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segunda-feira, agosto 31, 2015

Guerras com Castela 1368-1414

Situação político-militar


Sob o ponto de vista político-militar este período é marcado pelas tentativas de união de Portugal e Castela e pelo começo da interferência dos Ingleses nos negócios da Península Ibérica. Duas linhas de força que daí para a frente, vão condicionar a política externa portuguesa praticamente até ao século XX. Tudo começa pelo facto de D. Fernando, quando sobe ao trono, encontrar os cofres cheios de dinheiro e ter à sua disposição uma armada que seria, possivelmente, a mais forte da época. Confiado, nestes dois factores de força e ignorando que Castela era pouco vulnerável ao poder naval e que disponha de um exército superior ao nosso, deixa-se envolver nas lutas pela sucessão ao trono daquele país e lança-se levianamente na guerra em 1369, para valer os seus direitos. Mas faltam-lhe os dotes militares indispensáveis pra conduzir uma empresa de tão grande envergadura. A armada portuguesa estiola-se ingloriamente no bloqueio de Sevilha sem contrapartidas apreciáveis de ordem estratégica e o nosso exército não se atreve a enfrentar os Castelhanos numa batalha campal. A guerra entra num impasse e a intervenção do Papa põe termo às hostilidades em 1371. De notar que esta guerra não foi motivada por razões de política nacional ainda que mal concebidas mas unicamente, como geralmente acontecia durante a Idade Média, por razões de ordem pessoal do monarca. Foi apenas para satisfazer a sua vaidade pessoal de cingir simultaneamente as coroas de Portugal e Castela que D. Fernando deu inicio a uma guerra que quer ganhasse, ou perdesse poderia acarretar, a união dos dois países e a consequente perda da independência nacional. O pior de tudo é que não aprendeu a lição. Dominado por um sentimento mesquinho de frustração fica à espera de uma condição propícia para se desforrar da humilhação que sofrera. É, esse, o estado de espirito que o leva em 1372, a apoiar as pretensões do Duque de Lencastre ao trono de Castela. Faltando vergonhosamente aos compromissos que assumira no ano anterior, entra de novo em guerra com aquele país em apoio dos ingleses. Mas desta vez, as operações militares ainda são mais desfavoráveis aos Portugueses. O rei de Castela Henrique II marcha sobre Lisboa e perante passividade de D. Fernando, põe cerco à cidade. O que vale aos Portugueses é que Henrique II encontra.se preocupado com a situação interna de Castela e com a pressão que os Ingleses auxiliados pelo rei de Navarra, exercem sobre as suas fronteiras orientais. Desejoso de pôr termo à guerra com Portugal, aceita mais uma vez, a mediação do Papa para fazer a paz com D. Fernando em 1373. Mas este não desiste. Consegue fazer uma aliança com os Ingleses e em 1381, na sequência da morte de Henrique II, procura de novo fazer vingar os seus direitos ao trono de Castela pela força das armas. A sorte não lhe sorri. A armada portuguesa sofre inesperadamente uma tremenda derrota em Saltes e o próprio estuário do Tejo è ocupado pelas armadas de Castela. Felizmente, alguns dias antes, tinha chegado a Lisboa um importante contingente de tropas inglesas. Graças a essa ajuda os Portugueses conseguem equilibrar a balança das forças terrestres. Os castelhanos não ousam arriscar-se a uma batalha decisiva e pela terceira vez, com os beligerantes esgotados e fartos, de uma guerra estúpida, é celebrada a paz … sem o conhecimento dos Ingleses (!). que abandonam Portugal indignados com o procedimento de D. Fernando. Após a morte deste em 1383, invertem-se os papéis. Agora é D. João I de Castela que apoiado pela maioria da nobreza Portuguesa, faz valer os seus direitos ao trono de Portugal. Estala em Lisboa a revolução popular e burguesa que levanta o Mestre de Avis por Defensor e Regedor do Reino. O rei de Castela vem pessoalmente pôr cerco à cidade de Lisboa por terra e por mar e começa a quarta guerra em 1384, e com ela a gesta do povo Português, lutando desesperadamente pela manutenção da independência. Por fim graças ao auxílio dos frecheiros ingleses vindos por mar e ao génio táctico de Dom Nuno Alvares Pereira, os Castelhanos são decisivamente batidos na memorável batalha de Aljubarrota. A partir daí, a guerra arrasta-se até 1411 sem operações militares de vulto D. João I de Portugal que celebra o tratado de Windsor em 1386, limita-se a defender as nossas fronteiras com o auxílio dos Ingleses sem procurar interferir na política interna de Castela. Desde então, qualquer ideia de união com este país ou de expansão territorial pra leste ou norte à sua custa é definitivamente posta de parte pelos Portugueses, embora o contrário não se verifique. A absorção das regiões periféricas da Península continua a ser uma das traves mestras da política castelhana.


