Pesquisar neste blogue

segunda-feira, dezembro 08, 2014

Batalhas Navais-Índico-1513

Malaca
(Janeiro de 1513)


Corria o mês de Janeiro de 1513 quando apareceu inesperadamente diante de Malaca uma enorme armada de Javos constituída por dois juncos de grandes dimensões, cerca de cinquenta juncos mais pequenos e uma centena de lancharas e calaluzes (pequenos navios de remo semelhantes às fustas) em que iam embarcados para cima de dez mil homens. O comandante desta armada era Pateonuz, Senhor de Japará, uma cidade da costa norte da Ilha de Java, que desde há muito ambicionava tornar-se Senhor de Malaca. Sabendo que nesta cidade, depois de ter sido conquistada pelos Portugueses, havia menos de quatrocentos homens, entre soldados, marinheiros e mercadores, logo tratara de reunir uma grande armada com que contava realizar o seu sonho. Nessa altura estavam em Malaca dez naus, duas caravelas, duas galés, dois juncos de mercadores malaios e duas dezenas de lancharas do bendará de Malaca. Para reforçar as naus foram retirados da fortaleza vários canhões e cerca de cento e oitenta soldados, ficando aquela apenas com vinte quase todos doentes. O aprontamento dos navios demorou toda a noite. Ao outro dia de manhã a armada portuguesa fez-se ao mar, sob o comando do Capitão-Mor Fernão Peres de Andrade, navegando ao encontro da armada de Pateonuz que, durante a noite, tinha descaído para sul. Nessa época a maioria dos capitães portugueses ainda não se habituara a combater em formatura. Avistado o inimigo, a única preocupação de cada um era ser o primeiro a chegar ao contacto. Neste caso essa honra coube a Jorge Botelho, cuja nau era o navio mais rápido da armada. E logo se meteu pelo meio dos inimigos disparando furiosamente a artilharia e a espingardaria por ambos os bordos. Os outros seguiram-lhe o exemplo.


Os juncos malaios, copiados dos chineses, eram excelentes navios que em robustez e manobrabilidade em nada ficavam a dever aos navios europeus, antes pelo contrário. O seu ponto fraco era que praticamente não dispunham de artilharia, limitando-se ao lançamento de flechas antes da abordagem. Pelo contrário, as naus portuguesas, além dos canhões de médio calibre que disparavam através das portinholas do costado, dispunham de "berços", peças de pequeno calibre, de elevada cadência de tiro, montadas na amurada, de numerosas espingardas, de lanças de fogo e de panelas de pólvora (espécie de bombas incendiárias) que os marinheiros lançavam das vergas para dentro dos navios inimigos a fim de os incendiar. Durou esta primeira fase da batalha o dia inteiro com os navios javos a tentarem repetidamente abordar os navios portugueses e estes a repelir as tentativas de abordagem com o disparo incessante dos seus canhões e das suas espingardas e com o lançamento de grande quantidade de artifícios de fogo sobre os que se aproximavam mais. Embora nenhum dos navios javos tenha sido afundado a maior parte ficaram muito destroçados e cheios de mortos e feridos. Vinda a noite, a armada portuguesa fundeou em frente de Malaca e a de Pateonuz mais a sul.


Considerando que os portugueses não tinham conseguido afundar nenhum dos navios javos e que numa segunda batalha a pólvora se lhes podia vir a faltar e serem tomados à abordagem, o capitão de Malaca ordenou a Fernão Peres de Andrade que devolvesse os soldados à fortaleza, que metesse os navios de remo num rio a sul da cidade e que com as naus e as caravelas seguisse para a Índia a fim de pedir socorros ao Vice-Rei. Mas Fernão Peres e os seus capitães não estiveram pelos ajustes. Ignoraram a ordem e, na manhã do dia seguinte, foram atacar a armada de Pateonuz que, alarmado com os estragos e baixas que os seus navios tinham sofrido estava em franca retirada para Java. E teve lugar uma segunda fase da batalha que se desenrolou nos moldes da primeira com a diferença de que os navios portugueses se aproximaram mais dos contrários atacando-os, com o fogo da artilharia a curtíssima distância e o lançamento de panelas de pólvora. Um após outro os navios javos iam sendo afundados a tiro de canhão ou incendiados. Começaram então as naus portuguesas a abordar os juncos mais avariados que iam ficando para trás, tomando grande número deles que depois de saqueados, eram queimados. Por fim só restava o junco de Pateonuz com outros cinco amarrados a ele e um junco grande também amarrado a outro mais pequeno. O segundo grupo foi tomado à abordagem nessa mesma tarde após um combate terrível. O primeiro grupo foi obrigado a desfazer-se durante a noite devido ao mau tempo que se levantou. Na manhã seguinte os cinco juncos mais pequenos que o compunham foram queimados ou metidos no fundo pela artilharia da nau do incansável Capitão Jorge Botelho.



Só o grande junco de Pateonuz conseguiu escapar! Esta foi uma das maiores batalhas travadas pela Marinha Portuguesa embora com consequências de ordem estratégica relativamente limitadas.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.