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domingo, setembro 27, 2015

Lisboa Capital do Império Português

Lisboa é a cidade capital de Portugal, cuja história circula à volta da sua posição estratégica na foz do maior rio da Península Ibérica, o Tejo.



Do seu porto natural ser o melhor para o reabastecimento dos barcos que fazem o comércio entre o Mar do Norte e o Mediterrâneo, além da sua proximidade no extremo Sul e Ocidente da Europa, com os novos continentes da África Subsaariana e da América. Mais uma vez Lisboa, conhecida pelos árabes como al-Ushbuna, torna-se um grande centro administrativo e comercial para as terras junto ao Tejo, recolhendo os seus produtos e trocando-os por produtos do Mediterrâneo Árabe, particularmente Marrocos, Tunísia, Egipto, Síria e Iraque. Segundo as estimativas actuais a cidade teria no seu apogeu, no século X, mais de 100.000 habitantes, e com Constantinopla, Salónica, Córdova e Sevilha, seria uma das maiores cidades da Europa, muitas vezes maior que Paris e Londres, que em plena Idade Média teriam apenas 5.000 a 10.000 habitantes.


De facto a primeira vocação da Lisboa Medieval Cristã é a mais uma vez a mediação do comércio entre o Mar do Norte e o Mediterrâneo, mas graças aos avanços na navegação oceânica os volumes são cada vez maiores. Casas de mercadores Portugueses abrem em Sevilha, Southampton, Bruges e nas cidades da Hansa, e os Judeus Portugueses continuam a comerciar com os seus primos no Norte de África. Trocam-se as especiarias, sedas e mezinhas mediterrâneas; ouro, marfim, arroz, alúmen, amêndoas e açúcar comprados aos Árabes e Mouros; juntamente com o azeite, sal, vinho, cortiça, mel e cera Portuguesas com os têxteis de lã ou linho finos, estanho, ferro, corantes, âmbar, armas, peles e produtos artesanais do Norte. São fundados estaleiros para a construção de mais barcos comerciais e militares, cuja Armada é essencial na protecção do comércio contra os piratas sarracenos.


Para responder à crescente demanda pelas populações cada vez maiores da Europa no Século XII e Século XIII, são estimuladas as inovações na construção dos barcos, que da barca forte mas tosca passam, numa síntese de saber cristão, viking e árabe, para a caravela (primeira referência em 1226), o primeiro verdadeiro navio atlântico. Às profissões ligadas à navegação, como carpinteiros e marinheiros, são dados privilégios e protecção, incluindo a criação em Lisboa de um Juiz próprio, o Alcaide do Mar (1242). Um efeito, indirecto de todo este dinamismo de Lisboa é a ruína dos comerciantes germânicos, que faziam o mesmo comércio por ter (uma rota mais dispendiosa mas a única possível quando os navios muçulmanos e os seus piratas controlavam o sul de Espanha e o estreito de Gibraltar) entre os Países Baixos e a Hansa e a Itália e os seus portos.


O Sacro Império Romano-Germânico perde influência sobre os seus Reinos, Ducados e Cidades-estado constituintes, e os mercadores alemães, até aí senhores do comércio Europeu, são forçados a procurar novos mercados a oriente. No seguimento desta prosperidade, e com o aumento de segurança em Lisboa com a conquista definitiva dos Algarves no século XIII, em 1256 Afonso III de Portugal constata o óbvio e escolhe a maior e mais vigorosa cidade do seu Reino para Capital, movendo para aí a Corte, os Arquivos e a Tesouraria (que estavam em Coimbra).


Dom Dinis, o primeiro Rei a presidir todo o seu Reinado em Lisboa, cria aí a Universidade em 1290, que transfere para Coimbra em 1308 apenas devido aos conflitos crescentes dos estudantes com os lisboetas. É nesta altura que a zona onde hoje está o Terreiro do Paço é reclamada ao mar, através de drenagens do terreno já lamacento (era rio livre até ao tempo da conquista, mas sedimentou devido aos depósitos do rio). Novas ruas são desenhadas, como a Rua Nova, e o Rossio torna-se pela primeira vez centro da cidade, roubando essa distinção à colina do Castelo. Outras construções de Dom Dinis foram uma muralha frente novo Cais da Ribeira contra os piratas, e renovações do Palácio Árabe (a Alcáçova, destruída no Terramoto de 1755) e da Sé.



Além das colónias de Portugueses nas cidades do Norte da Europa, colónias de mercadores do resto da Europa estabelecem-se em Lisboa, uma das mais importantes cidades do comércio internacional. Sem contar com os Judeus (que já existiam como Portugueses), os Genoveses são os mais numerosos, acompanhados de Venezianos e outros Italianos, além de Holandeses e Ingleses. Estes mercadores trazem para Portugal novas técnicas cartográficas e de navegação, além de técnicas bancárias, financeiras e outras conhecidas como o sistema do Mercantilismo, além de conhecimentos das origens Asiáticas dos produtos de luxo como as sedas e especiarias, que trazem do Oriente Bizantino e Islâmico. Politicamente as tensões com Castela são contrabalançadas com uma Aliança assinada em 1308, que perdurou ininterruptamente até hoje, com o principal parceiro comercial de Lisboa (e também do Porto), a Inglaterra.


A aliança forma um dos dois lados da Guerra dos cem anos, no outro lado estão além de Castela a França. No tempo de Fernando de Portugal inicia-se uma guerra com Castela, e os barcos lisboetas com canhões são recrutados assim como os Genoveses num ataque mal sucedido a Sevilha. Em resposta os castelhanos põem cerco a Lisboa, tomando-a em 1373, mas são pagos para se retirarem. É no seguimento deste desastre que são construídas as Grandes Muralhas Fernandinas de Lisboa.


Socialmente em baixo viviam todo o tipo de jornaleiros e mercadores de rua, além dos pescadores e dos agricultores das hortas de vegetais. São desta época as várias Ruas dos ofícios, nas quais se organizavam as corporações dos mesteirais, dirigidos pelos Mestres: Rua do Ouro (ourives); Rua da Prata (joalheiros de pratas); Rua dos Fanqueiros; Rua dos Sapateiros; Rua dos Retroseiros e Rua dos Correeiros. Estas corporações educavam os aprendizes e tinham sistemas de protecção social e controlo dos preços que beneficiavam os seus membros. A aristocracia, atraída pela corte, estabelecia-se construindo grandes palácios, e desempenhava funções burocráticas. Mas a mais importante classe social de Lisboa, mesmo após o ganho de funções políticas enquanto capital, era a dos mercadores, a burguesia que era a força deste núcleo comercial que era dos mais importantes da Europa. São os magnatas do comércio que controlam a cidade e o seu Concelho oligárquico.


É devido às necessidades destes que se organizam na cidade os profissionais banqueiros para coordenar os riscos. Homens de Leis, para proteger e manipular os seus direitos legais. Especialistas e cientistas, para construir os seus barcos e instrumentos de navegação. Com a sua influência, conseguem extrair da Monarquia medidas mercantilistas que os favorecem, e são o grande impulso à exploração de novos mercados.


