a reserva, mas devido ao seu reconhecido valor foi novamente convocado para lutar, era conhecedor profundo das técnicas de guerrilha dos indígenas, onde os mesmos utilizavam-se largamente de emboscadas, e em 1645 recrutou, treinou e liderou uma força de 1.200 pernambucanos mazombos insurrectos, armados com armas de fogo, foices, paus, arcos e flechas, numa emboscada em que derrotaram 1.900 neerlandeses melhor equipados. Devido a seus feitos foi-lhe concedido a honra de Cavaleiro da Ordem de Cristo e o comando do Terço de João Fernandes Vieira, do qual havia sido ajudante à época da 1ª batalha dos Guararapes. Em 1656 foi nomeado Mestre-de-Campo, encerrando definitivamente a sua carreira militar. Em 1657, assumiu o governo da Capitania da Paraíba.

Filipe Camarão


António Filipe Camarão nasceu em parte incerta, por volta de 1580 a 1600 e faleceu no Recife, 24 de agosto de 1648, foi um indígena brasileiro da tribo potiguar, nascido no início do século XVII no bairro de Igapó, na cidade de Natal, na então Capitania do Rio Grande. Tinha, como nome de nascença, Poti ou Potiguaçu, nomes tupis que significam, respectivamente, 'camarão' e 'camarão grande'. Ao ser baptizado e convertido ao catolicismo em 1614, recebeu o nome de António e adoptou o 'Filipe Camarão' em homenagem ao soberano Dom Filipe II (1598-1621). Educado pelos jesuítas, era ele, segundo frei Manuel Calado, "destro em ler e escrever e com algum princípio de latim", considerava de suma importância a correcção gramatical e a pronúncia do português, "era tão exagerado em suas coisas, que, quando fala com pessoas principais, o fazia por intérprete (posto que falava bem o português) dizendo que fazia isto porque, falando em português, podia cair em algum erro no pronunciar as palavras por ser índio". Seu trato era comedido e "mui cortesão em suas palavras e mui grave e pontual, que se quer mui respeitado".



No contexto das invasões holandesas do Brasil, auxiliou a resistência organizada por Matias de Albuquerque desde 1630, como voluntário para a reconquista de Olinda e do Recife. À frente dos guerreiros de sua tribo, organizou acções de guerrilha que se revelaram essenciais para conter o avanço dos invasores. Sempre acompanhado de sua esposa, Clara Camarão, tão combatente quanto ele, destacou-se nas batalhas de São Lourenço (1636), de Porto Calvo (1637) e de Mata Redonda (1638). Nesse último ano participou ainda da defesa de Salvador, atacada por Maurício de Nassau. Distinguiu-se, na primeira, comandando a ala direita do exército rebelde na Primeira Batalha dos Guararapes (1648), pelo que foi agraciado com a mercê de "Dom", o "hábito de cavaleiro da Ordem de Cristo", o "foro de fidalgo com brasão de armas" e o título de "capitão-mor de Todos os índios do Brasil". Morreu no Arraial Novo do Bom Jesus (Pernambuco), em 24 de agosto de 1648, em consequência de ferimentos sofridos no mês anterior, durante a Batalha dos Guararapes. Após a sua morte, foi sucedido no comando dos soldados insurgentes indígenas por seu sobrinho Dom Diogo Pinheiro Camarão.

