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quinta-feira, novembro 19, 2015

O Poder Régio - Séc. XIII-XIV


Rei Dom Afonso III de Portugal
(5 de Maio de 1210 - 16 de Fevereiro de 1279)




Dom Afonso III, nasceu em Coimbra a 5 de Maio de 1210, e morreu na mesma cidade, a 16 de Fevereiro de 1279, cognominado ‘O Bolonhês’ por ter sido casado com a Condessa Matilde II de Bolonha. Casou em França, em Maio de 1235, com a, Condessa de Bolonha e viúva de Dom Filipe, ‘o Crespo’, que tinha falecido em 1234, não tendo havido descendência, pelo que foi repudiada em 1253. Por um segundo casamento, feito em São Estêvão, termo de Chaves, no ano de 1253, com Dona Beatriz ou Brites, filha natural do Rei Dom Afonso X, Rei de Castela.


Dom Afonso III era o segundo filho do Rei de Portugal Afonso II e da sua mulher Dona Urraca de Castela. Como segundo filho, Afonso não deveria herdar o trono destinado a Dom Sancho e por isso viveu em França, onde se casou com Dona Matilde II de Bolonha em 1235, tornando-se assim 'Conde jure uxoris de Bolonha', onde servia como 'Dirigente Militar', combatendo em nome do Rei Luís IX, de França seu primo.



Todavia, em 1246, os conflitos entre Sancho II e a Igreja tornaram-se insustentáveis e o Papa Inocêncio IV nesse mesmo ano despacha a Bula ‘Inter alia desiderabilia’ que prepara a deposição de facto do monarca. A incapacidade política levou a Santa Sé, tendo o papa Inocêncio IV ordenado a todos os vassalos que obedecessem ao Infante Dom Afonso. Este chegou de França, onde vivia, desde 1234 a foi aclamado Rei em 1248. " (…) a, morte prematura de Afonso II e a incapacidade política de Sancho II haviam exposto o poder e o país à desintegração e justificado o apelo ao infante Afonso”. O papado, através de duas Breves, ainda aconselha Dom Afonso, Conde de Bolonha, a partir para a Terra Santa em Cruzada e também que passe a estar na Hispânia, fazendo aí Guerra ao Islão. Após prolongada época de desorganização e violência que atravessou todo o Reinado, a maioria dos homens desejava, acima de tudo, a paz e segurança. Por isso se entende que, da conjuntura de discórdia, de tendência para a insurreição contra a ‘Autoridade Régia’, tenha decorrido num processo de afirmação dessa autoridade. A guerra, ao mesmo tempo que enfraqueceu os adversários e criou um desejo de paz, encorajou a implantação de uma autoridade forte e, em última análise, facilitou o desenvolvimento do aparelho de Estado.


Os fidalgos levantam-se contra Dom Sancho, e Dom Afonso cede a todas as pretensões do clero no "Juramento de Paris", uma assembleia de prelados e nobres portugueses, jurando que guardaria todos os privilégios, foros e costumes dos municípios, cavaleiros, peões, religiosos e clérigos seculares do reino.





O JURAMENTO DE PARIS DE 1245


A TODOS OS QUE ESTA ESCRITURA VIREM, MESTRE JOÃO, CAPELÃO DO SENHOR PAPA E DEÃO DA IGREJA CARNOTENSE, MESTRE LUCAS, DEÃO, MESTRE PEDRO, CHANCELER DE PARIS, PÊRO GARCIA, TESOUREIRO DE BRAGA, SOEIRO SOARES, CHANTRE DE FREI PEDRO DE PICTAVIA, CUSTÓDIO DA CASA DOS FRADES MENORES DE PARIS, FREI HENRIQUE TEUTÓNICO, FREI MARTINHO DE VALENTINIS, FREI PEDRO AFONSO ESPANHOL DA ORDEM DOS PREGADORES, FREI DOMINGOS BRACARENSE DA ORDEM DOS MENORES, RUI GOMES DE BRITEIROS E GOMES VIEGAS, CAVALEIROS, PEDRO HONÓRICO E ESTÊVÃO ENES, VARÕES NOBRES, CAMAREIROS DE DOM AFONSO, CONDE DE BOLONHA, SAÚDE NO SENHOR.

Haveis de saber que o ilustre varão Dom Afonso, conde de Bolonha, e filho de Dom Afonso rei de Portugal de ínclita memória, estando em nossa presença, jurou aos Santos Evangelhos, em que pôs sua mão, dando-lhe o juramento o venerável padre Dom João, Arcebispo de Braga, em seu nome, João Martins, capelão do venerável padre Dom Tibúrcio, bispo de Coimbra, em nome do dito bispo, que o mandou para este efeito com seu selo, não podendo assistir por causa da enfermidade, na forma seguinte:

Eu Dom Afonso, Conde de Bolonha, filho de Dom Afonso de ilustre memória Rei de Portugal, prometo, e juro sobre estes Santos Evangelhos de Deus, que por qualquer título que alcançar o reino de Portugal, guardarei, e farei guardar a todas as Comunidades, Conselhos, Cavaleiros, e aos povos, aos Religiosos, e Clero do dito Reino todos os bons costumes, e foros escritos, e não escritos que tiveram em tempo de meu avô [Dom Sancho I], e de meu Bisavô [Dom Afonso Henriques]: e farei que se tire todos os maus costumes, e abusos introduzidos por qualquer ocasião, ou por qualquer pessoa, em tempo de meu pai, e irmão [Dom Sancho II], e particularmente, quando se cometer homicídio, que se não leve dinheiro aos vizinhos do morto, mormente quando é manifesto quem foi o matador.

Também farei quanto for em minha mão, que por todo o reino se ponham juízes justos, e tementes a Deus, conforme o eu melhor alcançar, e se elegerão ou por votos do povo, ou de outro modo lícito e conforme à Lei de Deus, e não por dinheiro, ou por opressão dos povos, ou por valia de algum poderoso senhor da mesma terra; e o que sair eleito tratará de fazer justiça inteiramente a todos os de seu distrito, segundo Deus, e sua consciência sem haver excepção de pessoas, e para este fim se mandará tirar inquirição todos os anos do procedimento dos juízes, e se algum se achar culpado, será castigado, segundo suas culpas merecerem.

Da mesma maneira darei ordem que se faça justiça de qualquer homicida, em especial daqueles que por si ou por outrem prendem, roubam, matam, ferem clérigos ou religiosos, e a pena destes será tal, que fique aos demais para exemplo.

Defenderei também, empararei, com particular cuidado conservarei ilesos os mosteiros, lugares pios, clérigos, religiosos,  suas fazendas,  possessões quanto me for possível: restituirei, e farei que se lhe restitua tudo o que até agora se lhe tem mal levado, seja quem quer que for o injusto defensor, invasor ou roubador. Dar-se-lhe-á satisfação dos danos e injúrias que por quaisquer modos lhe são feitos por quaisquer pessoas, ou se chamem padroeiros ou herdeiros: conforme o que melhor julgarem convir à paz e quietação do Reino o Arcebispo de Braga, o Bispo de Coimbra, e os outros prelados, religiosos, e mais homens bons, que não forem suspeitos, nem culpados.

Mandarei que se ponham por terra as quintas, e casas feitas de novo por quaisquer pessoas em tempo de meu Irmão Dom Sancho, que são em prejuízo de outros, e principalmente das igrejas, mosteiros, e mais religiosos, sem lhe valer o tempo que há que são feitas.

Também prometo que defenderei as igrejas, e mosteiros, especialmente daqueles que por seus delitos, ou de seus pais, têm perdido juridicamente o direito do padroado das mesmas igrejas, tanto que disto me constar por relação dos bispos daqueles lugares.

Prometo evitar todos os excomungados que me constar que o são, e se os tais e mostrarem contumácia, e permanência naquele mau estado, depois de os ter privados das mercês que de mim tiverem, lhes darei ainda maior castigo, conforme o arbitrarem os prelados, e deve fazer todo o príncipe cristão.

De conselho dos mesmos prelados se taxará também pena àqueles que penhoram, ou fazem injúrias aos que os excomungam, e sem haver aqui aceitação de pessoas, se dará a execução o castigo, pois convém preparar novos remédios para novos males.

Mais prometo de não receber colheitas em quantidade de dinheiro certo, nem maiores do que meu avô recebia, e isto só uma vez no ano. E quando passar pelos lugares aonde pagam, o farei com brevidade, e guardarei o que neste particular deixou ordenado o senhor Papa Gregório IX a instância do arcebispo de Braga, e farei que em todo o reino os meus vassalos o cumpram.

Emendarei também, e procurarei com todas minhas forças que se emende, segundo julgarem os prelados, respeitando o estado do reino, e a quietação dele, todos os males que até agora se fizeram em Portugal, e não permitirei que daqui em diante se cometam sem castigo; dos quais trata o decreto do Papa Inocêncio IV dirigido a mim, e aos prelados, comunidades, e mais pessoas do Reino.

Também prometo de cumprir, e tratar fielmente, quanto me for possível, o governo, e administração do Reino, e mais coisas para que sou eleito; e farei que se exercite justiça com todo cuidado: que não prevaleça a ousadia dos maus, que a cada um seja dado o que é seu, sem haver nisto respeito a grandes ou pequenos, pobres ou ricos.

Serei mais obediente sempre, e devoto à igreja romana minha mãe, como convém a príncipe católico tratarei com todo meu poder de a honrar, e exaltar, sem haver nisto dúvida, ou engano.

Em todos os negócios que tocarem ao estado do reino, pedirei também o conselho dos prelados, ou daqueles que sem dificuldade puderem ser chamados; e nisto não haverá engano.

Porém, por este segredo, ou conselho não entende o arcebispo, e bispos, que o conde será obrigado quando houver de fazer aos seus mercê de terras ou dinheiro, pedir o parecer dos prelados, que nisto seguirá o que vir é mais acertado, e assim lho concedem os mesmos prelados.

Todas estas coisas eu, o conde sobredito, cumprirei, ressalvando meu direito, e do reino de Portugal, de tal modo, que tudo o que fica dito permaneça estável, e firmemente, e se guarde, e cumpra em tudo, e por tudo. 

Por tanto nos outros em testemunho das cousas sobreditas, e petição do mesmo Conde, e do arcebispo de Braga, e bispo de Coimbra tivemos por bem de pôr nossos selos na presente escritura. E nós frei Pedro Afonso de Espanha, e frei Domingos de Braga, e Gomes Viegas, cavaleiro, porque não temos selos próprios, aprovamos a confirmação dos selos sobreditos. Foi feita em Paris em casa do chanceler da mesma cidade a oito dos idos de Setembro, que é a seis do próprio mês do ano do Senhor de 1245.


Para aceder ao trono, Afonso abdicou de Bolonha e repudiou Matilde para casar com Beatriz de Castela. Decidido a não cometer os mesmos erros do irmão, o novo rei prestou especial atenção à classe média de mercadores e pequenos proprietários, ouvindo suas queixas. Por este procedimento, Afonso III ficou conhecido também como o pai do "Estado Português", distribuindo alcaides pelos castelos e juízes pelas diferentes vilas e terras. O objectivo era a implantação de um poder legal com o qual todos os habitantes do Reino Português mantivessem uma relação de igualdade. Marchou sobre Portugal, chegando a Lisboa nos últimos dias do ano, onde se fez coroar rei em 1248 após o exílio e morte do Rei Dom Sancho II em Toledo.


Com efeito, sobre a difusão das estruturas feudo-vassálicas decorrente da discórdia, Afonso III irá reorganizar e reconstituir o seu poder. O 'juramento de Paris de 1245' já se afirmava como um programa político: manutenção da paz no reino, submissão incondicional ao direito e aos costumes e exercício da justiça, adoptando uma atitude vigilante contra os que quisessem introduzir novidades e restabelecendo o equilíbrio quando estivesse comprometido. Revelava já a consciência de que assegurar a paz e a justiça internas era afirmar a autoridade do 'Poder Régio'. Mas a 24 de julho, a 'Bula Grandi non immerito' depõe oficialmente Sancho II do governo do reino, e Afonso torna-se regente. Até à morte de Dom Sancho e a sua consequente coroação, Dom Afonso apenas usou os títulos de Visitador, Curador e Defensor do Reino. Dom Afonso só assume o Reino depois de morto seu irmão Dom Sancho II pouco depois de 3 de Janeiro de 1248, tornou-se o titular legítimo do trono português.


Com o trono seguro e a situação interna pacificada, Afonso voltou sua atenção para os propósitos da 'Reconquista do Sul da Península Ibérica' às comunidades muçulmanas. Durante o seu reinado, Faro foi tomada com sucesso em 1249 e o Algarve incorporado no reino de Portugal. O Rei Dom Afonso III começa a utilizar o título de Rei de Portugal e Rei do Algarve.







Após esta campanha de sucesso, Dom Afonso III teve de enfrentar um conflito diplomático com Castela, que considerava que o Algarve lhe pertencia. Seguiu-se um período de guerra entre os dois países, até que, em 1267, foi assinado o 'Tratado em Badajoz' que determina a fronteira no Guadiana desde a confluência do Caia até à foz, a fronteira luso-castelhana.


Em 1253, o Rei desposou Dona Beatriz, popularmente conhecida por Dona Brites, filha de Dom Afonso X de Castela, 'O Sábio'. Desde logo isto constituiu polémica pois Dom Afonso era já casado com Matilde II de Bolonha. O Papa Alexandre IV respondeu a uma queixa de Dona Matilde, ordenando ao Rei Dom Afonso que abandone Dona Beatriz em respeito ao seu matrimónio com Dona Matilde. O Rei não obedeceu, mas procurou ganhar tempo neste assunto delicado, e o problema ficou resolvido com a morte de Dona Matilde em 1258. O Infante, Dom Dinis, nascido durante a situação irregular dos pais, foi então legitimado em 1263.



O casamento funcionou como uma aliança que pôs termo à luta entre Portugal e Castela pelo Reino do Algarve. Também resultou em mais riqueza para Portugal quando Dona Beatriz, já após a morte do Rei, recebe do seu pai, Afonso X, uma bela região a Este do Rio Guadiana, onde se incluíam as vilas de Moura, Serpa, Noudar, Mourão e Niebla. Tamanha dádiva deveu-se ao apoio que Dona Brites lhe prestou durante o seu exílio na cidade de Sevilha.



Em 1254, na cidade de Leiria convocou a primeira reunião das Cortes, a 'Assembleia Geral do Reino', com representantes de todos os espectros da sociedade. O Rei Dom Afonso III preparou legislação que restringia a possibilidade das classes altas cometerem abusos sobre a população menos favorecida e concedeu inúmeros privilégios à Igreja. Recordado como excelente administrador, Dom Afonso III organizou a administração pública, fundou várias vilas e concedeu o privilégio de cidade através do édito de várias cartas de foral. Em meados de 1255, transferiu a corte do Reino de Portugal de Coimbra para Lisboa.


Foram por sua ordem feitas as 'Inquirições Gerais', iniciadas em 1258, como forma do Rei controlar, não só o grande poder da Nobreza, mas também para saber se lhe estavam a ser usurpados bens que, por direito, pertenciam à Coroa. Também procedeu a inquirições que revelaram muitos abusos praticados pelas classes privilegiadas, tendo promulgado várias leis tendentes a reprimi-los. Em 1261, nas 'Cortes de Coimbra' foi-lhe reconhecido o direito de cunhar moeda fraca. Dom Afonso III foi notável administrador, fundou povoações restaurou, repovoou a cultivou lugares arruinados e concedeu numerosos forais.







No final da sua vida, viu-se envolvido em conflitos com a Igreja, tendo sido excomungado em 1268 pelo Arcebispo de Braga e pelos Bispos de Coimbra e do Porto, para além do próprio Papa Clemente IV, à semelhança dos Reis que o precederam. O clero havia aprovado um libelo contendo quarenta e três queixas contra o monarca, entre as quais se achavam o impedimento aos Bispos de cobrarem os dízimos, utilização dos fundos destinados à construção dos templos, obrigação dos clérigos a trabalhar nas obras das muralhas das vilas, prisão e execução de clérigos sem autorização dos Bispos, ameaças de morte ao Arcebispo e aos Bispos e, ainda, a nomeação de judeus para cargos de grande importância. A agravar ainda mais as coisas, este Rei favoreceu monetariamente, as ordens religiosas mendicantes, como franciscanos, e dominicanos, sendo acusado pelo clero de apoiar espiritualidades estrangeiradas. O grande conflito com o clero também se deve ao facto do Rei ter legislado no sentido de equilibrar o poder municipal em prejuízo do poder do clero e da nobreza.








O Rei, que era muito querido pelos portugueses por decisões como a da abolição da anúduva (imposto do trabalho braçal gratuito, que obrigava as gentes a trabalhar na construção e reparação de castelos e palácios, muros, fossos e outras obras militares), recebeu apoio das Cortes de Santarém em Janeiro de 1274, onde foi nomeada uma comissão para fazer um inquérito às acusações que os Bispos faziam ao Rei. A comissão, composta maioritariamente por adeptos do Rei, absolveu-o. O Papa Gregório X, porém, não aceitou a resolução tomada nas Cortes de Santarém e mandou que se excomungasse o rei e fosse lançado interdito sobre o Reino em 1277.


À sua morte, em 1279, o Rei Dom Afonso III jurou obediência à Igreja e a restituição de tudo o que lhe tinha tirado. Face a esta atitude do Rei, o Abade de Alcobaça levantou-lhe a excomunhão e o Rei foi sepultado no Mosteiro de Alcobaça.


1ª mulher: Dona Matilde II de Bolonha
(Sem descendência).


Matilde II de Bolonha (1202-1258) foi uma nobre francesa, Condessa de Bolonha, Mortain, Aumale e Dammartin de 1216 a 1260 e rainha consorte de Portugal de 1248 a 1253. Filha do Conde Reinaldo de Dammartin e da Condessa Ida de Bolonha, Matilde herdou os condados dos pais, uma vez que estes não tiveram filho varão que lhes sucedesse. Em 1214, o seu pai fez parte da coligação derrotada na batalha de Bouvines por Filipe Augusto, acabando por ser aprisionado pelo Rei de França. Este último assumiu o controlo de Bolonha e em 1218 casou Matilde com o seu filho Filipe Hurepel. Deste casamento nasceram:

•        Dona Joana que nasceu em 1219 e faleceu em 1252, Casada com Gautério de Châtillon, Conde de Nevers.

•        Dom Alberico nasceu em 1222 faleceu depois de 1284, Conde de Clermont, que abdicaria das suas possessões em favor da irmã para se instalar na Inglaterra.

Após 1214, o Condado de Bolonha ficou sob a administração directa do monarca francês, mas quando este morreu em 1223, o Conde Filipe Hurepel assumiu o controlo. O Condado prosperou durante este período de paz. Filipe fez restaurações e melhorias às fortificações de Bolonha-sobre-o-Mar e outras praças-fortes do Condado, mas morreu em 1234. Entretanto a coroa francesa tinha passado para Luís IX, sob a regência de Branca de Castela, viúva de Luís VIII. Uma vez que o Condado de Bolonha ainda estava sob protecção do Reino de França, Branca de Castela organizou novo matrimónio para Matilde. O escolhido foi o Infante português Dom Afonso (futuro Dom Afonso III), irmão mais novo do Rei Dom Sancho II e filho de Dom Afonso II com Urraca de Castela, irmã de Branca. Afonso tornou-se Conde de Bolonha por casamento. Por esta época, havia em Portugal grandes convulsões internas. O Rei Dom Sancho envolvera-se num conflito com a Igreja Católica, pairando sob o país um clima de quase guerra civil. Branca de Castela viu então a possibilidade de aproximar diplomaticamente os Reinos de Portugal e França, tendo-se aliado com o Papa Inocêncio IV contra o referido Dom Sancho. De seguida, procurou convencer o Papa a depô-lo de Rei de Portugal no Concílio de Lião, e a designar o seu Afonso como Defensor e Protector do Reino de Portugal (regente). Afonso dirigiu-se a Portugal, tendo acabado por derrotar os partidários de Dom Sancho, que morreu exilado em Toledo. Pouco depois era aclamado Rei de Portugal e dos Algarves, tendo Matilde tornando-se Rainha ao seu lado. Mas quando se tornou evidente que Matilde não podia gerar mais filhos e, por conseguinte, o tão desejado herdeiro para o trono, Afonso repudiou-a em 1253 e casou-se de novo, com Beatriz de Castela, como parte de um tratado de paz firmado com o Reino de Castela. No entanto, como o seu anterior matrimónio não tinha sido anulado pela Igreja – o que acabou por motivar também conflitos entre Dom Afonso e o papado, tal como já antes sucedera com o seu irmão mais velho. Reza a lenda que a Condessa Matilde teria vindo à Península Ibérica para repreender o marido, o que carece de qualquer fundo de verdade. Seja como for, Matilde interveio junto da Santa Sé, que declarou inválido o casamento de Afonso e o obrigou a retractar-se, só depois da morte de Matilde o Papa legitimou o seu segundo matrimónio. Depois da sua morte, o Condado de Bolonha passou por um período de disputa entre vários pretendentes, mas o parlamento de Paris acabaria por decidir a favor de Adelaide de Brabante, uma prima de Matilde, filha de Henrique I de Brabante.




2ª mulher: Infanta Dona Beatriz de Castela
(Nasceu em 1242 e faleceu em 130).