A Companhia das Naus é fundada, uma verdadeira companhia de seguros, que exige pagamento de cotas obrigatórias de todos os armadores em troca da partilha de perdas após naufrágios, organizando os mais de quinhentos grandes navios dos magnatas da cidade. Com os crescentes lucros, os mercadores mais ricos adquirem títulos de nobreza, enquanto os fidalgos mais pobres se dedicam ao comércio. Entre as minorias, contavam-se as dos Judeus e dos Muçulmanos (não só mouros mas também árabes e latinos islamizados de língua árabe). Havia uma grande Judiaria que ocupava as freguesias de Santa Maria Madalena, São Julião e São Nicolau, na Rua Nova e dos Mercadores (onde ficava a Grande Sinagoga). Os Judeus (talvez 10% da população, ou mesmo mais) são grandes comerciantes, com ligações aos seus correligionários por toda a Europa, Norte de África e Médio Oriente, e os que não praticam o comércio constituem grande parte dos letrados, como médicos, advogados, cartógrafos e especialistas nas ciências ou artes. A sua actividade é fundamental para a vitalidade da economia da cidade. Entres Judeus Sefarditas de Lisboa contam-se grandes nomes como os Abravanel.


No entanto são forçados a viver separadamente, proibidos de sair à noite, obrigados a usar distintivos nas vestes e pagam impostos extra, além de serem sempre as primeiras vítimas em situações de revolta popular. A Mouraria era o gueto correspondente para os muçulmanos, contendo a Grande Mesquita, situada na Rua do Capelão. Contudo não eram prósperos e educados como os Judeus, já que as elites muçulmanas tinham fugido para o Norte de África, enquanto os Judeus letrados falantes de Português não tinham outra Pátria. A maioria, eram trabalhadores, de baixo nível de qualificações com salários baixos, e muitos eram escravos de cristãos. Também eles tinham de usar símbolos nas vestes e pagar impostos extra, e sofriam as violências das multidões.


O termo saloio provém do imposto especial que pagavam os muçulmanos que cultivavam as hortas nos limites da cidade, o saloio; assim como o termo alfacinha vem do cultivo desses vegetais pelos árabes, então pouco consumidos no Norte. No entanto a prosperidade da cidade viria a ser interrompida. Em 1290 ocorre o primeiro grande terramoto histórico, morrendo milhares de pessoas e desmoronando-se muitos edifícios. Novos terramotos registam-se em 1318, 1321, 1334, 1337 e um grande em 1344 que destrói parte da Sé e da Alcáçova, em 1346, 1356 (destrói outra porção da Sé), 1366, 1395 e 1404 possivelmente todos resultantes de reajustamentos na mesma falha.


A fome surge em 1333 e em 1348 surge pela primeira vez a Peste Negra, que terá morto metade da população, com novos surtos de menor mortandade em cada década, à medida que nasciam mais pessoas susceptíveis. Estas catástrofes destruíram em Lisboa como na restante Europa a Civilização vibrante da Baixa Idade Média, com as suas catedrais e o seu espírito de Cristandade universal, mas prepararam o caminho para o surgimento da nova Civilização dos Descobrimentos e do novo espírito científico. O novo capítulo da história de Lisboa nasce com a grande revolução da Crise de 1383-1385. Após a morte de Fernando de Portugal, o Reino passaria para o Rei de Castela, João I de Castela. Os grandes aristocratas e clérigos do Norte, possuidores de grandes propriedades no Sul que adquiriram após a Reconquista, tinham interesses e cultura semelhantes às dos Castelhanos com ênfase nas distinções sociais baseadas na possessão da terra, no espírito de cruzada contra os Mouros no Norte de África, e nos benefícios da união de toda a Hispânia.


Contudo não são esses os interesses dos mercadores de Lisboa (muitos dos quais pequenos fidalgos). Para Lisboa, a união com Castela significaria uma diluição das ligações comerciais com a Inglaterra e o Norte, e também com o Médio Oriente, além de um desvio de atenções dos privilégios aos mercadores e da construção de barcos comerciais e de guerra, para os exércitos terrestres e os privilégios aos Nobres. É por isso que os mercadores e pequenos fidalgos mercantes apoiavam inicialmente o Mestre de Avis, Dom João. A guerra de 1383 é no fundo uma guerra entre a Aristocracia conservadora católica e medieval, muito semelhante e ligada às suas congéneres Galega e Castelhana, do antigo Condado Portucalense centrado no Minho (Excepto o Porto burguês, aliado de Lisboa, entre outras urbes e personalidades do Norte), e os mercadores ricos e pluralistas de Lisboa.


Os nobres do Norte tinham fundado e conquistado o país e para eles o domínio crescente de Lisboa ameaçava a sua supremacia enquanto a aliança com os nobres Castelhanos a restabelecia. Para Lisboa, uma cidade do comércio, as práticas feudais e as guerras terrestres dos Castelhanos eram um risco para os seus negócios. São os burgueses que ganham a luta, com as suas ligações inglesas e capitais avultados: o Mestre de Avis é aclamado João I de Portugal, vencendo o cerco de Lisboa de 1384, e a Batalha de Aljubarrota sob liderança de Dom Nuno Álvares Pereira em 1385 contra as forças de Castela e dos fidalgos do Norte. A nova aristocracia portuguesa é formada a partir dos mercadores Lisboetas, e é só a partir desta data que o centro de Portugal passa realmente do Norte para Lisboa, tornando Portugal numa espécie de cidade-estado, em que quase apenas os seus interesses determinam o rumo e a independência do país.


Os novos nobres burgueses constroem os seus palácios ou paços no bairro de Santos; outros edifícios são os da Universidade em Alfama, que regressa a Lisboa; a Igreja do Carmo; a Alfândega; e alguns dos primeiros edifícios de habitação em toda a Europa com vários andares, até cinco. A cidade é composta de ruas estreitas e tortuosas, a maioria de terra batida, em que as casas alternam com as hortas e os pomares. A cidade continua a crescer, e o largo abandono das técnicas de regadio muito produtivo dos muçulmanos significam que é necessário importar trigo de Castela, França, terras do rio Reno e até de Marrocos. Lisboa é uma cidade que cresce demasiado para o país, e este torna-se num território circundante semelhante aos de outras cidades comerciais.


Lisboa, juntamente com Antuérpia no Atlântico servem a mesma função de organização do comércio que Veneza, Génova, Barcelona ou Ragusa no Mediterrâneo, ou Hamburgo, Lubeck e outras no Báltico. Em 1417 proíbe-se que se deite lixo perto do Mosteiro do Carmo e de outras áreas de Lisboa. Em 1426 outra lei proíbe lançar lixo e deixar galinhas soltas nas ruas de Lisboa sob pena de pagar multa. A política externa segue os interesses de Lisboa, são assinados acordos comerciais e de cooperação com as cidades-estado comerciais de Veneza, acordo de 1392, Génova em 1398, Pisa e Florença, cujos mercadores já habitavam na cidade, e muitos dos quais são naturalizados e se tornam nobres Portugueses.


Ceuta é conquistada em 1415 para permitir aos mercadores Lisboetas e ao reino em geral. Desde a conquista do pai e rei de Dom Dinis do reino do Algarve um melhor controlo local (e luta contra os piratas sarracenos). Desde Dom Dinis que foi conquistuiada uma esquadra de navios de guerra com base em Faro, com o objecivo de não deixar os pirátas barbarescos a sair do comércio Mediterrânico que passava para o Norte através das Colunas de Hércules assim como a exportação do trigo marroquino a melhores preços. Além disso, nesse tempo Ceuta recebia as caravanas do ouro e do marfim, comércio que os Lisboetas queriam dominar, e temia-se a tomada da cidade pelos Castelhanos da rival Sevilha ou dos Aragoneses de Barcelona. A Aliança com a Inglaterra, um dos seus maiores clientes, é prosseguida. Os marinheiros que se fizeram ao mar partindo de Lisboa desempenharam um papel fundamental na época dos descobrimentos portugueses, os quais aumentaram as fronteiras do mundo conhecido e transformaram Lisboa num porto, chave para o comércio global. Os navegadores Portugueses desafiaram a crença profundamente enraizada na Europa de então de que a terra era plana e conseguiram contrariá-la realizando as viagens que uniram os continentes pela primeira vez. Várias expedições se empreenderam com tripulações portuguesas, nas quais foram descobertos os arquipélagos dos Açores, Madeira e Canárias. Alguns afirmam que terão mesmo chegado ao Brasil. Estas ilhas permitem o estabelecimento de novas cidades-portos, úteis para a exploração de novos mercados.