André Vidal de Negreiros


André Vidal de Negreiros nasceu na Capitania da Paraíba em 1606 e faleceu em Goiana, a 3 de fevereiro de 1680, foi um militar e governador português nascido na então colónia do Brasil, conhecido principalmente por ser um dos líderes da expulsão holandesa da Capitania de Pernambuco. André Vidal foi filho de Francisco Vidal, nascido em Lisboa e falecido em Paraíba, e de sua mulher Catarina Ferreira, nascida em Porto Santo, e se casou com Mónica Vidal1. Batalha dos Guararapes. Mobilizou recursos e gentes do sertão nordestino para lutar ao lado das tropas luso-brasileiras, um dos melhores soldados de seu tempo, tomou parte com grande bravura em quase todos os combates contra os holandeses. Foi nomeado Mestre-de-Campo, notabilizando-se no comando de um dos terços do 'Exército Patriota' nas duas batalhas dos Guararapes. Comandou o sítio de Recife que resultou na capitulação holandesa em 1654. André Vidal de Negreiros foi na opinião do historiador Francisco Adolfo de Varnhagen o grande artífice da expulsão dos holandeses. Pelos seus feitos foi nomeado governador e capitão-geral das capitanias do Maranhão, de Pernambuco e o Estado de Angola. No contexto das invasões holandesas do Brasil (1624-1654) lutou contra os holandeses quando da invasão de Salvador na Bahia (1624), voltando a se envolver no conflito participando de todas as fases da Insurreição Pernambucana (1645-1654), quando mobilizou tropas e meios nos sertões nordestinos. Encarregado de levar ao Rei Dom João IV (1640-1656), a notícia da expulsão dos holandeses, foi condecorado pelo soberano. Por seus feitos foi sucessivamente nomeado Governador e Capitão-Geral da Capitania do Maranhão (1655-1656), da Capitania de Pernambuco (1657-1661), de Angola (1661-1666), e, novamente, de Pernambuco (1667).

O historiador Veríssimo Serrão, complementa:

"Dirigiu as operações de guerra até 1654, sendo, na opinião de Varnhagen, o grande artífice da expulsão dos holandeses. A Coroa utilizou, depois deu valimento como governador das Capitanias do Maranhão (1656-1666) e de Pernambuco (1657-1661 e 1667), mandando-o também governar o Estado de Angola (1661-1666). Embora o considere um valente cabo-de-guerra, Charles R. Boxer limita o papel de Negreiros na chefia do movimento, por considerar que foi João Fernandes Vieira o principal herói da reconquista de Pernambuco."

João Fernandes Vieira


João Fernandes Vieira nasceu na ilha do Faial, por volta de 1613 e faleceu em Olinda, em 1681, foi senhor de engenho e um dos principais chefes militares nas lutas pela expulsão dos holandeses de Pernambuco. Era mulato e chegou ao Brasil com dez anos de idade, na opinião do historiador Charles Ralph Boxer foi o principal herói da reconquista de Pernambuco. Conforme as palavras do historiador brasileiro Oliveira Lima, "João Fernandes Vieira, apesar de ser de cor, governou Angola e Pernambuco". Em 1645 foi o primeiro signatário do pacto então selado no qual figura o vocábulo pátria pela primeira vez utilizado em terras brasileiras. Na função de Mestre-de-Campo, comandou o mais poderoso terço do Exército Patriota nas duas batalhas dos Guararapes (1648 e 1649). Por seus feitos, foi aclamado 'Chefe Supremo da Revolução' e 'Governador da Guerra da Liberdade' e da 'Restauração de Pernambuco'. Apesar das muitas dúvidas e controvérsias acerca da origem de João Fernandes Vieira, um dos heróis da 'Restauração Pernambucana', pode-se afirmar que nasceu na Ilha da Madeira em 1613, numa época de opressão e de pobreza, em que dominava o governo castelhano.


O historiador português Veríssimo Serrão, recorda que a biografia deste militar:

" (...) se mantém coberta de sombras e que se tornou uma personagem quase lendária da Restauração no Brasil. Nascido ao redor de 1610 na ilha da Madeira, era mulato e de origem humilde. Tendo emigrado para Pernambuco, ali exerceu pequenos mesteres até 1635, quando a protecção dos holandeses lhe fez adquirir alguns meios de fortuna. Pouco depois era senhor de cinco engenhos, exerceu o cargo de vereador de Maurícia e obteve a contratação dos dízimos sobre o pau-brasil e o açúcar." Conforme o historiador brasileiro Oliveira Lima, "João Fernandes Vieira, apesar de ser de cor, governou Angola e Pernambuco". Já segundo o Nobiliário da Ilha da Madeira, de Henrique Henriques de Noronha, também mencionado na obra de José Antonio Goncalves de Mello, o verdadeiro nome de Vieira era Francisco de Ornelas, filho segundo do fidalgo Francisco de Ornelas Moniz e de sua esposa Dona Antónia Mendes, que, sendo rapaz, fugiu para o Brasil, onde mudou de nome. Teria nascido na capitania de Machico em 1613. Os sobrenomes Fernandes e Vieira homenageavam, os seus ancestrais Pedro Vieira o grande morgado da Ribeira de Machico, e António Fernandes, sesmeiro nas Covas do Faial, no Norte da ilha. Tradicionalmente, considera-se que chegou à Capitania de Pernambuco, no Brasil, em 1620, possivelmente com menos de dez anos de idade. Humilde, trabalhou no comércio em Olinda, tendo participado, ao lado das forças de Matias de Albuquerque, da resistência à segunda das Invasões holandesas do Brasil em 1630. Poucos anos mais tarde, trabalhava na cidade para um abastado comerciante e senhor de engenho judeu neerlandês, Jacob Stachhouwer, pessoa ligada à 'Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais' (W.I.C.). No convívio e no trato com os invasores, conhecendo bem Maurício de Nassau, acumulou propriedades rurais, enriqueceu, tornando-se abastado senhor de engenho que, pelos destinos da guerra, veio a perder. Em 1639, Vieira já era uma pessoa importante na sociedade pernambucana, tendo sido indicado para o cargo de ‘escabino’ (membro da Câmara Municipal) de Olinda. Posteriormente, foi ‘escabino de Maurícia’ (Recife) de Julho de 1641 a junho de 1642, sendo reconduzido, no exercício de 1642 a 1643.