Beatriz de Castela (em espanhol: Beatriz de Castilla ou Beatriz de Gusmão), nasceu em Saragoça, por volta de 1242 e faleceu a 27 de outubro de 1303, foi uma Infanta de Castela, Rainha de Portugal entre 1253 e 1279 e Rainha-mãe de 1279 a 1303. Era filha do Rei Afonso X o Sábio e com Dona Mor Guilhén de Gusmão, por isso neta materna de Dom Guilhén Peres de Gusmão e de Dona Maria Gonçalves Girão, e meia-irmã do Rei Sancho IV. Em 31 de dezembro de 1244, o Rei Afonso X "com a aprovação de seu pai", o Rei doou a vila de Elche a sua filha Dona Beatriz e a todas as crianças que tivesse com Dona Mor Guilhén de Gusmão no futuro, com o usufruto vitalício para sua mãe. Como parte de sua estratégia para chegar a um acordo com o Reino de Portugal sobre a soberania do Algarve, o Rei Afonso X deu a sua filha Beatriz em casamento ao Rei Afonso III, matrimónio celebrado em 1253. Afonso III era primo direito do avô de Beatriz, Fernando III de Leão e Castela, uma vez que a mãe de Fernando, a infanta Berengária de Castela, era irmã da Rainha Urraca de Castela, esposa de Afonso II de Portugal e mãe de Afonso III. No acordo, Afonso III "cederia temporariamente sou futuro sogro o usufruto do Algarve e dos territórios ao oriente do Guadiana" enquanto o Rei de Castela prometia devolver todos seus direitos sobre o Algarve ao primeiro filho de Afonso III e Beatriz quando ele atingisse a idade de sete anos. Embora a nobreza portuguesa considerasse que o "casamento foi humilhante para o Rei de Portugal", Afonso III informou a nobreza que "...se em outro dia achasse outra mulher que lhe desse tanta terra no reino, para acrescentar, que logo casaria com ela". Afonso III ainda estava casado com Matilde que foi repudiada en 1253 devido a esta não lhe poder dar um herdeiro para o trono português. Em 1255, Matilde acusou o marido de bigamia ao papa Alexandre IV e em 1258 este condenou Afonso III por adultério e exigiu que ele devolvesse o dote da Condessa Matilde. Porém, esta morreu no mesmo ano e as ameaças do Papa foram suspensas. O papa Alexandre IV morreu em 1261 e seu sucessor, o papa Urbano IV, em 19 junho de 1263, por a Bula pontifícia 'Qui celestia', legitimou o matrimónio e os três filhos já nascidos. Desde maio de 1253, Beatriz aparece nos documentos régios como a esposa e Rainha de Portugal, mas o matrimónio só terá ocorrido em maio de 1258 em Chaves. O Rei Afonso III, doou a Beatriz as vilas de Torres Vedras, Torres Novas, e Alenquer, e posteriormente o respectivo padroado. Com a morte de sua mãe, (o mais tardar) em 1267, Beatriz herdou uns senhorios em terras da Alcarria, incluindo Cifuentes, Viana, Palazuelos, Salmerón e Alcocer. Nesta última localidade, tomou a custódia do mosteiro de Santa Clara, fundado por sua mãe. Também a Rainha Beatriz mandou construir a Igreja de São Francisco em Alenquer, que depois da sua morte, foi terminada por seu filho, Dom Dinis que mandou colocar uma lápide "em honra da muy nobre rainha Dona Beatriz". Até a morte de seu marido, o Rei Afonso III em 1279, Dona Beatriz teve uma grande influência sobre a Cúria Régia e apoiou a aproximação dos Reinos de Portugal e de Castela. Em 1282, Beatriz voltou a Sevilha por causa de suas divergências com seu filho, o Rei Dom Dinis. Antes de novembro de 1282, Beatriz, já viúva, apoiou o seu pai contra o seu meio-irmão, o infante Sancho, o futuro Rei Sancho IV, pessoalmente e com dinheiro. Beatriz era muito querida por seu pai e em 4 março de 1283, Afonso X deu-lhe as vilas de Mourão, Serpa e Moura com os seus castelos e, no mesmo dia, o Rei Castelhano doou a Beatriz o Reino de Niebla e os rendimentos reais da cidade de Badajoz. O Rei, seu pai, justificou as concessões desta maneira:

...catando el grande amor e verdadero que fallamos en nuestra filia la mucho onrrada domna Beatriz por essa misma gratia reyna de Portugal e del Algarve e la lealdat que siempre mostro contra nos e de como nos fue obediente e mandada en todas cosas como bona fiia e leal deve ser a padre e señaladamente por que a la sazon que los otros nuestros fiios e la mayor parada de los omes de nuestra tierra se alçaron contra nos por cosas que les dixieron e les fizieron entender como no eran.

Beatriz permaneceu com seu pai e foi nomeada testamenteira no segundo testamento do Rei em 22 janeiro de 1284, e estava com ele quando o Rei morreu em 1284. A Rainha Dona Beatriz faleceu em 27 de Outubro de 1303, com 61 anos, e está sepultada no Mosteiro de Alcobaça.

Filhos Naturais Legítimos

1ª).   Dona Branca de Portugal
(Nasceu em Guimarães a 25 de Fevereiro de 1259; faleceu em Burgos a 17 de Abril de 1321, onde era “Senhora e Guardadora” do Convento das Huelgas).

2º).   Dom Fernando de Portugal
(Nasceu em 1260 e faleceu em 1262, estando sepultado em Alcobaça).

3º).   Dom Dinis de Portugal
(Nasceu em 1261 e faleceu em 1325).

4º).   Dom Afonso de Portugal
(Nasceu em 8 de Fevereiro de 1263 e faleceu em Lisboa a 2 de Novembro de 1312, casou com Dona Violante, filha do Infante Dom Manuel, Senhor de Escalons, em Castela, Senhor de Portalegre, em Portugal).

5ª).   Dona Sancha de Portugal
(Nasceu em 2 de Fevereiro de 1264, e faleceu em data incerta (1302?). Viveu em Castela, falecendo em Sevilha por volta de 1302. Está sepultada no Convento de Alcobaça).

6ª).   Dona Maria de Portugal
(Nasceu em Coimbra a 21 de Novembro de 1264, freira no Convento das Donas Cónegas de S. João, junto ao Mosteiro de Santa Cruz, morreu em Coimbra a 6 de Junho de 1304).

7ª).   Dona Constança de Portugal
(Nasceu em 1266 e faleceu em 1271).

8º).   Dom Vicente de Portugal
(Nasceu em 22 de Janeiro de 1268 e morreu em Lisboa em ano incerto, (1271?), sendo enterrado no Mosteiro de Alcobaça).

9º).   Dom Fernando de Portugal
(Nasceu em 1269 e faleceu em data desconhecida).

Filhos Naturais Bastardos

Madragana Ben Aloandro
(Depois chamada Dona Mor Afonso, filha do último Alcaide do período mouro de Faro, o moçárabe Aloandro Ben Bakr)

1º).   Dom Martim Afonso ‘o Chichorro’
(Nasceu em 1250 e faleceu a 1313)

2ª).   Dona Urraca Afonso de Portugal
[Nasceu por volta de 1260 e faleceu, depois de 1290, casada por duas vezes, a primeira em 1265 com Pedro Anes Gago de Riba de Vizela (1240 - 1286) e a segunda em 1275 com João Mendes de Briteiros nasceu em 1250 -?), filho de Dom Mem Rodrigues de Briteiros (1225 -?)].

Dona Maria Peres de Enxara

1º).   Dom Afonso Dinis
(Nasceu e faleceu em data incerta, (1260?-1310?), filho de D. Marinha Peres, de Enxara dos Cavaleiros).

De outras Senhoras

1º).   Dom Fernando Afonso
(Nasceu e faleceu em data incerta, cavaleiro hospitalário).

2º).   Dom Gil Afonso
(Nasceu em 1250 (?) e faleceu em 1346, cavaleiro hospitalário. Dom Gil Afonso, nasceu em data incerta, cavaleiro da Ordem do Hospital, foi sepultado na Igreja de São Brás, em Lisboa, ignorando-se o ano da sua morte).

3º).   Dom Rodrigo Afonso
(Nasceu em 1258 e faleceu em 1272, Prior de Santarém).

4ª).   Dona Leonor Afonso
(Nasceu em data incerta, (1250?), Senhora de Pedrógão e Neiva, casou com Dom Estêvão Anes, Senhor de Pedrógão em 1240 até data desconhecida e, em segundas núpcias, com Dom Gonçalo Garcia de Sousa, Alferes-Mor, viveu quase sempre em Santarém, onde morreu a 26 de Fevereiro de 1291, sendo enterrada na Igreja de Santa Clara, onde ainda se guarda o seu túmulo).

5ª).   Dona Leonor Afonso
(Nasceu em data incerta, e faleceu em 1259, freira em Santarém).

6ª).   Dona Urraca Afonso
(Nasceu e faleceu em data incerta, (1250?-1281?) sendo enterrada em São João de Tarouca. Casou duas vezes, a primeira com Dom Pêro Eanes, Tenente do distrito da Guarda, que morreu antes de 1286. E, a segunda, com Dom João Mendes de Briteiros, por volta de 1290. Depois do falecimento do marido foi, freira no Lorvão).

7º).   Dom Henrique Afonso
(Nasceu e faleceu em data incerta).

Rei Dom Dinis de Portugal
(9 de Outubro 1261 a 7 de janeiro de 1325)


Dom Dinis de Portugal nasceu em Lisboa a, 9 de Outubro 1261 e faleceu em Santarém a 7 de janeiro de 1325, com o cognome "O Lavrador" pelo grande impulso que deu à agricultura e ampliação do pinhal de Leiria, ou o Rei-Poeta devido à sua obra literária. Filho do Rei Dom Afonso III de Portugal e da Infanta Dona Beatriz de Castela, foi aclamado Rei em Lisboa em 1279, tendo subido ao trono com 17 anos. Em 1282 desposou Dona Isabel de Aragão, que ficaria conhecida como Rainha Santa.



Ao longo de 46 anos a Governar os Reinos Portugal e dos Algarves foi um dos principais responsáveis pela criação da identidade nacional e o alvor da consciência de Portugal enquanto estado-nação. Em 1297, após a conclusão da Reconquista pelo seu pai, definiu as fronteiras de Portugal no ‘Tratado de Alcanizes’, prosseguiu relevantes reformas judiciais, instituiu a língua Portuguesa como língua oficial da corte, criou a primeira Universidade portuguesa, libertou as Ordens Militares no território nacional de influências estrangeiras e prosseguiu um sistemático acréscimo do 'Centralismo Régio'. A sua política centralizadora foi articulada com importantes acções de fomento económico (como a criação de inúmeros concelhos e feiras). Dom Dinis ordenou a exploração de minas de cobre, prata, estanho e ferro e organizou a exportação da produção excedente para outros países europeus. Em 1308 assinou o primeiro acordo comercial português com a Inglaterra.



Em 1312 fundou a Marinha de Guerra Portuguesa, nomeando o 1º Almirante de Portugal, o genovês Manuel Pessanha, e ordenando a construção de várias docas, e do pinhal de Leiria, para principalmente, fornecer madeira para o fabrico de embarcações de guerra. O Rei já tinha idealizado construir uma Armada com duas frotas. Uma como guarda costa, para defesa da costa contra as incursões Normandas e do Norte da Europa e para controlo, o contra corso e corso às embarcações de que não tinham nenhum tratado de passagem e comércio com a coroa portuguesa esta frota estava baseada em Lisboa. A outra concentrar-se, no Algarve para defesa da costa Algarvia com a base concentrada em Faro para patrulhar o estreito controlando as embarcações principalmente do Norte de Africa para entrar em corso ou contra corso. Esse novo cargo foi entregue á Ordem de Cristo que o Rei Dom Dinis tinha criado depois da extinção da Ordem dos Templários. Os Templários após a conquista do Reino do Algarve pelo seu pai ficou com a missão de proteger a costa Algarvia agora na posse dos Cristãos e entrar em corso ás embarcações do Norte de Africa e do Reino de Cranada.


Portugal que esteve ligado á Ordem dos Templários desde o início continuaram com os seus conhecimentos de grandes mestres do Oriente, desde Jerusalém, e continuaram com a grande proeza nos Descobrimentos.




Os Templários contribuíram, (principalmente com Dom Gualdim Pais Grão-Mestre dos Templários em toda a 'Hispania' cristã no século XII com o centro militar e espiritual da Ordem em Tomar), Portugal a tornar-se num Reino soberano e independente até á construção de um Império, é com o Rei Dom Dinis com a sua politica de retenção dos bens dos Templários, não entregando esses mesmos bens á igreja conforme as ordens do Rei Francês e do Papa, que os Templários continuaram (com outro nome), com todas propriedades, terras, vilas, cidades, etc. O Rei Dom Dinis manda criar esta nova ordem 'A Ordem de Jesus Cristo', é com o Infante Dom Henrique Grão-Mestre da Ordem de Jesus Cristo, antiga Ordem de Jesus Cristo e do Templo de Salomão que começa a grande epopeia portuguesa que foram os Descobrimentos. Apoiou os cavaleiros portugueses da Ordem de Santiago na sua disputa para se separarem do seu mestre castelhano.


Foi grande amante das artes e letras. Tendo sido um famoso trovador, cultivou as Cantigas de Amigo, de Amor e a sátira, contribuindo para o desenvolvimento da poesia trovadoresca na península Ibérica. Pensa-se ter sido o primeiro monarca português verdadeiramente alfabetizado, tendo assinado sempre com o nome completo. Culto e curioso das letras e das ciências, terá impulsionado a tradução de muitas obras para português, entre as quais se contam os tratados de seu avô Afonso X, o Sábio. Foi o responsável pela criação da primeira Universidade portuguesa, inicialmente instalada na zona do actual Largo do Carmo, em Lisboa e por si transferida, pela primeira vez, para Coimbra, em 1308. Esta universidade, que foi transferida várias vezes entre as duas cidades, ficou definitivamente instalada em Coimbra em 1537, por ordem do Rei Dom João III.


Entre 1320 e 1324 houve uma guerra civil que opôs o Rei ao futuro Rei Dom Afonso IV. Este julgava que o pai pretendia dar o trono a Dom Afonso Sanches. Nesta guerra, o Rei contou com pouco apoio popular, pois nos últimos anos de Reinado deu grandes privilégios aos nobres. O infante contou com o apoio dos concelhos. Apesar dos motivos da revolta, esta guerra foi no fundo um conflito entre grandes e pequenos.Após a sua morte, em 1325 foi sucedido pelo seu filho legítimo, Dom Afonso IV de Portugal, apesar da oposição do seu favorito, o filho natural Dom Afonso Sanches. Nunca esquecendo o hiato de largos séculos que nos separa de Dom Dinis, é possível traçar um esboço de linhas mestras da personalidade deste Rei português. Era determinado, ou mesmo obstinado, nos seus intentos, do que são exemplo a "cadência de inquirições verdadeiramente demolidora" e demais políticas de ‘Centralização Régia’ que instituiu de forma sistemática.


Revelou-se desde cedo um grande estratega, sendo precursor de uma política governativa e legislativa não apenas reactiva, mas antes de cunho pró-activo. Beneficiando de uma análise á posteriori, percebe-se que as decisões não iam sendo tomadas ao acaso, antes se articulando na senda de um ideal de país e nação que o Rei almejava. À laia de exemplo, indique-se a concomitante criação de concelhos e feiras, as políticas de fortificação das fronteiras ou a crescente dependência das ordens militares do 'Poder Régio'. Por tudo isto, o Rei Dom Dinis foi reconhecido como um homem sagaz e de elevada capacidade governativa, tanto por contemporâneos como por historiadores posteriores.



Não carecia o Rei Dom Dinis do que hoje apelidamos de habilidade política. Sendo hábil no trato e entendedor dos Homens, Dom Dinis soube ir "atacando e apaziguando, alternadamente, os interesses senhoriais laicos e eclesiásticos: desamortizou os bens do clero, mas aceitou a concordata e restringiu os direitos de comedoria nos mosteiros; inquiriu os bens senhoriais, mas as leis de desamortização travam a erosão dos patrimónios senhoriais." A administração das ‘Propriedades Régias’ tornou-se mais eficiente e Dom Dinis ficou conhecido como um ‘Rei Rico’, disso encontramos eco na ‘Divina Comédia’ de Dante Alighieri.


Não obstante, Dom Dinis é mormente celebrado em todos os registos das crónicas contemporâneos e posteriores como um Rei justo. Sabendo-se que a maior parte do trabalho legislativo do seu Reinado se focou em questões de justiça processual, não será de menor relevo o facto de grande parte dessa nova legislação ir no sentido de evitar excessivas delongas e custas judiciais e impedir abusos de advogados e procuradores. Dele pode-se ainda dizer que a determinação que tantas conquistas políticas lhe granjearam podia, por vezes, degenerar em teimosia e prepotência. Descrito por vezes como cruel, principalmente nas relações familiares, na forma como tratava o filho Herdeiro Dom Afonso (nunca o seu favorito) e a esposa, Dona Isabel, entregando-lhe os frutos dos seus adultérios para que os criasse. Figura incontornável da Península Ibérica de fim de Duzentos e início de Trezentos, o Rei Dom Dinis foi cognominado ‘Pai-da-Pátria’ por Duarte Nunes de Leão. Pouco ou nada se sabia do físico do Rei Dom Dinis. As fontes da época assim como autores posteriores falham em oferecer qualquer tipo de descrição física do monarca. As informações hoje existentes advêm de uma abertura acidental do túmulo de Dom Dinis aquando de um processo de restauro em 1938. Sabe-se que a figura histórica de Dom Dinis tinha de altura cerca de 1,65 m. O monarca faleceu com a provecta idade de 63 anos, feito notável para a época. Aparentemente, gozou de excelente saúde durante toda a sua vida, apenas fez o primeiro testamento completo aos 61 anos, sempre viajou, participou em guerras estando já adiantado de idade e aos 60 ainda caçava. Essa suposição é confirmada pela análise dos seus restos mortais que revela que morreu com a dentadura completa. Um traço distinto da fisionomia de Dom Dinis terá sido os seus cabelos e barba ruivos. Facto curioso na família real portuguesa de então, do qual não se conhecem outros exemplos até à época de Dom Dinis. Pode-se especular que a origem genética deste traço poderia vir do lado materno, pois seu tio Dom Fernando de Castela era ruivo (recebendo ademais o epiteto de La Cerda). As hipóteses mais plausíveis serão que estes dois príncipes peninsulares tenham herdado o traço do Rei Henrique II de Inglaterra, pai de Leonor Plantageneta, bisavó de Dom Afonso X, ou então da mãe de Dom Afonso X, Beatriz da Suábia, neta do famoso Imperador Frederico, o Barba Ruiva.



Como herdeiro da coroa, Dom Dinis desde cedo foi envolvido nos aspectos de governação pelo seu pai. À data da sua subida ao trono, o país encontrava-se em conflito com a Igreja Católica. Dom Dinis procurou normalizar a situação assinando um tratado com o papa Nicolau IV, onde jurava proteger os interesses de Roma em Portugal. Dom Dinis foi essencialmente um Rei administrador e não guerreiro, envolvendo-se em guerra com o ‘Reino de Castela’ em 1295, desistiu dela em troca das vilas de Serpa e Moura. Pelo ‘Tratado de Alcanizes’ (1297) firmou a paz com Castela, definindo-se nesse tratado as fronteiras actuais entre os dois países ibéricos. Por este tratado previa-se também uma paz de 40 anos, amizade e defesa mútuas. A sua prioridade governativa foi essencialmente a organização do Reino, continuando a vertente legisladora de seu pai Dom Afonso III, a profusa acção legislativa está contida, hoje, no ‘Livro da Leis e Posturas’ e nas ‘Ordenações Afonsinas’. Não são ‘códigos’ legislativos tal como os entendemos hoje, mas sim compilações de leis e do direito consuetudinário municipal, alteradas e reformuladas pela Coroa.


Com efeito, a incidência de questões de carácter processual com igual peso ao carácter de direito positivo das suas leis, denuncia a crescente preocupação do Rei em enquadrar o direito consuetudinário (ou costumeiro) no âmbito da Coroa, e em efectivar o seu poder no terreno. As determinações sobre a actuação de alvazis (oficiais concelhios), juízes, ‘procuratores e advocati’ demonstram isto, já que um poder meramente nominal sobre todos os habitantes do Reino, como era típico na Idade Média, não se compatibiliza com este esforço em esmiuçar os trâmites jurídicos, ou em moralizar o exercício da justiça. A criação de corregedores denuncia claramente o início do processo de territorialização da jurisdição da Coroa, extravasando os domínio régios, a par da crescente importância da capitalidade de Lisboa.



Como o seu pai o Reinado de Dom Dinis acentuou a predilecção por Lisboa como local de permanência da ‘Corte Régia’. Não existe uma capital, mas a localização de Lisboa, o seu desenvolvimento urbano, económico e mercantil vão fazendo da cidade o local mais viável para se afirmar como centro administrativo por excelência. A articulação entre o norte e o sul do país (este sul que se torna alvo da maior atenção e permanência dos Reis) fazem de Lisboa centro giratório para tornar Portugal viável. Entre o norte, onde a malha senhorial é mais densa e apertada, e o sul, onde o espaço vasto conquistado aos muçulmanos implanta sobretudo os Domínios Régios e as Ordens Militares, assim como vastos espaços de ‘res nullius’ e torna Portugal um reino onde duas realidades diferentes se complementam. Preocupado com as infra-estruturas do país, Dom Dinis ordenou a exploração de minas de cobre, prata, estanho e ferro. Fomentou as trocas com outros Reinos, assinou o primeiro tratado comercial com o Rei de Inglaterra em 1308 e criou o Almirantado, atribuído como privilégio ao genovês Manuel Pessanha, fundando uma verdadeira Marinha de Guerra Portuguesa ao serviço da Coroa e do Reino.