A prosperidade de Lisboa fica ameaçada quando o Império Otomano invade e conquista os territórios Árabes do Norte de África, Egipto e Médio Oriente no século XV. Os Turcos são inicialmente hostis aos interesses de Lisboa e das suas aliadas Veneza e Génova, e o comércio das especiarias, ouro, marfim e outros bens sofre fortemente. Os mercadores de Lisboa, muitos descendentes de Muçulmanos ou Judeus com ligações ao Norte de África, reagem procurando negociar directamente com as fontes dessas mercadorias, sem usar os mediadores Muçulmanos. As ligações dos judeus portugueses aos judeus magrebinos, e a conquista de Ceuta, permitem aos mercadores de Lisboa espiar os mercadores árabes, descobrindo que o ouro, os escravos e o marfim vêm para Marrocos em caravanas pelo deserto do Saara, a partir das terras do Sudão (que nesse tempo incluía todas as pradarias a sul do Deserto, o actual Sahel); e que as especiarias como a pimenta são levadas para os portos do Mar Vermelho no Egipto a partir da Índia. A nova estratégia dos mercadores Portugueses, Cristãos e Judeus, e Luso-Italianos é navegar directamente à fonte dos materiais.


O grande impulsionador deste objectivo é o Infante Dom Henrique, que se baseia na cidade de Tomar. Sede da Ordem de Cristo (antigos Templários), e de uma grande comunidade de mercadores Judeus, a cidade está também muito ligada a Lisboa pelo comércio dos cereais e frutos secos (uma das principais exportações de Lisboa). Os capitais e conhecimentos do Oriente por parte dos Templários e Judeus foram sem dúvida fundamentais para se conseguirem os propósitos dos mercadores Lisboetas.


O Infante Dom Henrique é o impulsionador de um projecto que não foi ele que imaginou, mas sim os mercadores de Lisboa. Estes que sustentavam através dos impostos e taxas alfandegárias a monarquia, tornando-a praticamente independente dos recursos dos nobres territoriais, convertem-na aos seus propósitos mercantilistas.


O Infante Dom Henrique é o organizador de um certo dirigismo de Estado: os grandes riscos e capitais necessários à abertura das novas rotas precisam da cooperação de todos os mercadores através do Estado (como hoje muitos projectos de grande capital são empreendidos internacionalmente). O Infante Dom Henrique organiza e dirige os esforços dos navios portugueses de atingir as fontes do ouro, marfim e escravos, que estes por si mesmos já empreendiam de forma ineficiente. Com os capitais da Ordem de Cristo, são fundadas escolas de marinheiros e concentrados recursos e conhecimentos, dos mercadores Lisboetas Judeus, Luso-Genoveses ou Luso-Venezianos, para atingir o objectivo. Várias expedições são lançadas sob a forma de contractos com alguns dos mais influentes burgueses de Lisboa, até que o Golfo da Guiné é finalmente atingido por volta de 1460.


Nesta época há nova tentativa dos nobres feudais nortenhos que permaneceram, de retomar o controlo do Reino, assustados com a crescente prosperidade dos mercadores lisboetas contra as suas perdas de rendimento. O propósito é a facilidade da conquista de Ceuta, que abre perspectivas de mais conquistas relativamente fáceis no Norte de África. Esta empresa seria favorável aos nobres, que ganhariam saque e mais terras e arrendatários em Marrocos, mas é contrária aos interesses dos mercadores-fidalgos e judeus de Lisboa, que seriam os pagadores dos impostos extra necessários às expedições e que procuram antes investir as forças e recursos do Reino na descoberta dos novos mercados africanos e asiáticos e não em aumentar ainda mais o poder da hostil e pró-castelhana nobreza Portucalense.


Todas as lutas que Dom João II manteve contra esses nobres, com a ajuda dos mercadores Lisboetas, exprimem esta realidade subjacente de luta entre Lisboa e o Norte, o antigo Portucale, berço da nação, pela definição do rumo do país. Após várias conspirações e incidentes, nas quais mais uma vez os nobres nortenhos pedem auxílio aos seus congéneres Castelhanos, vence mais uma vez Lisboa e os seus mercadores, e os cabecilhas são executados, entre os quais os Duques de Bragança e Viseu, mortos em 1483 e 1484.


Todos os projectos de expansão terrestre em África são abandonados em troca do comércio nas novas terras descobertas mais a Sul. Depois da morte do Infante Dom Henrique, quando o caminho já estava aberto, inicia-se a iniciativa privada. O mercador lisboeta Fernão Gomes é o primeiro, sendo-lhe reconhecido monopólio sobre o comércio africano em 1469, em troca de descoberta de 500 quilómetros de costa para Sul a cada ano e  uma renda de 200.000 reais, por sua iniciaiva começa a navegar mais para Sul. As ilhas da Madeira e dos Açores são habitadas, e programas de cultivo de produtos comerciais para Lisboa são implantados prioritariamente: a cana-de-açúcar e o vinho. Na recém-descoberta Guiné, produtos baratos como potes de metal e tecidos são trocados por ouro, marfim e escravos a partir de feitorias controladas pelos lisboetas: os nativos deslocam a sua actividade económica para trocar com os Europeus, mas não são conquistados, já que seria dispendioso.


Fazem-se casamentos dos habitantes das feitorias com as filhas dos chefes locais, facilitando as trocas: o objectivo é o lucro e não a colonização. O resultado é um novo impulso para o comércio de Lisboa. Na capital aparecem o açúcar de cana e o vinho da Madeira, o trigo de Ceuta, o almíscar, o índigo e outros corantes de roupa, algodão do Norte de África e significativas quantidades do ouro da Guiné e da Costa do Ouro, em grande falta na Europa no fim do século XV. Além disso são traficados de forma brutal escravos Berberes das Canárias e depois Africanos. Os primeiros escravos são distribuídos pelo território Português, e aparecem os primeiros Africanos de pele escura mesmo nas terras do interior, comprados pelos senhores das propriedades. Um produto inovador foram as malaguetas. Estes frutos picantes seriam cultivados na Índia (para onde foram levadas pelos mercadores Lisboetas) mas são originárias da Guiné. Rapidamente este bem de monopólio lisboeta ganhou favor na culinária mediterrânica. Contudo os melhores mercados e produtos viriam de outra descoberta, a Índia e o Oriente. A guerra entre o Império Otomano e Veneza aumenta muito os preços da pimenta e outras especiarias e da seda trazidas pelos venezianos para a Itália, para Lisboa e daí para o resto da Europa a partir do Egipto (que recebia barcos árabes vindos da Índia no Mar Vermelho. Para contornar o "problema turco" é organizada a viagem de Vasco da Gama, mais uma vez por iniciativa dos mercadores Lisboetas mas com capital régio, que chega à Índia em 1498.


Daí os mercadores atingem a China onde fundam a colónia comercial de Macau, as ilhas da actual Indonésia, e o Japão antes do fim do século XVI. No caminho estabelecem contractos comerciais e portos de escala com os chefes e Reis em Angola e Moçambique. Um grande Império colonial é consolidado por Afonso de Albuquerque, cuja armada segura o Oceano Índico e portos em localizações convenientes, para os mercadores vindos de Lisboa contra a competição dos turcos e árabes. Não são tomados territórios mas apenas portos e fortes de trocas com os nativos. Do outro lado do mundo, Pedro Álvares Cabral chega ao Brasil em 1500.