Fernandes Vieira


Em 1643, casou-se com Maria César, filha do madeirense Francisco Berenguer de Andrada e de Joana de Albuquerque, descendente de Jerónimo de Albuquerque. Com o casamento, João Fernandes Vieira ingressou definitivamente na aristocracia rural pernambucana.

Ainda de acordo com Veríssimo Serrão:

" (...) em 1642, aumentou os seus bens, e viu-se feito capitão de um Corpo de Ordenanças, continuando a beneficiar de empréstimos da Companhia para manter seus negócios. Ser-lhe-ia, portanto, mais fácil garantir a independência financeira, em vez de obedecer a razões de ordem religiosa para hostilizar os holandeses, como o veio a fazer desde 1644. O seu comportamento posterior, assente em actos de coragem, mostra que Vieira sentiu o ideal da Restauração e o antepôs, com todos os riscos, ao valimento social que auferia em Pernambuco."

Após a partida de Maurício de Nassau do Recife, em 1644, passou a se opor aos invasores, assumindo a liderança da insurreição de 1645, vindo a receber apoio de seu amigo, o frei Manuel Calado, que do seu púlpito convocou o povo à luta contra os "hereges" e redigiu "O Valeroso Lucideno" (Lisboa, 1648). Batalha dos Guararapes. Em 1645, Vieira foi o primeiro signatário do pacto então selado (no qual figura o vocábulo pátria pela primeira vez utilizado em terras brasileiras). Na função de mestre-de-campo, comandou o mais poderoso terço do Exército Patriota nas duas batalhas dos Guararapes (1648 e 1649). Por seus feitos, foi aclamado Chefe Supremo da Revolução e Governador da Guerra da Liberdade e da Restauração de Pernambuco. Os principais chefes militares do movimento de restauração de Pernambuco contra o domínio holandês foram, além de Vieira, André Vidal de Negreiros, Antônio Filipe Camarão, à frente dos índios da costa do Nordeste, Henrique Dias, no comando de pretos, crioulos e mulatos; e o capitão Antônio Dias Cardoso, tendo-se transformando em heróis do imaginário nativista pernambucano. A "guerra da liberdade divina", nas palavras do padre Antônio Vieira, durou nove anos, sendo de assinalar que o governador de Pernambuco, António Teles da Silva, dava apoio encoberto à revolta, enquanto os holandeses pensavam que se tratava apenas de uma sublevação na capitania de Pernambuco. A diplomacia de Dom João IV de Portugal, entretanto, tentava, na Europa, não indispor a Holanda. O que ocorria no Recife não tinha o apoio da Coroa, por isso o conflito entre o governador e os colonos revoltados, na primavera de 1646. António Teles da Silva chegou a ser mandado regressar a Lisboa, onde esteve detido em São Gião como colaborador dos movimentos de Pernambuco, mas, aproveitando da vitória de Tabocas, foi possível recuperar outras zonas em poder dos holandeses: os fortes de Sergipe, do rio São Francisco, do Porto Calvo, de Serinhaém e de Nazaré. Com a paz, após 1654, Fernandes Vieira recuperou os seus bens e, entre outros cargos, foi nomeado Governador e Capitão-Geral da Capitania da Paraíba (1655-1657). Mais tarde, foi nomeado governador e Capitão-general de Angola (1658-1661). Exerceu também o cargo de Superintendente das Fortificações do Nordeste do Brasil, de 1661 a 1681.

