Os
quilombos constituíram-se em locais de refúgio dos escravos africanos e
afrodescendentes em todo o continente americano. Eram entendidos pelo Conselho
Ultramarino do governo português em 1740 como todo "agrupamento de negros
fugidos que passes de cinco, ainda que não tenham ranchos levantados em parte
despovoada nem se achem pilões neles". A definição antropológica da
Associação Brasileira de Antropologia de 1989 para esse agrupamento é: toda
comunidade negra rural que agrupe descendentes de escravos, vivendo da cultura
de subsistência e onde as manifestações culturais têm forte vínculo com o
passado.
No
Brasil, abrigavam também minorias indígenas e brancas. Ao longo da América,
tinham diversas denominações: cimarrones em algumas partes da América
espanhola; palenques em Cuba (1677, 1785 e 1793) e Colômbia (1600); Maroons na
Jamaica (1685) e Suriname (1685 com a fuga do seu fundador); marrons no Haiti
(1665, independente em 1804); Cumbes na Venezuela (1552, 1763, 1765); quilombos
e mocambos no Brasil. Os
escravos fugiam das fazendas entre os séculos XVI e XIX, e se abrigavam nos
quilombos para se defenderem da escravidão e resgatarem os laços de família perdidos com a escravização. Neles, existiam manifestações
religiosas e lúdicas, como a música e a dança. O mais famoso deles na história
do Brasil foi o de Palmares. Denominam-se "quilombolas" os habitantes
dos quilombos. Atualmente, as comunidades quilombolas passam por um processo de
reconhecimento legal de sua existência por parte dos governos nacionais e das
organizações internacionais. A
palavra "quilombo" tem origem nos termos ‘kilombo’ (Quimbundo) e
‘ochilombo’ (Umbundo), estando presente também em outras línguas faladas ainda
hoje por diversos povos Bantus que habitam a região de Angola, na África
Ocidental. Originalmente, designava apenas um lugar de pouso, utilizado por
populações nómades ou em deslocamento; posteriormente passou a designar também
as paragens e acampamentos das caravanas que faziam o comércio de cera, escravos
e outros itens cobiçados pelos colonizadores. Significava também
"acampamento guerreiro", "capital, povoação, união". Porém
foi só no Brasil que o termo "quilombo" ganhou o sentido de
comunidades autónomas de escravos fugitivos.
Tradicionalmente,
os quilombos eram das regiões de grande concentração de escravos, afastados dos
centros urbanos e em locais de difícil acesso. Os quilombos da Confederação
Quilombola do Campo Grande, em Minas Gerais, conhecida como Quilombo do Campo
Grande, alteram em muito esse conceito generalizante, pois, a partir de 1735,
se formaram e se fortaleceram com pretos forros e seus escravos, brancos pobres
e seus escravos, além de escravos fugidos da escravidão. Todos eles fugiam do
sistema tributário da capitação que vigorou nas Minas no período de 1735 a
1750. Embrenhados
nas matas, selvas ou morros, esses núcleos se transformaram em aldeias,
dedicando-se à economia de subsistência e às vezes ao comércio, alguns tendo
mesmo prosperado. Existem registros de quilombos em todas as regiões do país,
com destaque ao estado de Alagoas, na região do atual município de União dos
Palmares, onde surgiu o principal e maior quilombo que já existiu. O Quilombo
dos Palmares, na então Capitania de Pernambuco, quando Alagoas era ainda
comarca pernambucana. Segundo os registros, existem quilombos nos seguintes
estados brasileiros: Maranhão, Pernambuco, Espírito Santo, Bahia, Goiás, Mato
Grosso, Pará, Amapá, Acre, Rio Grande do Norte, Amazonas, Rio de Janeiro, São
Paulo, Sergipe, Ceará, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do
Sul, Rondónia, Roraima, Santa Catarina, Tocantins, Piauí, Paraíba e Ceará. Os
seus habitantes, denominados de "quilombolas", eram, originalmente,
agrupamentos de ex - escravos fugidos de seus senhores desde os primeiros
tempos do período colonial. Em algumas épocas e locais, tentaram reproduzir a
organização social africana, inclusive com a escolha de reis tribais.