Dom Dinis redistribuiu terras, promoveu a agricultura e fundou várias comunidades rurais, assim como mercados e feiras, criando as chamadas feiras francas ao conceder a várias povoações diversos privilégios e isenções. A razão de um dos seus cognomes ser O Lavrador foi o facto de ter zelado pela conservação do Pinhal de Leiria, criado pelo seu pai, que ainda se mantém, de forma a proteger as terras agrícolas do avanço das areias costeiras, e madeira para a Tercena Real de Lisboa que o Rei Dom Dinis mandou ampliar.



A cultura foi um dos seus interesses pessoais. Dom Dinis não só apreciava literatura, como foi ele próprio um poeta notabilíssimo e um dos maiores e mais fecundos trovadores do seu tempo. Aos nossos dias chegaram 137 cantigas da sua autoria, distribuídas por todos os géneros (73 cantigas de amor, 51 cantigas de Amigo e 10 cantigas de escárnio e maldizer), bem como a música original de 7 dessas cantigas (descobertas casualmente em 1990 pelo Prof. Harvey L. Sharrer, no Arquivo da Torre do Tombo, num pergaminho que servia de capa a um livro de registos notariais do século XVI, e que ficou conhecido como Pergaminho Sharrer).


Durante o seu Reinado, Lisboa foi, pois, um dos centros europeus de cultura. A primeira Universidade em Portugal, então ‘Estudos Gerais’, foi fundada pelo seu documento ‘Scientiae thesaurus mirabilis’, em 1290, em Lisboa. Aí se ensinava as Artes, o Direito Civil, o Direito Canónico e a Medicina. Esta universidade foi transferida entre Lisboa e Coimbra várias vezes, estando instalada definitivamente em Coimbra desde 1537. Mandou traduzir importantes obras, tendo sido a sua Corte um dos maiores centros literários da Península Ibérica, senão da Europa. Diz a lenda de uma aldeia do concelho de Seia, ‘Lapa dos Dinheiros’, que Dom Dinis terá por lá passado e, depois de ter jantado e pernoitado no lugar, deu-lhe o seu nome actual. Os últimos anos do seu Reinado foram marcados por conflitos internos. O Herdeiro, futuro Rei Dom Afonso IV, receoso que o favorecimento de Dom Dinis ao seu filho bastardo, Dom Afonso Sanches o espoliasse do trono, exigiu o poder e combateu o pai. Nesta luta teve intervenção apaziguadora a Rainha Santa Isabel que, na ‘Batalha de Alvalade’, se interpôs entre as hostes inimigas já postas em ordem de combate.


Complicações cardíacas seriam a origem dos seus problemas de saúde. Em 1322 teve um pequeno ataque cardíaco ou vascular-cerebral. Ainda viveu mais três, anos debilitada sendo levado "em andas e em colos de homens". Foi a angina de peito ou uma miocardite a causa da sua morte, em 1325. O Rei Dom Dinis morreu em Santarém a 7 de janeiro de 1325, e foi sepultado no Mosteiro de São Dinis, em Odivelas.

Isabel de Aragão, Rainha de Portugal


Isabel de Aragão (ou, usando a grafia medieval portuguesa, Yzabel, nasceu na cidade de Saragoça, a 4 de Janeiro de 1271 e faleceu em Estremoz, a 4 de Julho de 1336


Foi uma infanta aragonesa e, de 1282 até 1325, Rainha Consorte de Portugal. Ficou para a história com a fama de santa, tendo sido beatificada e, posteriormente, canonizada. Ficou popularmente conhecida como Rainha Santa Isabel ou, simplesmente, A Rainha Santa. Isabel era a filha mais velha do Rei Pedro III de Aragão e de Constança de Hohenstaufen, princesa da Sicília. Por via materna, era descendente de Frederico II, Sacro Imperador Romano-Germânico, pois o seu avô materno era Manfredo de Hohenstaufen, Rei da Sicília, filho de Frederico II. Teve cinco irmãos, entre os quais os Reis aragoneses Afonso III e Jaime II, e Frederico II da Sicília. Para além disso, foi sobrinha materna de Santa Isabel da Hungria, também considerada santa pela Igreja Católica. Dom Dinis I de Portugal tinha 19 anos quando subiu ao trono e, pensando em casar, convinha-lhe Isabel de Aragão, tendo por isso enviado uma embaixada a Pedro de Aragão em 1280. Formavam-na João Velho, João Martins e Vasco Pires. Quando lá chegaram, estavam ainda à espera de resposta enviados dos reis de França e de Inglaterra, cada um desejoso de casar com Isabel um dos seus filhos. Aragão preferiu entre os pretendentes aquele que já era rei. A 11 de Fevereiro de 1282 com 12 anos, Isabel casou-se então por procuração com o soberano português Dom Dinis em Barcelona, tendo celebrado a boda ao passar a fronteira da Beira, em Trancoso, em 26 de Junho do mesmo ano. Por esse motivo, o Rei acrescentou essa vila ao dote que habitualmente era entregue às rainhas (a chamada ‘Casa das Rainhas’, conjunto de senhorios a partir dos quais as consortes dos reis portugueses colhiam as prendas destinadas à manutenção da sua pessoa. Por carta de arras datada de 24 de abril de 1281 Isabel de Aragão recebeu de seu noivo, como dote, as vilas de Abrantes, Óbidos, Alenquer, e Porto de Mós. Posteriormente deteve ainda os castelos de Vila Viçosa, Monforte, Sintra, Ourém, Feira, Gaia, Lamoso, Nóbrega (actualmente Ponte da Barca), Santo Estêvão de Chaves, Monforte de Rio Livre, Portel e Montalegre, para além de rendas em numerário e das vilas de Leiria e Arruda em 1300, Torres Novas em 1304 e Atouguia da Baleia em 1307. Eram ainda seus os reguengos de Gondomar, Rebordões, Codões, para além de uma quinta em Torres Vedras e da lezíria da Atalaia. Segundo uma história apócrifa, Dom Dinis não lhe teria sido inteiramente devotado e visitaria damas nobres na região de Odivelas. Ao saber do sucedido, a rainha ter-lhe-á apenas respondido: Ide vê-las, Senhor. Com os tempos, de acordo com a tradição popular, uma corruptela de ide vê-las teria originado o moderno topónimo Odivelas. Contudo, esta interpretação não é sustentada pelos linguistas. Na década de 1320, o infante Dom Afonso, herdeiro do trono, sentiu a sua posição ameaçada pelo favor que o Rei Dom Dinis demonstrava para com um seu filho bastardo, Afonso Sanches. O futuro Dom Afonso IV declarou abertamente a intenção de batalhar contra o seu pai, o que quase se concretizaria na chamada peleja de Alvalade. No entanto, a intervenção da rainha conseguiu serenar os ânimos (pela paz assinada em 1325 nessa mesma povoação dos arredores de Lisboa, foi evitado um conflito armado que teria instabilizado o reino). Dom Dinis morreu em 1325 e, pouco depois da sua morte, Isabel terá peregrinado ao santuário de Santiago, em Compostela na Galiza, fazendo-o montada num burro e a última etapa a pé, onde ofertou muitos dos seus bens pessoais. Há historiadores que defendem a ideia que lá se terá deslocado duas vezes. Recolheu-se por fim no então Mosteiro de Santa Clara-a-Velha em Coimbra, vestindo o hábito da Ordem das Clarissas mas não fazendo votos (o que lhe permitia manter a sua fortuna usada para a caridade). Só voltaria a sair dele uma vez, pouco antes da morte, em 1336. Nessa altura, Afonso declarou guerra ao seu sobrinho, o Rei Dom Afonso XI de Castela, filho da infanta Constança de Portugal e portanto neto materno de Isabel, pelos maus tractos que este infligia à sua mulher Dona Maria, filha do rei português. Não obstante a sua idade avançada e a sua doença, a rainha Santa Isabel dirigiu-se a Estremoz, cavalgando na sua mula por dias e dias, onde mais uma vez se colocou entre dois exércitos desavindos e evitou a guerra. No entanto, a paz chegaria somente quatro anos mais tarde, com a intervenção da própria Maria de Portugal, por um tratado assinado em Sevilha em 1339. Isabel faleceu, tocada pela peste, em Estremoz, a 4 de Julho de 1336, tendo deixado expresso em seu testamento o desejo de ser sepultada no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, onde em 1995 foi iniciada uma escavação arqueológica, após ter estado por 400 anos parcialmente submerso pelo rio Mondego. Segundo uma história hagiográfica, sendo a viagem demorada, havia o receio de o cadáver entrar em decomposição acelerada pelo calor que se fazia, e conta-se que a meio da viagem debaixo de um calor abrasador o ataúde começou a abrir fendas, pelas quais escorria um líquido, que todos supuseram provir da decomposição cadavérica. Qual não foi, porém a surpresa quando notaram que em vez do mau cheiro esperado, saía um aroma suavíssimo do ataúde. O seu marido, Dom Dinis, repousa no Mosteiro de São Dinis em Odivelas. Isabel terá sido uma rainha muito piedosa, passando grande parte do seu tempo em oração e ajuda aos pobres. Por isso mesmo, ainda em vida começou a gozar da reputação de santa, tendo esta fama aumentado após a sua morte. Foi beatificada pelo Papa Leão X em 1516, vindo a ser canonizada, por especial pedido da dinastia filipina, que colocou grande empenho na sua canonização, pelo Papa Bento XIV em 1742. É reverenciada a 4 de Julho, data do seu falecimento. Com a invasão progressiva do convento de Santa Clara-a-Velha de Coimbra pelas águas do rio Mondego, houve necessidade de construir o novo convento de Santa-Clara-a-Nova no século XVII, para onde se procedeu à trasladação do corpo da Rainha Santa. O seu corpo encontra-se incorrupto no túmulo de prata e cristal, mandado fazer depois da trasladação para Santa Clara-a-Nova. No século XVII, a Rainha Dona Luísa de Gusmão, regente em nome de seu filho Dom Afonso VI, transformou em capela o quarto em que a Rainha Santa Isabel havia falecido no castelo de Estremoz. 


Sua mulher, Infanta Isabel de Aragão (1270-1336):

•        Dona Constança de Portugal
(1290-1313, casou com o Rei Fernando IV de Castela).

•        Dom Afonso IV, Rei de Portugal
 (1291-1357).

Filhos naturais.

Havidos de Grácia Frois:

•        Dom Pedro Afonso, Conde de Barcelos (1287-1354).

Havidos de Aldonça Rodrigues Talha:

•        Dom Afonso Sanches
(1289-1329, Senhor de Albuquerque e rival de seu meio-irmão Infante) 
Dom Afonso de Portugal

Havidos de Marinha Gomes:

•        Dona Maria Afonso
(1290-1340, Senhora de Gibraleón)

Havidos de outras senhoras:

•        Dom João Afonso, senhor da Lousã
(1280-1325)

•        Dom Fernão Sanches
(1280-1329)

•        Dom Pedro Afonso
(1280-?)

Teve ainda como amante Branca Lourenço de Valadares, tia de Dona Inês de Castro, a quem doou a vila e termo de Mirandela por carta de 1301, na qual declara: "E esto vos faço por compra de vosso corpo", e da qual houve:

•        Dona Maria Afonso
(1302-1320), freira no Mosteiro de São Dinis

Rei Afonso IV de Portugal
(8 de Fevereiro de 1291-28 de Maio de 1357)


Afonso IV de Portugal nasceu no paço de Coimbra, em 8 de Fevereiro de 1291 e faleceu em Lisboa, a 28 de Maio de 1357, cognominado o ‘Bravo’, era filho do Rei Dom Dinis de Portugal e de sua esposa, a Rainha Santa Isabel, nascida infanta de Aragão. Dom Afonso IV sucedeu a seu pai a 7 de fevereiro de 1325.


Apesar de ser o único filho legítimo de seu pai, o Rei Dom Afonso não seria, de acordo com algumas fontes, o favorito do Rei Dom Dinis, que preferia a companhia de Dom Afonso Sanches, um dos seus bastardos (legitimado). Esta preferência deu lugar a uma rivalidade entre os dois irmãos que, algumas vezes, deu lugar a confrontos armados. Em 1325, Dom Afonso IV tornou-se Rei e, como primeira decisão, exilou Dom Afonso Sanches para Castela, retirando-lhe de caminho todas as terras, títulos e feudos concedidos pelo pai de ambos. O exilado não se conformou e do outro lado da fronteira orquestrou uma série de manobras políticas e militares com o fim de se tornar ele próprio Rei. Depois de várias tentativas de invasão falhadas, os irmãos assinaram um tratado de paz, sob o patrocínio da Rainha Santa Isabel.


Em 1309, Dom Afonso IV casou com a Infanta Beatriz, filha do Rei Sancho IV de Castela. A primogénita desta união, a princesa Dona Maria de Portugal, casou com o Rei Dom Afonso XI de Castela em 1328, mas o casamento revelou-se infeliz, dado que o Rei de Castela maltratava abertamente a mulher. Dom Afonso IV não ficou contente por ver sua filha menosprezada e atacou as terras fronteiriças de Castela em retaliação. A paz chegou quatro anos mais tarde e, com a intervenção da própria Dona Maria de Portugal, um tratado foi assinado em Sevilha em 1339. No ano seguinte, em Outubro de 1340, tropas portuguesas participaram na grande vitória da Batalha do Salado contra os ‘Mouros Merínidas’. Em 1343 houve no Reino uma grande carência de cereais e em 1346, a fim de fazer sua aliança com o Rei de Aragão, Dom Afonso IV enviou a Barcelona um embaixador para a assinatura do acordo entre o Rei e Dom Pedro IV de Aragão com vista à realização do casamento da Infanta Dona Leonor. Em 1347 ocorreu um sismo que abalou Coimbra, tendo causado enormes prejuízos, e em 1348 a peste negra, vinda da Europa, assola o país.



De todos os problemas foi a peste a mais grave, vitimando grande parte da população e causando grande desordem no reino. O Rei reagiu prontamente, tendo promulgado legislação a reprimir a mendicidade e a ociosidade.


A última parte, do Reinado de Dom Afonso IV, foi marcada por intrigas políticas e conflitos internos em grande parte devidos à presença em solo português de refugiados da guerra civil entre Dom Pedro I de Castela e o seu meio-irmão Dom Henrique da Trastâmara. Entre os exilados contavam-se vários nobres, habituados ao poder, que cedo criaram a sua própria facção dentro da ‘Corte Portuguesa’. Quando Dona Inês de Castro se torna amante do Príncipe Herdeiro Dom Pedro, os nobres castelhanos cresceram em poder e favor Real.


O Rei Dom Afonso IV não ficou agradado com o favoritismo, concedidos aos castelhanos e procurou várias formas de afastar Dona Inês do filho. Sem sucesso, porque Dom Pedro assumiu tanto a relação com a castelhana como os filhos ilegítimos que dela teve, acrescentando em 1349 a recusa de tornar a casar com outra mulher que não ela. Com o passar dos anos o Rei Dom Afonso IV perdeu o controlo da situação, a facção castelhana e Dona Inês aumentavam o seu poder, enquanto o único filho legítimo de Dom Pedro, o futuro Rei Dom Fernando, crescia como uma criança doente.


Preocupado com a vida do único neto que reconhecia e com o acréscimo de poder estrangeiro dentro de fronteiras, o Rei Dom Afonso IV ordena a morte de Dona Inês de Castro em 1355. Ao contrário do que esperava, o seu filho não se aproximou de si. Perdendo a cabeça, Dom Pedro entrou em guerra aberta contra o pai e saqueou a região do Entre-Douro-e-Minho. A reconciliação chegou apenas em 1357, entregando o Rei ao Príncipe grande parte do poder. Dom Afonso IV morreu pouco tempo depois.


Como Rei, Dom Afonso IV é lembrado como um comandante militar corajoso, daí o cognome de ‘Bravo’. A sua maior contribuição a nível económico e administrativo foi a importância dada ao desenvolvimento da ‘Marinha Real Portuguesa’. O Rei Dom Afonso IV subsidiou a construção de uma ‘Marinha Mercante’ e financiou as primeiras viagens de exploração Atlântica. As Ilhas Canárias foram descobertas no seu Reinado.


Beatriz de Castela
(1293-1359)



Beatriz de Castela nasceu a 8 de Março de 1293 e faleceu em Lisboa, a 25 de Outubro de 1359, foi uma Infanta do Reino de Castela e Leão e Rainha de Portugal entre 1325 e 1357. Era filha do Rei Sancho IV de Castela com Dona Maria de Molina. Teve seis irmãos, entre os quais o Rei Fernando IV de Castela, e Isabel, esposa de Jaime II de Aragão e depois de João III, Duque da Bretanha. Em 12 de Setembro de 1309 casou-se com o herdeiro do trono português, o qual ascendeu ao poder em 1325 como Dom Afonso IV. As rainhas de Portugal contaram, desde muito cedo, com os rendimentos de bens, adquiridos, na sua grande maioria, por doação. Esta rainha Dona Brites (Beatriz) recebeu em doação a vila de Viana do Alentejo. De Dom Dinis recebeu, como dote, Évora, Vila Viçosa, Vila Real, Gaia e Vila Nova, estas duas últimas trocadas por Sintra em 1334. Dispunha ainda de herdades em Santarém e da lezíria da Atalaia em 1337 e, através de mercê do seu filho Dom Pedro, de Torres Novas em 1357. Do seu casamento com Dona Beatriz de Castela que nasceu em 1293 e faleceu em Lisboa, a 25 de Outubro de 1359, Infanta do Reino de Castela, filha do Rei Dom Sancho IV de Castela com Dona Maria de Molina, nasceram:

1ª).    Dona Maria de Portugal
(Nasceu em Coimbra, em 1313 e faleceu Évora, em 1357, casada em 1328 na localidade de Alfaiates, Sabugal, com o Rei Afonso XI de Castela, que nasceu em 13 de agosto de 1311 e faleceu a, 26 de março de 1350) a “Formosíssima Maria” referida por Luís de Camões nos ‘Lusíadas’).

2º).    Dom Afonso de Portugal
(Nasceu em Coimbra, Penela, e faleceu em 1315, nado-morto à nascença).

3º).    Dom Dinis de Portugal
(Nasceu a 12 de janeiro de 1317 e faleceu em 1318, morreu na infância).

4º).    Dom Pedro I de Portugal
(Nasceu em Coimbra, 8 de abril de 1320 e faleceu em Évora, Estremoz, a 18 de janeiro de 1367, sucessor do pai no trono português).

5ª).    Dona Isabel de Portugal
(Nasceu a 21 de Dezembro de 1324 e faleceu a 11 de Julho de 1326, morreu na infância).

6º).    Dom João de Portugal
(Nasceu a 23 de Setembro de 1326 e faleceu a 21 de Julho de 1327, morreu na infância).

7ª).    Dona Leonor de Portugal
(Nasceu em Coimbra, 1328 e faleceu em Jérica ou Teruel, em Aragão, em Outubro de 1348, casada em 1347 com o Rei Pedro IV de Aragão (que nasceu em Balaguer em 1319 e faleceu em Barcelona a 5 de janeiro de 1387).

Teve ainda uma filha natural:

1ª).    Dona Maria Afonso de Portugal
(Nasceu em 1316 e faleceu em Lisboa, 1384, casada em 1330 com Dom Fernando de Castela, Senhor de Valencia de Campos, Mestre da Ordem de Santiago e filho de Dom Afonso de Castela, Senhor de Valência e de Dona Joana de Castro que nasceu em 1280 e faleceu em 1327).

Dom Afonso Sanches
(24 de maio de 1289-2 de Novembro de 1329)


O Dom Afonso Sanches de Portugal. Nasceu em Cerva, a 24 de maio de 1289 e Faleceu em Escalona, Espanha a 2 de Novembro de 1329, foi um nobre trovador, filho bastardo (depois legitimado em 8 de maio de 1304) e predilecto de Dom Dinis I de Portugal, havido de Dom Aldonça Rodrigues Talha, e pretendente ao trono português. Foi Senhor de Cerva, de Albuquerque na Estremadura espanhola, Senhor do castelo onde mais tarde Dona Inês de Castro viveu vários anos. Deve-se-lhe a ele e à sua esposa, Dona Teresa Martins, a fundação do ‘Convento de Santa Clara de Vila do Conde’, onde ambos estão sepultados. Em 1722, foi aberto o processo de beatificação deste casal. Na altura, o frade franciscano Fernando da Soledade escreveu um livro intitulado ‘Memória dos Infantes’, a atestar as suas virtudes.


A Rainha Santa Isabel chamara para a Corte todos os filhos do Rei, mesmo os bastardos, proporcionando-lhes igual qualidade de educação. Por esta proximidade, e com certeza por outras razões, Dom Dinis dedicava a Dom Afonso Sanches uma estima especial, a ponto de lhe entregar o cargo de ‘Mordomo da Coroa’, quase o equivalente ao cargo de primeiro-ministro na política actual. O velho Rei teria até tentado deixar em testamento o Reino de Portugal ao seu filho favorito. Essa relação provocou o violento desagrado do legítimo herdeiro do trono, o Infante Dom Afonso. O resultado foi uma guerra civil (1319-1324) entre pai e filho. Apesar das várias escaramuças, o ponto máximo deste conflito foi a ‘Batalha de Alvalade’, que acabou por nunca ocorrer por intervenção da Rainha, segundo contam as lendas.