Henrique Dias


Henrique Dias foi um português nascido na colónia portuguesa do Brasil, filho de escravos africanos libertos nasceu em princípios do século XVII, na capitania de Pernambuco. Foi Mestre-de-campo e Cavaleiro da Ordem de Cristo. Não existe consenso entre os historiadores se nasceu cativo ou livre. No contexto das Invasões holandesas do Brasil, ofereceu-se como voluntário a Matias de Albuquerque para lutar contra os holandeses, conhecido como 'governador da gente preta', recrutou ex-escravos afro-brasileiros oriundos dos engenhos assolados pelo conflito e dominados pelos invasores, como mestre-de-campo comandou o Terço de Homens Pretos e Mulatos do 'Exército Patriota' nas duas batalhas dos Guararapes, suas tropas também eram denominadas 'Henriques' ou 'milícias negras'. Oriundos dos engenhos conquistados pelos invasores. Participou de inúmeros combates, distinguindo-se por bravura nos combates de Igaraçu onde foi ferido duas vezes, participou ainda da reconquista de Goiana e notoriamente em Porto Calvo em 1637, quando teve a mão esquerda estraçalhada por um tiro de arcabuz, sem abandonar o combate decidiu a vitória na ocasião.



Quando Dom João IV desautorizara a 'Insurreição Pernambucana' há uma breve trégua, mas mesmo assim Henrique Dias escreve estas palavras aos holandeses: " (...) meus senhores holandeses (...) Saibam Vossas Mercês que Pernambuco é (...) minha Pátria, e que já não podemos sofrer tanta ausência dela. Aqui haveremos de perder as vidas, ou havemos de deitar a Vossas Mercês fora dela. E ainda que o Governador e Sua Majestade nos mandem retirar para a Bahia, primeiro que o façamos havemos de responder-lhes, e dar-lhes as razões que temos para não desistir desta guerra.". Estando Portugal em trégua com a Holanda, Dom João IV desautorizara a 'Insurreição Pernambucana' contra o domínio holandês, do que estes muito se valiam espalhando a notícia. 


Henrique Dias, no entanto, sem autorização superior escreveu-lhes:

“Meus senhores holandeses. Meu camarada, o Camarão, não está aqui; mas eu respondo por ambos. Saibam Vossas Mercês que Pernambuco é Pátria dele e minha Pátria, e que já não podemos sofrer tanta ausência dela. Aqui haveremos de perder as vidas, ou havemos de deitar a Vossas Mercês fora dela. E ainda que o Governador e Sua Majestade nos mandem retirar para a Bahia, primeiro que o façamos havemos de responder-lhes, e dar-lhes as razões que temos para não desistir desta guerra”.


Henrique Dias. Devido aos serviços prestados, recebeu títulos de fidalgo, a mercê do Hábito da Ordem de Cristo e a patente de Mestre de campo. Conhecido como 'Governador dos crioulos, pretos e mulatos do Brasil', envolveu-se ainda na repressão a quilombos, tendo sido cogitado pelo vice-rei Marquês de Montalvão, em Novembro de 1640, para combater um quilombo no sertão da Bahia, o que foi recusado pelos vereadores de Salvador. Como mestre-de-campo, comandou o 'Terço de Homens Pretos e Mulatos do Exército Patriota', também denominados 'Henriques', nas duas batalhas dos Guararapes (1648 e 1649), vindo a falecer em 1662, oito anos após a vitória sobre os holandeses. Pela criação desse Terço, pode ser considerado o "pai" das milícias negras no Brasil. Seu genro Pedro de Val de Vezo herdou os títulos de Henrique Dias, que incluíam a Comenda de Soure e o título de cavaleiro da Ordem de Cristo. Sua outra filha, Benta Henriques, casou com o Capitão do Terço de Homens Pretos e Mulatos Amaro Cardigo, que também era negro. Cardigo cobrou da coroa o título de cavaleiro da Ordem de Santiago que foi prometida por Luísa de Gusmão aos genros de Henrique Dias. Este pedido foi negado pela ordem após três apelações.



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