A vida urbana no século XVI-Lisboa quinhentista.

Importância da cidade de Lisboa no sécculo XVI.
No século XVI Lisboa era uma das cidades mais importantes da Europa devido à chegada de mercadorias oriundas do Oriente, África e Brasil, que depois eram distribuídas pelo centro e norte da Europa.
Produtos que chegavam a Lisboa, Oriente-especiarias, sedas, porcelanas, pedras preciosas.
Produtos que chegavam a Lisboa, África-ouro, malagueta, marfim, escravos. Brasil: açúcar, pau-brasil, animais exóticos.

Crescimento da Cidade.
Nos Reinados de Dom João II e de Dom Manuel I Lisboa teve um desenvolvimento tão grande que as suas construções começaram a ocupar espaços fora das muralhas construídas por Dom Fernando (Cerca Nova ou Cerca Fernandina). O Rei Dom Manuel deixou o Paço de Alcáçova, junto ao Castelo, para ir viver mais junto ao Tejo, no Paço da Ribeira, para melhor vigiar o movimento marítimo.
Locais importantes da cidade-Paço da Ribeira, onde se encontravam os aposentos do Rei e a Casa da Índia (local abastecido de produtos vindos do Oriente).
Locais importantes da cidade Rossio-onde os camponeses vendiam os seus produtos.
Locais importantes da cidade-Crescimento da cidade, rua Nova dos Mercadores, onde havia mercadores de toda a parte do mundo.
Locais importantes da cidade-Crescimento Ribeira das Naus: onde se construíam navios.
Locais importantes da cidade-Crescimento do Hospital Todos-os-Santos: recebia doentes, pobres e órfãos.
Locais importantes da cidade a Misericórdia-recebia pobres e crianças abandonadas.
Locais importantes da cidade com o crescimento da cidade a criação da Feira da Ladra-onde se vendiam produtos usados.

Movimento de Pessoas.
Movimento de pessoas, emigração-muitas pessoas partiram para as ilhas atlânticas, Brasil e Oriente, à procura de melhores condições de vida.
Movimento de pessoas imigração-chegaram a Lisboa muitas pessoas vindas de todo o mundo: comerciantes, artesãos, artistas, escravos.
Movimento de pessoas migração interna-muitos camponeses abandonaram os campos e foram para a cidade à procura de melhores condições de vida.

Distribuição da Riqueza.
Distribuição da riqueza Nobreza: Recebia riquezas. Gastava dinheiro em luxos, vestuário e na habitação. As famílias mais ricas tinham todas, escravos.
Distribuição da riqueza Clero: Foi beneficiado com a construção de igrejas e mosteiros.
Distribuição da riqueza Grande parte do povo: Vivia em extrema pobreza. Muitos eram vagabundos, mendigos, miseráveis.
Distribuição da riqueza Corte: Das mais ricas e luxuosas da Europa.
Eram frequentes os banquetes e saraus com músicos, poetas e escritores. O Rei realizava ainda cortejos para exibir a sua riqueza, onde desfilavam músicos ricamente vestidos e animais raros.

Cultura.
Cultura Literatura: Luís de Camões: “Os Lusíadas”, Fernão Mendes: “A Peregrinação”, Pêro Vaz de Caminha: “Carta do Achamento do Brasil”, Damião de Góis e Rui de Pina: crónicas de reis, Bernardim Ribeiro, Sá de Miranda e Garcia de Resende.
Cultura Matemática: Pedro Nunes. Medicina: Garcia de Orta e Amato Lusitano.
Cultura Geografia e Astronomia: Duarte Pacheco Pereira.
Cultura Zoologia e Botânica: Garcia da Orta.
Cultura Arte: Arte Manuelina na arquitectura: decoração com elementos alusivos às viagens marítimas (cordas, redes, conchas, naus, caravelas, esferas armilares) como no Mosteiro dos Jerónimos e Convento de Cristo. Arte Manuelina na escultura, pintura, ourivesaria, cerâmica e mobiliário: revelam também influências dos Descobrimentos.



O resultado para Lisboa são os novos produtos que comercializa com a restante Europa em regime exclusivo durante muitos anos: além dos produtos africanos chegam a pimenta, canela, gengibre, noz-moscada, plantas medicinais, tecidos de algodão e os diamantes pela Carreira das Naus da Índia; as especiarias da Molucas, as porcelanas Ming e a seda da China, os escravos de Moçambique, o pau-brasil e o açúcar brasileiros. Além disso continua o comércio do peixe (bacalhau salgado pescado na Terra Nova), os frutos secos e o vinho. As outras cidades portuguesas, como o Porto e Lagos, contribuem para o comércio externo apenas de forma marginal, praticamente limitando-se a exportar e importar de Lisboa. Os Lisboetas controlam ainda muito do comércio de Antuérpia, da qual importam tecidos finos para o resto da Europa. Os mercadores alemães e italianos, vendo as suas rotas, terrestres no caso dos primeiros, Mediterrâneas para os segundos, largamente abandonadas, fundam grandes casas comerciais em Lisboa reexportando os produtos de todo o mundo para o Leste da Europa e para o Médio Oriente. Lisboa é o mercado para os gostos de luxo das elites de toda a Europa. Veneza e Génova arruínam-se e a Inglaterra e Holanda vêem-se obrigadas a imitar os Portugueses para travar as perdas de divisas. Os Lisboetas controlam durante várias décadas todo o comércio desde o Japão até Ceuta. A cidade ganha fama que chega a mito, e no século XVI é sem dúvida a mais rica cidade de todo o Mundo. Para ela migram comerciantes de toda a Europa, além dos grandes números escravos Africanos e até alguns Indianos, Chineses e mesmo Japoneses e Índios Brasileiros.


No tempo do Rei Dom Manuel I, nas ruas de Lisboa as festas são feitas com desfiles de leões, elefantes, rinocerontes, camelos e outros animais não vistos na Europa desde o tempo do Circo Romano. Um rinoceronte e um elefante chegam inclusivamente a ser oferecidos ao Papa Leão X. Na Europa o mito de Lisboa e das suas descobertas é tão grande que quando Thomas More inventa a sua ilha da Utopia, tenta dar-lhe credibilidade dizendo que foram os Portugueses a descobri-la.

Casas Portuguesas de comércio
Para organizar todo o comércio privado e recolher os impostos, são criadas na capital do século XVI as grandes Casas Portuguesas de comércio.
Casas Portuguesas de comércio-Casa da Mina
Casas Portuguesas de comércio-Casa de Arguim
Casas Portuguesas de comércio-Casa dos Escravos
Casas Portuguesas de comércio-Casa da Flandres (Países Baixos)
Casas Portuguesas de comércio-Casa da Índia.

Os grandes lucros são usados na construção de outros edifícios.
São deste século o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém no novo estilo Manuelino (que evoca o comércio de além-mar), o Forte de São Lourenço do Bugio numa ilha do Tejo, o Terreiro do Paço, o novo e imponente Palácio Real (destruído em 1755) e o Arsenal militar todos construídos junto ao Mar (da Palha)
Casas Portuguesas de comércio-Hospital Real de Todos-os-Santos
Inúmeros palácios e solares privados, o impulso à pavimentação das ruas com formas geométricas e desenhos formados por cubos de calcário branco e basalto preto (a calçada portuguesa) foi um luxo iniciado na época, que outras cidades da Europa não podiam pagar. A cidade expandia-se atingindo quase 200.000 habitantes, sendo construído o Bairro Alto, inicialmente conhecido por Vila Nova dos Andrades em honra dos ricos burgueses galegos que aí se estabeleceram, e que rapidamente se torna o bairro mais rico da cidade.
É inaugurada em 1552 a Feira da Ladra, que ainda funciona hoje no mesmo local.