Com a subida ao trono de Dom Afonso IV de Portugal, este exilou o meio-irmão em Castela. O ‘Infante Trovador’ ainda tentou manobras políticas e militares para tomar o trono. Depois de várias tentativas de invasão falhadas, uma das mais importantes sendo a de 1326, os irmãos assinaram um tratado de paz sob mais uma vez o patrocínio da Rainha Isabel de Aragão. Como o seu pai, Dom Afonso Sanches distinguiu-se também como trovador. O espólio poético que dele chegou até nós encontra-se no ‘Cancioneiro da Biblioteca Nacional’ e no ‘Cancioneiro da Vaticana’, e compõe-se de 15 poemas: uma paralelística perfeita, uma outra cantiga de amigo constituída por uma só estrofe, nove cantigas de amor, uma tenção e três cantigas de escárnio. Várias destas cantigas são muito fragmentárias. Mas não tem sido muito valorizado como trovador e já se escreveu, por exemplo, que só poetava “para alardear prendas de corte”. Além disso, o trabalho dos copistas prejudicou-o bastante, como se pode verificar pela comparação das versões das cantigas que possuímos. Mas foi recentemente alvo de uma apreciação francamente positiva:

“A obra poética de Afonso Sanchez apresenta características das mais singulares dentro do âmbito da lírica galaico-portuguesa.” “As nove líricas d’amor inscrevem-se, quanto à textura formal, no número das mais requintadas do género, como exemplos de cantigas de mestria à maneira provençal. Com efeito, os temas, a estrutura métrico-estrófica e a retórica revelam um poeta culto e conhecedor da tradição poética, embora capaz de variações por meio do registo irónico que, na última cantiga, adquire um aberto carácter de troça do formalismo trovadoresco.”

Várias cantigas de amor de Afonso Sanches são agora consideradas de grande qualidade, realçando-se a perfeição da sua tenção com Dom Vasco Martins de Resende, um dos seus escárnios de amor e a paralelística que traz a sua assinatura.



O seu tema quase único era o amor. Um amor no geral sem correspondência, apesar da grande coita (dor de amar e não ser correspondido) que provoca, da sinceridade e empenho com que o vive o trovador. Compreensivelmente, o núcleo principal da sua obra foi constituído pelas cantigas de amor. A cantiga de amor era uma forma bastante fixa, em certo sentido comparável ao soneto, até no tamanho. Mas ao contrário deste, muito fixo ao nível de versificação e muito livre em relação ao tema, esta cantiga era bastante fixa relativamente ao tema e oferecia certa margem de liberdade ao nível da versificação. Afonso Sanches tem várias cantigas dentro do esquema da cantiga de amor ao modo provençal; mas tem outras, ditas fragmentárias, que com bastante clareza se afastam dele. As primeiras são em três estrofes de versos decassilábicos, de mestria ou de refrão, de ata-finda ou não, com finda ou sem ela. O trovador mostra saber tirar partido do enjambement, do dobre, dos paralelismos e outras repetições, denotando notável versatilidade, nascida do seu domínio da técnica da cantiga e duma assinalável cultura poética. Tematicamente, estas cantigas insistem no serviço amoroso. Como é da convenção, o poeta assume uma atitude de grande humildade frente à senhora que, no seu caso, parece ser sempre solteira (refere uma vez “huna donzela que ey por Senhor”, outra vez “a donzela/ por que trobei” e, numa cantiga fragmentária de amigo, menciona-se “a donzela por que sempre trobou” certo apaixonado. Tece-lhe o elogio, mas um elogio genérico, sem particularização nem sequer ao nível psicológico-moral, quanto mais a nível físico, como era da norma. O trovador pode dirigir-se à senhora, declarar-lhe a sua “coita mortal”, pode defender-se de “muitos” que lhe assacam que ele está a receber favores da amada, mas é sempre uma retórica à volta de uma paixão que não se consuma.



Estes poemas originalmente seriam de grande perfeição formal, nas versões em que chegaram até nós, apresentam às vezes falhas que desmotivam a leitura. As cantigas a que chamam fragmentárias (apesar de, em termos temáticos, terem um evidente fechamento e de as suas estrofes obedecerem, quase sem excepções, ao mesmo esquema rimático e métrico) são, em certo sentido, mais convincentes. Do seu casamento com Dona Teresa Martins de Meneses, 5.ª Senhora de Albuquerque, Medellín, La Codosera, Jarmelo, etc, filha de Dom João Afonso Teles de Meneses, 1.º Conde de Barcelos, e de Dona Teresa Sanches, filha bastarda do Rei Sancho IV de Castela, nasceu Dom João Afonso de Albuquerque, chamado o do Ataúde, que foi 6.º Senhor de Albuquerque, etc.

A Batalha do Salado
(30 de Outubro de 1340)


A Batalha do Salado foi travada a 30 de Outubro de 1340, entre Cristãos e Mouros, junto da ribeira do Salado, na província de Cádis (sul de Espanha). Abul-Hassan, Rei de Fez e de Marrocos, aliado com o Emir de Granada, decidira reapossar-se a todo o custo dos domínios cristãos, e as forças muçulmanas já haviam entrado em acção contra Castela. A frota do Prior de São João do Hospital, almirante castelhano, que tentara opor-se ao desembarque dos mouros, foi completamente destroçada por uma tempestade, e esse desastre obrigou ao Rei Dom Afonso XI de Castela a humilhar-se, mandando pedir à esposa (a quem tanto desrespeitara com os seus escandalosos casos amorosos com Leonor de Gusmão) que interviesse junto de seu pai, o Rei Português Afonso IV de Portugal, para que este enviasse uma Esquadra de Socorro. Estava Dona Maria recolhida num convento em Sevilha e, apesar dos agravos que sofrera, acedeu ao pedido. Todavia, o Rei Dom Afonso IV, no intuito de humilhar ainda mais o genro, respondeu ao apelo dizendo, verbalmente, ao enviado da filha, que se o Rei de Castela precisava de socorro o pedisse directamente.



Vergando o seu orgulho ao peso das circunstâncias, o Rei Dom Afonso XI de Castela repetiu pessoalmente (por carta) o pedido foi feito, e o soberano português enviou-lhe imediatamente uma Frota Comandada pelo Almirante da Marinha de Guerra Portuguesa o Genovês Dom Manuel Pessanha (ou Pezagno) e por seu filho Dom Carlos. Mas era cada vez mais desesperada a situação do Rei Dom Afonso XI, a quem o Papa censurava asperamente. Ao romper do dia de 28 de Agosto de 1340, as longas cristãs e os tambores mouriscos acordaram os acampamentos, chamando ao combate. Os Mouros foram muitos postos ao longo do rio Salado para defenderem ao, passo dos cristãos. Estes, depois de confessados e comungados, foram ocupar as suas posições (os castelhanos em frente das tropas africanas de Abdul-Hassan, e os Portugueses defronte do exército granadino do Rei Yusuf). Além da Frota Portuguesa, Castela recebia um reforço de doze galés cedidas pelo Rei de Aragão, mas tudo isto nada era em comparação com o número incontável dos contingentes mouros. O Rei de Granada, Yusef-Abul-Hagiag, tomou em Setembro de 1340, o comando das tropas, às quais pouco depois se juntou, em Algeciras, um formidável exército sob as ordens de Abul-Hassan. A ameaça muçulmana era apavorante. Os mouros, embora repelidos nas primeiras tentativas de ataque a Tarifa, não deixavam prever a possibilidade de vantagens futuras para as hostes cristãs.


Reconhecendo quanto lhe seria útil a ajuda efectiva do Rei de Portugal, O Rei Dom Afonso XI de novo rogou a intervenção de Dona Maria. Esta acedeu uma vez mais e foi-se encontrar com Dom Afonso IV, em Évora. O soberano português atendeu as súplicas da filha, e logo esta foi dar a boa notícia a seu marido, que ansioso, a fora esperar a Juromenha.


Dom Afonso IV reuniu então em Elvas junto com Dom Martim Peres de Soveral, Cavaleiro de Avelar, (1276-1343), Senhor das Honras de Soveral e da Lapa, o maior número possível de cavaleiros e peões, e à frente do exército, que ia aumentando durante o caminho com os contingentes formados em vários pontos, dirigiu-se a Castela, onde por ordens do genro foi recebido com todas as honras. Em Sevilha, o próprio Rei Dom Afonso XI acolheu festivamente o Rei de Portugal e sua filha, a Rainha Dona Maria. Ali se desfizeram quanto menos momentaneamente, os ressentimentos de passadas discórdias.



Assente entre os dois monarcas o plano estratégico, não se demoraram em sair de Sevilha a caminho de Tarifa, tendo chegado oito dias depois a Pena del Ciervo avistava-se o extensíssimo arraial muçulmano. Em 29 de Outubro, reunido o ‘Conselho de Guerra’, foi decidido que o Rei Dom Afonso XI de Castela combateria o Rei de Marrocos, e o Rei Dom Afonso IV de Portugal enfrentaria o Rei de Granada. Dom Afonso XI designou Dom João Manuel para a vanguarda das hostes castelhanas, onde iam também Dom João Nunes de Lara e o novo Mestre de Sant'Iago, irmão de Dona Leonor de Gusmão. Com Dom Afonso IV viam-se o Arcebispo de Braga Dom Gonçalo Pereira, o Prior do Crato, o Mestre da Ordem de Avis o Grão-Mestre da Ordem de Cristo e seus cavaleiros, e muitos denotados cavaleiros.


No campo dos cristãos e dos muçulmanos tudo se dispunha para a batalha, que devia travar-se ao amanhecer do dia seguinte. A cavalaria castelhana, atravessando o Salado, iniciou a peleja. Iniciou o combate com o Rei Dom Afonso XI à testa da cavalaria castelhana, forçando a passagem do rio e arremessando-se contra a flor da cavalaria moura que ao seu encontro viera. Logo ali se feriu entre as duas lustrosas cavalarias a mais feroz refrega. Logo saiu, a fazer-lhe frente, o escol da cavalaria muçulmana, não conseguindo deter o ataque. 




Quase em seguida avançou o Rei Dom Afonso XI, com o grosso das suas tropas, defrontando então as inumeráveis forças dos mouros. Estava travada, naquele sector, a ferocíssima luta. O Rei de Castela, cuja bravura não comportava hesitações, acudia aos pontos onde o perigo era maior, carregando furiosamente sobre os bandos árabes até os pôr em debandada.


Entretanto, na ala esquerda, a hoste portuguesa, com o Rei Dom Afonso IV de Portugal à frente, entoando o ‘psalmo Exurgat Deus’ e tocando as caixas e trombetas, investia pela planura contra os esquadrões granadinos, que, em disciplina, táctica e resistência, se avantajavam às tropas africanas. Transposto o rio, sob um chuveiro de flechas, com tal fúria que o Rei Dom Afonso IV acometeu as forças de Granada que em breve os forçou a recuar lentamente.


Já na ala direita, castelhana, a cavalaria do Rei Dom Afonso XI levava de vencida a cavalaria moura, e, pondo-a em fuga, ia levar a confusão às tropas de reserva mouriscas. Neste mesmo momento, Dom Afonso XI, ao tomar uma colina que dominava o ‘Campo de Batalha’, teria perdido a vida se o pronto e denodado socorro dos seus melhores cavaleiros lhe não tivesse então valido.


Quando já em toda a linha os sarracenos recuavam, a guarnição de Tarifa, reforçada durante a noite com 1.000 lanças e 4.000 peões, fez uma audaciosa sortida que, surpreendendo pela retaguarda os corpos mouros de reserva, assaltando o arraial de Abul-Hassan e espalhando a confusão entre os invasores. No sector onde combatiam as forças portuguesas, as dificuldades eram ainda maiores, pois os mouros de Granada, mais disciplinados, combatiam pela sua cidade, sob o comando de Yusef-Abul-Hagiag, que via em risco o seu Reino. Mas o Rei Dom Afonso IV, à frente dos seus intrépidos cavaleiros, conseguiu romper a formidável barreira inimiga e espalhar a desordem, precursora do pânico e da derrota entre os mouros granadinos. E não tardou muito que, numa fuga desordenada, dos africanos e granadinos abandonassem a Batalha, largando tudo para salvar a vida. O campo estava juncado de corpos de mouros, vítimas da espantosa mortandade.


Começou então a perseguição “seguindo os reys católicos o alcance com muita parte de cavalaria e aquela infantaria que os pode acompanhar por distância de duas léguas sem levantar as lanças nem abater as espadas”. Os acampamentos do Emir de Marrocos e do Rei de Granada, com todas as suas riquezas (tendas de seda e ouro, alfanges com pedras preciosas, vasos lavrados, etc.), caíram em poder dos cristãos e “então os soldados a sangue frio cortaram por hum e outro sexo, por huma e outra idade...”. Acabou de os pôr em desordenada fuga e decidiu a vitória. O arraial, enorme, dos Reis de Fez e de Granada, com todos os seus despojos valiosíssimos em armas e bagagens, caiu finalmente em poder dos cristãos, que ali encontraram ouro e prata, em abundância, constituindo tesouros de valor incalculável. Ao fazer-se a partilha destes despojos, assim como dos prisioneiros, quis o Rei Dom Afonso XI agradecer ao sogro, pedindo-lhe que escolhesse quanto lhe agradasse, tanto em quantidade como em qualidade.


O Rei Dom Afonso IV de Portugal, porém num dos raros gestos de desinteresse que praticou em toda a sua vida, só depois de muito instado pelo genro escolheu, como recordação, uma cimitarra cravejada de pedras preciosas e, entre os prisioneiros, um sobrinho do Rei Abul-Hassan. A 1 de Novembro ao princípio da tarde, os exércitos vencedores abandonaram finalmente o campo de batalha, dirigindo-se para Sevilha onde o Rei de Portugal pouco tempo se demorou, regressando logo ao seu país. Pode imaginar-se sem custo a impressão desmoralizadora que a vitória dos cristãos, na ‘Batalha do Salado’, causou em todo o mundo muçulmano, e o entusiasmo que se espalhou entre o cristianismo europeu. Era ao cabo de seis séculos, uma renovação da vitória de Carlos Martel em Poitiers. A mortandade foi, com efeito, enorme. Tal terror se apoderou dos mouros, que Abdul-Hassan, tendo-se acolhido a Gibraltar, passou logo à África, e o Rei Yusuf, receando-se da viagem por terra, recolheu aos seus estados por mar.


O Rei Dom Afonso XI para exteriorizar o seu regozijo, apressou-se a enviar ao Papa Benedito XII uma pomposa embaixada portadora de valiosíssimos presentes, constituídos por uma parte das riquezas tomadas aos mouros, vinte e quatro prisioneiros portadores de bandeiras que haviam caído em poder dos vencedores, muitos cavalos árabes ricamente ajaezados e com magníficas espadas e adagas pendentes dos arções, e ainda o soberbo corcel em que o Rei Castelhano pelejara.



Quanto ao auxílio prestado por Portugal, que sem dúvida fora bastante importante para decidir a vitória dos exércitos cristãos, deixou-o o Papa Bento XII excluído dos louvores que, em resposta, endereçou ao Rei Dom Afonso XI em consequência da opulenta “lembrança” enviada pelo Rei de Castela. Dom Afonso IV, que durante o seu Reinado praticou as maiores crueldades, ficaria na História com o cognome de ‘o Bravo’, em consequência da sua acção na ‘Batalha do Salado’.


A política de Dom Afonso IV foi uma política de equilíbrio periclitante perante uma Castela em guerra civil. Portugal recebeu vários membros de uma das facções em luta (Casa de Trastâmara) e o Rei teve que manter com dificuldade a neutralidade portuguesa, relativamente às questões ‘Internas de Castela’. No entanto, em Portugal aumentou o poder da ‘Família Trastâmara’, demonstrado pelo episódio de Dona Inês de Castro.


Dom Pedro I de Portugal


Pedro de Portugal nasceu na cidade de Coimbra, a 8 de abril de 1320 e faleceu em Estremoz, a 18 de janeiro de 1367. Recebeu os cognomes de O Justiceiro (também O Cruel, O Cru), pela energia posta em vingar o assassínio de Inês de Castro. Filho do Rei Afonso IV e sua mulher Dona Beatriz de Castela. Dom Pedro I sucedeu a seu pai em 1357.


Dom Pedro é conhecido pela sua relação com Inês de Castro, a aia galega da sua mulher Constança Manuel, que influenciou fortemente a política interna de Portugal no Reinado de Dom Afonso IV. Inês acabou assassinada por ordens do Rei em 7 de Janeiro de 1355, mas isto não trouxe Pedro de volta à influência paterna. Contrariamente, durante alguns meses, Pedro revoltou-se contra o pai; apoiado pela nobreza de Entre Douro e Minho e pelos irmãos de Inês. A paz veio por vontade declarada do povo e perdoaram-se mútuas ofensas. Aclamado rei em 1357, Pedro anunciou em Cantanhede, em junho de 1360, o casamento com Inês, realizado em segredo antes da sua morte, sendo sua intenção a ver lembrada como Rainha de Portugal. A promessa de perdão aos responsáveis pela morte de Inês foi esquecida. Este facto baseia-se apenas na palavra do Rei, uma vez que não existem registos de tal união. Dois assassinos de Inês foram capturados e executados (Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves) com uma brutalidade tal (a um foi arrancado o coração pelo peito, e a outro pelas costas), que lhe valeram os epítetos supramencionados.


Conta também a tradição que Pedro teria feito desenterrar o corpo da amada, coroando-o como Rainha de Portugal, e obrigando os nobres a procederem à cerimónia do beija-mão real ao cadáver, sob pena de morte. Em seguida ordenou a execução de dois túmulos (verdadeiras obras-primas da escultura gótica em Portugal), os quais foram colocados no transepto da igreja do Mosteiro de Alcobaça para que, no dia do Juízo Final, os eternos amantes, então ressuscitados, de imediato se vejam...


Como rei, Pedro revelou-se bom administrador, corajoso na defesa do país contra a influência papal (foi ele que promulgou o famoso Beneplácito Régio, que impedia a livre circulação de documentos eclesiásticos no país sem a sua autorização expressa), e foi justo na defesa das camadas menos favorecidas da população. Aplicava a justiça com brutalidade, de forma «democrática», punindo exemplarmente sem olhar a quem. Para não atrasar a aplicação das sentenças, puniu com pena de morte a prática da advocacia, isto levou a protestos nas cortes de 1361. Pouco fez para refrear o poder da nobreza, mas esta temia o rei. Gostava muito de estar próximo do povo nos festejos, daí ser adorado. Na política externa, Pedro ajudou seu sobrinho, o rei de Castela na guerra contra o meio-irmão.


A sua relação com o clero foi algo conflituosa, em relação à nobreza foi magnânimo. Deu o título de conde de Barcelos a João Afonso Telo com direito hereditário e deu terras aos filhos de Inês. A Ordem de Avis entregou-a a seu filho, João, futuro rei. A forma como exerceu a justiça, parece-nos hoje cruel, mas era costume naqueles tempos difíceis. Diz-se que mandou servir um banquete enquanto assistia à execução de Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves, típico dum neurótico. Gostava mais de ser algoz de que juiz, como atesta algumas sentenças que proferiu. Dom Pedro reinou durante dez anos, sendo tão popular ao ponto de dizer a população "que tais dez annos nunca houve em Portugal como estes que reinara el Rei Dom Pedro". O seu reinado foi o único no século XIV sem guerra e marcado com prosperidade financeira, daí ficar na memória como um bom reinado. Para Fernão Lopes foi o avô da dinastia de Avis. Jaz no Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça.


•        Primeiro casamento

Branca, princesa de Castela
(repudiada)

•        Segundo casamento

Dona Constança Manuel, do Reino de Castela
(1320-1345)

•     Dom Luís, infante de Portugal
(1340)

•     Dona Maria, infanta de Portugal
(1342-137?), casada com D. Fernando, príncipe de Aragão

•     Dom Fernando, rei de Portugal
(1345-1383)

•        Terceiro casamento

Dona Inês de Castro
(1320 - assassinada em 1355)

•        Dom Afonso, infante de Portugal
(1346)

•        Dona Beatriz, infanta de Portugal
(1347-1381)

•        Dom João, infante de Portugal
(1349-1387)

•        Dom Dinis, infante de Portugal
(1354-1397)

De Teresa Lourenço:

•        Dom João I
(1357-1433)


Embora havendo três filhos do seu segundo casamento e tendo vivido uma relação intensa com Inês de Castro, com quem também houve descendência, acerca do temperamento deste soberano, o cronista Fernão Lopes dedicou um capítulo que intitulou "Como El-Rei mandou capar um seu escudeiro porque dormia com uma mulher casada", permitindo entrever que o gesto teria sido motivado por ciúmes do monarca por seu escudeiro, de nome Afonso Madeira. Madeira é descrito como um grande cavalgador, caçador, lutador e ágil acrobata, e regista: "Pelas suas qualidades, El-Rei amava-o muito e fazia-lhe generosas mercês." O escudeiro, entretanto, apaixonou-se por Catarina Tosse, esposa do Corregedor, descrita como "briosa, louçã e muito elegante, de graciosas prendas e boa sociedade". Para se aproximar dela, Madeira fez-se amigo do Corregedor, seduzindo-a e consumando a traição. O soberano, entretanto, tudo descobriu e não perdoou Madeira, castigando-o brutalmente. O cronista insiste no afeto do soberano, referindo enigmaticamente: "Como quer que o Rei muito amasse o escudeiro, mais do que se deve aqui dizer (...)", mas regista que Dom Pedro mandou "cortar-lhe aqueles membros que os homens em maior apreço têm". O escudeiro recebeu assistência e sobreviveu, mas "engrossou nas pernas e no corpo e viveu alguns anos com o rosto engelhado e sem barba".


