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quinta-feira, agosto 22, 2013

Colecção de Documentos - 1806 IV


Entrada no Tejo de uma divisão naval do comandado de lord de S. Vicente.

Participação feita a D. Lourenço de Lima, nosso ministro em Paris.

      Ill. e emº sr, - Participo a vossa excelência que no dia 14 deste mês, a tempo em que eu me achava em uma digressão, em que tive a honra de acompanhar a sua alteza real, entrou neste porto uma divisão da esquadra inglesa, comandada por lord de S. Vicente, e composta por cinco naus de linha e uma fragata. Este inesperado acontecimento motivou as duas notas do embaixador de Espanha e do encarregado de negócios da França, de que remeto a v. exª. copias, pedindo explicações sobre o objecto, que conduziu a mesma esquadra. Tive de responder a um e a outro de forma que v. exª. verá das copias, que igualmente remeto. Lord de S. Vicente declarou que o seu governo que o mandara aqui por chegarem noticias à sua corte de rápidos e consideráveis preparativos de guerra, que a Espanha para nos invadir subitamente. Acrescentou que sum majestade britânica faria todos os sacrifícios para repelir este ataque, e que mandava esta esquadra, que eram as forças que tinha mais prontas, à sua disposição de sua alteza real, desejando saber os mais socorros que queria. Eu notei ao encarregado de negócios da Inglaterra nesta corte a exageração do armamento em Espanha, e a segurança que nos tinha dado o príncipe da paz de não haver projecto algum contra Portugal, que eu reputei sincera.
      
      V. exª. observará quanto foi intempestivo e desacordado este passo do gabinete britânico. Tive ordem de escrever ao conde da Ega (estava por então nosso ministro na corte de Madrid) para representar ao governo Espanhol, que visto ser este o motivo de tão inesperado acontecimento e reinando a mais perfeita harmonia entre as duas cortes, seria útil que a de Madrid mandasse pôr em execução pelos treze regimentos, que completaram os novos regulamentos militares, pois que o príncipe da paz havia declarado que este era o fim a que se destinavam, mas que o ajuntamento fizesse em algum sitio distante das nossas fronteiras, a fim de dissipar tal suspeita, sendo claro ainda que fosse verdade o ataque de Espanha, nem era uma esquadra inglesa que nos poderia defender, nem a Inglaterra teria tropas para nos socorrer, atendendo às expedições que tem feito para o Cabo da Boa Esperança, Índias Ocidentais, Sicília e guarnição de Malta, sem contar as que precisa para defesa das suas costas. Alem disto sua alteza real tem declarado à Inglaterra, que não altera por modo algum a neutralidade que estipulara, e que tem observado escrupulosamente. O príncipe regente nosso senhor se persuade de que sua majestade imperial e real aprovara esta solicitação perante o governo espanhol, e portanto espera que queira influir com a sua poderosa influência para que a corte de Madrid se preste a esta e amigável requisição. V. exª. fará nisto tudo aquilo que lhe ditara o seu zelo pelo serviço de sua alteza real, e posso dizer-lhe que segundo presumo a esquadra inglesa se não se demorará muito neste porto. Creio que o governo inglês reconhecerá assim como já reconheceram os indivíduos daquela nação aqui residentes, o quanto semelhante passo foi contrário a toda boa politica e ao bom censo.

Deus guarde a v. exª. Palacio de Mafra, em 24 de Agosto de 1806. = Antonio de Araujo de Azevedo.



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