Culturalmente
Culturalmente vive no século XVI em Lisboa a geração de ouro das Ciências e Letras portuguesas.
Culturalmente entre os cientistas o humanista Damião de Góis (amigo de Erasmo e Lutero), o matemático Pedro Nunes, o médico e botânico Garcia da Orta e Duarte Pacheco Pereira.
Culturalmente entre os escritores Luís de Camões, Bernardim Ribeiro, Gil Vicente e outros. Isaac Abravanel, um dos maiores filósofos hebreus, é nomeado Tesoureiro do Rei. Socialmente todas as classes beneficiam.


Os fidalgos urbanos da administração Real e os burgueses são os mais beneficiados, mas mesmo o povo vive com luxos inatingíveis para os ingleses, franceses ou alemães seus contemporâneos. Os trabalhos pesados necessários são feitos pelos escravos africanos e pelos galegos. Os primeiros são vendidos na Praça do Pelourinho, sendo separadas as famílias, e trabalham todo o dia sem salário, alguns sujeitos a tratamento brutal. Aos segundos certamente compensava a viagem face às condições miseráveis da Espanha rural, e a língua praticamente idêntica facilitava a integração.


Os Judeus incluem como sempre alguns pobres e outros que se contam entre os mais educados e ricos comerciantes, financeiros e letrados da cidade. O primeiro livro impresso em Lisboa foi o Comentários sobre o Pentateuco de Moisés ben Nahman, um livro em hebraico, publicado por Eliezer Toledano em 1489. Em 1496 os espanhóis expulsam os Judeus do seu território, animados pelo espírito fundamentalista de uma Monarquia exclusivamente cristã. Muitos vêm para Lisboa, tendo provavelmente a sua população duplicado (seriam depois da expulsão um quinto dos Lisboetas, ou mesmo mais).


Em troca de um casamento real, os Reis Católicos de Castela e Aragão pedem a Manuel I de Portugal que faça o mesmo, o que tem lugar em 1497. Reconhecendo no entanto a importância central dos Judeus na prosperidade da cidade, Dom Manuel decreta que todos os Judeus se convertam ao Cristianismo, sendo obrigado a expulsar apenas os que se recusam, não sem antes os expropriar de seus bens.


Durante muitos anos estes cristãos-novos praticam o Judaísmo em segredo ou abertamente e apesar de motins e violências contra eles (como muitas crianças que são arrancadas dos pais e dadas a famílias cristãs que as tratam como escravos) são tolerados até à implantação da Inquisição em Portugal, muitos anos depois. O resultado é a ascensão social dos cristãos-novos que temporariamente, sem a limitação de serem judeus, progridem até aos mais elevados cargos da corte. Novamente são as antigas elites descendentes da antiga aristocracia das Astúrias e da Galiza (os nobres de Portucale) que criam problemas à ascensão social dos Judeus, frequentemente melhor educados e mais hábeis que os primeiros. O maldizer dos Cristãos-Velhos culmina no massacre de Cristãos-Novos em 1506 incitado pelos Priores menores das Igrejas no qual umas 3.000 pessoas terão sido assassinadas.


Como resultado dos conflitos, o Rei é persuadido pelos nobres territoriais a introduzir a Inquisição (o qual só terá lugar em 1531 no reinado de seu filho e sucessor D. João III|) e as limitações legais a todos os descendentes de cristãos-novos (semelhantes às antigas contra os Judeus), que os impedem de ameaçar os cargos superiores do Estado à Aristocracia dos cristãos-velhos. O primeiro auto-de-fé (morte de heréticos na fogueira) é realizado no Terreiro do Paço em 1540. Além da Inquisição surgem outros problemas.


Em 1569 há a grande Peste de Lisboa, em que terá morrido um terço da população. A inquisição mata na fogueira muitos Cristãos-novos, mas expropria a propriedade e as riquezas de muitos outros. Muitos mercadores (cristão-velho) são expropriados também após uma denúncia anónima falsa, que os inquisidores aceitam como válida já que as riquezas dos condenados para eles revertem.


Por outro lado poucos mercadores não teriam ascendência cristã-nova, devido aos casamentos comuns entre filhos de burgueses que eram sócios em empresas importantes. A Inquisição torna-se assim um instrumento de controlo social na posse dos antigos cristãos-velhos contra quase todos os mercadores Lisboetas, restituindo-lhes finalmente a supremacia há muito perdida. É neste clima de intolerância e perseguição, em que os lucros obtidos pelos riscos e o génio dos mercadores bem-sucedidos são desfeitos pela inveja dos grandes proprietários de terras (que rendem muito menos), que a prosperidade de Lisboa é destruída.


O antigo clima liberal propício ao comércio desaparece e é substituído por um fanatismo católico e conservadorismo absolutos. Às elites do país exige-se o sangue puro antigo e cristão-velho, ou seja, do Norte. Muitos dos mercadores fogem para a Inglaterra ou Países Baixos onde se estabelecem difundindo os conhecimentos navais e cartográficos dos Portugueses. Lisboa é tomada pelas mentalidades feudais dos grandes nobres, e os mercadores Portugueses, sem condições de estabilidade, segurança, apoio e crédito devido às perseguições da Inquisição, são incapazes de competir com os mercadores Ingleses e Holandeses (muitos deles de origem Portuguesa) que lhes roubam os mercados da Índia, Índias Orientais e China.


Em sua substituição as elites de Portucale convencem o débil Rei, Dom Sebastião a virar-se para a conquista de um Império territorial, com mais terras e rendimentos para os Nobres, no Norte de África, que lhes permitiria manter a supremacia económica frente aos mercadores. Após o desastre militar de Alcácer-Quibir em 1578, os Aristocratas recolhem-se mais uma vez aos braços dos seus congéneres Castelhanos de mentalidade semelhante. Desta vez bem-sucedido, em 1580, o Castelhano Filipe II de Espanha é declarado Rei Dom Filipe I de Portugal, depois de derrotar o candidato dos enfraquecidos mercadores, o Prior do Crato, Dom António (o qual era cristão novo e mais liberal, filho de mãe Judia). Filipe I completa assim a ambição do seu pai o Habsburgo Rei Carlos I de Espanha também Imperador Carlos V do Sacro Império Romano-Germânico (Alemanha), e Senhor da maior parte da Itália e Holanda que afirmara famosamente "Se fosse Rei de Lisboa, seria em breve Rei do Mundo". Filipe I de Portugal, o primeiro dos Habsburgos portugueses, é assim o primeiro Rei da Hispânia. Apesar de desde 1492 os Reis Católicos Isabel I de Castela e Fernando II de Aragão terem dominado o que hoje é a Espanha, o título de Rei das Espanhas foi inicialmente usado para Filipe II quando conquistou Portugal e portanto, de facto, todas as Espanhas. Filipe I tenta inicialmente conciliar os interesses da nobreza na aquisição de mais territórios na Europa, do Clero em derrotar os Protestantes e da burguesia em eliminar a concorrência e pirataria dos Ingleses e Holandeses.


