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quarta-feira, junho 24, 2015

Batalhas e Combates-1502 II

Calicut
(Outono de 1502)


Depois do combate com a Nau "Meri", Vasco da Gama foi a Cananor, onde se deteve alguns dias e daí para Calicut. Logo à chegada apresou numerosas embarcações de pesca, obrigando as restantes a procurar refúgio em terra. Seguiram-se três dias de infrutíferas negoçiações com o Samorim acerca da indemnização devida pela destruição da feitoria portuguesa ocorrida dois anos antes. Vendo que daí nada resultava, Vasco da Gama deu início às represálias, mandando enforcar nos laises das vergas todos os pescadores, cerca de cinquenta, que tinha capturado. Depois de mortos, mandou-lhes cortar as cabeças, as mãos e os pés, que enviou, dentro de um Zambuco para a praia, acompanhados de uma carta dirigida ao Samorim, em que dizia que aquilo era apenas uma amostra do que havia de sofrer pelas traições que tinha feito aos Portugueses. Seguidamente aproximou os navios de terra e submeteu a cidade a um intenso bombardeamento.


Terminado este, fez-se à vela para Cochim com o grosso da armada, deixando Vicente Sodré diante de Calicut com cinco Naus e a Caravela e ordens para não deixar entrar nem sair do seu porto qualquer navio. A situação em que se encontrava o Samorim era desesperada. No ano anterior tinha preparado uma grande armada para se opor aos Portugueses. Mas a maior parte dela tinha sido destruída por um temporal ao findar da «monção». Via agora a sua capital arruinada por sucessivos bombardiamentos, as suas embarcações de pesca impossibilitadas de pescar e, o que era mais grave o seu porto paralisado. Por outro lado, o povo já murmurava e mesmo alguns dos seus familiares criticavam-no abertamente pela forma como tratara os Portugueses que inicialmente, não lhe tinham dado qualquer razão de queixa, antes pelo contrário. Por tudo isso, resolveu-se o Samorim a tentar mais uma vez, entrar em negociações com Vasco da Gama, fazendo-lhe, por intermédio de um brãmane, a oferta de uma grande quantidade de especiaria como indemnização pelo saque da feitoria e pela morte do feitor e seus companheiros. Vasco da Gama não confiava no Samorim. Mas a proposta era tentadora. Além disso, estava sentindo certa dificuldade em obter a totalidade das especiarias de que necessitava para carregar todas as Naus com que contava regressar. Resolveu aceitar o reatamento das negociações e dirigiu~se com uma Nau para Calicut, contando que ali se encontraria Vicente Sodré com a sua armada. Mas não foi isso que aconteceu, porque aquele, por qualquer razão fortuita tinha-se afastado temporariamente. E assim viu-se Vasco da Gama sozinho, fundeado com a sua Nau diante de Calicut. É possivel que a intenção do Samorim ao propor a reabertura das negociações fosse sincera. Mas agora, vendo o inimigo praticamente à sua mercê, achou que a oportunidade era boa de mais para ser desperdiçada!


E nessa mesma noite mandou atacar a Nau portuguesa por trinta e três Paraus da sua armada. Aproximaram-se eles tão silenciosamente que os vigias só os sentiram quando já estavam muito próximos. Dado o alarme, viram-se os portugueses em sérias dificuldades para repelir os assaltantes que tentavam subir à Nau por todos os lados. Ao mesmo tempo Vasco da Gama mandou picar a amarra e largar as velas, aproveitando o terreal para se fazer ao largo. Mas os Paraus não desistiam e embora alguns deles fossem ficando para trás danificados pelo fogo da artilharia, os restantes, metendo-se pelos ângulos mortos, não cessavam de tentar abordar a Nau. Felizmente, ao romper do dia, avistou-se a esquadra de Vicente Sodré já relativamente perto, o que levou os Paraus a desistir do ataque e a voltar para Calicut. Pode imaginar-se o estado de espírito de Vasco da Gama depois de mais esta traição do Samorim. Mandou enforcar os reféns dele que tinha a bordo e regressou a Cochim cada vez mais convencido de que só a ferro e fogo era possível tratar com os Reis da Índia e com os «mouros» seus aliados. 


Por seu lado, o Samorim, vendo que não tinha outro remédio senão continuar a guerra, mandou aprontar vinte e nove Naus de guerra de «mouros» que se encontravam num porto próximo de Calicut, para atacar a armada de Vasco da Gama no regresso de Cochim, pensando que as nossas Naus depois de carregadas tivessem maior dificuldade em servir-se da artilharia. Completado em Cochim o carregamento de dez Naus, Vasco da Gama dirigiu~se a Cananor, onde contava arranjar carga para as três Naus que faltavam. Nas proximidades de Calicut, estando já em companhia da esquadra de Vicente Sodré, saíram-lhe ao caminho as vinte e nove Naus que o Samorim mandara aprontar. Mas pouco ou nada fizeram. Duas que vinham mais adiantadas foram facilmente abordadas por três Naus portuguesas. Os seus tripulantes lançaram-se ao mar, onde foram perseguidos pelos nossos batéis que mataram mais de trezentos «mouros» à lançada. As restantes, vendo o que acontecera àquelas, desistiram de continuar o ataque. E, como estavam a barlavento da armada portuguesa, não tiveram qualquer dificuldade em pôr-se a salvo. Aliás, é natural que tratando-se de Naus de particulares, possivelmente algumas delas já com carga valiosa, não estivessem muito interessadas em correr grandes riscos somente para agradar ao Samorim. Depois de recolhido o despojo das duas Naus capturadas, que foi riquíssimo, e de queimadas estas, Vasco da Gama continuou a sua viagem para Cananor, onde carregou de especiarias as três Naus que ainda levava vazias.


Seguidamente partiu para Lisboa, onde chegou sem novidades, com toda a sua armada, em Julho do ano seguinte. Em paga dos serviços prestados nesta e na Viagem anterior, do qual o menos importante aos olhos do Rei D. Manuel, não seria ter trazido a Portugal treze naus carregadas de especiarias, foi Vasco da Gama feito Conde da Vidigueira e autorizado a usar o título honorífico de «Almirante do Mar Índico». 


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