Inês de Castro



Inês de Castro nasceu no Reino da Galiza, entre 1320/1325 e faleceu em Coimbra, a 7 de janeiro de 1355


Foi uma nobre galega, rainha póstuma de Portugal, amada pelo futuro Rei Dom Pedro I de Portugal, de quem teve quatro filhos. Foi executada por ordem do pai deste, o Rei Dom Afonso IV. Dona Inês de Castro era filha de Dom Pedro Fernandes de Castro, mordomo-mor do Rei Dom Afonso XI de Castela, e de uma dama portuguesa, Aldonça Lourenço de Valadares. O seu pai, neto por via ilegítima de Dom Sancho IV de Castela, era um dos fidalgos mais poderosos do Reino de Castela. Em 24 de agosto teve lugar, na Sé de Lisboa, o casamento do Infante Pedro I de Portugal, herdeiro do trono português, com Dona Constança Manuel, filha de Dom João Manuel de Castela, príncipe de Vilhena e Escalona, Duque de Penafiel, tutor de Afonso XI de Castela, “poderoso e esforçado magnate de Castela”, e neto do Rei Fernando III de Castela. Todavia seria por uma das aias de Dona Constança, Dona Inês de Castro, que Dom Pedro viria a apaixonar-se. Este romance notório começou a ser comentado e a ser mal aceite, tanto pela corte como pelo povo. Sob o pretexto da moralidade, Dom Afonso IV não aprovava esta relação, não só por motivos de diplomacia com João Manuel de Castela, mas também devido à amizade estreita de Dom Pedro com os irmãos de Dona Inês (Dom Fernando de Castro e Dom Álvaro Perez de Castro). Assim, em 1344, o Rei mandou exilar Dona Inês no castelo de Albuquerque, na fronteira castelhana, onde tinha sido criada por sua tia, Dona Teresa, mulher de um meio irmão de Dom Afonso IV. No entanto, a distância não teria apagado o amor entre Pedro e Inês, os quais, segundo a lenda, correspondiam-se com frequência. Em outubro do ano seguinte Dona Constança morreu ao dar à luz o futuro Rei, Dom Fernando I de Portugal. Viúvo, Dom Pedro, contra a vontade do pai, mandou Dona Inês regressar do exílio e os dois passaram a viver juntos, o que provocou grande escândalo na corte, para enorme desgosto de El-Rei, seu pai. Começou então uma desavença entre o Rei e o Infante. Dom Afonso IV tentou remediar a situação casando o seu filho com uma dama de sangue real. Mas Dom Pedro rejeitou este projecto, alegando que sentia ainda muito a perda de sua mulher, Dona Constança, e que não conseguia ainda pensar num novo casamento. No entanto, fruto dos seus amores, Dona Inês foi tendo filhos de Dom Pedro. Afonso em 1346 (que morreu pouco depois de nascer), João em 1349, Dinis em 1354 e Beatriz em 1347. O nascimento destes, veio agudizar a situação porque, durante o Reinado de Dom Dinis, o seu filho e herdeiro Dom Afonso IV sentira-se em risco de ser preterido na sucessão ao trono por um dos filhos bastardos do seu pai. Agora circulavam boatos de que os Castros conspiravam para assassinar o Infante Dom Fernando, legítimo herdeiro de Dom Pedro, para o trono português passar para o filho mais velho de Dona Inês de Castro. Depois de alguns anos no Norte de Portugal, Pedro e Inês tinham regressado a Coimbra e instalaram-se no Paço de Santa Clara. Mandado construir pela avó de D. Pedro, a Rainha Santa Isabel, foi neste Paço que esta Rainha vivera os últimos anos, deixando expresso o desejo que se tornasse na habitação exclusiva de Reis e Príncipes seus descendentes, com as suas esposas legítimas. Havia boatos de que o Príncipe tinha-se casado secretamente com Dona Inês. Na Família Real um incidente deste tipo assumia graves implicações políticas. Sentindo-se ameaçados pelos irmãos Castro, os fidalgos da corte portuguesa pressionavam o Rei Dom Afonso IV para afastar esta influência do seu herdeiro. O Rei Dom Afonso IV decidiu que a melhor solução seria matar a dama galega. Na tentativa de saber a verdade o Rei ordenou a dois conselheiros seus que dissessem a Dom Pedro que ele podia se casar livremente com Dona Inês se assim o pretendesse. Dom Pedro percebeu que se tratava de uma cilada e respondeu que não pensava casar-se nunca com Dona Inês. A 7 de janeiro de 1355, o Rei cedeu às pressões dos seus conselheiros e aproveitando a ausência de Dom Pedro, numa excursão de caça, foi com Pêro Coelho, Álvaro Gonçalves, Diogo Lopes Pacheco e outros para executarem Inês de Castro em Santa Clara, conforme fora decidido em conselho. Segundo a lenda, as lágrimas derramadas no rio Mondego pela morte de Inês teriam criado a Fonte das Lágrimas da Quinta das Lágrimas, e algumas algas avermelhadas que ali crescem seriam o seu sangue derramado. A morte de Dona Inês provocou a revolta de Dom Pedro contra Dom Afonso IV. Após meses de conflito, a Rainha Dona Beatriz conseguiu intervir e fez selar a paz, em agosto de 1355. Dom Pedro tornou-se no oitavo Rei de Portugal como Dom Pedro I em 1357. Em junho de 1360 fez a declaração de Cantanhede, legitimando os filhos ao afirmar que se tinha casado secretamente com Dona Inês, em 1354, em Bragança “em dia que não se lembrava”. A palavra do Rei, do seu capelão e de um seu criado foram as provas necessárias para legalizar esse casamento. De seguida perseguiu os assassinos de Dona Inês, que tinham fugido para o Reino de Castela. Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves foram apanhados e executados em Santarém (segundo a lenda o Rei mandou arrancar o coração de um pelo peito e o do outro pelas costas, assistindo à execução enquanto se banqueteava, o que é confirmado por Fernão Lopes, com a ressalva de que o carrasco o teria dissuadido da ideia pela dificuldade encontrada nesta forma de execução). Diogo Lopes Pacheco conseguiu escapar para a França e, posteriormente, seria perdoado pelo Rei no seu leito de morte. Dom Pedro mandou construir os dois esplêndidos túmulos de Dom Pedro I e de Dona Inês de Castro no mosteiro de Alcobaça, para onde trasladou o corpo da sua amada Inês, em 1361 ou 1362. Juntar-se-ia a ela em 1367. A posição primeira dos túmulos foi lado a lado, de pés virados a nascente, em frente da primeira capela do transepto sul, então dedicada a São Bento. Na década de 80 do século dezoito os túmulos foram mudados para o recém, construído panteão real, onde foram colocados frente a frente. Quando os túmulos, no século XVIII, foram colocados frente a frente apareceu a lenda que assim estavam para que Dom Pedro e Dona Inês “possam olhar-se nos olhos quando despertarem no dia do juízo final”. A tétrica cerimónia da coroação e do beija-mão à Rainha Dona Inês, já morta, que Dom Pedro pretensamente teria imposto à sua corte e que tornar-se-ia numa das imagens mais vívidas no imaginário popular, terá sido inserida pela primeira vez nas narrativas espanholas do final do século XVI.



Fernando I de Portugal
(31 de Outubro de 1345 a 22 de Outubro de 1383)


Dom Fernando I de Portugal, nasceu em Coimbra, a 31 de Outubro de 1345 e faleceu em Lisboa, a 22 de Outubro de 1383. Era filho do Rei Dom Pedro I de Portugal e sua mulher, a princesa Dona Constança de Castela. Dom Fernando sucedeu a seu pai em 1367. Foi cognominado ‘O Formoso’ ou ‘O Belo’ (pela beleza física que inúmeras fontes atestam) e, alternativamente, como ‘O Inconsciente’ ou ‘O Inconstante’ (devido à sua desastrosa política externa que ditou três guerras com a vizinha Castela, e até o perigo, após a sua morte, de o trono recair em mãos estrangeiras). Com apoio da nobreza local, descontente com a coroa castelhana, Dom Fernando chegou a ser aclamado Rei em diversas cidades importantes de Norte a Sul da Galiza.


O início do Reinado de Dom Fernando I foi marcado pela política externa. Quando o Rei Dom Pedro I de Castela (1350-1369) morreu sem deixar herdeiros masculinos, Dom Fernando, como bisneto de Dom Sancho IV de Castela, por via feminina, declara-se ‘Herdeiro Legitimo do Trono de Castela’. Outros interessados eram os Reis de Aragão e Navarra, bem como o Duque de Lencastre casado com Dona Constança, a filha mais velha de Dom Pedro de Castela. Entretanto Dom Henrique de Trastâmara, irmão bastardo de Dom Pedro de Castela, havia-se declarado Rei. Depois de duas campanhas militares sem sucesso, as partes aceitam a intervenção do Papa Gregório XI. Entre os pontos assentes no tratado de 1371, o Rei Dom Fernando é prometido a Dona Leonor de Castela, mas antes que o casamento pudesse ser concretizado, o Rei apaixona-se por Dona Leonor Teles de Menezes, mulher de um dos seus cortesãos. Após a rápida anulação do primeiro casamento de Dona Leonor, o Rei Dom Fernando casa com ela, publicamente, a 15 de maio de 1372 no Mosteiro de Leça do Balio, onde se inscreve a Igreja de Santa Maria de Leça do Balio, localiza-se na povoação e freguesia de mesmo nome, no concelho de Matosinhos. Vizinho à foz do rio Leça, cerca de uma légua ao Norte do centro histórico do Porto, trata-se de um original exemplar de arquitectura religiosa fortificada. Presume-se que no local exacto onde hoje se situa o mosteiro terá existido um templo romano dedicado a Júpiter (do século I), e uma ‘Villa Decia’ junto ao local. Uma das mais significativas descobertas arqueológicas a atestar esse facto foi uma inscrição romana dedicada ao deus Júpiter, na Quinta do Alão. Mas de acordo com a tradição, a primitiva edificação do local remonta a um pequeno mosteiro com uma igreja, sob a invocação do Salvador, erguidos no século X através do patrocínio de um senhor daqueles domínios, no contexto da Reconquista cristã da península Ibérica, à época dos primeiros monarcas asturo-leoneses. Nenhum elemento dessas estruturas pré-românicas chegou até aos nossos dias. Ao longo de todo o século XI o primitivo mosteiro é referido em diversos documentos coevos: um documento de 1003 descreve a doação do mosteiro a Dom Tructesindo Osores e a sua mulher Dona Unisco Mendes, padroeira do mosteiro. No ano de 1021, o mosteiro foi deixado aos filhos do casal, mas em 1094, o Padroado foi transmitido à Sé de Coimbra, por doação de Raimundo de Borgonha, Conde da Galiza, e sua mulher a Rainha Dona Urraca I de Leão e Castela. Crê-se que Dom Guntino (prior do mosteiro no século XI), tenha feito obras no mosteiro e renovado a igreja. Em data incerta, na segunda década do século XII, o Rei de Portugal Dom Afonso Henriques (1112-1185) doou o couto de Leça à Ordem dos Hospitalários, a segunda das Ordens Militares documentada em território português. A primeira tem a ver com a doação de vários coutos á Ordem de Jesus Cristo de Jerusalém (Templários depois do Rei de Jerusalém ter doado uma ala do antigo templo de Salomão ficando para a posteridade o nome de ‘Ordem dos Templários’.



No primitivo mosteiro estabeleceu-se a Casa Capitular da Ordem dos Hospitalários que passou, posteriormente, a sede de um de diversos bailiatos, de onde adveio o topónimo à povoação: Leça do Bailio. Na posse dos Hospitalários, o primitivo mosteiro recebeu mais ampliações e reformas que lhe deram feições de natureza militar em estilo românico, cujo elemento mais marcante foi a construção de uma sólida torre ameada. A época em que os hospitalários tomaram posse do couto terá sido riquíssima para o mosteiro, uma vez que a ele pertenciam inúmeras igrejas do actual concelho de Matosinhos. O mosteiro foi reedificado por Dom Gualdim Paes de Marecos, em 1180 e dedicado a Santa Maria. O actual templo, síntese do estilo românico e gótico, remonta a uma grande campanha construtiva iniciada pelo Prior da Ordem, Dom Frei Estevão Vasques Pimentel, entre 1330 e 1336, quando foram renovados ainda os edifícios monacais e o claustro, dos quais vários elementos chegaram até aos nossos dias. Aqui foi celebrado o matrimónio do Rei Dom Fernando I, com Dona Leonor Teles. Posteriormente, no contexto da Crise de 1383-1385, ali esteve o Condestável Nuno Álvares Pereira, em 1385, no início da jornada que lhe deu a posse do Castelo de Neiva e de outras localidades na região. A igreja, renovada a partir do início do século XIV, de matriz românica mas transaccionado para o gótico, reflecte um misto de espírito religioso e militar, com o interior votado a Deus, mas externamente exibindo sólidos muros coroados por ameias e sustentados por contrafortes, destacando-se uma varanda também ameada e com matacães defendendo, como o adarve de um castelo, a porta principal. Na planta, o modelo mendicante é claro: três naves, organizadas em cinco tramos, sendo, o último de uma espécie de transepto inscrito, marcado apenas na altura, a divisão do espaço é feita através de pilares, de perfil cruciforme pelo adoçamento de colunas nas suas quatro faces, a cabeceira é tripla, com uma capela-mor mais profunda que os absidíolos, e de secção nascente poligonal. A cobertura das naves é em madeira e a cabeceira apresenta abóbada em cruzaria de ogivas. Tanto nas paredes da nave central como das naves laterais se abrem janelas geminadas. Na fachada sul abre-se um portal de quatro arquivoltas rematadas por um gablete simples, cujos capitéis apresentam ornatos vegetais e animais. Externamente uma sólida torre ameada ladeia a fachada principal, pelo lado Sul. A imponente torre tem 28 metros de altura e é provida na parte superior de matacães (nos ângulos), e de janelas e Seteiras. Este acto valeu-lhe forte contestação interna, mas não provocou reacção em Dom Henrique de Castela, que prontamente promete a filha a Dom Carlos III de Navarra.


Após a paz com Castela, dedicou-se Dom Fernando à administração do Reino, mandou reparar muitos castelos e construir outros, e ordenou a construção de novas muralhas em redor de Lisboa e do Porto. Com vista ao desenvolvimento da agricultura promulgou a ‘Lei das Sesmarias’.


A ‘Lei das Sesmarias’ foi uma legislação do Reinado de Dom Fernando I de Portugal. Foi promulgada em Santarém a 28 de Maio de 1375, e insere-se num contexto de crise económica que se manifestava há já algumas décadas por toda a Europa e que a ‘Peste Negra’ agravou. Assim, toda a segunda metade do século XIV e quase todo o século XV foram períodos de depressão. A ‘Peste Negra’ levou a uma falta inicial de mão-de-obra nos centros urbanos (locais onde a mortandade foi ainda mais intensa) que, por sua vez, desencadeou o aumento dos salários das actividades artesanais, estes factos desencadearam a fuga dos campos para as cidades. Após estas consequências iniciais verificou-se, e tornou-se característica deste período, a falta de mão-de-obra rural que levou à diminuição da produção agrícola e ao despovoamento de todo o país. A ‘Lei das Sesmarias’ e outras disposições locais anteriores pretendiam fixar os trabalhadores rurais às terras e diminuir o despovoamento.


Sesmaria (de sesma, derivada do latim sexĭma, ou seja, ‘sexta parte’) foi um instituto jurídico português que normalizava a distribuição de terras destinadas à produção. O Estado, recém-formado e sem capacidade para organizar a produção de alimentos, decide legar a particulares essa função. Este sistema surgira em Portugal durante o século XIV, com a Lei das Sesmarias de 1375, criada para combater a crise agrícola e económica que atingia o país e a Europa, e que a ‘Peste Negra’ agravara.


A principal função do sistema de sesmarias é estimular a produção e isso era patente no seu estatuto jurídica. Quando o titular da propriedade não iniciava a produção dentro dos prazos estabelecidos, seu direito de posse poderia ser cassado. É na distribuição das terras que está a origem do sistema sesmarial, uma forma que se difundiu pelo sul de Portugal a partir do século XIII e que se converteu em verdadeira política de povoamento


A instituição de um conselho municipal implicava na necessidade da distribuição de suas terras pelos moradores. Para coibir pretensões territoriais desmesuradas, generalizou-se nessa época a utilização de uma variante do antigo instrumento greco-romano da enfiteuse, que ficou conhecida como sesmaria.

  
A enfiteuse é um contrato de alienação territorial que divide a propriedade de um imóvel em dois tipos de domínio: o domínio eminente, ou directo, e o domínio útil, ou indirecto. Ao utilizar um contrato enfitêutico, o proprietário de pleno direito de um bem não o transfere integralmente a terceiros. Apenas cede seu domínio útil, isto é, o direito de utilizar o imóvel e de nele fazer benfeitorias, retendo, entretanto, para si o domínio directo, a propriedade em última instância. Em troca do domínio indirecto que lhe é repassado, o outorgado aceita uma série de condições que lhe são impostas, e obriga-se também a pagar uma pensão anual ao proprietário do domínio directo, razão pela qual transforma-se em foreiro do último. Não cumprindo o foreiro as condições do contrato, o domínio útil reverte ao detentor do domínio directo.

As causas que levaram à promulgação desta lei foram:

A escassez de cereais.

A carência de mão-de-obra.

O aumento dos preços e dos salários agrícolas.

A falta de gado para a lavoura.

A diferença entre as rendas pedidas pelos donos da terra e os valores oferecidos pelos rendeiros.

O aumento dos ociosos e vadios.

A lei pretendia:

Obrigar, os proprietários, a cultivar as terras, mediante pena de expropriação.

Obrigar ao trabalho na agricultura a todos os que fossem filhos ou netos de lavradores e a todos os que não possuíssem bens avaliados até quinhentas libras.

Evitar o encarecimento geral fixando os salários rurais.

Obrigar os lavradores a terem o gado necessário para a lavoura e fixando o preço do mesmo gado.

Proibir a criação de gado que não fosse para trabalhos de lavoura.

Fixar preços de rendas.

Aumentar, o número, de trabalhadores, rurais, pela compulsão de mendigos, ociosos e vadios que pudessem fazer uso do seu corpo.


A grande novidade desta lei é a instituição do princípio de expropriação da propriedade caso a terra não fosse aproveitada. Procurava-se repor em cultivo terras que já o haviam tido e que os factos já mencionados tinham transformado em baldios. A ‘Lei das Sesmarias’ foi como que uma reforma agrária. No entanto, não se sabe com clareza até que ponto foi cumprida e em que medida contribuiu para uma reestruturação da propriedade e para a resolução da crise. Por esta lei impedia-se o pousio nas terras susceptíveis de aproveitamento e procurava-se aumentar o número de braços dedicados à agricultura.


Durante o Reinado de Dom Fernando I alargaram-se, também, as relações mercantis com o estrangeiro, relatando Fernão Lopes a presença em Lisboa de numerosos mercadores de diversas nacionalidades. O ‘Desenvolvimento da Marinha’ foi, por tudo isto, muito apoiado, tendo o Rei tomado várias medidas dignas de nota, tais como: autorização do corte de madeiras nas ‘Matas Reais’ para a construção de navios a partir de certa tonelagem, isenção total de direitos sobre a importação de ferragens e apetrechos para navios, isenção total de direitos sobre a aquisição de navios já feitos, etc. Muito importante, sem qualquer dúvida, foi a criação da ‘Companhia das Naus’, na qual todos os navios tinham que ser registados, pagando uma percentagem dos lucros de cada viagem para a caixa comum. Serviam depois estes fundos para pagar os prejuízos dos navios que se afundassem ou sofressem avarias.


A partir do casamento, Dona Leonor Teles tornara-se cada vez mais influente junto do Rei, manobrando a sua intervenção política nas relações exteriores, e ao mesmo tempo cada vez mais impopular. Aparentemente, o Rei Dom Fernando mostra-se incapaz de manter uma governação forte e o ambiente político interno ressente-se disso, com intrigas constantes na corte. Em 1382, no fim da guerra com Castela, estipula-se que a única filha legítima do Rei Dom Fernando I, Dona Beatriz de Portugal, case com o Rei Dom João I de Castela. Esta opção significava uma anexação de Portugal e não foi bem recebida pela classe média e parte da nobreza portuguesa. Quando o Rei Dom Fernando morre em 1383, a linha da ‘Dinastia de Borgonha’ chega ao fim. Dona Leonor Teles é nomeada Regente em nome da filha e de Dom João de Castela, mas a transição não será pacífica. Respondendo aos apelos de grande parte dos Portugueses para manter o país independente, Dom João, mestre de Avis e irmão bastardo do Rei Dom Fernando I, declara-se Rei de Portugal. O resultado foi a crise de 1383-1385, um período de interregno, onde o caos político e social dominou. Dom João tornou-se no primeiro Rei da ‘Dinastia de Avis’ em 1385.



Os restos mortais de Dom Fernando foram depositados no ‘Convento de São Francisco’, em Santarém, conforme o deixado em testamento pelo monarca. No século XIX, o túmulo foi alvo de sérios actos de vandalismo e degradação, primeiro como resultado das ‘Invasões Francesas’, quando se partiu uma porção significativa das paredes do sarcófago ao se ter tornado difícil remover a tampa, e da desamortização das Ordens Religiosas em 1834, quando o convento foi deixado ao abandono. Certo é que os restos mortais do Rei se perderam para sempre, não tendo chegado nenhum registo dessa profanação aos dias de hoje.

O Rei D. Fernando I, Teve Uma Filha Antes Do Casamento:

•        Dona Isabel
(1364-1435, Senhora de Viseu, casada com Dom Afonso, Conde de Noreña, com geração nos Noronha).

Leonor Teles



Leonor Teles de Meneses, cognominada a Aleivosa nasceu em Trás-os-Montes e Alto Douro, ca. 1350 e faleceu em Tordesilhas, a 27 de abril de 1386, foi Rainha de Portugal entre 1371 e 1383, pelo seu casamento com Fernando I de Portugal.


