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quinta-feira, junho 25, 2015

Batalhas e Combates-1502 I

Monte Deli
(Outono de 1502)



Depois da partida de Pedro Álvares Cabral para a Índia, no ano de 1500, com uma poderosa armada e um riquíssimo presente para o Samorim de Calicut, D. Manuel ficara convencido de que o estabelecimento de relações comerciais amigáveis com as cidades da costa do Malabar estava definitivamente assegurado. Não será, por isso, de estranhar que no Outono do ano seguinte, tenha ficado profundamente vexado quando Pedro Álvares Cabral, regressou com a notícia de que o Samorim, mesmo depois de ter recebido o presente, não fora capaz, ou não quisera, impedir os «mouros» de destruir a nossa feitoria e de matar o feitor Aires Correia e mais algumas dezenas de portugueses. A partir desse momento, a política de D. Manuel em relação à Índia modifica-se. Verificando o Rei de Portugal que as cortesias e as negociações pacíficas não tinham dado resultado, decide recorrer à força das armas para defender o direito de comerciar. Dentro dessa nova orientação, manda aprestar uma poderosa armada de quinze grandes Naus, destinadas a regressar com carga, e cinco outras mais pequenas, destinadas a ficar na Índia para segurança das nossas feitorias. Além destes navios, ia na armada madeira já aparelhada para a construção de uma Caravela que havia de ter lugar depois de passado o Cabo da Boa Esperança.


Para Capitão-Mor da Frota foi escolhido D. Vasco da Gama, para Capitão-Mor da Esquadra que havia de ficar na Índia foi escolhido Vicente Sodré, tio daquele. Durante a viagem de ida perdeu-se uma Nau pequena que encalhou nos baixos de Sofala, e extraviou-se uma Nau grande, que teve de invernar na costa oriental da África. Em compensação, foi acrescentada à armada uma Caravela construída na ilha de Moçambique com a madeira que ia aparelhada para esse efeito. Pôde assim Vasco da Gama reunir na ilha de Angediva uma imponente armada de dezanove velas, com que, depois de feita aguada e embarcados alguns frescos, se dirigiu para o Sul. Nas proximidades do Monte Deli, onde começa a costa do Malabar (para quem vem do Norte), teve a armada portuguesa vista de uma grande Nau, de nome "Meri", pertencente ao sultão do Cairo, que trazia muitos mouros ricos de Calicut que com as famílias tinham ido em peregrinação a Meca, além de duzentos e sessenta homens de guarnição, entre marinheiros e soldados. Transportava também essa Nau uma carga valiosíssima. Os primeiros navios da armada de Vasco da Gama que a conseguiram alcançar começaram logo a alvejá-la com artilharia, ao que ela respondeu na mesma moeda, sem se deixar intimidar pelo número dos atacantes. Por fim, prevaleceu mais uma vez a superioridade dos canhões de bronze dos Portugueses sobre os canhões de ferro dos «Mouros». A Nau "Meri", com o costado abalado pelos nossos tiros, começou a fazer água e os seus ocupantes, receando que se afundasse, renderam-se. Os portugueses entraram nela, fecharam todos os homens válidos nos pavimentos inferiores e começaram a baldear a carga que levava para os seus batéis. Concluída esta faina, por ordem de Vasco da Gama, trouxeram consigo cerca de vinte crianças que havia a bordo (não se sabe o que fizeram às mulheres) e puseram fogo à Nau. Os «mouros» que estavam presos no interior da Nau, quando pressentiram o que estava acontecendo, ficaram furiosos e, conseguindo libertar-se, tornaram a pegar em armas e, enquanto uns se esforçavam por apagar o incêndio, os outros escorraçaram os batéis portugueses. Acudiram logo várias Naus que tentaram sucessivamente abordar a "Meri". Mas nunca o conseguiram, tal era a fúria, filha do desespero, com que os «mouros» se defendiam. E não se limitavam a defender-se! Chegaram mesmo a entrar numa das Naus que os abordou, obrigando os portugueses a refugiarem-se nos castelos até que chegou outra Nau em seu auxílio que os ajudou a repelir os «mouros». Caindo a noite, interrompeu-se o combate, mantendo-se os navios portugueses em redor da "Meri" para evitar que ela se escapasse. Ao outro dia de manhã, vendo Vasco da Gama que não era fácil tomar à abordagem a Nau inimiga nem afundá-la rapidamente com a artilharia, deu ordem para que lhe pusessem fogo. Foi encarregado dessa tarefa um batel com alguns marinheiros e bombardeiros que apesar da oposição dos defensores, conseguiu incendiá-la. A "Meri", que tão valentemente se comportara, ardeu até à linha de água, acabando por se afundar. Todos os que nela estavam morreram queimados ou afogados. Terminado o combate e repartidos os despojos, Vasco da Gama foi fundear com a sua armada em Cananor.



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