Quanto
à violência praticada pelos quilombos e quilombolas, o caos provocado no
Caminho de Goiás, a Picada de Goiás, pelo quilombolas do Quilombo do Ambrósio,
o principal quilombo de Minas Gerais:
Não
há dúvida que esta invasão negra, fora provocada por aquela escandalosa
transitar pela picada, e que começou a dar nas vistas demais, Goiás era uma Canaã.
Voltavam ricos os que tinham ido pobres. Iam e viam mares de aventureiros.
Passavam boiadas e tropas. Seguiam comboios de escravos. Cargueiros intérminos,
carregados de mercadorias, bugigangas, minçangas, tapeçarias e sal. Diante disso,
negros foragidos de senzalas e de comboios em marcha, unidos a prófugos da
justiça e mesmo a remanescentes dos extintos cataguás, foram se homiziando em
certos pontos da estrada ("Caminho de Goiás" ou "Picada de
Goiás"). Essas quadrilhas perigosas, sucursais dos quilombolas do Rio das
Mortes, assaltavam transeuntes e os deixavam mortos no fundo dos boqueirões e
perambeiras, depois de pilhar o que conduziam. Roubavam tudo. Boiadas. Tropas.
Dinheiro. Cargueiros de mercadorias vindos da Corte (Rio de Janeiro). E até os
próprios comboios de escravos, matando os comboieiros e libertando os negros
trelados. E com isto, era mais uma súcia de bandidos a engrossar a quadrilha.
Em terras oliveirenses, açoitava-se grande parte dessa nação de 'caiambolas
organizados' nas matas do Rio Grande e Rio das Mortes, de que já falamos. E do
combate a essa praga é que vai surgir a colonização do território de Oliveira (Minas Gerais) e toda a região. Entre os mais perigosos bandos do Campo Grande,
figuravam o quilombo do negro Ambrósio e o negro Canalho. A
maioria dos quilombos tinha existência efémera, pois uma vez descobertos, a sua
repressão era marcada pela violência por parte dos senhores de terras e de
escravos, com o duplo fim de se reapossar dos elementos fugitivos e de punir
exemplarmente alguns indivíduos, visando a atemorizar os demais cativos. Apesar de representar uma resistência à escravidão, muitos
quilombos contavam com a escravidão internamente. Esta prática levou vários
teóricos a interpretarem a prática dos quilombos como um conservadorismo
africano, que mantinha as diversas classes sociais existentes na África,
incluindo reis, generais e escravos.
Contudo,
a escravidão nos quilombos em nada se assemelhava à escravidão dos brancos
sobre os negros, sendo os escravos considerados como membros das casas dos
senhores, aos quais deviam obediência e respeito. Semelhante à escravidão entre
brancos, comum na Europa na Alta Idade Média.
Assim,
a prática da escravidão nos quilombos tinha dupla finalidade:
A
primeira, de aculturar o escravo recém-liberto às práticas do quilombos, que
consistiam em trabalho árduo para a subsistência da comunidade, já que muitos
dos escravos libertos achavam que não teriam mais que trabalhar.
A
segunda, que visava a diferenciar os ex-escravos que chegavam aos quilombos
pelos próprios meios (escravos fugidos, que se arriscavam até encontrar um
quilombo. Sendo, neste trajecto, perseguidos por animais selvagens e pelos
antigos senhores, e ainda, correndo o risco de serem capturados por outros
escravistas) daqueles trazidos por incursões de resgates (escravos libertados
por quilombolas que iam às fazendas e vilas para libertar escravos).
Estudos
genéticos realizados em quilombos têm revelado que a ancestralidade africana
predomina na maioria deles, embora seja bem significativo a presença de
elementos de origem europeia e indígena nessas comunidades. Isso mostra que os
quilombos não foram povoados apenas por africanos, mas também por pessoas de
origem europeia e indígena que foram integradas nessas comunidades. Os estudos
mostram que a ancestralidade dos quilombolas é bastante heterogénea, chegando a
ser quase que exclusivamente africana em alguns, como no quilombo de Valongo,
no Sul, enquanto em outros a ancestralidade europeia chega até a predominar,
como no caso do quilombo do Mocambo, na Região Nordeste do Brasil, mas isso é a
excepção.
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