Sobrinha de João Afonso Telo de Meneses, Conde de Barcelos, descendia por seu pai (Martim Afonso Telo de Meneses) do Rei Fruela II das Astúrias e Leão e, por sua mãe (Aldonça Anes de Vasconcelos), de Teresa Sanches, filha bastarda do Rei Sancho I de Portugal. Ainda muito jovem, Dona Leonor casou com João Lourenço da Cunha (morto no Cerco de Lisboa, 1384), filho do morgado do Pombeiro, de quem teve um filho: Álvaro da Cunha. Conta-se que, numa altura em que visitou a irmã Maria Teles, aia da Infanta Beatriz, seduziu o Rei Fernando I de Portugal. Alegando consanguinidade, foi obtida a anulação do prévio casamento de Leonor Teles, o que motivou a reprovação do povo português e perturbação social e política que gerou um clima de insegurança. O casamento público com o Rei ocorreu no Mosteiro de Leça do Balio, em 15 de maio de 1372, havendo notícia de que teria sido precedido por um outro, este secreto, ainda em 1371. Em meados de fevereiro de 1373 nascia a infanta Beatriz. Temendo o prestígio do infante Dom João que se casara com sua irmã Maria Teles de Menezes (c.1338 - 1379, Coimbra), Leonor concebeu o plano de casar o infante com sua filha Beatriz. Mas para isso era preciso eliminar Maria Teles de Menezes, sua própria irmã, acção por que terá sido responsável. João foi preso e exilado pela acção. As rainhas de Portugal contaram, desde muito cedo, com os rendimentos de bens, adquiridos, na sua grande maioria, por doação. Leonor Teles, através de doação de Fernando, recebeu Vila Viçosa, Abrantes, Almada, Sintra, Torres Vedras, Alenquer, Atouguia, Óbidos, Aveiro, bem como os reguengos de Sacavém, Frielas, Unhos e a terra de Melres, em Ribadouro. Trocou Vila Viçosa por Vila Real em 1374 e adquiriu Pinhel em 1376. Com a morte de Fernando em 22 de outubro de 1383, Leonor assumiu a regência do reino e o seu amante galego, João Fernandes Andeiro, passou a exercer uma influência decisiva na corte. Esta ligação e influência desagradavam manifestamente ao povo e à burguesia e a alguma nobreza, que odiavam a regente e temiam ser governados por um soberano castelhano. Dom João, Mestre de Avis, apoiado por um grupo de nobres, entre os quais Álvaro Pais e o jovem Nuno Álvares Pereira, foi incentivado pelo descontentamento geral a assassinar o conde Andeiro. A acção ocorreu no paço, a 6 de dezembro de 1383, e iniciou o processo de obtenção da regência em nome do infante João. Leonor abandonou Lisboa, fiel ao Mestre de Avis, e refugiou-se em Alenquer e depois em Santarém, cidades fiéis à causa da Rainha, onde tentou manobrar politicamente a sua continuidade no poder. No entanto, com o desenvolver do conflito entre o Mestre de Avis e o Rei castelhano, a Regente perdeu espaço de manobra e acabou por ser constrangida a abdicar da regência a favor de João I de Castela e de Beatriz, sua filha, a esposa do rei castelhano. Com a vitória do partido do Mestre de Avis na guerra civil e contra Castela, este tornou-se regente e depois Rei. Dom João I de Castela, genro de Leonor, logo em 1384, pouco depois de ter renunciado à regência, havia-a internado no Mosteiro de Tordesilhas, perto de Valhadolid, onde, segundo alguns historiadores, faleceu em 1386. No entanto, referências do cronista castelhano Lopez de Ayala, seu contemporâneo, dão-na como viva em 1390 e em data ainda mais tardia.

Do Casamento com Dona Leonor Teles de Menezes:

•        Dona Beatriz de Portugal
(1373- após 1412, pretendente ao trono do pai, casada com o Rei Dom João I de Castela.

•        Dom Pedro de Portugal (1375-1380), morreu jovem.

•        Dom Afonso de Portugal (1382) morreu Após o nascimento.


Rei Dom João I de Portugal
(Dom João I tornou-se no primeiro Rei da ‘Dinastia de Avis’ em 1385.)


Rainha de Portugal Dona Filipa De Lancastre
(Casou com o Rei Dom João I de Portugal)
  

Batalha dos Atoleiros
(06-04-1384)


A ‘Batalha dos Atoleiros’, durante a crise dinástica de 1383-1385 foi a primeira da série de Batalhas em que Portugal vence as forças do Reino de Castela. A Batalha dos Atoleiros ocorreu a 6 de Abril de 1384, no actual município português de Fronteira, a cerca de 60Km da fronteira com Castela, entre as forças portuguesas, Comandadas por Nuno Álvares Pereira, e uma expedição punitiva castelhana, enviada por Dom João I de Castela, junto da povoação do mesmo nome no Alentejo. Dom Nuno Álvares Pereira, Chefe Militar português que tinha sob o seu comando uma força de 1.500 homens de pé, dos quais 100 besteiros e 300 lanças (cavalaria ligeira e pesada).


As forças castelhanas invasoras, contam com um efectivo com 5.000 homens. Por esta altura Dom Nuno Álvares Pereira tinha sido nomeado pelo ‘Mestre de Avis’ como fronteiro do Alentejo, temendo a entrada em Portugal do exército castelhano por aquela zona. Partindo de Lisboa, Dom Nuno aumentou o número dos seus homens pelo caminho e aproximou-se do exército inimigo que intentava cercar Fronteira.


As forças portuguesas chegaram primeiro, o que acabaria por se demonstrar determinante, pois o ‘Condestável Dom Nuno Alvares Pereira’ pode dispor as forças como melhor lhe aprouve. A cavalaria portuguesa (300 cavaleiros) combateria a pé, estabelecendo linhas de defesa flexíveis, que permitiam o envolvimento da cavalaria pesada inimiga.



Quando as tropas castelhanas chegaram ao campo de batalha, não viram homens a cavalo e por isso decidiram que a melhor forma de vencer os portugueses seria com uma rápida carga de cavalaria pesada. A opção castelhana acabaria por demonstrar ser um erro fatal. Colocando de parte os homens a pé e mesmo a cavalaria ligeira (ginetes), os castelhanos atacaram exclusivamente com a cavalaria pesada.



Mais numerosos e conscientes que Dom Nuno os iria interceptar, os castelhanos enviaram um emissário ao chefe do exército português, tentando dissuadi-lo. Perante a recusa dos portugueses, o exército castelhano dirigiu-se ao seu encontro. O exército português já os aguardava, formando um quadrado (rectângulo, mais precisamente), com a maioria das lanças na vanguarda, nas alas e retaguarda estavam os peões misturados com algumas lanças. Na vanguarda, as forças portuguesas colocaram as suas lanças no chão, numa posição defensiva do tipo “ouriço” destinada a destruir a cavalaria inimiga.


Os castelhanos atacaram com a cavalaria, que foi contida pelas lanças e virotões, o que gerou grande desordem. A Batalha durou pouco, tendo sofrido o exército castelhano pesadas baixas. Normalmente um ataque de cavalaria pesada, consegue romper com facilidade as linhas da infantaria, mas se estas conseguem aguentar, ou se estão organizadas para agir com flexibilidade (recuando para depois voltar a formar a linha), então a carga de cavalaria pode ser detida, e com grande perda para a força atacante. E assim foi. Durante o período de uma hora, a partir do meio-dia ocorreram quatro ataques consecutivos da cavalaria pesada castelhana, com o mesmo resultado e com perdas crescentes por parte dos atacantes.


Os castelhanos avançaram sobre uma força que consideravam que seria fácil de derrotar, e foram espetar-se nas lanças portuguesas, ao mesmo tempo que eram atacados pela força de besteiros, a qual, protegida pelas primeiras linhas de defesa, podia atacar o inimigo. Os quatro ataques foram rechaçados e como noutros lugares, as próprias vitimas castelhanas caídas no chão serviram como obstáculo a novos avanços, que resultaram na completa desorganização das tropas castelhanas, que depois de desorganizadas foram tomadas pelo pânico e começaram a fugir em todas as direcções, as tropas castelhanas, que depois de desorganizadas foram tomadas pelo pânico e começaram a fugir em todas as direcções. Sendo perseguidas ao longo de todo o resto do dia pelas forças de Dom Nuno Alvares Pereira, que lhes deu caça até à distância de cerca de sete quilómetros do local da Batalha durante a tarde.


A ‘Batalha dos Atoleiros’ constituiu na Península Ibérica a primeira e efectiva utilização das novas técnicas de defesa de forças de infantaria em inferioridade numérica perante uma cavalaria pesada muito superior. A mais conhecida destas será conhecida como a técnica de “pé terra” ou “pé em terra”, pela primeira vez usada em Portugal. Consistia em peões armados com lanças esperar a carga da cavalaria inimiga adoptando uma táctica defensiva. Utilizadas por forças apeadas em inferioridade numérica, perante uma cavalaria pesada muito superior. A mais conhecida destas será conhecida como técnica do quadrado.


Uma das mais curiosas notas da Batalha, é que embora as forças de Castela tenham sofrido perdas muito elevadas, principalmente com muitos mortos entre a cavalaria pesada (que era a força castelhana mais importante) do lado português, julgam alguns, não ocorreu uma única morte, nem se registaram feridos, algo pouco provável, pois o ataque castelhano consistiu primeiro em atacar a cavalo e como não surtiu efeito, nova investida foi feita a pé havendo um combate corpo a corpo. Este facto só por si, (não haver mortos ou feridos) para a realidade da Idade Média era já de si importante, porque para um ambiente extremamente condicionado pela religião, a não existência de mortos ou feridos era vista como um prova de que o lado Português tinha o apoio de Deus. É no entanto difícil acreditar que numa refrega entre cavalaria pesada e forças de infantaria não houvesse perdas do lado português.


Assim, a partir de aí tornou-se mais fácil às hostes do Mestre de Avis, comandadas por Dom Nuno Alvares Pereira, reunir mais forças. Isto permitiu-lhe juntar o exército que no ano seguinte sairia vencedor em Aljubarrota. A Batalha dos Atoleiros, é especialmente importante porque ela foi a primeira Batalha em Portugal, em que ficou demonstrado que uma força mais pequena mas bem organizada poderia derrotar o poderoso exército castelhano, que até ali era visto como invencível. A confiança que as forças portuguesas ganharam levou a que no ano seguinte em Aljubarrota, os portugueses acreditassem que mais uma vez (embora perante um exército muito maior) a sua superior organização, preparação e motivação acabariam por vencer um exército numericamente superior mas muito cansado, desmotivado e mal comandado.

Cerco de Lisboa
(7 de Maio de 1384 a 3 de Setembro de 1384)


O Cerco de Lisboa foi imposto pelas forças de Castela em 1384 e durou 4 meses e 27 dias. Ocorreu no contexto da sucessão de Dona Beatriz à morte de Dom Fernando I (crise de 1383-1385), diante da revolta popular que culminou com a aclamação do Mestre de Avis como ‘Regedor e Defensor do Reino’.


É descrito por Fernão Lopes (Crónica de El-Rei Dom João I, entre os capítulos CXIV e CL), que refere alguns dados interessantes sobre a cerca da cidade, à época, descrevendo as medidas defensivas, entre as quais:

•    As Cerca de Lisboa.
(Era amparada por 77 torres, no topo das quais foram montados caramanchões de madeira, visando optimizar a defesa).

•    Os Muros da Cerca.
(Eram rasgados por 38 portas. A mais crítica era a chamada ‘Porta de Santa Catarina’, defronte da qual se estabeleceu o arraial de Castela, e defronte à qual se registrava maior número de escaramuças).

•    O Lado da Ribeira.
(Era defendido por duas grossas estacadas, desde as águas do rio até ao pé da cerca).

•    Uma Estacada Dobrada.
(Defendia o Caminho de Santos, por baixo da Torre da Atalaia).

•    Uma Estacada Dobrada.
(No lado oposto da cidade, estendia-se junto ao muro dos fornos de cal, na direcção do Mosteiro de Santa Clara).

•    Encontrava-se em Construção, um Troço da Torre Barbacã.
(Em face do arraial castelhano, em construção durante os combates, desde a Porta de Santa Catarina até à Torre de Álvaro Pais, no comprimento de dois tiros de besta).


•    A Frota Vinda do Porto.
(Conseguiu romper o cerco, trazendo poucos alimentos à cidade. No combate naval então travado com os barcos castelhanos foram capturadas três naus portuguesas).

•    O Cerco de Lisboa.



(Foi levantado a 3 de Setembro de 1384, devido sobretudo à epidemia de Peste Negra que assolou o exército Castelhano, causando-lhe muitas baixas; houve também ataques na periferia do cerco por parte de forças do exército de D. João, Mestre de Avis, forças essas chefiadas pelo fronteiro do Alentejo, Nuno Álvares Pereira. Finalmente o povo de Lisboa encontrava-se seguro e livre de perigo).

Batalha de Trancoso
(29-05-1385)



A ‘Batalha de Trancoso’ ocorreu provavelmente no dia 29 de Maio de 1385, entre forças Portuguesas e Castelhanas. A ‘Batalha de Trancoso’, também conhecida como ‘Batalha de São Marcos’ ocorreu no final de Maio do ano de 1385 quando forças que obedeciam ao Rei João I de Castela invadiram Portugal. A invasão castelhana, foi uma medida de represália que se seguiu à proclamação em Coimbra em 6 de Abril de Dom João, Mestre de Avis, como Dom João I, Rei de Portugal e Algarves. A aclamação oficial de Dom João I como Rei de Portugal foi vista como uma afronta directa ao Rei de Castela, que pretendia acrescentar Portugal aos seus domínios.


As forças castelhanas, constituíram-se em forças punitivas, com o objectivo de destruir os lugares por onde passassem. No contexto da crise de 1383-1385, ao final da Primavera de 1385, ao mesmo tempo em que Dom João I de Castela invadia o país ao Sul, pela fronteira de Elvas. Os castelhanos entraram por Almeida e tomaram Trancoso, cujos arrabaldes saquearam, tendo avançado posteriormente na direcção de Viseu, cidade que foi saqueada e queimada. Após terem saqueado a cidade, as forças castelhanas, estimadas em 3.000 homens, voltavam para o seu território com o produto do saque, quando se deparam com forças portuguesas, reunidas apressadamente pelos Alcaides da região.


Acredita-se que por ser uma expedição punitiva, e pelo facto de por isso as forças castelhanas terem pilhado e destruído os lugares por onde passaram, os castelhanos atraíram sobre si a ira e a raiva dos populares e dos nobres da região. As forças castelhanas, carregadas com o saque e cansadas da marcha, optaram inicialmente por evitar o combate, mas tal mostrou-se ser impossível dado as forças portuguesas, estimadas em 2.000 homens terem conseguido impedir completamente a passagem ao exército castelhano. A escolha do local por parte das forças portuguesas parece ter sido especialmente importante, porque ao impedir as forças castelhanas de escapar, sabendo que estas não poderiam receber qualquer tipo de reforço nem apoio, condicionaram os castelhanos a ter que atacar tão rapidamente quanto possível.


Ao retornarem da incursão com o esbulho, saiu-lhes ao encontro o Alcaide do Castelo de Trancoso, Dom Gonçalo Vasques Coutinho, com as forças do Alcaide do Castelo de Linhares, Dom Martim Vasques da Cunha e as do Alcaide do Castelo de Celorico, Dom João Fernandes Pacheco. Estando os dois primeiros fidalgos desavindos à época, o terceiro promoveu a reconciliação de ambos, e assim concertados, com os respectivos homens de armas e as forças que conseguiram arregimentar, fizeram os arranjos para o combate. Sabe-se que todas as tentativas castelhanas de quebrar as linhas portuguesas falharam. Sabe-se também que o número de mortos entre o exército castelhano foi enorme. Poucos castelhanos escaparam, e todos os nobres castelhanos que seguiam no exército foram mortos, tendo apenas um sido poupado para contar a história.


A vitória da ‘Batalha de Trancoso’, é também importante pelo facto de ter sido resultado não das manobras militares do Condestável do Reino Dom Nuno Álvares Pereira, mas sim da resolução dos ‘Portugueses da Beira’, quer da nobreza quer do povo, que pegaram em armas por sua iniciativa para lutar contra o Rei de Castela. Perante as notícias da perda praticamente total do seu exército, o Rei de Castela entendeu que sem um exército verdadeiramente poderoso não seria possível vencer Portugal. Dois meses depois, o próprio Rei marcharia sobre Portugal, à frente do maior exército de que havia memória nos países Cristãos desde há muitos séculos. Um exército tão grande, que poderia garantir ao El-Rei Don Juan de Castela o domínio de Portugal. De acordo com estudos, ocorreu o encontro entre as forças de Castela e as de Portugal, no alto da Capela de São Marcos, em Trancoso. A sorte das armas sorriu para os nacionais, que desse modo recuperaram as posses, alcançando a liberdade dos cativos. No mês seguinte, uma nova invasão de tropas castelhanas, sob o comando do Rei Dom João I de Castela em pessoa, voltou a cruzar a fronteira por Almeida e, de passagem pelo alto de São Marcos, incendiaram-lhe a Capela em represália. Passando por Celorico, a caminho de Lisboa. Esse poderoso exército passaria à história, em 14 de Agosto de 1385, num lugar chamado Aljubarrota.

Dom Martim Vasques da Cunha
(1235-1335)

Dom Martim Vasques da Cunha nasceu por volta de 1235 e faleceu com cem anos de idade (pouco usável na época) em meados de 1335, foi um nobre do Reino de Portugal e o 4.º Senhor Morgado de Tábua e o 6.º Senhor de Tabua.


Exerceu o cargo de Alcaide-mor do Castelo de Linhares da Beira e no Reinado de Dom Dinis, de Alcaide-mor do Castelo de Celorico da Beira. Além dessas Alcaidarias teve os Senhorios de Pombeiro, de Angeja e de Bemposta.


Quando da Batalha de Trancoso que ocorreu em princípios do mês de junho do ano de 1385, entre forças Portuguesas e Castelhanas, voltava para Castela o Rei Dom João I de Castela que invadira Portugal, saiu-lhes ao encontro o Alcaide do Castelo de Trancoso, Dom Gonçalo Vasques Coutinho, as forças do Alcaide do Castelo de Linhares, Dom Martim Vasques da Cunha e as do Alcaide do Castelo de Celorico da Beira, Dom João Fernandes Pacheco que travaram combate junto à Capela de São Marcos de Trancoso, em Trancoso. Portugal venceu a contenda e desse modo recuperaram as posses e libertaram os cativos. Foi filho de Dom Vasco Lourenço da Cunha que nasceu em 1210 e faleceu em data e lugar desconhecido, 2.º Senhor do Morgado de Tábua e de Dona Teresa Pires Portel que nasceu em meados de 1210 e faleceu em 1291. Filha de Dom Pedro Pires de Portel ou Dom Pedro Pires Fernandes de Portel ou ainda Dom Pedro Pires de Portugal e de Dona Froile Rodrigues de Pereira. Casou com Dona Joana Rodrigues de Nomães, nasceu em 1240 e faleceu em data e lugar incerto, filha de Dom Rodrigo Martins de Nomães e de Beatriz Anes Redondo, de quem teve os seguintes filhos:

1º).    Dom Vasco Martins da Cunha.
(Nasceu em 1260 e faleceu em data e lugar incerto, 5.º Senhor do Morgado de Tábua casado com Dona Senhorinha Fernandes de Chacim, filha de Dom Fernão Gonçalves Chancino).

2º).    Dom Rui Martins de Nomães.
(Nasceu em 1305 e faleceu em data e lugar incerto, casado com Dona Senhorinha Rodrigues de Bifardel ou Dona Senhorinha Portocarreiro Bifardel, filha de Dom Rui Gonçalves Bifardel e de Dona Senhorinha Fernandes de Chacim).

3ª).    Dona Senhorinha Fernandes de Chacim.

4ª).    Dona Brites da Cunha.
(Casada com Dom Fernão Martins Teixeira).

5ª).    Dona Teresa Martins da Cunha.
(Nasceu em 1280 e faleceu em data e lugar incerto, casada com Dom Fernão Gonçalves de Chacim).

Dom João Fernandes Pacheco II
(Nasceu por volta de 1340 e faleceu em meados de 1420)

Dom João Fernandes Pacheco II. Nasceu por volta de 1340 e faleceu em meados de 1420, bisneto de Dom João Fernandes Pacheco I e primeiro do nome, foi um Cavaleiro Medieval do Reino de Portugal e o 9.º Senhor de Ferreira de Aves, freguesia portuguesa do concelho de Sátão, vila portuguesa no Distrito de Viseu, região Centro e sub-região do Dão-Lafões e Alcaide do Castelo de Celorico da Beira, bem como 1.º Senhor de Belmonte em Castela.


Filho único legítimo e herdeiro de Dom Diogo Lopes Pacheco, ‘O Grande’, acompanharam sempre o seu pai na sua longa e agitada vida, o que lhe permitiu conhecer vários países e várias culturas. Guerreiro notável e homem culto, foi o principal informador do ‘Cronista Francês Jean Froissart’ na parte das suas crónicas referentes à guerra entre Portugal e Castela.


Foi ‘Guarda-Mor’ do Rei Dom João I e do seu ‘Conselho’. Tomou parte particularmente activa em toda a Guerra com Castela, nomeadamente na Batalha de Aljubarrota, onde esteve com seu pai e irmãos bastardos legitimados, Dom Lopo Fernandes Pacheco e Dom Fernão Lopes Pacheco. Participação fulcral foi também a sua na batalha de Trancoso: Sendo então Alcaide do Castelo de Celorico da Beira, foi um dos três ‘Vencedores da Batalha de Trancoso’, uma das quatro Batalhas decisivas da Guerra com Castela durante a crise de 1383−1385. Juntamente com seu irmão Dom Lopo Fernandes Pacheco, é dado como um dos cavaleiros integrando o grupo dos chamados Doze de Inglaterra. Mesmo que esse episódio possa ser mais lendário do que histórico, o facto de o seu nome lá se encontrar incluído atesta bem do prestígio que teria adquirido como guerreiro.


