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segunda-feira, dezembro 22, 2014

Batalhas Navais-Índico-1505 II

Coulão
(Novembro de 1505)


Logo que chegou a Angediva, D. Francisco de Almeida mandou a caravela de João Homem a Cananor, Cochim e Coulão para avisar os feitores da sua chegada e do número de naus que tencionava carregar em cada uma dessas cidades, bem como para saber notícias. Quando João Homem chegou a Coulão, encontrou o feitor muito agastado, porque estando ali algumas naus de «mouros» a carregar pimenta, o rei não as impedia de o fazerem apesar dos seus repetidos protestos. Fidalgo valente mas pouco sensato, João Homem quis logo resolver de vez o problema. E, juntando a si o pessoal da caravela de Pêro Rafael que também ali se encontrava, foi-se às naus dos «mouros», tirou-lhes os lemes e as velas e entregou-os à guarda do feitor para que aquelas não pudessem fazer-se ao mar antes da chegada das naus portuguesas. Feito isto, regressou a Cochim. No caminho encontrou duas «naus de Meca», que capturou após breves combates. As naus apresadas não tinham qualquer utilidade para os Portugueses que normalmente, as queimavam depois de terem baldeado para os seus navios todas as mercadorias de valor que transportavam. Mas João Homem não procedeu assim. Desejoso de fazer figura aos olhos do vice-rei, em vez de pôr fogo às naus, meteu em cada uma delas três portugueses e levou-as em sua companhia. O pior é que, estando já à vista da nau de D. Francisco de Almeida, que vinha adiantada em relação ao resto armada, a tripulação de uma das presas matou os três portugueses que a guardavam e pôs-se em fuga, sem que fosse possível alcançá-la! Ficou o vice-rei muito aborrecido com o sucedido e teria mesmo demitido João Homem do seu cargo se os outros fidalgos não tivessem intercedido por ele.


Entretanto, em Coulão, tanto o rei como os comerciantes «mouros» estavam indignados com o procedimento de João Homem. Após a chegada de mais algumas naus, sentiram-se aqueles com força bastante para enfrentar os Portugueses, acabando por assaltar a feitoria. Depois de uma resistência desesperada, o feitor e mais doze homens que estavam com ele foram mortos. Pêro Rafael, vendo o que se estava a passar-se em terra, nada mais pôde fazer do que atacar imediatamente com a sua caravela as naus dos «mouros» que estavam mais perto, tendo conseguido incendiar cinco. Em seguida, partiu para Cochim para dar conta a D. Francisco de Almeida do ocorrido. Acabava este de fundear ao largo da barra daquela cidade quando chegou a caravela de Pêro Rafael. Confrontado com as solicitações antagónicas de acautelar o negócio da pimenta e de não deixar passar sem castigo o assalto à feitoria, D. Francisco de Almeida, optou por enviar a Coulão uma grande armada portadora de uma mensagem conciliatória. Esperava ele que uma demonstração de força, acompanhada de uma certa moderação, seria suficiente para, sem perda de prestígio, criar as condições necessárias para que as nossas naus pudessem continuar a ir carregar àquela cidade. Dizem os cronistas que a capitania-mor da armada destinada a Coulão, constituída por onze naus e três caravelas, foi dada a D. Lourenço de Almeida, que para o efeito embarcou na nau de João da Nova. Cremos que se trata de um equívoco. Indo João da Nova nomeado Capitão-Mor da armada da costa da Índia, não vemos como teria sido possível a D. Francisco de Almeida substituí-lo por seu filho, sem haver qualquer razão para isso. O que nos parece mais provável é que a armada que foi a Coulão tenha sido capitaneada por João da Nova.


Fundeada a dita armada a cerca de milha e meia da cidade, foi enviada uma mensagem ao rei dizendo que D. Francisco de Almeida, considerava que o que acontecera à nossa feitoria fora em parte, da responsabilidade do próprio feitor e que desejava o reatamento das boas relações anteriormente existentes. Mas esta mensajem não surtiu qualquer efeito. Os «mouros», quando viram aproximar-se a nossa armada, tinham puxado as suas naus o mais possível para junto da praia e, com era seu hábito, tinham-nas amarrado umas às outras e tinham-nas enchido de gente de armas. Na praia estava o exército do rei de Coulão com algumas bombardas. Vendo todo este aparato bélico e que não vinha resposta à sua mensagem, o Capitão-mor português considerou que era inevitável o recurso à força, pelo que começou por mandar lançar pregão junto das «naus de Meca» para que, se entre elas estivesse alguma nau de Cochim ou de Cananor, viesse para junto das nossas, onde nada teria a temer. Entre as naus que formavam o bloco defensivo estavam de facto algumas de Cochim e Cananor, mas não se mexeram, provavelmente com medo das outras. Como não era possível às naus portuguesas aproximarem-se das contrárias até à distância de tiro, por causa do seu calado, os soldados portugueses embarcaram nas caravelas e nos batéis das naus que, mais ou menos formados em linha, foram atacar as «naus de Meca». Quando chegaram perto destas foram recebidos por uma densa chuva de flechas e de pelouros, à qual responderam com as espingardas e os canhões das caravelas e dos batéis. Continuando estes últimos a avançar resolutamente, foram atracar às naus adversas para dentro das quais lançaram imediatamente grande quantidade de lanças de fogo e outros artifícios incendiários. Como o vento era fresco e soprava do lado do mar, o incêndio ateou-se rapidamente e propagou-se de umas naus para as outras. Ao mesmo tempo que os «mouros» se esforçavam por o apagar, os portugueses impediam-nos de o fazer disparando continuamente sobre eles. E nesta contenda andaram uns e outros durante várias horas, até que ao cair a noite os «mouros» desistiram de apagar o fogo e lançando-se à água, fugiram para a praia. Todas as vinte e sete naus que estavam no porto, algumas delas já com carga, arderam até ao lume de água. Neste combate tiveram os «mouros» muitos mortos e feridos; dos portugueses, não morreu nem ficou ferido nenhum. Quando teve conhecimento mais pormenorizado das razões que haviam dado origem ao assalto à feitoria de Coulão, D. Francisco de Almeida tirou o comando da caravela a João Homem.

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