Todos os barcos capazes de acção militar de Lisboa, Sevilha e Barcelona são reunidos numa Invencível Armada que é enviada contra a Inglaterra. Devido a uma grande tempestade e à perícia dos Almirantes Ingleses, a armada é destruída. Esta derrota converte finalmente o Rei aos interesses da Nobreza territorial. Grandes exércitos (os Terços) de mercenários, pagos pelos mercadores e comandados pelos grandes Aristocratas de sangue puro Cristão-Velho, como o Duque de Alba, são formados e atravessam a Europa para tomar as cidades e terrenos férteis dos Países Baixos Calvinistas para o benefício dessa mesma Nobreza. Enquanto isso os holandeses e ingleses dominam os mares, e incapazes de conquistar os impérios territoriais espanhóis do México e Peru, concentram-se em tomar as feitorias, portos e colónias costeiras dos portugueses, que traficam com Lisboa.



São tomados os portos nordestinos do Brasil, Luanda em Angola, portos da África Oriental, o Cabo da Boa Esperança, Ceilão, Malaca e as Ilhas Molucas, a ilha de Formosa, a licença de comércio no Japão e outros portos. Lisboa, com os seus mercadores já sob perseguição da Inquisição (que expropriava os cripto-judeus e mesmo os cristãos genuínos), perdera grande parte da sua frota no desastre da Invencível Armada e que pagava impostos altíssimos para sustentar os exércitos dos nobres espanhóis na Europa, perde agora a maioria dos seus portos e produtos e é finalmente e irreversivelmente arruinada, rapidamente perdendo importância. Em 1598 a catástrofe é aprofundada por um terramoto e pela peste. Finalmente Filipe II de Portugal torna-se exclusivamente Filipe III de Espanha e depois o seu filho apenas Filipe IV de Espanha quando, sob conselho da Nobreza Castelhana e com a aqui ciência dos Nobres territoriais Portugueses, absorve o Reino de Portugal no Reino de Espanha. Lisboa, a grande cidade cosmopolita é agora uma cidade de província sem qualquer influência junto dos grandes espanhóis de sangue puro, que governam da então conservadora e fundamentalista católica Madrid.


Nesta época a cidade perde actividade económica e habitantes, diminuindo a população até menos de 150.000. As construções deste período cabem em duas categorias: as defesas contra os piratas do norte, e os edifícios religiosos que apelam param a lealdade à monarquia universal católica pretendida pelo Rei. Foram construídos os Torreão um maciço edifício junto ao Terreiro do Paço, que não sobreviveu ao terramoto de 1755; o Convento de São Vicente de Fora; novas muralhas com novas disposições de acordo com a engenharia militar da época, como a Torre do Bugio numa ilha no meio do Mar da Prata; e fortificações em Cascais, Setúbal e na margem Sul. Os piratas ingleses e holandeses, como Francis Drake, fazem diversos ataques a algumas praças Portuguesas, mas não se atrevem a atacar Lisboa.


Com o declínio económico e o desemprego, aumenta muito a miséria e a criminalidade. As autoridades Espanholas são obrigadas a introduzir uma espécie de corpo policial, os quadrilheiros que patrulham as ruas da cidade e controlam o crime de rua, as lutas, a bruxaria e o jogo. Segundo algumas crónicas do tempo, a taxa de assassinatos no início do século XVII seria mesmo superior, numa cidade de 150.000 pessoas, à de hoje em Lisboa com 2.500.000. Os problemas para o comércio na cidade aumentam quando os Catalães, um povo mercador como o de Lisboa, também oprimidos pelas taxas castelhanas, se revoltam em 1636.


É a Portugal que Madrid vem exigir os homens e os fundos para derrotar os catalães, numa tentativa de usar os de Portugal contra os da Catalunha. É então que os mercadores da cidade se aliam à pequena e média nobreza. Tentam convencer o Duque de Bragança, Dom João, a aceitar o trono, mas este, como o resto alta Nobreza, é beneficiado por Madrid e só o prospecto de se tornar Rei o convence finalmente.


Os conspiradores assaltam o Palácio do Governador, aclamando o novo Rei D. João IV, com o apoio inicialmente do Cardeal Richelieu de França, e depois a velha aliança retomada com a Inglaterra. A Lisboa pós-Restauração é uma cidade cada vez mais dominada pelas ordens religiosas católicas. Mais de 40 conventos são fundados na cidade em adição aos 30 já existentes. Os segundos e terceiros filhos, que não recebem a herança do pai, e que antes se dedicavam ao comércio e às empresas além-mar, agora refugiam-se nas ordens religiosas e vivem à custa da esmola.



O Governo de Dom João V.


Monarquia absoluta
A descoberta de ouro e de pedras preciosas desenvolveu o comércio triangular que trouxe grandes riquezas a Portugal. O Rei Dom João V tornou-se num dos Reis mais ricos da Europa e concentrou em si todos os poderes passando a governar como um "Rei Absoluto".
Monarquia absoluta: regime em que o rei concentra em si todos os poderes.
Poderes do Rei-Legislativo: fazia as leis.
Poderes do Rei-Executivo: fazia cumprir as leis.
Poderes do Rei-Judicial: julgava quem não cumpria as leis.
Poderes do Rei-A vida da corte.
Vivia em luxo e ostentação. Realizavam-se bailes, teatros, concertos, banquetes e cortejos para mostrar a sua riqueza. A nobreza. Tentava imitar a corte no vestuário, na habitação e nos divertimentos.
Poderes do Rei-O clero.
Construiu igrejas e conventos e adornou outras. Tinha um grande poder e criou o Tribunal de Inquisição que perseguia e condenava à morte quem estivesse contra a Igreja Católica, quem praticasse outra religião ou quem fosse suspeito. Cristãos-novos: nome dado a quem aceitava converter-se à religião católica. No entanto, muitos foram perseguidos e condenados à morte por suspeita de praticarem outras religiões em segredo.
O clero-Autos-de-fé: cerimónias públicas onde os condenados eram torturados e queimados vivos.

Poderes do Rei-A Burguesia.
A alta burguesia enriqueceu com o comércio e tentou imitar o modo de vida da nobreza. Estes burgueses conviviam em clubes e cafés com artistas, escritores e políticos.
Poderes do Rei-Povo. Continuava a viver em grandes dificuldades.

Grandes construções.
Parte das riquezas obtidas com o ouro brasileiro foi gasta na construção de grandes palácios e conventos.

Por iniciativa régia (do rei)-Aqueduto das Águas Livres.



Palácio e Convento de Mafra.



Capela de S. Batista



Por iniciativa da nobreza. Solar de Mateus.



Por iniciativa da nobreza.
Palácio dos Condes de Anadia. Palácio do Freixo.



Por iniciativa do clero. Torre dos Clérigos.



Características do Estilo Barroco
Estilo Barroco. O estilo que caracterizava estas construções era o Barroco. Grandiosidade. Revestimento em talha dourada, azulejo e mármore. Decoração abundante com curvas. Abundância de estátuas.



Governo de D. José I.



Em 1750, D. José I sobe ao trono e nomeia Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal, como ministro do Reino.



Terramoto de 1755. Lisboa ficou praticamente destruída após o terramoto de 1755. Morreram cerca de 10.000, pessoas. Grande maior parte dos edifícios ficaram em ruínas. Perderam-se muitos tesouros como livros, manuscritos, quadros e objetos de ouro e de prata. Acção do Marquês de Pombal após o terramoto. Mandou enterrar os mortos e socorrer os feridos. Mandou policiar as ruas e os edifícios mais importantes para evitar roubos. Encarregou o engenheiro Manuel da Maia e o arquitecto Eugénio dos Santos elaborar um plano de reconstrução da baixa de Lisboa.