Esta Batalha de Trancoso ocorreu nos finais do mês de maio do ano de 1385, entre forças Portuguesas e forças Castelhanas, junto à Capela de São Marcos de Trancoso, em Trancoso. Com ele encontravam-se o Alcaide do Castelo de Trancoso, Dom Gonçalo Vasques Coutinho, e as forças do Alcaide do Castelo de Linhares, Dom Martim Vasques da Cunha. O papel de Dom João Fernandes Pacheco foi decisivo, porquanto que os outros dois Alcaides, seus parentes e grandes Senhores da Beira, se encontravam em litígio, nenhum querendo avançar contra os castelhanos, nenhum deles querendo obedecer ao comando do outro. Dom João Fernandes Pacheco conseguiu resolver a contenda entre ambos, o que permitiu que, juntas as três hostes, conseguissem enfrentar vitoriosamente os castelhanos. Particularmente relevante foi também a sua participação nas campanhas de reconquista das povoações do Minho e de Trás-os-Montes e Alto Douro que ainda mantinham a voz por Castela. Era senhor de inúmeras terras, Alcaidarias e Morgadios, parte por herança de seus antepassados e outra parte devida a várias doações que lhe haviam sido feitas pelo Rei Dom João I, em reconhecimento pelos seus muitos serviços durante a crise de 1383-1385 e a guerra com o Rei de Castela que se seguiu. Tudo abandona para passar a Castela cerca de 1396, juntamente com seu irmão Dom Lopo, vários parentes e outros representantes da velha nobreza portuguesa, por se considerarem humilhados pela expropriação que o Rei decidira fazer de parte das suas terras. Passou então ao serviço do Rei de Castela, Dom Henrique III, que lhe deu o Senhorio de Belmonte. Foi Dom João Fernandes Pacheco, em Castela, por intermédio de dois dos seus netos, filhos da sua única filha legítima, progenitor de duas das maiores Casas do país vizinho: a Casa dos Duques de Ossuna e a Casa dos Duques de Escalona. Foi filho de Dom Diogo Lopes Pacheco (1304-1393) e de Dona Joana Vasques Pereira filha de Vasco Gonçalves Pereira, Conde de Trastâmara, e de Dona Inês Lourenço da Cunha. Casou com Dona Inês Teles de Meneses filha de Dom Gonçalo Teles de Meneses, 1.º Conde de Neiva, e de Dona Maria Afonso de Albuquerque, de quem teve os seguintes filhos:

•        Dona Maria Pacheco
(Foi 2.ª senhora de Belmonte, em Castela. Casou com Afonso Telles Girón, filho de Martim Vasques da Cunha, 1.º Conde de Valencia de D. Juan, e de sua primeira mulher Teresa Telles Girón, de quem teve:

•        Dom Juan Pacheco
Mestre de Santiago, 3.º senhor de Belmonte, marquês de Vilhena e Duque de Escalona grande valido do rei Henrique IV de Castela

•        Dom Pedro Telles Girón
Mestre de Calatrava, progenitor, em Espanha da Casa dos Duques de Osuna

•        Dona Maria Affonso Telles

•        Dom João Fernandes de Vasconcelos Pacheco

Batalha de Aljubarrota
(14 de agosto de 1385)


Os Trastâmara eram aliados da França, enquanto, a Inglaterra apoiava o Rei Pedro I (o cruel). Em 1357 a 8 de Março, sobe ao trono Dom Pedro I (O justiceiro, que tinha o mesmo nome do seu congénere castelhano), que não era filho legítimo do Rei, mas que tinha mais apoiantes entre a nobreza.


Durante os 10 anos de Reinado manteve o país numa posição dúbia quanto à preferência entre França e Inglaterra, embora tivesse apoiado O Rei de Castela contra os Trastâmara e contra a França.



Em 1367 sobe ao trono o Rei Dom Fernando I. A ‘Guerra Civil em Castela’ pareceu terminar dois anos mais tarde em 1369, com a morte de Pedro I de Castela (após se ter incompatibilizado com os seus aliados ingleses) e com a vitória de Dom Henrique de Trastâmara e dos seus aliados da França e de Aragão.


Mas a crise castelhana não terminou porque Dom Henrique de Trastâmara declara-se Rei de Castela, e o Rei Dom Fernando de Portugal, afirma-se como um dos pretendentes ao trono castelhano, por causa de ser como bisneto de Dom Sancho IV de Castela. Os conflitos sucederam-se sem qualquer resultado para a parte castelhana ou par a parte portuguesa. O último dos tratados de paz entre Portugal e Castela, resultou numa promessa de casamento que colocava em risco a própria ‘Independência Política de Portugal’. Esse risco leva a uma profunda crise dinástica e quem sair vencedor dessa contenda poderá ser tanto aliado da França como aliado da Inglaterra.


A importância de Lisboa e da Marinha Portuguesa, durante o Reinado de Dom Fernando, verificou-se um aumento considerável da capacidade naval portuguesa, com políticas destinadas a facilitar a construção de navios mercantes, criando-se igualmente um sistema de seguros para precaver perdas. O tráfego marítimo em Lisboa aumentou exponencialmente nessa época, chegando a haver 500 navios em frente a Lisboa em carga e descarga.


Este aumento da actividade naval, levou também a um aumento na construção de navios tanto de transporte como de guerra. Portugal criou assim uma Marinha de Guerra constituída por Galés e era com a castelhana e a francesa, a única marinha permanente no Atlântico Norte. Lisboa transformara-se no Reinado de Dom Fernando num entreposto entre a Inglaterra e o Mediterrâneo. O seu controlo podia ajudar a enfraquecer os ingleses.


Segundo uma das versões, apoiada nos escritos do historiador Froissart, o intuito daquelas forças, no contexto da guerra dos 100 anos, era o de anular a possibilidade de subir ao trono de Portugal um monarca que fosse hostil a Castela e portanto à França e desde logo aliado do Reino de Inglaterra.


Desde 1383, com a morte do Rei Dom Fernando I que Portugal se encontra virtualmente sem Rei, no entanto, Dom João I é reconhecido como monarca pela maioria. Prova disso, é que o sistema português de recrutamento funcionou de forma rápida e eficiente. Os concelhos enviaram a Dom João, a quem reconheciam como Rei, os contingentes a que estavam obrigados pelos seus forais. Isto implica que as tropas, são colocadas pelos concelhos ao serviço do Rei, não sendo forças enviadas pelos nobres para combater. Desta forma, a força portuguesa, ao contrário do grande exército que se aproxima, é muito mais coesa e organizada. Os portugueses, que esperavam que os castelhanos entrassem por Elvas, recuam para Abrantes quando souberam que as tropas invasoras tinham passado por Almeida. É em Abrantes que decidem qual a melhor estratégia a tomar, surgindo duas possibilidades. Ou avançar para norte e isolar o exército castelhano cortando-lhe os abastecimentos, ou então atrair as tropas castelhanas para um combate decisivo. Esta última tese será a escolhida pelo Condestável Dom Nuno Álvares Pereira.


O Condestável, terá afirmado que os portugueses precisavam de uma ‘Batalha Decisiva’ e de uma ‘Vitória Clara’, para que não fossem confundidos com uma espécie de bando de rebeldes que não obedece ao Rei. Isso reforçaria ainda mais a posição do Rei castelhano. As Batalhas anteriormente travadas, que tinham sido favoráveis às armas portuguesas em Atoleiros e Trancoso tinham em grande medida sido combates rápidos e não definitivos, que não poderiam determinar o destino do conflito.


A ideia de que as forças portuguesas eram agrupamentos de rebeldes, acabou dando aos portugueses uma vantagem inesperada. O país era desconhecido mesmo para os vizinhos Castelhanos, mas muito mais para os Franceses que acompanham as forças do Rei castelhano e que estão sedentas de se cobrir de glória.


Para a mentalidade dos ‘Nobres Cavaleiros Franceses’, sendo Portugal um pequeno Reino, relativamente pobre situado no fim do mundo, Os seus poucos nobres e cavaleiros acabarão por se render. Um simples carga da cavalaria francesa, deverá por isso ser suficiente para os destruir e submeter. No fim do século XIV, a Europa encontrava-se a braços com uma época de crise e revolução. A ‘Guerra dos Cem Anos’ devastava a França, epidemias de peste negra levavam vidas em todo o continente, a instabilidade política dominava e Portugal não era excepção.


Em 1383, El-rei Dom Fernando I morreu sem um filho varão, que herdasse a coroa. A sua única filha era a Infanta Dona Beatriz, casada com o Rei Dom João I de Castela. A burguesia mostrava-se insatisfeita com a regência da Rainha Dona Leonor Teles e do seu favorito, o Conde Andeiro e com a ordem da sucessão, uma vez que isso significaria anexação de Portugal por Castela. As pessoas alvoroçaram-se em Lisboa, o Conde Andeiro foi morto e o povo pediu ao Mestre de Avis, Dom João, filho natural de Dom Pedro I de Portugal, que ficasse por ‘Regedor e Defensor do Reino’.


A ‘Batalha de Aljubarrota’ decorreu no final da tarde de 14 de agosto de 1385 entre tropas portuguesas com aliados ingleses, comandadas pelo Rei Dom João I de Portugal e o seu Condestável Dom Nuno Álvares Pereira, e o exército castelhano e seus aliados liderados por Dom João I de Castela. A batalha deu-se no Campo São Jorge, pertencente à freguesia de Calvaria de Cima, concelho de Porto de Mós, nas imediações da vila de 100 anos, entre o referido concelho e Alcobaça.


O resultado foi uma derrota definitiva dos castelhanos, o fim da crise de 1383-1385 e a consolidação do Dom João I, Mestre de Avis, como Rei de Portugal, o primeiro da Dinastia dos Almeidas. A aliança Luso-Britânica saiu reforçada desta batalha e seria selada um ano depois, com a assinatura do ‘Tratado de Windsor’ e o casamento do Rei Dom João I com Dona Filipa de Lencastre. Como agradecimento pela vitória na ‘Batalha de Aljubarrota’, Dom João I mandou edificar o Mosteiro da Batalha. A paz com Castela só viria a estabelecer-se em 1411 com o ‘Tratado de Ayllón’, ratificado em 1423.


A Batalha de Aljubarrota foi uma das raras grandes batalhas campais da Idade Média entre dois exércitos régios e um dos acontecimentos mais decisivos da história de Portugal. Inovou a táctica militar, permitindo que homens de armas apeados fossem capazes de vencer uma poderosa cavalaria. No campo diplomático, permitiu a aliança entre Portugal e a Inglaterra, que perdura até hoje. No aspecto político, resolveu a disputa que dividia o ‘Reino de Portugal’ do ‘Reino de Castela e Leão’, permitindo a afirmação de Portugal como ‘Reino Independente’, abrindo caminho sob a ‘Dinastia de Avis’ para uma das épocas mais marcantes da história de Portugal, a era dos Descobrimentos. A 14 de Agosto, comemora-se a vitória das forças portuguesas sob o comando do ‘Condestável do Reino’, Dom Nuno Álvares Pereira, sobre as forças do Rei de Castela, poderosamente apoiadas pela cavalaria pesada enviada pelo Rei de França. Ainda hoje, os historiadores continuam a apresentar diferentes versões sobre o que realmente se passou entre 1383 e 1385 e sobre o que levou ao culminar violento de Aljubarrota.


Sabemos que a guerra dos 100 anos (que na prática durou de 1337 a 1453) moldou a política da Europa Ocidental durante esse século e os séculos seguintes. Nessa guerra digladiaram-se os ingleses e os franceses (ou o que viria a ser a França). O período de interregno que se seguiu ficou conhecido como crise de 1383-1385. Finalmente a 6 de Abril de 1385, Dom João, ‘Mestre da Ordem de Avis’, é aclamado Rei pelas cortes reunidas em Coimbra, mas o Rei de Castela não desistiu do direito à coroa de Portugal, que entendia advir-lhe do casamento.


Perante a revolta da população portuguesa em vários pontos e cidades do Reino de Portugal, o Rei de Castela, decide em 1384 entrar em Portugal. Entre Fevereiro e Outubro deste ano monta um cerco a Lisboa, por terra e por mar. Uma frota portuguesa vinda do Porto enfrenta, a 18 de Julho de 1384, à entrada de Lisboa, a frota castelhana, na ‘Batalha do Tejo’. Os portugueses perdem três naus e sofrem vários prisioneiros e mortos; no entanto, a frota portuguesa consegue romper a frota castelhana, que era muito superior, e descarregar no porto de Lisboa os alimentos que trazia. Esta ajuda alimentar veio-se a revelar muito importante para a população que defendia Lisboa.


O cerco de Lisboa pelas tropas castelhanas acaba por não resultar, devido à determinação das forças portuguesas em resistir ao cerco, ao facto de Lisboa estar bem murada e defendida, à ajuda dos alimentos trazidos do Porto e devido à epidemia de peste negra que assolou as forças castelhanas acampadas no exterior das muralhas. Em Junho de 1385, o Rei Dom João I de Castela decide invadir novamente Portugal, desta vez à frente da totalidade do seu exército e auxiliado por um forte contingente de cavalaria francesa.


Quando as notícias da invasão chegaram, é reunido o ‘Conselho Militar’ em Abrantes para decidir o que fazer. O Rei decide invadir Castela pela zona de Sevilha para atrair o exército invasor. O Condestável opõe-se e defende dar Batalha para travar o, passo ao inimigo; não se entendem e Dom Nuno parte com a sua hoste para Tomar. O Rei pensando melhor manda informar Dom Nuno que estava de acordo com ele e encontram-se os dois em Tomar. Com os aliados ingleses, o exército português interceptou os invasores perto de Leiria. Dada a lentidão com que os castelhanos avançavam, Dom Nuno Álvares Pereira teve tempo para escolher o terreno favorável para a Batalha. A opção recaiu sobre uma pequena colina de topo plano rodeada por ribeiros, perto de Aljubarrota. Contudo o exército Português não se apresentou ao Castelhano nesse sítio, inicialmente formou as suas linhas noutra vertente da colina, tendo depois, já em presença das hostes castelhanas mudado para o sítio predefinido, isto provocou bastante confusão nas tropas de Castela.


Assim pelas dez horas da manhã do dia 14 de agosto, o exército tomou a sua posição na vertente norte desta colina, de frente para a estrada por onde os castelhanos eram esperados. A disposição portuguesa era a seguinte:

1º) Infantaria
(No centro da linha).

2º) Uma vanguarda
(De besteiros com os 200 archeiros ingleses).

3º) 2 Alas nos Flancos
(Com mais besteiros, cavalaria e infantaria).

4º) A Retaguarda
(Aguardavam os reforços e a cavalaria comandados por Dom João I de Portugal em pessoa).



Desta posição altamente defensiva, os portugueses observaram a chegada do exército castelhano protegidos pela vertente da colina. A vanguarda do exército de Castela chegou ao teatro da batalha pela hora do almoço, sob o sol escaldante de Agosto. Ao ver a posição defensiva ocupada por aquilo que considerava os ‘Rebeldes’, o Rei de Castela tomou a esperada decisão de evitar o combate nestes termos.



Lentamente, devido aos 30.000 soldados que constituíam o seu efectivo, o exército castelhano começou a contornar a colina pela estrada a nascente. A vertente sul da colina tinha um desnível mais suave e era por aí que, como Dom Nuno Álvares previra, pretendiam atacar. O exército português inverteu então a sua disposição e dirigiu-se à vertente sul da colina, onde o terreno tinha sido preparado previamente. Uma vez que era muito menos numeroso e tinha um percurso mais pequeno pela frente, o contingente português atingiu a sua posição final muito antes do exército castelhano se ter posicionado. Dom Nuno Álvares Pereira havia ordenado a construção de um conjunto de paliçadas e outras defesas em frente à linha de infantaria, protegendo esta e os arqueiros. Este tipo de táctica defensiva, muito típica das legiões romanas, ressurgia na Europa nessa altura. Pelas seis da tarde, os castelhanos ainda não completamente instalados decidem, precipitadamente, ou temendo ter de combater de noite, começar o ataque.



É discutível se de facto houve a tão famosa táctica do ‘quadrado’ ou se simplesmente esta é uma visão imaginativa de Fernão Lopes de umas alas reforçadas. No entanto tradicionalmente foi assim que a Batalha acabou por seguir para a história.


As tropas portuguesas partem da posição em que passaram o início da noite em Porto de Mós, em direção às posições previamente determinadas, onde já se encontravam por volta das 08:00 da manhã de 14 de Agosto. Por essa altura já era possível identificar a enorme coluna das forças castelhanas e francesas que se aproximava vinda de Leiria, tendo chegado próximo das hostes portuguesas por volta das 10:00 da manhã.


A coluna castelhana, contando com tropas e material de apoio, teria no entanto um comprimento total de quase 20km. Só as carretas de bois que transportavam mantimentos teriam que formar uma coluna de pelo menos 5km. Embora a cavalaria se pudesse movimentar mais depressa, o grosso das forças deslocava-se a pé, pelo que a sua velocidade média deveria rondar os 4km/h. Sabe-se que durante a primeira conferência realizada pelos castelhanos já da parte da tarde, parte da coluna ainda não tinha sequer chegado.


Duas horas depois de os portugueses chegarem, por volta das 10:00 da manhã, a vanguarda das forças castelhanas está em frente às forças portuguesas. Os conselheiros castelhanos, analisam a situação e consideram que a posição detida pelos portugueses, elevada e ladeada por dois cursos de água, é demasiado forte, pelo que decidem contorna-la pelo sul. No entanto, a longa coluna demora horas até tomar a nova posição. Só por volta das 17:00 (sete horas depois) é que as forças do Rei Dom João I de Castela se encontram em posição de atacar os portugueses, que nessa altura se limitaram a inverter a sua posição. A posição portuguesa não é tão forte, porque o declive é menor, mas ainda assim tem a vantagem de estar numa posição elevada. O exército castelhano andou mais sete horas ao sol de Agosto, para ficar como estava às 10:00 da manhã.


A frente que os portugueses apresentavam aos castelhanos deveria ter menos de 500m (300m segundo algumas fontes) e da parte da tarde, para compensar o menor desnível que tornava a posição portuguesa menos boa, foram cavados fossos, por onde as forças inimigas seriam forçadas a passar. Não se sabe no entanto se esses fossos foram cavados no dia da batalha, ou se já estariam previamente cavados.


As descrições de que temos conhecimento, apontariam para que a tropas portuguesas tivessem inicialmente tomado posições onde hoje se encontra a localidade de Casal da Amieira. Aí, ainda hoje se podem identificar dois declives a leste e oeste, dos quais resulta que quem tomar posição na elevação entre dois vales, fica 50 metros mais alto que quem estiver no fundo do declive e tiver que subir para o tomar.


Ainda hoje, teria feito sentido a uma força invasora, continuar a marchar para sul, ladeando o Casal da Amieira pelo ocidente, e colocando-se a sul, o que corresponderia à localidade de São Jorge.



As forças portuguesas, terão assim reformulado o seu posicionamento, voltadas para sul, mas sem a protecção dos dois vales e do declive de 50 metros que tinham quando estavam viradas para norte, viram-se na necessidade de aumentar as defesas voltadas a sul, para reduzir a vantagem do inimigo quanto a números. É por isso que se utiliza o recurso às tocas de lobo e a métodos adequados para deter um ataque inicial de cavalaria.


Quanto ao início dos combates e ao que decorreu entre as 17:00 e as 20:00 as principais fontes sobre a batalha apresentam fatos distintos. Desde o cronista português Fernão Lopes (1390?-1460?), o cronista basco Pedro Lopes de Ayala (1332-1407), que terá estado presente do lado castelhano e o cronista francês Jean Froissard (1333?-1400), todos apresentam dados distintos sobre o que se passou. Froissard também foi contemporâneo dos acontecimentos e entrevistou participantes na batalha.


O ataque começou com uma carga da cavalaria francesa: a toda a brida e em força, de forma a romper a linha de infantaria adversária. Contudo as linhas defensivas portuguesas repeliram o ataque. A pequena largura do ‘Campo de Batalha’, que dificultava a manobra da cavalaria, as paliçadas (feitas com troncos erguidos na vertical separados entre si apenas pela distância necessária à passagem de um homem, o que não permitia a passagem de cavalos) e a chuva de virotes lançada pelos besteiros (auxiliados por 2 centenas de arqueiros ingleses comandados por Sir Leon Baade) fizeram com que, muito antes de entrar em contacto com a infantaria portuguesa, já a cavalaria se encontrava desorganizada e confusa. As baixas da cavalaria foi pesada e o efeito do ataque nulo.


O ataque da cavalaria pesada francesa. Froissard relata que perante a pressão e a alegada “cabeça quente” de alguns dos nobres franceses que se encontravam junto do comando castelhano, é organizado um primeiro ataque por parte da cavalaria pesada francesa. Segundo aquela fonte, querendo cobrir-se de glória, os franceses terão atacado sozinhos, acreditando que facilmente derrotariam as forças portuguesas.


O ataque deverá ter ocorrido entre as 17:00 e as 18:00 no entanto, as coisas correram muito mal. O ataque não foi devidamente organizado e foi conduzido mais pela “cabeça quente” e desejo de glória que pela lógica e premeditação. O ataque da cavalaria pesada francesa foi detido de forma violenta pelos portugueses e a derrota francesa explica-se pelas armadilhas contra cavalos (tocas de lobo) e pelo posicionamento táctico das forças portuguesas, que colocadas num ponto elevado, com uma frente muito reduzida tinham uma vantagem que aproveitaram, lutando a pé.


A posição defensiva numa frente muito estreita permitiu aos portugueses permitir que os franceses rompessem a linha defensiva voltando posteriormente a refaze-la, cercando e derrotando os franceses.