Situação económica

Durante este período, a situação económica de Portugal deteriora-se consideravelmente. Um povo que, pelos padrões da época, vivia em relativa abastança vê-se em poucos mais de uma dezena de anos reduzido á pobreza. Para isso contribuíram diversos factores. O primeiro resultou directamente do rápido crescimento económico verificado durante a última fase do, período anterior reinados de D. Dinis, de Afonso IV e de D. Pedro I. A prosperidade crescente dos grandes centros comerciais e marítimos de Lisboa e Porto transformara-os progressivamente em pólos de atração irresistíveis para as populações das zonas rurais. Os camponeses começam a fugir para as cidades, onde muitos deles sobrevivem à custa do exercício de actividades parasitárias ou de vadiagem e os campos ficam abandonados. Em consequência disso diminui a produção agrícola, que é um dos principais sustentáculos da nossa economia e tudo o resto se ressente.


D. Fernando tenta corrigir através de medidas intervencionistas tomando obrigatório o cultivo das terras abandonadas, fixando os salários rurais, proibindo a emigração para as cidades, etc. Mas sem qualquer resultado palpável.


O segundo factor que arruinou a economia foi a guerra. Em consequência da insegurança dela resultante o comércio marítimo que havia sido o motor do desenvolvimento espectacular verificado durante o período anterior decresce consideravelmente. Nas zonas onde têm lugar as operações militares, nomeadamente em Lisboa e seus arredores, a perda de bens incluindo a destruição de numerosas hortas e pomares representa um prejuizo económico incalculável. Por último o lançamento no mercado de grandes quantidades de moeda que o rei tinha entesourado dos preços dos produtos para pagar as despesas da guerra junto ao aumento dos preços dos produtos agrícolas resultante da diminuição da produção, dá origem a uma inflação galopante.

Estrutura social


Este período é particularmente importante no que toca à evolução, da estrutura social. Em resultado da prosperidade económica alcançada no, período anterior, tinham surgido dois novos grupos sociais que dia após dia iam ganhando mais peso na vida social, os grandes comerciantes e os artificies citadinos. E, será legítimo supor que se a Paz se mantivesse e o crescimento económico continuasse, a influência desses grupos continuaria a crescer em detrimento da nobreza que, não havendo guerras se tornaria uma classe inútil. Mas o que aconteceu foi precisamente o contrário. A crise económica, se bem tenha abalado todas as classes sociais, abalou ainda mais fortemente a burguesia e o proletariado urbano. Por outro lado, a guerra, sobretudo a quarta em que se jogava a sobrevivência nacional, veio dar novo alento à nobreza de raiz militar, elevando-a novamente à condição de classe imprescindível. 


Quer dizer que em termos de estrutura social se retrogradou em vez de progredir. A estrutura social portuguesa voltou a ser exclusivamente constituída pelas três classes características da Idade Média. Nobreza, Clero e o Povo. A revolução de 1383, que representa para muitos, uma manifestação de poupança de novas classes sociais em gestação, não foi mais, quanto a nós do que uma manifestação do estertor dessas mesmas classes, cuja influência na vida portuguesa se torna insignificante a partir desse momento.

Ambiente cultural


Durante este período consolida-se definitivamente o sentimento nacional. Para isso terá contribuindo de forma definitiva a vitória de Aljubarrota. Mais do que a vitória de um exército ou de um rei, ela é a vitória de um Povo, que escolhera e coroara esse rei e nele, reflectivo o seu desejo de independência. É a partir dessa altura que a ideia de Pátria se torna mais forte do que qualquer ideia de classe ou grupo social. Poderemos talvez dizer, para sintetizar, que a partir de Aljubarrota os Portugueses deixam de se definir como sendo os súbditos do rei de Portugal. O rei de Portugal é que passa a ser definido como rei dos Portugueses.

Marinha


Durante este período não se verificam alterações significativas nem no material naval, nem na organização da Marinha, nem nos processos de navegar. D. Fernando procura fomentar o crescimento da marinha de comércio promulgando diversas leis em seu favor, nomeadamente no que diz respeito à construção de naus e aos seguros marítimos. Mas é provável  que a nossa marinha mercante durante o seu reinado e o seguinte, pelo menos até 1385, tenha sido fortemente afectada pela insegurança resultante da guerra. Quanto à marinha militar, devido à forma defeituosa como foi utilizada, por D. Fernando, tanto sob o ponto de vista estratégico com táctico, sofre um acentuado declínio ao longo do período. Na primeira guerra com Castela, Portugal dispunha de superioridade naval incontestável que foi esbanjada no perlongado bloqueio de Sevilha. Nas três guerras seguintes essa já não se verifica sobretudo depois da derrota de Saltes, e são as armadas de Castela que bloqueiam por diversas vezes Lisboa com efeitos devastadores. De resto, em qualquer guerra com Castela (mais tarde com a Espanha) as forças terrestres são claramente mais importantes para a defesa de Portugal do que as forças navais.



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