Características da nova Lisboa.
A baixa de Lisboa é conhecida por baixa pombalina porque o responsável pela sua reconstrução após o terramoto foi o Marquês de Pombal. Esta reconstrução caracterizou-se por várias inovações: Ruas largas. Passeios calcetados. Traçado geométrico. Prédios da mesma altura com fachadas iguais e dotados de um sistema de madeira anti-sísmico. Rede de esgotos. O Terreiro do Paço deu lugar à Praça do Comércio em homenagem aos burgueses que contribuíram com dinheiro para a reconstrução de Lisboa. Situação de Portugal neste período. 


O Reino português encontrava-se em crise
O comércio enfrentou uma grande concorrência estrangeira que impediu o seu crescimento. A agricultura e a indústria não produziam o suficiente, portanto Portugal tinha que comprar quase tudo ao estrangeiro. Chegava cada vez menos ouro do Brasil, por isso deixou de haver dinheiro para importar tantos produtos. O terramoto de 1755 veio agravar ainda mais a situação do país.

Reformas pombalinas.
Para resolver a grave situação que enfrentava Portugal, Marquês de Pombal decidiu fazer várias reformas:
Reformas económicas-Desenvolveu a indústria apoiando fábricas antigas e criando novas. Criou companhias de comércio.
Reformas políticas e sociais-Perseguiu e retirou poder à Nobreza (retirou cargos e riquezas e reprimiu quem se lhe opusesse).
Diminuiu o poder do Clero, expulsando os Jesuítas.
Protegeu a Burguesia. Extinguiu a escravatura no reino (embora continuasse a existir nas colónias portuguesas).
Reformas no ensino. Criou escolas primárias. Reformou a Universidade de Coimbra. Extinguiu a Universidade de Évora que era controlada pelos Jesuítas. Marquês de Pombal utilizou a Burguesia como motor de desenvolvimento económico do país, e retirou poder às classes privilegiadas, ou seja, ao Clero e à Nobreza. Todas estas medidas, a nível social, político, económico e do ensino, contribuíram para a modernização do país. A situação de ruína económica é finalmente resolvida, não por projectos bem-sucedidos, mas pela exploração colonial


É descoberto ouro no Brasil, no actual Estado de Minas Gerais. O estado português cobra como imposto um quinto do ouro extraído, que começa a chegar a Lisboa em 1699 e cujas receitas rapidamente chegam às várias toneladas anuais (mais de 15 toneladas após 1730), representando quase todo o orçamento do Estado. Com o ouro, obras típicas das forças sociais no poder, o clero e a aristocracia, são construídas no novo estilo da Contra-Reforma, o Barroco, entre os quais, o Panteão Nacional (ou Igreja de Santa Engrácia), vários palácios e algumas obras úteis, como o Aqueduto das Águas Livres (1720).


O povo
Contrastando com a riqueza das elites, o povo vive na miséria. A população cresce com a necessidade de mão-de-obra para as construções, para 185.000. São deste período as primeiras descrições de Lisboa como uma cidade suja e degradada, apenas dois séculos depois de ter sido conhecida como a mais próspera e cosmopolita da Europa.

1 de Novembro 1755
Termina este período em 1 de Novembro 1755, dia de todos os santos, em que ocorre o grande terramoto de Lisboa. Às nove horas e quarenta minutos a terra começa a tremer e, após cerca de um minuto, regressa à calma, seguida de novo tremor. A população acorre às praças com espaço junto ao rio Tejo, para morrerem afogadas pelo enorme Tsunami que vem do Atlântico.



Depois do sismo, Lisboa está em ruínas. O grande Torreão Real, a Casa das Índias, o Convento do Carmo, o Tribunal da Inquisição, o Hospital de Todos-os-Santos são destruídos. Das 20.000 casas das classes mais baixas, de construção menos sólida, 17.000 são destruídas. Sobrevive o rico Bairro Alto, alguns edifícios de pedra sólida e poucas outras áreas. Seguem-se as pilhagens e os grandes incêndios. No fim, dos 180.000 habitantes, mais de 35.000 terão morrido e muitos outros perderam toda a sua propriedade.


É esta catástrofe que dá espaço ao Marquês de Pombal de tentar pôr em prática em Portugal as reformas científicas e liberais já usadas com sucesso na Europa, as novas teorias políticas e económicas do Iluminismo. O Marquês de Pombal Sebastião José de Carvalho e Melo, Ministro da Guerra e Negócios Estrangeiros e oriundo da Baixa Nobreza, reagindo celebremente às ruínas do terramoto, terá dito que era necessário enterrar os mortos, cuidar dos vivos e construir a cidade. Uma ideia que vai desenvolver de seguida a nível da economia e sociedade. 


O poder da Igreja é limitado e a sua falange, os Jesuítas, é expulsa do país. O poder da aristocracia territorial conservadora é brutalmente suprimido, numa série de conspirações e contra conspirações, que acabam com a cruel execução da família que lidera a reacção, os Távora. Estes teriam sido responsáveis por um atentado ao Rei José I de Portugal numa tentativa de proclamar o conservador Duque de Aveiro Rei, e demitir Pombal, embora haja historiadores que defendam que esta acusação não terá passado de uma farsa manipulada pelo próprio Marquês por motivos pessoais.



A Inquisição é extinta e os cristãos-novos, ainda então constituindo a maior parte das classes médias educadas e liberais da cidade e do país, são libertados das suas limitações legais e é-lhes finalmente permitido o acesso aos altos cargos governamentais, anteriormente monopólio legal da aristocracia de "sangue-puro". A indústria é apoiada de forma algo dirigista mas vigorosa, sendo estabelecidas várias fábricas reais em Lisboa e noutras cidades, que prosperam.


Após o período Pombalino há 20 novas fábricas para cada uma que existia anteriormente. Finalmente os vários impostos e direitos alfandegários dentro de Portugal, prejudiciais ao comércio, são abolidos. Em todos estes propósitos, Pombal apoia-se nas doações e empréstimos dos mercadores e industriais Lisboetas. Em Lisboa, o Marquês, recusando os conselhos de alguns que pretendem mover a capital para outra cidade, ordena a reconstrução de acordo com as novas teorias de organização urbana, após ordenar uma avaliação da situação real através de um inédito inquérito à população.


É ainda o rendimento proveniente da colónia brasileira que paga quase toda a reconstrução, com mais de 20 milhões de cruzados. A cidade recebe ainda ajudas de países como a Inglaterra, a Espanha e a Hansa alemã, enchendo-se de estaleiros de construção. A maior parte da nobreza e aristocracia portuguesa refugia-se nas suas quintas nos arredores de Lisboa. O Rei instala-se num palácio improvisado de madeira, a "Tenda Real", enquanto o novo em pedra começava a ser erigido em Belém então ainda uma região fora da cidade de Lisboa. O grande volume de obras acontece, no entanto, no centro da antiga cidade, com o desenho de um novo projecto para a Baixa, o bairro mais atingido pelo terramoto.


Este é projectado por Eugénio dos Santos e Carlos Mardel e aprovado pelo Marquês, enquadrando-se no espírito iluminista e pragmático da época: as ruas estreitas são substituídas por largas ruas rectilíneas dispostas ortogonalmente. Estas permitiriam não só a devida iluminação e ventilação das ruas (arejamento), como aufeririam mais segurança (patrulhamento, acesso aos edifícios em caso de incêndio e evitar a propagação de incêndios transversalmente à rua, etc.). Os edifícios a construir também foram alvo de uma política consistente, tendo a equipa projectista definido o desenho das fachadas, as regras de construção da estrutura dos edifícios e elaborado um conjunto de outra regulamentação com vista à produção de um conjunto habitacional capaz de enfrentar melhor um eventual terramoto, assim como redesenhar a estrutura social da cidade de Lisboa, atribuindo-lhe um novo pendor comercial à cidade.