Ainda não perfilada no terreno, a retaguarda castelhana demorou a prestar auxílio e, em consequência, os cavaleiros que não morreram foram feitos prisioneiros pelos portugueses. Depois deste revés, a restante e mais substancial parte do ‘Exército Castelhano’ atacou. A sua linha era bastante extensa pelo elevado número de soldados.



Ao avançar em direção aos portugueses, os castelhanos foram forçados a apertar-se (o que desorganizou as suas fileiras) de modo a caber no espaço situado entre os ribeiros. Enquanto os castelhanos se desorganizavam, os portugueses redis puseram as suas forças, dividindo a vanguarda de Dom Nuno Álvares em dois sectores, de modo a enfrentar a nova ameaça. Vendo que o pior ainda estava para chegar, Dom João I de Portugal ordenou a retirada dos besteiros e archeiros ingleses e o avanço da retaguarda através do espaço aberto na linha da frente.


          Também não existe aqui unanimidade de opiniões sobre a actuação dos 300 arqueiros e 700 besteiros que participaram da batalha. Se a besta poderia perfurar a armadura de um cavaleiro, a mesma coisa não acontecia com o arco longo dos arqueiros ingleses, que podiam disparar de seis a dez vezes mais depressa que os besteiros portugueses, mas que não podiam perfurar uma armadura do terceiro quartel do século XIV.



Ainda assim, as setas tanto de arqueiros quanto de besteiros podiam matar ou ferir as montadas, pelo que a confusão que provocaram, juntamente com a redução da largura da frente gerou uma confusão impossível de ultrapassar.


A segunda e principal vaga do ataque, onde marcha o próprio Rei de Castela, ocorrem mais tarde, provavelmente entre as 18:00 e as 19:00. As forças castelhanas avançam, mas estão cansadas e exaustas. A movimentação forçada de todo o exército, à volta da posição detida pelos portugueses impossibilitou qualquer distribuição organizada de comida e de água. Por seu lado, os portugueses estão moralizados pela vitória sobre a primeira vaga e continuam a ocupar a mesma área delimitada por dois cursos de água, o que lhes permite concentrar as suas tropas numa frente reduzida. Os castelhanos, em grandes quantidades concentram-se para tentar atacar os portugueses. O resultado é uma catástrofe.


As forças portuguesas debatem-se tenazmente. Os castelhanos avançam, mas o pó, o ruido e a confusão aumentam à medida que o exército avança. Aqui, tudo indica que ocorreu o mesmo fenómeno que teve lugar 30 anos depois na Batalha de Agincourt em 1415. Os castelhanos não conseguem desarticular as linhas defensivas portuguesas, e a pressão exercida sobre as forças que combatiam na primeira linha por parte dos peões que se empurravam uns aos outros para avançar, tornou o exército castelhano, numa mole enorme de soldados que é impossível de controlar.


Os soldados caem uns sobre os outros, mas não se conseguem levantar, os que conseguem pisam os que não se levantam. A análise de ossadas de Aljubarrota, permite encontrar o mesmo tipo de feridas que será encontrado em Agincourt, onde um fenómeno do mesmo tipo também ocorreu. Desorganizados, sem espaço de manobra e finalmente esmagados entre os flancos portugueses e a retaguarda avançada, os castelhanos pouco puderam fazer senão morrer. Ao pôr-do-sol, a Batalha estava já perdida para Castela. Precipitadamente, Dom João de Castela ordenou a ‘Retirada Geral’ sem organizar a cobertura. Os castelhanos debandaram então desordenadamente do ‘Campo de Batalha’. A Cavalaria Portuguesa lançou-se em perseguição dos fugitivos, dizimando-os sem piedade.


Alguns fugitivos procuraram esconder-se nas redondezas, apenas para acabarem mortos às mãos do povo.Surge aqui uma tradição portuguesa em torno da batalha: uma mulher, de seu nome Brites de Almeida, recordada como a Padeira de Aljubarrota, iludiu, emboscou e matou com a sua pá sete castelhanos que encontrara escondidos no seu forno. A história por certo é uma lenda da época mas a simbologia que representa as forças populares estarem ao lado de Dom João I. É no entanto verdade que, os portugueses criaram um mito que se transformou numa lenda com o nome de Padeira de Aljubarrota. Alguém do povo, que mata os invasores de forma pouco digna. A debandada desorganizou totalmente as hostes castelhanas. Os castelhanos, estão em fuga desorganizada. Todo o sistema logístico, carretas, bois, cavalos carruagens de transporte foi deixado no campo de batalha.


A situação torna-se completamente impossível de controlar. Os soldados castelhanos lutam por sair dali e não contra os portugueses. Ao fim de meia hora a situação está de tal forma fora de controlo que o próprio Rei de Castela é obrigado a fugir apressadamente em direção aos arredores de Lisboa, onde embarcará com destino a Cadiz. Com a fuga do rei castelhano, é a debandada total. Há ainda tentativas esporádicas por parte de alguns nobres castelhanos de reagir, tentando organizar um ataque pelo flanco direito, mas o Deus da Guerra já tinha decidido quem era o vencedor. De qualquer forma, pouco depois Dom Nuno Álvares Pereira ordenou a suspensão da perseguição e deu trégua às tropas fugitivas. Na manhã de 15 de agosto, a catástrofe sofrida pelos castelhanos ficou bem à vista: os cadáveres eram tantos que chegaram para barrar o curso dos ribeiros que flanqueavam a colina. Para além de soldados de infantaria, morreram também muitos nobres fidalgos castelhanos, o que causou luto em Castela até 1387. A cavalaria francesa sofreu em Aljubarrota outra pesada derrota contra as tácticas de infantaria, depois de Crécy e Poitiers. A batalha de Azincourt, já no século XV, mostra que Aljubarrota não foi a última vez em que isso aconteceu.


Com esta vitória, Dom João I tornou-se no Rei incontestado de Portugal, o primeiro da ‘Dinastia de Avis’. Para celebrar a vitória e agradecer o auxílio divino que acreditava ter recebido, Dom João I mandou erigir o ‘Mosteiro de Santa Maria da Vitória’ e fundar a vila da Batalha. Assim como, passados sete anos da batalha, o nosso Condestável Dom Nuno Álvares Pereira mandou construir a Ermida de São Jorge, em Calvaria de Cima, onde precisamente está o campo de militar de São Jorge e ele havia depositado o seu estandarte nesse dia. Hoje nesse mesmo último local, há também um moderno centro de interpretação que explica o desenrolar dos acontecimentos, seus antecedentes e suas consequências.


Froissard acusará os portugueses de terem liquidado os prisioneiros franceses quando se aperceberam de que não tinham homens suficientes para manter guarda aos prisioneiros. Não existe nenhuma prova factual desta alegação, mas também não existe prova factual sobre quase nada na Batalha. Froissard acusou os ingleses de fazer a mesma coisa na batalha de Crecy. Durante os dias que se haviam de seguir, milhares de castelhanos, isolados, perdidos, longe de casa, foram atacados e mortos pelas populações rurais portuguesas. Dias mais tarde, o Rei de Castela entra em Sevilha, vestido de negro, em sinal de luto. Mandam-se rezar missas, a pedir perdão a Deus, pois considera-se que Castela foi derrotada por causa do pecado da Soberba. A batalha em si, foi também um marco na história dos combates medievais, e marcou o princípio do fim da cavalaria pesada, como principal arma no campo de batalha. A derrota de Aljubarrota, terá também outras consequências. Ao ter dizimado a fina flor da nobreza castelhana, a batalha atrasou os planos de Castela para se tornar na potência dominante da península ibérica e impossibilitou o país de assumir sozinho a tarefa de expulsão dos muçulmanos do Reino de Granada.


Durante um século e até à Batalha de Toro (onde é a nobreza Castelhana que por sua vez tem que lutar para manter a independência e evitar a incorporação de Castela no Reino de Portugal), haverá um equilíbrio instável, que acabará quando convencidos da impossibilidade de qualquer união entre Portugal e Castela, os dois Reinos assinam o ‘Tratado de Tordesilhas’ e estabelecem à, escala planetária aquela que até ali era a divisão entre os dois Reinos Ibéricos.



Batalha de Valverde
(14 de Outubro de 1385)

Pouco tempo depois da vitória portuguesa de Aljubarrota, Nuno Álvares Pereira entrou, por Badajoz, no território castelhano. De Estremoz passara a Vila Viçosa e, daqui, a Olivença. Depois seguira em direcção a Mérida, para poder enfrentar as forças adversárias. Estas vieram pôr-lhe cerco em Valverde de Mérida, junto ao rio Guadiana.


A iniciativa de entrar em território castelhano partiu do condestável, sem conhecimento do rei. Havia conhecimento de que um exército inimigo estava junto da fronteiro e D. Nuno decidiu ir ao encontro dele. Estava-se em 14 de Outubro de 1385. Atravessado o Guadiana, as tropas portuguesas viram-se atacadas. O Condestável (segundo a crónica de Fernão Lopes) ajoelhou-se a orar durante a batalha, quando as suas tropas estavam sofrendo pesadas baixas. A ardente fé de Nuno Álvares Pereira contagiava os seus homens de armas. E a vitória surgiu. Do lado português, a vanguarda era comandada pelo Condestável, a retaguarda estava sob o comando de Álvaro Gonçalves Camelo, as alas estavam sob a chefia de Martim Afonso de Melo e de Gonçalo Anes de Castelo de Vide. Do lado castelhano, estavam os Mestres de Santiago e de Calatrava e o conde de Niebla. Um português, Martim Anes de Barbuda, estava do lado dos castelhanos e era o Mestre de Alcântara.


Durante a batalha o condestável retira-se para orar. O seu escudeiro vai ao encontro dele, chamando-o para a batalha. Depois de terminar a oração D. Nuno, percebendo que os castelhanos tinham usado todos os projécteis, decide atacar o Mestre de Santiago que acaba por morrer e o seu estandarte derrubado. Com isto os castelhanos põem-se em fuga. A estratégia militar do Condestável, a sua fé e ânimo que soube incutir à sua hoste, permitiram-lhe alcançar esta vitória que, ainda segundo o cronista Fernão Lopes, foi conseguida sobre um exército mais numeroso do que aquele que fora derrotado em Aljubarrota. Na mesnada portuguesa também se salientou o português Gil Fernandes, de Elvas.

Dom Martim Afonso de Melo
(XIII e XIV)

Martim Afonso de Melo foi um Cavaleiro medieval e Rico-homem do Reino de Portugal, o 4.º Senhor de Melo, tendo vivido entre os séculos XIII e XIV.


Foi filho de Afonso Mendes de Melo (1240 -?), 2.º Senhor de Melo e de Inês Vasques da Cunha (c. 1240 -?) filha de Vasco Lourenço da Cunha (1210 -?), 2.º senhor do morgado de Tábua e de D. Teresa Pires Portel (c. 1210 -?). Casou por duas vezes, a primeira com Inês Pires de Arganil (1280 -?), de quem não teve filhos. O segundo casamento foi com Marinha Vasques de Albergaria (1280 -?) filha de Estevão Soares de Albergaria (1260 -?) “o Velho” e de Maria Rodrigues Quaresma (c. 1260 -?), de quem teve:

1º).  Dom Martim Afonso de Melo
(Nasceu em 1320 e falecei em data incerta, 5.º senhor de Melo e casado por duas vezes, a primeira com Mécia Vasques de Resende e a segunda com Inês Lopes de Brito;

2º).  Dom Estevão Soares de Melo

3º). Dom Vasco Martins de Melo
(Nasceu por volta de 1320 e faleceu em data incerta, senhor de Castanheira, de Povos e de Cheleiros, casou por duas vezes, a primeira com Teresa Correia e a segunda com Maria Afonso de Brito;

4ª). Dona Leonor Martins de Melo
(Que nasceu em 1310 e faleceu em data invcerta casou com Gonçalo Martins da Fonseca).

Dom Gonçalo Anes de Abreu
(1340 - ?)

Dom Gonçalo Anes de Abreu (1340 - ?) foi um nobre do Reino de Portugal e Alcaide-mor de Alter do Chão. Foi igualmente Senhor de Castelo de Vide, de Nossa Senhora da Graça de Póvoa e Meadas. Foi detentor do Senhorio do Reguengo de Coimbra e das Terras de São Marcos.




Foi filho de João Gomes de Abreu  que nasceu em 1320 e faleceu em data incerta, Alcaide de Torres Vedras e de Nova Vicente filha de Estevão Vicente. De uma senhora cujo nome a história não registou teve:

1ª). Dona Maria da Silva
(Nasceu nos meados de 1360 e faleceu em data incerta, casada com João Falcão, que nasceu em Inglaterra, por volta de 1350 e faleceu em data incerta, em Benavente, Portugal).


Dom Nuno Álvares Pereira



Dom Nuno Álvares Pereira, também conhecido como o ‘Santo Condestável’, ‘Beato Nuno de Santa Maria’, hoje ‘São Nuno de Santa Maria’, ou simplesmente Nuno Álvares nasceu no Paço do Bonjardim ou Flor da Rosa, a 24 de Junho de 1360 e faleceu em Lisboa, a 1 de Novembro de 1431, foi um Nobre e Guerreiro Português do século XIV que desempenhou um papel fundamental na crise de 1383-1385, onde Portugal jogou a sua independência contra Castela. Nuno Álvares Pereira foi também 2.º Condestável de Portugal, 38.º Mordomo-Mor do Reino, 7.º Conde de Barcelos, 3.º Conde de Ourém e 2.º Conde de Arraiolos.



Considerado como o maior guerreiro português de sempre e um génio militar. Comandou forças em número inferior ao inimigo e venceu todas as batalhas que travaram os portugueses contra os castelhanos. É o patrono da infantaria portuguesa. Camões, em sentido literal ou alegórico, explícito ou implícito, faz referência ao Condestável nada menos que 14 vezes nos, ‘Os Lusíadas’, chamando-lhe o "forte Nuno" e logo no primeiro canto (12ª estrofe) é evocada a figura de São Nuno, ao dizer "por estes vos darei um Nuno fero, que fez ao Rei e ao Reino um tal serviço" e no canto oitavo, estrofe 32, 5.º verso: "Ditosa Pátria que tal filho teve"Segundo Fernão Lopes, Dom Nuno Álvares Pereira foi um dos filhos naturais de Dom Álvaro Gonçalves Pereira, Prior da Ordem do Hospital, e Iria Gonçalves. Dom Nuno Álvares Pereira cresceu na casa do seu pai até aos seus treze anos e foi lá que se iniciou "como bom cavalgante, torneador, justador e lançador" e sobretudo onde ganhou gosto pela leitura, lia nos "livros de cavallaria que a pureza era a virtude que tornara invenciveis os heroes da ‘Tavola Redonda’, e procurava que a sua alma e corpo se conservassem immaculados". Foi com essa idade que entrou para a côrte de Dom Fernando de Portugal, onde foi feito Cavaleiro pela Rainha ao mesmo tempo que seu irmão Diogo era armado Cavaleiro pelo Rei com uma armadura emprestada por Dom João, o Mestre de Avis (a partir daí tornaram-se amigos), depois de uma missão de reconhecimento ao exército de Castela que passava por Santarém a caminho de Lisboa. Nessa missão, o jovem fez um relatório indicando que apesar de ser um exército grande, era mal comandado e que com uma pequena força bem comandada seria possível vencer.

Decidido a manter-se virgem, foi profundamente contrariado (e praticamente obrigado pelo pai) que aos 16 anos casou com Dona Leonor de Alvim em 1376, viúva de um primeiro casamento, sem filhos e rica em Vila Nova da Rainha, freguesia do concelho de Azambuja. O nobre casal estabeleceu-se no Minho (supõe-se que em Pedraça Cabeceiras de Basto), em propriedade de Dona Leonor de Alvim. O pai com este casamento garantia o futuro do filho, pois não tinha direito a suceder-lhe no cargo de prior que viria a ser ocupado pelo irmão Dom Pedro que tomaria o partido de Castela. Quando o Rei Dom Fernando de Portugal morreu em 1383, sem herdeiros a não ser a princesa Dona Beatriz, casada com o Rei João I de Castela, Dom Nuno foi um dos primeiros nobres a apoiar as pretensões de João, o Mestre de Avis à coroa. Apesar de ser filho ilegítimo de Dom Pedro I de Portugal, Dom João afigurava-se como uma hipótese preferível à perda de independência para os castelhanos.



A primeira grande vitória de Dom Nuno Álvares Pereira frente aos castelhanos deu-se na ‘Batalha dos Atoleiros’ em que pela primeira vez, na Península Ibérica, um exército a pé derrota um exército com cavalaria pesada, em Abril de 1384. Com a eleição em Abril de 1385 de Dom João de Avis para Rei é nomeado ‘Condestável de Portugal’ e ‘Conde de Ourém’. Conta-se que em fins de 1383 depois de se encontrar com Dom João em Lisboa para sugerir matar o Conde Andeiro, deslocou-se para Santarém e dirigiu-se ao alfageme para afiar a espada. Quando se preparava para pagar, o alfageme disse-lhe que pagaria por aquilo quando Dom Nuno fosse Conde de Ourém que na altura era o Andeiro, o jovem aceitou. Após a Batalha de Aljubarrota, o Rei em Santarém fazia distribuição de terras. Um pagem pretendeu os bens daquele alfageme, dizendo que era castelhano, a mulher do alfageme lembrou a Dom Nuno do pagamento devido e este intercedeu junto do rei para que os bens não lhe fossem retirados.




A 6 de Abril de 1385, Dom João é reconhecido pelas cortes reunidas em Coimbra como Rei de Portugal. Esta posição de força portuguesa desencadeia uma resposta à altura em Castela. Dom João de Castela invade Portugal pela Beira Alta com vista a proteger os interesses de sua mulher Dona Beatriz. Dom Nuno Álvares Pereira toma o controlo da situação no terreno e inicia uma série de cercos a cidades leais a Castela, localizadas principalmente no Norte do país. A 14 de Agosto, Dom Nuno Álvares Pereira mostra o seu génio militar ao vencer a Batalha de Aljubarrota. A Batalha viria a ser decisiva no fim da instabilidade política de 1383-1385 e na consolidação da independência portuguesa. Finda a ameaça castelhana, Dom Nuno Álvares Pereira permaneceu como Condestável do Reino e tornou-se Conde de Arraiolos e Barcelos. Entre 1385 e 1390, ano da morte de Dom João de Castela, dedicou-se a realizar incursões contra a fronteira de Castela, com o objectivo de manter a pressão e dissuadir o país vizinho de novos ataques. Por essa altura, em Outubro de 1385 foi travada em terreno castelhano a célebre ‘Batalha de Valverde’. Conta-se que na fase mais crítica da batalha e quando já parecia que o exército português iria sofrer uma derrota completa, se deu pela falta de Dom Nuno. Quando já se temia o pior, o seu escudeiro foi encontrá-lo em êxtase, ajoelhado a rezar entre dois penedos. Quando o escudeiro aflito lhe chamou a atenção para a Batalha que se perdia, o Condestável Real fez um sinal com a mão a pedir silêncio. Novamente chamado à atenção pelo escudeiro, que lhe disse: "Nada de orações, que morremos todos. Responde então Dom Nuno, suavemente. Amigo, ainda não é hora. Aguardai um pouco e acabarei de orar." Quando acabou de rezar, ergue-se com o rosto iluminado e dando as suas ordens, consegue que se ganhe a batalha de uma forma considerada milagrosa. Depois desta batalha, os castelhanos recusaram-se a dar-lhe batalha em campo aberto. O nome de Nuno Álvares inspirava terror nos castelhanos que passaram sempre que podiam a atacar a fronteira com pilhagens e razias e aplicavam a política de terra queimada quando Dom Nuno entrava em Castela. Pelos seus serviços, o Rei deu-lhe títulos, e terras. Ficou senhor. de quase metade, de Portugal. Para compensar os seus companheiros de armas, quis Dom Nuno, em 1393, durante as tréguas, distribuir os bens por eles. Isto levou a uma intriga na corte que acusava o Condestável de querer tornar esses companheiros em vassalos. No ano seguinte estava aberto um conflito com o Rei. O Condestável defende-se que não podia devolver o que já não tinha. A coroa comprou propriedades a alguns desses homens. Este conflito levou Dom Nuno a considerar abandonar o país, reuniu-se com os seus homens e disse-lhes que quem quisesse fosse com ele, nessa altura corre a notícia de que Castela tinha quebrado as tréguas, logo Dom Nuno corre com o seu exército para junto do Rei, sendo o primeiro vassalo a fazê-lo. O Rei faz então um acordo: as doações feitas, eram mantidas, mas o Rei seria o único a ter vassalos, não podendo mais ninguém tê-los, aqueles que receberam bens do Condestável passavam a ser vassalos directos do Rei. Em 1401 dá-se o casamento entre o futuro Duque de Bragança Dom Afonso com a filha de Dom Nuno, e de Dona Beatriz. Participou na conquista de Ceuta em 1415 e foi convidado pelo rei a comandar a guarnição que lá ia ficar. O Condestável recusou, pois desejava abandonar a vida militar e abraçar a religiosa. Antes de entrar no convento, distribuiu os bens pelos netos. A sua neta Dona Isabel, casou-se com o infante Dom João, futuro Condestável. Ao convento do Carmo deu aos frades carmelitas, os bens que lhe restavam. Ao tornar-se frei Nuno, abdicou do título de conde e de Condestável e pretendeu ir pelas ruas pedir esmola, o que assustou o Rei e este pediu ao Infante Dom Duarte que tinha muita admiração por Dom Nuno, convencê-lo a não fazer tal coisa. O Infante convenceu frei Nuno a apenas aceitar esmola do Rei, o que foi aceite.

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