A estrutura inovadora escolhida consistia num esqueleto de madeira (a gaiola pombalina), uma malha rectangular com travamentos das suas diagonais (em cruz de Sto. André) onde se procurava que a flexibilidade da madeira se adaptasse à sobrecarga provocado pelo terramoto sem que a estrutura quebrasse. Esta estrutura em madeira assentaria num embasamento em alvenaria (que corresponderia ao primeiro piso das habitações, destinado a lojas, oficinas e armazéns) com arcos em abóbada de berço, que conferiria peso ao conjunto. Todos os edifícios da zona da Baixa assentariam numa estacaria em pinho que permitiria dar mais resistência ao solo arenoso da Baixa e garantir a transferência eficaz do peso dos edifícios para o solo sem que este cedesse. Os novos edifícios eram de arrendamento horizontal, estando hierarquizados em importância e qualidade pela sua proximidade à rua (geralmente o último piso possui pé direito mais baixo, varandas comuns, janelas mais pequenas, divisões menores, etc. e seria destinado à famílias com menos posses). Todos os edifícios teriam paredes corta-fogos de alvenaria a separá-los uns dos outros. A estandardização das fachadas, das janelas, das portas, dos azulejos de padrões geométricos simples no hall, etc. permitiria a aceleração do processo de construção através da produção em série destes elementos fora do local da obra. Todo o conjunto possui proporções e regras de composição clássicas, com recurso à proporção áurea. O centro estruturante da nova cidade seria a Rua Augusta que ligaria o limite Norte da cidade, o Rossio, e o limite Sul, o Terreiro do Paço, onde uma disposição monumental dos edifícios, o arco da Rua Augusta, um monumento ao rei e o Tejo a fechar a praça, contribuiriam para o desenho daquilo que se pretendia que fosse o novo coração da actividade comercial da reconstruída cidade de Lisboa. Os edifícios do Terreiro do Paço estariam destinados à instalação dos armazéns e grandes casas comerciais que se esperaria que voltassem a surgir e a animar a praça, mas após vários anos de abandono acabaram por ser ocupados por ministérios, tribunais, o Arsenal da Marinha, a Alfândega e a Bolsa, já no reinado de D. Maria I. Na extremidade Norte, paralela ao Rossio, estaria projectado um novo mercado, que acaba por nunca ser construído, tendo ficado a praça, inicialmente conhecida por Praça Nova ou das Ervas, hoje denominada Praça da Figueira. Ao contrário dos desejos e esperanças do Marquês de Pombal e da sua equipa, a reconstrução da cidade demora muito mais tempo do que esperado, tendo apenas terminado a sua reconstrução em 1806. A isto, deve-se em grande parte a pouca capacidade financeira da burguesia de uma cidade em crise. Apesar de tudo, e dentro da política de renovação da economia portuguesa, começam a surgir lentamente indícios de desenvolvimento. Moderadamente a cidade cresce até aos 250.000 habitantes em todas as direcções geográficas, ocupando os novos bairros da Estrela, Rato, então o novo centro industrial da cidade polarizado em torno da recente fonte de abastecimento da água trazida pelo aqueduto (novas fábricas de cerâmica), Alcântara, Ajuda, Sapadores, e as Amoreiras (onde estavam as novas fábricas da Seda, cujos vermes são alimentados das folhas dessa árvore). O Primeiro-Ministro tenta de todo o modo estimular as classes médias, que via como essenciais ao desenvolvimento do país e ao progresso.


São formados os primeiros cafés propriedade de Luso-Italianos: alguns sobrevivem hoje desse tempo, como o Martinho da Arcada no Terreiro do Paço; o Nicola no Rossio, cujo dono Liberal iluminava a fachada após cada vitória política progressista; entre outros. Surge o hábito das soirées sociais entre os burgueses mais ricos, com a participação inédita de mulheres, em que a Nobreza conservadora não participa. É deste modo que surge novamente em Lisboa a classe média burguesa. Pombal viria a ser demitido após a morte de Dom José, e a ascensão ao trono da muito religiosa Dona Maria I de Portugal, cuja grande contribuição foi a Basílica da Estrela. 


Aconselhada pelo Clero e pelos Nobres conservadores, além de demitir o primeiro-ministro procurou limitar e até reverter algumas das suas reformas progressistas, num movimento denominado a Viradeira. Segue-se a deterioração das condições económicas que muito tinham melhorado no tempo Pombalino, e os problemas orçamentais. Para lidar com a miséria e criminalidade novamente crescentes, é criada a Polícia sob liderança de Diogo Pina Manique em 1780.


Renova-se a perseguição política desta vez sob forma secular: a Polícia persegue, prende, tortura e expulsa todos os progressistas: maçons, jacobinos e liberais; os jornais são submetidos à censura; muitas obras de filósofos liberais ou Protestantes proibidas e os cafés vigiados por polícias à paisana. A cultura é controlada e todas as manifestações menos Católicas são ilegalizadas, incluindo o antiquíssimo Carnaval. Só o Teatro é estimulado, com a construção em 1793 do Teatro de São Carlos no Chiado, que vem substituir a Ópera destruída durante o terramoto.


É, no entanto, financiado pela iniciativa privada. No fim do Século XVIII, com a Revolução Americana de 1776, ganham peso as ideias liberais por toda a Europa. Na França estala a Revolução em 1789. Em Lisboa os liberais jubilam com a derrota da Aristocracia Francesa. Rapidamente se radicaliza a Revolução em Paris, caindo nas mãos da extrema-esquerda, e o centrista Napoleão Bonaparte é chamado ao Poder pela Burguesia assustada, acabando por autonomear-se Imperador. A sua política na Europa é o Bloqueio continental, ou seja a proibição do comércio com a Inglaterra. Aliado deste país, Portugal recusa e Napoleão envia Junot à frente de um grande exército para conquistar o país.


Junot entra em Lisboa no dia 30 de Novembro de 1807. A Família Real portuguesa, alta Aristocracia e Clero haviam fugido no dia anterior. Junot é a princípio bem recebido pelos lisboetas e estabelece-se no Palácio de Queluz. As novas ideias liberais são discutidas pela burguesia Lisboeta com os oficiais franceses nos cafés da cidade, em especial no Nicola do Rossio, onde se estabelece o Quartel-general Francês. Todos esperam a continuação das reformas do Marquês de Pombal, mas Junot não quer estimular ideias radicais e nada faz. Portugal é antes considerado um país a dividir: Lisboa seria directamente incorporada no Império Francês, enquanto o antigo Portucale seria ressuscitado no Reino da Lusitânia Setentrional. A falta de reformas e o comportamento violento dos soldados franceses leva finalmente à Junta do Supremo Governo a pedir o auxílio da Inglaterra. É enviado um corpo expedicionário liderado por Wellesley e Beresford, e os franceses em menor número, são obrigados a retirar-se em finais de 1808 entrando simultaneamente, seguindo um acordo de retirada, os Ingleses na cidade onde se estabelecem em Arroios.


Lisboa sofre economicamente com a abertura dos portos do Brasil à Inglaterra. Os Ingleses recebem de Dom João VI, residente no Rio de Janeiro, o controlo do governo da cidade e país, que administram como uma colónia. Os burgueses partidários da França são executados. São então construídas defesas nos acessos à capital em Torres Vedras, onde desde o tempo dos Romanos acabava o território de Lisboa. Aí é vencida e forçada a retirar a nova força de invasão francesa liderada por André Masséna, em 1811. Daí partiriam os ingleses e portugueses sob o comando do General Wellington para libertar a Espanha. Napoleão será finalmente derrotado em 1815.



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